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Luz literária

Apresenta

“Alfaiate das Palavras”


De: Belchior Mário

Eu sou! É nesta máquina de palavras onde


encontro cada versão do meu ser. Triste
O alfaiate das palavras, mais uma alma
ou alegre perfuro tecidos sem
que se fartou da lavoura e das lavras.
compaixão e neste acto não procuro
Que sob medida empenha-se em unir a
compreensão, apenas perco-me na
mão com pontos de agulha, e com
imaginação em cada batida do meu
suaves pedaladas costura sentimentos
coração.
em rasgados panos sem cor.
Sou poeta, sou ladrão, de sentimentos e
Eu sou!
emoções, sou agulha que esvazia os
Resiliente como a folha murcha que corações, sou polícia que prende as
flutua sobre as águas do Licungo, sou decepções, sou um arguido preso as
um paradigma como silêncio das noites ilusões.
do inverno, sou mistério como o
Eu!
inferno.
Sou o alfaiate das palavras.
Apenas queria!
Ter linhas suficientes para tecer o vazio
que emerge sobre as penosas almas
deste infindo rio.
Ah. Eu queria!
Suturar a dor do presente, curar a algia
que azota os presentes e preencher o
vazio dos ausentes. Esta pobre máquina
de costura serve-me de carruagem e
num minuto de silêncio embarco numa
profunda viagem rumo ao lago das
miragens.
Por favor!
Arrastem-me ao chão, levem-me de
tudo, menos este oficio. Costurar
palavras é um acto de sacrifício, é pior
que um vício, é um precipício onde
atirei-me desde o princípio.

Phone. +258 848463423/878463422


E mail: Belchiormario@gmail.com
Linkedin: Belchior Mário

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