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Armando Teixeira
2011
Conteúdo
1 Considerações Iniciais 5
2 Mecânica 6
2.1 Conceitos Básicos e Definições Preliminares . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 Axiomas de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3 Cinemática e Dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3.1 Equações de Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3.2 Transformações de Galileu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3.3 Movimento circular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.4 Campo Gravı́tico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3 Oscilações e Ondas 13
3.1 Oscilações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.2 Ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.3 Interferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.4 Difracção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
4 Electromagnetismo 19
4.1 Conceitos Básicos e Definições Preliminares . . . . . . . . . . . . . . 19
4.2 Axiomas de Maxwell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.2.1 Consequências dos Axiomas de Maxwell . . . . . . . . . . . . 21
4.3 Ondas Electromagnéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1
6.2.1 Duas Fendas e Partı́culas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
6.2.2 Duas Fendas e Ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
6.2.3 Duas Fendas e Electrões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
6.3 Conceitos Básicos e Definições Preliminares . . . . . . . . . . . . . . 31
6.4 Axiomas da Fı́sica Quântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
6.5 Ondas e Partı́culas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6.5.1 Radiação de Corpo Negro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6.5.2 Efeito Fotoeléctrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6.5.3 Átomo de Bohr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
6.5.4 Relação de Incerteza de Heisenberg . . . . . . . . . . . . . . . 34
2
Introdução
3
Desiderata
4
Capı́tulo 1
Considerações Iniciais
Podemos dizer sem estarmos muito longe da verdade que a Fı́sica fundamental mod-
erna tem na sua essência três concepções fundamentais:
1. O conceito de campo.
2. A Relatividade.
3. A Fı́sica Quântica
O conceito de campo é comum à praticamente todo o nosso curso por isso vamos
já defino-lo:
Definição 1.1. Campo é um objecto matemático que tem um valor definido num
dado conjunto de pontos do espaço.
Definição 1.2. Um campo diz-se vectorial quando os seus valores são grandezas
vectoriais.
Definição 1.3. Um campo diz-se escalar quando os seus valores são grandezas es-
calares.
As equações de campo que vamos descrever representam sempre interacções lin-
eares. Assim podemos considerar cada interacção proveniente de um campo como
sendo independente das outras interacções e a resultante é simplesmente a soma de
todas as interacções.
5
Capı́tulo 2
Mecânica
As unidades que utilizámos para expressar estas grandezas não têm nada de essen-
cial e são puramente convencionais. Neste curso iremos utilizar o sistema internacional
e vem que [L] = m, [T ] = s e [M ] = Kg.
6
• Espaço é homogéneo (todos os pontos são equivalentes) e isotrópico (não existem
direcções privilegiadas).
Definição 2.3. Posição é o lugar geométrico que a partı́cula ocupa num dado instante
de tempo num referencial.
Definição 2.4. Trajectória é o lugar geométrico das sucessivas posições que a partı́cula
ocupa num intervalo de tempo.
Definição 2.6. Velocidade média: grandeza vectorial que permite calcular a taxa de
variação da posição para um dado intervalo de tempo.
∆~x
~vm = (2.1)
∆t
Definição 2.7. Velocidade instantânea: grandeza vectorial que permite calcular a
variação da posição para um dado instante de tempo.
∆~x d~x
~v = lim = (2.2)
∆t→0 ∆t dt
Uma vez que a velocidade das partı́culas também varia, fenómeno que recebe o
nome de aceleração, podemos introduzir as seguintes definições:
Definição 2.8. Aceleração média: grandeza vectorial que permite calcular a taxa de
variação da velocidade para um dado intervalo de tempo.
∆~v
~am = (2.3)
∆t
Definição 2.9. Aceleração instantânea: grandeza vectorial que permite calcular a
variação da velocidade para um dado instante de tempo.
∆~v d~v
~a = lim = (2.4)
∆t→0 ∆t dt
7
Convém ainda dizer que normalmente diz-se apenas velocidade (aceleração) em
vez de velocidade instantânea (aceleração instantânea).
Associado ao conceito de velocidade temos dois conceitos fı́sicos. Um deles escalar,
e portanto fornece menos informação sobre o movimento da partı́cula, e o outro
vectorial.
d~x
p~ = m~v = m (2.6)
dt
Vemos então o porquê da afirmação da energia cinética conter menos informação
sobre o movimento da partı́cula do que o movimento linear. Pela sua definição a
energia cinética não nos dá informação sobre a direcção da velocidade da partı́cula
enquanto que o momento linear nos diz tanto a direcção e a magnitude da velocidade.
Em termos mais prosaicos: o momento linear diz para onde vai a partı́cula e
com que velocidade vai. A energia cinética apenas nos diz com que velocidade vai a
partı́cula.
Axioma 2.1. Existe um referencial inercial onde o momento linear de uma partı́cula
livre mantém sempre o mesmo valor.
8
estipular a existência de um tal referencial no mundo em que habitamos. A justificação
desta arrojada hipótese é o espectacular acerto das previsões que a teoria de Newton
faz e os resultados obtidos em experiências.
De notar que o habitual enunciado da ”Primeira Lei de Newton”está errado em
referenciais não inerciais. Uma vez que o habitual enunciado não especifica a que tipo
de referencial se refere também ele está, consequentemente, errado.
Outro pormenor interessante é que o Axioma 2.1 apenas exige a existência de um
referencial inercial, mas podemos concluir que existe um número infinito de referen-
ciais inercias.
Sabemos que num referencial inercial o espaço é homogéneo e isotrópico e que o
tempo é homogéneo. Assim sendo o ponto que escolhemos como origem nada tem de
especial e podemos efectuar uma translação para um outro ponto qualquer e passar
a considerar esse novo ponto como sendo a origem de um novo referencial inercial.
Para além disso podemos rodar todos os nossos eixos em simultâneo e obter novos
eixos. Estes novos eixos apenas se distinguem dos antigos por terem novas direcções.
Uma vez que o espaço é isotrópico tal facto não acarreta nada de novo e assim este
novo referencial continua a ser inercial.
Outra transformação que podemos fazer é obter um referencial que se mova com
velocidade constante relativamente ao primeiro referencial. Novamente este situação
nada tem de novo e os referenciais continuam a ser equivalentes.
Uma vez que o tempo é homogéneo o instante de tempo que se convencionou ser 0
nada tem de especial. Ou seja um referencial que se obtém de um referencial inercial,
alterando o que se considera como sendo o instante inicial, também é um referencial
inercial.
Para finalizar temos ainda que dizer que qualquer composição destas transformações
também produz um referencial inercial.
Axioma 2.2. Se o momento linear de uma partı́cula varia num referencial inercial
diz-se que essa partı́cula foi actuada por uma força, F~ , que se calcula utilizando a
d~p
seguinte expressão: F~ = .
dt
Este axioma reduz-se a F~ = m~a quando a massa da partı́cula é constante. No que
se segue iremos sempre considerar que a massa da partı́cula é constante.
Axioma 2.3. Quando dois objectos interagem entre si a força F~12 (força que o objecto
1 exerce sobre o objecto 2) tem a mesma direcção, é igual em intensidade à força F~21
(força que o objecto 2 exerce sobre o objecto 1), mas tem o sentido oposto. F~12 = −F~21
9
2.3.1 Equações de Movimento
Das definições de aceleração e velocidade que introduzimos na secção 2.1 resulta o
seguinte
Z t Z t Z t
d~v = ~adt ⇒ d~v = ~adt ⇒ ~v (t) − ~v (t0 ) = ~adt (2.7)
t0 t0 t0
Uma vez que a relação funcional da aceleração em função do tempo não é conhecida
o lado direito da última igualdade não pode ser calculado.
Temos ainda
Z t Z t Z t
d~x = ~v dt ⇒ d~x = ~v dt ⇒ ~x(t) − ~x(t0 ) = ~v dt (2.8)
t0 t0 t0
10
Pela adição de vectores é ~v0 t + ~r0 = ~r que podemos escrever na forma de compo-
nentes:
x0 = x − v0x t (2.10)
y 0 = y − v0y t (2.11)
z 0 = z − v0z t (2.12)
11
m1
~g = G r̂ (2.16)
r2
Quando uma partı́cula de massa m2 é colocada num ponto do espaço onde existe
um campo gravı́tico ~g a partı́cula interage com este campo gravı́tico. Ao interagir
com o campo gravı́tico a partı́cula de massa m2 fica sob a acção de uma força F~g cuja
expressão matemática é
m1 m2
F~g = ~g m2 = G 2 r̂ (2.17)
r
Onde r̂ é um vector unitário com a direcção da recta que une as duas partı́culas
e com sentido a apontar para m1 .
Para o caso particular de um corpo de massa m que esta a h metros da superfı́cie
da Terra sujeito à sua atracção gravitacional é
MT m
Fg = G
(Rt + h)2
Recordando que F~ = m~a para corpos de massa constante podemos escrever que
a intensidade da aceleração da gravidade é
MT
g=G
(Rt + h)2
.
12
Capı́tulo 3
Oscilações e Ondas
Neste capı́tulo vamos introduzir algumas noções relacionadas com o movimento on-
dulatório em geral. Vamos também ver dois fenómenos que no contexto da mecânica
clássica só podem ser explicados recorrendo ao conceito de onda.
As ondas e as oscilações são casos particulares de movimento oscilatório e como
tal há conceitos básicos que são comuns aos dois tipo de fenómenos:
Definição 3.1. Perı́odo é o intervalo de tempo mı́nimo necessário para que dois pon-
tos de um mesmo fenómeno ondulatório estejam no mesmo estado fı́sico. O perı́odo
representa-se pelo sı́mbolo T .
3.1 Oscilações
Nesta secção vamos apenas estudar o movimento harmónico. Este é um tipo de movi-
mento importante uma vez que em primeira aproximação muitos tipos de movimentos
oscilatório podem ser aproximados pelo movimento harmónico.
Imaginemos que temos uma partı́cula que se desloca ao longo de uma posição de
equilı́brio e está sujeita a uma força F .
F = −kx
13
Recorrendo ao Axioma 2.2 e introduzindo k/m = ω 2 podemos escrever a equação
que descreve o movimento harmónico como
∂ 2x
2
= −ω 2 x (3.1)
∂t
As equações desta solução podem ser da forma x(t) = A cos(ωt + θ) em que A é o
deslocamento máximo relativamente à posição de equilı́brio e θ é a fase que especifica
qual a posição inicial da partı́cula.
No caso dopmovimento harmónico p as definições 3.1 e 3.2 podem ser escritas na
forma T = 2π m/k e f = 1/(2π) k/m.
Para um movimento oscilatório a energia cinética e potencial são:
1
• K = mω 2 A2 sin2 (ωt + θ)
2
1
• U = kA2 cos2 (ωt + θ)
2
1
Assim sendo a energia total do sistema é E = kA2
2
3.2 Ondas
Definição 3.5. Uma onda é uma perturbação que se propaga transportando energia.
∂ 2φ 1 ∂ 2φ
= (3.2)
∂x2 c2 ∂t2
Com as definições anteriores é imediato ver que equações da forma f1 = A sin(kx±
ωt) e f2 = A cos(kx ± ωt) são soluções de 3.2. Estas funções chamam-se sinusoidais,
A é a amplitude e representa o deslocamento máximo, relativamente à posição de
equilı́brio, da entidade que está a vibrar.
Em geral podemos dizer que uma onda progressiva que se propaga para a direita
é sempre da forma f = f (x − ct) enquanto que uma onda que se propague para a
esquerda é sempre da forma g = g(x + ct), onde f e g são funções a especificar.
14
Uma vez que a equação de onda é linear sabemos que qualquer combinação linear
soluções da equação 3.2 é ainda uma solução da equação 3.2.
Para que as soluções tenham sentido fı́sico devemos impor certas condições que
as equações devem obedecer em determinadas regiões do espaço. Estas condições
chamam-se condições de fronteira e o seu efeito é restringir o conjunto de valores que
as soluções podem tomar.
As soluções de onda que respeitam as condições fronteira têm o nome de modos
normais de vibração.
Quando uma onda se propaga e encontra a fronteira entre dois meios diferentes
dois acontecimentos podem ocorrer:
2. Reflexão: toda a energia da onda se propaga no primeiro meio mas com o sentido
oposto.
15
Quando duas ondas sinusoidais da mesma amplitude e frequência que se propagam
em sentidos opostos geram uma onda resultante cuja equação é dada por f = 2A sin kx cos ωt.
Esta é a equação de uma onda estacionária.
3.3 Interferência
Quando duas ondas do mesmo comprimento de onda e diferença de fase constante se
encontram dá-se o fenómeno de interferência.
Se as duas ondas se encontrarem na mesma região do espaço e tiverem a mesma
fase a interferência diz-se construtiva e a amplitude do onda resultante é igual à soma
das amplitudes de cada onda original.
16
Se as duas se encontram na mesma região do espaço em oposição de fase a inter-
ferência diz-se destrutiva e a amplitude da onda resultante é igual à subtracção da
amplitude das duas ondas originais.
17
3.4 Difracção
Quando luz de comprimento de onda bem definido incide numa barreira com uma
abertura d acontece um fenómeno chamado difracção. Cada porção da fenda age como
se fosse uma fonte independente e ondas provenientes de porções diferentes têm fases
diferentes. Da sua interacção pode resultar interferência construtiva ou interferência
destrutiva.
A figura seguinte mostra uma representação esquemática de uma realização ex-
perimental para se observar o fenómeno de difracção:
18
Capı́tulo 4
Electromagnetismo
Definição 4.3. A força eléctrica F~e surge da interacção de uma partı́cula de carga
q2 (carga de teste) com o campo criado por uma partı́cula de carga q1 .
F~e = E
~ 1 q2 (4.1)
Definição 4.4. Uma carga eléctrica q0 que se desloque de a para b num campo
eléctrico ~
Z E faz com que a energia potencial do sistema varie da seguinte forma ∆U =
b
−q0 ~ · d~s
E
a
Definição 4.5. Um campo eléctrico ao passar por uma superfı́cie S de forma ar-
bitrária estabelece um fluxo eléctrico ΦE que é dado peça seguinte expressão
Z
ΦE = ~ · dA
E ~ (4.2)
S
~ representa o vector de norma dA, direcção perpendicular à superfı́cie.
onde dA
19
Definição 4.6. Corrente eléctrica é a taxa de fluxo de carga eléctrica por unidade
de tempo. Se consideramos o seu valor médio é Im = ∆Q/∆t. Se consideramos o seu
dQ
valor instantâneo é I =
dt
~
Definição 4.7. Campo magnético é um campo vectorial, denotado pelo sı́mbolo B,
criado por uma carga eléctrica em movimento.
Definição 4.8. A força magnética F~B surge da interacção de uma partı́cula de carga
q com o campo criado por uma partı́cula de carga q1 .
F~B = q~v × B
~ (4.3)
Definição 4.9. Um campo magnético ao passar por uma superfı́cie S de forma ar-
bitrária estabelece um fluxo eléctrico ΦB que é dado peça seguinte expressão
Z
ΦB = ~ · dA
B ~ (4.4)
S
Axioma 4.1. I
E ~ = qin
~ · dA (4.5)
0
Axioma 4.2. I
~ · dA
B ~=0 (4.6)
Axioma 4.3. I
~ · d~s = − dΦB
E (4.7)
dt
Axioma 4.4. I
~ · d~s = µ0 I + µ0 0 dΦE
B (4.8)
dt
20
O primeiro axioma diz-nos o fluxo eléctrico que passa por uma superfı́cie fechada é
proporcional à carga contida no interior da superfı́cie. O segundo axioma é equivalente
à afirmação de que não existem cargas magnéticas.
O terceiro axioma expressa o facto que campos magnéticos que variam no tempo
criam campos eléctricos. Por sua vez estes campos eléctricos não conservativos são
~
H
responsáveis por criarem uma diferença de potencial E · d~s = ε ao longo de um
circuito eléctrico.
O quarto axioma expressa o facto que campos eléctricos que variam no tempo
dΦE
e correntes eléctricas criam campos magnéticos. O termo 0 é denominado de
dt
corrente de deslocamento.
Para o caso de uma carga pontual isolada a superfı́cie gaussiana em questão é uma
superfı́cie esférica centrada na carga. Neste caso conseguimos obter os dois primeiros
atributos e vem:
E~ = ke q r̂ (4.9)
r2
Se definirmos V (∞) = 0 vem que o potencial eléctrico de uma carga pontual é:
q
V = ke r̂ (4.10)
r
E deste modo a energia de interacção entre uma carga q1 e uma carga q2 separadas
de uma distância r é:
q1 q2
U = ke (4.11)
r
Para um campo eléctrico uniforme vem que a diferença de potencial entre dois
pontos separados de uma distância d é ∆V = −Ed
Outras consequências dos axiomas de Maxwell serão exploradas nas series de ex-
ercı́cios.
21
4.3 Ondas Electromagnéticas
Os axiomas 4.3 e 4.3 permitem deduzir que
∂ 2E ∂ 2E
= µ0 0 2 (4.12)
∂x2 ∂t
∂ 2B ∂ 2B
= µ
0 0 (4.13)
∂x2 ∂t2
√
Se identificarmos c = 1/ µ0 0 vemos que as equações 4.12 e 4.13 são equações de
onda progressivas que se deslocam com a velocidade c.
É um facto experimental que a velocidade de propagação de luz tem um valor
muito próximo de c e assim surge como hipótese o facto da luz nada mais ser do que
um tipo de radiação electromagnética.
Esta hipótese foi posteriormente confirmada experimentalmente por Hertz e é um
dos mais espectaculares sucessos da teoria electromagnética.
Outro facto interessante que provém da teoria electromagnética é que c é invari-
ante. Isto é uma directa contradição ao que tı́nhamos visto anteriormente no contexto
da Mecânica Clássica (secção 2.3.2).
22
Capı́tulo 5
Neste momento temos uma codificação bastante boa e consistente de um vasto con-
junto de dados experimentais. No entanto temos duas situações algo espinhosas entre
as nossas mãos. Em primeiro lugar as transformações de Galileu apenas afirmam a in-
variância das leis da mecânica. Em segundo lugar temos que a teoria electromagnética
prevê que a velocidade da luz não depende do referencial inercial.
A resolução destes problemas no inı́cio do século XX acarretou um profunda re-
visão dos conceitos de espaço e tempo e os conceitos de massa, energia e inércia.
23
5.3 Transformações de Lorentz
Imaginemos um mesmo acontecimento P que é descrito em dois referenciais inerciais
diferentes S e S 0 . Vamos supor que S 0 se move relativamente a S com uma velocidade
constante v e que as origens dos dois referenciais coincidem para t = 0.
x0 = γ(x − vt)
y0 = y
z0 = z
vx
t0 = γ t− 2
t
24
• O conceito de acontecimentos simultâneos é relativo ao referencial.
• O comprimento de corpos em movimento encurta na direcção do seu movimento.
• A fórmula para a adição de velocidades tem que ser revista.
• Os conceitos de massa, energia e inércia devem ser repensados.
p~ = γm~v (5.2)
Definição 5.4. Quando o momento linear de uma partı́cula varia dizemos que a
partı́culas está a ser actuada por uma força
d
F~ = (γm~v ) (5.3)
dt
A revisão dos conceitos de momento linear e força no contexto da teoria da rel-
atividade implicam necessariamente a revisão do conceitos de energia cinética e do
conceito de inércia.
Sabemos que uma força realiza trabalho sobre uma partı́cula ao longo de um
determinado deslocamento.
Z x2 Z x2
dp
W = F dx = dx = mc2 (γ − 1)
x1 x1 dt
K = mc2 (γ − 1) (5.4)
2
Uma vez que mc é a energia associada a uma partı́cula quando esta está em
repouso γmc2 tem que ser a soma da sua energia cinética com a energia em repouso.
Definição 5.5. A energia total de uma partı́cula é dada pela equação
E = γmc2 (5.5)
25
Com a definição normal de trabalho e a definição relativista de força concluı́mos
que a energia de uma partı́cula está relacionada com a sua massa. Quando γ = 1
(partı́cula em repouso) temos E = mc2 .
Uma vez que na fı́sica moderna o conceito de momento linear tem sentido fı́sico
enquanto que o conceito de velocidade não é costume escrever a equação 5.5 na forma
26
Capı́tulo 6
Ao contrário do que fizemos nos capı́tulos anteriores este capı́tulo fará menção de
algumas experiências que motivaram a formulação da Fı́sica Quântica. Para além
disso as nossas formulações iniciais serão expostas de uma forma menos resumida.
2. Existem algumas perturbações cujo efeito não pode ser desprezado. No entanto
é sempre possı́vel fazer um calculo exacto de quais os efeitos e desse modo é
possı́vel compensá-los.
• Efeito fotoeléctrico.
27
• Existência e estabilidade de átomos.
• Experiência de Stern-Gerlach.
• ...
28
6.2 A Experiência da Dupla Fenda
Para tornar mais concreta a discussão anterior vamos olhar com mais cuidado para
uma experiência que demonstra muito bem o choque entre as duas concepções que
temos vindo a discutir.
Nesta situação as partı́culas passam pela fenda 1 ou pela fenda 2. As partı́culas que
passam pela fenda 1 são responsáveis pela curva de probabilidades P1 enquanto que
as partı́culas que passam pela fenda 2 são responsáveis pela curva de probabilidades
P2 . A curva de probabilidades resultante P12 é simplesmente a soma das curvas P1 e
P2 .
29
Neste caso a intensidade das ondas é a quantidade que interessa estudar. Temos
a curva de intensidades I1 que é causado pela fenda 1 e a curva de intensidades I2
que é causada pela fenda 2. A intensidade resultante no entanto é I12 = |h1 + h2 |2 =
I1 + 2I1 I2 cos θ. O último termo é responsável pela interacção da onda proveniente
da fenda 1 com a onda proveniente da fenda 2. Assim sendo é este termo que é
responsável pelo padrão de interferência.
No caso dos electrões temos que novamente pensar em termos de curvas de proba-
bilidades e curvas de probabilidades são inerentes ao conceito de partı́culas. Contudo
o que nós observamos é um padrão de interferências e isso é inerente a ondas...
Para podermos explicar os padrões que vemos temos que assumir que a cada
probabilidade Pi está associada uma amplitude de probabilidade φi . Para calcularmos
a probabilidade devemos calcular o módulo quadrado da amplitude de probabilidade
Pi = φ2i . Assim antes de mais devemos calcular a soma da amplitude de probabilidades
de passar pela fenda ou de passar pela fenda 2 e só depois devemos calcular o módulo
quadrado desta amplitude para obtermos a probabilidade de um electrão passar pela
fenda 1 ou de passar pela fenda 2: P12 = |φ1 + φ2 |2 .
Notar que no parágrafo anterior tratamos o electrão como sendo sempre uma
partı́cula, ainda que seja uma partı́cula com propriedades muito especiais, e nunca
em momento algum o tratamos como sendo uma onda que interfere consigo mesma.
Tal tratamento há muito tempo se sabe estar errado, mas, por questões que só podem
ser de nostalgia, é frequente encontrá-lo em muitos livros.
30
6.3 Conceitos Básicos e Definições Preliminares
Após a discussão de alguns dos motivos que levaram os fı́sicos a procurarem um novo
paradigma que permitisse fazer sentido do que se passava a nı́vel atómico está na
altura de introduzir as nossas habituais definições iniciais.
Definição 6.1. O estado quântico é definido pela especificação das grandezas fı́sicas
relevantes e é representado por uma função que toma valores complexos Ψ(x, t)
Definição 6.2. O momento linear de uma partı́cula é representado pelo operador
~ d
p= (6.1)
i dx
Definição 6.3. A energia de uma partı́cula é representada pelo operador
d
E = i~ (6.2)
dt
Definição 6.4. Para uma partı́cula livre as seguintes equações são válidas:
~
k = (6.3)
p
E
ω = (6.4)
~
~2 ∂ 2 Ψ ∂Ψ
− 2
+ U (x)Ψ = i~ (6.5)
2m ∂x ∂t
Axioma 6.2. A probabilidade de que uma partı́cula seja encontrada no elemento de
espaço dx denota-se por P (x)dx e é:
31
Axioma 6.4. O valor médio de uma grandeza fı́sica A, que se representa Ā, é dado
pela seguinte expressão:
Z
Ā = Ψ∗ AΨ (6.7)
8πhc
u(λ, T ) = (6.8)
λ5 (ehc/(λKB T ) − 1)
8πhν 3
u(ν, T ) = (6.9)
ν 3 (ehν/(KB T ) − 1)
32
No contexto da teoria electromagnética da luz todos estes factos são inexplicáveis.
No entanto se assumirmos que a luz se propaga em pacotes discretos de energia (isto
é uma generalização enorme da hipótese de Planck que apenas assumiu que trocas
de energia se davam de forma discreta) e que estes pacotes de energia são da forma
E = hf o efeito fotoeléctrico é prontamente explicado.
A energia cinética dos electrões libertados é dada pela expressão K = hf − φ onde
φ representa a energia de ligação dos electrões à placa metálica.
Ei − Ef = hf (6.10)
me vr = n~ (6.11)
Com estas duas equações é possı́vel prever que os raios permitidos dos electrões
são da forma:
n2 ~2
rn = (6.12)
me ke2
Tomando n = 1 temos o raio menor raio possı́vel (o raio de Bohr) que se denota
por a0 .
E que as energias permitidas são da forma
ke2
En = − (6.13)
2a0 n2
33
Utilizando as equações 6.10 e 6.13 podemos calcular o comprimento de onda do
fotão que permite a transição entre estados estacionários
!
1 ke2 1 1
= − 2 (6.14)
λ 2a0 hc n2f ni
A teoria do átomo de hidrogénio de Bohr também permite explicar o espectro de
energia de alguns átomos ionizados.
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Capı́tulo 7
Aplicações da Equação de
Schroedinger
Neste capı́tulo vamos dar uso ao Axioma 6.1. Este axioma indica como varia um es-
tado quântico ao longo do tempo e é vital para que possamos compreender a dinâmica
a nı́vel atómico.
De notar que o Axioma 6.1 é uma equação diferencial e como tal a teoria assim
construı́da é determinista.
De acordo com o Axioma 6.2 A probabilidade de encontrar uma partı́cula no ele-
mento de espaço dx é |Ψ(x, t)|2 dx. Assim sendo a probabilidade encontrar a partı́cula
Z b
num intervalo [a, b] é |Ψ(x, t)|2 dx.
a
Uma vez que a equação do Axioma 6.1 é uma equação linear sabemos que se
Ψ é solução da equação de Schroedinger também AΨ é uma solução da equação de
Schroedinger.
Por outro lado temos que ter necessariamente
Z ∞
|Ψ(x, t)|2 dx = 1 (7.1)
−∞
Deste modo a constante complexa A fica fixada a menos de um factor de fase.
Uma vez que este factor de fase é irrelevante no contexto deste curso a condição 7.1
efectivamente faz com que a nossa solução de Schroedinger tenha uma solução única.
De modo a simplificar a nossa discussão vamos supor que Ψ(x, t) = ψ(x)φ(t).
~2 ∂ 2 Ψ ∂Ψ
Deste modo em vez da equação − 2
+U (x)Ψ = i~ que é equação à derivadas
2m ∂x ∂t
parciais temos:
dφ
i~ = Eφ (7.2)
dt
~2 ∂ 2 ψ
− + U (x)ψ = Eψ (7.3)
2m ∂x2
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Que são duas equações diferenciais ordinárias.
Da primeira equação vem que a dependência temporal da função de onda é φ(t) =
−iωt
e . A segunda equação é conhecida como a equação de Schroedinger independente
do tempo e é sobre ela que nos vamos debruçar nas secções seguintes.
Apesar de esta situação ser bastante artificial a nı́vel fı́sico a sua componente
didáctica é bastante elevada e convém ser estudado de modo a que possamos entender
exemplos que tenha alguma relevância fı́sica.
Nesta situação a partı́cula desloca-se ao longo de um comprimento L onde não
sofre a influência de nenhuma energia potencial. Mas ao chegar as extremidades do
comprimento temos U (0) = U (L) = +∞. Que é um potencial infinitamente repulsivo.
Para x > L ou x < 0 é obviamente ψ(x) = 0. nπx
Dentro da região onde o movimento é permitido temos ψ(x) = A sin .
L
Solução que nos diz que os valores de energia que a partı́cula pode ter não mais fazem
parte de um intervalo contı́nuo mas que passam a ser valores discretos.
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7.2 Poço de Potencial Finito
Uma situação mais realista é dizermos que uma partı́cula se desloca ao longo de
uma região onde não está sujeita a nenhuma energia potencial e que nas extremidades
desta região encontra um potencial U (0) = U (L) = c. Um potencial que é repulsivo
mas finito.
Se assumirmos que E < U ou seja que a energia da partı́cula é inferior à energia
potencial repulsiva vemos que as soluções de 7.3 permitem uma probabilidade não
nula de encontrar a partı́cula fora da região onde estava inicialmente confinada.
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7.3 Oscilador Harmónico
Para oscilações pequenas em torno de um ponto de equilı́brio sabemos que qualquer
função de energia potencial pode ser aproximada por uma função quadrática. Assim a
dinâmica resultante para partı́culas que tenham pequenos deslocamentos em torno de
uma posição de equilı́brio é em primeira aproximação a dinâmica de um movimento
harmónico.
Para o oscilador harmónico a equação de Schroedinger é
~2 d2 ψ 1 dψ
− 2
+ mωx2 ψ = E
2m dx 2 dt
Não iremos resolver esta equação de forma exacta mas por argumentos heurı́sticos
vamos propor uma solução possı́vel para o estado fundamental.
Pelos exemplos anteriores vimos que no estado fundamental a função de onda
nunca tomava o valor 0 mas aproximava-se dele assintoticamente. Vimos também
que as soluções por nós encontradas reflectiam a simetria da energia potencial.
Assim sendo esperamos que o mesmo aconteça neste caso. Uma possı́vel solução
2
será então uma função da forma ψ(x) = C0 e−αx
mω
Substituindo esta função na equação de Schroedinger vemos que α = e que
2~
E = 1/2~ω. O que mostra que a energia de um oscilador harmónico quântico no
estado fundamental não é zero.
É possı́vel demonstrar que En = (n + 1/2)~ω
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Bibliografia
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