Você está na página 1de 2

NOTA DE REPÚDIO

NÃO AO TOTALITARISMO NEO-OBSCURANTISTA


NAS POLÍTICAS CULTURAIS BRASILEIRAS
Brasil, 16 de julho de 2021.

Os representantes da sociedade civil do Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC,


composto por organizações e entidades culturais dos segmentos técnico artístico,
patrimônio cultural, culturas populares e expressões culturais afro-brasileiras e indígenas do
Brasil vem a público externar todo seu repúdio aos constantes atos de racismo explícito e
flertes às práticas do nazismo, demonstrados contra a cultura brasileira e seus
representantes, refletindo a covardia e a crueldade destes que se sentem à vontade
publicamente e, de forma vil, para verbalizar declarações abertamente racistas.

Repudiamos as frases racistas desferidas contra o professor Jones Manoel pelo então
secretário de Cultura de Bolsonaro, Mário Frias, nesta quinta (15/7). Tais ofensivas se
somam a diversas outras condutas que já extrapolam a coerência e o bom senso
humanitário ausentes neste governo. Fica cada vez mais claro, o projeto racista e de ódio
ao povo brasileiro, que em sua grande maioria é negro, inclusive quando o próprio
presidente associa o cabelo Black Power a um criadouro de baratas, ofendendo negros,
quilombolas e suas tradições.

Repudiamos veementemente o cancelamento por parte da FUNARTE da captação de


recursos pelo Festival de Jazz do Capão via Lei Rouanet. Este posicionamento
flagrantemente baseado em fundamentalismo e ideologização, se configura como um grave
desvio de finalidade das políticas culturais. Infelizmente estamos convivendo diariamente
com desastrosos pareceres em desconformidade com as demandas da cultura afro-
brasileira. Lamentável esse governo descabido de informações onde não reconhece a arte
como fator de multiplicação e ação transversal em nossas múltiplas linguagens para a
nação e bem fazer Cultural.

Repudiamos o processo de perseguição e tentativa de controle político partidário


ideológico por parte de alguns gestores do governo federal à servidores públicos dentro da
Secretaria “Especial” de Cultura, que estão sofrendo assédio moral e institucional.

Repudiamos o frequente mal-estar e o desconforto que vem sendo gerado aos servidores
da Secretaria Especial de Cultura diante da postura, do então secretário, que anda e
despacha, visivelmente armado, no ambiente de trabalho. Esse clima de tensão somado
aos escândalos, ofensas, os gritos comumente deferidos aos servidores, representa uma
ameaça constante à integridade física e psicológica desses trabalhadores, além de ser
inadmissível essa postura dentro do órgão de representatividade cultural.

Repudiamos o histórico de banalização das vítimas do nazismo e as falsas analogias


atribuídas a um dos fatos históricos mais trágicos da humanidade, o Holocausto,
promovidas como agenda contra as medidas de restrição à pandemia adotas pelos
governadores, resultado da falta de políticas públicas sanitárias, do negacionismo e dos
interesses escusos que impediram a imunização do nosso povo brasileiro. Comparar as
medidas de combate à pandemia impostas por governadores e prefeitos ao Holocausto,
como fez recentemente o ex-ator Mário Frias em falsa analogia entre a matança de milhões
de judeus durante o período nazista e os decretos dos governadores que na tentativa de
conter o avanço da pandemia de covid-19, que já deixou mais de 500 mil mortos no Brasil,
serve apenas para banalizar a memória das vítimas do nazismo.

Vivemos tempos em que as instituições democráticas precisam demonstrar


categoricamente sua intolerância a qualquer forma de censura, bem como asseverar que
não haverá complacência com o pensamento totalitário de quem quer que seja, indivíduos,
grupos, organizações ou governos. É necessário afirmar com veemência que a liberdade de
expressão, os direitos humanos e o estado democrático de direito, são valores civilizatórios
dos quais não abriremos mão.

Prezamos pelo livre debate de ideias e acreditamos que as disputas ideológicas partidárias,
jamais devem se confundir com erros históricos. Como um representante da diversidade
cultural brasileira, ao promover discursos racistas, desrespeita todos os brasileiros que têm
compromisso com a democracia e a formação cultural do nosso povo.

Os assuntos da cultura brasileira devem ser debatidos pelos atores da cultura brasileira,
dentro do espírito da diversidade cultural e da pluralidade das ideias. Todos os brasileiros e
brasileiras devem lutar para que atos dessa natureza sejam extintos e que fiquem somente
nos registros da história para que possamos lembrar o quanto o ser humano pode ser cruel
com seu semelhante.

Portanto, na defesa destes valores e princípios os representantes da sociedade civil do


Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC se manifestam, expressando publicamente
sua contrariedade e apoiando esta Moção de Repúdio.

Assinam:

Conselheiras e Conselheiros da Sociedade Civil


Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC

Leonardo Ferreschi - Conselheiro Representante da Região Sul


Rita Andrade - Conselheira Representante da Região Centro Oeste
Mãe Tuca d'Osoguiã - Conselheira Representante das Expressões Afro-Brasileiras
Luciano Rocha dos Santos - Conselheiro Representante Região Nordeste
Giovanna Penido - Conselheira Representante Região Sudeste
Sebastião Alberto Vieira de Moura - Conselheiro Representante Região Norte
Renato da Silva Moura - Conselheiro Representante da Região Norte
Iriadney Alves da Silva – Conselheira representante da Região Centro Oeste
Soraya Amaral - Suplente Região Sul
Cleide Façanha – Suplente Região Norte

Você também pode gostar