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Ilza Girardi
Doutora em Ciências da Comunicação pela USP
Professora do Programa de Pós-graduação da UFRGS
E-mail: ilza.girardi@ufrgs.br
Resumo: Apresenta a forma como o termo economia verde foi Gisele Neuls
utilizado na cobertura da Rio+20 nos portais de notícias G1, UOL
e Terra. A analise foi realizada a partir do referencial teórico do
jornalismo ambiental e das correntes da economia que incorpo- Mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS
ram o meio ambiente. Aponta a confusão conceitual em relação E-mail: gisele.neuls@gmail.com
ao termo, bem como a necessidade do jornalismo romper com a
superficialidade e discutir melhor o conceito.
Palavras-chave: economia verde, Rio+20, jornalismo ambiental. Carine Massierer
Periodismo y Economía Verde: la cobertura de portales de noticias
Mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS
G1, UOL y Tierra acerca de Rio +20
Resumen: Muestra cómo se utiliza el término economía verde en E-mail: cmassierer@yahoo.com.br
la cobertura de Rio +20 en los portales G1, UOL y Terra. El aná-
lisis se realizó a partir del marco teórico del periodismo del medio Ângela Camana
ambiente y la economía que incorpora el medio ambiente. Señala
la confusión conceptual sobre el término y la necesidad de romper
con la superficialidad periodística y discutir mejor el concepto. Graduada em Comunicação Social pela UFRGS
Palabras clave: economía verde, Rio +20, periodismo del medio E-mail: angela.camana@hotmail.com
ambiente.
Journalism and the Green Economy: the Rio +20 through the news Laura Gertz
websites G1, UOL and Terra
Abstract: Reflects on how journalism presents the green economy
in the coverage of Rio +20 in the news portal G1, UOL and Terra. Graduada em Comunicação Social pela UFRGS
It is based on the theoretical references of environmental journa- E-mail: laura.gertz@yahoo.com.br
lism and on the economic theories that incorporate the environ-
ment. Points out the conceptual confusion regarding the term, as 1
A primeira versão deste texto foi apresentada em uma mesa
well as the need for journalism to break with the superficiality and sobre a Rio+20 no 10º Encontro Nacional de Pesquisadores em
discuss further the concept. Jornalismo, que ocorreu em novembro de 2012 na Pontifícia
Keywords: green economy, Rio +20, environmental journalism. Universidade Católica do Paraná, em Curitiba.
mente os danos atrelados a essa lógica. Há A partir da ideia deste jornalismo mais
nesta corrente uma crença muito grande que integrador, observou-se na cobertura online
a tecnologia e a inovação poderão resolver os da Rio+20 qual foi a compreensão sobre o
problemas do futuro – algo, no entanto, que que é economia verde utilizada nas notícias
se confronta com o princípio da precaução. e explicitadas ao público. Apesar da brevida-
Como não busca diminuir o crescimento, de presente em todas as fases de constituição
pois crê que a ciência resolverá o problema de uma notícia, considerada como um fator
das limitações físicas dos recursos naturais e limitante para empregar às matérias de meio
dos problemas gerados pela poluição, é mais ambiente maior complexidade, e da rapi-
uma maneira de reforçar a ideia de cresci- dez com que se move a circulação das no-
mento econômico. tícias no jornalismo online, entende-se que
por ser uma conferência de meio ambiente
O olhar do jornalismo ambiental alguns princípios do jornalismo ambiental
deveriam se fazer presentes para que temas
Entende-se o jornalismo ambiental como complexos – como é o caso do conceito em
o trabalho de apuração de fatos e produção análise – pudessem ser esclarecidos.
de notícias que, sendo voltado ao tema am- A qualificação da informação não é – e
biental, é convocado a direcionar um olhar nem deveria ser – uma preocupação exclu-
diferenciado sobre a realidade a ser relatada. siva das temáticas ambientais, mas justa-
Busca a inclusão da perspectiva holística e mente por estas serem bastante complexas
sua conexão inequívoca com o todo, produ- e envolverem campos de conhecimento
zindo notícias mais contextualizadas e me- distintos, torna-se necessário dar ênfase à
nos fragmentadas. Desta forma, o jornalis- conexão dos fatos e à pluralidade de pers-
mo ambiental parte de uma nova concepção pectivas para que os cidadãos possam real-
teórica-prática centrada no agir e no pensar mente apreender os significados engendra-
o jornalismo, a partir da ótica da sustenta- dos nos discursos ambientais. De acordo
bilidade do planeta, buscando a ampliação com Baccheta (2000:19), o jornalismo am-
do número de fontes da área a serem con- biental “procura desenvolver a capacidade
sultadas, o aprofundamento do conteúdo e a das pessoas para participar e decidir sobre
abordagem qualificada das notícias de meio a sua forma de vida na Terra, para assumir
ambiente. Desta forma, assume-se a perspec- em definitivo sua cidadania planetária”,
tiva descrita por Girardi et al (2010), na qual logo necessita dar visibilidade às redes de
este jornalismo é concebido de forma mais interesses que envolvem os fatos.
ampla, crítica e plural, incorporando a visão Neste trabalho descritivo-analítico, que
sistêmica e o pensamento complexo. envolveu uma pesquisa quantitativa, segui-
Considerando-se que a sociedade contem- da de uma observação qualitativa, rastreou-
porânea é baseada no pensamento cartesiano, -se como os três grandes portais de notícia
para repensar em termos de relações, padrões brasileiros construíram o entendimento so-
e contextos faz-se necessário romper com as bre economia verde no período anterior e
barreiras impostas por este modelo, em que durante a Rio+20. Parte-se da compreensão
a natureza é tomada como algo inesgotável e de que tal cobertura jornalística, pela com-
não em interação com o homem. Por isto, Tri- plexidade dos assuntos abordados, deveria
gueiro (2003:77) afirma que é necessário que preocupar-se com a problematização das
os jornalistas promovam a discussão ambien- questões – ainda que de forma não recor-
tal por meio do resgate do “sentido holístico e rente, já que não são veículos especializados.
do caráter multidisciplinar que permeia todas Também certo aprofundamento com os te-
as áreas do conhecimento”. mas centrais, no contexto da cobertura da
Rio+20, deveriam estar presentes visto que da “Terra com agências”, o que significa que
se criaram subeditorias especiais para tratar o conteúdo publicado continha informações
do assunto. via agências de notícias, totalizando 11 ma-
térias, que representa 61% das notícias aqui
analisadas.
A economia verde nos portais de internet
No período de observação – de 10 de
abril até 22 de junho – foram publicadas O jornalismo ambiental
1.886 matérias nas subeditorias dedicadas à busca a inclusão
Rio+20, sendo 522 no UOL, 651 no G1 e 713
da perspectiva holística
no Terra. Para a análise, foi utilizado como
critério de seleção todas as matérias que
e sua conexão
apresentassem economia verde no título, o inequívoca com o todo,
que resultou em um total de 50 matérias: 14 produzindo notícias
do UOL, 18 do G1 e 18 do Terra. mais contextualizadas
De modo geral, as matérias analisadas não
promovem discussão sobre o tema, tampouco
problematizam o conceito. A economia ver-
de, na maioria das vezes, é incluída nos tex- UOL
tos como um conceito que está claro ao leitor.
O termo é utilizado nas matérias associado a O UOL possui a editoria Rio+20 desde
ações ou atividades (empregos verdes, finan- 1º de novembro de 2011. Neste portal foram
ciamento, tecnologias limpas) e como a so- encontradas 522 notícias sobre a Conferência
lução para a crise socioambiental. Também é no período de análise. Destas, 56 continham
recorrente a sua sinonímia com termos como o termo economia verde apenas no texto;
crescimento verde, ecologização da economia 36 no texto e em quadro ou infográfico; 155
e desenvolvimento sustentável. apenas em quadro ou infográfico e 14 notí-
A análise também mostrou que a maio- cias apresentavam o termo no título. Metade
ria das fontes acionadas pelos jornalistas é das matérias foi produzida por jornalistas do
oficial (especialmente aquelas vinculadas a UOL e as demais de outras agências, espe-
Governos), cuja atuação no evento foi mar- cialmente a Agência Brasil, mostrando tam-
cada pela defesa dos interesses político-eco- bém o baixo esforço de reportagem dedicado
nômicos dos países, revelando uma prática à Conferência.
empobrecida do jornalismo. Os portais de O portal utilizou um quadro e xplicativo4
notícias também fizeram uso considerável de padrão sobre a Rio+20 contendo seis verbe-
tes: O que é Rio+20, Sustentabilidade, Econo-
material assinado por agências de notícias, o
mia Verde, Fora PIB, Sem protocolos e ODS
que é bastante comum em sites de internet
(Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).
que precisam manter atualizações constantes
Cada verbete contém uma explicação resumi-
de conteúdo. O G1 publicou quatro notícias
da sobre o tema e sua importância na Confe-
da France Press sobre o tema, o que equiva-
rência. O quadro, repetido na maioria das no-
le a 22% do total de conteúdo que levava a
tícias, apresenta uma definição básica sobre o
expressão no título. O UOL publicou cinco
que é economia verde: “é a que se opõe à eco-
notícias da Agência Brasil e uma da Folha, o
que corresponde a 42% do corpus deste ar- 4
Sua repetição em quase todas as notícias de alguma forma
tigo. E o Terra utilizou quatro matérias da relacionada à Conferência explica a existência de 155 notícias
que não citam “economia verde” em nenhum momento no
Agência EFE, cinco da Agência Brasil, uma da restante do texto. Muitas delas não têm relação alguma com a
EcoDesenvolvimento e elaborou outra assina- discussão econômica.
nomia marrom (a atual), ou seja, seria uma rom” para “verde” está longe de ser consenso
economia mais preocupada com a preserva- (07/06/12) mobiliza três fontes para mostrar
ção do ambiente e sem o intenso uso de com- as divergências de entendimento sobre o con-
bustíveis fósseis como carvão e petróleo que ceito: o chefe do Departamento de Economia
são altamente poluentes”. Além disso, informa e Comércio do Pnuma, Steven Stone, o em-
ao leitor que economia verde é um dos temas baixador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo,
centrais da Rio+20; que há pouco consenso defendendo o entendimento oficial sobre o
entre os países sobre sua definição; e que as termo, e um dos líderes da Cúpula dos Povos,
principais críticas são feitas por ONGs, aca- Pedro Ivo, embora a crítica não esteja posta
dêmicos e cientistas, relacionando economia em uma declaração desta fonte, mas resumida
verde à produção e ao consumo capitalista. da seguinte forma: “As ONGs alegam que o
conceito proposto nada mais é que uma ten-
tativa de ‘pintar de verde’ o neoliberalismo”.
A crítica anticapitalista No dia 16 de junho, o veículo publicou Não
à economia verde há economia verde que resista ao estímulo ao
aparece em quatro consumo de hoje em dia, diz Fábio Feldmann.
matérias do G1, Nesta, os problemas da EV são apresentados
citando-se através da fala do ecologista e ex-secretário do
Ambiente do Estado de São Paulo, que critica
apenas fontes o estímulo ao consumo para superar a crise
contrárias ao conceito econômica. “‘No Brasil, a medida contra a cri-
se foi o corte nos impostos dos automóveis,
estimulando as compras. Até 2030, segundo
Fora deste quadro, a explicitação de uma pesquisas, teremos três bilhões de pessoas na
definição sobre o que é EV aparece majorita- nova classe média. Assim, não há economia
riamente na voz das fontes. Em metade das verde que resista’, ressalta”. A matéria ainda
notícias (sete) apenas uma fonte foi citada, traz outras duas fontes civis de outros países,
e, em todos esses casos, a fonte era governa- que dão voz às críticas de dimensão ética.
mental (diplomata, embaixador, chefe de es- A terceira, publicada no dia 21 de julho,
tado, representante do Programa das Nações já durante a Conferência, repercute o pro-
Unidas para o Meio Ambiente – Pnuma – ou nunciamento do presidente boliviano Evo
da Organização das Nações Unidas – ONU). Morales: Evo critica capitalismo na Rio+20:
Em apenas uma notícia aparece uma defini- Economia verde privatiza a riqueza e socializa
ção dada pelo veículo/jornalista, situando a a pobreza. Morales reitera que o sistema capi-
EV em oposição à economia tradicional ou talista é o principal causador da crise ambien-
marrom: “Grosso modo, a primeira [mar- tal que o planeta enfrenta, ataca o conceito de
rom] é o sistema produtivo atual, poluente economia verde que, segundo ele, “privatiza a
e baseado em combustíveis fósseis; a ou- riqueza e socializa a pobreza” e é “o novo co-
tra [verde] preconiza uma baixa emissão de lonialismo a submeter os povos”. Para ele, os
carbono e um uso mais eficiente dos recur- países do Sul “carregam sobre seus ombros a
sos naturais” (Transição da economia “mar- responsabilidade de proteger os recursos na-
rom” para “verde” está longe de ser consenso, turais que a economia do norte destruiu”. Ele
07/06/12). também menciona a economia verde como
Das 14 notícias analisadas, apenas três “uma nova cor para subjugarmos nossos po-
mostram claramente a crítica ao conceito de vos sob o sistema do capitalismo”. O discurso
economia verde conectado com o capitalis- de Morales repercutiu igualmente nos dois
mo. A primeira Transição da economia “mar- outros portais observados.
termo aparece, seja nos títulos ou nos textos, um conteúdo fixo no final de todas as ma-
23 vezes EV está entre aspas, sendo que a ex- térias, uma retranca com o título Rio+20 e
pressão é posta assim na metade dos títulos contendo três parágrafos que explicam ao
analisados (nove). Para além de uma quebra leitor o que é o evento, seus objetivos e pro-
da padronização das notícias, é importante cedimentos. Nesta retranca, a única referên-
observar que este recurso, mais que colocar cia à economia verde limita-se a dizer que
em evidência o citado termo, é bastante uti- esta é o foco principal da Conferência.
lizado para grifar expressões irônicas ou que As críticas à economia verde apareceram
tenham sentido figurado. Desta maneira, o através do pronunciamento de alguns líde-
G1, de maneira sutil, transmitiu em muitas res, como o ministro de Finanças da África
matérias a existência de um não consenso, de do Sul, Pravin Gordhan, e de Evo Morales.
dúvida ou de desconforto com este conceito. Nas matérias Economia verde traz riscos para
países pobres, diz África do Sul (21/06/12) e
Economia verde é mais uma forma de colonia-
Terra
lismo (21/06/12) argumenta-se que o mo-
O portal Terra publicou, no período ob- delo econômico é arriscado para os países
servado, 713 matérias, sendo que destas 468 menos desenvolvidos, uma vez que não mo-
citaram, ao menos uma vez, a expressão eco- difica o sistema de desigualdade capitalista,
nomia verde. Deste número, selecionaram-se e o presidente boliviano apontou o modelo
para uma análise aquelas em que o termo era como privatização da natureza e criticou que
destacado no título, reduzindo o universo a as “nações pobres” tenham que suportar a
18 matérias. Em primeiro lugar, sublinha-se proteção à natureza. Existe, portanto, a críti-
que as negociações em torno do documen- ca, mas sempre na posição de contraponto à
to resultante da Conferência tiveram consi- ordem dominante.
derável espaço na cobertura do Terra, com Em Rio+20: grupo lança campanha Não à
destaque à dificuldade em encontrar con- Economia verde (09/05/12), aparece a princi-
senso quanto às metas de desenvolvimen- pal crítica dos movimentos socioambientais,
to sustentável e à criação de um organismo de que o objetivo é “pintar de verde a mesma
multilateral. Em geral, as matérias mostram economia que nós conhecemos e que gerou
a economia verde como um novo ramo a ser o impacto ambiental”. Em Cúpula dos Povos
explorado pelo mercado e uma oportunida- rejeita conceito de economia verde da Rio+20
de de crescimento econômico, com benefí- (13/05/12), a ativista mexicana Silvia Ribeiro
cios políticos e simbólicos. já citada acima, na descrição do conteúdo do
Com relação às fontes por matéria, o cor- G1, aparece dizendo que a economia verde é
pus deste portal foi o menos variado: 12 das um “disfarce para mais negócios e mais ex-
18 matérias analisadas foram produzidas ploração dos ecossistemas” e uma “solução
com uma única fonte e, destas, nove eram falsa dizer que vai se resolver tudo com tec-
fontes ligadas a governos ou à ONU. Quatro nologia, em vez de se ir às causas para baixar
notícias de agências foram igualmente pu- as emissões do efeito estufa, os padrões de
blicadas pelo portal UOL, apenas com leves produção e o consumo”. A matéria, assinada
edições de título. por repórter do veículo, é bastante similar a
Diferentemente dos outros portais, o Ter- Representantes da Cúpula dos Povos criticam
“economia verde” no Rio, já destacada na aná-
ra não fez um exercício de definição sobre o
lise do G1 e igualmente assinada por repór-
que é economia verde para os leitores e todas
ter daquele veículo.5
as referências aparecem nas vozes das fontes.
Dentro das 18 matérias selecionadas para 5
Provavelmente ambos os repórteres estavam cobrindo o
análise, a partir do dia 14 de junho aparece mesmo evento.
Também aparecem as declarações de que tas, o que é uma característica que pode ser
a economia verde é “mercantilização da na- notada no jornalismo online, com seu ritmo
tureza” (Rio: mulheres fazem passeata con- de cobertura, no qual as declarações são mais
tra a economia verde no centro, 18/06/12); evidentes que a contextualização dos fatos.
“‘mentira’ ou uma ‘máscara’ para criar uma Esta velocidade também pode estar relaciona-
nova bolha financeira” (ONGs apontam seus da ao fato de que boa parte dos textos apresen-
dardos para a economia verde da Rio+20, ta uma única fonte, geralmente as chamadas
20/06/12). Não há, nestas matérias, deba- oficias ou representantes de grandes organi-
te quanto à motivação do posicionamento zações da sociedade civil, em geral dotadas de
das ONGs, somente citam-se as críticas. Este
movimento de listar posições políticas limita
a profundidade da cobertura e não promove
a compreensão dos atritos e debates. Em geral,
O destaque é para os benefícios da econo- as matérias do Terra
mia verde, sem mencionar impactos sociais mostram a economia
ou problematizar a mercantilização do ver- verde como
de, como na matéria Empresas que apostam uma oportunidade
na economia verde têm mais ganhos, diz ONU
de crescimento
(16/06/12): “As empresas que adotam me-
didas ambientalmente sustentáveis podem
econômico
ter significativos ganhos de escala, e, conse-
quentemente, econômicos, com impactos
positivos nos resultados financeiros”. Assim, um bom serviço de assessoria de imprensa.
a macroeconomia e a visão capitalista estão Há uma grande confusão conceitual tan-
presentes na maior parte do corpus selecio- to na construção das matérias quanto nas
nado para análise. declarações de várias fontes, sendo o termo
economia verde simplesmente substituído
por crescimento verde, ecologização da eco-
Considerações finais
nomia e desenvolvimento sustentável – que
No geral observa-se que o evento polí- não podem ser usados como sinônimos. A
tico teve maior destaque na cobertura dos economia verde aparece majoritariamente
três portais, não permitindo ao leitor uma como novo setor econômico, apoiado em
compreensão mais aprofundada quanto ao novas tecnologias, com geração de novos ne-
conteúdo e às ações ligadas à economia ver- gócios, empregos, investimentos. Ela é inse-
de. O termo aparece nas declarações oficiais rida nos textos sem qualquer reflexão sobre
e nas críticas do terceiro setor, mas restringe- as discussões que atravessam seu conceito,
-se à controvérsia relacionada à posição de mas apenas como oportunidade de negócios.
ambientalistas frente ao conceito hegemô- O tom crítico das ONGs e movimentos so-
nico. Ainda que a Rio+20 tenha tido íntima ciais – trazendo questionamentos em relação
relação com diversos aspectos ambientais, o à qualidade de vida e à autonomia das nações
enfoque das matérias analisadas não foi este. mais pobres que, normalmente, são pouco
As possíveis interpretações e os usos da EV ouvidas em decisões internacionais e podem
não são claramente definidos, bem como os ser ainda mais castigadas com a “transição
motivos para a contestação dos ambientalis- para a economia verde”, – é pouco expressivo
tas. Assim, nota-se que o conceito aparece nos numericamente.
textos, mas seu conteúdo (o que ele significa) As matérias veiculadas durante a Rio+20,
não é construído nas matérias pelos jornalis- apesar de contribuírem para a ampliação da
divulgação da temática ambiental, não des- da vida. Acredita-se que, se alguns elementos
pertam a consciência ambiental do cidadão, do jornalismo ambiental fossem absorvidos
pois as informações são fragmentadas e não na cobertura analisada, a ideia de econo-
qualificadas. Os veículos ainda não acordaram mia verde poderia ser informada com mais
para a necessidade da inclusão da complexi- qualidade e haveria mais argumentos para
dade, nem alteraram o seu olhar fragmentado. discuti-la. A corrida contra o tempo e/ou a
Nenhum dos três portais observados demons- desinformação dos jornalistas não permitiu
trou preocupação em realizar uma cobertura o contraponto e as fontes falaram sozinhas.
Logo, os jornalistas tornaram-se porta-vozes
mais profunda ou que se diferenciasse de ou-
do discurso hegemônico que prioriza a eco-
tras não centradas na temática ambiental.
nomia calcada na mensuração dos impactos
Urge abrir espaço para um jornalismo que
negativos causados pelo sistema econômico
combine conceitos provenientes das ciências em detrimento de uma economia que pense
naturais e das sociais e ofereça um instru- nos limites físicos do planeta, prejudicando o
mental analítico mais condizente com crité- interesse público.
rios de sustentabilidade e com a preservação (artigo recebido jan.2013/ aprovado mai.2013)
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