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(APOSTILA) - Conhecimentos Pedagogicos
(APOSTILA) - Conhecimentos Pedagogicos
Conhecimentos Pedagógicos
Com a evolução do capitalismo, este conceito de Estado também Novamente, encontramo-nos às voltas com a questão público x
evolui e se aperfeiçoa. Surge o chamado “Estado democrático”, privado. Ao privatizar descontroladamente o público, o Estado Neoliberal
característica do Liberalismo Econômico, que se fortalece a partir o “New aprofunda mais ainda (e a gente que pensava que pior não podia ficar...)
Deal”, o pacto de Estado estabelecido pelos Estados Unidos após a nos países periféricos as diferenças sociais, com um agravante: de tanto
grande crise da década de 30. Este Estado Liberal vai inaugurar no se “purificar” o capitalismo vira autofágico. Por isto o Neoliberalismo tem
mundo o “Welfare State”, ou Estado do bem-estar social. Neste modelo, perna curta. Ótimo momento econômico para se começar a questioná-lo
cabe ao Estado proporcionar a todos os cidadãos condições básicas para (desemprego altíssimo, espasmos financeiros), bem como ao capitalismo
uma vida digna, como Educação, Saúde, Habitação, Saneamento, como um todo, mas péssimo momento político. Os poderosos são
Transportes, etc, tudo de boa qualidade. Os direitos básicos do cidadão espertos, e, ao verem a coisa preta tratam de limpar as mais improváveis
seriam preservados, contanto que não se questionasse a forma como a ameaças político-ideológicas que possam surgir no futuro. Não existe
classe dominante obtinha seu poder. Esta forma se manifestou logo, mais o chamado “mundo comunista”; até um pequeno e desajeitado
logo, através de mecanismos imperialistas de dominação de países, Sadam Hussein é tido pelos EUA como “ameaça à humanidade”.
tornando outros países, geralmente com mão-de-obra barata e vastos Entretanto existem focos importantes de descontentamento e o poder
recursos naturais a serem explorados, países dependentes. O Estado não é monolítico, apontando para um futuro imprevisível.
Liberal vicejou no pós-guerra em todos os países desenvolvidos. No
Que tipo de Educação viceja em um Estado Neoliberal? b) a econômica, visando a um Estado regulador, indutor,
coordenador e mobilizador dos agentes econômicos e sociais;
Para responder a esta pergunta, e’ importante retornarmos aos
princípios do Estado capitalista. Observe que a questão público x privado c) a social, com a crise do Estado de Bem-Estar Social;
está na base da questão do Estado capitalista. Não é por outro motivo d) a política, questionando-se a incapacidade de institucionalizar
que a Escola Pública vai surgir justamente com o capitalismo: uma a democracia e prover uma cidadania adequada; e
tentativa do Estado (ou da classe que controla o Estado) de estender
e) a crise do modelo burocrático de gestão pública, tendo em vista
seus domínios a todos os setores da sociedade civil. No entanto é
os elevados custos e a baixa qualidade dos serviços prestados pelo
justamente aí, na contraditória escola pública, que vão surgir os mais
Estado.
eficientes focos de resistência a esta concepção de Estado. A palavra
chave para compreendermos este caráter contraditório da escola é Cada perspectiva da crise do Estado vem impregnada de um
“Cultura”. Ou, se desejarmos ir mais fundo, “Trabalho”. Observe nossa entendimento específico sobre quais são os principais problemas e sobre
primeira aula destes resumos e veja o porquê. A Cultura, forjada no o que fazer para que ocorra uma redefinição do papel ideal do Estado,
Trabalho, é a base da educação. Sendo um processo e um produto suficiente para superar os problemas indicados. O possível consenso
social, a cultura é múltipla, dinâmica e contraditória. É impossível seria quanto ao que se deveria esperar de uma reforma estatal: que ela
controlar a cultura, embora os apocalípticos livros de “Admirável Mundo permitisse ao Estado desenvolver a capacidade administrativa, no
Novo” (Huxley) e “1984” (Orwell) tentem por vezes nos convencer do sentido de melhorar o desempenho público e a qualidade dos serviços
contrário. dirigidos às necessidades públicas.
A Educação capitalista, portanto, vai gerar um tipo de escola que Bresser Pereira (2001), analisando as concepções e perspectivas
possui características contraditórias: reproduz a ideologia dominante, teóricas da reforma do Estado, presentes na literatura, destaca a
mas também é importante foco propagador de contra-ideologia. A luta de heterogeneidade de respostas à questão de como reconstruir o Estado
classes (sem trocadilho...) se dá dentro da escola, da mesma forma que no sentido de melhor capacitá-lo a intervir e implementar as políticas
fora dela. A escola não é melhor nem pior que outras instâncias sociais, econômicas, manter a ordem pública e oferecer serviços sociais com boa
é mais uma delas. O pensamento privatista existente na escola pública qualidade, e indica quatro principais abordagens teóricas da reforma do
não a transforma em bem privado, mas acentua a dominação. Isto é ruim. Estado: a neoliberal, a sociologia institucional, a escolha racional e o
modelo principal-agente, caracterizando-as.
Com o Neoliberalismo, a escola tende a ser cada vez mais
“privatizada” em seus princípios e metas. A educação tende a direcionar- Especificamente quanto ao caso brasileiro, Barreto (1999), a partir
se para o mercado, não para a realização “do homem todo e de todos os de análise do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, indica a
homens”. Tende a estabelecer para as pessoas, desde cedo, que devem conjugação de quatro processos interdependentes, a saber: a
sufocar seus sonhos em função dos ditames do mercado. Com o redefinição das funções do Estado, a redução de seu grau de
acirramento da competição, o aumento do desemprego e a interferência, o aumento da governança e da governabilidade.
desvalorização das profissões desinteressantes ao Capital, a escola
O aparelho de Estado é entendido como compreendendo quatro
tende a fechar-se em possibilidades e regras que muitas vezes violentam
setores de atuação:
os quereres humanos.
1) o núcleo estratégico,
Tendência é direção, não é destino. A escola, portanto, não vai
morrer em seu caráter público e democrático, simplesmente porque é 2) as atividades exclusivas do Estado,
humana. E porque a Cultura é ato humano. Isto não quer dizer que o 3) os serviços não-exclusivos do Estado e
Estado Neoliberal não faça um enorme estrago na consciência das
próximas gerações. 4) a produção de bens para o mercado.
Nas últimas três décadas do século XX ocorreram profundas A atuação direta do governo fica restrita aos dois primeiros. Nos
transformações no mundo, nos planos econômico, político, cultural e dois últimos setores - entre os quais está a Educação-, o Estado tem uma
social. Uma das principais mudanças refere-se ao papel do Estado- atuação indireta na sua promoção e financiamento, parcial ou totalmente.
Nação, que, na sociedade global, não só é redefinido, mas perde Pode-se inferir, pelas características que Pereira indica e pelas
algumas de suas prerrogativas econômicas, políticas, culturais e sociais, que Barreto descreve, que o processo de reforma do Estado que vem
debilitando-se. No Brasil, em especial a partir da década de 80, ocorre sendo desenvolvido no Brasil volta-se para as características do modelo
uma situação comumente designada como “crise do Estado”. neoliberal. Devido à prioridade que este modelo imprime à questão
Esta expressão é utilizada muitas vezes sob um falso consenso, econômica, as principais críticas que lhe são feitas referem-se às suas
por reunir sob o mesmo título diversas crises simultâneas: consequências no campo social. Mais especificamente, as críticas
voltam-se aos seus efeitos negativos sobre o Estado de Bem- Estar
a) a fiscal, entendida como o excesso de gasto público social; Social.
No Brasil, aquelas áreas tradicionalmente atendidas e Por meio desta breve caracterização do período abordado, da
consideradas como parte do Estado de Bem-Estar Social, entre as quais crise do Estado e seu processo de reforma, é possível identificar algumas
a Educação, são diretamente afetadas pela crise. Segundo Azevedo de suas relações com a Educação, a partir de diretrizes estabelecidas e
(2000:17), a Educação no Brasil “se constitui como um setor que se políticas implementadas. Todo esse processo e relações são
tornou alvo das políticas públicas, em estreita articulação com as fomentadores de questionamentos diversos, por parte da comunidade
características que moldaram o seu processo de modernização e acadêmica, gerando farto material sobre o tema. Porém, conforme o
desenvolvimento”. prisma sob o qual ele estiver sendo observado, a perspectiva adotada
para analisá-lo é diferente. Abre-se aqui a possibilidade de análise sobre
Na década de 80 a ênfase passa a ser a eficiência do quais são e como se relacionam (se isso ocorre) estas perspectivas.
funcionamento das instituições escolares e a qualidade de seus
resultados. É importante ressaltar a influência de organizações
internacionais no estabelecimento destas diretrizes, estabelecidas para EDUCAÇAO/SOCIEDADE E PRATICA ESCOLAR
o aparelho de Estado como um todo, em seu processo de reforma.
A crescente preocupação com educação corporativa exige que
Esta tendência permanece na década de 90, em que “... o Estado cada vez mais os responsáveis pela concepção, desenho e
procurará imprimir maior racionalidade à gestão da educação pública, implementação das ações e dos programas educacionais aprofundem
buscando cumprir seus objetivos, equacionar seus problemas e otimizar seus conhecimentos sobre educação e pedagogia. Sempre é oportuno
seus recursos, adotando em muitos casos o planejamento por objetivos relembrar que:
e metas”.
• Educação diz respeito à influência intencional e sistemática
A Educação passa por reformas em sua estrutura e orientações, sobre o ser humano, com o propósito de formá-lo e desen-
destacando-se as seguintes: volvê-lo em uma sociedade.
• redistribuição de recursos; • Pedagogia refere-se à reflexão sistemática sobre educa-
• descentralização da execução do gasto; ção; é a reflexão sobre modelos, métodos e as técnicas de
ensino.
• reforço da progressividade e redistributividade dos recur-
sos; Pode-se dizer que educação é prática e experiência, enquanto que
pedagogia é teoria e pensamento. Ao se analisar a relação entre filosofia
• reequilíbrio regional da alocação; e educação, pode-se dizer que não há uma pedagogia que esteja isenta
• descentralização; de pressupostos filosóficos.
• desconcentração dos recursos e funções; Existem basicamente três grupos de entendimento do sentido da
educação na sociedade (Luckesi, 1994), que se revelam em três
• participações dos pais;
tendências filosófico-políticas para compreender a prática educacional.
• parcerias com a sociedade civil; Filosóficas, porque compreendem o seu sentido; e políticas, porque
constituem um direcionamento para sua ação. São elas:
• modernização dos conteúdos;
• Ser um instrumento de alinhamento entre a cultura empre- Durante o 1º ano de vida, o cérebro triplica de tamanho, com o
sarial e os colaboradores em todos os níveis, disseminan- passar do tempo aumenta o número de sinapses e o desafio dos pais é
do-a em toda a cadeia produtiva onde a empresa opera. manter essa rede de sinapses formadas. Sabemos que quando uma
habilidade não é utilizada a sinapse correspondente deixa de acontecer.
• Constituir-se em instrumento para promover e consolidar a
Estimular é apresentar à criança situações novas com os quais ela possa
integração cultural.
se relacionar ludicamente .
É fácil perceber que para cada um dos objetivos apontados acima
É possível fazer novas conexões (sinapses) para o resto de
existem estratégias educacionais mais adequadas no que se refere à
nossas vidas, só que de uma forma mais difícil do que durante os
dimensão cultural, embora não sejam necessariamente excludentes.
primeiros anos de formação.
Mas de modo geral poderíamos classificá-las da seguinte forma:
Na verdade, todas as descobertas da ciência devem ser
• Estratégia de Integração - deve ser aplicada principalmente
encaradas como instrumentos que ajudem a formar indivíduos
nas ações e programas educacionais voltados para os no-
equilibrados, com espírito crítico e aptos a lidar consigo e com o mundo
que os rodeia. Deve colaborar na construção da inteligência das A memória do indivíduo é estruturada em memória de curta
crianças. duração ou memória de trabalho e memória de longa duração.
Um ambiente rico e diverso, que estimula os cinco sentidos e o A aquisição de esquemas e a automação são os fatores principais
aspecto emocional, é fundamental na tarefa de estimulação. no desempenho de habilidades e na aprendizagem, porém o ensino
raramente é estruturado tendo isto em mente.
A teoria construtiva de Jean Piaget baseia-se na premissa de que
a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem Segundo Gardner em sua teoria de inteligências múltiplas, o cerne
com o meio. da teoria é a valorização das diferenças individuais. Gardner chama de
inteligência muitas outras competências além da lógica, matemática e a
Existem dentro de teorias de aprendizagem os aprioristas que linguística, medidas pelos testes de QI. Para ele há pelo menos mais
acreditavam que a origem do conhecimento está no próprio sujeito e os cinco: musical, espacial, corporal, sinestésica, interpessoal e
empiristas que acreditavam que as bases do conhecimento estão nos intrapessoal.
objetos.
O conhecimento é a representação mental da experiência
As teorias de Piaget fundem esses 2 paradigmas e têm 3 adquirida, normalmente registrado na memória através das impressões
conceitos fundamentais: interação/assimilação e acomodação. emitidas pelo corpo associados ao processo cognitivo ocorrido no
O construtivismo é um novo modo de ver o universo, a vida e o cérebro. São imagens mentais ligadas intrinsecamente à sensações,
mundo das relações sociais. emoções e sentimentos, que, quando revividos ativam todo complexo
relativo aquela experiência.
A busca de novos meios é parte do processo de tomada de
consciência. A Noção de “rede” gerada pelo emaranhado de neurônios é
semelhante à rede virtual da Internet.
A inteligência no seu conjunto é que estrutura as formas de
representação (Piaget). A 4ª geração da Educação está baseada no computador e
fundamentada nas teorias construtivistas da aprendizagem.
A linguagem e a função semiótica permitem a comunicação.
A combinação visual/sonora da informação estimula a
O universo da representação não é formado exclusivamente de
aprendizagem construtivista pelas alterações da dinâmica da memória.
objetos, mas também de sujeitos.
A aprendizagem cooperativa envolve problemas, para
Segundo Piaget as interações sociais se desenvolvem em torno e
desenvolver novos hábitos de cooperação e de comunicação, mudanças
partir das relações entre 3 aspectos: as normas, a estrutura de vida
culturais e novas estratégias cognitivas.
social, os valores e os sinais. As interações podem ocorrer na forma de
coação, autonomia ou anomia. A cognição é anterior ao conjunto de formas simbólicas. A
atividade cognitiva representa sons especificamente humanos de
As relações cooperativas implicam em 3 condições inerentes nos
inteligência como a inteligência pré-verbal e a interiorização da imitação
processos operatórios:
em representações.
1º) Os interlocutores estejam de posse de uma escala comum de
Com o desenvolvimento da tecnologia foram criados novos
valores.
ambientes de aprendizagem nas escolas.
2º) Igualdade geral dos valores.
É também nas escolas que as crianças aprimoram sua
3º) Possibilidade de retornar às validades reconhecidas desenvoltura, social e intelectual.
anteriormente.
Os cenários educacionais baseados em hipertecnologias
Segundo Morgan C. T. a aprendizagem apresenta 2 tipos básicos: representam experiências cooperativas.
o condicionamento clássico e o condicionamento operante.
O construtivismo foi um movimento determinante na história da
A capacidade para aprender depende do aprendiz, do método de cultura, cujo legado se faz sentir até hoje.
aprendizagem e do tipo de material utilizado para a aprendizagem.
O construtivismo refletia as alterações provocadas pela Revolução
O aprendiz depende do nível de inteligência, de idade, do estímulo Industrial na vida cotidiana e artística. Hoje sentimos e falamos em
e ansiedade e de transferência de aprendizagem anterior. construtivismo, assunto em voga na vida cultural porque assistimos a
transformação profunda da sociedade por efeito da interferência das
As estratégias de aprendizagem envolvem o dilema: prática
novas tecnologias em nosso modo de viver: a revolução eletrônica que
maciça x espaçada; feedbacks, aprendizagem de todo ou aprendizagem
se opera sobre a era industrial nessa passagem para o terceiro milênio.
de partes e os programas de aprendizagem.
Os processos de assimilação da realidade são adaptados ao
O material de aprendizagem tem que apresentar: distinção
ambiente com o qual o indivíduo interage.
perceptiva, significado associativo, semelhanças conceituais, hierarquia
conceitual, hierarquia associativa.
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A ideia de que o hipertexto se constitui em ambiente que reúne as RELAÇÃO EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
condições necessárias e suficientes à estrutura do conhecimento é A educação, para os clássicos como Durkheim, expressa uma
relativizada por vários autores. doutrina pedagógica, que se apóia na concepção do homem e
O hipertexto na opinião de alguns autores seria mais importante sociedade. O processo educacional emerge através da família, igreja,
para os que elaboram e realizam o projeto do que para os alunos. escola e comunidade.
O primeiro plano de interação pelo ambiente hipertextual é o Fundamentalmente, Durkheim parte do ponto de vista que o
relativo às relações sujeito-objeto que se expressam no uso de homem é egoísta, que necessita ser preparado para sua vida na
ferramentas individuais e cooperativas de editoração. sociedade. Este processo é mediatizado pela família e também pelas
escolas e universidades:
Os mapas conceituais são representações gráficas semelhantes
a diagramas, que indicam relações entre conceitos ligados por palavras. A ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não
Os mapas conceituais podem ser descritos sob diversas formas: estãomaduras para a vida social, tem por objetivo suscitar e desenvolver
perspectiva abstrata, perspectiva de visualização, perspectiva de na criança determinados números de estados físicos, intelectuais e
conversação. morais que dele reclamam, por um lado, a sociedade política em seu
conjunto, e por outro, o meio especifico ao qual está destinado.
Os mapas conceituais podem ser úteis para a elaboração do (DURKHEIM, 1973:44)
material didático em hipermídia. Os mapas conceituais se destinam a
hierarquização e a organização. Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social, e a educação
é considerada como o fato social, isto é, se impõe, coercitivamente, como
A educação do século XXI deverá preparar os alunos para se uma norma jurídica ou como uma lei. Desta maneira a ação educativa
integrarem em uma economia globalizada, baseada em conhecimento, permitirá uma maior integração do indivíduo e também permitirá uma
no qual o conhecimento será o recurso mais crítico para o forte identificação com o sistema social.
desenvolvimento social e econômico.
Durkheim rejeita a posição psicologista. Para ele, os conteúdos da
O aluno deverá “aprender a aprender”. educação são independentes das vontades individuais, são as normas e
Existem três elementos fundamentais para o sucesso do ensino à os valores desenvolvidos por uma sociedade o grupo social em
distância: projeto, tecnologia e suporte. determinados momentos históricos, que adquirem certa generalidade e
com isso uma natureza própria, tornando-se assim “coisas exteriores aos
A primeira forma de ensino à distância foram os cursos por
indivíduos”:
correspondência. Atualmente vídeo e tecnologias computacionais são os
meios mais empregados. A criança só pode conhecer o dever através de seus pais e
mestres. É preciso que estes sejam para ela a encarnação e a
Existe o Netmeeting que são ambientes de aprendizagem que
personificação do dever. Isto é, que a autoridade moral seja a qualidade
proporcionam encontros virtuais entre usuários o sistema.
fundamental do educador. A autoridade não é violenta, ela consiste em
Em um processo de educação construtivista a avaliação é um certa ascendência moral. Liberdade e autoridade não são termos
elemento indispensável para a reorientação dos desvios ocorridos excludentes, eles se implicam. A liberdade é filha da autoridade
durante o processo e para gerar novos desafios ao aprendiz. bem compreendida. Pois, ser livre não consiste em fazer
aquilo que se tem vontade, e sim em se ser dono de si próprio, em saber
Segundo Rodrigues avaliar é verificar como o conhecimento está
agir segundo a razão e cumprir com o dever. E justamente a autoridade
se incorporando no educando, e como modificar a sua compreensão de
de mestre deve ser empregada em dotar a criança desse domínio sobre
mundo e elevar sua capacidade de participar onde está vivendo.
si mesma (DURKHEIM, 1973:47).
Nos ambientes construtivistas destacam-se a observação, a
Talcott Parsons (1964), sociólogo americano, divulgador da obra
testagem e a auto-avaliação como as principais técnicas de avaliação.
de Durkheim, observa que a educação, entendida como socialização, é
Nos ambientes construtivistas virtuais, as técnicas de avaliação o mecanismo básico de constituição dos sistemas sociais e de
são as mesmas. manutenção e perpetuação dos mesmos, em formas de sociedades, e
Nos últimos anos houve uma mudança significativa na pirâmide destaca que sem a socialização, o sistema social é ineficaz de manter-
populacional brasileira. O Brasil deixou de ser um país apenas de jovens. se integrado, de preservar sua ordem, seu equilíbrio e conservar seus
O envelhecimento da população brasileira é um fato. limites.
Pretendo viver bastante e com qualidade; o que será que vou O equilíbrio é o fator fundamental do sistema social e para que
encontrar daqui a alguns anos? este sobreviva é necessário que os indivíduos que nele ingressam
assimilem e internalizem os valores e as normas que regem seu
A sala de aula tradicional behavionista? funcionamento.
A sala de aula construtivista.?
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Aqui encontramos uma primeira diferença com o pensamento de Segundo Dewey, educação e democracia formam parte de uma
Durkheim, que destaca sempre o aspecto coercitivo da sociedade frente totalidade, definem a democracia com palavras liberais, onde os
ao indivíduo. Parsons afirma que é necessário uma complementação do indivíduos deveriam ter chances iguais. Em outras palavras, igualdade
sistema social e do sistema de personalidade, ambos sistemas tem de oportunidades dentro dum universo social de diferenças individuais.
necessidades básicas que podem ser resolvidas de forma complementar. Para Mannheim, a educação é uma técnica social, que tem como
O sistema social para Parsons funciona harmonicamente a partir finalidade controlar a natureza e a historia do homem e a sociedade,
do equilíbrio do sistema de personalidade. A criança aceita o marco desde uma perspectiva democrática. Define a educação como:
normativo do sistema social em troca do amor e carinho maternos. O processo de socialização dos indivíduos para uma
Este processo se desenvolve através de mediações primarias: os sociedade harmoniosa, democrática porem controlada,
próprios pais através da internalização de normas, inicia o processo de planejada, mantida pelos próprios indivíduos que a compõe. A pesquisa
socialização primaria. A criança não percebe que as necessidades do é uma das técnicas sociais necessárias para que se conheçam as
sistema social estão se tornando suas próprias necessidades. Desta constelações históricas especificas. O planejamento é a intervenção
maneira, para Parsons, o indivíduo é funcional para o sistema social. racional, controlada nessas constelações para corrigir suas distorções e
Tanto para Durkheim como para Parsons, os princípios básicos que seus defeitos. O instrumento que por excelência põe em pratica os
fundamentam e regem ao sistema social são: planos desenvolvidos é a Educação. (MANNHEIM, 1971:34)
Estes princípios regem tanto no sistema social, como nos O que querem os alunos?
subsistemas. Que oportunidades se lhes apresentam na sociedade em
De acordo com Durkheim bem como Parsons, a educação não é mudança?
um elemento para a mudança social, e sim , pelo contrario, é um O que quer a sociedade?
elemento fundamental para a “conservação” e funcionamento do sistema
social. Como os jovens se comportam frente às mudanças?
Uma corrente oposta a Durkheim y Parsons estaria constituída A pesquisa “Estudos Sociodemográficos sobre a Juventude
pela obra de Dewey e Mannheim. O ponto de partida de ambos autores Paulista” , da Fundação SEADE, responde em boa parte à questão. O
é que a educação constitui um mecanismo dinamizador das sociedades que diz? Vejamos.
através de um indivíduo que promove mudanças. Os adolescentes dizem, na maioria dos casos, que desejam
O processo educacional para Dewey e Mannheim, possibilita ao trabalhar para ajudar financeiramente a família, pelo desejo de
indivíduo atuar na sociedade sem reproduzir experiências anteriores, autonomia financeira e para adquirir experiência profissional. A família
acriticamente. Pelo contrario, elas serão avaliadas criticamente , com o apóia esta decisão, porque atribui ao trabalho um valor ético e protetor.
objetivo de modificar seu comportamento e desta maneira produzir No entanto, no período compreendido entre 1986 e 1996, a taxa
mudanças sociais. de ocupação dos adolescentes diminuiu cerca de 20%. Um dos fatores
É muito conhecida e difundida no Brasil a obra de Dewey, razão que favorece a inclusão no mercado de trabalho é o nível educacional.
pela qual não a aprofundaremos em detalhes. Entretanto, é necessário Se as chances de inserção no mercado de trabalho dos jovens e
assinalar que para Dewey é impossível separar a educação do mundo adolescentes na Região Metropolitana da Grande São Paulo diminuíram,
da vida: entre 86 e 96, o atributo escolaridade tornou-se um critério para obtenção
de um emprego ou ocupação, mas não uma garantia.
A educação não é preparação nem conformidade. Educação é
vida, é viver, é desenvolver, é crescer. (DEWEY, 1971:29). Se o atributo escolaridade passa a fazer diferença, qual
escolaridade faz mais diferença, se tomarmos como parâmetro as
Para Dewey, a escola é definida como uma micro- comunidade mudanças na organização do trabalho, em função dos avanços
democrática. Seria o esboço da “socialização democrática”, ponto de tecnológicos? Como organizar a aprendizagem para que os alunos
partida para reforçar a democratização da sociedade. ganhem melhores condições de inserção na sociedade e no trabalho?
Esta é a nossa questão.
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Há um outro dado importante a considerar: o país e, em especial, POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL.
o estado de São Paulo, entram no século XXI “com a maior população FUNDAMENTOS E CONCEPÇÕES DE GESTÃO E DIFERENTES
juvenil de sua história demográfica.” Este contingente jovem é o mais FORMAS DE ESTRUTURAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA.
sensível e vulnerável às mudanças e se vê frequentemente excluído,
A educação nunca deixou de ser a via e o caminho da marcha e
inclusive na esfera educacional, tendo em vista a insuficiência e a
crescimento da espécie humana. Afinal, a evolução do homem, se em
inadequação do que lhe é oferecido face às exigências sociais.
parte foi biológica, somente se efetivou com o imenso esforço histórico-
“ A dificuldade de acesso ao trabalho dos jovens se agrava nos social que o trouxe até as alturas do presente desenvolvimento científico
grupos de menos escolaridade e agrava a exclusão , dado que sem e cultural. E todo aquele processo histórico pode, em rigor, ser
emprego não se tem rendimento próprio nem condições de vivenciar a considerado resultado do intercurso entre a condição humana e a
própria juventude, o que impede que se desenvolva a necessária educação.
motivação para elaborar projetos de futuro”. (Madeira,Felicia/20 anos no
Mas uma coisa é tal processo espontâneo e mais ou menos
ano 2000, p.9).
inconsciente do desenvolvimento do homem, e outra o projeto consciente
de conquista do saber e de sua aplicação à vista.
Os depoimentos não surpreendem; as análises sobre os Este projeto nunca foi geral nem abrangeu toda a espécie.
problemas da juventude no mundo, talvez. Subordinado à estrutura hierárquica da sociedade, foi, desde seu início
Diz Castells: “ a rebeldia dos jovens de antigamente era uma na remota. Antiguidade, projeto especial para a educação dos poucos
atitude dinâmica sem a qual não haveria mudança social possível, mas privilegiados, que realmente dominavam a espécie e detinham o poder.
o que se observa, atualmente, é uma dissonância cognitiva entre o que Daí a relação, inerente e intrínseca, entre educação e política.
os jovens sentem e os valores e as mensagens que a sociedade lhes
A criação de políticas educacionais nacionais deve ser prioridade
transmite. É importante definir o conteúdo e o sentimento dessa cultura
de qualquer governo comprometido com o desenvolvimento da
juvenil, particularmente dos jovens das camadas populares mais pobres.”
sociedade brasileira, pois, com certeza, programas e ações isoladas não
O desafio é, sem dúvida, muito grande. A definição desse poderão produzir resultados na escala demandada pelo país. Nesse
conteúdo e da cultura juvenil é mais uma questão que nos diz respeito e sentido uma política interessante seria a análise e replicação das ações
deve se fazer por meio das observações em cada unidade escolar, das que já apresentam sucesso em seus objetivos.
relações entre professores e alunos, das relações entre os alunos. Isso
A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE TODOS
significa dizer que não há uma perspectiva pronta, que deva explicar
como são os jovens que estão em cada escola e como abordá-los. Afinal, contudo, nas alturas do século XVIII, amadureceu a
possibilidade, e com ela a ideia e disposição, de oferecer a educação a
Os estudos realizados sobre a juventude permitem uma reflexão
todos. Algumas nações, então, generalizaram a escola para todos,
inicial, mas é preciso verificar de que ponto de vista estão falando, que
esforço em que agora se debatem as nações subdesenvolvidas.
recortes fazem ao abordar a questão. Muitos desses estudos
preocupam-se com a violência ou com o uso de drogas: são reveladores O problema crítico desse período de generalização da escola foi o
de uma situação cotidiana, valiosos conhecimentos, mas não dão conta da quantidade e número das escolas, sendo relativamente secundário
de todas as demais questões e nem se propuseram a tal. Precisamos o problema do processo de ensino e de sua qualidade. Atingida que foi a
de uma escola que possa responder, também, a outras perguntas.É expansão da escola para todos, a preocupação pelo processo do ensino
possível “reinventar” a escola e transformá-la em um espaço de jovens e tomou vulto e podemos considerá-lo dominante a partir da 2ª metade do
para jovens? É possível construir essa escola, garantindo uma qualidade século passado.
diferenciada de aprendizagem? Que características apresenta essa
No começo deste século, ocorreu mudança significativa: o puro e
escola?
simples processo de transmissão do conhecimento e da herança cultural
Certamente é possível, por mais que já tenhamos inventado. Que às crianças e aos jovens, com atenção apenas ao corpo de
ninguém nos negue o esforço e a vontade de mudar. Mas, como? conhecimentos, hábitos e atitudes do passado, a serem inculcados pela
endoutrinação - foi considerado insuficiente e inadequado, e o problema
A nova proposta, expressa nas Diretrizes e Parâmetros
da criança, do aluno, surgiu, vindo a se fazer central em nosso século.
Curriculares para o Ensino Médio, aponta direções. Não deve ser tomada
Já não era só a quantidade de escolas, já não era só o problema de
como uma proposta fechada, mas como uma orientação para a
organizar e melhorar o conteúdo do ensino fundado no passado; já agora,
elaboração da política de escola, consideradas a história, a experiência
o importante é o estudo da criança e de seus problemas e a descoberta
e as peculiaridades.
do melhor método de acompanhar-lhe o crescimento e a aquisição da
cultura de seu tempo e de seu presente e futuro.
POLÍTICAS EDUCACIONAIS
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A conjuntura das políticas educacionais no Brasil ainda demonstra conclusão, do ponto de vista marxista, de que a estrutura social
sua centralidade na hegemonia das ideias liberais sobre a sociedade, dominante constitui “aparelhos ideológicos” em forma de superestrutura,
como reflexo do forte avanço do capital sobre a organização dos mantendo a opressão. Segundo Louís Althusser a escola é o principal
trabalhadores na década de 90. A intervenção de mecanismos aparelho ideológico da sociedade e, em seu entendimento, como a
internacionais como o FMI e o Banco Mundial, aliada à subserviência do estrutura determina a superestrutura, não é possível qualquer mudança
governo brasileiro à economia mundial, repercute de maneira decisiva social a partir da educação. Moacir Gadotti considera a posição de
sobre a educação. Althusser bastante equivocada do ponto de vista da emancipação
humana, pois gera uma situação de passividade e impotência, o que
Em contrapartida, a crise do capitalismo em nível mundial, em revela um caráter ideológico de sua própria teoria, já que “a subserviência
especial do pensamento neoliberal, revela, cada vez mais, as da omissão interessa mais à dominação do que o combate a favor dela”.
contradições e limites da estrutura dominante. A estratégia liberal Para Gadotti, “se aceitarmos a análise de Althusser, certamente a
continua a mesma: colocar a educação como prioridade, apresentando- educação enquanto sistema ou subsistema é um aparelho ideológico em
a como alternativa de “ascensão social” e de “democratização das qualquer sistema político. Mas se aceitarmos que ela é também ato,
oportunidades”. Por outro lado, a escola continua sendo um espaço com práxis, então as coisas se complicam. Não podemos reduzir a educação,
grande potencial de reflexão crítica da realidade, com incidência sobre a a complexidade do fenômeno educativo apenas às suas ligações com o
cultura das pessoas. O ato educativo contribui na acumulação subjetiva sistema”.
de forças contrárias à dominação, apesar da exclusão social,
característica do descaso com as políticas públicas na maioria dos De certa forma, Gramsci é que dá um novo rumo ao conceito de
governos. ideologia e, com isso, fornece valiosas contribuições para a construção
da educação voltada para a transformação social. Um dos conceitos
O propósito do presente texto é apresentar, em síntese, as fundamentais adotados por Gramsci é o de hegemonia que, segundo ele,
principais características da educação no contexto neoliberal do Brasil, se dá por consenso e/ou coerção. Na sociedade dividida em classes,
numa tentativa de contribuir com o debate de conjuntura acerca das temos uma constante luta pela hegemonia política e a ideologia assume
políticas educacionais. Neste sentido, iniciamos a discussão com uma o caráter de convencimento, o primeiro recurso utilizado para a
breve reflexão sobre a ideologia na educação, para, em seguida, dominação. Do ponto de vista dos oprimidos, o embate ideológico contra
apresentar a dimensão da crise do capitalismo e do pensamento liberal, a hegemonia burguesa se dá em todos os espaços em que esta se
concluindo com as principais políticas oficiais que vêm sendo propostas reproduz, como por exemplo, a escola. Temos então, uma luta de posição
para a educação. na escola, colocando a política, luta pelo poder, como o centro da ação
1. A IDEOLOGIA E A EDUCAÇÃO pedagógica.
A relação da ideologia com a educação foi bastante polêmica ao A educação, portanto, é um espaço social de disputa da
longo da história. Embora o termo tenha sido primeiramente utilizado em hegemonia; é uma prática social construída a partir das relações sociais
1801, é com o advento do marxismo que a ideologia assume uma maior que vão sendo estabelecidas; é uma “contra-ideologia”. Nesta
importância para o pensamento humano. Conforme Marilena Chauí, o perspectiva, é importante situar a posição do educador na sociedade,
marxismo entende a ideologia como “um instrumento de dominação de contribuindo para manter a opressão ou se colocando em contraposição
classe e, como tal, sua origem é a existência da divisão da sociedade em à ela. Se o educador é um trabalhador em educação, parece coerente
classes contraditórias e em luta”. Além disso, a utilização do termo que este seja aliado das lutas dos trabalhadores enquanto classe, visto
confunde-se com o significado de crenças e ilusões que se incorporam que as suas conquistas sociais, aparentemente mais imediatas, também
no senso comum das pessoas. “A ideologia é ilusão, isto é, abstração e dependem de vitórias maiores no campo social. Nessa perspectiva, é
inversão da realidade, ela permanece sempre no plano imediato do coerente que a posição do educador seja em favor dos oprimidos, não
aparecer social. (...) A aparência social não é algo falso e errado, mas é por uma questão de caridade, mas de identidade de classe, já que a luta
o modo como o processo social aparece para a consciência direta dos maior é a mesma. Qual é a função do educador como intelectual
homens”. comprometido com a transformação social?
Diferente da maioria dos marxistas, para os quais a ideologia Gramsci afirma que o povo sente, mas nem sempre compreende
consiste na expressão de interesses de uma classe social, para Karl e sabe; o intelectual sabe, mas nem sempre compreende e muito menos
Manheim o que define a ideologia é o seu poder de persuasão, sua sente. Por isso, o trabalho intelectual é similar a um cimento, a partir do
“capacidade de controlar e dirigir o comportamento dos homens”. Nicola qual as pessoas se unem em grupos e constroem alternativas de
Abagnano, reforça a teoria de Manheim dizendo que “o que transforma mudança. Mas isso não é nada fácil: assumir a condição de intelectuais
uma crença em ideologia não é sua validade ou falta de validade, mas orgânicos dos trabalhadores significa lutar contra o contexto dominante
unicamente sua capacidade de controlar os comportamentos em que se apresenta e visualizar perspectivas de superação coletiva sem
determinada situação”. exclusão. Entender bem a realidade parece ser o primeiro
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passo no desafio da construção de uma nova pesrpectiva social. Que Há uma clara incompatibilidade entre a ordem burguesa e a
realidade é essa que se apresenta para a educação? noção de progresso civilizatório.
2. A CRISE DO CAPITALISMO E DA IDEOLOGIA LIBERAL De maneira mais conjuntural as principais características são as
seguintes:
O atual contexto traz algumas novidades e um conjunto de
elementos já presentes há muito tempo no capitalismo, ambos tentando a) crise do trabalho assalariado, com acentuada precarização
se articular coerentemente, embora as contradições estejam cada vez nas relações de trabalho;
mais explícitas. Em termos de estrutura social, vigora a manutenção da b) mito da irreversibilidade da globalização, com forte carga de
sociedade burguesa, com suas características básicas: fatalismo;
a) trabalho como mercadoria; c) mundo unitário sem identidade, trazendo à tona a fragmen-
b) propriedade privada; tação, também no que se refere ao conhecimento;
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É evidente que a preocupação do capital não é gratuita. Existe a) diminuição da arrecadação (através de isenções, incentivos,
uma coerência do discurso liberal sobre a educação no sentido de sonegação...);
entendê-la como “definidora da competitividade entre as nações” e por b) não aplicação dos recursos e descumprimento de leis;
se constituir numa condição de empregabilidade em períodos de crise
2- Prioridade no Ensino Fundamental, como responsabilidade
econômica. Como para os liberais está dado o fato de que todos não
dos Estados e Municípios (a Educação Infantil é delegada aos
conseguirão “vencer”, importa então impregnar a cultura do povo com a
municípios);
ideologia da competição e valorizar os poucos que conseguem se
adaptar à lógica excludente, o que é considerado um “incentivo à livre 3 - O rápido e barato é apresentado como critério de eficiência;
iniciativa e ao desenvolvimento da criatividade”. Mas, e o que fazer com
4 - Formação menos abrangente e mais profissionalizante;
os “perdedores”? Conforme o Prof. Roberto Lehrer (UFRJ), o próprio
Banco Mundial tem declarado explicitamente que “as pessoas pobres 5 – A maior marca da subordinação profissionalizante é a reforma
precisam ser ajudadas, senão ficarão zangadas” . Essa interpretação é do ensino médio e profissionalizante;
precisa com o que o próprio Banco têm apresentado oficialmente como 6- Privatização do ensino;
preocupação nos países pobres: “a pobreza urbana será o problema
mais importante e mais explosivo do próximo século do ponto de vista 7- Municipalização e “escolarização” do ensino, com o Estado
político”. repassando adiante sua responsabilidade (os custos são repassados às
prefeituras e às próprias escolas);
Os reflexos diretos esperados pelo grande capital a partir de sua
intervenção nas políticas educacionais dos países pobres, em linhas 8- Aceleração da aprovação para desocupar vagas, tendo o
gerais, são os seguintes: agravante da menor qualidade;
a) garantir governabilidade (condições para o desenvolvimen- 9- Aumento de matrículas, como jogo de marketing (são feitas
to dos negócios) e segurança países “perdedores”; apenas mais inscrições, pois não há estrutura efetiva para novas vagas);
b) quebrar a inércia que mantém o atraso nos países do cha- 10- A sociedade civil deve adotar os “órfãos” do Estado (por
mado “Terceiro Mundo”; exemplo, o programa “Amigos da Escola”). Se as pessoas não tiverem
acesso à escola a culpa é colocada na sociedade que “não se organizou”,
c) construir um caráter internacionalista das políticas públicas isentando, assim, o governo de sua responsabilidade com a educação;
com a ação direta e o controle dos Estados Unidos;
11- O Ensino Médio dividido entre educação regular e
d) estabelecer um corte significativo na produção do conheci- profissionalizante, com a tendência de priorizar este último: “mais ‘mão-
mento nesses países; de-obra’ e menos consciência crítica”;.
e) incentivar a exclusão de disciplinas científicas, priorizando 12- A autonomia é apenas administrativa. As avaliações, livros
o ensino elementar e profissionalizante. didáticos, currículos, programas, conteúdos, cursos de formação,
Mas, é evidente que parte do resultado esperado por parte de critérios de “controle” e fiscalização, continuam dirigidos e centralizados.
quem encaminha as políticas educacionais de forma global fica frustrada Mas, no que se refere à parte financeira (como infra- estrutura, merenda,
por que sua eficácia depende muito da aceitação ou não de lideranças transporte), passa a ser descentralizada;
políticas locais e, principalmente, dos educadores. A interferência de 13- Produtividade e eficiência empresarial (máximo resultado
oposições locais ao projeto neoliberal na educação é o que de mais com o menor custo): não interessa o conhecimento crítico;
decisivo se possui na atual conjuntura em termos de resistência e, se a
crítica for consistente, este será um passo significativo em direção à 14- Nova linguagem, com a utilização de termos neoliberais na
construção de um outro rumo, apesar do “massacre ideológico” a que os educação;
trabalhadores têm sido submetidos durante a última década. 15 - Modismo da qualidade total (no estilo das empresas privadas)
Em função dessa conjuntura política desfavorável, podemos na escola pública, a partir de 1980;
afirmar que, em termos genéricos, as maiores alterações que 16- Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) são ambíguos
ultimamente tem sido previstas estão chegando às escolas e, muitas (possuem 2 visões contraditórias), pois se, por um lado, aparece uma
vezes, tem sido aceitas sem maiores discussões a seu respeito, preocupação com as questões sociais, com a presença dos temas
impedindo uma efetiva contraposição. Por isso, vamos apresentar, em transversais como proposta pedagógica e a participação de intelectuais
grandes eixos, o que mais claramente podemos apontar como progressistas, por outro, há todo um caráter de adequação ao sistema
consequências do neoliberalismo na educação: de qualidade total e a retirada do Estado. É importante recordar que os
1- Menos recursos, por dois motivos principais: PCNs surgiram já no início do 1º. mandato de FHC, quando foi reunido
um grupo de intelectuais da Espanha, Chile, Argentina, Bolívia e outros
11
países que já tinham realizado suas reformas neoliberais, para iniciar da vida humana, debruçada sobre o futuro e embaraçada e aflita com
esse processo no Brasil. A parte considerada progressista não funciona, as perplexidades e prospectos do presente.
já que a proposta não vem acompanhada de políticas que assegurem
sua efetiva implantação, ficando na dependência das instâncias da
A SITUAÇÃO NO BRASIL
sociedade civil e dos próprios professores.
Entre nós, estamos ainda na fase inicial. O problema
17- Mudança do termo “igualdade social” para “equidade social”,
dominantemente quantitativo. Mais escolas, maior matrícula. Todavia, os
ou seja, não há mais a preocupação com a igualdade como direito de
tempos são outros, e já não podemos limitar-nos ao tranquilo esforço de
todos, mas somente a “amenização” da desigualdade;
ensinar a ler, escrever e contar, multiplicando rotineiramente as escolas.
18 - Privatização das Universidades; Temos de realizar a tarefa que as demais nações realizaram nos relativos
19 – Nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) sossegos do passado, em pleno maelstrom moderno, tudo criando de
determinando as competências da federação, transferindo novo, em condições mais difíceis que as do passado, e obrigados a
responsabilidades aos Estados e Municípios; acompanhar métodos e técnicas para que faltam as condições sociais
adequadas e o próprio conhecimento e saber necessário para aplicá-las.
20 - Parcerias com a sociedade civil (empresas privadas e
organizações sociais). O problema fez-se tão difícil e atordoante, que não são de admirar
a confusão, o desnorteamento e o extraordinário desperdício e
Diante da análise anterior, a atuação coerente e socialmente amontoado de erros com que vamos conduzindo nosso esforço
comprometida na educação parece cada vez mais difícil, tendo em vista educativo. Para nos equilibrarmos no turbilhão das forças e projetos
que a causa dos problemas está longe e, ao mesmo tempo, dispersa em desencadeados, apegamo-nos à simplificação da “educação para o
ações locais. A tarefa de educar, em nosso tempo, implica em conseguir desenvolvimento”, tentando limitar o problema ao treino generalizado
pensar e agir localmente e globalmente, o que carece da interação para a vocação e o trabalho. Mas também este não é algo simples como
coletiva dos educadores e, segundo Philippe Perrenoud, da Universidade o rotineiro trabalho antigo, mas conjunto de técnicas e habilitações
de Genebra, “o professor que não se preparar para intervir na discussão complexas, difíceis e especializadas, em permanente transformação e a
global, não é um ator coletivo”. Além disso, a produção teórica só tem exigir desenvolvimento mental muito maior do que o do velho artesanato.
sentido se for feita sobre a prática, com vistas a transformá-la. Portanto,
para que haja condições efetivas de construir uma escola
transformadora, numa sociedade transformadora, é necessária a O GOVERNO BRASILEIRO E A POLÍTICA EDUCACIONAL
predisposição dos educadores também pela transformação de sua ação
Embora não administre diretamente a educação básica, o governo
educativa e “a prática reflexiva deve deixar de ser um mero discurso ou
federal tem tido papel importante neste nível pela redistribuição de
tema de seminário, ela objetiva a tomada de consciência e organização
recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional - FNDE.
da prática”.
O FNDE foi criado como fonte adicional ao financiamento do ensino: é
uma contribuição patronal (2,5% da folha de pagamento das empresas)
A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE destinada ao financiamento do ensino de primeiro grau, suplementando
CADA UM E DA EDUCAÇÃO PARA O FUTURO os recursos públicos orçamentários regulares. Esta contribuição chama-
se de salário-educação e constitui um fundo que tem recursos
Presentemente, nos países desenvolvidos, entramos em nova consideráveis: cerca de 1,5 bilhões de dólares por ano 1/3 dos quais
fase: a ênfase está agora na educação individualizada, em educar não constitui a quota federal, (cerca de 500 milhões de dólares) e é utilizado
apenas todas as crianças, mas cada uma; e não para simples adaptação pelo Ministério da Educação, que pode repassá-lo a municípios, estados
ao passado, mas visando prepará-la para o futuro. Opera- se, por isso e até a entidades privadas, devidamente credenciadas. Nos estados
mesmo, verdadeira revolução nos métodos e técnicas do ensino mais pobres, a quota federal é muito superior à estadual, e portanto
propriamente dito, e a atenção se volta para medir-se e apurar- se o que decisiva para a manutenção e melhoria do ensino fundamental. O
realmente se está conseguindo. O aluno continua a ser o problema Ministério da Educação tem, assim, um instrumento potencialmente
central, constituindo-se a educação processo individual e único de cada poderoso para focalizar os recursos aonde eles são mais necessários.
aluno, e o seu desenvolvimento e auto-realização, a indagação maior e
absorvente. A organização da escola fez-se complexa e fluida, É com estes recursos, tanto da quota estadual quanto da Federal,
compreendendo o estudo individual da criança e de seu que se constroem e reformam escolas, se compra equipamento escolar
desenvolvimento; o estudo da cultura em que está imersa e de sua e se treinam os professores. É com os recursos do FNDE que se
transformação constante; o estudo da herança histórica para incorporá- constroem por ano cerca de 10 mil salas de aula, o que corresponde ao
la a este presente em transição; e tudo isso, com as vistas voltadas crescimento necessário para absorver o aumento
dominantemente para os prospectos do futuro.
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anual da população escolar brasileira (cerca de 2% ao ano) e corrigir as continuidade ao programa em outros termos, inclusive pela alteração de
distorções na distribuição das escolas e do número de salas de aula que sua sigla (CAICS, Centros de Atenção Integral à Criança), com gastos
decorrem da movimentação da população. O problema fundamental com previstos de 3 bilhões de dólares para o período 1993-1995.
a distribuição dos recursos do FNDE é que a demanda por recursos é Em junho de 1993 o Ministério da Educação divulgou o Plano
muito superior (cerca de 2 a 3 vezes) à sua disponibilidade. Além disto, Decenal de Educação Para Todos, elaborado em cumprimento das
a própria flexibilidade na aplicação dos recursos do Fundo, assim como resoluções da Conferência de Educação Para Todos de Jomtien,
o seu volume, tornam-no alvo de pressões clientelistas. Deputados e Tailândia, de 1990. e formalmente apresentado à V Reunião do Comitê
políticos em geral tentam direcionar a aplicação dos recursos de acordo Regional Intergovernamental do Projeto Principal de Educação na
com os seus interesses, seja obtendo do Ministro da Educação boa Região da América Latina e do Caribe da UNESCO em Santiago de Chile
acolhida para suas propostas, seja incluindo no orçamento da União no mesmo mês. A declaração foi precedida de um “compromisso
emendas para beneficiar determinados municípios. Muitas vezes os nacional de educação para todos”, assinado por representantes do
recursos são orientados para municípios e estados de aliados do Ministério, das secretarias de educação estaduais e municipais e de
Governo, que não são necessariamente os que apresentam maiores associações profissionais de vários tipos.
“déficits” de escolarização. A racionalização no uso destes recursos
O plano incorpora os objetivos gerais da Declaração de Jomtien,
buscada pela gestão Goldemberg visava, primeiro, atender aos
retomando e ampliando iniciativas anteriores. A lista das medidas
municípios mais pobres; segundo, direcionar recursos para a formação
propostas inclui: o programa nacional de atenção integral à criança e ao
de professores; terceiro, associar a liberação dos recursos do FNDE ao
adolescente, (os CAICS); o Projeto Nordeste de educação, realizado com
aumento dos salários dos professores por parte dos estados e
o apoio do Banco Mundial; a criação de um sistema nacional de avaliação
municípios.
básica; um programa de capacitação de professores, dirigentes e
Os programas de merenda escolar e do livro didático são os outros especialistas; um programa de apoio a inovações pedagógicas e
dois instrumentos importantes utilizados pelo governo federal em sua educacionais; uma estratégia de equalização no financiamento de
atuação em relação ao ensino básico. Nos dois casos, trata-se de educação; a descentralização dos programas de assistência ao
distribuir um grande volume de produtos para todo o país, a partir de estudante; um programa de assistência e agilização do sistema de
estruturas centralizadas responsáveis pela compra das mercadorias e financiamento; e participação no Pacto pela Infância, que busca
sua distribuição nacional. Estes programas têm sofrido grande desenvolver o atendimento estudantil nas áreas de educação, saúde e
instabilidade, pela precariedade de sua fonte de recursos (o FINSOCIAL combate à violência. Em seu conjunto, o plano marca a aceitação formal,
teve seus recursos diminuídos no início da década de 90 por uma série pelo governo federal brasileiro, das teses e estratégias que vêm sendo
de questionamentos jurídicos), e sempre sofreram problemas de formuladas nos foros internacionais mais significativos na área da
ineficiência administrativa e de vulnerabilidade à política de patronagem melhoria da educação básica. Ainda que sua implementação efetiva
e corrupção associados a grandes programas distributivos. A tendência dependa de recursos econômicos, institucionais, técnicos e políticos
recente, em relação à merenda escolar, tem sido a de descentralizar o ainda incertos, sua importância estratégica deve ser enfatizada.
programa, transferindo os recursos diretamente às escolas. Em relação
As reformas estaduais tiveram como principal resultado o
ao livro didático, o programa sofre de gigantismo (220 milhões de livros
crescimento extraordinário de um novo setor educacional, o da educação
foram distribuídos entre 1986 e 1991), excesso de títulos (3.500 em
pré-escolar, enquanto que a educação de primeiro e segundo graus
1992), nenhum sistema de avaliação de qualidade, e do marketing
cresceu pouco ou até mesmo regrediu, como no caso de Minas Gerais.
agressivo de algumas editoras interessadas em obter grandes contratos
Este padrão foi observado em todo o país, como mostra o quadro 2. Os
de distribuição.
dados disponíveis sugerem que a principal inovação pedagógica, que foi
O governo Collor instituiu um programa de Centros Integrados de a introdução do ciclo básico para os dois primeiros anos do primeiro grau,
Atendimento à Criança (CIACS), que era muito semelhante, em intenção, falhou em seu principal objetivo, que era o de reduzir as altas taxas de
ao do Estado do Rio de Janeiro, e estava sujeito às mesmas críticas, repetência no início da vida escolar; os alunos que eram reprovados
inclusive a do potencial de corrupção e clientelismo político implícito em antes ao final de um ano passaram a ser reprovados ao final de dois.
um projeto de construir 5 mil escolas em todo o país a um custo de dois
Do ponto de vista administrativo e institucional, a principal meta em
milhões de dólares por unidade, sem que o governo federal dispusesse
alguns dos estados foi reduzir o poder centralizador e burocrático das
de meios financeiros e humanos para operá-las. Na gestão Goldemberg
secretarias de educação, e devolvê-lo à comunidade. Este projeto
no Ministério da Educação houve um esforço no sentido de alterar o
encontrou, naturalmente, resistência por parte das administrações, que
projeto inicial, reduzindo seus custos, buscando associações com as
em muitos casos restabeleceram seu poder mais tarde. Mas elas servi-
secretarias de educação e outros setores da comunidade, e abrindo a
ram também para mostrar que este processo de descentralização pode
possibilidade de utilizar o programa como mecanismo para melhorar a
significar, simplesmente, a transferência de poderes para os municí- pios,
infraestrutura das redes educacionais dos estados. O fim do governo
de uma parte, ou para as associações e sindicatos de professo-
Collor não significou o fim do projeto dos CIACS. Para não perder os
investimentos já realizados, da ordem de um bilhão de dólares, o
Ministro Maurílio Hingel decidiu dar
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res, por outra, e que de nenhum dos dois é possível esperar, necessa- entanto, que as mesmas características podem ser igualmente
riamente, um envolvimento com reformas que signifiquem uma trans- atribuídas a tais políticas.
formação mais profunda das práticas educacionais. Prefeituras podem Contudo, a prescrição, a homogeneização e a centralização não
ser tão ou mais clientelísticas e burocráticas, quanto os governos esta- têm sido um problema restrito ‘as fronteiras nacionais. Em consonância
duais; e professores, frequentemente frustrados por baixos salários e com as políticas hegemônicas da década de 90, existe aí uma forte
pouco reconhecimento, tendem a resistir à implantação de sistemas de relação com as políticas globais.
avaliação, assim como a projetos experimentais e inovadores que
Antonio F. B. Moreira e Elizabeth Macedo (2000:108), em estudo
introduzam diferenciações nos sistemas educacionais. A existência
revisionista sobre transferência educacional, somam seus esforços ao
destes problemas nas tentativas de descentralização não significa, no
estudo de Barreto pois, além de relacionarem a insatisfação no que tange
entanto, que a educação possa ser conduzida de forma centralizada ou
aos resultados da escolarização com o distanciamento entre teoria e
burocrática, ou a partir de grandes projetos de impacto político e alta
prática no campo do currículo, destacam com propriedade a relação
visibilidade, em busca de dividendos eleitorais de curto prazo.
existente entre políticas educacionais nacionais e globais.
Em relação ao governo federal, a experiência confirma que a Reconhecem que “(...) ainda que tenhamos avançado na produção de
legislação foi sábia ao restringir o papel do Ministério da Educação nas conhecimento teórico, a prática pedagógica, na maioria das nossas
questões da educação básica. Todas as ações centralizadas do governo escolas, ainda não sofreu modificações mais substantivas.” E,
federal padecem dos mesmos problemas de gigantismo, patronagem oportunamente, situam essa problemática no contexto de globalização
política, ineficiência no uso de recursos, e possibilidades de corrupção. das políticas educacionais, evidenciando a complexidade da questão e
Parece claro que o governo federal deveria concentrar seus suas estreitas relações com o campo do currículo, o que pode ser
esforços no desenvolvimento de sistemas adequados de avaliação e ilustrado com a seguinte afirmação: “(...) se no plano teórico talvez
acompanhamento do ensino básico no país, na redistribuição de estejamos menos susceptíveis às importações instrumentais, no âmbito
recursos por critérios estritamente técnicos, baseados em diferenciais de das políticas educacionais sentimos com clareza a força do modelo
renda e projetos pedagógicos de qualidade, e no apoio direto a regiões neoliberal internacional, definindo os rumos do currículo e do processo
de carência extrema, que não tenham condições de gerar e administrar de escolarização no Brasil.” (Ib:106).
minimamente seus próprios recursos. Força que, segundo os mesmos, pode ser visualizada pela
presença do Banco Mundial na definição de políticas educativas, fazendo
prevalecer a lógica financeira sobre a social, subordinando assim a
POLÍTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS E educação `a racionalidade econômica, bem como por medidas que
SUAS IMPLICAÇÕES CURRICULARES implantam os princípios neoliberais na educação, tornando-a mais
Na última década do século XX, alguns (as) educadores (as) competitiva.
brasileiros (as) demonstraram suas preocupações com os resultados da Anteriormente, Moreira (1998:30), já havia sugerido uma forte
escolarização da maioria da população brasileira e desenvolveram relação entre desafios educacionais, teoria curricular e política curricular.
estudos que vem nos mostrar os vínculos entre esses resultados Ao fazer um balanço da crise da teoria crítica de currículo, colocando
insatisfatórios e as políticas educacionais implementadas no país. como sintoma dessa crise o distanciamento entre avanços teóricos e
Elba Siqueira de Sá Barreto (2000:15) faz uma análise de avanços práticos, ele recomenda que “(...) os curriculistas atuem nas
propostas curriculares implementadas por práticas políticas de governos diferentes instâncias da prática curricular, participando da elaboração de
nas duas últimas décadas do século XX no Brasil. Em seu estudo, ela políticas públicas de currículo, acompanhando a implementação das
admite que mesmo as propostas tendo assumido um discurso propostas e realizando estudos nas escolas que avaliem essa
democrático implementação.” Dessa forma, esse autor coloca em pauta a
necessidade não só dos pesquisadores (as) em currículo atuarem em
”(...) as características de insucesso escolar da maioria da
políticas públicas como, fundamentalmente, de direcionarem seus
população pouco se alteraram, visto que as mudanças preconizadas e
esforços de pesquisa para as políticas curriculares.
implementadas no período não afetaram profundamente as questões
estruturais dos sistemas públicos de ensino, responsáveis, em proporção Na mesma perspectiva desses autores, Corinta M. G. Geraldi
significativa, pelos seus altos índices de fracasso.” (2000) traz contribuições significativas para avançarmos em relação à
questão em pauta. Essa pesquisadora reforça a compreensão dos
A pesquisadora associa estes resultados às políticas educacionais
vínculos entre política curricular e globalização, a necessidade de
públicas por serem prescritivas, homogeneizantes e centralizadas no
articulação teoria/prática no campo do currículo e de se realizar
Estado, bem como por seus mecanismos de divulgação (livros didáticos),
pesquisas em políticas curriculares, acrescentando porém que essas
implementação (capacitação de docentes à distância) e controle
pesquisas deem ênfase às resistências que ocorrem ao processo de
(avaliação externa). Apesar da autora não fazer uso da denominação
globalização.
políticas curriculares públicas, entendemos, no
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No estudo ora focalizado, a pesquisadora parte da problemática global é fruto de uma geografia imaginativa. Cada vez que se pronuncia
de que nas três últimas décadas do século XX, as escolas, “mesmo que que o local é instituído pelo global, aumenta-se a fenda que separa os
de forma incompleta, não mecânica nem linear”, têm desencadeado uma dois e restringe o espaço do local definindo sua anatomia.
educação para a alienação ao trabalho. Ela defende a tese de que são Levando-se em conta essas pertinentes contribuições,
os grandes grupos internacionais que estão planejando a educação entendemos que avançar na compreensão e na implementação de
através da criação de uma rede de controle da educação; rede que para políticas curriculares com a perspectiva de enfrentamento dos resultados
realizar-se precisa da avaliação, e esta, por sua vez, necessita de “uma insatisfatórios da escolarização, significa desenvolvermos estudos que
referencia básica... [que] ... possa ser efetivada em nível nacional” invertam a abordagem hegemônica até hoje presente nesses estudos,
(Ib,200), daí a existência dos Parâmetros Curriculares Nacionais. É com o intuito de se retirar o foco do controle vertical e do sentido
nesse contexto, portanto, que situa os Parâmetros Curriculares para o global/local para visualizarmos o movimento de hegemonia e contra-
Ensino Fundamental, considerando-os um exemplo de gestão de hegemonia nas relações de poder estruturadoras dessas políticas
políticas curriculares oficiais globais. curriculares.
Geraldi, destaca, no entanto, a existência de contradições. No que Entendemos, no entanto, que a inversão deva ocorrer somente no
diz respeito às políticas curriculares, salienta a existência de alternativas sentido da perspectiva, do ponto de partida, para não cairmos em
às propostas hegemônicas oficiais, entendendo que estas se encontram semelhante equívoco, perdendo com isso os condicionantes globais.
presentes nas escolas, no “currículo em ação”. Afinal “(...) as revoluções da cultura em nível global causam impacto
Estes estudos indicam, portanto, uma clara insatisfação para com sobre os modos de viver, sobre os sentidos que as pessoas dão `a vida,
os resultados da escolarização no ensino fundamental no Brasil, sendo sobre suas aspirações para o futuro - sobre a cultura num sentido mais
que estes resultados insatisfatórios estão relacionados com a política local.” (Hall, 1997: 18). Isto não significa, no entanto, que esses
curricular e esta, por sua vez, com as implicações da globalização na condicionantes sejam inexoráveis, mas que as implicações entre
política educacional. Essas contribuições significativas, no entanto, não global/local e vice-versa, constituem diferentes processos culturais, não
respondem mais às exigências do atual contexto social e aos avanços possuindo mais uma identidade nem com o global, nem com o local,
no campo do currículo. As abordagens de pesquisa destes estudos, resultando assim em culturas híbridas e, possivelmente, em diferentes
mesmo a de Geraldi que destacam as alternativas produzidas relações de poder. Significa também que, a partir dessas implicações,
localmente, são desenvolvidas no sentido global/local, mostrando, não haverá mais um global ou um local legítimo, uma vez que os novos
fundamentalmente, o poder das relações hegemônicas. Alertamos assim processos culturais e as consequentes relações de poder nelas
para a carência de centralidade dos processos de contra-hegemonia em produzidas passam a interferir em ambas (Hall, 1997; Santos,2003).
estudos de política curricular, sem, no entanto, deixar de reconhecer as Construir essa inteligibilidade local/global e hegemonia/contra-
relações hegemônicas. hegemonia requer, necessariamente, uma compreensão do que seja
Necessitamos de uma abordagem que dê visibilidade aos política curricular e de uma metodologia analítica para pesquisa em
processos contra-hegemônicos e, são as considerações de Santos política curricular. Afinal, o que é política curricular? Como ela ocorre?
(2002), que veem nos auxiliar. O referido autor entende a globalização Qual seu processo de construção? Quem são seus agentes? Como
como algo plural, contraditório, complexo, cheio de paradoxos, não investigá-la? É a partir dessas indagações que desenvolveremos o
monolítico e envolvendo conflitos. Destaca o movimento das relações de próximo item.
poder de hegemonia e contra-hegemonia concluindo que “o global
acontece localmente... [e coloca como pauta de luta que] ... é preciso
POLÍTICA CURRICULAR COMO POLÍTICA CULTURAL
fazer com que o local contra-hegemônico também aconteça
globalmente.” (Ib:74). Essa compreensão não dicotomiza, não polariza e O tema das políticas curriculares tem ficado subsumido ao das
nem cria uma hierarquia nas relações global/local.. Em função disso, políticas educacionais. No Brasil, somente a partir da década de 90,
Santos considera interessante que, para fins analíticos, a definição de através dos estudos expostos anteriormente, é que esse assunto foi
tópicos de investigação ocorra em termos locais e não globais. ganhando visibilidade na literatura acadêmica. Em consequência, é fora
do país que encontramos pesquisadores que tem discutido com mais
Essas relações entre local/global ficam ainda mais evidentes
especificidade e profundidade essa temática. Dispomos assim dos
quando encontramos em Santos (Op cit) e dentro dos chamados estudos
estudos de Suárez (1995), Gimeno Sacristán (1998), Bowe & Ball (1992)
pós-colonialistas, mais especificamente o estudo de Said (1978), o
e Ball (1997, 1998), para obtermos elementos com o propósito de
entendimento de que as pesquisas que destacam o poder local, o fazem
definição e construção metodológica de pesquisa em política curricular
a partir da identificação de forças culturais em configurações históricas
com uma abordagem que favoreça as necessidades anteriormente
particulares. Esse estudo de Said, ao tratar da relação entre ocidente e
enunciadas.
oriente, nos leva ao entendimento de que não podemos fazer uma
oposição binária da relação entre local e global porque as fronteiras Suárez (1995:110), ao tratar das relações entre políticas públicas
geográficas são um tipo de conhecimento imaginativo; a definição e reforma educacional na Argentina, afirma que: “(...) a formulação e
dessas fronteiras e oposições entre local e implementação de políticas curriculares não são neutras, nem muito
15
menos são um asséptico processo de elaboração e instrumentação níveis ou fases - currículo prescrito, currículo apresentado aos
técnicas. No fundamental, são o resultado sintético de um (muitas vezes professores, currículo moldado pelos professores, currículo em ação e
silenciado e oculto) processo de debate ou de luta entre currículo avaliado -, fragilizando ao nosso ver, o caráter processual e de
posicionamentos, interesses e projetos sociais, políticos, culturais e totalidade da política curricular. Além disso, ressalta o currículo prescrito
pedagógicos opostos e, sobretudo, antagônicos. O processo de como um instrumento da política curricular, perdendo novamente o
determinação dessas políticas não é, de forma alguma, unívoco, nem caráter processual desta, passando a compreendê-la como algo externo
tampouco está isento de contradições e de tensões.” ao que denomina de currículo prescrito e, do mesmo modo, como algo
externo às escolas.
A contribuição central desse autor consiste na caracterização da
política curricular enquanto síntese de um processo de luta entre projetos Apesar destes autores fornecerem subsídios teóricos em relação
sociais com interesses antagônicos implicando em contradições. à política curricular, entendemos que suas definições e direcionamentos
não atendem as exigências presentes na realidade educacional
Do mesmo modo, Gimeno Sacristán (1998:109), ao discutir a contemporânea, a qual se encontra situada em um contexto onde a
reforma curricular ocorrida na Espanha, parte do pressuposto de que as centralidade da cultura, tanto em termos substantivos, quanto
teorias curriculares são elaborações parciais, insuficientes para epistemológicos, se caracteriza por complexas imbricações entre
compreender a complexidade das práticas escolares. Em função dessa global/local e entre fatores econômico, político e cultural (Santos, 2003).
análise, propõe uma concepção processual de currículo e procura situar
a política curricular como elo entre interesses políticos, teorias Essas complexas imbricações são visualizadas a partir da
curriculares e práticas escolares. Define política curricular como “(...) um ampliação do campo político, desencadeada por Williams (Apud Santos
aspecto específico da política educativa, que estabelece a forma de 2002:53). Este entende que a política envolve “(...) uma disputa sobre um
selecionar, ordenar e mudar o currículo dentro do sistema educativo, conjunto de significações culturais.” Através dessa ampliação, temos o
tornando claro o poder e a autonomia que diferentes agentes têm sobre destaque da relevância da cultura para compreensão das relações de
ele (...)” poder; relevância que, em tempos de globalizações, “(...) reside no fato
de ela ser (...) ‘o campo em que as contradições políticas e econômicas
Essa compreensão é importante no momento em que salienta, são articuladas’ (Lowe e Lloyd, 1997a: 32, nota 37).” (Santos, 2003: 34).
diferentemente de Suárez, a existência de instâncias distintas que
intervém no processo de construção das políticas curriculares. Isso Nessa perspectiva, tanto a política como a cultura perdem suas
ocorre na medida em que reconhece as relações entre Estado, política fronteiras na medida em que são desterritorializadas, configurando-se,
educativa, sistema educacional e práticas pedagógicas. Não obstante, é assim, uma relação dialética entre ambas, o que pode ser ilustrado com
a transposição das características do que Sacristán (1998:101) define a seguinte citação de Santos (Op cit: 34-35):
como processo curricular para política curricular que ajuda no “(...) ‘a ‘cultura’ obtém uma força ‘política’ quando uma formação
entendimento desta última. Assim como no sistema curricular, na política cultural entra em contradição com lógicas políticas ou econômicas que
curricular tentam refuncionalizá-la para exploração ou dominação’ (Lowe e Lloyd,
(...) as decisões não se produzem linearmente concatenadas, 1997a). A cultura será, assim, encarada não como ‘uma esfera num
obedecendo a uma suposta diretriz, nem são frutos de uma coerência ou conjunto de esferas e práticas diferenciadas’, mas como ‘um terreno em
expressão de uma mesma racionalidade. Não são estratos de decisões que a política, a cultura e o econômico formam uma dinâmica
dependentes umas de outras, em estrita relação hierárquica ou de inseparável’ (Lowe e Lloyd, 1997a).”
determinação mecânica e com lúcida coerência para com determinados Essa ampliação do campo político alavancou avanços teóricos no
fins ... São instâncias que atuam convergentemente na definição da que tange ao campo do currículo. Costa (1999: 37-38) sintetiza com
prática pedagógica (...)” propriedade parte desses avanços definindo currículo “como um campo
Dessa elucidação sobre política curricular podemos destacar as em que estão em jogo múltiplos elementos, implicados em relação de
possibilidades de ruptura nela existente, uma vez que o autor evidencia poder, ...[a escola e o currículo] ...como territórios de produção,
o caráter conflitivo e contraditório da mesma, destacando a existência de circulação e consolidação de significados (...)”
decisões independentes e insubordinação, bem como de práticas Assim como essa autora, não pretendemos estabelecer aqui uma
convergentes. relação entre currículo e cultura na perspectiva de que a escola trabalha
Apesar das contribuições fornecidas por Suarez e Gimeno com o conhecimento, este é cultura e, portanto, a escola trabalha com
Sacristán, o primeiro não discute a política curricular em termos analíticos cultura; mas, sim, quebrar as fronteiras estabelecidas entre ambos,
e o segundo, apesar de avançar ampliando a caracterização, defende entendendo o currículo como um terreno privilegiado da política cultural
uma compreensão de política curricular que ainda possui limites, e a cultura como o conjunto de “(...) sistemas de significado que os seres
especialmente no que diz respeito à definição de uma metodologia de humanos utilizam para definir o que significam as coisas e para codificar,
pesquisa em política curricular. Isto ocorre porque, ao explorar o organizar e regular sua conduta uns em
processo curricular, Gimeno Sacristán o divide em diferentes
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relação aos outros ... [que]... dão sentido `as nossas ações.” (Hall, contextualizados e recontextualizados de modo subversivo no momento
1997: 16). da implementação. Em consequência, entendem também que as
políticas definidas em nível nacional são também significativamente
Entendemos que a cultura tornou-se, em seus aspectos modificadas em nível local.
substantivos e epistemológicos, um elemento central na mudança
histórica deste milênio. Tanto o é que as relações de poder, cada vez Como implicação de seus estudos, definem o processo político
mais, são simbólica e discursivamente travadas. Em função disso, como aquele que emerge de uma contínua interação entre contextos
reconhecemos que existe uma conexão entre cultura e política, onde a inter-relacionados e entre textos e contextos. Dessa definição, propõem
própria política passa a ser vista como política cultural. (Hall, 1997) um modelo analítico para pesquisa em política curricular que seja
representativo do ciclo político, que dê uma representação holística ao
Torna-se oportuno, nesse momento, conceituar política curricular processo político e que seja concebido como um processo dialético,
a partir da definição de política cultural baseada no entendimento de conflituoso, ambíguo, plural, contraditório e histórico.
Álvarez et. al. (Apud Santos 2003: 39) sobre cultural politics: “(...) ‘o
processo acionado quando o conjunto de atores sociais formados por, e Para Bowe & Ball (1992), as análises em política curricular,
incorporando, diferentes significados e práticas culturais entram em para terem validade política e teórica, devem considerar os três contextos
conflito entre si’.” primários da política curricular: o contexto de influência, o contexto de
produção do texto político e o contexto da prática, todos vistos como
São, portanto, as concepções de política e de método de pesquisa inter-relacionados. O primeiro consiste no espaço-tempo onde os
em política curricular trabalhadas por Bowe & Ball (1992) e Ball conceitos chaves são estabelecidos para gerar o discurso político inicial;
(1997,1998) que entram em consonância com as questões anteriormente o segundo tomam a forma de textos legais, oficiais, documentos e textos
estabelecidas uma vez que defendem os processos de construção das interpretativos que podem ser contraditórios tanto internamente, quanto
políticas curriculares como processos cíclicos. na intertextualidade, onde diferentes grupos competem para controlar a
Esses autores, em estudo revisionista do campo da política representação e o propósito da política e, o terceiro, consiste nas
curricular, denunciam as pesquisas desse campo por fragmentarem o possibilidades e limites materiais e simbólicos, bem como na leitura
processo político ao focalizarem ora a produção, ora a implementação daqueles que implementam a política; esse contexto é entendido como
das políticas. Para eles, as pesquisas que focalizam a produção da espaço de origem e de endereçamento da política curricular.
política ficam restritas a dimensão macro da realidade social, silenciando Temos, pois, a partir desses autores, um avanço significativo
as vozes daqueles envolvidos na prática pedagógica, deixando-os à na compreensão do que seja política curricular porque, primeiro, não só
margem da política curricular. Já as pesquisas que focalizam a definem a política curricular como explicitam seu processo de construção
implementação, apesar de sua importância por dar evidência às vozes e, o que é mais importante, sem dicotomizá-lo. Segundo, porque dão voz
silenciadas e por colocar seu caráter subversivo, não trabalham os a todos os agentes políticos sem criar hierarquias entre eles. Terceiro, e
condicionantes históricos dessas vozes. As consequências negativas é em consequência dos anteriores, reconhecem no processo político, uma
que ambas separam produção e implementação, teoria e prática e, relação dialética entre global/local, destacando não só o movimento do
consequentemente, constroem uma visão linear do processo político: ora global para o local, mas o inverso também. Quarto, e o que é de
de cima para baixo, ora de baixo para cima. fundamental importância para os objetivos propostos em nosso estudo,
Estes autores também fazem críticas à teoria de controle estatal ao destacar os conflitos políticos existentes nos diferentes contextos de
na política curricular, ou seja, a teoria de que o Estado define linearmente produção da política curricular, liberam não só a visualização de conflitos
essas políticas. Na crítica, desconstroem a visão de que a produção culturais no processo de construção da política curricular como também
política seja separada e distante da implementação; de que a política se de movimentos hegemônicos e contra-hegemônicos no processo político.
realiza através de uma cadeia de implementadores legalmente definidos;
de que ela seja imposta; e de que os definidores da política educacional
estão distantes da realidade educacional e por isso não conseguem A FORMAÇÃO DOS
controlá-lo. Enfim, rejeitam a concepção linear e fragmentada do PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO E AS POLÍTICAS NACIONAIS
processo político. Após cerca de 15 anos de silêncio na política educacional
Em contraposição, desenvolvem estudos sobre política curricular brasileira para a formação docente, volta-se a viver um intenso debate
e a partir de então mostram que a forma como o processo político ocorre, sobre a legislação que regulamentará a formação dos profissionais da
resulta da combinação entre métodos administrativos, condicionantes educação no país. Apesar da carência de novas leis para a preparação
históricos e manobras políticas implicando o Estado, a burocracia estatal dos educadores nesse período, a formação de professores tornou-se
e os conflitos políticos contínuos ao acesso desse processo político. tema recorrente nas discussões acadêmicas dos últimos 30 anos. Com
a criação das faculdades ou centros de educação nas universidades
Desses estudos concluem, ainda, que a política curricular não é brasileiras, em 1968, a formação docente constitui-se em objeto
imposta, uma vez que seus textos são constantemente
Além disso, o contato com a realidade escolar continua Como consequência, diminui significativamente a carga horária
acontecendo, com mais frequência, apenas nos momentos finais dos dos cursos de formação inicial de professores, o que, obviamente, não é
cursos e de maneira pouco integrada com a formação teórica prévia desejável e representa um imenso retrocesso em termos da preparação
(Pereira 1998). desses profissionais.
Nas demais instituições de Ensino Superior, em especial nas Do mesmo modo, o descuido com o embasamento teórico na
particulares e nas faculdades isoladas, é a racionalidade técnica que, formação de professores, indispensável no preparo desses profissionais,
igualmente, predomina nos programas de preparação de professores, é extremamente prejudicial aos cursos de licenciatura. O rompimento
apesar de essas instituições oferecerem, na maioria das vezes, apenas com o modelo que prioriza a teoria em detrimento da prática não pode
a licenciatura e, consequentemente, de a formação docente ser realizada significar a adoção de esquemas que supervalorizem a prática e
desde o primeiro ano. Trata-se de uma licenciatura inspirada em um minimizem o papel da formação teórica. Assim como não basta o domínio
curso de bacharelado, em que o ensino do conteúdo específico prevalece de conteúdos específicos ou pedagógicos para alguém se tornar um bom
sobre o pedagógico e a formação prática assume, por sua vez, um papel professor, também não é suficiente estar em contato apenas com a
secundário. prática para se garantir uma formação docente de qualidade. Sabe-se
que a prática pedagógica não é isenta de conhecimentos teóricos e que
Um modelo alternativo de formação de professores que vem estes, por sua vez, ganham novos significados quando diante da
conquistando um espaço cada vez maior na literatura especializada é o realidade escolar.
chamado modelo da racionalidade prática. Nesse modelo, o professor é
considerado um profissional autônomo, que reflete, toma decisões e cria Além disso, ainda de acordo com a lógica da improvisação,
durante sua ação pedagógica, a qual é entendida como um fenômeno profissionais de diferentes áreas são transformados em professores
complexo, singular, instável e carregado de incertezas e conflitos de mediante uma complementação pedagógica de, no mínimo, 540 horas
valores. (LDB, art. 63, inciso I; Parecer CNE no 04/97). Desse total, 300 horas
devem ser de prática de ensino (LDB, art. 65) e podem ser contabilizadas
De acordo com essa concepção, a prática não é apenas locus da mediante capacitação em serviço (LDB, art. 61, inciso I). Ou seja, a
aplicação de um conhecimento científico e pedagógico, mas espaço de legislação atual permite que profissionais egressos de outras áreas, em
criação e reflexão, em que novos conhecimentos são, constantemente, exercício no magistério, tornem-se professores valendo-se de um curso
gerados e modificados. de formação docente de 240 horas! O que parece inconcebível em outros
Com base na crítica ao modelo da racionalidade técnica e campos profissionais – como, por exemplo, direito, medicina e
orientadas pelo modelo da racionalidade prática, definem-se outras engenharia – é possível para o magistério, contrariando a própria
maneiras de representar a formação docente. As atuais políticas para denominação do Título VI da LDB, “Dos profissionais da educação”.
preparo dos profissionais da educação, no país, parecem consoantes Diante dessa situação preocupante, perguntar-se-ia: A mesma urgência
com esse outro modo de conceber tal formação. As propostas que justificou, na década de 1970, no Brasil, a criação dos cursos de
curriculares elaboradas desde então rompem com o modelo anterior, licenciatura de curta duração está presente nas atuais proposições sobre
revelando um esquema em que a prática é entendida como eixo dessa formação docente? São os programas de formação pedagógica para
preparação. portadores de diplomas de educação superior uma reedição atualizada
dos desastrosos cursos de licenciatura curta?
Por essa via, o contato com a prática docente deve aparecer
desde os primeiros momentos do curso de formação. Desse Esse esquema é uma infeliz legitimação do “bico” na profissão
envolvimento com a realidade prática originam-se problemas e questões docente, uma vez que profissionais egressos de outras áreas, que não
que devem ser levados para discussão nas disciplinas optaram, de início, pela carreira de magistério, provavelmente, só estão
AS MUDANÇAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA E Além disso, as professoras das primeiras séries têm habilidades
A FORMAÇÃO DOCENTE que os professores de disciplinas não possuem, e vice-versa, o que cria
descontinuidades não só no desenvolvimento das aprendizagens de
De acordo com a LDB, a educação básica – agora compreendida conceitos essenciais, mas também no trato de processos mais globais.
como Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio (art. 21,
inciso I) – deve perder seu caráter primordialmente propedêutico e refletir Nesse sentido, para uma coerência com as mudanças pretendidas
uma visão mais rica de aprendizagem e desenvolvimento dos na educação brasileira e com as incumbências que são atribuídas aos
educandos, segundo a qual cada idade tem importância em si, como docentes pela LDB (art. 13), torna-se necessário pensar a formação de
fases de constituição de sujeitos, de vivências e socialização, de um profissional que compreenda os processos humanos mais globais,
processos de construção de valores e identidades. seja ele um professor da educação infantil, dos primeiros ou dos últimos
anos da escola básica. Um profissional capaz de refletir sobre as
Essa visão está alicerçada na concepção de desenvolvimento e seguintes indagações:
aprendizagem como processos, na ideia de que não se constróem
conhecimentos significativos de forma cumulativa e no pressuposto de • Como um indivíduo se desenvolve e aprende na infância, na
que os conhecimentos se produzem nas interações e vivências, em adolescência e na fase adulta?
empreendimentos, na busca de respostas às perguntas que os • Como a biologia, a sociologia, a psicologia, a antropologia,
educandos se fazem. enfim, as diversas áreas do conhecimento vêm abordando
À medida que a reforma na educação básica se consolida, essas fases de formação próprias da vida humana?
percebe-se que a tarefa de coordenar processos de desenvolvimento e • Que interferência exercem as dimensões cognitivas, corpo-
aprendizagem é extremamente complexa e exige, já a partir da própria rais, sociais, culturais e emocionais, bem como as múltiplas
educação infantil, profissionais com formação superior. Esse, aliás, dimensões existenciais, na construção dos conhecimentos
parece ter sido o entendimento dos legisladores quando escreveram o dos educandos?
art. 62 da LDB, apesar de este continuar admitindo a formação em nível
É preciso, então, imaginar a formação de um profissional que
médio, na modalidade Normal, como a exigência mínima para exercício
tenha vivências na escola básica, desde a infância, com a adolescência
do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do
e jovens/adultos, e conheça seu cotidiano, suas construções, sua
Ensino Fundamental.
realidade.
Se, por um lado, é possível admitir-se que a concepção de
É interessante conceber um profissional que, ao assumir seu
educação básica se tornou mais avançada na legislação atual, por outro,
trabalho com alunos adolescentes, por exemplo, possa compreender
quanto à obrigatoriedade desse nível da educação escolar, os
questões da infância e da fase adulta, pois, apesar de agir em um
progressos ainda são pequenos, pois o Ensino Fundamental é o único
momento específico da escolarização, essa etapa faz parte de um
assegurado pelo Estado (LDB, art. 32). A Educação Infantil e o Ensino
conjunto maior: a educação básica.
Médio, ainda que desejáveis para o conjunto da população, continuam
sendo facultativos para uma grande maioria. É importante, ainda, pensar a formação de um professor que
compreenda os fundamentos das ciências e revele uma visão ampla dos
Segundo o art. 32 da LDB, a educação fundamental passa a ter
saberes.
duração mínima de oito anos e está voltada para a formação básica do
cidadão. Segundo um grupo de professores da Universidade de Brasília –
UnB, em um documento sobre formação docente, as “licenciaturas estão
Esse nível de ensino escolar pode organizar-se de diferentes
condenadas à interdisciplinaridade”. Para tanto, ao contrário do que se
modos e, com isso, superar a clássica separação entre as quatro
pensa, o profissional deve realizar estudos aprofundados em uma área
primeiras séries do Ensino Fundamental e seus quatro anos
específica do conhecimento e, paralelamente, contemplar as
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reflexões sobre o ensino-aprendizagem dos conceitos mais atividades, ou seja, é necessário haver uma articulação – entendida,
fundamentais dessa área. Em termos da atuação profissional, significa aqui, como junção, fusão, união – da formação docente com a pesquisa
projetar alguém que trabalhe preferencialmente em uma determinada – compreendida como processo de produção do conhecimento.
área do conhecimento escolar, a que se dedique mais, mas que, Concretamente, isso significa que as universidades devem
necessariamente, esteja em contato permanente com outros campos do assumir a formação do “professor investigador”, um profissional dotado
saber. de uma postura interrogativa e que se revele um pesquisador de sua
Além disso, é fundamental investir na formação de um professor própria ação docente.
que tenha vivenciado uma experiência de trabalho coletivo e não A formação do “professor investigador”, para Magda Becker
individual, que se tenha formado na perspectiva de ser reflexivo em sua Soares, deve resultar da vivência do licenciando, durante sua trajetória
prática, e que, finalmente, se oriente pelas demandas de sua escola e de na universidade, da pesquisa como processo, o que faz com que o futuro
seus alunos, e não pelas demandas de programas predeterminados e professor não só aprenda mas também apreenda o processo de
desconectados da realidade escolar. É fundamental criar, nos cursos de investigação e, o mais importante, incorpore a postura de investigador
licenciatura, uma cultura de responsabilidade colaborativa quanto à em seu trabalho cotidiano na escola e na sala de aula.
qualidade da formação docente.
Para que tal formação aconteça efetivamente, a mesma
Para isso, a familiaridade com os processos e os produtos da professora ressalta a importância de os professores-pesquisadores das
pesquisa científica torna-se imprescindível na formação docente. A universidades, formadores de educadores, assumirem, também, uma
imersão dos futuros educadores em ambientes de produção científica do postura investigativa no que diz respeito à sua própria ação docente.
conhecimento possibilita-lhes o exame crítico de suas atividades
Por desempenharem, nessas instituições, o papel de produtores
docentes, contribuindo para aumentar sua capacidade de inovação e
do conhecimento, eles têm condições de ultrapassar a função de simples
para fundamentar suas ações. É o mergulho em tal atividade que permite
mediadores entre a ciência, o conhecimento, os produtos da pesquisa e
a mudança de olhar do futuro docente em relação aos processos
o licenciando.
pedagógicos em que se envolve na escola, à maneira de perceber os
educandos e suas aprendizagens, ao modo de conceber e desenvolver Assim sendo, as instituições formadoras do professor da escola
o seu trabalho em sala de aula. básica devem estar atualizadas nos resultados da pesquisa em sua área,
para poderem trabalhar o conhecimento, em sala de aula, no estado em
Pesquisa: Imperativo ou aperitivo na formação profissional
que ele se encontra e no momento em que ele está sendo ensinado.
docente?
Devem estar, também, atualizadas nos processos de aprendizagem
Em discussão recente sobre a formação docente4, realizada na desse conhecimento específico. Quem forma o professor
UFMG, intelectuais brasileiros e estrangeiros, de reconhecida produção – tanto a instituição quanto as pessoas – precisa estar diretamente
acadêmica no campo educacional, expuseram a necessidade de uma envolvido com a atividade de pesquisa. Os formadores precisam ser,
articulação efetiva entre pesquisa, formação inicial e formação também, pesquisadores, para poderem tratar o conteúdo como um
continuada dos profissionais da educação. Um dos consensos momento no processo de construção do conhecimento, ou seja, trabalhar
resultantes desse debate foi o reconhecimento de que as universidades o conhecimento como objeto de indagação e investigação. Precisam ser,
e as demais instituições de ensino superior precisam repensar seu atual finalmente, investigadores de sua própria ação de formadores, dos
modelo de formação de professores e buscar, segundo definiu Carlos processos de aprendizagem que ocorrem durante o processo de
Jamil Cury, uma nova cultura institucional das licenciaturas. formação, investigadores de seu próprio processo de ensino.
Essa noção de nova cultura institucional dos cursos de formação A propósito, Fernando Hernández acrescenta que todo programa
de professores deve ser entendida como a capacidade de as de formação de educadores deve constituir-se em objeto de pesquisa na
universidades, especialmente as públicas, responderem, de maneira instituição formadora. Projetos de investigação sobre a formação docente
qualitativa, aos desafios propostos pela nova conjuntura política e permitem não só refletir sobre a preparação que está sendo realizada
socioeconômica brasileira. De acordo com o professor acima referido, nessas instituições, mas, fundamentalmente, reconstruir a proposta de
cabe às universidades públicas assumir o desafio e o compromisso social formação delas. O professor Hernández lembra ainda que a avaliação
de formar, de maneira diferenciada, profissionais da educação capazes assume um papel essencial nesse tipo de pesquisa e constitui um
de atuar como agentes de mudança na escola básica, no Brasil. componente importante na reconstrução do próprio processo de
Concordando com esse ponto de vista, Magda Becker Soares formação de professores.
ressaltou que as universidades cumprem sua função pública ao preparar O princípio da pesquisa como um imperativo na formação docente
um tipo diferenciado de professor, e não, necessariamente, ao atender propõe questões importantes a respeito da definição do lócus de
às demandas de mercado. Na opinião dessa professora, as preparação dos profissionais da educação no Brasil. Esse tem sido um
universidades, na qualidade de instituições de ensino, pesquisa e tema polêmico nas atuais discussões sobre a formação de professores.
extensão, devem formar professores, sem contudo dissociar essas
Nessa oportunidade, as instituições não foram solicitadas a indicar • nas instituições de ensino e pesquisa
nomes para esse grupo, nem a enviar propostas para serem analisadas • os movimentos sociais e organizações da sociedade civil
e sistematizadas. Na estratégia montada por essa secretaria, tal
• nas manifestações culturais (LDB art. 1º).
documento deveria ser encaminhado a um outro grupo de professores,
de áreas específicas, que se encarregaria de coordenar a construção das A finalidade da educação escolar é:
diretrizes das licenciaturas em cada uma dessas áreas,
• o desenvolvimento pleno do educando,
responsabilizando-se por articular o texto produzido pelo “grupo-tarefa” e
as diretrizes das comissões de especialistas. • o preparo para o exercício da cidadania
Espera-se que, apesar de muito tardio e de seguir um trajeto • a qualificação para o trabalho (LDB, art. 2º)
diferente daquele realizado pelas comissões de especialistas, esse O ensino, na educação brasileira, é orientado por 7 princípios:
processo de construção das diretrizes curriculares dos cursos de
• igualdade de condições para o acesso e permanência na
formação de professores consiga promover mudanças significativas nas
escola,
licenciaturas.
• liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen-
E que, enfim, essas alterações representem uma superação do
samento, a arte e o saber,
atual modelo de preparação dos profissionais da educação e um salto
qualitativo para a formação docente no país. • pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coe-
xistência de instituições públicas e privadas de ensino,
Formar professores é uma tarefa bastante complexa. Justamente
por isso, não são medidas simplistas e banalizadoras, apresentadas • gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais,
como uma fórmula mais eficiente e produtiva de preparar os profissionais
• valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na for-
da educação, que irão resolver os problemas atuais das licenciaturas.
ma da lei, planos de carreira para o magistério público, com
Ademais, a não-valorização do profissional da educação, os salários
piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por
aviltantes, as precárias condições de trabalho e a falta de um plano de
concurso público de provas e títulos,
carreira para a profissão continuam sendo questões fulcrais sem
solução, que afetam diretamente a formação docente no Brasil. Os • gestão democrática do ensino público, na forma da lei,
problemas centrais das licenciaturas apenas serão • garantia de padrão de qualidade (art. 206 da CF).
• programas suplementares de material didático-escolar, • podem atuar em níveis ulteriores (médio e superior) quando
transporte, alimentação e assistência à saúde (art. 208 da o ensino fundamental e a educação infantil estiverem ple-
CF). O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito pú- namente atendidos e forem utilizados recursos que estejam
blico subjetivo além dos mínimos vinculados pela Constituição Federal à
manutenção e desenvolvimento do ensino (25% da receita
• o não atendimento integral desse direito importa em res-
de impostos, incluídos os de transferência) (LDB, art. 11, V).
ponsabilidade da autoridade competente (crime de respon-
sabilidade): da autoridade pública pela não oferta e atendi- O ensino público na educação básica é gerido democraticamente,
mento e dos pais por não matricular ou permitir aos filhos incluindo nas formas dessa gestão:
frequentar a escola (art. 208, § 1º e 2º da CF); • a participação dos profissionais da educação na elaboração
• qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comuni- do projeto pedagógico da escola
tária, organização sindical, entidade de classe ou outra legi- • a participação da comunidade escolar e local nos conse-
timamente constituída e o Ministério Público acionar o Po- lhos escolares ou equivalentes (art. 14 da LDB).
der Público para exigi-lo (art. 5º da LDB).
Os estabelecimentos públicos de educação básica possuem graus
O poder público deve recensear os educandos no ensino de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira
fundamental, fazer a chamada deles e zelar para que frequentem a progressivamente maiores, que lhes asseguram os sistemas de ensino
escola, envolvendo nessa tarefa, os pais e responsáveis (art. 208, § 3º (art. 15 da LDB).
da CF).
As instituições de ensino se classificam em
Os sistemas de ensino devem ser organizados em regime de
colaboração. União, Estados, Distrito Federal e Municípios tem (ou terão) • públicas (as criadas, incorporadas, mantidas e administra-
sistemas de ensino. das pelo Poder Público
• os sistemas de ensino têm liberdade de organização • privadas (as mantidas e administradas por pessoa física ou
jurídica de direito privado):
• os Municípios podem optar por se integrar aos sistema es-
tadual ou compor, com ele, um sistema único de educação • particulares em sentido estrito
básica (Art. 11, V, parágrafo único da LDB) • comunitárias (as que incluem em sua entidade mantenedo-
A União: ra representantes da comunidade)
• coordena a política nacional de educação, articulando os • confessionais (as que atendem a orientação confessional e
sistemas e os níveis de ensino; ideologia específica e tenham representantes da comuni-
dade em sua entidade mantenedora) filantrópicas (defini-
• organiza o sistema federal, das pela lei) (LDB, art. 20). O ensino é financiado com re-
• financia as instituições de ensino públicas federais; cursos de impostos:
• exerce função normativa, redistributiva e supletiva, de tal • a União aplica, no mínimo, 18% da receita resultante de
forma que garanta equalização das oportunidades educaci- impostos os Estados, o DF e os Municípios aplicam, no mí-
onais e padrão mínimo de qualidade do ensino;
A realização de um levantamento consciencioso que procure 9. Arquitetamos primeiro o Estado Federal para depois
localizar o conjunto da população em idade escolar, e não apenas aquela prescrevermos as competências constitucionais (residuais e não
que já se encontra nos Sistemas de Ensino, permitirá avaliar, de fato, as reservadas) de seus entes. A União é descaracterizada, historicamente,
necessidades de expansão da rede física, bem como dimensionar a como ente federado por não resultar da soma de “soberanias parciais”,
exclusão e avaliar o perfil de escolarização da população de uma isto é, da autonomia prévia e reservada dos Estados-membros. A União
maneira mais acurada. soberana é que gera Estados autônomos.
1. A Constituição de 1988 persegue um fim último para o Estado 10. No caso dos municípios, a situação não é menos curiosa: a
brasileiro, que é o de torná-lo, juridicamente, uma República Federativa. questão do poder local lembra historicamente autonomia, desde o
A primeira providência jurídica nessa direção é a seguinte: a União, no período colonial, mas é incompatível com o conceito doutrinário de
Brasil, é um componente do Estado Federal. Federação. Nem teríamos, com os municípios, uma “federação de
municípios” nem com a União temos uma “federação de União”.
2. Não é demais afirmar que a federação brasileira não resultou,
como insistimos no presente trabalho, da união dos estados soberanos 11. Agora, responderemos ao segundo questionamento, com
num Estado Federal como ocorreu com a federação norte-americana. base na reflexão acima. O Estado Federal sempre tendeu à centralização
Aqui, antes de proclamada a República, éramos províncias sem política, mas a União, como ente deste Estado, por não ser, efetivamente,
nenhuma autonomia político-administrativa. uma entidade federada, não centralizou, nas constituições brasileiras,
notadamente a de constituição Federal de 1988, a competência
3. A tradição republicana e constitucional consagrou a federação legislativa exclusiva da educação nacional.
brasileira, mas a questão central da Federação, isto é, a repartição das
competências dos entes federativos e o estabelecimento de suas 12. Aliás, no caso brasileiro, a educação nacional nunca foi, a
fronteiras legislativas sempre foram o nó górdio do nosso federalismo. rigor, um monopólio do Estado Federal, pelo menos, estruturalmente, o
que não quer dizer, no entanto, que não tenha tido iniciativa de projeto
4. Assim, dizer que a organização político-administrativa da de lei no campo educacional.
República Federativa do Brasil compreende as quatro entidades
federativas é uma espécie de sentença jurídica, mas seu dogma é, 13. Na estrutura de poder em que a educação fosse monopólio do
historicamente, destituído de sentido. Há, ainda, um processo de Estado, o caráter de abrangência repercutiria no conjunto de Ministérios,
construção do modelo de Estado Federal efetivamente federativo e no Legislativo e no Judiciário. Destaquemos que o ensino superior, em
democrático. que pese ter sido, historicamente, priorizado pela União, não caracterizou
monopólio estatal posto que os Estados ofertaram, no âmbito de sua
5. Claro, no fundo, os constitucionalistas acabam por aceitar autonomia, o ensino superior estadual.
todas as intenções e manifestações do modelo federativo historicamente
imposto e, juridicamente posto, na evolução 14. Entre as constituições nacionais, a de 1988 foi a única a tomar
deliberadamente a Educação, enquanto dispositivo
17. A educação enquanto matéria constitucional manifesta-se, no Resolução CEB/CNB nº. 02/99, de 19 de abril de 1999.
âmbito dos dispositivos constitucionais, sem exclusividade na matéria Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de
por parte das entidades federativas, consequentemente, não há docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino
monopólio do Estado Federal ou centralização política e, por outra Fundamental, em nível médio, na modalidade normal. Educação a
consequência, não se fala em descentralização da educação no âmbito DistânciaDecreto
das entidades federativas.
Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998.
18. A privatividade (normas privativas), a comunilidade (normas
comuns) e a concorrencialidade (normas concorrentes) são indicativos, Regulamenta o Art. 80 da LDB (Lei n.º 9.394/96):
no âmbito das competências constitucionais, de descentralização Decreto n.º 2.561, de 27de abril de 1998.
política, uma vez que, nessa repartição de competências, há repartição
Altera a redação dos artigos 11 e 12 do Decreto n.º 2.494:
de poder, de autoridade, posto que “na teoria do federalismo costuma-
se dizer que a repartição de poderes autônomos constitui o núcleo do Portaria
conceito do Estado federal” (SILVA: 1992, p. 433).
Portaria n.º 301, de 7 de abril de 1998.
Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoInstituída pela Lei nº 9.394, Decreto n.º 2.208, de 17 de abril de 1997.
de 20 de dezembro de 1996, promove a descentralização e a autonomia
Regulamentação da Educação Profissional:Portaria
para as escolas e universidades, além de instituir um processo regular
de avaliação do ensino. Ainda em seu texto, a LDB promove autonomia Portaria n.º 646, de 14 de maio de 1997.
aos sistemas de ensino e a valorização do magistério.Lei n.º 9.475, de Regulamentação do disposto nos artigos 39 a 42 da LDB e no
22 de julho de 1997.Lei nº 9.536, de 11 de dezembro de 1997 Decreto nº 2.208/97 e outras providências:
Regulamenta o parágrafo único do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20 Educação Superior
de dezembro de 1996Lei nº 9.131 de 24 de novembro de 1995
Estatutos e Regimentos das IES - Adaptação à LDB
Altera dispositivos da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e
Decretos
dá outras providênciasLei nº 9.192 de 21 de dezembro de 1995
Decreto Nº 3.276, de 6 de dezembro de 1999:
Altera dispositivos da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968,
que regulamentam o processo de escolha dos dirigentes Dispõe sobre a formação em nível superior de professores para
universitários.Educação FundamentalFundef - Fundo de Manutenção e atuar na área de educação básica, e dá outras providências.
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Retificação do Decreto Nº 3.276
MagistérioEnsino Médio Lei
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Decreto n.º 2.306, de 19 de agosto de 1997. Definição dos procedimentos para o cumprimento do disposto no
art. 18, do Decreto nº. 2.306 (Informação da instituições de ensino
Regulamentação das instituições de ensino superior:Decreto superior sobre condições de ensino-aprendizagem): Portaria 946, 15 de
2.026, de 10 de outubro de 1996: agosto de 1997
Estabelece procedimentos para o processo de avaliação dos Fixa valores de recolhimento, para ressarcimento de despesas
cursos e instituições de ensino superior: com a análise de processos de autorização de cursos de graduação e
Editais credenciamento de instituições de ensino superior:Portaria Ministerial nº
972 de 15 de agosto de 1997.
Edital SESu nº 02/97, de 8 de setembro de 1997
Renovação das Comissões de Especialistas de Ensino:Portaria
(instrumento convocatório à participação na consulta)
nº 2040 de 22 de outubro de 1997:
Edital SESu nº 04/97, de 10 de dezembro de 1997.
Define critérios adicionais aos já estabelecidos na legislação
Convocação das Instituições de Ensino Superior para vigente, de organização institucional para Universidades.Portaria nº
apresentação de propostas para as novas Diretrizes Curriculares dos 2.041 de 22 de outubro de 1997:
cursos superiores:
Define critérios adicionais aos já estabelecidos na legislação
Edital SESu nº 6/99, de 29 de dezembro de 1999. vigente, de organização institucional para Centros Universitários.
Portaria nº 2.175, de 27 de novembro de 1997
Regras e prazo para as IES enviarem indicações para renovação
das comissões de especialistas da SESu O Ministro de Estado da Educação e do Desporto, no uso de suas
atribuições e considerando o disposto na Lei nº 9.394, de 20 de
Portarias
dezembro de 1996, na Lei nº 9.391 de 24 de novembro de 1995, e no
Portaria nº 1787, de 26 de dezembro de 1994. Decreto nº 2020 de 10 de outubro de 1996, e considerando ainda que os
Institui o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para resultados das avaliações realizadas pelo MEC constituem-se em
Estrangeiros - CELPE-Bras. indicadores de qualidade e de desempenho de cursos e instituições de
ensino superior, resolve: Portaria nº 0302, de 07 de abril de 1998
Portaria n.º 637, de 13 de maio de 1997.
Normatiza o procedimentos de avaliação do desempenho
Credenciamento de universidades individual das instituições de ensino superior.Portaria 612, de 12 de Abril
Portaria n.º 639, de 13 de maio de 1997. de 1999.
Credenciamento de centros universitários, para o sistema federal Dispõe sobre a autorização e o reconhecimento de cursos
de ensino superior: sequenciais de ensino superior.Portaria nº 2297 de 08 de novembro de
1999:
Portaria n.º 640, de 13 de maio de 1997.
Dispõe sobre a constituição de comissões e procedimentos de
Credenciamento de faculdades integradas, faculdades, institutos
avaliação e verificação de cursos superiores.Portaria nº 1679 de 02 de
superiores ou escolas superiores:Portaria n.º 641, de 13 de maio de
dezembro de 1999:
1997.
Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de
Autorização de novos cursos em faculdades integradas,
deficiências, para instruir os processos de autorização e de reco-
faculdades, institutos superiores ou escolas superiores em
nhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições.
funcionamento:Portaria n.º 752, de 2 de julho de 1997.
Cria Comissão Interministerial com a finalidade de definir Na história brasileira, as formas de gestão da sociedade
procedimentos, critérios, parâmetros e indicadores de qualidade para (legislação, plano de governo, medidas econômicas etc.) têm se
orientar a análise de pedidos de autorização de cursos de graduação em caracterizado por uma “cultura personalista”, isto é, o poder
Medicina, em Odontologia e em Psicologia:Portaria 877, de 30 de julho governamental é personalizado, como se a pessoa que detém o cargo
de 1997 fosse a responsável solitária pelas decisões. Quando as pessoas
referem-se ao governo, elas se referem quase sempre ao presidente, ao
Estabelece procedimentos para o reconhecimento de
governador, ao prefeito. Se atrasa o salário, os professores dizem: “O
cursos/habilitações de nível superior e sua renovação:
governador não nos paga”. A relação política transforma-se numa
Portaria n.º 971, de 22 de agosto de 1997. relação entre indivíduos, em detrimento da relação entre grupos,
organizações, entidades, interesses coletivos. Com isso, as pessoas
A concepção democrática-participativa de gestão valoriza o Permitir que a sociedade exerça seu direito à informação e à
desenvolvimento pessoal, a qualificação profissional e a competência participação deve fazer parte dos objetivos de um governo que se
técnica. A escola é um espaço educativo, lugar de aprendizagem em que comprometa com a solidificação da democracia. Democratizar a gestão
todos aprendem a participar dos processos decisórios, mas é também o da educação requer, fundamentalmente, que a sociedade possa
local em que os profissionais desenvolvem sua profissionalidade. participar no processo de formulação e avaliação da política de educação
e na fiscalização de sua execução, através de mecanismos institucionais.
A organização e gestão do trabalho escolar requerem o constante Esta presença da sociedade materializa-se através da incorporação de
aperfeiçoamento profissional – político, científico, pedagógico categorias e grupos sociais envolvidos direta ou indiretamente no
– de toda a equipe escolar. Dirigir uma escola implica conhecer bem seu processo educativo, e que, normalmente, estão excluídos das decisões
estado real, observar e avaliar constantemente o desenvolvimento do (pais, alunos, funcionários, professores). Ou seja, significa tirar dos
processo de ensino, analisar com objetividade os resultados, fazer governantes e dos técnicos na área o monopólio de determinar os rumos
compartilhar as experiências docentes bem sucedidas. da educação no município.
O processo de tomada de decisões deve basear-se em A criação de mecanismos institucionais deve privilegiar os
informações concretas, analisando cada problema em seus múltiplos organismos permanentes, que possam sobreviver às mudanças de
aspectos e na ampla democratização das informações Este princípio direção no governo municipal. Os órgãos colegiados, como conselhos,
implica procedimentos de gestão baseados na coleta de dados e são os principais instrumentos.
informações reais e seguras, na análise global dos problemas (buscar
sua essência, suas causas, seus aspectos mais fundamentais, para além Alguns elementos facilitam a implantação de medidas de
das aparências). Analisar os problemas em seus múltiplos aspectos democratização da gestão: a educação é uma política de muita
significa verificar a qualidade das aulas, o cumprimento dos programas, visibilidade, atingindo diretamente grande parte das famílias e não é
a qualificação e experiência dos professores, as características sócio- difícil mobilizar profissionais, pais e alunos.
econômicas e culturais dos alunos, os resultados do trabalho que a É necessário que os mecanismos de democratização da gestão
equipe se propôs a atingir, a saúde dos alunos, a adequação de métodos da educação alcancem todos os níveis do sistema de ensino. Devem
e procedimentos didáticos etc. A democratização da informação implica existir instâncias de participação popular junto à secretaria municipal de
o acesso de todos às informações e canais de comunicação que agilizem educação, junto a escolas e, onde for o caso, em nível regional. Também
a tomada de conhecimento das decisões e de sua execução. é possível imaginar instâncias de participação especializadas,
correspondentes aos diferentes serviços de educação oferecidos
(creches, ensino de primeiro e segundo graus, alfabetização de adultos,
Avaliação compartilhada ensino profissionalizante). Em qualquer instância, os mecanismos
Todas as decisões e procedimentos organizativos precisam ser institucionais criados devem garantir a participação do mais amplo leque
acompanhados e avaliados, a partir do princípio da relação orgânica de interessados possível. Quanto mais representatividade houver, maior
entre a direção e a participação dos membros da equipe escolar. Além será a capacidade de intervenção e fiscalização da sociedade civil.
disso, é preciso insistir que o conjunto das ações de organização do DIFICULDADES
trabalho na escola estão voltados para as ações pedagógico-didáticas,
em função dos objetivos básicos da escola. O controle implica uma Os governos municipais, mesmo quando desejam, muitas vezes
avaliação mútua entre direção, professores e comunidade. não conseguem transformar em ações concretas as diretrizes políticas
de ampliação da participação popular na gestão municipal. Há uma série
Relações humanas produtivas e criativas assentadas na de dificuldades, de caráter geral (descaso da população, conflitos de
busca de objetivos comuns interesses, manipulação de grupos da sociedade, problemas de
comunicação, etc.). No caso específico da educação, adicionam-se
A Conferência Municipal de Educação conta com representação A obtenção destes resultados, no entanto, depende da vontade
da prefeitura, Legislativo Municipal, grêmios estudantis, associações de política da administração de ampliar os espaços de participação da
pais, organizações não-governamentais, sindicatos e associações. sociedade na gestão municipal. Depende, também, da adoção de outras
Como tem caráter deliberativo, é responsável pela formulação das medidas visando a democratização do ensino. Um governo que não se
diretrizes para a política educacional e a avaliação dos resultados da sua preocupar com estes dois pontos dificilmente conseguirá implantar um
implementação. As diretrizes, formuladas a partir de propostas de todos verdadeiro sistema de gestão democrática da educação.
os atores envolvidos, são sistematizadas pelos técnicos da prefeitura. A
primeira Conferência, realizada em outubro de 1993, empreendeu uma
A AVALIAÇÃO DO PLANO DE GESTÃO ESCOLAR E
discussão estratégica sobre a melhoria da qualidade do ensino da rede
DO PROJETO PEDAGÓGICO
pública municipal, aberta a todos os interessados.
A avaliação do Plano de Gestão Escolar deve ser tarefa coletiva
O Conselho Municipal de Educação é constituído por uma
da direção, equipe técnica, professores, alunos e comunidade,
representação paritária dos Poderes Públicos e da sociedade civil. É
representada, principalmente, pelos pais.
responsável pela aprovação, em primeira instância, do Plano Municipal
de Educação, elaborado pela Secretaria Municipal de Educação, a partir Para avaliar, é necessário elaborar indicadores, o que também
das conclusões da Conferência Municipal de Educação. Responsabiliza- pode ser feito coletivamente. Os resultados positivos e negativos devem
se também por estabelecer critérios para a destinação de recursos e pela subsidiar a formulação de novas propostas.
avaliação dos serviços prestados pelo Sistema Municipal de Educação.
Como avaliar o Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico
A aprovação final do Plano Municipal de Educação cabe à Câmara
em todas as suas etapas ?
Municipal.
A avaliação do Plano de Gestão Escolar e do Projeto Pedagógico
A formulação do sistema de gestão democrática da educação de
deve abranger três aspectos centrais:
Recife contou com a participação de entidades da sociedade civil. Este
procedimento confere maior representatividade às instâncias criadas. - a avaliação do processo de elaboração;
Para divulgar as modificações implantadas, a prefeitura lançou os - a avaliação dos efeitos diretos na aprendizagem dos alu-
“Cadernos de Educação”, esclarecendo a proposta junto à população. nos;
A democratização da gestão - especialmente quando se dá - a avaliação dos efeitos indiretos na aprendizagem dos alu-
através de ações estruturadas - permite que os setores interessados nos e no desenvolvimento da escola.
participem da elaboração da política municipal de educação. São É importante avaliar:
gerados, assim, ganhos em qualidade das decisões, pois estas podem - a articulação entre o Plano de Gestão Escolar e o Projeto
refletir a pluralidade de interesses e visões que existem entre os Pedagógico;
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- a articulação entre todos os componentes dos Planos; equipe ou da formação continuada.A avaliação do Projeto
Pedagógico deve verificar:
- a adequação dos objetivos e das ações desenvolvidas.
- as consequências do Plano de Gestão Escolar na relação - se a seleção de materiais e estratégias mostrou-se ade-
entre a escola e demais parceiros. quada aos objetivos propostos.
A avaliação dos efeitos do Plano de Gestão Escolar e do Projeto A avaliação da participação dos alunos deve verificar:
Pedagógico na aprendizagem dos alunos, implica verificar: - se os alunos demonstram maior interesse pelas (e nas) au-
- a melhoria de aprendizagem dos alunos da escola e, em las;
particular, dos grupos que receberam tratamento diferenci- - se os alunos estão alcançando os objetivos propostos nos
ado; Planos Pedagógicos.
- o nível de envolvimento dos professores, alunos e comuni- A avaliação da etapa final do Projeto Pedagógico deve:
dade com as propostas desenvolvidas;
- identificar as ações que tiveram efeito positivo;
- o progresso de cada aluno e, particularmente, o dos alunos
que apresentavam dificuldades por meio de trabalhos e - analisar os indicadores de desempenho dos alunos para
produções individuais; dos exercícios, situações-problema’’, verificar em que aspectos apresentam melhora;
tarefas realizadas; da observação da evolução do compor- - analisar os indicadores de desempenho dos alunos para
tamento no que se refere à participação de cada aluno nas verificar as dificuldades que persistem;
atividades em classe e em outros ambientes.
- identificar os obstáculos que se colocaram durante o de-
A avaliação dos efeitos do Plano de Gestão Escolar e do Projeto senvolvimento do Projeto Pedagógico.
Pedagógico sobre a equipe escolar e os professores e analisa como eles
Considerando que Gestão Escolar Democrática implica:
contribuíram para a formação continuada dos professores e como se
pode aperfeiçoar ambos os processos de gestão, no que se refere: a) a utilização, racional e eficaz, dos recursos humanos, mate-
riais e financeiros destinados à realização da ação instituci-
- à disposição para utilizar plenamente o tempo, os espaços
onal;
educativos e os materiais;
b) a necessidade de erradicar as práticas hierarquizadas, au-
- à coordenação das atividades e à divisão de tarefas;
toritárias e excessivamente burocráticas do sistema educa-
- à qualidade e à compreensão das informações sobre o cional;
Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico;
c) democratizar as práticas de gestão administrativa, financei-
- ao aperfeiçoamento dos Conselhos de Classe e dos pro- ra e pedagógica da escola;
cedimentos de avaliação, usados pelos professores;
- ao envolvimento da comunidade;
FICAM ESTABELECIDOS, ENTÃO OS SEGUINTES PRINCÍPIOS DE
- ao envolvimento dos alunos; GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA:
- à melhoria do relacionamento da equipe escolar, técnicos, 1 A Democracia tem que ser um exercício de cidadania na prática
professores e comunidade; da escola cidadã, e deverá ser revista periodicamente por meio de
- ao aperfeiçoamento da prática docente; avaliação do trabalho gestor e do Conselho Escolar, além de outras
atitudes e métodos democráticos.
- à aquisição de conhecimentos teóricos e pedagógicos pe- los
2 A autonomia em uma gestão escolar democrática deve ser
professores por meio de esforço pessoal, do trabalho em
3 A gestão, para ser democrática, deve priorizar a busca da 11 A gestão democrática, com liberdade de expressão, deve
igualdade de direitos e deveres, propiciando uma participação ativa nas organizar as condições objetivas para desburocratizar os processos
decisões tomadas no Conselho Escolar, nas eleições diretas e em outros administrativos internos, lutando politicamente junto às instâncias
espaços estabelecidos para essa finalidade. superiores na criação e/ou modificação de critérios, na busca da
autonomia (administrativa, pedagógica e financeira) da escola, sem
4 Na Gestão Democrática os gestores da escola devem eximir o Estado2 de suas obrigações para com o ensino público.
demonstrar competência administrativa e pedagógica, bom senso,
coerência política com o P.P.P. da Escola e conquistar criticamente o 12 A gestão democrática deve lutar pelo envolvimento da
respeito da comunidade escolar de acordo com as prioridades da escola comunidade nas ações da instituição como um todo, de acordo com os
cidadã e desta comunidade, definidas pelo Conselho Escolar e não tendo princípios de avaliação estabelecidos no presente documento; lutando
influência político-partidária. pela inclusão social, pelo acesso e a permanência do aluno na escola,
com sucesso.
5 A gestão democrática escolar deve considerar todos os
segmentos envolvidos na vida escolar importantes para a efetivação do 13 A gestão democrática escolar deve buscar caminhos para a
processo educativo, visto que, todos são sujeitos históricos, atores realização do trabalho pedagógico, comprometidos com uma
sociais responsáveis pela efetivação do mesmo. convivência prazerosa entre profissionais, alunos e familiares, dentro dos
princípios de justiça, cooperação, igualdade e compreensão.
6 A gestão escolar democrática deve promover discussões e
ações coletivas, para garantir o desenvolvimento e a transformação das 14 A gestão democrática deve garantir a viabilização do PPP e da
pessoas e da instituição, uma vez que a escola é um espaço público de proposta pedagógica da escola, incentivando e contando, efetivamente,
permanente construção e vivência da cidadania. com a participação dos profissionais da educação, dos alunos e de seus
familiares, realizando periodicamente diagnósticos necessários para
7 A gestão escolar democrática deve pautar-se no diálogo e na melhoria de seus projetos.
busca constante da participação ativa de pais, alunos, corpo docente e
administrativo, pois além de proporcionar a oportunidade de conviver, de 15 Os gestores da escola devem comprometer-se e fazer
planejar e de resolver problemas juntos, favorece a construção da acontecer as metas estabelecidas, tanto no Projeto Político-Pedagógico
solidariedade e compromisso entre a comunidade escolar de forma da escola, bem como na Proposta Pedagógica da mesma.
crítica e reflexiva. 16 A gestão deve incentivar e viabilizar a formação permanente
7.1 A escola cidadã precisa criar e programar estratégias para dos vários segmentos da comunidade escolar, articulando-se
conscientizar aos pais sobre os problemas reais da escola e sobre a politicamente com a Secretaria Municipal de Educação, de modo a
atuação dos mesmos no Conselho Escolar. possibilitar a realização de estudos e outros espaços coletivos para a
reflexão e o debate político-pedagógico e científico, sempre que possível.
8 A gestão democrática da escola deve, além de valorizar,
incentivar e fazer acontecer o trabalho em equipe na escola, garantir a 17 O Conselho Escolar deve participar nas decisões
abertura de espaços de integração da comunidade, que contribuam para administrativas, pedagógicas e financeiras que envolvem a vida da
a construção da gestão democrática. escola, contribuindo democraticamente para legitimação das mesmas.
9 A gestão deve valorizar os projetos condizentes com a 18 Na Gestão democrática a ética, tal como caracterizada nos
realidade da escola, buscando consenso em torno das propostas que princípios de convivência, é fundamental no sentido de estabelecer a
sejam comuns e representem, em primeira instância, as necessidades humanização, o respeito, a valorização profissional e o compromisso
da maioria. com a educação.
10 A gestão escolar democrática deve ser transparente nas suas 19 O gestor da escola, juntamente com os órgãos municipais
ações administrativa, pedagógica e financeira, socializando as competentes, devem oferecer condições para que o processo de
informações. Neste sentido: inclusão da criança portadora de necessidades especiais na escola
esteja alicerçado com recursos humanos especializados na área em
10.1 A comunidade deve ser incentivada a conhecer as leis que questão, assim como recursos materiais e físicos para um melhor
regem a administração pública escolar; atendimento.
10.2 devem ser criadas estratégias no sentido de oferecer
20 A gestão democrática deve buscar a melhoria da qualidade do
condições e horários adequados à comunidade escolar, dentro da
ensino onde o conhecimento seja instrumento para a compreensão e
carga horária do professor, para que possam participar dos processos
intervenção na realidade. Um espaço efetivo do crescimento humano,
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do diálogo, das diferenças e da flexibilidade, formadora de cidadãos INSTÂNCIAS COLEGIADAS NA UNIDADE ESCOLAR
críticos e conscientes de seus direitos e deveres. A escola é uma organização que, como muitas outras, lida com
21 A gestão democrática escolar deve trabalhar a diversidade pessoas. Sua peculiaridade está em ser a primeira instituição que os
humana, comprometendo-se em combater todas as formas de cidadãos, ainda crianças, conhecem. Mais ainda, uma instituição que
preconceito e discriminação. complementa as famílias por ter a missão de educar. A experiência na
escola pode desenvolver ou não, os sentimentos de confiança e de
22 Atendendo aos legítimos interesses de nossa categoria, os satisfação em pertencer à sociedade maior, como cidadão.
princípios aqui contidos poderão ser acrescentados, suprimidos ou
modificados; desde que previamente propostos, votados e aprovados em A escola toma uma parte importante do tempo de nossa infância
congresso oficialmente convocado para tal. e deveria representar uma experiência rica, cheia de significados,
daquelas que gostamos de passar aos nossos filhos e que eles gostarão
de passar para a geração seguinte. A boa escola não resulta apenas da
GESTÃO E INSTÂNCIAS COLEGIADAS NA UNIDADE ESCOLAR; competência específica de suas diretoras, professoras e funcionários,
ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E ORGANIZAÇÃO. porque depende de como as famílias tratam da educação dos filhos; de
como elas ajudam seus filhos a gostar e valorizar os estudos, a perceber
O foco da escola de boa qualidade deve ser a possibilidade de que têm futuro e que este já começa a ser construído ali, na sua escola.
apropriação, pelos alunos, do conhecimento socialmente relevante, em
Se para a criança, a escola é um castigo ou é um mundo do qual
que o saber acadêmico, valores e tradições culturais sejam respeitados,
os pais não tomam muito conhecimento, a experiência escolar não será
de modo que todos se sintam identificados, ao mesmo tempo que
proveitosa.
instrumentalizados para compreender o mundo contemporâneo, co-
participando da construção da ordem democrática. A equipe escolar depende dos pais de alunos para ter sucesso,
assim como os pais de alunos dependem da equipe escolar para que
O alcance desses objetivos não é tarefa apenas da escola, mas
seus filhos tenham uma experiência satisfatória de convívio com crianças
dos diferentes atores sociais diretamente conectados com ela:
e adultos fora do circulo familiar e para que desenvolvam a curiosidade
educadores, pais, associações, empresas etc. Descentralizar as
e a capacidade de aprender. O sucesso da escola depende do clima
decisões de forma que a escola tenha maior autonomia implica, por um
institucional, da competência didático-pedagógica da escola e da
lado, permitir a interpretação e operacionalização local das políticas
resposta dos alunos. Mas a verdade é que todos esses três fatores estão
centrais e, por outro, levar em conta a multiplicidade dos atores e
condicionados ao entrosamento entre escola e famílias.
interesses presentes.
A autonomia melhora muito as condições de integração dessas
Para lograr isso, o projeto da escola que visa uma efetiva gestão
duas metades da educação porque institui a gestão participativa, que
participativa busca coerência entre as diferentes instâncias:
submete os processos decisórios às diferentes perspectivas dos
• no interior da própria escola, entre os diferentes atores, professores, dirigentes, funcionários e pais de alunos. Com isso, ela não
respeitando identidades e valores, de modo a desenvolver só aumenta a sintonia entre as varias partes, como melhora a qualidade
o trabalho coletivo em torno de objetivos comuns; das decisões.
• entre a escola e a comunidade, incluindo pais, lideranças, A gestão participativa abrange diferentes níveis e áreas da
políticos, empresas etc.; e administração escolar. O nível mais alto tem estatura equivalente à da
• entre as demandas em nível local, regional e nacional. Diretoria da escola e é o do Colegiado Escolar (também chamado de
Conselho de Escola, Associação de Pais e Mestres, Círculo de Pais e
O projeto de escola dá coerência às atividades em todos os níveis
Professores, ou outras denominações). Este é o tema central deste
e possibilita aos diferentes atores e grupos de trabalho agirem na mesma
módulo. Outros dois colegiados são os Conselhos de Classe, que
direção. Ele implica um conjunto de consensos, a abertura para a
acompanham as atividades pedagógicas da escola, e os Conselhos
comunidade e a agregação de diferentes parceiros, fornecendo os meios
Fiscal e Deliberativo da Unidade Executora, responsável pela
para que estes conheçam o sentido da ação comum a ser conduzida. Na
administração dos recursos financeiros da escola. Além deles, há as
verdade, implica a gestão participativa.
Assembleias Gerais onde se definem as candidaturas aos postos eletivos
Para delinear tal projeto, é fundamental conhecer as expectativas e se aprovam regimentos e estatutos ou as revisões desses documentos.
dessa comunidade, suas necessidades, formas de sobrevivência,
Nada impede que a escola crie outros órgãos coletivos para
valores, costumes, manifestações culturais e artísticas.
funções consultivas e/ou deliberativas, temporárias ou permanentes (por
É através desse conhecimento que a escola pode atender a exemplo, uma comissão para melhorar e supervisionar a qualidade e
comunidade e auxiliá-la a ampliar seu instrumental de compreensão e valor nutritivo da merenda escolar, ou um colegiado que supervisione
transformação do mundo.
Muitos conflitos podem ser evitados ou ter solução facilitada se a As Assembleias Gerais são soberanas nas suas decisões, por
comunidade escolar for capaz de prever e tratar dessas situações no isso é importante que haja bom senso nas decisões de convocação e
Estatuto. Vejamos algumas das questões que podem estar contempladas no que, enquanto participante, você se inteire daquilo que está sendo
Estatuto: objeto de discussão e aprovação. Troque ideias, certifique-se de que a
decisão não viole o Estatuto da Escola ou a legislação pertinente. Não
• de quantos membros será composto o Colegiado da Esco- la? assine nada sem ter certeza do que se trata.
qual o número de representantes de cada segmento?
Na rede estadual de Minas Gerais as Assembleias Gerais têm a
• se um membro titular não comparecer a um número X de seguinte programação:
reuniões, que providências devem ser tomadas?
1a Assembleia Geral _ em março, tem o objetivo de esclarecer o
• quais são os critérios de desempate nas eleições do Cole- que é o Colegiado Escolar e de realizar a eleição por cada segmento de
giado? seus representantes.
• de que modo um membro da comunidade escolar que não 2ª Assembleia Geral _ ainda no 1o semestre, para divulgar as
pertence ao Colegiado pode incluir um assunto na pauta da propostas de trabalho da escola.
próxima reunião do Colegiado?
3ª Assembleia Geral _ no 2o semestre, para fazer um balanço das
• quem pode convocar reuniões do Colegiado além de seu atividades desenvolvidas pela escola durante o ano.
presidente (o diretor da escola)? Em que circunstâncias is- so
poderá ocorrer? Caso haja necessidade de outras assembleias, o diretor ou a
maioria do Colegiado poderá convocá-las, em caráter extraordinário,
durante o ano letivo, para resolver assuntos urgentes do interesse da
A IMPORTÂNCIA DAS ATAS escola.
A implantação da gestão colegiada, pela qual o diretor divide O Colegiado Escolar reúne os representantes eleitos de todos os
responsabilidades e compartilha decisões, torna muito importante os Editais segmentos da comunidade escolar e divide com a Diretoria a
de Convocação das reuniões e o registro em Atas das discussões, sugestões responsabilidade maior pelos resultados da escola. Ele é o lugar de
e resoluções tomadas pelo Colegiado da Escola. O Edital de Convocação encontro e de desenvolvimento das aspirações e da inteligência coletiva
deve conter a data, o local e o horário da reunião, além do objetivo e assuntos da escola.
a serem tratados. A Ata, por sua vez, é o registro resumido, porém claro e A gestão colegiada é o regime de funcionamento mais adequado
fiel, das opiniões, votações e resoluções de uma reunião convocada com para a “escola que aprende”; aquela que não se contenta com a rotina,
antecedência de pelo menos 24 horas. com reprodução do que sempre fez. A gestão colegiada estará
A importância das Atas é que elas permitem consultar fatos e decisões funcionando bem se servir para aprofundar o auto-conhecimento da
tomadas em reuniões, esclarecendo seu contexto e dúvidas que podem escola e para mobilizar a capacidade de seus membros para pensar,
surgir posteriormente. Ela é um registro formal e oficial das reuniões do julgar, imaginar, propor e resolver o que for necessário. É assim que ela
Colegiado.A Ata deve ter páginas numeradas e rubricadas pelo responsável vai aprender a concretizar as vontades coletivas.
por sua elaboração _ em geral, o diretor ou vice-diretor ou um secretário CONSELHO ESCOLAR
• a organização e funcionamento de escola, de acordo com as A APM, instituição auxiliar da escola, é uma associação civil, com
orientações da SME sobre: personalidade jurídica própria e, portanto, responsável pelos seus atos.
É representada pelo seu Diretor Executivo. Este responde pela
a. o atendimento e acomodação da demanda, turnos, distribuição de Associação, até mesmo em Juízo.
séries e classes, utilização do espaço físico;
A APM não se confunde com o Diretor de Escola. Entretanto, este
b. a fixação de critérios para ocupação do prédio e suas instalações, é o presidente nato do seu Conselho Deliberativo e, nessa qualidade,
condições para sua preservação, cessão para outras atividades que bem como na qualidade de diretor da escola, tem o dever de zelar pelo
não de ensino e de interesse da comunidade; e bom andamento dos trabalhos da associação, observando seus
c. a análise, aprovação e acompanhamento de projetos propostos funcionários, orientando seus membros e prestando colaboração, sem,
pelos professores. porém, assumir, sozinho, as funções de seus membros.
O Conselho de Escola dá parecer sobre: Portanto, nem pode alienar-se e nem pode, assumir, sozinho,
funções que não lhe competem.
• a ampliação e reformas no prédio;
Se forem constatadas fraudes nas atividades da APM, o Diretor
• os problemas entre o corpo docente, entre alunos, entre
poderá pedir, aos órgãos competentes, a intervenção na APM. Esse
funcionários que estejam prejudicando o projeto pedagógi-
processo será desenvolvido pelo Grupo de Verificação e Controle das
co da unidade;
Atividades Administrativas e Pedagógicas da Secretaria da Educação.
• as posturas individuais de qualquer segmento que colo-
Quem determina a intervenção é o Secretário da Educação.
quem em risco as diretrizes e metas deliberadas; e
A APM precisa ser registrada. Portanto, verificar se a Associação
• as penalidades a que são sujeitos funcionários, alunos, sem
e, também, a ata da eleição, foram registradas em cartório de títulos e
prejuízo de recorrência a outras instâncias.
documentos.
O Conselho de Escola, ainda:
O documento que indica como cadastrar a APM no Programa de
• elabora, conjuntamente com a equipe de educadores, o ca- Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental é a Resolução
lendário escolar e projeto pedagógico da unidade, observa- 5 de 06/04/98 do Conselho Deliberativo da FNDE.
das as normas oficiais;
A APM é obrigada a expor seus balanços e balancetes, na escola,
• aprecia os relatórios anuais da Unidade; e em local de fácil acesso à comunidade.
• acompanha o desenvolvimento do projeto pedagógico. Esses balanços deverão estar devidamente verificados e
assinados pelos membros do Conselho Fiscal, pelo Diretor Executivo,
Como se organizam as reuniões do conselho de escola
Diretor Financeiro, Diretor de Escola. Ao final do mandato da Diretoria
Com relação ao seu tipo: Há dois tipos de reunião de Conselho Executiva, que é de um ano, a prestação de contas deverá ser feita
de Escola: ordinárias e extraordinárias: diretamente em Assembleia Geral (após a apreciação do Conselho
As reuniões ordinárias ocorrem de dois em dois meses (com Fiscal).
datas marcadas no ato da posse); e Manter funcionário sem registro em carteira é um descumprimento
As reuniões extraordinárias ocorrem quando necessário, por das leis trabalhistas, do que advirá, em algum momento, multas em
convocação da direção ou de 1/3 dos membros. eventuais fiscalizações. Por outro lado, a dispensa de funcionários, sem
registro em carteira, mesmo quando a APM tenha pago todos os direitos,
Com relação ao funcionamento das reuniões: poderá gerar reclamações trabalhistas, obrigando a instituição a pagar
pesadas indenizações.
• Em todas as reuniões deverá ter pauta, aprovada no início, e
Cada Diretor só poderá ser reconduzido uma vez, para o mesmo a)- aos pais, informações relativas tanto aos objetivos
cargo. educacionais, métodos e processos de ensino, quanto ao
aproveitamento escolar de seus filhos;
O membro da Diretoria perderá o mandato se faltar a 3 (três)
reuniões consecutivas, sem causa justificada (art. 33, § 1°). b)- aos professores, maior visão das condições ambientais dos
alunos e de sua vida no lar.
O CNPJ (ex-CGC) para a APM poderá ser obtido da seguinte
forma: leva-se ao órgão da Receita Federal a ata de eleição da diretoria, 3 - RECURSOS
com firma reconhecida e registrada em Cartório de Registro de Títulos
Os meios e recursos para atender os objetivos da APM, serão
e Documentos, anexando cópia do Estatuto Padrão da APM.
obtidos através de:
A APM pode cobrar mensalidade dos alunos?
I - contribuição dos associados (Contribuições facultativa de
Compulsoriamente, não. Pode solicitar, no entanto, a contribuição matriculas e sua renovação) - O caráter facultativo das contribuições não
espontânea, desde que não a vincule à matrícula ou frequência dos isenta os associados do dever moral de, dentro de suas possibilidades,
alunos. cooperar para a constituição do fundo financeiro da Associação.
O cargo de Diretor Financeiro será sempre ocupado por pai de II – convênios (com outras associações, por exemplo)
aluno.
Resumo do Estatuto Padrão das Associações de Pais e Mestres III - subvenções diversas;
(APM)
IV – doações ( de instituições públicas e de pessoas físicas ou
1 - MISSÃO DA APM jurídicas);
• assembleia geral,
• diretoria e
• conselho fiscal.
DELIBERAÇÃO N º 016/99
CEE CAPÍTULO II
DA ORGANIZAÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR
A discussão que acompanhou o longo processo de formulação da Segundo Kuenzer (2000) é preciso reconhecer neste conceito o
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, aprovada em significado que o mesmo adquire no interior das novas demandas do
1996, foi iniciada na década de 80, com a participação dos educadores. mundo do trabalho. A autora recorre a Tanguy e Roupé (apud Kuenzer,
Suas formulações e propostas, no entanto, logo se revelaram 2000), para identificar a competência, nas atuais circunstâncias, como
incompatíveis com as políticas de ajuste assumidas pelos idealizadores fortemente vinculada à ações mensuráveis através da aferição dos seus
do modelo imposto aos governos latino-americanos pelo Banco Mundial resultados imediatos. O forte apelo ao conceito de competência, presente
e foram rejeitadas pela maioria subordinada ao grupo governamental. em todas as diretrizes que deverão nortear o ensino nas próximas
Instaurou-se, assim, ao final, com esta lei, uma reforma autoritária e décadas, vincula-se, segundo a autora, a uma concepção produtivista e
consoante com o ajuste neoliberal. A educação, de direito social e pragmatista onde a educação é confundida com informação e instrução,
subjetivo de todos, passa a ser encarada cada vez mais como um serviço com a preparação para o trabalho, distanciando-se do seu significado
a ser prestado e adquirido no mercado, ou oferecido como filantropia. mais amplo de humanização, de formação para a cidadania.
Daí, a dominância do pensamento privatista como diretriz educacional e
O modelo dos Institutos Superiores de Educação (ISE) coloca uma
frequentes campanhas filantrópicas substituindo políticas efetivas de
clara desresponsabilização às instituições universitárias, pela formação
educação.
de professores. No interior de uma política que diferenciou e hierarquizou
O ideário crítico sobre o que deveria ser um projeto nacional de formalmente o Ensino Superior, os ISEs foram instituídos como local
educação, que foi se constituindo ao longo das últimas décadas e que preferencial para a formação destes profissionais, em cursos com
encontrou em vários locais do país algumas possibilidades de menores exigências, para a sua criação e manutenção, do que aquelas
implementação não teve na formulação final da nova LDB o mesmo inerentes às instituições universitárias. Os critérios que orientam a
destino. Esta lei, apresentada como uma legislação moderna para o proposta dos Institutos Superiores de Educação diferenciam-se dos
século XXI, ressignificou vários consensos do rico debate dos anos 80; parâmetros que orientam uma formação universitária, esta
traduziu-os, no entanto, para uma outra lógica de desenvolvimento, na necessariamente vinculada à pesquisa e produção de conhecimento.
qual descentralização significa principalmente uma desconcentração da Considerando que a formação inicial é momento-chave da construção de
responsabilidade do Estado; autonomia, passa a ser compreendida uma socialização e de uma identidade profissional, esta determinação é
como liberdade de captação de recursos; igualdade, como equidade; desqualificadora para a profissionalização docente no país.
cidadania crítica, como cidadania produtiva; e a melhoria da qualidade,
como adequação ao mercado (Shiroma et al., 2000).
SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e
MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl
Após um longo período de expectativa e de mobilização da técnicas educacionais, considerando que a docência é a mediação
comunidade acadêmica na tentativa de influir em suas definições, foram paraoutras funções que envolvem o ato educativo intencional. Não se
aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de considera, neste sentido, aplicável para a o Curso de Pedagogia,
Professores da Educação Básica, em Nível Superior, Curso de dicotomizar, na formação, carreiras diferenciadas conforme a
Licenciatura, de Graduação Plena (Resolução CNE/CP 1/2002), com categorização - Bacharelado Acadêmico, Bacharelado Profissionalizante e
base no Parecer do CNE/CP 009/2001. A partir de proposta inicial Licenciatura. A formação do pedagogo envolve estas três dimensões,
elaborada por uma comissão oficial de colaboradores/assessores do podendo, no seu aprofundamento, dar maior relevo a uma destas
Ministério da Educação, tais diretrizes foram aprovadas pelo CNE quase dimensões.
na sua totalidade, num processo mais homologatório do que - O comprometimento da desejável integração entre a formação
propriamente de discussão. Apesar de terem sido realizadas várias do bacharel e aquela do licenciado. Dado o modelo institucional que
audiências públicas e outras reuniões nacionais e regionais com as mais passa a ser privilegiado, qual seja o dos Institutos Superiores de
diversas entidades educacionais do país, como resposta à pressão do Educação, que autonomiza o local de formação de professores,
movimento dos educadores, não abriu-se um autêntico diálogo nestas desvinculando institucionalmente as licenciaturas dos bacharelados, fica
oportunidades. comprometida a desejável integração na formação destas duas
Entre as questões mais polemizadas que foram sendo apontadas categorias de carreiras, com sérias consequências presumíveis para a
na análise das diretrizes delineadas neste período pós-LDB, podemos formação do professor.O fosso entre a formação do bacharel e a do
citar: licenciado precisa ser evitado para que a formação deste último, ao
avançar na sua qualificação técnico-científica, não seja comprometida na
- a noção de competências como concepção nuclear para sua formação.
orientar a formação profissional dos educadores, em lugar dos saberes
docentes; esta opção mostra seu vínculo com um determinado projeto - A duração do Curso e Carga-horária do Curso:
societário que, conforme a visão de vários autores (Frigotto, 2001; comprometimento do tempo necessário para uma sólida formação
Kuenzer, 2000; Shiroma et al, 2000), em nome da globalização, ajusta profissional. Uma organização curricular inovadora deve contemplar uma
as questões educacionais às regras da mercantilização com toda sólida formação profissional acompanhada de possibilidades de
exclusão que tal escolha produz. aprofundamentos e opções realizadas pelos alunos e propiciar, também,
tempo para pesquisas, leituras e participação em eventos, entre outras
- a intenção de extinguir gradativamente o curso de Pedagogia. atividades, além da elaboração de um trabalho final de curso que
Os preceitos legais atualmente estabelecidos, embora sintetize suas experiências. A carga horária deve assegurar a realização
contraditórios, indicam para o curso de Pedagogia a condição de um das atividades acima especificadas. Para atingir este objetivo, além de
Bacharelado Profissionalizante, destinado a formar os especialistas em cumprir a exigência de 200 dias letivos anuais, com 4 horas de atividades
gestão administrativa e coordenação pedagógica para os sistemas de diárias, em média, é desejável que a duração de um curso de licenciatura
ensino (LDB/96, Art. 64). Depois de muitos embates ocorridos por seja de 4 anos, com um mínimo de 3.200 horas, para que se possa
ocasião da formulação de normas complementares à LDB, a atribuição contemplar de forma mais aprofundada tanto a carga teórica necessária
da formação de professores para a educação infantil e séries iniciais do para a formação, como o desenvolvimento das práticas que aproximam
ensino fundamental ficou assegurada também para o curso de o estudante da realidade social e profissional. Há, nesse sentido,
Pedagogia, mas apenas para aqueles que se situam em instituições modalidades de prática que são complementares e necessárias para a
universitárias (Parecer CNE-CES 133/2001). Este é um percalço que formação do profissional da educação, quais sejam: a prática como
deriva da decisão já colocada pela LDB/96 e que foi reforçado pelas instrumento de integração e conhecimento do aluno com a realidade
regulamentações posteriores, que optou pelo modelo dos Institutos social, econômica e do trabalho de sua área/curso; como instrumento de
Superiores de Educação, formação técnico-profissionalizante de iniciação à pesquisa e ao ensino e a prática como instrumento de
professores, que se contrapõe ao modelo das Faculdades de Educação, iniciação profissional.
onde a formação destes profissionais é vista de forma mais acadêmica, A “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Darci Ribeiro”
mediada pelas possibilidades de maiores interfaces na formação. A de número 9394/96 (documento maior da legislação educacional
proposta de diretrizes apresentada pela CEEP - Comissão de brasileira), no Título VI -Dos Profissionais da Educação - em seu artigo
Especialistas de Ensino de Pedagogia/SESU/MEC - defende para este 64, reproduzido literalmente abaixo, nos elenca:
curso, responsável pela formação acadêmico-científica do campo
educacional na graduação, uma graduação plena na área, que não se “Art. 64. A formação de profissionais de educação para a
realiza concretamente sem que seja considerada a sua dimensão administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação
intrínseca, que é a da docência. A tese defendida por esta proposta educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação
procura garantir a formação unificada do Pedagogo, profissional que, em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de
tendo como base os estudos teórico-investigativos da educação, é ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.”
capacitado para a docência e consequentemente para outras funções
A aprendizagem na concepção , pode assim ser entendida como o Não há, na concepção ambientalista, preocupação em explicar os
processo pelo qual o comportamento é modificado com resultado da processos através dos quais a criança raciocina e que estariam
experiência. Além das condições já mencionadas para que a presentes na forma como ela se apropria de conhecimentos.
aprendizagem se dê - estabelecimento de associações entre um estímulo 1.3 A Concepção Interacionista: Piaget e Vygotski
e uma resposta e entre uma resposta e um reforçador - é importante que
Para os psicólogos interacionistas o organismo e o meio exercem
se leve em conta o estado fisiológico e psicológico do organismo.
ação recíproca. Um influencia o outro e essa interação acarreta
Para que a aprendizagem ocorra é preciso, portanto, que se mudanças sobre o indivíduo. É, pois, na interação da criança com o
considere a natureza dos estímulos presentes na situação, tipo de mundo físico e social que as características e peculiaridades desse
resposta que se espera obter e o estado físico e psicológico do mundo vão sendo conhecidas. Para cada criança, a construção desse
organismo. É ainda importante aquilo que resultará da própria conhecimento exige elaboração , ou seja, uma ação sobre o mundo.
aprendizagem: mais conhecimento , elogios, prestígios , notas altas etc.
A concepção interacionista de desenvolvimento apoia-se ,
Na visão ambientalista, a ênfase está em propiciar novas portanto, na ideia de interação entre organismo e meio e vê a aquisição
aprendizagens, por meio da manipulação dos estímulos que atendem e de conhecimento como um processo construído pelo indivíduo durante
sucedem o comportamento. Para tanto, é preciso uma análise rigorosa toda a sua vida, não estando pronto ao nascer nem sendo adquirido
da forma como indivíduos atuam em seu ambiente, identificando os passivamente graças às pressões do meio.
estímulos que provocam o aparecimento do comportamento-alvo e as
Tomaremos duas correntes teóricas no interacionismo: a
consequências que o mantém. A esta análise dá-se o nome de análise
elaborada por Piaget e seus seguidores e a defendida por teóricos
funcional do comportamento. Nela defende-se o planejamento das
soviéticos, em especial por Vygotski. Estas duas correntes serão
condições ambientais para a aprendizagem de determinados
brevemente analisadas, apontando-se suas semelhanças e diferenças.
comportamentos.
A Teoria de Jean Piaget
A introdução de teorias ambientalistas na sala de aula teve o mérito
de chamar a atenção dos educadores para a importância do Jean Piaget ( 1896-1980) é o mais conhecido dos teóricos que
planejamento de ensino. A organização das condições para que a defendem a visão interacionista de desenvolvimento. Formado em
aprendizagem ocorra exige clareza a respeito dos objetivos que se quer biologia e Filosofia, dedicou-se a investigar cientificamente como se
alcançar, a estipulação da sequência de atividades que levarão ao forma o conhecimento. Ele considerou que se estudasse cuidadosa e
objetivo proposto e a especificação dos reforçadores que serão profundamente a maneira pela qual as crianças constroem as noções
utilizados. A concepção ambientalista da educação valoriza o papel do fundamentais de conhecimento lógico - tais como as de tempo, espaço,
professor, cuja importância havia sido minimizada na abordagem inatista objeto, causalidade, etc. - poderia compreender a gênese ( ou seja, o
. Coloca em suas mãos a responsabilidade de planejar, organizar e nascimento ) e a evolução do conhecimento humano.
executar - com sucesso - as situações de aprendizagem.
Inicialmente, Piaget trabalhou com dois psicólogos franceses,
Por outro lado, as teorias ambientalistas tiveram também efeitos Binet e Simon, que, por volta de 1905, tentavam elaborar um instrumento
nocivos na prática pedagógica. A educação foi sendo entendida como para medir a inteligência das crianças que frequentavam as escolas
tecnologia, ficando de lado a reflexão filosófica sobre a sua prática. A francesas. Tal instrumento - o teste de inteligência Binet-Simon
ênfase na tecnologia educacional exigia do professor um profundo - foi o primeiro teste destinado a fornecer a idade mental de um indivíduo
conhecimento dos fatores a serem considerados numa programação de e é o primeiro teste destinado a fornecer a idade mental de um indivíduo,
ensino, contudo tal conhecimento não era transmitido a eles. Programar e é até hoje utilizado, depois de ter sofrido sucessivas adaptações. Ao
o ensino deixou de ser uma atividade cognitiva de pesquisar condições analisar as respostas das crianças do teste, Piaget começou a se
de aprendizagem para se tornar uma atividade meramente formal de interessar pelas respostas erradas das crianças, salientando que estas
colocar os projetos de aula numa fórmula-padrão. só “erravam” porque as respostas eram analisadas a partir de um ponto
de vista do adulto.
A principal crítica que se faz ao ambientalismo é quanto à própria
visão de homem adotada: a seres humanos como criaturas passivas face Na verdade as respostas infantis seguiam uma lógica própria.
ao ambiente, que podem ser manipuladas e controladas pela simples
Piaget concebeu, então, que a criança possui uma lógica de
alteração das situações em que se encontram. Nesta concepção , não
funcionamento mental que difere - qualitativamente - da lógica do
há lugar para a criação de novos comportamentos.
funcionamento mental do adulto. Propôs-se consequentemente a
Na sala de aula , ela acarretou um excessivo diretivismo por parte investigar como, através de quais mecanismos, a lógica infantil se
dos adultos. Deixou-se de valorizar e fazer uso de situações onde a transforma em lógica adulta. Nessa investigação, Piaget partiu de uma
Dois mecanismos são acionados para alcançar um novo estado de Nesse mesmo período, as concepções de espaço, tempo e
equilíbrio. O primeiro recebe o nome de assimilação. Através dele o causalidade começam a ser construídas , possibilitando à criança novas
organismo sem alterar suas estruturas - desenvolve ações destinadas a formas de ação prática para lidar com o meio. Aos poucos, o período
atribuir significações , a partir da sua experiência anterior, aos elementos sensoriomotor vai-se modificando. Esquemas cada vez mais complexos
do ambiente com os quais interage. O outro mecanismo, através do qual são construídos, de forma a preparar e dar origem ao aparecimento da
o organismo tenta restabelecer um equilíbrio superior com o meio função simbólica, portanto, do universo restrito do aqui-e-agora. O
ambiente, é chamado de acomodação. Agora , entretando, o organismo aparecimento da função simbólica altera drasticamente a forma como
é impelido a se modificar, a se transformar para se ajustar às demandas a criança lida com o meio e anuncia uma nova etapa, denominada pré-
impostas pelo ambiente. operatória.
Ao reconhecer a imensa diversidade nas condições histórico- Para Vygotski, o processo de desenvolvimento nada mais é do que
sociais em que as crianças vivem, Vygotski não aceita a possibilidade de a apropriação ativa do conhecimento disponível na sociedade em que a
existir uma sequência universal de estágios cognitivos, como propões criança nasceu. É preciso que ela aprenda e integre em sua maneira de
Piaget. Para Vygotski, os fatores biológicos preponderam sobre os pensar o conhecimento da sua cultura. O funcionamento intelectual mais
sociais apenas no início da vida das crianças e as oportunidades que se complexo desenvolve-se graças a regulações realizadas por outras
abrem para cada uma delas são muitas e variadas, adquirindo destaque, pessoas que, gradualmente, são substituídas por auto-regulações. Em
em sua teoria, as formas pelas quais as condições e as interações especial, a fala é apresentada, repetida e refinada, acabando por ser
humanas afetam o pensamento e o raciocínio. internalizada, permitindo à criança processar informações de uma forma
mais elaborada.
A construção do pensamento complexo e do abstrato
Piaget e Vygotski: Diferenças e semelhanças
Para Vygotski, o processo de formação de pensamento é,
portanto, despertado e acentuado pela vida social e pela constante Do ponto de vista de DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), tanto
comunicação que se estabelece entre crianças e adultos, a qual permite Piaget com o Vygotski concebem a criança como um ser ativo, atento,
a assimilação da experiência de muitas gerações. que constantemente cria hipóteses sobre o seu ambiente. Há, no
entanto, grandes diferenças na maneira de conceber o processo de
Como foi citado por DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), a linguagem desenvolvimento. As principais delas, em resumo, são as seguintes:
segundo Vygotski intervém no processo de desenvolvimento intelectual
da criança praticamente já desde o nascimento. Quando os adultos a) Quanto ao papel dos fatores internos e externos no
nomeiam objetos, indicando para a criança as várias relações que estes desenvolvimento
mantêm entre si ela constrói formas mais complexas e sofisticadas de Piaget privilegia a maturação biológica; Vygotski, o ambiente
conceber a realidade. Sozinha, não seria capaz de adquirir aquilo que social. Piaget, por aceitar que o fatores internos preponderam sobre os
obtém por intermédio de sua interação com os adultos e com as outras externos, postula que o desenvolvimento segue uma sequência fixa e
crianças, num processo em que a linguagem é fundamental. universal de estágios. Vygotski, ao salientar o ambiente social em que a
Desenvolvimento e aprendizagem criança nasceu, reconhece que, em se variando esse ambiente, o
desenvolvimento também variará. Neste sentido, para este autor, não se
Vygotski considera três teorias principais que discute a relação pode aceitar uma visão única, universal, de desenvolvimento humano.
entre desenvolvimento e aprendizagem. Na primeira, desenvolvimento é
encarado como um processo maturacional que ocorre antes da b) Quanto à construção real
aprendizagem, criando condições para que esta se dê. É preciso haver Piaget acredita que os conhecimentos são elaborados
um determinado nível de desenvolvimento para que certos tipos de espontaneamente pela criança, de acordo com o estágio de
aprendizagem sejam possíveis. Esta é, em essência, a posição desenvolvimento em que esta se encontra. A visão particular e peculiar
defendida por Piaget. Na segunda teoria, a comportamentalista ou (egocêntrica) que as crianças mantêm sobre o mundo vai,
behaviorista, a aprendizagem é desenvolvimento, entendido como progressivamente, aproximando-se da concepção dos adultos; torna-se
acúmulo de respostas aprendidas. Nessa concepção, o desenvolvimento socializada, objetiva. Vygotski discorda de que a construção do
ocorre simultaneamente à aprendizagem, ao invés de precedê-la. O conhecimento proceda do individual para o social. Em seu entender a
terceiro modelo teórico sugere que desenvolvimento e aprendizagem são criança já nasce num mundo social e, desde o nascimento, vai formando
processos independentes que interagem, afetando- se mutuamente: uma visão desse mundo através da interação com adultos ou crianças
aprendizagem causa desenvolvimento e vice-versa. mais experientes. A construção do real é, então, mediada pelo
Para Vygotski, no entanto, nenhuma das propostas acima é interpessoal antes de ser internalizada pela criança. Desta forma,
satisfatório, muito embora ele reconheça que aprendizagem e procede-se do social para o individual, ao longo do desenvolvimento.
desenvolvimento sejam fenômenos distintos e interdependentes, cada c) Quanto ao papel da aprendizagem
um tornando o outro possível. Questionando a interação entre estes dois
Piaget acredita que a aprendizagem subordina-se ao
processos, Vygotski aponta o papel da capacidade do homem de
desenvolvimento e tem pouco impacto sobre ele. Com isso, ele minimiza
entender e utilizar a linguagem.
o papel da interação social. Vygotski, ao contrário, postula que
Assim vê a inteligência como habilidade para aprender, desenvolvimento e aprendizagem são processos que se influenciam
desprezando teorias que concebem a inteligência como resultado de reciprocamente, de modo que, quanto mais aprendizagem, mas
aprendizagens prévias, já realizadas. Para ele, as medidas tradicionais desenvolvimento.
de desenvolvimento, que se utilizam de testes psicológicos
Segundo Piaget, o pensamento aparece antes da linguagem, que Na criança, as possibilidades de crescimento existem como
apenas é uma das formas de expressão. A formação do pensamento capacidade biopsicológicas potenciais. Dessa maneira, a realização
depende, basicamente, da coordenação dos esquemas sensoriomotores efetiva dessas capacidades depende das condições sócio-culturais
e não da linguagem. Esta só pode ocorrer depois que a criança já disponíveis. É diferente se a mesma criança for colocada para viver num
alcançou um determinado nível de habilidades mentais, subordinando- ambiente com boa alimentação e condições sanitárias adequadas, onde
se, pois aos processos de pensamento. A linguagem possibilita à criança existem oportunidades para viver situações de trabalho e de prática de
evocar um objeto ou acontecimento ausente na comunicação de esportes, ou em outro ambiente onde estas características não se
conceitos. Piaget, todavia, estabeleceu uma clara separação entre as encontram presentes.
informações que podem ser passadas por meio da linguagem e os É importante salientar que um menino ou menina desnutrida, por
processos que não parecem sofrer qualquer influência dela. Este é o sofrer uma diminuição sensível em seu tônus muscular, apresentem
caso das operações cognitivas que não podem ser trabalhadas por meio características tais como apatia, menor capacidade de concentração e
de treinamento específico feito com o auxílio da linguagem. Por exemplo, de atenção etc. Como consequência, o padrão de interação estabelecido
não se pode ensinar, apenas usando palavras, a classificar, a seriar, a com ele/ela é menos estimulante do que aquele que se mantém com uma
pensar com reversibilidade. criança robusta, alerta e atenta. Com isto, as trocas cognitivas e efetivas
Já para Vygotski, pensamento e linguagem são processos que a criança desnutrida poderia ter com seu ambiente empobrecem-se,
interdependentes, desde o início da vida. A aquisição da linguagem pela perdem o vigor.
criança modifica suas funções mentais superiores: ela dá uma forma Por isso é possível considerar que o crescimento e o
definida ao pensamento, possibilita o aparecimento da imaginação, o uso desenvolvimento são processos praticamente inseparáveis, ainda que
da memória e o planejamento da ação. Neste sentido, a linguagem, distintos. A curva do crescimento nem sempre coincide com o do
diferentemente daquilo que Piaget postula, sistematiza a experiência desenvolvimento. A primeira tende a atingir seu ponto mais alto quando
direta das crianças e por isso adquire uma função central no a maturação biológica é alcançada. A curva do desenvolvimento, por
desenvolvimento cognitivo, reorganizando os processos que nele estão outro lado, é contínua, acompanhando o homem durante toda a sua vida.
em andamento.
O processo de crescimento culmina com o aparecimento de um
2. Crescimento e desenvolvimento: o biológico em interação com tipo de adulto previsto geneticamente. Já o processo de desenvolvimento
o psicológico e o social propicia a construção do padrão de individualidade que caracteriza cada
Peter Pan (O menino que não queria crescer), sabia que crescer sociedade. Ambos os processos produzem, no indivíduo, mudanças
significava tornar-se adulto, implicava ter que mudar sua aparência física físicas, mentais, emocionais e sociais. Compreender o crescimento e o
e assumir novos papéis. Por isso Peter Pan queria continuar menino. desenvolvimento humano exige, assim que se pense no homem - e em
Essa era a maneira de não enfrentar as mudanças que necessariamente si mesmo - não apenas do ponto de vista biológico mas, principalmente,
viriam com o crescimento. Ora, quando se fala em crescimento, em geral como alguém que é historicamente determinado.
as pessoas estão se referindo ao aspecto quantitativo da evolução 3. Questionando o caráter inato da aptidão, prontidão e
humana. inteligência
As razões que provocam o crescimento e ocasionam tantas A teoria da aptidão é amplamente defendida pela ideologia das
modificações não são de todos conhecidas. Até hoje, por exemplo, não diferenças individuais. A aptidão é vista como um “dom”, uma certa
há consenso entre os biólogos a respeito de por que as células crescem habilidade inata, que se refere a um estado específico presente no ser
e se organizam. No entanto toda matéria viva tem necessidade de humano. Todavia, muito embora seja verdade que existem diferenças no
manter um equilíbrio entre meio interno e meio externo, o crescimento potencial biológico dos indivíduos, não se pode aceitar a noção de que
pode ser entendido como uma das consequências das trocas entre aptidão seja uma “disposição natural”, inata e herdade.
organismo e meio. A alimentação, a luz, a temperatura e a composição
Na verdade, se os educadores adotarem essa visão, estarão
química do meio contribuem para a dinâmica de crescimento. De igual
prejudicando as crianças e adolescentes que frequentam a escola numa
maneira, também os hormônios são importantes para o equilíbrio dos
sociedade desigual como é a brasileira, onde as oportunidades de se
diferentes órgãos e tecidos.
desenvolver através da educação escolar não são uniformes. Justificar o
O crescimento humano não é, desta maneira, mera manifestação fracasso ou o sucesso dos alunos através da teoria da aptidão - da
do biológico, mas também expressão da condições existentes no mundo crença de que uns são mais capazes do que outros para o estudo - é
social, em especial, dos avanços técnicos e das conquistas culturais. desconsiderar o grande peso exercido pelas condições de vida da família
O crescimento humano ocorre dentro de um espaço em contínua e pela própria instituição escolar sobre a aprendizagem.
transformação pela ação social. Nele, o psíquico e o biológico estão em
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Defender tal visão significa, sobretudo, ocultar a determinação Contudo, mais recentemente, essa posição foi revista. Sem se
econômica que se encontra na base do desenvolvimento humano. desprezar o papel da herança biológica na inteligência, reconhece-se,
hoje, que esta pode ser afetada drasticamente pelo ambiente. Nesse
É mais adequado entender a aptidão como uma disposição vaga sentido, ela pode ser melhor entendida como uma interação complexa
e imprecisa do indivíduo, sobre a qual a educação atua no sentido de entre a hereditariedade e a experiência. Assim, o fato de uma criança ir
promover o desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor, social, linguístico, bem na escola, ser criativa, resolver satisfatoriamente certas situações-
etc. Vista dessa ótica, a aptidão não passa de uma tendência para problemas e por isso ser tida como inteligente, não pode ser atribuído
adquirir e aprofundar novos padrões de ação e de pensamento. Indica exclusivamente a uma herança biológica. O sucesso dessa criança deve
possibilidades de aprendizagem, onde preferências naturais se mesclam ser explicado, sobretudo , pela oportunidade que tem de interagir em
e se complementam com preferências adquiridas, garantindo os ambientes estimulantes, seja em casa, na escola, seja na vizinhança. Se
refinamentos e mobilidades necessárias à vida em sociedade. Assim, só ela vivesse em condições diferentes - em um ambiente apático, pouco
se deve considerar as aptidões à luz do meio físico e social em que as rico ou motivador - dificilmente ela seria percebida como inteligente e
crianças vivem, uma vez que este pode ser favorável ou desfavorável criativa.
àquelas.
Daí a necessidade de se investigar mais de perto o principal
A teoria da aptidão não serve, pois, para orientar uma prática que resultado dos esforços para se medir a inteligência: os teste de QI.
beneficie os alunos, auxiliando-os a dominar e a superar as suas Entende-se por QI (quociente de inteligência) o resultado alcançado em
dificuldades de aprendizado. Pelo contrário, ela tem sido usada muitas testes de nível mental, onde uma série de tarefas, em ordem crescente
vezes para esconder atuações inadequadas da escola, deslocando um de dificuldades, é apresentada a crianças, adolescentes ou adultos.
problema, que é do ensino, para a aprendizagem. Além do mais, quem Cada uma das tarefas do teste está posicionada dentro do nível previsto
decide se a aptidão está ou não presente? O uso de “testes de aptidão” para uma determinada idade. Imagine-se que uma criança de oito anos
pode ser enganoso. Tais testes não vão além de quantificar respondeu corretamente todos os itens que se supunha que uma criança
comportamentos e atitudes ausentes aparentes: não medem disposições de nove anos pudesse responder. Quando ela chegou aos quesitos da
complexas em constante transformações, nem o significado cultural das idade de dez anos ela só acertou metade deles e, naqueles destinados
mesmas, ou seja, a sua utilidade num determinado grupo social. aos onze anos, só se saiu bem em um quarto. Todos os itens dos doze
É importante que o professor não exponha a criança anos foram errados. A idade mental dessa criança, pois, é de 9 anos + 6
prematuramente a tarefas que ela ainda não é capaz de dominar, pois meses (1/2 de um ano) + 3 meses (1/4 de um ano) + 0, o que dá, como
isto redundaria em fracasso da aprendizagem ou em aprendizagem à resultado, 9 anos e 9 meses ( ou seja, 9 anos + 75% de 1 ano). O
custa de grandes sacrifícios e sofrimentos. Mas o educador pode (e quociente de inteligência é obtido dividindo-se a idade mental pela idade
deve) aproveitar ao máximo as oportunidades de aprendizagem, não cronológica e multiplicando-se o resultado por 100.
adiando as mesmas indefinidamente, em busca do “estado ideal” de No exemplo dado, o QI dessa criança é:
prontidão. Fundamental é conhecer como o aluno age em determinada
situação, propor-lhe sucessivos desafios e participar, com ele, da tarefa QI = 9.75 (idade mental) X 100 = 121.8
de solucioná-los. Neste trabalho o professor dá pistas aos estudantes 8 (idade cronológica)
para que eles percebam seus comportamentos e aquilo que lhes é
O fato que deve ser questionado, quando se discute a ação da
exigido.
escola, é que o QI não costuma ser encarado como aquilo que é - o
A falta de prontidão para realizar determinadas atividades muitas resultado de um teste de inteligência - mas, muitas vezes, é tomado com
vezes acaba se transformando em justificativa convincente para alguns sinônimo da própria inteligência.
professores, sempre que as crianças “não aprendem” na medida do
Essa concepção circular (“O que é inteligência? - É resultado que
esperado. Como resultado, quem ensina tende a se isentar de toda e
se obtém no teste de QI. - E o que é QI? - É aquilo que mede a
qualquer responsabilidade pelo insucesso dos alunos. Não avalia a
inteligência.”) chega mesmo a existir entre profissionais . Estes, muitas
atuação docente, não se condena a prática pedagógica em sala de aula.
vezes, não deixam claro nem mesmo o teste ou instrumento no qual o QI
Já o termo inteligência também recebe tratamento próprio na visão se baseia. Como o QI tende a ser encarado com algo estável, pouco
inatista. Tal termo se refere a uma noção complexa e de difícil definição. ênfase é colocado nos processos que servem de base às modificações
Até o começo do século atual, a inteligência era encarada como um qualitativas no modo intelectual de se operar.
potencial finito, herdado por ocasião da concepção e que não sofria, ao
Equiparar a inteligência a uma propriedade inata significa rotular
longo do tempo, quaisquer mudanças qualitativas. Nessa visão, a
algumas crianças de “incompetentes” sem nenhuma base para tal. As
inteligência era tida com imutável: o ambiente não causava sobre ela
consequências - como no caso da aptidão - são desastrosas, na medida
nenhum impacto.
em que se supõe que pouco resta para a escola fazer, pois, quando se
supõe que o desempenho insatisfatório é culpa das próprias crianças,
não se avalia - por não se considerar ser este o foco do problema - a
Quando a criança passa a frequentar a escola, ao aprendera ler , Para não perde-lo, frequentemente se registra - de forma
a escrever e a manejar números, ela está apropriando-se de toda uma telegráfica e condensada, com palavras e sinais - a avalanche de ideias
experiência humano-social que levou séculos para ser construída e que que se tem ao pensar. Tais registros servem exclusivamente para o
está sendo continuamente modificada pelo conjunto dos homens. Esta pensador. Somente após trabalho sistemático sobre as anotações, de
é, portanto, a primeira das funções da linguagem: permitir a modo a expandi-las e torná-las comunicáveis, é que o pensamento se
comunicação, a transmissão de informações produzidas ao longo de completa, adquirindo permanência e estabilidade.
muitos séculos de prática histórico-social e, consequentemente, a
O fato de existirem diferentes formas de se registrar o pensamento
assimilação de uma infinidade de conhecimentos que de forma alguma
indica que este pode ser representado, armazenado e transmitido de
poderia resultar da atividade individual isolada.
várias maneiras. A forma de pensar que acaba por se impor ao longo do
A linguagem também tem outra importante função: ela organiza, desenvolvimento intelectual da criança depende das condições
articula e orienta o pensamento. Quando a criança começa a designar oferecidas pelo mundo ‘a sua volta: as atividades culturais disponíveis no
objetos e eventos do mundo exterior com palavras isoladas ou ambiente, os interesses da família e da escola, os bens materiais aos
combinação de palavras, está descriminando esses objetos, esta quais se tem aceso e o papel desempenhado por adultos e professores.
prestando atenção em suas características , podendo guardá-las na Aos poucos, o aprendiz vai construindo os conteúdos do seu pensamento
memória. Com isso, a criança está livre do aqui-e-agora: pode, com a e desenvolvendo uma forma de pensar que nada mais é do que o produto
ajuda da linguagem, relembrar situações passadas e prever eventos da ação conjunta de todos estes fatores.
futuros. Pode lidar com objetos , pessoas e fenômenos do ambiente,
Dessa forma o pensamento, enquanto busca constante de
mesmo quando eles não se encontram presentes. A linguagem permite,
significados e que permeia, contribui e dá forma a todas as atividades
assim, que o ser humano se distancie da experiência imediata, fato que
humanas, pode se amparar em diferentes linguagens. Nota-se, no
assegura o aparecimento da imaginação e do ato criativo.
entanto, que, qualquer que seja ela, os conteúdos do pensamento e sua
Um outro aspecto essencial da linguagem é a palavra. forma de se expressar não constituem meros reflexos do mundo que
rodeia a criança.
As palavras não servem apenas para representar coisas e
eventos. Na verdade, atuam no sentido de abstrair as propriedades e A apreensão de novos conhecimentos requer, sobretudo, apoio em
características fundamentais das coisas e eventos a quais referem. estruturas e processos internos já desenvolvidos . Sobre esta base ,
Com isso, tornam possível relacionar elementos semelhantes entre si e noções e relações novas entrelaçam-se com relações e noções antigas,
agrupá-los em categorias. Dessa forma, propicia processos de num processo ativo e dinâmico. Nesse sentido, todas as modalidades de
abstração e generalização que são muito importantes para o raciocínio. linguagem utilizadas pelo pensamento são importantes, na medida em
que se promovem sua organização, orientação e comunicação, ao longo
A linguagem pode ser também considerada como um elemento
da interação social.
central no processo de regulação do comportamento humano. Mas logo
ela aprende a organizar e controlar seu próprio comportamento e a A linguagem na escola
prever as consequências da sua ação futura, analisando-a à luz da
A linguagem , tanto oral quanto escrita, é fundamental na escola.
experiência anterior, seja ela transmitida ou vivida. Desta forma, na base
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Em especial, o ensino destinado aos meninos e meninas das - de natureza sócio-econômica - que se encontram na base das
camadas diferenças entre as diferentes classes sociais. Tais causas se refletem
de baixa renda, majoritários da população brasileira, deve dar especial nas diferentes modalidades de linguagem que as diferentes classes
atenção a linguagem. sociais utilizam e que terminam tendo peso distinto para o sucesso
escolar. A desvalorização dos padrões linguísticos e culturais das
Geralmente, a escola exige das crianças que falem e escrevam de classes dominadas, que perpassa tanto a teoria da “deficiência” como a
acordo com o padrão “culto”, estigmatizando e censurando as variações da “diferença” linguística, as levou, portanto, a contribuir para manter as
linguísticas utilizadas pelos alunos, ou seja, suas formas específicas de desigualdades sociais.
falar. Esse padrão “culto” de linguagem, entretanto, corresponde à forma
de falar dos grupos sociais privilegiados , parte do fracasso escolar pode Para combater a seletividade escolar, defendendo o direito de
ser atribuído ao tratamento que a escola dá à questão da linguagem. todos à educação e à apropriação dos conhecimentos, é preciso assumir
uma postura política em relação à linguagem.
A linguagem e o fracasso escolar
Para tanto, o “dialeto” de prestígio falado pelas classes sociais
Para alguns, as crianças provenientes de famílias de baixa renda privilegiadas deve ser colocado a serviço da classes desfavorecidas. Isso
fracassam na escola por terem uma linguagem “pobre”, pouco elaborada pode ser feito criando-se situações nas quais os alunos, dialogando com
e com vocabulário reduzido. Essa linguagem “pobre”, “”deficiente” seria o professor acerca do mundo, do livro, deles mesmos etc., possam ir-se
resultado da “”pobreza” do contexto cultural em que tais crianças vivem apropriando da variante linguística privilegiada pela escola, ao mesmo
e não serviria para expressar o pensamento lógico ou formal, tempo em que a sua cultura e o modo de expressão próprio dela não
consequentemente, a necessidade de programas para “remediar” essa deixam de ser reconhecidos.
situação, fornecendo a essas crianças uma educação “compensatória”
das deficiências causadas por seu ambiente familiar e cultural. 3- A apropriação dos conceitos científicos
Tal teoria da “deficiência” linguística deve ser criticada. Em No processo de conhecimento é preciso considerar a presença de
primeiro lugar, ela não procura as causas do fracasso escolar nas alguém que conhece - o sujeito - e de algo a ser conhecido - o objeto.
relações que se estabelecem entre educação e sociedade no sistema Entre o sujeito e o objeto do conhecimento estabelecem-se relações que
capitalista. requerem um elemento mediador. Esta ideia fica mais clara quando
fazemos uma comparação entre trabalho material e o trabalho intelectual.
Nele, a função da escola não é a de eliminar as diferenças sociais,
mas adaptar os alunos às mesmas. Em segundo lugar, admitir a Ambos exigem, para a sua realização, o emprego de instrumentos
existência de uma deficiência cultural nas populações de baixa renda que atuem como mediadores na relação sujeito/objeto . No trabalho
significa acreditar que elas possuem uma cultura inferior, fato já bastante material realizado sobre a natureza, a enxada, o serrote, o torno, o tear
contestado pela Antropologia: todas as culturas possuem integridade e são instrumentos “físicos” que permitem ao sujeito ( lavrador ,
coerência , não sendo possível, portanto, estabelecer comparações( marceneiro, ceramista e tecelão) atuar sobre a matéria-prima. No
negativas ou positivas) de umas em relação a outras. Finalmente, todas trabalho intelectual, os principais instrumentos são os conceitos, ou seja,
as línguas atendem às necessidades e características da cultura a que propriedades abstratas apreendidas a partir da interação com objetos ou
servem, constituindo instrumentos efetivos de comunicação social. eventos, em situações variadas.
Assim, não há por que considerar que existam linguagens “deficientes”. A partir da aquisição da linguagem pela criança, os conceitos se
Uma outra teoria - a da “diferença” linguística - surge para se expressam através das palavras, que representam generalizações de
contrapor àquela que se acabou de expor. Nesta nova abordagem a objetos, eventos ou fenômenos. A palavra “gato” pôr exemplo, refere-se
linguagem das crianças das classes sociais desfavorecidas é a diferentes raças , cada uma com as suas peculiaridades, as quais são
reconhecida como diferente daquela empregada pelas crianças das abstraídas e resumidas no conceito “gato” , que é expresso pôr essa
classes privilegiadas , mas não como deficiente. Diferenças encontradas palavra. Entretanto, à medida que as crianças se desenvolvem, os
em testes de linguagem realizados com crianças dos dois grupos sociais conceitos expressos pelas palavras vão aos poucos ganhando graus
não se explicariam, nessa nova ótica, pôr inferioridade linguística dos cada vez maiores de abstração e, consequentemente , de generalização.
mais pobres. O problema estaria na forma como eles encaravam a Isto significa que o sujeito aprende sempre novas propriedades ou
situação de testarem. As crianças das famílias trabalhadoras tenderiam características do objeto, evento ou fenômeno, aumentando o seu
a senti-la como uma ameaça e pôr isso se retrairiam. conhecimento sobre ele e, em razão disso, expandindo o alcance do
conceito que exprime tal conhecimento. Gato, mamífero, vertebrado,
Há ainda uma terceira teoria para explicar a questão, do “capital” animal, ser vivo, constituem uma sequência de palavras que partindo do
linguístico. Essa nova proposta questiona os pressupostos das teorias objeto concreto “gato”, adquirem cada vez maior abrangência,
anteriores, segundo os quais a escola poderia ajudar a superar as dependendo do grau de abstração e generalização oferecido pelo
diferenças sociais. Para ela, tanto a teoria da deficiência quanto a da conceito. Por exemplo, “ser vivo”, por ser mais abstrato e
diferença linguística pecam por não investigarem as causas estruturais
Manifestações na prática escolar – A influência da pedagogia Papel da escola – Não é próprio da pedagogia libertadora falar
tecnicista remonta à 2ª metade dos anos 50 (PABAEE – Programa em ensino escolar, já que sua marca é a atuação “não-formal”.
Brasileiro-americano de Auxilio ao Ensino Elementar). Entretanto foi Entretanto, professores e educadores engajados no ensino escolar vêm
introduzida mais efetivamente no final dos anos 60 com o objetivo de adotando pressupostos dessa pedagogia. Assim, quando se fala na
adequar o sistema educacional à orientação político-econômica do educação em geral, diz-se que ela é uma atividade onde professores e
regime militar: inserir a escola nos modelos de racionalização do sistema alunos, mediatizados pela realidade que apreendem e da qual extraem o
de produção capitalista. E quando a orientação escolanovista cede lugar conteúdo de aprendizagem, atingem um nível de consciência dessa
à tendência tecnicista, pelo menos no nível de política oficial; os marcos mesma realidade, a fim de nela atuarem, num sentido de transformação
de implantação do modelo tecnicista são as leis 5.540/68 e 5.692/71, que social. Tanto a educação tradicional, denominada “bancária” – que visa
reorganizam o ensino superior e o ensino de 1º e 2º graus. A despeito da apenas depositar informações sobre o aluno –, quanto a educação
máquina oficial, entretanto, não há indícios seguros de que os renovada – que pretenderia uma libertação psicológica individual – são
professores da escola pública tenham assimilado a pedagogia tecnicista, domesticadoras, pois em nada contribuem para desvelar a realidade
pelo menos em termos de ideário. A aplicação da metodologia tecnicista social de opressão. A educação libertadora, ao contrário, questiona
(planejamento, livros didáticos programados, procedimentos de concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e
avaliação etc.) não configura uma postura tecnicista do professor; antes, com os outros homens, visando a uma transformação – daí ser uma
o exercício profissional continua mais para uma educação crítica.
Conteúdos de ensino – As matérias são colocadas à disposição Pressupostos de aprendizagem – As formas burocráticas das
do aluno, mas não são exigidas. São um instrumento a mais, porque instituições existentes, por seu traço de impessoalidade, comprometem
importante é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo o crescimento pessoal. A ênfase na aprendizagem informal, via grupo, e
grupo, especialmente a vivência de mecanismos de participação crítica. a negação de toda forma de repressão visam favorecer o
“Conhecimento” aqui não é a investigação cognitiva do real, para extrair desenvolvimento de pessoas mais livres. A motivação está, portanto, no
dele um sistema de representações mentais, mas a descoberta de interesse em crescer dentro da vivência grupal, pois supõe-se que o
respostas às necessidades e às exigências da vida social. Assim, os grupo devolva a cada um de seus membros a satisfação de suas
conteúdos propriamente ditos são os que resultam de necessidades e aspirações e necessidades.
interesses manifestos pelo grupo e que não são, necessária nem Somente o vivido, o experimentado é incorporado e utilizável em
indispensavelmente, as matérias de estudo. situações novas. Assim, o critério de relevância do saber sistematizado
Método de ensino – É na vivência grupal, na forma de autogestão, é seu possível uso prático. Por isso mesmo, não faz sentido qualquer
que os alunos buscarão encontrar as bases mais satisfatórias de sua tentativa de avaliação da aprendizagem, ao menos em termos de
própria “instituição”, graças à sua própria iniciativa e sem qualquer forma conteúdo.
de poder. Trata-se de “colocar nas mãos dos alunos tudo o que for Outras tendências pedagógicas correlatas – A pedagogia
possível: o conjunto da vida, as atividades e a organização do trabalho libertária abrange quase todas as tendências antiautoritárias em
no interior da escola (menos a elaboração dos programas e a decisão educação, entre elas, a anarquista, a psicanalista, a dos sociólogos, e
dos exames que não dependem nem dos docentes, nem dos alunos)”. também a dos professores progressistas. Embora Neill e Rogers não
Os alunos têm liberdade de trabalhar ou não, ficando o interesse possam ser considerados progressistas (conforme entendemos aqui),
pedagógico na dependência de suas necessidades ou das do grupo. não deixam de influenciar alguns libertários, como Lobrot. Entre os
O progresso da autonomia, excluída qualquer direção de fora do estrangeiros devemos citar Vasquez e Oury entre os mais recentes,
grupo, se dá num “crescendo”: primeiramente a oportunidade de Ferrer y Guardia entre os mais antigos. Particularmente significativo é o
contatos, aberturas, relações informais entre os alunos. Em seguida, o trabalho de C. Freinet, que tem sido muito estudado entre nós, existindo
grupo começa a se organizar, de modo que todos possam participar de inclusive algumas escolas aplicando seu método.
discussões, “cooperativas, assembleias, isto é, diversas formas de Entre os estudiosos e divulgadores da tendência libertária pode-
participação e expressão pela palavra; quem quiser fazer outra coisa, ou se citar Maurício Tragtenberg, apesar da tônica de seus trabalhos não
entra em acordo com o grupo, ou se retira. No terceiro momento, o grupo ser propriamente pedagógica, mas de crítica das instituições em favor de
se organiza de forma mais efetiva e, finalmente, no quarto momento, um projeto autogestionário.
parte para a execução do trabalho.
2.3 TENDÊNCIA PROGRESSISTA
Relação professor-aluno – A pedagogia institucional visa “em “CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS”
primeiro lugar, transformar a relação professor-aluno no sentido da não-
Papel da escola – A difusão de conteúdos é a tarefa primordial.
diretividade, isto é, considerar desde o início a ineficácia e a nocividade
Não conteúdos abstratos, mas vivos, concretos e, portanto,
de todos os métodos à base de obrigações e ameaças”. Embora
indissociáveis das realidades sociais. A valorização da escola como
professor e aluno sejam desiguais e diferentes, nada impede que o
instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que se presta
professor se ponha a serviço do aluno, sem impor suas concepções e
aos interesses populares, já que a própria escola pode contribuir para
ideias, sem transformar o aluno em “objeto”. O professor é um orientador
eliminar a seletividade social e torná-la democrática. Se a escola é parte
e um catalisador, ele se mistura ao grupo para uma reflexão em comum.
integrante do todo social, agir dentro dela é também agir no rumo da
Se os alunos são livres frente ao professor, também este o é em transformação da sociedade. Se o que define uma pedagogia crítica é a
relação aos alunos (ele pode, por exemplo, recusar-se a responder uma consciência de seus condicionantes histórico-sociais, a função da
pergunta, permanecendo em silêncio). Entretanto, essa liberdade de pedagogia “dos conteúdos” é dar um passo à frente no papel
decisão tem um sentido bastante claro: se um aluno resolve não transformador da escola, mas a partir das condições existentes. Assim,
participar, o faz porque não se sente integrado, mas o grupo tem a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a
responsabilidade sobre este fato e vai se colocar a questão; quando o todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares
professor se cala diante de uma pergunta, seu silêncio tem um básicos que tenham ressonância na vida dos alunos. Entendida nesse
significado educativo que pode, por exemplo, ser uma ajuda para que o sentido, a educação é “uma atividade mediadora no seio da prática social
grupo assuma a resposta ou a situação criada. No mais, ao professor global”, ou seja, uma das mediações pela qual o aluno, pela intervenção
Papel da Escola: Consiste na preparação intelectual e moral dos Método: O esforço do professor é praticamente dobrado para
alunos, compromisso com a cultura, os menos capazes devem lutar para facilitar a aprendizagem do aluno. Boa relação entre professor e aluno.
superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes. Professor x Aluno: A pedagogia não-diretiva propõe uma
Conteúdos de Ensino: Valores sociais acumulados pelos educação centrada. O professor é um especialista em relações humanas,
antepassados. As matérias preparam o aluno para a vida. Conteúdos toda a intervenção é ameaçadora.
separados das realidades sociais. Pressupostos: A motivação resulta do desejo de adequação
Método: Exposição verbal da matéria, preparação do aluno, pessoal da auto-realização, aprender, portanto, é modificar suas próprias
apresentação, associação, exercícios e repetições. percepções, daí se aprende o que estiver significamente relacionados.
Professor x Aluno: Predomina a autoridade do professor. O Prática Escolar: As ideias do psicólogo C. Rogers é influenciar o
número expressivo de educadores, professores, orientadores,
professor transmite o conteúdo na forma absorvida. Disciplina rígida.
psicólogos escolares.
É importante operar com algoritmos na matemática ou na física, Quando a LDB destaca as diretrizes curriculares específicas do
mas o estudante precisa entender que, frente àquele algoritmo, está de ensino médio, ela se preocupa em apontar para um planejamento e
posse de uma sentença de linguagem, da linguagem matemática, com desenvolvimento do currículo de forma orgânica, superando a
seleção de léxico e com regras de articulação/relações que geram uma organização por disciplinas estanques e revigorando a integração e
significação e que, portanto, é a leitura e escrita da realidade de uma articulação dos conhecimentos num processo permanente de
situação desta. interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Essa proposta de
organicidade está contida no Art.36 .
A base nacional comum traz em si a dimensão de preparação para
o trabalho. Esta dimensão tem que apontar para que este mesmo Art.36...
algoritmo seja um instrumento na solução de um problema concreto, que I — destacará a educação tecnológica básica, a compre- ensão
pode dar conta da etapa de planejamento, gestão ou produção de um do significado da ciência, das letras e das ar- tes; o
bem. Aponta também que a linguagem verbal se presta à compreensão processo histórico de transformação da socie- dade e
ou expressão de um comando ou instrução clara, precisa, objetiva; que da cultura; a língua portuguesa como instru- mento de
a Biologia lhe dá os fundamentos para a análise do impacto ambiental, comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da
de uma solução tecnológica, ou para a prevenção de uma doença cidadania;
profissional.
A organicidade dos conhecimentos fica mais evidente ainda,
Enfim, aponta que não há solução tecnológica sem uma base quando o Art.36, da LDB, estabelece, em seu parágrafo 1º, as
científica e que, por outro lado, soluções tecnológicas podem propiciar a competências que o aluno , ao final do ensino médio deve demonstrar:
produção de um novo conhecimento científico.
Art.36...
Esta educação geral que permite buscar informação, gerar
§ 1º — Os conteúdos, as metodologias e as formas de avali- ação
informação, usá-las para solucionar problemas concretos na produção
serão organizados de tal forma que ao final do ensino
de bens ou na gestão e prestação de serviços, é preparação básica para
médio o educando demonstre:
o trabalho. Na verdade, qualquer competência requerida no exercício
profissional, seja ela psicomotora, sócio-afetiva ou cognitiva é um I — domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
afinamento das competências básicas. Esta educação geral permite a presidem a produção moderna;
construção de competências que se manifestarão em habilidades
II — conhecimento das formas contemporâneas de lin-
básicas, técnicas ou de gestão.
guagem;
Ressalve-se que uma base curricular nacional organizada por
III — domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Socio-
áreas de conhecimento não implica na desconsideração ou
logia necessários ao exercício da cidadania” .
esvaziamento dos conteúdos, mas na seleção e na integração dos que
são válidos para o desenvolvimento pessoal e para o incremento da
participação social. A Lei 9394/96 ao estabelecer como fundamentais o domínio dos
Esta concepção curricular não elimina o ensino de conteúdos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia não está propondo a inclusão
específicos, mas considera que os mesmos devem fazer parte de um destas ou de quaisquer outras disciplinas mas, indicando, a importância
processo global com várias dimensões articuladas. do desenvolvimento de “referências que permitam a articulação entre os
conhecimentos, a cultura, as linguagens e a experiência dos alunos”.
A base nacional comum destina-se ‘a formação geral do educando
(Favaretto).
e deve assegurar que as finalidade propostas em lei, bem como o perfil
de saída do educando sejam alcançados de forma a caracterizar que a Segundo Favaretto” a Filosofia é antes de mais nada uma
educação básica seja uma efetiva conquista de cada brasileiro. disciplina cultural, pois a formação que propicia diz respeito à significação
dos processos culturais e históricos” (Ver no documento de Ciências
Garantir o desenvolvimento de competências e habilidades
Humanas e suas tecnologias ).
básicas comuns a todos os brasileiros é uma garantia de
democratização. A definição destas competências e habilidades servirá No que se refere à Sociologia trata-se de orientar o currículo no
de parâmetro para a avaliação da educação básica em nível nacional. sentido de” contribuir para que o aluno desenvolva sua autonomia
intelectual, de forma a ser capaz de confrontar diferentes interpretações
O Art. 26 da LDB, determina a obrigatoriedade, nessa base
e construir sua própria versão do mundo”. (Martins ; ver documento
nacional comum, de “ estudos da Língua portuguesa e da matemática, o
Ciências Humanas e suas tecnologias )
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e
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O perfil de saída do aluno do ensino médio está diretamente A parte diversificada do currículo deve expressar, ademais das
relacionado às finalidades desse ensino, conforme determina o Art.35 da incorporações dos sistemas de ensino, as prioridades estabelecidas no
Lei: projeto da unidade escolar e a inserção do educando na construção do
seu currículo. Considerará as possibilidades de preparação básica para
Art.35 — O ensino médio, etapa final da educação básica...terá o trabalho e o aprofundamento em uma disciplina ou uma área, sob forma
como finalidade: de disciplinas, projetos ou módulos em consonância com os interesse de
I — a consolidação e aprofundamento dos conhecimen- tos alunos e da comunidade a que pertencem. O desenvolvimento da parte
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o diversificada pode ocorrer no próprio estabelecimento de ensino ou em
prosseguimento de estudo; outro estabelecimento conveniado. É importante esclarecer que o
desenvolvimento da parte diversificada não implica em profissionalização
II — a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
mas na diversificação de experiências escolares com o objetivo de
educando como pessoa humana, incluindo a forma-
enriquecimento curricular ou mesmo, aprofundamento de estudos
ção ética e o desenvolvimento da autonomia intelec-
quando o contexto assim exigir. O seu objetivo principal é desenvolver e
tual e do pensamento crítico;
consolidar conhecimentos das áreas de forma contextualizada e
III — a compreensão dos fundamentos científicos- referidos a atividades das práticas sociais e produtivas.
tecnológicos dos processos produtivos, relacionan-
do a teoria com a prática, no ensino de cada discipli-
na. A PARTE DIVERSIFICADA E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
É importante compreender que a base nacional comum não pode A preparação geral para o trabalho decorre das diretrizes
constituir uma camisa de força que tolha a capacidade dos sistemas, dos estabelecidas, no Art.27, para os currículos de educação básica:
estabelecimentos de ensino e do educando de usufruírem da flexibilidade “Art. 27 — Os conteúdos curriculares da educação básica ob-
que a lei não só permite como estimula. servarão , ainda, as seguintes diretrizes:
Essa flexibilidade deve ser assegurada, tanto na organização dos I — ...
conteúdos mencionados em lei, quanto na metodologia a ser
desenvolvida no processo ensino-aprendizagem e na avaliação. II — ...
As considerações gerais sobre legislação indicam a necessidade III — orientação para o trabalho “
de construir novas alternativas de organização curricular comprometidas, Na seção IV, do capítulo II da Lei nº9394/96, o Art.35 estabelece,
de um lado, com o novo significado do trabalho no contexto da dentre as finalidades do ensino médio.
globalização e, do outro, com o sujeito ativo que se apropriará desses
“ Art.35...
conhecimentos para aprimorar-se, como tal, no mundo do trabalho e na
prática social. O fato destes Parâmetros Curriculares terem sido I — ...
organizados em cada uma das áreas por disciplinas potenciais não
II — a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
significa que estas são obrigatórias ou mesmo recomendadas. O que é
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser
obrigatório pela LDB ou pela Resolução nº 03/98, são os conhecimentos
capaz de se adaptar com flexibilidade a novas
que estas disciplinas recortam e as competências e habilidades a eles
condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteri-
referidos e mencionados nos citados documentos.
ores,”
A PARTE DIVERSIFICADA DO CURRÍCULO
Essa preparação geral para o trabalho faz parte da formação geral
A parte diversificada do currículo , destina-se, a atender às do educando e pode ser desenvolvida no próprio estabelecimento de
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia ensino ou em cooperação com instituições especializadas, conforme
e da clientela. (Art.26;Lei9394/96). Complementa a base nacional disposto no §4º, do Art.36, da Lei nº9394/96.
comum e será definida em cada sistema de ensino e estabelecimento
Numa interpretação do dispositivo legal, o Decreto nº2208, de 17
escolar.
de abril de 1997, que trata da educação profissional, estabelece:
Do ponto de vista dos sistemas de ensino está representada pela
“ Art.5º — A educação profissional de nível técnico terá organi-
formulação de uma matriz curricular básica, que desenvolva a base
zação curricular própria e independente do ensino
nacional comum, considerando as demandas regionais do ponto de vista
médio.
sócio-cultural, econômico e político. Deve refletir uma concepção
curricular que oriente o ensino médio no seu sistema, significando-o, sem Parágrafo único. As disciplinas de caráter profissio-
impedir, entretanto, a flexibilidade da manifestação dos projetos nalizante, cursadas na parte diversificada do currícu-
curriculares das escolas. lo de ensino médio, até o limite de 25% do total da
LÍNGUA PORTUGUESA
À escola cabe fazer com que o aluno perceba que ele convive com
uma pluralidade de normas autênticas, devendo, ainda, levá-lo a se
conscientizar da qual faz uso e que existe uma de maior prestígio social.
Esta percepção e conscientização deve ser orientada de forma que não
se construa nenhum tipo de preconceito linguístico, para que a língua se
efetive enquanto mecanismo de socialização do conhecimento e da
cultura de um povo.
MATEMÁTICA
Denomina-se História a trajetória dos homens nas sociedades. O conceito de fato histórico é referencial para a seleção e
Deste modo, todas as ações, valores, costumes e instituições organização de conteúdos e atividades didáticas. Atualmente, admite- se
construídas pelos homens são históricas e não apenas aquelas como fatos históricos todos os acontecimentos ocorridos em uma
registradas através da linguagem escrita, mas também as expressas sociedade. Nesta concepção, ampliaram-se as possibilidades de
oralmente, por gestos, músicas e demais formas de representação. discussão histórica, visto que desde manifestações culturais, modos de
Desconsideram-se, assim, a demarcação entre pré-história e história e a trabalhar, diversão, deliberações político - institucionais, até estruturas
exclusão das sociedades que instituem expressões diferentes daquelas familiares, relações de gênero2 e assim por diante são passíveis de
mais presentes no mundo ocidental. serem contemplados nos currículos de Histórica do ensino fundamental.
O intuito é de inclusão da História das pessoas comuns nas salas de aula.
CAMPO DE INVESTIGAÇÃO
Também denomina-se História o conhecimento produzido no O uso da linguagem é, marcantemente, determinado pela sua
espaço escolar a partir das interpretações sobre a trajetória humana e natureza sócio-interacional, uma vez que quem a usa considera as
das experiências vivenciadas por professores e alunos. Como saber pessoas envolvidas no processo de interação, atuando no mundo social
escolar, o conhecimento histórico equaciona as considerações obtidas a em um determinado momento e espaço.
partir de pesquisas sistemáticas e vivências cotidianas próprias ao grupo
Para que essa sócio-interação seja efetivada, faz-se necessária a
social, à região e às culturas locais.
utilização de três tipos de conhecimento:
A investigação e o ensino-aprendizagem da História pressupõem
• sistêmico;
a compreensão do que vem a ser sujeito, tempo e fato histórico.
• de mundo;
Denominam-se sujeitos históricos aqueles que promovem as
mudanças e marcam as permanências próprias à dinâmica histórica. • da organização textual.
Na historiografia contemporânea, os protagonistas da história são os O conhecimento sistêmico, que envolve os níveis da organização
indivíduos, grupos sociais, classes e nações que definem com ações e linguística (léxico-semânticos, morfológicos, sintáticos e fonéticos-
concepções as suas trajetórias no mundo. Neste sentido, reconhece-se fonológicos), permite que escolhas gramaticalmente adequadas sejam
que o curso da História não é definido apenas pelas deliberações de feitas toda vez que algum enunciado for produzido.
dirigentes políticos e/ou grupos econômicos, mas também pelas pessoas
comuns. Logo, o ensino-aprendizagem da História permite ao educando O de mundo, organizado na memória em blocos de informação,
reconhecer que cabe a ele reafirmar ou transformar a sua realidade. refere-se ao conhecimento convencional que as pessoas têm sobre as
coisas, variando de indivíduo para indivíduo, já que reflete as
A organização dos programas curriculares de História geralmente experiências e vivências de cada um.
é orientada por uma concepção de tempo meramente cronológica. Os
acontecimentos são dispostos numa sequência de dias, anos e séculos. Finalmente, o da organização textual engloba as diversas
Na organização dos conteúdos, apenas leva-se em conta a proximidade maneiras particulares que as pessoas usam, durante um processo intera-
cronológica com o presente. Entretanto, a dinâmica histórica é percebida cional, para organizar a informação em textos orais e escritos, pois cada
através de permanências e mudanças. É preciso considerar a língua apresenta uma estruturação linguística que lhe é peculiar,
existência de durações temporais diferentes, percebendo a fazendo-se necessário que os usuários e/ou aprendizes da
multiplicidade do tempo histórico, que escapa à mera cronologia.
Diante do exposto, é possível perceber que a aprendizagem desta De acordo com os PCN, historicamente, o ensino de Língua
vai além da aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas, Estrangeira sempre esteve atrelado à busca do método ideal, o qual era
contribuindo, também, para a formação de uma nova percepção de visto como um modelo pronto e definitivo, mas cada um era descartado
linguagem, através da compreensão do funcionamento da língua sucessivamente para dar lugar a algum outro mais atraente, à medida
estrangeira, assim como da própria língua materna, além de desenvolver que eram apresentados novos métodos. Apenas no fim da década de
a percepção da própria cultura por meio da compreensão da cultura 80 é que estes métodos (audiolingual, audiovisual, gramática e tradução
estrangeira. etc.) passaram a ser criticados e questionados, já que se apresentavam
como uma mera prescrição de expressões e estruturas gramaticais e/ou
A aprendizagem de Língua Estrangeira pode, ainda, desempenhar idiomáticas, totalmente descontextualizadas e, portanto, não
uma função interdisciplinar, através da sua relação com outras áreas de demonstrando ao alunado a sua real funcionalidade para o seu
conhecimento, principalmente História, Geografia e Arte. Como para se desenvolvimento sócio-cultural.
aprender uma língua estrangeira é necessário entender os aspectos
sociais, políticos, econômicos e culturais das sociedades onde é
utilizada, torna-se importante uma compreensão mútua entre estas ARTES –DANÇA
disciplinas, cujo papel construtivo para a educação formal envolve um
É notório que a dança, está arraigada em diversas manifestações
complexo processo de reflexão sobre a realidade. O conhecimento
culturais. Pode-se perceber essa efervescência da dança na sociedade:
artístico deve permear todo o processo de ensino da língua, pois constitui
nos atos religiosos, nas festas populares, nas tradições, na educação, na
fonte de referência para o entendimento de diversas culturas, ajudando,
mídia e na própria produção artística, dentre outros.
assim, a compreender a cultura e, consequentemente, a função social da
língua estrangeira que está sendo aprendida e/ou utilizada. Essa faceta da identidade cultural baiana tem contribuído para que
a dança esteja presente em diversos projetos artísticos-educativos
Embora a aprendizagem de uma língua estrangeira seja um direito
espalhados pela cidade, além de já fazer parte do corpo curricular de
de todo cidadão, conforme expresso na Lei de Diretrizes e Bases da
diversas escolas.
Educação Nacional (Lei no 9.394), § 5o do art. 26, seção I, capítulo II:
Mesmo com todas essas particularidades encontradas, a dança,
Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente,
em muitas das experiências realizadas nas escolas, não conseguiu ainda
a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira
interagir de uma forma satisfatória com o currículo, bem como, muitas
moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das
vezes, esteve presa a velhos modelos pedagógicos que desvincularam
possibilidades da instituição.
o aluno de sua realidade cultural e social.
O que se observa, usualmente, é que essa área de conhecimento
De um modo geral, a dança, no âmbito escolar, por força da antiga
vem sendo ministrada, em algumas regiões, em apenas uma ou duas
LDB, foi considerada durante muitos anos como uma atividade
séries do ensino fundamental e, em outras, é vista como uma simples
extracurricular e configurou-se, na maioria das vezes, como oficinas que
atividade, não tendo caráter de promoção ou reprovação.
se distanciaram das demais áreas de conhecimento. Em adição, por falta
O contexto da dança, na cultura baiana, apresenta uma variedade A música tem sido incluída nos diversos processos educacionais
de formas que vão desde as manifestações populares até as danças pelos mais variados motivos. Poderia ser feito um grande inventário
cênicas, do passado e do presente, e trazem, subjacente, determinadas sobre todos os motivos que levaram a se incluir a música nos currículos
representações de corpo, estética e dança, que podem ser re- escolares ao longo da história, porém, o que parece ser mais importante,
significadas, mantidas ou escamoteadas, ao mesmo tempo em que é que o espaço que a atividade musical poderá ocupar na cultura escolar
surgem novas concepções, fato este que pode ser percebido em vai depender da compreensão que se tem da música e da importância
diferentes estilos de dança. que esta possui para a vida do cidadão.
Por outro lado, não se deve ignorar que a dança, como as outras O antropólogo Alan Merrian tratou de identificar os usos e funções
artes, também vem sofrendo influência da massificação da indústria da música em diferentes sociedades e sinalizou as que se seguem: de
expressão emocional, de prazer estético, de entretenimento, de
comunicação, de representação simbólica, de resposta corporal, de
ARTES VISUAIS
EDUCAÇÃO FÍSICA
A CONSTRUÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Permeiam assim todas as questões que circundam os ambientes • Desenvolvimento da avaliação institucional da escola.
escolares, presentes no P.P.P, desde sua estrutura, planejamento,
• Ampliação e conservação do acervo e serviços bibliográfi-
interação e currículo, efetivando uma ação ideológica presente no
cos prestados à comunidade interna e externa da escola e a
contexto social existente, comprometendo-se com o desenvolvimento do
integração desse acervo, sempre que possível, ao acervo da
indivíduo e sua autonomia, preocupando-se também, com um calendário
multimídia.
escolar bem estruturado para organizar toda essa construção.
• Qualificação e desenvolvimento funcional do pessoal técni-
Necessita determinar, em questões temporais, reflexões entre
co-administrativo e técnico-pedagógico.
grupo escolar, formação e oportunizar aos alunos outros espaços, para
fazer a escola acontecer dentro de seus interesses pressupostos em seu • Agilização da prática administrativo-pedagógica com quali-
trabalho de ensino. dade.
O Projeto Político-Pedagógico, como vimos, organiza o trabalho Para que isto ocorra, poderá haver necessidade de mudança na
pedagógico da escola como um todo na busca de melhoria da qualidade própria lógica da organização das instâncias superiores (Secretarias de
do ensino. A base para essa organização da escola são seus alunos, a Educação), implicando uma mudança substancial nas suas práticas.
partir dos quais desenvolvemos a concepção, a realização e a avaliação É essencial que sejam propiciadas condições aos alunos,
do projeto educativo. professores e funcionários que lhes permitam aprender a pensar e a
É importante ressaltar que na construção do Projeto estará realizar o fazer pedagógico da forma mais efetiva e crítica.
sempre presente uma relação recíproca entre a dimensão política e a O Projeto Político-Pedagógico visa à qualidade em todo o
dimensão pedagógica da escola. processo vivido pela escola. Não é um rearranjo formal da instituição
Quanto à implantação, dentro de um processo democrático de escolar.
decisões, o Projeto considera os seguintes aspectos: • A organização do trabalho pedagógico da escola tem a ver
1) a análise dos conflitos (abrindo espaço para gerenciá-los, com a organização da sociedade. Nesta perspectiva, a es-
pois são momentos abertos à criatividade); cola é vista como uma instituição social, inserida na socie-
dade refletindo as determinações e contradições dessa so-
2) a eliminação das relações corporativas e autoritárias; ciedade.
3) o rompimento da burocracia excessiva que permeia as re- Sabemos que há uma desigualdade no ponto de partida da
lações na escola, tanto as de ordem técnico-administrativa carreira estudantil. As condições sociais são um mecanismo de
como as de ordem técnico-pedagógica; e classificação entre os que chegaram às portas da escola.
4) a diminuição dos efeitos fragmentários da divisão do traba- A seleção reflete um sistema social perverso, no qual existem
lho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de mecanismos de exclusão. A escola deve ser uma agência de mediação
decisão. social que, com qualidade, facilite a igualdade de acesso de todos a ela.
O Projeto Político-Pedagógico organiza o trabalho pedagógico em
dois níveis: o da escola como um todo, sem perder de vista sua relação
com o contexto social imediato; e em particular, em nível da sala de aula, O PROJETO PEDAGÓGICO NA ESCOLA PÚBLICA
incluindo as ações do professor na dinâmica da sala de aula. A questão da autonomia escolar e de seu desdobramento num
A construção do Projeto Político-Pedagógico passa pela projeto pedagógico é, como problema, típico da escola pública que, a não
autonomia da escola, e de sua capacidade de delinear sua própria ser em raríssimas exceções, integra uma rede de escolas e, por isso,
identidade. Na sua construção, está sempre sujeita a interferências de órgãos externos responsáveis
pela organização, administração e controle da rede escolar. Essa
deve ficar claro que a escola é um espaço público, lugar de situação não é, em si mesma, negativa, mas frequentemente acaba
debate, de diálogo, fundado na reflexão coletiva. sendo, porque órgãos centrais, com maior ou menor amplitude, tendem
A construção do Projeto Político-Pedagógico necessita de um a desconhecer a peculiaridade de distintas situações escolares e
referencial que fundamente a sua construção: decidem e orientam como se todas as unidades fossem idênticas ou
muito semelhantes. A consequência mais óbvia e indesejável de
• Os alicerces estão nos pressupostos de uma teoria peda-
tentativas de homogeneização daquilo que é substantivamente
gógica crítica viável, que parta da prática social e esteja
heterogêneo é o fato de que as escolas ficam ou sentem-se desoneradas
compromissada em solucionar seus problemas institucio-
da responsabilidade pelo êxito de seu próprio trabalho, já que ele é
nais.
continuamente objeto de interferências externas, pois ainda que essas
Há a necessidade, também, do domínio dos aspectos interferências sejam bem intencionadas não levam em conta que a
metodológicos indispensáveis à concretização das concepções instituição “escola pública” é uma diversidade e não uma unidade.
assumidas coletivamente:
É aí que reside um grave problema da escola pública e é para
As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de resolvê-lo que se reivindica a autonomia do estabelecimento na
tensão, de correlações de forças - às vezes favoráveis, às vezes elaboração e execução do projeto escolar próprio. Hoje, a própria lei
desfavoráveis. Terão que nascer do próprio “chão da escola”. Compete, reconhece o problema e indica a solução genérica, mas na sua
assim, à administração da escola viabilizar inovações pedagógicas implementação o problema pode reviver e até se agravar pelo risco de
planejadas, através de ação de cada membro da escola, pertencentes que órgãos da administração entendam que convém estabelecer
aos segmentos dos alunos, professores, funcionários e comunidade
Esses cursos foram organizados com base em uma concepção do Na escola de ontem, o professor e seus poucos alunos tinham a
trabalho docente, como se este consistisse simplesmente em ensinar mesma extração social e partilhavam valores e maneiras de viver. Cabia
alguma coisa para alguém. Para realizar com êxito essa tarefa, o futuro aí, talvez, entender, até certo ponto, a função docente à semelhança de
professor — um meio especialista em alguma disciplina — aprende uma preceptoria. Aliás, numa perspectiva histórica, pode-se dizer que o
algumas noções de didática geral e especial, de psicologia da preceptorado foi a atividade fundadora da docência escolar tal como ela
aprendizagem e de legislação. A parte prática da formação é, se consolidou. Na antiga Grécia, os sofistas foram na verdade os
supostamente, completada por estágios supervisionados por um primeiros professores, no sentido em que até hoje entendemos a
professor da disciplina em questão. No fundo, essa formação pressupõe profissão. Eles não eram investigadores da verdade, mas “homens de
que o professor será um preceptor que deverá ensinar algo a alguém ofício, cujo êxito comercial comprovava o valor intrínseco e a eficácia
numa relação individualizada. Não se trata de fazer uma caricatura, mas social” de seu ensino. Mediante um pagamento, por vezes elevado, eles
de propor uma hipótese, a de que nossos cursos de licenciatura ainda ensinavam grupos de jovens numa relação de “preceptorado coletivo”,
não conseguiram focalizar a relação educativa no ambiente em que ela conforme a expressão de Marrou.
realmente ocorre, isto é, na sala de aula que, por sua vez, integra-se Essa relação pedagógica preceptoral, desde sua origem, foi uma
numa escola. O chamado “processo ensino- aprendizagem”, por relação educativa de elite, refluindo a cada expansão da escola onde a
exemplo, é uma abstração. O professor individual que ensina e o aluno relação era outra. Ao longo dos séculos, cada vez mais, a presença do
individual que aprende são ficções. Seres tão imaginários como aqueles preceptor foi sendo distintiva de casas reais, nobreza, grande burguesia
a que se referem expressões como “homo oeconomicus” ou “aluno e outros afortunados. No fim do século passado, H. Durand dizia que o
médio” ou “sujeito epistêmico” e outras semelhantes. preceptadorado é “um assunto mais vasto do que parece, ele diz respeito
Não se trata de pôr em dúvida a necessidade teórica e prática de inteiramente ao problema da escolha entre a educação particular e a
expressões estatísticas ou abstratas, mas da utilidade que elas possam educação pública”, isto é, entre educação de elite e educação popular.
ter para orientar práticas de ensino muito pouco conhecidas que ocorrem Hoje, a própria instituição da preceptoria desapareceu como
em situações escolares muito diferentes. Por exemplo, é muito frequente instituição educativa, mas não sem deixar vestígios na pedagogia, nas
ouvir-se que houve uma deterioração da escola pública a partir de sua teorias da aprendizagem e na própria concepção do professor. De
maciça expansão nos últimos 30 anos. Essa alegação, aparentemente qualquer modo, seria ocioso comparar, em termos de eficiência, práticas
banal e simples, tem, contudo, uma pressuposição altamente discutível preceptoriais com práticas escolares. Tratam-se de elementos próprios
e provavelmente falsa. Trata-se da ideia de que havia uma instituição de relações pedagógicas que tiveram origem em situações sociais
social chamada “escola pública” que cumpria a contento certas funções distintas nas quais prevaleciam concepções de educação diferentes. No
sociais e que, agora, essa mesma instituição está malogrando com entanto, até hoje a concepção do professor,
relação a essas mesmas funções. Em resumo:
Na definição do Projeto Pedagógico da escola, é, ainda, Definida a sua postura, a escola vai trabalhar no sentido de formar
indispensável selecionar as metodologias mais adequadas ao grupo com cidadãos conscientes, capazes de compreender e criticar a realidade,
que se trabalha e ao desenvolvimento das competências e atuando na busca da superação das desigualdades e do respeito ao ser
conhecimentos. humano.
A distribuição do tempo e a utilização de espaços educativos, na Quando a escola assume a responsabilidade de atuar na
escola e fora da escola, ganham centralidade na nova proposta. É transformação e na busca do desenvolvimento social, seus agentes
possível que o desenvolvimento de atividades ou projetos exijam uma devem empenhar-se na elaboração de uma proposta para a realização
realocação dos tempos, de modo a não prejudicar a sequência do que desse objetivo. Essa proposta ganha força na construção de um projeto
foi planejado e a permitir a participação de vários professores. político-pedagógico.
Circunscrever as experiências de aprendizagem ao espaço escolar, é
Um projeto político - pedagógico ultrapassa a mera elaboração de
desconsiderar as inúmeras oportunidades que se colocam, desde o
planos, que só se prestam a cumprir exigências burocráticas:
espaço mais próximo à escola a outros que possibilitam a apreensão do
conhecimento de pontos de vista diversos. “O projeto político-pedagógico busca um rumo, uma direção. É
uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso
A visita aos espaços que contam a história da cidade, conhecer
definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é,
museus, bibliotecas públicas, parques, entrar em contato com outras
também, um projeto político por estar intimamente articulado ao
Identificar a estratégia do gestor no projeto político-pedagógico é, a) o projeto diz respeito à concepção de escolas socialmente
antes de mais nada, localizar os elementos que propiciam a determinadas e referidas ao campo educativo;
investigaçãoação que exige novas formas de organização, a combinação b) na fase de reflexão é que a instituição define e assume uma
e utilização de várias técnicas investigativas. É certo que as inovações identidade que se expressa por meio do projeto;
se desenvolvem na prática cotidiana, ou seja, realizam-se no processo
c) o projeto serve de referente à ação de todos os agentes que
de construção/implementação dos projetos pedagógicos. Dessa forma,
intervêm no ato educativo;
os resultados da inovação ultrapassam as questões técnicas sem
prescindir delas e opõem-se às orientações da racionalidade da ciência d) o desenvolvimento do projeto implica a existência de um
conservadora (Santos, 1987). conjunto de condições, sem as quais ele poderá estar con-
denado a tornar-se apenas mais um “formulário administra-
Em resumo, a inovação emancipatória ou edificante pressupõe
tivo”;
uma ruptura que, acima de tudo, predisponha as pessoas e as
instituições para a indagação e para a emancipação. e) a participação só poderá ser assegurada se o projeto per-
Consequentemente, a inovação não vai ser um mero enunciado de seguir os objetivos dos atores e grupos envolvidos no ato
princípios ou de boas intenções... educativo, em sua globalidade.
A inovação emancipatória ou edificante é de natureza ético-social O projeto político-pedagógico dá o norte, o rumo, a direção; “Ele
e cognitivo-instrumental, visando à eficácia dos processos formativos sob possibilita que as potencialidades sejam equacionadas, deslegitimando
a exigência da ética. A inovação é produto da reflexão da realidade as formas instituídas” (Veiga, 2000, p. 192).
interna da instituição referenciada a um contexto social mais amplo.
Sob esta ótica, o projeto político-pedagógico apresenta algumas
Este ponto é de vital importância para se avançar na construção características fundamentais:
de um projeto político-pedagógico que supere a reprodução acrítica, a
a) É um movimento de luta em prol da democratização da es-
rotina, a racionalidade técnica, que considera a prática um campo de
cola que não esconde as dificuldades e os pessimismos da
aplicação empirista, centrada nos meios.
realidade educacional, mas não se deixa levar por esta,
Organizar as atividades-fim e meio da instituição educativa, por procurando enfrentar o futuro com esperança em busca de
meio do projeto político-pedagógico sob a ótica da inovação novas possibilidades e novos compromissos. É um movi-
emancipatória e edificante, traz consigo a possibilidade de alunos, mento constante para orientar a reflexão e ação da escola.
professores, servidores técnico-administrativos unirem-se e separarem-
b) Está voltado para a inclusão a fim de atender a diversidade
se de acordo com as necessidades do processo.
de alunos, sejam quais forem sua procedência social, ne-
O projeto político-pedagógico, na esteira da inovação cessidades e expectativas educacionais (Carbonell, 2002);
emancipatória, enfatiza mais o processo de construção. É a configuração projeta-se em uma utopia cheia de incertezas ao compro-
da singularidade e da particularidade da instituição educativa. Bicudo meter-se com os desafios do tratamento das desigualdades
afirma que a importância do projeto reside “no seu poder articulador, educacionais e do êxito e fracasso escolar.
evitando que as diferentes atividades se anulem ou enfraqueçam a
c) Por ser coletivo e integrador, o projeto, quando elaborado,
unidade da instituição” (2001, p. 16). Inovação e projeto político-
executado e avaliado, requer o desenvolvimento de um
pedagógico estão articulados, integrando o processo com o produto
clima de confiança que favoreça o diálogo, a cooperação, a
porque o resultado final não é só um processo consolidado de inovação
negociação e o direito das pessoas de intervirem na toma-
metodológica no interior de um projeto político-pedagógico construído,
da de decisões que afetam a vida da instituição educativa e
desenvolvido e avaliado coletivamente, mas é um produto inovador que
de comprometerem-se com a ação.
provocará também rupturas epistemológicas.
O projeto não é apenas perpassado por sentimentos, emoções e
Não podemos separar processo de produto.
valores. Um processo de construção coletiva fundada no princípio da
Sob esta ótica, o projeto é um meio de engajamento coletivo para gestão democrática reúne diferentes vozes, dando margem para a
integrar ações dispersas, criar sinergias no sentido de buscar soluções construção da hegemonia da vontade comum. A gestão democrática
alternativas para diferentes momentos do trabalho pedagógico- nada tem a ver com a proposta burocrática, fragmentada e excludente;
administrativo, desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os ao contrário, a construção coletiva do projeto político-pedagógico
protagonistas para a explicitação de objetivos comuns definindo o norte inovador procura ultrapassar as práticas sociais alicerçadas na exclusão,
das ações a serem desencadeadas, fortalecer a construção de uma na discriminação, que inviabilizam a construção histórico- social dos
coerência comum, mas indispensável, para que a ação coletiva produza sujeitos.
1. APRESENTAÇÃO
INOVAÇÕES E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO. 1.1. Identificação: Nome da Instituição, endereço, contatos,
Nesta perspectiva, o projeto pedagógico inovador amplia a fundação, mantenedora etc.
autonomia da escola e esta? “nunca é empreendida a partir do 1.2. Breve histórico: para que o professor, aluno ou cooperado
isolamento e do saudosismo, mas a partir do intercâmbio e da que estão ingressando conheçam o contexto do nascimento e
cooperação permanente como fonte de contraste e enriquecimento” desenvolvimento de sua cooperativa educacional.
(Carbonell, 2002, p. 21).
1.3. Projeto Político-Pedagógico:
2. MARCO REFERENCIAL
2.1.2. Grandes princípios e valores humanos 4.6. Disciplina (regras de convivência) - geralmente estão em
regimento ou regulamento anexo, mas que deve ser coerente com o PPP,
2.1.3. Princípios do cooperativismo pois este é a Constituição da Escola (sugestão: que o regimento
2.1.4. Lembrar-se dos autores mais caros ao cooperativismo disciplinar seja revisto tão logo seja concluída a elaboração do PPP).
educacional: Freinet e Paulo Freire 4.7. Sistema de Avaliação do Rendimento dos alunos e controle
de frequência (não é demais lembrar que deve haver coerência entre
este sistema e a Teoria de Aprendizagem adotada)
2.2. MARCO REFERENCIAL ESPECÍFICO DA EDUCAÇÃO
4. PROGRAMAÇÃO
- as possibilidades
4.1. Calendário (se o PPP for revisto todo ano) - destaque para os
eventos
De acordo com a definição de cada escola, o currículo pode ser As propostas pedagógicas das escolas deverão ainda assegurar
ordenado em séries anuais de disciplinas, áreas de estudo ou atividades. o tratamento interdisciplinar e contextualizado para:1) Educação Física e
Também pode ser adotada uma organização em períodos semestrais e Arte, como componentes curriculares obrigatórios; 2) Conhecimentos de
em ciclos, desde que esta assegure o relacionamento, a ordenação e a filosofia e sociologia, necessários ao exercício da cidadania.
sequência dos estudos. O currículo escolar, como conjunto de conhecimentos e
A oferta de estudos de recuperação é obrigatória e deve ser feita, experiências de aprendizagem oferecido aos estudantes, passa por
preferencialmente, de forma paralela ao período letivo regular, ao invés vários níveis ou instâncias de elaboração.
de ser oferecida entre os períodos. Esta mudança de orientação, Fora da escola, estabelecem-se prioridades a partir da política
estabelecida pela nova LDB, estimula que as correções de curso sejam educacional, organizam-se diretrizes, leis, orientações e indicações dos
feitas durante o seu desenvolvimento, de maneira que as dificuldades conteúdos de ensino; os saberes são selecionados, organizados,
sejam superadas sem afetar a progressão do aluno em relação ao sequenciados e frequentemente detalhados em materiais como livros
conteúdo. didáticos.
O Ensino Médio possui a duração de três séries e uma jornada
Atuam nesse processo as autoridades educacionais, as
escolar anual de 2.400 horas-aula de atividades, distribuídas por um
universidades, os autores de livros didáticos, as editoras etc.
mínimo de 200 dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo
reservado aos exames finais. Resultante de todas essas discussões e decisões negociadas, o
currículo formal - previsto, documentado, recomendado, que sofreu
O Ensino Médio ainda não é obrigatório como o Ensino
várias reelaborações servirá como grande parâmetro para organizar a
Fundamental. Por enquanto, a Constituição determina como dever do
ação no ambiente da escola, mas não será exatamente replicado,
Estado a progressiva extensão de sua obrigatoriedade.
repassado, ou distribuído para os alunos. Isso porque a escola não
O Ensino Técnico corresponde a um dos níveis de Educação executa simplesmente decisões curriculares tomadas fora dela; também
Profissional e funciona de maneira paralela ou sequencial ao Ensino elabora seu currículo, que é mais do que o recorte de cultura organizado
Médio. Na estrutura organizacional do MEC, a Secretaria de Educação pare ser distribuído na escola.
Média e Tecnológica responde pelo nível médio de ensino acadêmico e
pelo nível técnico de Educação Profissional.
A ADEQUAÇÃO DO CURRÍCULO À REALIDADE ESCOLAR
A reforma do Ensino Médio, promovida pelo MEC, alterou
significativamente as diretrizes curriculares desse nível de ensino, à O currículo real, aquele que se desenvolve na escola, toma forma
e corpo na prática pedagógica. O currículo formal é transformado
O CONHECIMENTO-PRODUTO NÃO SURGE COMO ALGO DADO Nóvoa (1998), por exemplo, afirma que as atividades da escola
desenvolvidas”numa pedagogia centrada essencialmente na sala de aula
Essa abordagem do conhecimento considerado como processo e
(com) horários escolares rigidamente estabelecidos que põem em prática
produto é detalhada e aprofundada por Leite (1995), que discute
um controlo social do tempo escolar, saberes organizados em disciplinas
concepções de conhecimento e o processo complexo de sua produção,
escolares que são as referências estruturantes do ensino e do trabalho
em que intervêm a determinação histórica imediata, mas também a
pedagógico” (p. 22),contribuem de forma acentuada para aumentar as
concepção de mundo que perpassa as ações humanas, e relações
dificuldades de aprendizagens das crianças.
sociais específicas; o conhecimento-produto não surge como algo dado,
acabado e neutro, mas carrega, mesmo como resultado pronto, as Para o autor e demais críticos da organização curricular que tem
marcas do processo inacabado, provisória e histórico de sua construção. como base o regime seriado, é necessária uma reorganização que
permita uma melhor administração do tempo da escola; é necessário
trabalhar com novas formas de organização curricular, bem como
SUJEITOS INTERAGEM ENTRE SI E redimensionar a forma como os professores(as) trabalham com os
COM LINGUAGENS E SABERES conteúdos, a fim de que a escola básica possa melhorar seu
O conhecimento é então compreendido como construção social, desempenho.
segundo os principais autores da Sociologia do Currículo. Santos e No Brasil, diversos estudos (Krug e Azevedo, 2000; Azevedo,
Moreira (1995, p.51) comentam que ele é “produto de concordância e 1999, 2000; Arroyo, 1999) têm trazido críticas à organização curricular
consentimento de indivíduos que vivem determinadas relações sociais vigente nas escolas de ensino fundamental.
(por exemplo, de classe, raça e gênero) em determinados momentos”.
As críticas ressaltam que nas escolas que adotam o regime
Essa construção, portanto, ocorre pela interação social e depende do
seriado, os tempos e os espaços da escola, do professor(a) e do aluno(a)
contexto social e cultural, de um referencial comum; sujeitos interagem
ficam subordinados, principalmente, aos conteúdos programáticos a
entre si e com linguagens e saberes, trazendo para a relação sua cultura
serem”ensinados” e “aprendidos”; que ao serem colocados como
e seus significados.
elemento central do regime seriado, conteúdos passaram a constituir o
eixo da organização dos graus, das séries, das disciplinas, das grades
AS MUDANÇAS CULTURAIS CHEGAM ÀS ESCOLAS curriculares, das avaliações, das recuperações, das aprovações e das
ATRAVÉS DOS CURRÍCULOS reprovações; que como eixo da organização curricular, os conteúdos
institucionalizaram o caráter precedente e acumulativo de sua
Processo e produto do conhecimento estão presentes na transmissão e apreensão, fazendo com que a criança tenha dificuldades
construção do conhecimento escolar. Assim, vai se tornando claro que na aprendizagem, o que geralmente concorre para a reprovação e/ou
selecionar conteúdos não é apenas fazer uma lista de conhecimentos evasão escolar, principalmente das crianças que em virtude de sua
que se transmitem num modelo escolhido a priori, mas que o currículo condição socioeconômica não conseguem ter outros meios
emerge das condições reais em que se dá o trabalho com o suficientemente significativos para aprender.
conhecimento. É nesse sentido que entendemos a afirmação de Gimeno
Sacristán (1996, p.37), em seu estudo sobre escolarização e cultura: “As As dificuldades de aprendizagem dessas crianças, ainda segundo
mudanças culturais chegam às escolas através dos currículos, mas os autores mencionados,são consequências de um ensino em aulas
apenas na medida em que se plasmam em práticas concretas”. estanques, com ênfase nos rituais de transmissão, de avaliação, de
reprovação, de repetência, etc., que instaurou a predefinição do
Na atual conjuntura problemática em que se encontra a escola, o Para vivenciar o processo de planejamento, incluindo o trabalho
pedagogo deve estimular os professores a prepararem as suas aulas, com planos de ensino, de acordo com as necessidades de um bom
garantindo, deste modo, um trabalho mais competente e produtivo no trabalho pedagógico, é preciso que o grupo de educadores da escola
processo ensino-aprendizagem, no qual o professor seja um bom sinta e assuma a necessidade de transformar a realidade da escola-
mediador entre os alunos (com suas características e necessidades) e sociedade e conceba o planejamento como um dos meios a serem
os conteúdos do ensino. utilizados para efetivar esta transformação.
Três aspectos necessitam ser considerados quando se fala em Vale insistir que o trabalho de planejamento e, consequentemente,
transformação da realidade do planejamento do ensino nas escolas: a tarefa de preparar (pensar e redigir), vivenciar, acompanhar e avaliar
planos de ensino são ações e reflexões que devem ser vivenciadas pelo
• Transformações nas condições objetivas de trabalho do grupo de professores e não apenas por alguns deles.
professor na escola, garantindo espaços nos quais os docentes possam-
se reunir e discutir o próprio trabalho, problematizando-o, como um meio Um segundo aspecto refere-se à necessidade de o grupo de
para o seu próprio aperfeiçoamento. É praticamente impossível falar em educadores ter uma clara percepção dos problemas básicos da sua
processo de planejamento para docentes que permanecem 40 horas escola, curso, disciplina e, principalmente, das suas aulas.
dentro da sala de aula. E isto é uma conquista que a categoria dos Os problemas devem ser identificados, caracterizados, tendo em
profissionais da Educação deve conseguir do Estado, garantindo, é claro, vista a sua superação.
que as “horas-atividades” sejam cumpridas na escola, nas quais as
Os educadores escolares necessitam, pois, desenvolver a atitude-
reuniões, discussões e ações de capacitação deverão ocorrer, numa
habilidade-conhecimento de perceber as “pontas dos problemas”
articulação interessante com a prática social pedagógica cotidiana dos
(manifestações) e, a partir delas, buscar as suas causas (raízes). O
docentes.
processo de buscar as raízes dos problemas representa o esforço para
• Transformações sérias nos cursos que formam educadores - caracterizá-los, identificando todos os aspectos que compõem a
Magistério, Pedagogia e Licenciaturas -, procurando garantir uma situação-problema que deve ser superada.
formação profissional competente e crítica, na qual conhecimentos,
A caracterização do problema é fundamental para a tomada de
atitudes e habilidades sejam trabalhados de forma articulada e coerente,
decisão sobre qual a melhor maneira de superá-lo. E a teoria é um
visando formar um educador comprometido com a democratização da
recurso muito importante neste processo. Ela, nessa perspectiva,
escola e da sociedade brasileira.
funciona como uma espécie de “lupa”, através da qual a realidade é
• A categoria dos profissionais da Educação deve conquistar e analisada e a própria teoria, questionada.
propor uma política para a formação dos educadores em serviço, de
Portanto, diante de manifestações de problemas escolares como
acordo com as necessidades da prática docente, como um processo
evasão, retenção, indisciplina, desinteresse, faltas, atrasos e tantos
efetivo de permanente aperfeiçoamento profissional.
outros, os educadores necessitam identificar suas causas, tendo em vista
Concomitantemente ao processo de conquista de transformações a sua superação.
nas condições de trabalho, formação do educador e capacitação do
O conhecimento e a análise crítica do contexto no qual os
educador em serviço, alguns pontos podem ser sugeridos para o
problemas se manifestam são muito importantes para identificar suas
aperfeiçoamento do trabalho por meio de planos de ensino.
causas, que poderão ser encontradas no interior da própria escola, na
Elaborar, executar e avaliar planos de ensino exige que o estrutura da sociedade e na interação entre a escola e o contexto social
professor tenha clareza (crítica): da função da educação escolar na global.
sociedade brasileira; da função político-pedagógica dos educadores
É bastante comum os educadores escolares apresentarem
escolares (diretor, professores, funcionários, conselho de escola. .); dos
propostas para superar uma situação-problema, pautados apenas em
objetivos gerais da educação escolar (em termos de país, estado,
sua manifestação, sem a devida clareza de quais são as suas origens.
município, escola, áreas de estudo e disciplinas), efetivamente
Este engano termina por frustrá-los, pois eles selecionaram e aplicaram
comprometida com a formação da cidadania do homem brasileiro; do
valor dos conteúdos como meios para a formação do cidadão
E não se compreende um processo de construção verdadeira de - Esses alunos e essas famílias, cujas condições precárias de vida
cidadania, sem o correspondente desenvolvimento cultural, educacional, resultam de uma estrutura de sociedade injusta, não fazem parte dos
político, econômico e social. cursos, livros e teorias das nossa escolas de formação de professores,
senão por uma ótica distorcida de “privação cultural” e “carências” que
A existência de um processo cultural distorcido, dominado pela
nega (porque desconhece) qualquer valor positivo à sua socialização
contra-cultura, pelas prática política clientelistas e pela secundarização
familiar, base indispensável para reverter a expectativa de fracassso, por
dos conceitos de civismo e nacionalismo, inviabiliza qualquer processo
parte dos professores e da instituição escolar, e possibilitar condições de
desenvolvimentista no Brasil. Torna o país incompetente e desajustado
sucesso escolar para as camadas populares através de uma prática
às necessidades de evolução sociedades humanas e faz do
pedagógica que parta da afirmação (o que são, o que fazem, o que
subdesenvolvimento uma atitude permanente.
conhecem).
Os responsáveis pelas escolas públicas continuam apostando na a) ação educacional b) construção social
“privatização cultural”, na carência, “na falta de interesse das famílias e
c) ação cultural d) contexto social
alunos” como principais causas das dificuldades de aprendizagem e
insucesso escolar.
As questões sociais, tais como habitação, subnutrição, 3. Desenvolve-se na escola, toma forma e corpo na prática peda-
subemprego, etc., continuam sendo o argumento mais a mão, para gógica:
acobertar quer os interesses espúrios ao campo da educação, que
a) o currículo formal b) o projeto educacional
movem sua administração, quer a indiferença de muitos de nós,
professores e pesquisadores, encoberta por uma posição fatalista frente c) o trabalho pedagógico d) o currículo real
ao fracasso generalizado das crianças mais pobres que frequentam
nossas escolas públicas. 4. A relação entre educação e política é considerada:
Nas universidades, nas revistas especializadas em educação, nos a) intrínseca b) objetiva
congressos, simpósios, outras questões tem sido tratadas e retratadas
c) subjetiva d) sociológica
na tentativa de superar quer os estigmas, quer o imobilismo reforçador
da desigualdade de tratamento escolar dos diferentes segmentos de
classes sociais; os resultados escolares destes, na maioria das vezes, 5. As propostas pedagógicas das escolas deverão assegurar o
poderiam ser positivos se a escola funcionasse melhor. Mas o melhor tratamento:
funcionamento da escola depende ainda de um trabalho mais decisivo
a) interdisciplinar e contextualizado
de aproximação entre a academia (universidade/pesquisadores) e o
mundo da “escola nossa de cada dia”, para que juntos pensem b) disciplinar e interdisciplinar
alternativas para a recuperação da escola. c) objetivo e subjetivo
É nesse sentido que vemos cada vez mais necessária a relação d) individual e coletivo
cidadania e educação. Nós não temos ainda a escola pública de que
precisamos, mas já começamos a contar, como nos diz o texto de Arroyo,
6. Princípios pedagógicos que passaram a ser adotados como
com um povo bem mais educado por isso mesmo, bem mais capaz de
estruturadores para os novos currículos:
exercitar sua cidadania no sentido de fazer funcionar no setor público a
escola a cidadania de que falamos no início deste texto. a) identidade b) autonomia
O momento, neste final de década, é o de desprivatizar o estado c) diversidade d) todos estão corretos
brasileiro através de uma forte mobilização da sociedade civil no controle
do poder público. Cabe aqui realinhar o comportamento político e uma
7. É elaborado a partir de matérias fixadas a nível nacional, por
prática ética, o que permitirá à nossa sociedade ampliar o espaço público
uma base comum, e a nível regional, por uma parte diversificada:
que acolhe igualmente todos os cidadãos. É esta ética que vai nos levar
a superar a visão do público, como “o de ninguém”, percepção essa que a) o currículo real b) o currículo formal
é a causa principal da indiferença e da descrença nas instituições
c) o currículo pleno d) o currículo social
públicas. Essas, no entanto, são as únicas capazes de
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8. A pratica da socialização percorre diversos espaços, como: d) Nos últimos anos, diversos estudos têm sido dedicados à
história da didática no Brasil, sua relação com as tendên-
a) família e outros grupos primários cias pedagógicas e à investigação do seu campo de co-
b) escola nhecimentos.
c) clubes e sindicatos
17. Compare as afirmativas que são feitas a respeito das Tendên- 20. A relação entre educação e política é considerada:
cias Tecnicista, Progressista e Liberal e assinale a que estiver a) intrínseca b) objetiva
correta:
c) subjetiva d) sociológica
a) A Tendência Tecnicista desenvolveu-se no Brasil na década
de 50, à sombra do progressivismo.
21. Desenvolve-se na escola, toma forma e corpo na prática peda-
b) A Tendência Liberal ganhou autonomia nos anos 60, quando
gógica:
se constituiu como tendência, inspirada na teoria behavio-
rista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensi- a) o currículo formal
no.
b) o projeto educacional
c) A Tendência Progressista subordina a educação à socieda-
c) o trabalho pedagógico
de.
d) o currículo real
d) Na Tendência Liberal a escola atua, assim, no aperfeiçoa-
mento da ordem social vigente.
22. Na construção do Projeto estará sempre presente uma relação
recíproca entre as dimensões:
18. A respeito da Pedagogia Progressista, assinale a incorreta:
a) filosóficas e socioantropologicas da escola
a) As tendências dentro da pedagogia Progressista parte de
uma análise crítica das realidades sociais, sustentando im- b) psicológicas e filosóficas da escola
plicitamente as finalidades sociopolíticas da educação, tor- c) administrativa e funcional da escola
nando-se dessa forma um instrumento de luta dos profes-
d) política e pedagógica da escola
sores ao lado de outras práticas sociais.
c) informações concretas
24. Na gestão democrática a ideologia da burocracia como um fim d) aprendizagens sociais
em si mesma é substituída pela de:
a) organização
30. A concepção democrática-participativa de gestão valoriza:
b) planejamento
a) o desenvolvimento pessoal
c) democracia
b) a qualificação profissional
d) didática
c) a competência técnica
35. A base do trabalho do pedagogo deve ser: 41. Para selecionar e organizar os saberes com vistas à transmis-
são e aprendizagem dos alunos é preciso tomar decisões que
a) a orientação educacional envolvem:
b) a docência a) interesses e conflitos
c) a assistência à direção da escola b) posicionamentos e divergências
d) a liberalidade dos educadores c) sentimentos
a) Articular aluno e professor 42. O currículo que se desenvolve na escola, toma forma e corpo:
b) Articular a atuação do pedagogo com a do professor a) na prática pedagógica
c) Articular estratégias educacionais próximas ao PPP b) na sala de aula
d) Articular conteúdo e forma c) no projeto político pedagógico
d) na realidade do aluno
37. Para favorecer o processo múltiplo, complexo e relacional de
conhecer e incorporar dados novos ao repertório de significados,
utilizando-os na compreensão orgânica dos fenômenos, no enten- 43. A elaboração do projeto político-pedagógico sob a perspectiva
dimento da prática social é necessária a riqueza de: da inovação emancipatória é: