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Apagão da Ciência Brasileira

Lembro que há alguns anos, buscando reportagens para trabalhar em sala de aula,
passei por uma que dizia que Ciência brasileira estava perto de sua "meia-noite". O
tempo foi postergado, mas chegou. Com queima de servidor do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e provável inexistência de backup,
existem grandes chances de uma quantidade tremenda de dados se perder.
Alguns dias depois de manifestantes incendiarem estátua de Borba Gato em São
Paulo, levantando uma discussão sobre o apagamento do patrimônio histórico e
cultural brasileiro, outra fonte de memória se queimou: um servidor do CNPq. Não
havia backup. Ainda não se sabe o tamanho do estrago, que pode ir de alterações no
Currículo Lattes a folhas de pagamento de bolsistas.
Com isso, a ciência sofre mais um ataque: registro e memória fazem parte do fazer
científico, além do impacto negativo que uma falha dessa magnitude pode ter no
financiamento de pesquisas. Uma ciência que já possui tremenda dificuldade de se
manter e produz resultados incríveis a nível mundial, tendo as melhores universidades
da América Latina, pode (e vai) se fragilizar ainda mais.
Falta de investimento
A falta de investimento na ciência é um problema de longa data. Apesar de termos
visto um crescimento nos aportes do Governo Federal para as pesquisas em épocas
passadas, nenhum investimento conseguiu compensar os séculos de atraso. E nos
últimos anos, mais cortes têm produzido novamente um descompasso. A ciência
brasileira é de excelência, apesar do Estado brasileiro.
A notícia do começo do texto, por exemplo, é de 2017 e nela falava-se sobre o
possível corte de luz no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e como isso
afetaria a internet em diversas instituições científicas.
A infraestrutura antiga e precária do CNPq é a provável causa de um acidente com
tamanho impacto. Não é de hoje que se perde a memória brasileira. Lembremos do
Museu Nacional, em 2018, só para citar um dos casos mais emblemáticos do país. E
tudo isso poderia ser de alguma forma evitado.
Lembremos também daquilo que ainda nem pôde se tornar memória: os cortes na
manutenção do Supercomputador Santos Dumont, o anúncio de desligamento do
Supercomputador Tupã, o desmonte do Detector de Ondas Gravitacionais Mario
Schenberg.
Investimentos em Ciência e Educação, Já!
É fundamental que retomemos os investimentos em Ciência e Educação em nosso
país, mas isso demanda alguns outros passos. Primeiro, a derrubada do Governo
Bolsonaro, que com seus ministros da Educação, Milton Ribeiro, e da Ciência, Marcos
Pontes, só faz atacar pesquisadores e professores do Brasil.
É necessária a revogação da PEC do Teto, que impede maiores investimentos pelos
próximos 20 anos. Só com a revogação desta lei poderemos voltar a investir nas
universidades, institutos federais e instituições de pesquisa do Brasil. Investimento em
infraestrutura, em pessoal, em formação, em colaborações.
Mais que isso, é necessário colocar a Ciência e a Educação a serviço do povo
brasileiro. A produção de nossa ciência acaba sendo ditada pelo capital internacional,
ao qual o Governo Bolsonaro é subordinado, que delega ao Brasil apenas um papel
secundário.
Ressaltamos novamente: apesar de todos os ataques, a Ciência e Educação brasileira
resistem. Mas é preciso que não seja mais necessário resistir e que seja possível criar,
inovar e libertar.

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