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BILLY GRAHAM

A caminho de casa

VIDA, FÉ E COMO
TERMINAR BEM
Copyright cvk©2011 William F. Graham, Jr.
Thomas Nelson, Inc. – Nashville, Tennessee
TODOS OS DIREITOS NO BRASIL RESERVADOS PARA
Editora Europa
Rua MMDC, 121
São Paulo, SP
Editor e Publisher: Aydano Roriz
Diretor Executivo: Luiz Siqueira
Diretor Editorial – Livros: Mário Fittipaldi
Tradução do original em inglês: Melina Revuelta
Revisão de Texto: Quéfren de Moura Camargo
Edição de Arte: Jeff Silva
Título original em inglês: Nearing Home / ISBN 978-0-8499-4832-9
Foto da capa: © Charles Ommanney/Getty Images
Nota da edição brasileira

No livro A Caminho de Casa, o autor Billy


Graham cita várias versões da Bíblia — oito, para
ser preciso. Não há traduções em português para
todas elas. Para tentar reproduzir o raciocínio e a
intenção do autor em cada citação, consultamos a
Sociedade Bíblica do Brasil (www.sbb.org.br), que
nos indicou as versões em português mais
aproximadas: As citações indicadas com NASB1 e
NKJV2 foram traduzidas com base na Bíblia
Sagrada – Edição Revista e Atualizada, tradução de
João Ferreira de Almeida, ed. Sociedade Bíblica do
Brasil.
As citações indicadas com KJV3 foram
traduzidas com base na Bíblia Sagrada – Edição
Revista e Corrigida, tradução de João Ferreira de
Almeida, ed. Sociedade Bíblica do Brasil.
As citações indicadas com CEV4, NCV5, NLT6
e PHILLIPS7 foram traduzidas com base na Bíblia
Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje,
ed. Sociedade Bíblica do Brasil.
As citações sem indicação de versão foram
retiradas da Holy Bible, New International Version8
e traduzidas com base na Bíblia Sagrada – Edição
Revista e Atualizada, tradução de João Ferreira de
Almeida, ed. Sociedade Bíblica do Brasil.
Nos casos em que as versões disponíveis em
português não contemplavam a intenção do autor, a
opção foi pela tradução livre. Foram mantidas as
indicações das versões usadas originalmente pelo
autor para permitir que o leitor tenha acesso, sempre
que quiser, ao texto original da citação. Tal
procedimento teve a anuência do próprio Billy
Graham.

1 NASB – New American Standard Bible®, ©1960, 1962, 1963,


1968, 1971, 1972, 1973, 1975, 1977, 1995, The Lockman
Foundation. Uso sob licença.
2 NKJV – New King James Version®, ©1982, Thomas Nelson,
Inc. Uso sob licença. Todos os direitos reservados.
3 KJV – King James Version.
4 CEV – Contemporary English Version, ©1991, American Bible
Society. Uso sob licença.
5 NCV – New Century Version, ©2005, Thomas Nelson, Inc. Uso
sob licença. Todos os direitos reservados.
6 NLT – Holy Bible, New Living Translation, ©1996, 2004, 2007.
Uso sob licença de Tyndale House Publishers, Inc., Wheaton,
Illinois 60189. Todos os direitos reservados.
7 PHILLIPS – J. B. Phillips: The New Testament in Modern
English, Revised Edition, ©1958, 1960, 1972, J. B. Phillips. Uso
sob licença de Macmillan Publishing Co., Inc.
8 Holy Bible, New International Version®, NIV®, ©1973, 1978,
1984, 2011, Biblica, Inc.™. Uso sob licença de Zondervan. Todos
os direitos globais reservados.
Agradeço profundamente a todos aqueles que me
incentivaram a escrever este livro, em especial a
meu filho Franklin e a meus editores da Thomas
Nelson, David Moberg e Matt Baugher. Muito
obrigado a meu sócio de longa data, Dr. John N.
Akers, que trabalhou comigo na elaboração do
manuscrito para publicação e sem a ajuda do qual
este trabalho não teria sido concluído. Muito
obrigado também pelas contribuições de Dr. David
Bruce, Stephanie Wills e Patricia Lynn, que fazem
parte da minha equipe.
Introdução

Nunca achei que chegaria até essa idade.


Durante toda a minha vida, ensinaram-me a
morrer como um cristão, mas ninguém me ensinou
como deveria viver os anos que precedem a morte.
Gostaria de ter aprendido, porque hoje sou um
homem velho e, acredite, não é fácil. O autor dessa
frase estava correto: “a velhice não é para os
fracos”. Escolha qualquer grupo de idosos e eu
praticamente garanto qual é o principal assunto entre
eles: suas dores e indisposições recentes.
Em breve, completarei 93 anos, e sei que não
falta muito para que Deus me chame para subir ao
céu. Anseio por este dia como nunca — não apenas
devido às maravilhas que sei que o paraíso reserva
para mim e para todos os fiéis, mas porque sei que,
finalmente, todo fardo e sofrimento desse estágio da
minha vida irão terminar. No último ano, senti
profundamente os efeitos da degradação física
comum aos idosos. Também anseio por esse dia
porque me reencontrarei com Ruth, minha esposa
amada e minha melhor amiga durante quase 60
anos, que foi para casa em 2007 reunir-se com o
Senhor que ela amou e serviu com tanta fé. Apesar
de me regozijar com o fim de sua luta contra a
fraqueza e a dor, ainda sinto como se parte de mim
tivesse sido arrancada, e a saudade é muito maior do
que eu poderia imaginar.
Não, a velhice não é para os fracos.
Mas esse não é o fim da história, nem Deus quer
que seja dessa forma. Apesar de a Bíblia não tratar
dos problemas que enfrentamos à medida que
envelhecemos, ela também não pinta a velhice como
um tempo a ser desdenhado nem um fardo a ser
carregado com os dentes cerrados (se ainda nos
resta algum). Além disso, ela não descreve nossos
últimos anos como sendo inúteis e improdutivos,
condenados ao tédio infinito e a atividades
insignificantes até que Deus finalmente nos leve para
casa.
Em vez disso, a Bíblia afirma que Deus nos
mantém aqui por alguma razão. Caso contrário, Ele
nos levaria para o céu muito mais cedo. Mas qual é
o objetivo Dele, e como podemos alinhar nossa vida
a tal propósito? Como podemos não apenas
aprender a lidar com os medos, os desafios e as
limitações cada vez mais frequentes, mas também
nos fortalecer internamente em meio a tantas
dificuldades? Como enfrentar o futuro com
esperança ao invés de desespero? Tive que encarar
uma série de questões quando envelheci, e talvez o
mesmo seja válido para você.
Este livro não foi escrito apenas para pessoas mais
velhas, mas para pessoas de todas as fases da vida
— até mesmo para aqueles que nunca pensaram que
um dia irão envelhecer. A ideia é simples: a melhor
forma de vencer os desafios da velhice é se preparar
para eles agora, antes que eles cheguem. Eu o
convido a explorar comigo não apenas as realidades
que a vida nos impõe com o passar dos anos, mas
também a esperança e a realização — e até mesmo a
alegria — que podemos sentir quando aprendemos a
enxergar esses anos do ponto de vista de Deus e
descobrimos na Sua força o apoio de cada dia.
Um dia, nossa jornada chegará ao fim. De certa
forma, estamos todos a caminho de casa. Nesse
percurso, clamo ao Senhor para que você e eu
possamos aprender o que significa envelhecer e,
ainda, com a ajuda de Deus, fazê-lo de forma
abençoada, encontrando a direção para terminarmos
bem.
— Billy Graham
Correndo para a base

Ensina-nos a contar os nossos dias,


para que alcancemos coração sábio.
— Salmo 90.12
Lembre-se que, enquanto filho fiel de Deus,
você espera promoção.
— Vance Havner
Envelhecer foi a maior surpresa da minha vida.
Os jovens vivem para o “aqui e agora”. Pensar
adiante é como sonhar com finais felizes dignos de
contos de fadas. Apesar de estar quase completando
93 anos de idade, não parece fazer muito tempo que
eu era um desses sonhadores, cheio de expectativas
e planejando uma vida que corresponderia à
realização de cada um dos meus desejos. Já que
havia poucas coisas na vida que eu amasse mais do
que o beisebol, desde jovem me dediquei a ele.
Esperava que minha paixão pelo jogo fosse me levar
direto às principais ligas do esporte. Meu objetivo
era simples: estar posicionado na base do batedor,
com o bastão na mão, no meio de um jogo
importante. Eu sempre me imaginava rebatendo a
bola para as arquibancadas do estádio e correndo em
direção à base principal enquanto a multidão
delirava.
Eu nunca poderia imaginar o que estava reservado
para mim. Após entregar meu coração ao Senhor
Jesus Cristo — me arrependendo de meus pecados e
colocando toda a minha vida em Suas mãos —
renunciei aos meus sonhos, junto com o meu bastão,
e abracei completamente os planos de Deus, com fé
que Ele me guiaria durante todo o caminho. Ele o
fez, o faz e o fará.
Quando olho para trás, vejo o quanto a mão de
Deus me guiou. Sinto Seu Espírito comigo hoje, e o
mais reconfortante é a certeza de que Ele não irá me
abandonar durante o último trecho do meu caminho
para casa. Se isso não me trouxer esperança, nada
mais trará.
Jogador de primeira linha no time de Deus
Continuei fã de beisebol, não necessariamente de
um time, mas do jogo em si — o trabalho em
equipe, a estratégia e o desafio de derrotar o
adversário. Mas o beisebol não estava nos planos de
Deus para mim. Porém, Ele me ensinou a integrar
todos esses componentes importantes para servi-lo.
O Senhor me abençoou com um time de homens e
mulheres cujo coração se uniu ao meu — juntos,
guiamos os outros em direção ao lar eterno em
Cristo. A estratégia da nossa equipe era obedecer ao
comando de Deus e sair pelo mundo pregando
Cristo na luta para derrotar o adversário — Satanás.
Quando comecei a pregar, nunca tive a intenção
de fazê-lo em um estádio de beisebol ou em
qualquer outro estádio. Estava acostumado a pregar
como pastor em igrejas ou em auditórios quando em
viagem com a Mocidade para Cristo — MPC1. Em
1945, ao final da guerra, muitos de nós do MPC
tivemos o privilégio de pregar no Soldier Field2, em
Chicago.
Os detalhes são pouco importantes agora, mas
lembro da primeira vez em que estive em uma arena
a céu aberto para pregar o evangelho. Eu tinha sido
convidado para participar de um encontro
evangélico municipal em Shreveport, no estado da
Louisiana. Quando o auditório local não tinha
espaço suficiente para comportar o público, os
organizadores eram obrigados a transferir o evento
para o lado de fora. Um tanto quanto incerto a
respeito de como as pessoas se sentiriam ao assistir a
uma pregação evangélica em uma grande arena, eu
estava bastante nervoso. Nesse momento, pensei em
meus sonhos de juventude. Em vez de estar com um
bastão em mãos na base do batedor, eu tinha aquilo
que sei que é um privilégio muito maior: estar atrás
de um púlpito, com a Bíblia na mão, iluminado pelo
poder do Espírito Santo. Eu não estava me
apresentando diante de arquibancadas lotadas de
torcedores, mas proclamando a Palavra de Deus
para corações cheios de pecado que buscavam a
verdade.
De fato, a vida é cheia de surpresas.
Hoje, tantos anos depois, ainda gosto de assistir a
um jogador cruzando a base do batedor, mas nada
me emociona mais do que ver o Espírito Santo
trabalhando nos corações quando o evangelho é
levado para estádios e transmitido pelas ondas do
rádio e da televisão ao redor do mundo. A bola de
beisebol pode ser lançada em direção ao ponto mais
distante do maior estádio, mas a Palavra de Deus
viaja pelos confins mais longínquos da Terra,
proclamando as Boas-Novas da salvação. Ainda me
emociono só de pensar nesse impacto.
Jesus Cristo derrotou a morte e a Sua ressurreição
o tornou vitorioso. Antes de deixar a Terra, Ele
revelou a Seus seguidores a maior de todas as
estratégias: sair pelo mundo e pregar o evangelho.
Após ouvir Suas palavras, eles olharam para o céu e
viram o seu Salvador a caminho de casa.
Eu me pergunto: para qual casa você está se
preparando? Algumas pessoas passam sua vida
construindo a morada dos sonhos, onde poderão
gozar os seus anos de crepúsculo. Outras se veem
trocando suas contas bancárias por residências
cercadas pelos portões de centros de convivência de
aposentados. Há ainda aqueles que passam seus
últimos dias em asilos. Para os que O conhecem, a
escolha da casa eterna é a decisão mais importante a
ser tomada. Para o cristão, o último quilômetro do
caminho é um testemunho da fidelidade de Deus,
pois ele disse: “vou preparar-vos lugar” (João 14.2
NKJV
).
Independentemente de onde você deite a cabeça à
noite, espero que seus pensamentos sejam sobre o
caminho para casa. Eu gostaria de explorar esses
pensamentos com vocês nas páginas a seguir.
Amadurecendo
Certa vez, alguém disse: “a dádiva da velhice é a
lembrança”. Apesar de ter de abreviar a maior parte
da minha viagem, a vida ainda me mantém motivado
quando vejo a mão de Deus trabalhando em minha
vida, na vida das pessoas que me cercam e ao redor
do mundo. Os últimos anos me trouxeram a dádiva
da observação e da reflexão. Apesar de parecer
penoso para alguns, a reflexão é bíblica:
Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o
Senhor, teu Deus, te guiou.
(Deuteronômio 8.2 NASB)
Lembra-te... e guarda-o.
(Apocalipse 3.3)
Para que vos lembreis de todos os meus
mandamentos, e os cumprais.
(Números 15.40 NKJV)
Lembrai-vos do que vos ordenou... o Senhor.
(Josué 1.13 NKJV)
Lembrai-vos das maravilhas que [Ele] fez.
(1Crônicas 16.12 NKJV)
Estas são reflexões que sempre valem ser
lembradas.
Costumo ouvir os mais jovens reclamarem de
suas noites de insônia. Há vezes em que o mesmo
acontece comigo, mas lembro dos trabalhos
maravilhosos que Ele fez e penso no que o escritor
dos Salmos poeticamente escreveu:
No meu leito, quando de ti me recordo
e em ti medito, durante a vigília da noite.
Porque tu me tens sido auxílio;
à sombra das tuas asas, eu canto jubiloso.
A minha alma apega-se a ti;
a tua destra me ampara.
(Salmos 63.6-8 NKJV)
Há muito conforto que pode ser alcançado,
mesmo pelos mais velhos, quando lembramo-nos
Dele.
O Senhor não apenas nos instrui a lembrar, mas a
Bíblia nos revela o que o Próprio Senhor lembra —
e o que ele escolhe não lembrar: “Pois ele conhece a
nossa estrutura e sabe que somos pó” (Salmo
103.14 NKJV). Para os arrependidos, Ele diz: “dos seus
pecados jamais me lembrarei” (Jeremias 31.34 NKJV).
Eu me sinto tão grato por me lembrar dessa
promessa! Como me arrependi do meu pecado,
Deus decide me perdoar. Esta é uma amostra do
coração do nosso Salvador.
O Velho Testamento está repleto de tais
lembranças. Está escrito: “Lembrai-vos das coisas
passadas da antiguidade” (Isaías 46.9 NKJV). A
sociedade de hoje pode não gostar da palavra
“velho”, no entanto, os jovens gastam pequenas
fortunas em calças jeans que parecem velhas. Os
colecionadores valorizam mais as antiguidades
porque elas são... velhas! Há quem compre
calhambeques, os reformem e desfilem com eles na
avenida principal, mostrando o quanto são... velhos.
Os dias em que os mais velhos eram admirados,
solicitados e respeitados estão acabados. Quando
jovem, me disseram que devia espelhar-me nos mais
velhos da família, mas havia poucos que eu
considerasse realmente velhos. Eu não conheci
muito bem meus avós (a não ser minha avó, que
morreu enquanto eu ainda cursava o ensino
fundamental), então tive poucas oportunidades de
observar parentes próximos em idade mais
avançada. Talvez a pessoa mais velha da nossa
família de quem eu me lembre de ver regularmente
era meu tio. Ele era porteiro no fórum do município
de Charlotte e costuma vir jantar em casa aos
domingos. Eu esperava suas visitas com ansiedade
porque ele sempre tinha histórias interessantes sobre
a política local e outros acontecimentos forenses.
Para mim, ele parecia velho (apesar de que não
deveria ter mais de 60 anos, já que ainda
trabalhava), logo; se alguém me perguntasse se eu
achava que um dia seria tão velho como meu tio, eu
provavelmente responderia que não, “de jeito
nenhum”.
Até onde posso saber, poucos membros da minha
família viveram além dos setenta anos de idade.
Meu pai faleceu aos 74 anos, após sofrer uma série
de derrames que o deixaram muito debilitado.
Depois de nossa cruzada na cidade de Nova York,
em 1957 — uma maratona de dezesseis semanas de
encontros que me deixou esgotado —, eu disse para
alguns de meus sócios que não esperava viver além
dos cinquenta (eu tinha 38 anos na época) devido ao
nosso ritmo intenso de trabalho. Problemas físicos
recorrentes que me acometeram nos anos seguintes
— alguns pequenos, outros mais sérios — também
fizeram com que eu me questionasse sobre uma
duração de vida normal. Os problemas que
permeiam a meia-idade só serviam para alimentar a
minha teoria.
Contudo, Deus, em Sua bondade infinita, tinha
outros planos para mim.
Eu não tenho certeza de quando isso aconteceu,
mas, à medida que os anos se passaram, comecei a
perceber que estava envelhecendo. A meia-idade,
devo admitir, estava se tornando cada vez mais
distante e eu passava a rapidamente me aproximar
daquilo que eufemisticamente chamamos de “idade
madura”. Às vezes, a minha idade se relevava em
pequenas (e até bem humoradas) circunstâncias: o
eventual embaraço diante do esquecimento do nome
de um bom amigo, a percepção relutante de que a
maioria das pessoas que eu via no avião ou na rua
parecia jovem demais, a experiência de receber um
desconto para aposentados em um restaurante sem
que o garçom perguntasse a minha idade.
Isso também se mostrava através de fatos mais
sérios: uma lenta, porém inexorável diminuição de
energia, doenças que poderiam facilmente causar
efeitos colaterais sérios ou até mesmo a morte, o
envelhecimento evidente — e até o falecimento —
de pessoas com quem convivi durante quase toda a
minha vida, as lutas difíceis e corajosas de minha
esposa Ruth — que fizeram com que ela se tornasse
cada vez mais frágil com o passar dos anos.
Comecei a relacionar as histórias que eu ouvia dos
outros: “A maioria dos meus pacientes de meia-
idade se recusa a aceitar”, um médico disse a um de
meus sócios. “Eles acham que sempre poderão
praticar esportes radicais, viajar para qualquer lugar
que queiram ou continuar a trabalhar doze horas por
dia. Eles acham que, se algo der errado, eu vou
poder consertar para eles. Mas, um dia, eles vão
acordar e descobrir que não podem mais fazer tudo
o que costumavam fazer. Um dia, eles serão velhos
e não vão gostar nada disso porque não estão
emocionalmente preparados para tanto.”
Sinceramente, não posso afirmar que gostei de
envelhecer. Em alguns momentos, eu gostaria de
ainda poder fazer tudo o que já fiz — mas não
posso. Eu gostaria de não precisar enfrentar as
enfermidades e incertezas que cercam este estágio
da vida — mas preciso. “Não vá ficar velho!”, disse
com ironia para algumas pessoas. Mas, claro que
isso não é uma opção. A velhice é inevitável quando
vivemos muito. E, definitivamente, tem suas
desvantagens; dizer o contrário seria mentira.
A Bíblia não esconde o lado negativo do
envelhecimento — nós também não deveríamos
fazê-lo. Uma das descrições mais poéticas (e ainda
assim franca) das enfermidades da velhice que existe
na literatura é a do escritor de Eclesiastes, no Velho
Testamento. Depois de pesquisar sobre as futilidades
da vida sem Deus, ele alerta seus leitores para que
entreguem sua vida a Ele enquanto ainda são jovens.
O motivo? Deus irá dar significado para sua vida e
enchê-la de alegria agora, mas, se esperarem muito,
será tarde demais para gozar das boas dádivas
concedidas pelo Senhor. Volte-se para Deus agora,
ele alerta:
Antes que venham os maus dias e cheguem os anos
dos quais dirás:
“Não tenho neles prazer” — antes que escureçam
o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas e tornem a vir
as nuvens depois do aguaceiro;
No dia em que tremerem os guardas da casa, e se
curvarem os homens outrora fortes, e cessarem os
teus moedores da boca, por já serem poucos, e se
escurecerem os teus olhos nas janelas...
No dia em que não puderes falar em alta voz;
quando temeres o que é alto, e te espantares no
caminho.
(Eclesiastes 12.1-5)
Por trás de suas expressões poéticas, revela-se o
peso real da idade em nossa mente e em nosso
corpo: diminuição de força, dificuldade visual, mãos
trêmulas, articulações com artrite, esquecimento,
perda de audição, solidão, medo de fragilizar-se... a
lista parece interminável. “Nada mais funciona bem
como antes”, suspirou um amigo há pouco tempo.
Eu o entendo.
Mas é a isso que se resume envelhecer? A velhice
não é nada mais do que um fardo cruel que se torna
cada vez mais pesado com o passar dos anos, sem
nenhuma expectativa além da morte? Ou será que
pode ser algo mais?
Envelhecendo dignamente
Por mais que conheça a Bíblia, talvez você não se
lembre da história de um homem do Velho
Testamento cujo nome era Barzilai. O único relato
que temos dele encontra-se em uma dúzia de versos
(2Samuel 17.27-29; 19.31-39). Tinha 80 anos de
idade e ninguém o condenaria se tivesse decidido
passar seus últimos dias delegando algumas de suas
responsabilidades. Mas não foi o que ele fez.
Durante seu reinado, o rei Davi se viu forçado a
fugir de Jerusalém para salvar sua vida devido a uma
revolta liderada pelo seu rebelde e arrogante filho,
Absalão. A sua fuga desesperada o levou em direção
ao leste, para as regiões áridas do deserto, para além
do Rio Jordão. Exausto e quase sem comida, ele e
seu fiel grupo de seguidores acabaram por chegar a
um vilarejo isolado chamado Maanaim. Lá, Barzilai
— fazendo um grande sacrifício e correndo risco de
vida — deu comida e abrigo ao rei Davi e a seus
homens. Sem a ajuda de Barzilai, Davi e seus
homens poderiam ter sucumbido.
Após o assassinato de Absalão e o fim da revolta,
Davi, em gratidão pela hospitalidade de Barzilai,
convidou-o para retornar com o rei e seu exército
para Jerusalém, prometendo cuidar dele pelo resto
de sua vida. Pense nisso: um convite para passar o
restante de seus dias no conforto do palácio do rei
— e como amigo do rei!
No entanto, Barzilai recusou a oferta. O motivo?
Ele disse que, simplesmente, era muito velho para
uma mudança de vida tão radical: “Eu não vou viver
muito mais; por que iria para Jerusalém com o
senhor? Já tenho 80 anos e não tenho prazer em
mais nada. Não sinto o gosto do que como ou bebo
e já não posso ouvir a voz dos cantores.” (2Samuel
19.34-35 NLT). Velho, fraco e surdo, até mesmo o
convite de se unir ao o rei em Jerusalém — uma
oportunidade que ele, sem dúvida, não teria
desperdiçado uma década antes ou ainda mais cedo
— não o atraía. A velhice tinha um peso grande
demais.
Por que a Bíblia registrou este breve incidente da
vida de um velho e misterioso homem? Não foi
apenas para nos lembrar das penúrias da velhice ou
da brevidade da vida. Ao contrário, a Bíblia relata
essa história para nos contar sobre um fato
significante: o grande serviço de Barzilai para Deus
e Seu povo — o único feito de toda sua vida digno
de ser registrado na Bíblia — foi praticado enquanto
ele era um homem velho.
Quando o rei Davi e sua tropa de homens se
aproximaram, Barzilai poderia facilmente ter dito a
si mesmo: “Estou velho demais para me envolver
nisso. Deixe que os jovens os ajudem se assim
quiserem — todos eles têm energia. E, de qualquer
forma, eu teria que ser um tolo para pegar tudo o
que eu economizei para a minha velhice e gastar
para ajudar o rei Davi e seus homens. Absalão pode
nos atacar e saquear nosso vilarejo se ajudarmos
Davi. Por que me dar ao trabalho? Na minha idade,
já tenho muitos problemas com os quais me
preocupar”.
Em vez disso, Barzilai liderou a organização da
ajuda ao rei cercado por sua tropa. A Bíblia diz que
Barzilai e seus amigos “tomaram camas, bacias e
vasilhas de barro, trigo, cevada, farinha, grãos
torrados, favas e lentilhas; também mel, coalhada,
ovelhas e queijos de gado e os trouxeram a Davi e
ao povo que com ele estava, para comerem”
(2Samuel 17.28-29). Pense em toda a organização e
sacrifício que tiveram que ser empregados! Barzilai
viu uma necessidade e fez tudo o que podia para
satisfazê-la, apesar de sua idade e de suas
enfermidades. Caso ele tivesse falhado ou se
recusado a ajudar, Davi e seus homens poderiam ter
sucumbido no hostil deserto para além do Mar
Morto e a história do povo de Deus que se seguiu
poderia ter sido completamente diferente. Mas ele
não falhou, e a vida de Davi foi poupada.
O ponto é o seguinte: um homem velho como
Barzilai não era mais capaz de fazer tudo o que ele
costumava fazer, mas ele fez o que podia e Deus
aproveitou seus esforços. O mesmo pode ser válido
para nós à medida que envelhecemos.
A grande nuvem de testemunhas
Barzilai não é o único personagem da Bíblia que
deu a sua grande contribuição nos anos de vida mais
tardios. Na realidade, a Escritura está repleta de
exemplos de homens e mulheres que Deus usou no
final de sua vida, quase sempre com grande
impacto. Nos séculos que precederam Noé e o
dilúvio, a Bíblia conta que Deus deu grande
longevidade a seus servos. Adão viveu 930 anos ao
total; Matusalém — a pessoa mais velha da Bíblia e
o avô de Noé — morreu aos 969 anos. Durante toda
a vida de Matusalém, seu pai, Enoque, foi um
excelente exemplo do que significa um
relacionamento próximo com Deus. A Bíblia diz:
“Enoque viveu trezentos e sessenta e cinco anos. Ele
viveu sempre em comunhão com Deus e um dia
desapareceu, pois Deus o levou.” (Gênesis 5.23-24
NLT
).
O exemplo divino de Enoque não influenciou
apenas seu filho, mas todos os seus descendentes,
durante muito tempo depois de sua vida na terra.
Poucos exemplos de fé podem ser encontrados na
Bíblia como o de seu neto, Noé. Em meio a uma
geração que desprezou Deus e se entregou a todo e
qualquer pecado imaginável, a Bíblia diz que “Noé
era homem justo e íntegro entre os seus
contemporâneos; Noé andava com Deus” (Gênesis
6.9). Quando Deus ordenou que a arca fosse
construída, Noé tinha mais de 500 anos de idade.
Após o dilúvio (através do qual Deus trouxe
julgamento ao mundo em revolta e forneceu os
meios para a vida começar novamente), Deus
escolheu outro homem velho, Abrão (ou Abraão,
como veio a ser conhecido posteriormente) para dar
continuidade aos Seus objetivos. Abrão foi chamado
por Deus para ser o fundador da nação que
receberia o Messias, o Salvador da humanidade. Ele
tinha 75 anos quando Deus o chamou pela primeira
vez, e seu filho Isaque não nasceu antes que Abrão
completasse cem anos — “na sua velhice, no tempo
determinado, de que Deus lhe falara” (Gênesis
21.2).
A Bíblia traz uma série de outros exemplos de
indivíduos usados por Deus em seus anos tardios —
homens e mulheres que se recusaram a usar a
velhice como uma desculpa para ignorar o que Deus
queria que eles fizessem. Moisés tinha 80 anos
quando Deus o chamou para deixar o deserto do
Sinai e retornar ao Egito para guiar a libertação dos
judeus. Ele permaneceu como líder dos judeus até a
sua morte, quarenta anos depois. Josué, seu
sucessor, tinha cerca de 80 anos quando Deus lhe
deu a responsabilidade de guiar o povo em direção à
Terra Prometida. Josué continuou servindo até a sua
morte, aos 110 anos. Apesar de Jeremias ser um
homem jovem quando Deus o chamou pela primeira
vez para que ele fosse um profeta, ele permaneceu
fiel ao seu chamado até a sua morte (provavelmente
na casa dos noventa), apesar da oposição e da
guerra.
Da mesma forma, o Novo Testamento cita muitos
exemplos de homens e mulheres que foram usados
por Deus na velhice. Quando Deus anunciou a
Zacarias que sua esposa Isabel daria à luz João
Batista, o precursor do Messias, ele não acreditou de
início. O motivo, disse ele, é porque “sou velho, e
minha mulher, avançada em dias” (Lucas 1.18).
Mas Deus usou ambos mesmo assim, apesar das
dúvidas. Ana, que jubilosamente reconheceu o
menino Jesus como o Messias prometido quando
Maria e José o levaram ao templo para que ele fosse
ofertado a Deus, “avançada em dias... era viúva de
84 anos” (Lucas 2.36-37). O apóstolo João escreveu
o livro de Apocalipse enquanto estava enclausurado
devido à sua fé na isolada ilha de Patmos; ele devia
ter em torno de 90 anos na época. Paulo, que
escreveu na prisão depois de anos de serviço
missionário, se descreveu como “o velho”, mas
também expressou a esperança de ser libertado para
continuar pregando em nome de Cristo (Filemom
9,22). Muitos outros exemplos de pessoas usadas
por Deus em seus anos tardios poderiam ser citados,
não apenas dentre os contidos na Bíblia, mas
também em muitas passagens da história.
Unindo-se às testemunhas
Mas talvez você esteja dizendo para si mesmo:
“Bom, isso pode ser válido para eles, mas não é para
mim. Um dia, serei velho e, então, toda a minha
utilidade chegará ao fim. E, além disso, quero ter
uma vida mais tranquila quando eu me aposentar”.
Você pode até estar convencido de que esses dias
chegaram.
Todavia, esses homens e mulheres não foram
únicos. Não se trata de super-homens ou pessoas
extraordinárias que surgem de vez em nunca. Em
sua maior parte, são homens e mulheres comuns e,
como tais, tinham lições para nos ensinar. E a
primeira é: a velhice pode ter suas limitações e
desafios; apesar disso, os anos tardios podem estar
dentre os mais gratificantes e recompensadores de
nossa vida. Assim foi para eles e assim pode ser para
nós. Eles estavam preparados — mentalmente,
fisicamente, emocionalmente e, acima de tudo,
espiritualmente — para seja lá o que a velhice
colocasse no caminho deles. Isso fez toda a
diferença. Eles foram capazes de fazer o que
fizeram porque, muito antes de a velhice chegar, eles
já estavam preparados para seus desafios. A velhice
não os pegou de surpresa. Eles sabiam que, se Deus
lhes havia dado uma vida longa, então Ele ainda
estava com eles e os mantinha aqui por alguma
razão. Para eles, o envelhecimento não deveria ser
negado ou temido: ele deveria ser abraçado como
parte dos planos de Deus para sua vida. Eles eram
pessoas comuns, porém, eram homens e mulheres
de extraordinária fé.
Como eles se prepararam para as inesperadas
mudanças trazidas pelo envelhecimento? E como é
que nós podemos nos preparar para tais anos
tardios, independentemente de quão jovens ou
velhos sejamos agora? Em outras palavras, como
podemos construir nossa vida sobre uma base
inabalável — uma fundação que nos servirá de
suporte para o resto dos nossos dias? Deus nos deu
as respostas de que precisamos, cabe a nós descobri-
las e aplicá-las em nossa vida.

A CAMINHO DE CASA
COM EXPECTATIVAS
TRIUNFANTES
Se envelhecer foi a maior surpresa da minha vida,
o maior triunfo ainda está por vir: a vitória sobre a
morte, que irá me conduzir à presença eterna de
meu Salvador, o Senhor Jesus Cristo.
Ao passo que a sociedade não acredita que a
velhice seja uma fase respeitável da vida, rogo para
que aqueles que acreditam em Jesus Cristo
percorram o último quilômetro do caminho de
forma triunfante, assim como fez Moisés quando
morreu aos 120 anos. “Então, subiu Moisés das
campinas de Moabe ao monte Nebo... e o Senhor
lhe mostrou toda a terra... Assim, morreu ali
Moisés... E nunca mais se levantou em Israel profeta
algum como Moisés, a quem o Senhor houvesse
tratado face a face” (Deuteronômio 34.1,5,10).
Essa é uma passagem marcante porque, apesar de
Moisés ter sido proibido de entrar na terra devido à
sua desobediência anterior, Deus permitiu que ele
contemplasse a Terra Prometida durante a sua
velhice. Eu costumo me perguntar se Deus, em Sua
soberania, concede aos velhos uma visão turva do
“aqui e agora” para que eles foquem seus olhos
espirituais no “para sempre”.
A Palavra de Deus diz que o sucessor de Moisés,
Josué, “foi cheio do espírito de sabedoria, porquanto
Moisés impôs sobre ele as mãos... e [Josué] fez
como o Senhor ordenara a Moisés” (Deuteronômio
34.9). Mesmo depois de sua morte, o impacto da
vida de Moisés perenizou-se em Josué, o grande
comandante militar do povo de Deus.

Qual testemunho você está passando àqueles que


o seguem? Lembrar-se daquilo que Deus fez por
você irá revigorá-lo na velhice. Há outros
observando suas ações e atitudes. Não diminua o
impacto que você pode ter, mas transmita as
verdades fundamentais da Palavra de Deus para que
as gerações mais jovens sejam como Josué: “cheios
do espírito de sabedoria”.

1 Mocidade para Cristo — MPC é o nome oficial no Brasil da


organização religiosa denominada em inglês Youth for Christ —
YFC.
2 O estádio Soldier Field é a casa do time de futebol americano
Chicago Bears, da NFL, a liga norte-americana profissional de
futebol americano. Construído em 1924, atualmente abriga 61.500
pessoas. Pode receber jogos de vários esportes, e já foi palco de
jogos da Copa do Mundo de Futebol de 1994 e da Copa do Mundo
de Futebol Feminino de 1999.
Não se aposente da vida

Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar


deserto...
— Marcos 6.31
Não se sinta mal por envelhecer.
Muitos não têm esse privilégio.
— Desconhecido
“Aproveite a vida — ela tem data de vencimento”
era a frase do adesivo colado no para-choque de um
velho Ford Thunderbird vermelho conversível,
estacionado ao lado de um T-bird preto novinho em
folha. A diferença de idade entre ambos os carros?
Cinquenta anos. Tive que sorrir quando soube que o
adolescente e o bebê sentados no banco traseiro
daquele modelo de terceira geração de 1961 eram os
netos do motorista. O dono do carro preto era seu
filho — três gerações juntas em viagem de férias.
Isso fez com que eu me lembrasse do tempo em que
meus filhos eram pequenos e toda a família se
amontoava em um carro. A gente sabia o que “estar
próximo” significava na prática. Para a maioria das
famílias de hoje em dia, isso é algo do passado.
Uma amiga minha fez uma ligação com a cena do
estacionamento. Os avós dela contavam que as
pessoas se aglomeravam para admirar o Bullet Bird
61, como era chamado esse carro na época. Ele
também ficou conhecido como o “carro dos sonhos
dos americanos”. John F. Kennedy era um grande fã
desses Bullet Birds e tinha cerca de cinquenta deles
em seu desfile de posse, em 1961. Fascinava-me
saber que o carro antigo despertava muito mais
interesse do que o modelo novo que, mesmo com
suas peças de alta tecnologia, ficava para trás. O
motivo talvez fosse o fato de ninguém ter o novo
modelo para exibi-lo, mas ainda acho que era o
contraste de ver um vovô de cabeça grisalha com
duas crianças radiantes no banco de trás ansiosas
para pegar a estrada. Saber que este carro pertenceu
àquele homem durante cinquenta anos era realmente
autêntico.
Em um mundo de alta velocidade e gratificação
instantânea, o fascínio por relíquias, antiguidades e
jeans surrados parece desconexo. Quando a Coca-
Cola mudou sua fórmula de cem anos, em 1985, um
movimento público pediu o retorno do refrigerante
original. Em dois meses, a empresa teve que voltar a
suprir a bebida sob o nome de Coca-Cola Classic, o
que evitou que as vendas caíssem. A conclusão dos
comerciantes era de que a fórmula tinha vencido o
teste do tempo. A receita secreta superava a nova
receita, conforme provado pelos milhões de fãs que
não queriam a “coisa verdadeira” alterada.
O que isso tem a ver com envelhecer? Velho é
autêntico. Velho é genuíno. Velho é valioso. Alguns
até dizem que é lindo. Contaram-me sobre uma
idosa que lamentou: “Eu gostaria de ter tempo,
dinheiro e coragem para fazer um lifting... meu
rosto está desabando!”. Seu amado esposo disse:
“Querida, o lifting mais barato e duradouro que
existe é sorrir — levanta seus traços e chama a
atenção dos outros”.
Bem, nem todos os idosos podem estar atrás do
volante de um carrão ou fazer liftings, mas temos a
opção de nos contentar com o que temos na vida.
Podemos concordar com o apóstolo Paulo, que
disse: “porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação” (Filipenses 4.11 NKJV)? Devo
admitir que sinto falta de dirigir, mas sou grato
àqueles que me levam onde eu preciso ir. Minhas
dores e indisposições fazem com que eu me lembre
de que não sou mais tão jovem quanto gostaria, mas
agradeço por ainda estar aqui para falar sobre elas e
por ter alguém gentil que me escute pacientemente.
O espelho não mente, mas eu posso sorrir para ele
porque minha visão turva camufla minhas rugas.
Mesmo aos 92 anos de idade, meu desejo é
aprender a me contentar. Nunca devemos ficar
velhos demais para aprender ou velhos demais para
sorrir!
Um oficial de polícia mandou uma senhora de
aparência distinta encostar o carro porque ela havia
ultrapassado o limite de velocidade. O senhor ao
lado dela riu e disse: “Meu jovem, estamos correndo
para chegar antes de que nos esqueçamos para onde
estamos indo!”. Chegar onde estamos indo é
importante. Igualmente importantes são aqueles que
nos seguem, pois estão na mesma jornada, por mais
que ainda não tenham percebido. As gerações mais
antigas podem ter certa dificuldade em acompanhar
os mais jovens, mas lembremo-nos de que,
enquanto estivermos respirando, estaremos guiando
o caminho. As próximas gerações estão aprendendo
sobre o envelhecimento conosco. Somos bons
exemplos? Por mais que tenhamos consciência de
nossos erros e vontade de voltar no tempo para
corrigi-los, sabemos que isso não é possível.
Contudo, as lições que aprendemos com nossos
fracassos e êxitos podem ajudar os que nos
sucedem. O impacto que podemos ter sobre essas
gerações pode significar a diferença entre deixar
boas memórias ou simplesmente desaparecer, ser
esquecido.
A filha adolescente de um amigo do nosso
ministro refletiu sobre a morte de seu avô em casa.
Ela disse, com lágrimas nos olhos: “Nunca
esquecerei o carinho e a devoção que o vovô
recebeu de minha avó. Isso me ensinou a cuidar dos
doentes e pacientes terminais. Mais do que isso,
aprendi a ter coragem em meio às dificuldades”. Os
jovens podem aprender muito com aqueles que já
percorreram distâncias. Da mesma forma, seria
sábio por parte dos mais velhos levar em
consideração as contribuições que os mais jovens
podem trazer para sua vida. Eles verão os nossos
erros e eles contemplarão os nossos êxitos. Iremos
reconhecer suas batalhas e realizações e encorajá-los
a enfrentar o futuro desconhecido. A Bíblia diz:
“tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo
para todo o propósito debaixo do céu... tempo de
buscar e tempo de perder” (Eclesiastes 3.1,6 NKJV).
Em tempos de penúria, há lições a serem
aprendidas. Não nos desviemos dos propósitos de
Deus, mesmo em tempos de mágoa e frustração,
pois Ele está sempre conosco em nossa jornada.
Lembro-me da história de um casal que planejava
se aposentar após muitos anos de trabalho. Todas as
férias, eles viajavam para a mesma cidade litorânea
isolada na costa noroeste dos Estados Unidos. Sua
carreira em uma companhia aérea lhes permitia
viajar bastante, mas aquele era o refúgio deles —
não havia outro lugar no mundo onde eles sentissem
que podiam realmente relaxar. Eles acreditavam que
nada os renovava mais do que um passeio juntos
pela praia ou um jantar tranquilo ao pôr do sol sobre
o Pacífico. Quando um terreno com vista para o mar
foi colocado à venda naquela cidade, eles
compraram-no imediatamente, certos de que haviam
encontrado seu futuro refúgio paradisíaco.
O dia finalmente chegou. A companhia aérea
honrou devidamente o homem pelos seus longos
anos de serviço. O casal colocou sua casa à venda e
iniciou o percurso de mil e duzentas milhas rumo à
nova casa. Eles colocaram todos os planos em
prática: longas caminhadas pela orla, a vida pacata
de uma cidade pequena, a liberdade de não ter
horários e fazer o que quisessem. Tudo corria
exatamente como eles sempre imaginaram. Eles
estavam aproveitando o melhor da vida!
No entanto, por volta da quinta semana, um mal-
estar começou a instalar-se e eles sabiam que tinham
cometido um erro. Observar as ondas batendo
contra as rochas não era suficiente para preencher o
vazio deixado pelas suas vidas anteriores, há mil e
duzentas milhas de distância. Após algumas semanas
de descanso, ir a todos os restaurantes, cafeterias e
lojas começava a perder o seu charme. “Isso é tudo
o que faremos pelos próximos vinte ou trinta anos?”,
eles se perguntaram. “Em que estávamos pensando
quando deixamos nossos filhos e netos?” Por sorte,
a casa onde eles viveram durante trinta anos ainda
não tinha sido vendida; então, eles arrumaram as
malas e voltaram. A companhia aérea contratou o
executivo para um cargo de meio-período como
consultor e ele concluiu: “eu achava que estava
pronto para me aposentar, mas eu não tinha pensado
direito a respeito.”
Transição para a aposentadoria
Muitas pessoas têm histórias parecidas. O velho
ditado é verdadeiro: a grama do vizinho é sempre
mais verde. A aposentadoria é bem diferente de
férias de duas semanas e a mudança é uma parte
inevitável da vida, não importando quão jovem ou
velho sejamos.
Com o passar dos anos, vamos da infância para a
adolescência, nos tornamos jovens adultos,
construímos uma carreira, em seguida normalmente
nos casamos, temos filhos, até que, um dia, o ninho
finalmente fica vazio. Algumas das transições da
vida são previsíveis, porém outras podem nos pegar
de surpresa.
A vida é repleta de mudanças, mas uma das
maiores é a aposentadoria. Muitos anseiam por ela,
outros a temem. Cedo ou tarde, praticamente todos
os que viverem bastante passarão por ela. “Mal
posso esperar pelo dia em que me aposentarei”, um
homem em torno de seus 60 anos me escreveu,
muito tempo atrás — uma frase que já ouvi centenas
de vezes. Outro disse: “Minha esposa e eu estamos
nos trinta, e nossa maior ambição é nos
aposentarmos quando eu tiver 50 anos”. Por outro
lado, alguém me disse recentemente: “Estou com
medo da aposentadoria. A política da empresa prevê
aposentadoria compulsória, e terei que passar alguns
anos afastado. Eu gosto do meu trabalho e não
posso imaginar minha vida sem ele”.
As reações são diferentes porque as pessoas são
diferentes. No entanto, o fim dos anos de trabalho
costuma ser um divisor de águas na vida da maioria
das pessoas, marcando o fim da carreira e o início
da terceira idade. A aposentadoria é apenas uma das
mudanças que encontraremos à medida que
envelhecermos, mas é certamente uma mudança
enorme. Mesmo quando a esposa nunca trabalhou
fora de casa, a aposentadoria do marido pode ser tão
chocante para ela quanto para ele.
Podemos vislumbrar os anos de aposentadoria
como um período de descanso e relaxamento, o que,
até certo ponto, é verdade. Todavia, há outro lado:
assim como em qualquer outro estágio da vida, a
terceira idade tem suas mudanças e transições. A
decisão de aposentar-se... ajustar-se a uma rotina
diferente... enfraquecimento da saúde com o passar
dos anos... a perda do cônjuge... a necessidade de
mudar-se... maior dependência dos outros — esses e
outros eventos que ocorrem durante os anos de
aposentadoria trazem suas próprias dificuldade e
ajustes.
Ainda, há pessoas mal preparadas para a
aposentadoria; ou porque a veem de forma irreal
através de lentes cor-de-rosa, ou porque se recusam
a pensar nela. “Nunca pensei muito em me
aposentar ou envelhecer”, um empresário
aposentado confessou-me certa vez. “Se eu tivesse
dirigido a minha empresa com o mesmo
planejamento que tracei para a minha aposentadoria,
certamente estaria falido”. E uma mulher escreveu-
me: “Achei que estava preparada para a terceira
idade. Sendo solteira e com uma carreira
profissional, dediquei grande parte dos meus
esforços à estabilidade financeira. Porém, agora
percebo que estou totalmente despreparada para os
desafios emocionais e espirituais que estou
enfrentando. Descobri que estabilidade financeira
não é tudo o que importa — definitivamente, não”.
A aposentadoria e a Bíblia
O trabalho faz parte dos planos de Deus para
nossa vida. O trabalho não se limita a uma atividade
que desempenhamos para colocar comida na mesa,
mas é um dos principais meios que Deus nos deu
para O glorificarmos. O escritor de Eclesiastes
declarou: “Nada há melhor para o homem do que
comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do
seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem
da mão de Deus” (Eclesiastes 2.24). Paulo disse:
“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra
coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”
(1Coríntios 10.31).
Durante a maior parte de Sua vida, Jesus
trabalhou com Suas mãos: “Não é este o
carpinteiro?” (Marcos 6.3). Seus inimigos o
desdenharam (erroneamente), concluindo que um
trabalho como o de carpinteiro certamente O
desqualificaria como Messias. O apóstolo Paulo
também trabalhava com as mãos, normalmente
ganhando a vida como fabricante de tendas durante
suas viagens (ver Atos 18.3). Aos olhos de Deus,
todo trabalho legítimo tem dignidade e importância,
o que significa que devemos executar nosso trabalho
com orgulho, diligência e integridade.
Mas nosso trabalho não foi feito para se tornar o
centro de nossa vida. Esse lugar pertence a Deus.
Quando permitimos que nosso trabalho nos domine
e nos controle, ele se torna um ídolo para nós — e
isso está errado. Há quem se gabe de trabalhar
setenta ou até oitenta (ou mais) horas por semana,
acreditando ser um mestre no seu trabalho, mas na
realidade não passa de um escravo. Além disso,
como a vida está centrada no trabalho, a identidade
ou o amor-próprio dessas pessoas — ou seja, a
consciência de seu valor e significado enquanto
pessoa — acaba dependendo do êxito no trabalho.
Infelizmente, a nossa sociedade materialista apenas
reforça essa visão. Mas Deus diz que você é mais do
que o seu trabalho e que seu trabalho é apenas uma
parte dos planos que Ele tem para você. Isso
significa que parar de trabalhar e se aposentar está
errado aos olhos de Deus?
É verdade que a palavra “aposentadoria” —
especialmente como a empregamos hoje — não
pode ser encontrada na Bíblia. Na Antiguidade, a
maioria das pessoas trabalhava enquanto fosse
fisicamente capaz. Tinha que ser assim, pois não
havia previdência ou planos de investimento para
garantir o sustento na terceira idade. Além disso,
muitas pessoas trabalhavam para si mesmas, como
agricultores, pescadores ou artesãos; logo, tinham
que continuar trabalhando enquanto fosse possível
para poder sobreviver (como ainda ocorre em
muitas partes do mundo). Se fossem incapazes de
trabalhar, provavelmente dependeriam de suas
famílias. Por vezes, isso não era possível, razão pela
qual a Bíblia nos ensina a ter um cuidado especial
com aqueles que não têm ajuda da família, como
viúvos, órfãos e deficientes. Declarou o salmista:
Fazei justiça ao fraco e ao órfão;
procedei retamente para com o aflito e o
desamparado.
Socorrei o fraco e o necessitado.
(Salmo 82.3-4)
A única referência bíblica à aposentadoria diz
respeito aos membros da tribo de Levi, que tinham a
responsabilidade de ajudar os sacerdotes no
tabernáculo (posteriormente nos templos), o centro
da adoração de Deus em Israel. Entre outras
atribuições, essa responsabilidade incluía a
manutenção do espaço e o cuidado dos objetos
sagrados usados na adoração. As suas
responsabilidades tinham início na idade de 25 anos.
A Bíblia diz: “mas desde a idade de cinquenta anos
desobrigar-se-ão do serviço e nunca mais servirão”
(Números 8.25). A razão não é explicitada, mas
presumimos que seja para minimizar o perigo
(devido à fraqueza física) de acidentalmente deixar
cair algum objeto de adoração, danificando-o ou
tornando-o impuro. Também pode ser para dar
oportunidade às outras gerações de Levitas para que
assumam suas responsabilidades.
Hoje, vivemos em um mundo diferente. A ideia
de nos aposentarmos de nosso trabalho e
aproveitarmos a terceira idade faz parte da nossa
cultura. Os mais velhos costumam ser pressionados
a se aposentar para abrir espaço aos mais novos.
Não há nada de errado com a aposentadoria, e esses
anos podem estar dentre os melhores de nossa vida,
desde que consigamos vê-los como um presente de
Deus. Deus descansou ao sétimo dia, quando
terminou Seu trabalho de criação do universo, e nós
não deveríamos nos sentir culpados por Deus nos
dar a oportunidade de descansarmos após o término
do nosso trabalho.
Minha aposentadoria
A decisão de afastar-me do meu trabalho como
pregador não foi fácil. Durante anos, repeti para as
pessoas que apenas me aposentaria quando Deus
decidisse me aposentar. Mas o que exatamente eu
queria dizer com isso? Aos poucos, fui percebendo
que não tinha certeza de como saberia que Deus
desejava que eu me afastasse. Em algum lugar, tinha
ouvido a história de um pregador que continuou
trabalhando muito tempo após a época em que devia
ter se aposentado, até que, um dia, alguém teve que
pegá-lo pelo braço e retirá-lo do púlpito, pois ele
não falava mais de forma coerente. Com certeza, eu
não queria que o mesmo acontecesse comigo.
À medida que os anos passaram, comecei a
perceber que não tinha mais o mesmo vigor físico de
antes para cumprir minha agenda. Após orar muito e
me aconselhar com pessoas de grande sabedoria,
comecei a encurtar a duração (e o número) de
cruzadas municipais, inicialmente de duas semanas
para dez dias, depois para uma semana e,
finalmente, para três dias. Também comecei a limitar
outros compromissos ao máximo para preservar
meu vigor. Com o tempo, transferi mais
responsabilidades administrativas da nossa
organização ao meu filho Franklin, cujo
comprometimento com o evangelismo e a extensa
experiência como presidente de uma organização
internacional de ajuda humanitária cristã claramente
o qualificavam para tomar a frente do nosso
trabalho. Em 2001, nosso conselho de diretoria o
elegeu por unanimidade para ocupar meu cargo de
presidente.
Porém, nossas cruzadas continuaram, e por mais
exaustivos que esses três dias de eventos fossem
para mim, Deus continuou a abençoar minha
pregação de Sua Palavra. Como poderia afastar-me
diante disso? Tanto quanto eu temia alongar-me
demasiadamente, eu temia afastar-me cedo demais.
A decisão de me aposentar do ministério de
cruzadas veio gradualmente e, para ser honesto, de
forma um tanto quanto relutante. Orando e
buscando aconselhamentos, senti que Deus
definitivamente me encaminhava rumo ao fim do
ministério. Ninguém é indispensável. Eu sabia que
Deus iria eleger outros (inclusive Franklin) para
continuar a proclamação do evangelho. Dessa
forma, após muita oração, decidi que nossa Grande
Cruzada de Nova York de 2005 seria minha cruzada
final. Quando ela terminou, tive uma sensação clara
de paz, certo de que eu tinha tomado a decisão
correta.
Isso não significava que eu nunca mais pregaria:
um ano depois, dividi o púlpito com Franklin na
última noite do festival de Baltimore. Mesmo
enquanto reviso esse capítulo, penso em pregar uma
breve mensagem pela internet (o que alguns dizem
que poderia atingir o maior público da história do
nosso ministério). Agora tenho mais tempo para
fazer algumas coisas que sempre quis fazer, como
encontrar jovens evangelistas e incentivá-los em seus
ministérios. Às vezes, consigo visitar nosso centro
de treinamento da Bíblia, que se chama The Cove,
na cidade de Asheville, ou a Biblioteca Billy
Graham, na cidade de Charlotte. Eu também pude
dar continuidade a outras partes do meu ministério,
como escrever livros e artigos de vez em quando.
Mas nada me emociona mais do que saber daqueles
que estão na linha de frente. É estimulante ver o que
Deus continua fazendo através dos outros.
Enquanto geração mais velha, temos que ter em
mente a nossa responsabilidade de orar pelos outros.
A aposentadoria não deveria nos engavetar.
Devemos usar essa época de nossa vida para
descansarmos da labuta, mas também para
incentivar aqueles que estão carregando fardos
pesados.
A aposentadoria e você
A questão permanece: quando você vai decidir o
momento de se aposentar? Você será como o casal
que se aposentou cedo demais? Ou será como o
homem que construiu uma grande empresa de
sucesso, mas esqueceu-se de pensar sobre sua
aposentadoria e sobre a contratação de um sucessor,
deixando a companhia no caos quando ele morreu,
aos 93 anos de idade? O conselho mais importante
que posso lhe dar é o seguinte: procure descobrir
qual é a vontade de Deus com relação à sua
aposentadoria. Esta pode ser uma das decisões mais
importantes que você irá tomar, então, por que não
orar e procurar descobrir qual a vontade de Deus,
entregando sua decisão nas mãos do Único que sabe
o que é melhor para você e sua família?
Entretanto, você pode se perguntar: como é que
alguém descobre qual o desejo de Deus com relação
à aposentadoria? Quais sinais devemos buscar?
Bem, eu não tenho nenhuma fórmula secreta, mas
deixe-me sugerir três coisas que Deus pode usar
para guiá-lo.
Considere sua situação
Talvez a sua saúde física esteja declinando ou
você sinta que não tem mais o mesmo vigor de
antes. Por mais que tenha uma boa saúde hoje, isso
provavelmente irá mudar algum dia. Há coisas que
você sempre quis fazer antes que esse dia chegue?
Ou talvez você sinta que não está preparado para os
desafios futuros do seu trabalho, tais como
mudanças na tecnologia. Como está a sua saúde
financeira, incluindo tanto as suas economias quanto
o seu seguro de saúde? A sua atitude com relação ao
seu trabalho mudou recentemente? Por exemplo,
você costumava achar o seu trabalho interessante ou
recompensador, mas agora ele se tornou um peso?
As suas respostas a essas questões podem indicar se
é hora de levar a aposentadoria em consideração.
Considere seu cônjuge
Não tome essa decisão sozinho. Sua
aposentadoria irá afetar seu cônjuge tanto quanto
afetará você. Caso seu cônjuge ainda esteja
trabalhando, ele ou ela irá se aposentar na mesma
época em que você? Caso negativo, o quer você irá
fazer enquanto seu cônjuge estiver trabalhando? Se
ele ou ela não estiver trabalhando, quais serão as
mudanças que a sua aposentadoria trará para o
relacionamento de vocês? Caso o seu cônjuge se
oponha à sua decisão de se aposentar ou não
entenda por que você está pensando nisso, talvez
seja melhor postergar seus planos.
Considere as armadilhas
“Durante a minha carreira, estive cercado de
pessoas com as quais gostava de trabalhar”, um
homem disse a um amigo meu. “Sempre me senti
como parte importante de um time. Mas, agora,
ninguém liga, me sinto inútil. Passei algumas vezes
no escritório para ver como todos estavam, porém
me senti quase que como um intruso”. Solidão,
perda de objetivo, ansiedade, medo do futuro: estas
e outras emoções são comuns entre os aposentados.
Infelizmente, alguns não conseguem lidar com sua
nova situação e um número surpreendentemente
grande de aposentados sucumbe a doenças após um
ano de aposentadoria apenas. “O atestado de óbito
que assinei dizia que ele morreu em consequência de
um AVC, o que estava correto do ponto de vista
médico”, disse um médico a respeito de um de seus
pacientes recém-aposentados. “No entanto, acredito
que ele realmente morreu devido a um coração
partido. Ele se sentia inútil e não queria mais viver”.
Leve essas armadilhas em consideração quando
pensar em se aposentar e faça tudo o que puder para
se preparar para as mudanças que inevitavelmente
virão com a aposentadoria. Deus não quer que você
termine seus dias se sentindo inútil e deprimido. Ele
também não quer que você tome decisões
intempestivas sobre o seu futuro. Não decida se
aposentar antes de refletir e planejar cuidadosamente
ou sem ter certeza de que é Deus quem o está
guiando, pois a Bíblia diz: “o prudente atenta para
os seus passos” (Provérbios 14.15).
Aposentadoria e gratidão
Lembremo-nos de que as gerações que nos
precederam não tiveram as conveniências das quais
podemos usufruir. Essas conveniências nos
permitem economizar tempo para que possamos nos
dedicar a outras atividades. A maioria de nós não
precisa mais cultivar seus alimentos, carregar água
todas as manhãs ou viajar quilômetros apenas para
conversar com um amigo. Em vez de nos
frustrarmos com a tecnologia, sejamos gratos pelas
facilidades que ela nos traz para que nos
concentremos nas bênçãos do Senhor. Pensar em
tudo o que Deus nos deu pode preencher as horas
— e deve. “Quanto ao mais”, Paulo diz aos
Filipenses, “tudo o que é verdadeiro... respeitável...
justo... puro... amável... tudo o que é de boa fama...
seja isso o que ocupe vosso pensamento” (Filipenses
4.8 NKJV).

A CAMINHO DE CASA
COM AÇÃO DE GRAÇAS
O apóstolo Paulo escreveu estas maravilhosas
palavras de esperança para a igreja de Filipos
enquanto estava na prisão. As suas condições de
vida eram difíceis, contudo ele escreveu uma carta a
seus amigos, fiéis a Deus, para encorajá-los em sua
fé. Aqueles que capturaram Paulo sem dúvida
acreditaram terem-no afastado — ou aposentado —
de seu serviço a Deus, porém o zelo de Paulo por
seu Salvador o fortaleceu quando ele escreveu:
“uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para
trás ficam e avançando para as que diante de mim
estão” (Filipenses 3.13 NKJV). Apesar de estar próximo
do fim de sua vida, Paulo não permitiu que o
passado atrapalhasse o futuro — ele perseverou. Em
outra carta que escreveu da prisão para seu amigo
Filemom, referiu-se a si mesmo como “Paulo, o
velho” (Filemom 9 NKJV). Todavia, ele não permitiu
que sua prisão ou suas limitações físicas o
impedissem de estimular e desafiar os outros a
continuarem fazendo o que é certo.
A Palavra de Deus deve nos encher de esperança,
pois o próprio Deus não abandonou os idosos. Você
pretende ser usado por Deus independentemente dos
limites impostos pelas indisposições físicas,
dificuldades financeiras ou solidão? Sem que Paulo
assim o quisesse, ele estava alcançando os outros.
Pense nas limitações de Paulo e, então, considere o
impacto de suas palavras: “Pois, irmão, tive grande
alegria e conforto...porquanto o coração dos santos
tem sido reanimado por teu intermédio.” (Filemom
7 NKJV). Você tem a capacidade de ser o “aroma
suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus”
(Filipenses 4.18 NKJV).
O impacto da esperança

Na velhice darão ainda frutos,


serão cheios de seiva e de verdor.
— Salmo 92.14 NKJV
Não se mede uma vida pela sua duração,
mas pela sua doação.
— Corrie Ten Boom
“Na velhice... floresça como uma rainha da
noite.”1 Essa frase foi escrita por um missionário na
Índia, o falecido Dr. E. Stanley Jones, nascido na
cidade de Baltimore, Maryland, Estados Unidos.
Com extraordinária fé e coração disposto a servir
aos outros, causou um impacto profundo em todos
ao seu redor. Ao final de sua vida, seu trabalho teve
o reconhecimento de Franklin D. Roosevelt e de
Mahatma Gandhi. Aos 87 anos, apesar de sofrer um
derrame cerebral que o debilitou e prejudicou sua
fala, ele ditou seu último livro, The Divine Yes2, e
participou de um congresso mundial em Jerusalém
em sua cadeira de rodas, pouco antes de vir a falecer
na sua tão amada Índia.
A rainha da noite, flor sobre a qual ele falou,
enche a noite de perfume quando se abre. Alguns
dizem que seus frutos são comestíveis. Certamente,
Stanley Jones entendia sobre florescer durante a
“noite da vida” e dar frutos em abundância: pense
quantas pessoas ele tocou durante seu caminho. Ele
é o testemunho de uma vida plena de sentido
durante toda a jornada para a vida eterna. Será que
nós, a geração mais antiga, fazemos o mesmo? Será
que estamos produzindo frutos que alimentam os
outros, ou ficamos reclamando da nossa situação,
extenuando outros que anseiam por uma vida plena?
As nossas atitudes fazem com que os mais jovens
temam o inevitável — envelhecer? Sem que
percebam, muitas pessoas mais velhas maculam o
objetivo de Deus em relação a elas: impactar as
gerações mais jovens, mostrando confiança Nele e
nas suas promessas imutáveis. Nós deveríamos nos
regozijar, pois Jesus disse: “De maneira alguma te
deixarei, nunca, jamais te abandonarei” (Hebreus
13.5 NKJV).
Sabedoria: Para os Antigos
À medida que envelhecemos, é fácil sentir que
não há nada mais a conquistar, então alguns se
aposentam em um carrinho de golfe ou em uma
cadeira de rodas. Alguns dizem: “Eu já vi tudo isso”.
Outros se gabam: “Já estivemos lá e fizemos
aquilo”. Mas a verdade é que vivemos novas
experiências até o dia da nossa morte. Posso
assegurar que minha esposa Ruth passou por muitas
experiências nos seus últimos dias na Terra. Ela
experimentou a paz de Deus, como prometido por
Ele. Claro que há experiências comuns entre aqueles
que envelhecem, porém cada indivíduo tem sua
situação particular. Alguns enviúvam, outros têm
filhos desinteressados. Há os que cuidem de um
cônjuge inválido, há os que envelheçam juntos.
Alguém disse: “Se soubesse que viveria tanto, teria
cuidado melhor de mim mesmo!”. Em geral, a única
coisa que chega até nós sem esforço é a idade.
Mas a idade não nos dispensa de realizarmos
nossos objetivos na vida. O salmista rogou ao
Senhor que abençoasse a tarefa mais nobre quando
pediu:
Não me desampares, pois, ó Deus,
Até à minha velhice e às cãs; até que eu tenha
declarado à presente geração a tua força...
(Salmos 71.18 NKJV)
Desde patriarcas e profetas do Velho Testamento
até apóstolos e seguidores de Cristo do Novo
Testamento, a Escritura traz muitos exemplos de
homens e mulheres que exerceram profundo
impacto nas gerações vindouras. E suas palavras
vivem até hoje.
Quando Israel vivia por uma ruína econômica, o
profeta Joel declarou:
Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos...
Aconteceu isto em vossos dias?
Ou nos dias de vossos pais?
Narrai isto a vossos filhos,
e vossos filhos o façam a seus filhos,
e os filhos destes, à outra geração...
(Joel 1.2-3 NKJV).
Ele lembra aos mais velhos e às gerações mais
antigas que todos devem invocar o seu passado,
quando atravessaram calamidades parecidas, e
mostrar como a fé os reestabeleceu quando se
voltaram para Deus. Hoje, assistimos a uma
economia ameaçada afetando diretamente a vida das
pessoas. Quantas vezes os mais velhos chamam os
jovens para ensinar-lhes o que aprenderam em
períodos semelhantes? Alguns dizem: “Há um
abismo entre nossa geração e a próxima. Os jovens
acreditam que nossos problemas nos superaram e
que não temos mais nada a oferecer”.
Não podemos obrigar os outros a prestar atenção
no que temos a dizer, porém nós podemos e
devemos defender a verdade, assim como orar para
que o Senhor abra olhos, mentes e ouvidos àquilo
que a sabedoria tem a dizer. A Bíblia declara:
Lembra-te dos dias da antiguidade,
atenta para os anos de gerações e gerações;
pergunta a teu pai, e ele te informará,
aos teus anciãos, e eles to dirão.
(Deuteronômio 32.7 NKJV)
A Escritura diz que feliz é o homem que acha a
sabedoria e que o alongar-se da vida está na sua mão
direita (Provérbios 3.13,16 NKJV). Isso não quer dizer
que as gerações mais antigas têm todas as respostas
— nós não as temos. Nossa responsabilidade
enquanto fiéis é proclamar a sabedoria da Palavra de
Cristo. Deus ensinou todas as gerações a verem Nele
a fonte de todas as coisas, seja na desgraça ou na
bênção. O melhor remédio para qualquer desafio,
incluindo o conflito de gerações, está na Palavra de
Deus, pois, quando é proclamada, Ele derrama a
Sua bênção.
A Bíblia ensina os jovens a honrar a presença de
um ancião e a reverenciar a Deus (Levítico 19.32),
mas será que os mais velhos demonstram tal
reverência ao Senhor? Somos bons exemplos para
os jovens?
Quando velho, o apóstolo Paulo escreveu: “Sou
grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo
Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel”
(1Timóteo 1.12 NKJV). Então, ele alertou Timóteo:
“Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário,
torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no
procedimento, no amor, na fé, na pureza... que o teu
progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de ti
mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres;
porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo
como aos teus ouvintes” (1Timóteo 4.12,15-16 NKJV).
Paulo reconheceu que foi dotado por Deus para
proferir essas palavras de sabedoria para este jovem.
Hoje, muitos defendem que o cristianismo não
deveria ser complicado pela doutrina, e muitos
jovens estão abraçando essa crença enquanto os
mais velhos permanecem em silêncio. Assim como
Paulo, nós deveríamos enfaticamente alertar os mais
jovens que nós. “Ouvi, filhos, a instrução do pai...
porque vos dou boa doutrina” (Provérbios 4.1-2
NKJV
).
Com instruções cuidadosas, Paulo incentiva seu
filho espiritual a aconselhar seus anciãos sobre a fé,
agarrando-se às doutrinas da Escritura para ensiná-
las aos mais jovens e aos mais velhos. Esta é uma
bela imagem do impacto da verdade de Deus de
geração em geração. Os mais velhos também podem
aprender com os mais jovens. Esta é a sabedoria de
Deus, Seu plano mestre.
Para todos aqueles que leem este livro, meu
desejo é que vocês sintam Deus os encorajando a
impactar aqueles ao seu redor, independentemente
da idade. Procurem o objetivo de Deus em cada
situação e em cada rosto ou voz que encontrarem
diariamente, pois o tempo que o Senhor vos deu não
é sem propósito. Preparem-se para cada dia rogando
a Deus para que Ele abra os seus olhos para o que
está acontecendo ao seu redor. Você pode se sentir
só, mas talvez Deus utilize seu sorriso para trazer
alguém para perto de você. Você pode sentir dores,
mas o Senhor pode usar a sua determinação para
fortalecer alguém que não tenha mais vontade de
seguir adiante. Podemos rejeitar a oportunidade de
sermos usados por Deus ou podemos aproveitar as
oportunidades para impactar os outros como um
testemunho a Ele.
Dor: uma ferramenta e não uma desculpa
Enquanto escrevia este livro, tive o grande
privilégio de visitar Louis Zamperini, um veterano
da Segunda Guerra Mundial que foi prisioneiro de
guerra durante dois anos e meio em um cárcere no
Japão. Aos 94 anos de idade, ele viajou de sua casa,
na Califórnia, para a cidade de Charlotte, na
Carolina do Norte, e gentilmente apareceu na
Biblioteca Billy Graham. Durante horas, apertou as
mãos das pessoas e autografou cópias do seu livro
Unbroken, que conta a história da sua vida2. No dia
seguinte, ele dirigiu durante duas horas para chegar
até a minha casa, onde almoçamos juntos. Fazia
muitos anos desde a última vez que tínhamos nos
encontrado. Pacientemente, Louis respondia a todas
as minhas perguntas, e pedi que ele contasse sobre
as experiências que o levaram à conversão.
Quando Louis foi resgatado, em 1945, e recebido
em casa como um herói, aproveitou seus quinze
minutos de fama. Humanamente falando, tinha
motivos para se tornar amargo e cínico. Sua esposa,
uma mulher de fibra, o convenceu a participar de
nossa cruzada de 1949 em Los Angeles, quando
realizaríamos encontros evangélicos de pregação do
evangelho durante seis semanas seguidas. Quando
Louis retornou na segunda noite, em vez de
“escapar” mais cedo como havia planejado fazer
quando recebeu o convite, ele conta que o Espírito
Santo penetrou em seu coração. Foi, então, pelo
corredor até uma sala de orações, onde se
arrependeu de seus pecados, entregando toda a sua
vida ao Senhor Jesus Cristo.
“Billy”, ele me disse, “em questão de instantes, a
minha vida mudou para sempre. Desde aquela noite,
nunca mais tive um pesadelo sequer com o meu
cativeiro. O Senhor me transformou radicalmente”.
O que aconteceu na vida de Louis após a sua
conversão é uma história emocionante. Ao pedir
encarecidamente que me contasse tudo o que fez a
partir de então, ele deu glórias ao Senhor por usá-lo,
mesmo agora, aos 94 anos. Louis é uma dessas
“damas da noite”. Ainda servindo ao Senhor, ele
investe o fruto de suas experiências na vida dos
outros, tanto os da mesma idade quanto as crianças,
que adoram suas histórias, como o fantástico relato
de sua captura e libertação, que é contado nas
escolas públicas. O testemunho de Louis e a Palavra
de Deus estão impactando todas as gerações com o
espírito da esperança, pois a Bíblia diz: “eu ponho a
minha esperança na tua promessa” (Salmo 119.114
NLT
).
Eu gostaria que todos tivessem a oportunidade de
sentar e conversar com alguém como Louis
Zamperini. Ele é uma inspiração. É verdade que
nem todos têm uma história como a de Louis para
contar, mas isso não nos alegra? Quando Louis
estava no cativeiro como prisioneiro de guerra, ele
duvidou que um dia fosse chegar à idade de se
aposentar. Lá ele passou pelos desafios da velhice
devido a um tratamento brutal e à falta de
alimentação, e seu corpo começou a sucumbir. A
maioria de nós não passou por isso aos 28 anos de
idade.
Aqueles que estiverem sentindo dores e
indisposições devem pensar em Louis e em tanto
outros que, como ele, aguentaram sofrimentos
insuportáveis em nome do seu país. Pense nos
apóstolos e nos primeiros cristãos, que foram
queimados ou decapitados devido à sua lealdade a
Jesus Cristo. Então, lembre-se do Senhor Jesus, que
veio ao mundo e tomou para si nossa culpa e nossa
vergonha para nos libertar do cativeiro do pecado.
Assim como eles, encontre uma forma de usar sua
situação desconfortável para apontar a direção do
Senhor aos outros. Que privilégio o nosso de poder
lembrar os outros de que somos abençoados de
tantas formas e que temos o Senhor Jesus para nos
confortar diante de tantas circunstâncias que temos
que enfrentar. Alguns de nós podem estar acamados
ou confinados a uma cadeira de rodas, mas ainda
temos um trabalho importante a fazer.
Não há espaço suficiente neste livro para registrar
as histórias que chegaram até mim por meio das
pessoas que me apoiaram durante o ministério,
algumas durante sessenta anos. Aprendi muito com
elas, que se comprometeram a orar pelo trabalho do
Senhor. Certa vez, uma jovem dama contou que sua
avó inválida orou pela nossa equipe de cruzada até a
sua morte. Ela escreveu nossos nomes na Bíblia.
Isso é humildade. Também é mortificação. Quantas
lições não podem ser aprendidas com esta leal santa?
Deus nos proíbe de nos aposentarmos da oração, o
mais doce trabalho da alma.
Aposentadoria: os dois caminhos
Para aqueles que se aposentaram e ainda gozam
de boa saúde, há muitas oportunidades para servir.
Devemos sempre esperar que Deus revele Seus
planos para nós. O fato de nos aposentarmos não
significa que nosso trabalho está concluído. A
aposentadoria nos dá a oportunidade de nos
dedicarmos mais ao trabalho de Deus, servindo os
outros em nome do Senhor.
Tantas pessoas me vêm à mente quando penso
naqueles que se aposentaram por diversas razões.
Uma delas é meu amigo Mel Cheatham, um dos
neurocirurgiões mais respeitados do mundo. Ele era
um dos médicos que tinha a agenda mais lotada da
Califórnia, e também era professor clínico de
neurocirurgia na UCLA (Universidade da
Califórnia). Altamente respeitado pelos seus colegas,
desenvolveu novos procedimentos cirúrgicos,
publicou em muitos periódicos médicos e foi eleito
presidente da associação profissional estadual da sua
especialidade. Então, no auge de sua carreira, se
afastou do trabalho e antecipou sua aposentadoria.
“Aos olhos da maioria dos meus colegas, estou
completamente aposentado”, ele me disse muitos
anos após deixar seus cargos, “mas eu nunca estive
tão ativo. O que eles não entendem é que apenas me
aposentei porque senti que Deus estava me
chamando para usar minha experiência de outra
forma, o que fiz. E estes têm sido os anos mais
emocionantes da minha vida”. Agora, ele viaja pelo
mundo prestando consultoria a clínicas e hospitais
localizados em países menos desenvolvidos, para
ajudá-los a satisfazer as necessidades médicas da
população de forma mais eficaz. Ele também
escreve regularmente, de modo a utilizar suas
experiências pós-aposentadoria para sensibilizar
profissionais da medicina a se voluntariarem para
ajudar os necessitados. Grande parte do seu trabalho
é feito através da Samaritan’s Purse, uma
organização evangélica e humanitária presidida pelo
meu filho Franklin.
Muito diferente é a história que ouvi de outro
homem, já há alguns anos. Empresário astuto e com
uma quantidade impressionante de vitórias, ele foi
contratado como presidente de uma grande empresa
que pasava por sérias dificuldades, quando tinha
pouco mais de 50 anos de idade. Após algum tempo
trabalhando duro, ele reverteu a situação da
empresa, não apenas recuperando o patrimônio e as
finanças, mas expandindo sua operação para uma
série de países. Histórias sobre seu sucesso como
executivo sempre apareciam nos jornais de negócios
e as suas opiniões sobre assuntos comerciais eram
requisitadas — e até mesmo disputadas — por
grupos empresariais e agências governamentais. De
acordo com as suas regras empresariais, ele se
aposentou aos 68 anos de idade, passando um curto
período como consultor do novo presidente da
empresa, porém não mais envolvido diretamente
com seus negócios.
“Eu estava totalmente despreparado para a
aposentadoria”, confessou posteriormente. “Estava
tão ocupado que não me preocupava em ter
hobbies, a não ser uma ou outra partida de tênis de
vez em quando — ainda assim, relacionada a algum
interesse de trabalho. A empresa tinha sido minha
vida, mas quando eu saí do escritório pela última
vez, eles sequer me ligaram. Mudamo-nos e,
durante cerca de um ano, eu me mantive ocupado
construindo nossa casa dos sonhos. Porém, uma vez
terminada, eu não sabia mais o que fazer.
Atualmente, jogo tênis quase todo dia — não
porque eu adore, mas simplesmente porque não
consigo pensar em outra coisa para fazer. Minha
esposa diz que estou deprimido, mas ela não
entende o quão inútil eu me sinto. Eu odeio estar
aposentado.”
Admitamos que você não seja um neurocirurgião
altamente qualificado ou um grande executivo:
poucos de nós o são. O contraste entre estes dois
indivíduos ensina uma lição importante sobre os
anos de aposentadoria que todos nós precisamos
aprender: o melhor momento para se preparar para
eles é antes que eles cheguem. Ainda mais
importante, devemos saber que, independentemente
de quem sejamos, a aposentadoria nos traz duas
escolhas: podemos nos entregar ou utilizá-la para
causar um impacto na vida dos outros. Colocado de
outra forma, a escolha que temos diante de nós é
entre a autoindulgência e a atividade significativa.
Pense no executivo de negócios cujo perfil eu
descrevi há pouco. Eu suspeito verdadeiramente que
pelo menos uma dúzia de entidades sociais
filantrópicas na comunidade dele poderia ter
utilizado a sua expertise em negócios para se tornar
mais eficiente. Essas entidades amariam tê-lo como
voluntário para que ele as ajudasse — mas ele nunca
as procurou.
Traçando o objetivo
Isso significa que é errado relaxar e aproveitar a
vida durante os anos de aposentadoria? Não, de jeito
nenhum. Tal afirmação seria o mesmo que dizer que
Deus não quer que aproveitemos as coisas boas que
Ele nos proporciona — o que não é verdade. O
escritor de Eclesiastes disse: “Ainda que o homem
viva muitos anos, regozije-se em todos eles” (11.8).
O apóstolo Paulo reproduziu o comando do Velho
Testamento para que as crianças honrem seus pais,
“para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a
terra” (Efésios 6.3). Deus sabe que precisamos de
descanso, exercícios e relaxamento. Após um
período exaustivo de ministério, Jesus alertou seus
discípulos: “vinde repousar um pouco, à parte, num
lugar deserto” (Marcos 6.31).
Mas se tudo o que fizermos se resumir a isso, se
nossos objetivos durante a aposentadoria forem
aproveitar a vida e nos divertir o máximo possível,
então nós podemos cair na armadilha da atividade
vazia, sem sentido. Mais do que isso, nós nos
esquecemos das verdades centrais da Bíblia: todos
os dias, sem exceção, são uma dádiva de Deus, e
devemos usá-los para Sua glória. Isso é igualmente
válido tanto para os anos de trabalho quanto para os
anos de aposentadoria.
Descobrindo o segredo
Então, qual é o segredo para uma aposentadoria
de sucesso? Enxergue a sua aposentadoria como um
presente de Deus. A aposentadoria não é
simplesmente parte de uma vida longa ou uma
recompensa pelos seus anos de trabalho árduo; a
aposentadoria é uma dádiva de Deus. Quando você
entender isso, sua visão da aposentadoria irá mudar
completamente.
Deus nos deu esses anos, sejam eles poucos ou
muitos, para podermos fazer a Sua vontade. A
admoestação de Paulo é válida para todos os fiéis:
“E Ele morreu por todos, para que os que vivem não
vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que
por eles morreu e ressuscitou” (2Coríntios 5.15).
Porém, a vontade de Deus também é específica e
individual. Os planos dele para a sua aposentadoria
não são os mesmos que para outra pessoa. Lembre-
se: Ele sabe tudo sobre você. Ele sabe o que você
pode e não pode; Ele conhece suas habilidades e
destrezas que, afinal, vêm Dele; Ele também sabe
quais oportunidades você tem para servi-lo. Além
disso, Ele sabe quais são suas necessidades e
limitações nesse estágio da vida, e quer ajudar você
a superá-las.
Então, as perguntas que temos que nos fazer são
as seguintes: vamos seguir o plano de Deus para
nossos anos de aposentadoria? Ou vamos nos deixar
levar, acreditando que nossa utilidade chegou ao fim
e passando o resto dos nossos dias aniquilando todo
regozijo que podemos tirar da vida? Admitamos que
Seu plano para nós mude com o decorrer dos anos e
que nossas circunstâncias se alterem: não importa há
quanto tempo estejamos percorrendo a estrada da
vida; nosso objetivo constante deve ser buscar o
rumo de Deus para o que está adiante. Lembre-se:
Seu caminho é sempre, sempre o melhor.
Talvez você esteja pensando em se aposentar,
talvez já tenha se aposentado. Seja qual for a sua
situação, procure descobrir o desejo de Deus para o
seu futuro. Ore por isso, aconselhe-se com aqueles
que considera sábios, busque rumo na Palavra de
Deus, e confie Nele para guiá-lo. A vontade de Deus
para seus anos de aposentadoria pode não ser tão
diferente daquilo que você previu, mas também
pode levá-lo para novos e inesperados rumos.
Porém, seja qual for o resultado, faça da vontade de
Deus a sua prioridade para os anos de
aposentadoria. Só então você poderá olhar para sua
vida e dizer com o rei Davi: “Como são boas as
bênçãos que me dás! Como são maravilhosas!”
(Salmo 16.6 NCV).
Superando o inesperado
Já ouviu o ditado que diz que uma porta se abre
quando outra se fecha? Há muita verdade nisso. A
Associação Evangélica Billy Graham tem um
programa de capelania chamado Equipe de Resposta
Rápida (ERR). Sempre trabalhamos com capelanias
cristãs ao redor do mundo, mas uma grande
demanda surgiu após o episódio de 11 de setembro.
Meu filho Franklin tinha ido a Nova York para ver
como a Samaritan’s Purse poderia prestar
assistência. A principal necessidade que ele
identificou foram as capelanias. Pessoas devastadas
pelo ataque catastrófico vagavam por ruas que, um
dia, cercaram as Torres Gêmeas. Algumas choravam
desesperadamente, outras olhavam para o céu,
estarrecidas, e ainda havia aquelas que andavam sem
rumo, segurando placas com o nome e a foto de
entes queridos que estavam desaparecidos. Todas
tinham pelo menos uma coisa em comum: pareciam
perdidas.
O Marco Zero não era facilmente acessível, mas
Franklin começou a chamar pastores e estudantes da
Bíblia para que viessem e dessem ajuda espiritual.
Ficamos impressionados com a resposta de pessoas
que tinham atributos e coração para tal trabalho.
Franklin teve a visão de reunir e treinar um batalhão
de capelães que estavam dispostos a se deslocar
imediatamente para regiões no país ou no mundo
que tivessem sido atingidas pelo desastre. Hoje,
muitos desses voluntários estão aposentados —
homens e mulheres que querem estender a mão
àqueles que estão em necessidade, abrir a Bíblia e
mostrar que ainda há esperança através de Jesus
Cristo, mesmo em momentos de desespero. Almas
foram salvas e fiéis foram fortalecidos através de
orações com os capelães, recebendo o conforto que
vem de cima.
Um homem que tinha trabalhado como pedreiro
durante toda a sua vida disse: “Achei que minha vida
tinha acabado quando fui obrigado a me aposentar
devido a um problema nas costas. Eu nunca tinha
sonhado que Deus permitiria que eu ajudasse
pessoas com problemas maiores do que os meus
através de orações que fiz com elas e para elas.
Quando vejo um cascalho deixado por um tornado
assassino, lembro-me dos anos que passei limpando
resíduos de campos de obras. Agora, posso ajudar
pessoas a limpar sua mente ao falar sobre o
significado da Palavra de Deus”.
O serviço voluntário se tornou muito popular nas
últimas décadas. Algumas empresas até exigem que
seus funcionários dediquem algumas horas por ano a
serviços voluntários. Melhor ainda é quando a
pessoa faz isso em resposta a um real desejo de
ajudar o outro, e não em cumprimento a uma
exigência.
A Samaritan’s Purse foi uma grande líder nessa
área, oferecendo oportunidades para pessoas com
histórias de vida muito diferentes. Há trajetórias
tocantes de médicos que deixaram seus consultórios
lucrativos para trabalhar como missionários durante
algumas semanas em países do terceiro mundo.
Milhares se voluntariam a cada ano para enviar
caixas de sapato para crianças por meio do
Operation Christmas Child (Operação Natal
Criança, em tradução livre). Um casal de
aposentados passou novembro e dezembro
trabalhando no armazém da Carolina do Norte,
onde prepararam as caixas que seriam enviadas para
o exterior. Eles dirigiram até o Norte do país e
dormiram no próprio trailer para estar prontos para
o trabalho no dia seguinte: “Enquanto Deus nos der
forças, queremos passar nossos dias dessa forma:
somos muito abençoados”.
Outros aposentados aproveitam para aprender
mais sobre a Bíblia. Uma senhora que frequentava
um curso sobre a Bíblia no Cove disse: “Nunca me
senti instruída para conversar com os outros sobre o
Senhor, porém, encontrar outras pessoas que se
sentiam da mesma forma e descobrir mais sobre as
Escrituras me encheu de coragem para ensinar ao
próximo. Se não tivesse me aposentado, eu nunca
teria aproveitado essa oportunidade”.
Gostaria de incentivá-lo a orar e pedir ao Senhor
que lhe mostre o que pode ser feito para aproveitar
o seu tempo e os seus talentos. Envolva-se com a
igreja da sua comunidade e outros ministérios que
direcionem as pessoas para Cristo. Isso aumentará a
sua disposição e a sua fé se tornará ainda mais
profunda. Sinta no seu coração aquilo que Pedro
escreveu quando se aproximava do fim de sua vida:
“Antes, crescei na graça e no conhecimento de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a
glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pedro
3.18). Ao fazer isso, você será capaz de ajudar os
outros a fazer o mesmo.
Em qualquer coisa que faça, mantenha corpo e
mente ocupados; não deixe que a preguiça e o tédio
proliferem em sua alma. O diabo se aproveita dos
preguiçosos e entediados; ele sabe que estão mais
propensos à tentação e à apatia do que aqueles que
estão ocupados com atividades significativas.
Lembre-se da admoestação da Bíblia: “Não deem ao
Diabo oportunidade para tentar vocês” (Efésios
4.27).
Lidando com menos opções
Talvez você esteja dizendo a si mesmo: “Aquilo
que você está sugerindo pode ser bom para os
outros, mas eu não tenho nenhuma dessas opções.
Tudo o que posso fazer é lidar com os problemas
que estou enfrentando, e eles não estão
melhorando”. Nós nunca sabemos o que o futuro
nos reserva, mas Deus sabe. É por isso que Jesus
nos alertou para não ficarmos paralisados pelo medo
que temos do futuro, mas para confiarmos nossa
vida em Suas mãos: “E nenhum de vocês pode
encompridar a sua vida, por mais que se preocupe
com isso... mas buscai primeiro o Reino de Deus, e
a sua justiça, e todas essas coisas vos serão
acrescentadas” (Mateus 6.27,33).
Eu sempre penso em meu padrasto, o Dr. L.
Nelson Bell. Durante vinte e cinco anos, ele e sua
esposa, Virginia, serviram o povo chinês como
médicos missionários (minha esposa Ruth nasceu e
cresceu lá). Ele era uma das pessoas mais ocupadas
que eu já conheci — e uma das mais dedicadas.
Uma das minhas memórias mais marcantes do Dr.
Bell foi a forma como ele cuidou de sua esposa após
ela sofrer uma série de derrames com sequelas.
Confinada a uma cadeira de rodas e precisando de
atenção constante, seria lógico que fosse internada
em uma casa de repouso. No entanto, ele se recusou
a fazê-lo. Deixou de lado quase todas as suas
obrigações e se dedicou integralmente à sua amada.
Quando o indagaram sobre o porquê de sua decisão,
ele simplesmente respondeu: “Agora, este é o meu
chamado”.
Um dia, você poderá não conseguir mais fazer o
que fazia ou gostaria de fazer. Em vez de se sentir
culpado, frustrado ou ressentido, agradeça a Deus
por ainda poder fazer algumas coisas — e tenha
como objetivo fazê-las bem e com fé. Entregue seu
tempo e seu ser a Jesus Cristo, buscando a vontade
dele, independentemente do que aconteça no seu
caminho.

A CAMINHO DE CASA
COM ESPERANÇA
Jesus explicou este princípio a Pedro pouco antes
de ascender aos céus. O diálogo entre Pedro e seu
Senhor é uma das trocas mais ternas — no entanto,
mais diretas — do Evangelho. Jesus perguntou para
Pedro: “Tu me amas?” Pedro respondeu: “Sim,
Senhor, tu sabes que te amo”. Disselhe Jesus:
“Pastoreia as minhas ovelhas... em verdade, te digo
que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti
mesmo e andavas por onde querias; quando, porém,
fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e
te levará para onde não queres” (João 21.16-18).
Jesus estava prevendo a morte de Pedro, que
ocorreu quarenta anos depois, quando Pedro
escreveu: “Também considero justo, enquanto estou
neste tabernáculo, despertar-vos com essas
lembranças, pois sei que logo terei de deixar este
corpo mortal, como o nosso Senhor Jesus Cristo me
disse claramente. Portanto, farei tudo o que puder
para que, depois da minha morte, vocês lembrem
sempre dessas coisas” (2Pedro 1.13-15).
Face à morte brutal, este velho e fiel seguidor de
Jesus estava a fazer o que Cristo comandou: cuidar
dos outros. Enquanto preparava sua partida da vida
terrestre, ele não se absteve de alertar os outros
sobre aquilo que eles deveriam lembrar muito tempo
após sua partida. Que coisas eram essas? Pedro
tinha acabado de dizer-lhes: “acrescentai à vossa fé a
bondade, à bondade, a sabedoria, à sabedoria, o
autocontrole; ao autocontrole, a perseverança, à
perseverança, a piedade; à piedade, a fraternidade; e
à fraternidade, o amor. Porque estas coisas,
existindo em vós e em vós aumentando, fazem com
que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no
pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo”
(2Pedro 1.5-8).
Pedro não se submeteu à autopiedade. Em vez
disso, imergiu no conhecimento de nosso Senhor
Jesus Cristo, expressão muitas vezes repetida nos
sete curtos capítulos dos livros 1 e 3 de Pedro.
Pode ser que você seja uma pessoa ativa, mas
também pode ser que você seja acometido por dores
ou esteja confinado a uma cama, porém ainda pode
ser um servo produtivo de Jesus Cristo ao preencher
sua mente com o conhecimento do senhor Jesus
Cristo e, assim como Pedro, impactar aqueles que
estão ao seu redor com esperança: “Segundo a Sua
promessa, esperamos novos céus... pelo que,
amados..., crescei na graça e no conhecimento de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pedro
3.13-14,18).

1 Jones, E. Stanley. Growing Spiritually. Nashville, Abington


Press, 1953, p. 313
2 Hillenbrand, Laura. Unbroken: A World War II Story of Survival,
Resilience, and Redemption. Nova York, Random House, 2010
3 Jones, E. Stanley; MATTHEWS, Eunice Jones. The Divine Yes.
Nashville, Abington Press, 1975
Pense nos anos de ouro

Eis que já agora estou velho e não sei


o dia da minha morte.
— Gênesis 27:2 KJV
Programe-se para os anos de ouro.
Você pode chegar a vivê-los.
— Autor desconhecido
“Anos de ouro” deve ser uma expressão criada
pelos jovens. Dificilmente, alguém acima de 70 anos
de idade descreveria essa fase da vida por meio de
uma alegoria como essa. Afinal, o reluzir do ouro
traz muitas ideias grandes, porém ilusórias, para a
mente. “Investir em ouro” é uma propaganda
comum na televisão hoje. A “regra de ouro” é
largamente incentivada nos negócios, e também há
quem defenda que “o silêncio vale ouro”.
Então, por que os anos de ouro são atribuídos aos
idosos? Talvez porque os casais afortunados que
chegam às bodas de ouro normalmente tenham 70
anos ou mais. Eu lembro quando Ruth e eu
comemoramos nossas bodas de ouro, em 1993. Ela
se sentia orgulhosa pelo fato de o vestido de noiva
que fez quando jovem ainda servir nela. Eu estava
orgulhoso simplesmente por estar ao lado dela.
A primeira menção bíblica ao ouro encontra-se na
descrição das terras ao redor do Éden (Gênesis 2.11-
12). Nenhum outro metal é tão mencionado na
Bíblia quanto o ouro. Deus diz: “meu é o ouro”
(Ageu 2.8). Apesar de ser altamente valorizado, o
ouro era utilizado de forma abundante: de xícaras a
coroas, de escudos a sinos, de vasos a cetros, de
altares a tronos, de dobradiças de porta a ruas. A
Bíblia fala em ouro de escolha, ouro precioso, ouro
puro, ouro perfeito, fios de ouro, pesos de ouro,
moedas de ouro, querubim de ouro e até ratos de
ouro (1Samuel 6). Mas o ouro não era utilizado só
para fins divinos. Os homens também derretiam o
metal precioso para esculpir ídolos e deuses que os
agradassem. Insensatamente, eles valorizaram o ouro
mais do que Deus.
Virtudes como a sabedoria, o conhecimento, a
reputação e a fé na Escritura são mais valiosas do
que o ouro. “Eu, a Sabedoria, habito com a
prudência e disponho de conhecimentos e de
conselhos. Meu é o conselho e a verdadeira
sabedoria, eu sou o entendimento, minha é a
fortaleza... os que me procuram me acham.
Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e
justiça. Melhor é o meu fruto do que o ouro, do que
o ouro refinado” (Provérbios 8.12,14,17-19 NKJV).
Aqui, nós vemos o Senhor exaltando a virtudes
como sabedoria, conhecimento, bom nome e fé.
Estes são apenas alguns dentre os muitos atributos
de Deus, e Ele os oferece para aqueles que vivem
para Ele. “Porque melhor é a sabedoria do que joias,
e de tudo o que se deseja nada se pode comparar
com ela” (Provérbios 8.11 NKJV). Em Provérbios
16.16, a Bíblia nos diz que é muito melhor adquirir
sabedoria do que ouro: “Há ouro e abundância de
rubis, mas os lábios instruídos são joia preciosa”
(Provérbios 20.15 NKJV). “Mais vale o bom nome do
que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do
que a prata e o ouro. O rico e o pobre se encontram;
a um e a outro faz o Senhor” (Provérbios 22.1-2
NKJV
). “Vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro”
(1Pedro 1.7).
Planejando o futuro
Você pode estar se perguntando: “O que isso tem
a ver com os planos para a velhice?” As coisas que
valorizamos durante a melhor época de nossa vida
nos seguirão durante os anos de crepúsculo. Se
sabiamente valorizarmos a fé no Senhor Jesus
Cristo, ela irá se fortalecer à medida que
envelhecermos. Se cuidarmos da nossa família,
dando amor e compreensão, nós nos beneficiaremos
desta amizade contínua. Quando praticamos a regra
de ouro, amando os outros e a nós mesmos,
agradamos a Deus.
Pouco antes do desaquecimento econômico de
2008, nos EUA, um executivo de sucesso de cerca
de 40 anos de idade anunciou seus rendimentos
acionários com muito orgulho, que estavam na casa
de milhões de dólares. “Foi uma grande emoção ver
o meu sonho se realizar”, ele disse. Algum tempo
depois, tornou-se público que sua mulher o
abandonara e seu filho adolescente fora preso
porque o garoto gastava sua mesada lucrativa para
comprar álcool e drogas. Muitos investem com
grande maestria em atividades comerciais, porém
acabam se esquecendo de investir tempo e interesse
nas suas posses mais valiosas: suas esposas e seus
filhos.
Este certamente não é o caso de todos os que
tiveram carreiras de sucesso, mas a história deve
servir de alerta. Há muito a se pensar em cada
estágio da vida. Tentamos ensinar os jovens a
planejar o próprio futuro indo bem na escola e
aproveitando as oportunidades para construir uma
base sólida para a vida adulta. Os pais trabalham
muito para proporcionar uma boa educação a seus
filhos. Os casais procuram fazer bons investimentos
para a aposentadoria futura. Até os mais velhos
estão traçando novos caminhos, pois as regras de
ouro para os cidadãos de ouro mudaram
drasticamente nos últimos anos.
Devido à queda da bolsa, o pé-de-meia de todos
nós perdeu muito do seu valor. Aqueles à beira da
aposentadoria tiveram que reconsiderar a
confiabilidade de planos de aposentadoria, fundos
de pensão, fundos de mútuo, dentre outros, e muitos
acabaram mudando de direção. No entanto, o
planejamento da aposentadoria e a preparação para
a morte se tornaram grandes negócios. Cuidar com
responsabilidade dos detalhes previsíveis requer
grande sabedoria.
Em Gênesis 27, vemos o patriarca de Israel,
Isaque, se preparar para a sua morte. Ele crê que o
fim está próximo, então decide deixar como herança
a maior parte de sua propriedade para seu filho mais
velho, Esaú, como manda o costume. Infelizmente,
seu plano é frustrado devido a dois fatores: a astúcia
de sua esposa e de seu outro filho, Jacó, e a perda
das suas faculdades. Inadvertidamente, Isaque
abençoa Jacó, deixando o herdeiro legal sem
herança.
O que eu considero intrigante nesta passagem é
que a preocupação de Isaque é realmente preparar
os outros — mais especificamente, seus dois filhos
— para a sua morte, porém não logra êxito. Dentre
as muitas lições que podemos aprender com esta
passagem bíblica, uma delas é que Isaac está velho
demais para assegurar que seus desejos finais sejam
corretamente executados, causando grande
desordem dentro da família.
Mesmo que ninguém goste de pensar ou se
preparar para a morte, a Bíblia enfatiza tais
questões. Recentemente, uma médica foi
entrevistada sobre morte e preparação financeira em
um programa de rádio. Ela fez uma declaração
assustadora: “Nós não fomos feitos para passar pela
morte. A morte é feia”. Eu gostaria de mostrar para
ela o trecho da Escritura que diz: “Tragada foi a
morte pela vitória” (1Coríntios 15.54 NKJV).
A Bíblia faz referências à morte e ao morrer de
diversas formas, quase mil vezes. Contudo, a Bíblia
é um livro de grande esperança. A vida se situa entre
dois extremos: o nascimento e a morte. Fora o
arrebatamento da Igreja, haverá uma morte para
cada nascimento. Nem todos passarão pela velhice,
mas a morte virá para todos. Para nós, fiéis, a
esperança e o conforto vêm da Palavra de Deus, que
diz: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora,
morrem no Senhor” (Apocalipse 14.13 NKJV).
Quando uma criança nasce, os pais não podem
fazer nada para prepará-la para a vida, pois a criança
já tem o sopro da vida circulando pelo seu corpo. O
que eles devem fazer é prepará-la para as
experiências do viver: decepções e alegrias, derrotas
e vitórias, morte e vida eterna. Que pais cristãos não
querem que seus filhos compreendam o ciclo da
vida e a esperança na vida após a morte?
Criado na fazenda, fui exposto a este ciclo vital
desde minhas primeiras memórias. Havia lições a
serem aprendidas até mesmo quando um animal da
fazenda morria. Quão mais importante é a alma
humana? Atualmente, muitos pais protegem seus
filhos de tudo o que possa lhes trazer sofrimento.
Isso pode atrasar o desenvolvimento de uma criança
e causar um trauma emocional. Quando se tornam
adultas, essas crianças superprotegidas não
conseguem lidar com o inevitável porque nunca
foram expostas a ele. Meu cachorro Sam, um
golden retriever, morreu ano passado, e lembrei-me
de como meus filhos costumavam fazer funerais
para seus animais de estimação que faleciam. Era
tocante ver o respeito deles para com a morte,
mesmo a morte de seus amados bichinhos de
estimação.
A vida é incerta; não sabemos o que o futuro nos
reserva. A Bíblia alerta: “Vós não sabeis o que
sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas,
como neblina que aparece por instante e logo se
dissipa ... Portanto, aquele que sabe que deve fazer
o bem e não o faz nisso está pecando” (Tiago
4.14,17). Como a morte é uma realidade inegável,
deveríamos todos ser diligentes na preparação para
os últimos anos de vida. Coisas desta natureza são
sérias. Não acho graça em quem faz pilhérias de um
evento tão monumental; no entanto, admiro aqueles
que conseguem aliviar corações angustiados,
trazendo um cintilar em olhos repletos de lágrimas
em tempos pesarosos.
Uma família de apoiadores da nossa organização
contou uma história sobre sua irmã mais velha, cuja
saúde estava debilitada. Ela não tinha marido nem
filhos, então seus irmãos estavam cuidando dela com
muito carinho. Eles insistiram para que ela os
acompanhasse na reunião com um mestre de
funeral. Ele mostrou uma série de pacotes para ela e
perguntou: “Qual você prefere?” Os irmãos olharam
para ela e disseram: “Qual você quer?” Sem mudar
a expressão de seu rosto, a irmã respondeu:
“Quando a hora chegar, me surpreendam!”. Isso
encerrou a reunião e todos voltaram para casa com
corações leves e o planejamento concluído.
Contrariamente, um advogado que não fazia o
que pregava morreu inesperadamente de um ataque
no coração, aos 70 anos de idade. Durante décadas,
pessoas da sua comunidade o procuraram em busca
de aconselhamento jurídico: transferência de
propriedade, litígios entre vizinhos, conflitos
familiares, testamentos e espólios — toda a gama de
assuntos jurídicos de que normalmente se ocupa um
advogado. Seus clientes tinham confiança nele —
não apenas em decorrência do seu conhecimento da
lei, mas pela sua sabedoria prática e pelo seu bom-
senso. Mesmo quando ele diminuiu o ritmo de
trabalho e contratou um sócio mais jovem para
assumir o escritório, as pessoas ainda procuravam
por seus aconselhamentos. Centenas de pessoas
vieram ao seu funeral, e a sua família ficou
comovida com a quantidade de cartas e cartões
enviados por pessoas que ele ajudou no decorrer dos
anos. O jornal local publicou um editorial exaltando
suas contribuições para a comunidade e lamentando
a sua partida.
Pouco após o funeral, sua família fez uma
descoberta desconcertante — até mesmo chocante:
ele nunca tinha cuidado da administração de seus
próprios bens. Ele não tinha informado nenhum
membro da família sobre seus negócios financeiros,
eles não sabiam quais propriedades ou títulos ele
detinha (se é que detinha algum), nem se ele tinha
um cofre. Apesar de, esporadicamente, expressar o
desejo de deixar parte de seus bens para a igreja que
frequentava e diversas instituições filantrópicas,
assim como de ajudar uma irmã viúva, nenhum
desses desejos verbais foi realizado. Foram
necessários meses (e muito dinheiro) para organizar
seus negócios. Tudo isso poderia ter sido evitado
caso ele tivesse feito aquilo que inúmeras vezes
aconselhou aos outros durante anos a fio: preparar
uma declaração de bens completa. A razão pela qual
ele nunca o fez, nem instruiu sua família sobre sua
situação financeira, ninguém sabe. Talvez, ele não
conseguisse encarar o fato de que estava
envelhecendo e algum dia morreria.
Seja a preparação de um testamento ou a
resolução de uma dúzia de questões práticas, o
envelhecimento nos apresenta uma série de desafios.
Se não cuidarmos desses detalhes necessários,
outros poderão criar dificuldades para aqueles que
deixamos para trás. É nossa obrigação sermos
responsáveis por questões que serão relevantes por
muito tempo após a nossa partida.
Nem toda decisão pode ser tomada
antecipadamente. Evidentemente, algumas questões
práticas só podem ser resolvidas quando surgem.
Não há como prever, por exemplo, se um cônjuge
irá quebrar o fêmur ou se as economias perderão
parte de seu valor devido a uma queda no mercado
de capitais. Pior ainda, não há como planejarmos
como lidaremos com uma situação dessas. Porém,
alguns assuntos podem ser antecipados e, quando
for o caso, temos que agir. Deus não quer que
deixemos um legado de ressentimento, conflito ou
confusão atrás de nós — o que pode facilmente
acontecer se negligenciarmos os assuntos práticos
que se tornam mais relevantes quando
envelhecemos. Lembre-se que “o prudente atenta
para os seus passos” (Provérbios 14.15), e deseje
que “tudo seja feito com decência e ordem”
(1Coríntios 14.40).
À medida que envelhecemos, torna-se mais difícil
lidar com assuntos sensíveis e decisões importantes.
Resolver as dificuldades pode ser muito penoso ou
complicado para nós nesse estágio da vida, ou talvez
desejemos evitar tensões e conflitos que possam
surgir com os outros. Isso também pode gerar
pensamentos horrorosos sobre a inevitável marcha
do tempo ou nos obrigar a nos questionarmos sobre
nossa própria capacidade de tomar decisões
importantes quando envelhecemos. Além disso, o
estresse de uma doença inesperada, a morte de
nosso cônjuge ou outros tipos de crise podem nos
preocupar tanto que nos tornamos incapazes de
focar em qualquer outro assunto. Os médicos dizem
que muitas pessoas mais velhas também lutam
contra a depressão — uma característica marcante
da depressão é a incapacidade de tomar decisões.
Em tempos dolorosos, eu os encorajo a procurar
ajuda profissional quando tiverem que tomar muitas
decisões. Minha esperança é que, ao ler estas
páginas, você se sinta estimulado a tomar resoluções
– tanto para você quanto para aqueles que você
ama.
Especialista em dinheiro
“Eu nunca conheci uma pessoa mais velha que
não se preocupe com o seu dinheiro e se terá uma
quantia suficiente para o resto de seus dias”, um
advogado disse a um amigo meu recentemente.
“Mesmo as pessoas que não têm motivo para se
preocupar, se preocupam”.
A nossa sociedade dá muita ênfase ao dinheiro,
buscando evidenciar que a realização financeira é a
principal medida do verdadeiro sucesso de uma
pessoa na vida. Isso é um padrão falso, e temos que
evitar cair na armadilha de pensar que dinheiro é
tudo. Jesus avisou: “Ninguém pode servir a dois
senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e
amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao
outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”
(Lucas 16.13). Em seguida, Paulo alertou seu
protegido: “Os que querem ficar ricos caem em
tentação, e cilada, e em muitas concupiscências
insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens
na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é
raiz de todos os males” (1Timóteo 6.9-10).
Isso significa que é errado pensar em dinheiro ou
fazer um planejamento financeiro cuidadoso para
nossos últimos anos? Não, claro que não. Apenas se
certifique de que o dinheiro é o seu servo, e não o
seu senhor. Ele domina você ou o contrário? Não
importa se possui muitos ou poucos recursos
financeiros: Deus os deu a você e Ele quer que você
seja um gerente ou depositário fiel. Veja o seu
dinheiro como uma responsabilidade dada por Deus,
e não como algo que você é livre para usar (ou
desperdiçar) como bem entender.
Isso é especialmente importante quando
adentramos os anos da aposentadoria, uma vez que
nossa renda será provavelmente menor (ou mesmo
muito menor) do que era antes. “Nunca nos
preocupamos em planejar nosso orçamento”,
alguém disse. “Eu e minha esposa tínhamos bons
empregos e sempre tínhamos o suficiente para fazer
quase tudo o que queríamos. De repente, percebi
que isso não funcionava mais da mesma forma. Pela
primeira vez na minha vida, tive que economizar
cada centavo. Eu gostaria de ter feito isso mais
cedo”.
Um aposentado escreveu: “Um dos problemas da
aposentadoria é que você tem mais tempo para ler
sobre os problemas da aposentadoria”. Por mais que
esse pensamento seja cômico, ele também é
verdadeiro. Mas, em vez de lermos sobre os
problemas, deveríamos agir para resolver os
problemas.
Quais diretrizes financeiras devemos seguir
quando nos aproximamos da velhice? Sobre quais
problemas precisamos pensar e quais decisões
devemos tomar antes que se tornem um problema?
Deixe-me sugerir três diretrizes gerais.
Planeje sua aposentadoria de forma realista
Vários websites e muitos outros recursos podem
ajudá-lo a calcular quanto você precisará
economizar para ter uma aposentadoria confortável
— muitas pessoas não fazem isso e acabam
guardando muito pouco. Às vezes, não é possível
economizar para a aposentadoria — penso nas
cartas que recebo de pais solteiros ou de pessoas
desempregadas que não conseguem guardar nada.
Mas, para aqueles que conseguem, economizar
dinheiro requer disciplina. Aproveite o fundo de
aposentadoria da sua empresa (se houver) e só faça
um empréstimo se for uma emergência. Muitas
empresas também têm programas através dos quais
uma parte do contracheque é automaticamente
depositada em uma conta de poupança. Algumas
empresas transferem contribuições empregatícias a
planos de aposentadoria. “Pague-se a si primeiro” é
um velho provérbio que pode ser útil. O pitoresco
exemplo bíblico da formiga que, prudentemente,
guarda comida para o futuro ilustra uma lição
prática, porém profunda:
Vai ter com a formiga, ó preguiçoso,
considera os seus caminhos e sê sábio! ...
No estio, prepara o seu pão,
na sega, ajunta o seu mantimento
(Provérbios 6.6,8)
Foi-me dito, e concordo de todo coração, que,
assim como em todas as empreitadas de sucesso, a
base de uma boa aposentadoria é o planejamento. A
isso, eu somaria a necessidade de orar. A Bíblia no
diz para orarmos para tudo; então, ore para que o
Senhor se apodere de sua vida total e
completamente. Quando fazemos isso, revelamos
nossa dependência Nele.
Evite as armadilhas de gastos desnecessários
Uma das ciladas financeiras mais comuns dentre
os mais velhos é aquilo que podemos chamar de
“armadilha do crédito”. A tentação de acumular
enormes faturas de cartão de crédito para
comprarmos coisas pelas quais não podemos pagar
(e de que provavelmente não precisamos) pode
acontecer em qualquer estágio da vida, mas ela é
especialmente desastrosa para senhores que não têm
renda empregatícia para quitar a dívida.
Infelizmente, isso faz com que muitos idosos
declarem a própria falência.
Não dê presentes pelos quais não pode pagar. Isso
costuma acontecer quando avós tentam comprar a
afeição de filhos e netos com presentes
exageradamente generosos. Por mais duro que possa
parecer, alguns pais usam o dinheiro quase que
como uma arma, tentando controlar seus filhos com
ele ou usando-o para preencher o abismo que existe
entre eles e um filho alienado. Eles esqueceram as
sábias palavras da Bíblia: “Acima de tudo, porém,
tende amor intenso uns para com os outros, porque
o amor cobre multidão de pecados” (1Pedro 4.8).
Proteja-se contra decisões financeiras imprudentes
quando envelhecer. Há muitos planejadores
financeiros confiáveis, mas muitos miram pessoas
mais velhas que podem ser enganadas por
promessas tentadoras e apresentações convincentes.
Não acredite em tudo o que você escutar e não tome
grandes decisões financeiras sem consultar uma
pessoa instruída de sua confiança. O velho ditado é
verdadeiro: se parece bom demais para ser verdade,
é porque provavelmente não é.
Ainda que seja necessário ter cuidado quando
aplicar seus recursos, não fique obcecado pelas suas
finanças. “Minha tia só pensa em dinheiro e o seu
grande medo é um dia passar por necessidades”,
ouvi um homem dizer. “Ela sequer me deixa trocar
algumas lâmpadas antigas porque receia não
conseguir pagar a conta de luz. Eu sei que ela possui
mais do que o suficiente para se sustentar, porém ela
se recusa a acreditar nisso. Ela se tornou uma
prisioneira dos seus medos”. Controle as suas
finanças traçando um orçamento sensato e se
mantenha dentro dele. Assim, você nunca será um
escravo do crédito, uma vítima de predadores ou um
prisioneiro do medo.
Lide francamente com questões jurídicas
Ter um testamento válido é de importância
crucial. Algumas pessoas evitam fazê-lo porque
receiam que seja caro; outras acham que não
possuem o suficiente para fazer um testamento valer
a pena, e há ainda aquelas que temem que o
testamento gere conflitos familiares.
Todavia, pense no impacto de deixar este mundo
sem um testamento. As implicações para sua família
podem ser devastadoras. Quando a pessoa morre
sem deixar um testamento, o destino dos bens é
decidido de acordo com a lei de sucessão, e não por
uma pessoa da família. Na maioria das vezes, o
resultado é diferente do que o falecido desejaria.
Além disso, a ausência de um testamento pode
causar disputas e conflito entre membros da família
que acreditam ter direito a certos bens do espólio.
“Nossa mãe tinha coisas muito bacanas”, uma
mulher me escreveu recentemente, “mas, após a sua
morte, as discussões sobre o que deveria ficar com
quem se intensificaram. Sei que ela ficaria chocada
com a forma como alguns parentes agiram. Por que
as pessoas são tão mesquinhas? A maioria das coisas
nem valia tanto assim, no final das contas”. Nessa
carta, ela mencionou que a sua mãe morrera sem
deixar um testamento.
Decidir fazer um testamento é apenas o primeiro
passo. O mais importante, no entanto, é se
questionar sobre seu desejo com relação à divisão de
seus bens — em outras palavras, quem irá se
beneficiar com o seu testamento. Ainda, outras
questões devem ser levantadas quando fizer o seu
testamento, como quem será o seu testamenteiro,
qual parte de sua propriedade será administrada por
um curador em vez de ser totalmente entregue a um
herdeiro, etc. Estas podem ser perguntas
complicadas e com implicações de longo prazo. A
melhor forma de lidar com tais questões é contar
com a ajuda de um advogado experiente no assunto.
Independentemente da simplicidade ou
complexidade do espólio de uma pessoa, a
distribuição de bens deve ser planejada com
ponderação, cuidado e orações. Deus está tão
preocupado com o que você fará de suas posses
após a sua morte, quanto com o que você está
fazendo delas agora. Você as vê como sendo
exclusivamente suas, para ser usadas de forma
egoísta e como bem entender, ou percebe que elas
foram confiadas a você por Deus e para ser
utilizadas para Sua glória? Um homem que sempre
recolheu o dízimo, destinando um décimo de sua
renda para a sua igreja e outras organizações cristãs,
disse à sua família que pretendia fazer o mesmo com
o seu espólio e deixou isso registrado em seu
testamento. Certamente, essas instruções por escrito
podem ajudar a esclarecer os desejos do falecido. O
rei Davi orou: “Porque quem sou eu, e quem é o
meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente
estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas
mãos” (1Crônicas 29.14).
Doente vivo e testamento vital
A maioria das pessoas sabe o que é “testamento”
— um documento legal que descreve o que se
deseja após a morte. Nos últimos anos, grandes
mudanças no sistema de saúde dos Estados Unidos
levaram à introdução de um documento importante,
que dá certos direitos a pacientes. Este documento é
popularmente conhecido como “testamento vital”
(pode haver outros nomes, como “diretriz médica
antecipada” ou “declaração antecipada de vontade
em caso de morte natural”). Este documento
descreve os desejos da pessoa antes de sua morte —
mais especificamente, o que a pessoa deseja que seja
feito com ela em caso de deficiência física ou mental
ou em uma grande emergência médica. Testamentos
vitais se tornaram importantes devido aos avanços
médicos, capazes de prolongar a vida de uma pessoa
para além de sua expectativa normal, mesmo em
situações terríveis.
Assim como o testamento vital, muitos outros
documentos — como procurações — podem
autorizar outra pessoa a agir em seu nome caso você
não possa responder por si mesmo. Nos Estados
Unidos, uma “procuração para fins médicos”
outorga poderes para que uma pessoa da família ou
alguém de confiança tome decisões médicas com
relação ao seu tratamento, caso você não seja capaz
de tomar tal decisão. Da mesma forma, uma
“procuração financeira” pode ser utilizada nos
Estados Unidos para designar alguém que tomará
decisões financeiras por você em caso de
incapacidade. Sempre tome cuidado ao assinar um
documento desta natureza sob pressão (no caso de
uma intervenção médica, por exemplo). Certifique-
se de que ele não altere seus reais desejos e que ele
não reverta algo que você tenha assinado
anteriormente.
São questões difíceis, complexas e emocionais
com as quais temos que lidar. Quando há consenso
médico de que não há esperança razoável de
recuperação, minha convicção pessoal é de que
medidas extremas equivalem a um prolongamento
artificial da vida da pessoa, e que não evitarão a sua
morte. Quando possível, tais questões devem ser
decididas antes de se tornarem necessárias, e
transcritas em um documento jurídico válido.
Normalmente, quando uma emergência médica
ocorre, é impossível para o paciente dar instruções
claras e legais para o médico ou para o hospital.
Aliás, muitos hospitais têm formulários online para
tratar dessas questões.
Por que se dar ao trabalho de ter um testamento
vital ou qualquer outro documento que entre em
vigor quando você não puder responder por si
mesmo? O motivo mais óbvio é você se poupar
daquilo que pode ser um período prolongado de
sofrimento e indignidade quando não há esperança
real de recuperação. Contudo, um testamento vital
também é importante pela mesma razão que torna o
seu testamento importante: o bem de sua família. A
falta de qualquer diretiva de sua parte coloca sua
família em uma rede confusa e emocional de tomada
de decisões difíceis — e pode ser que eles não
concordem entre si. O peso emocional pode abalá-la
e, em tais situações, o verdadeiro desejo do paciente
é ignorado porque jamais ganhou a forma escrita.
Ajude a si e a sua família a evitar o que pode se
tornar um pesadelo.
Os cristãos não devem temer a morte. Deus
colocou um desejo de viver em cada um de nós.
Porém, também não precisamos fugir da morte ou
agir como se tivéssemos que resistir ferozmente até
o último suspiro. Na verdade, a hora pode chegar
quando as dores e fardos da vida nos devastam tanto
que a acolheremos como uma amiga — e é assim
que deve ser. Quando conhecemos Cristo, sabemos
que o céu é nossa verdadeira casa e que nós estamos
“procurando uma pátria melhor” — uma pátria
“celestial” (Hebreus 11.16).
Uma palavra para os filhos adultos
Lembre-se de que, um dia, quase todos
enfrentarão a velhice. Recordo-me de quando era
um jovem adulto e me preocupava com o
envelhecimento de meus pais. Sempre procurei dar a
eles o respeito que eles mereciam e tomava cuidado
para não insultá-los ao dar a entender que eles não
podiam mais tomar decisões importantes sobre a
vida. Às vezes, é uma linha tênue que separa a
dignidade dos seus pais e o bem-estar deles.
Talvez, alguém possa dizer: “Tenho certeza que
essas coisas são importantes, mas ainda sou jovem e
tudo isso ainda parece distante”. Provavelmente,
você está certo, mas seus pais podem estar confusos
a respeito das decisões que têm que tomar e que não
afetam apenas a eles, mas a você também.
Alguns filhos adultos se preocupam com as
atitudes de seus pais, mas relutam em tocar no
assunto por temerem um mal-entendido. Muitas
vezes, isso representa um problema. O
relacionamento entre pais e filhos adultos pode
apresentar problemas. Em regra, os adultos não
gostam que seus pais lhes digam o que fazer, assim
como os pais não gostam que seus filhos lhes digam
o que fazer. Porém, recusar-se a agir em relação a
questões práticas que enfrentamos quando
envelhecemos (ou ignorá-las) é a receita certa para
confusão e conflito dentro da família. Eu incentivo
os filhos adultos a pensar em virar a mesa. Peça o
conselho de seus pais para projetos pessoais que
você quer colocar em prática. Talvez isso amplie a
discussão; afinal, eles também podem ter receio de
tocar em assuntos críticos. Por vezes, as pessoas
mais velhas precisam da opinião de seus filhos, e
essa tática pode ser o empurrãozinho que estava
faltando.
Só você conhece a dinâmica de sua família, mas
aconselho-o a não desistir de tentar ajudar nas
questões importantes e rogar para que o Senhor dê-
lhe palavras sábias e ajude-o a identificar o
momento certo para tais conversas. O Senhor honra
aqueles que fazem tudo em Seu nome, com
respeito, gentileza e amor. Leve a admoestação da
Bíblia em seu coração: “A sabedoria, porém, lá do
alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica,
indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons
frutos, imparcial, sem fingimento” (Tiago 3.17).
Uma palavra aos pais
Meu clamor é para que vocês sejam responsáveis
quando tomarem providências relativas a
testamentos vitais e testamentos finais. É
emocionalmente difícil tomar tais decisões. Seja
proativo para que os outros não sejam reativos. A
geração mais antiga deve dar o exemplo em decisões
importantes que tomam quando ainda são capazes
de fazê-lo. Um dia, seus filhos terão de lidar com os
mesmos problemas. Vocês podem abençoar seus
filhos com o exemplo do planejamento responsável.
Fiquei comovido com o testamento do falecido J. P.
Morgan. Ele é considerado um dos banqueiros de
maior influência da história. Sempre tentei imaginar
qual seria a reação de seus filhos ao ler o testamento
de seu pai, após sua morte, em 1913. Espero que
eles tenham sentido o poder de suas palavras e se
fortalecido com elas: “Eu entrego minha alma nas
mãos de meu Salvador, certo de que, tendo
redimido-a e lavado-a em Seu mais precioso sangue,
Ele irá apresentá-la pura diante do trono de meu Pai
Celestial. Rogo a meus filhos para que mantenham e
defendam de qualquer perigo, e a qualquer custo, a
doutrina abençoada da remissão do pecado através
do sangue de Jesus Cristo”.1
Fazer escolhas não é fácil, mas deixá-las para
outra pessoa é arriscado. Ter a sua casa em ordem é
uma das coisas mais importantes que os pais podem
fazer pelos seus filhos. Dê a eles paz de espírito ao
mostrar que ainda tem cabeça e que cuidou do fruto
de seus anos de trabalho. Mais do que tudo, faça-os
saber que você está ao lado do Senhor, pois esta
será sua herança duradoura.

A CAMINHO DE CASA
COM
PLANEJAMENTO RESPONSÁVEL
Nós damos graças em todas as circunstâncias ou
fazemos de nossos últimos anos na terra um período
insuportável para nós e para aqueles ao nosso redor?
Estamos colocando as coisas em ordem para que os
outros saibam que somos seguidores responsáveis de
Cristo? Estamos nos preparando para a morte com a
certeza de que Jesus está preparando nosso regresso
para casa? Quando chegarmos ao nosso destino, os
outros saberão onde estamos?
O Novo Testamento tem muito a dizer sobre
desejos e testamentos. “Porque, onde há testamento,
é necessário que intervenha a morte do testador;
pois um testamento só é confirmado no caso de
mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de
lei enquanto vive o testador” (Hebreus 9.16-17).
Jesus desceu e viveu entre os homens. Ele foi um
exemplo de como viver e de como morrer. Ele veio
para que pudéssemos viver através de sua morte. Ele
também ressuscitou para cumprir a promessa que
Ele fez: “eu vou preparar um lugar para vocês”
(João 14.2 NKJV). É por isso que a Bíblia diz: “O
Senhor Deus sente pesar quando vê morrerem os
que são fiéis a ele” (Salmo 116.15). Este é um
maravilhoso último desejo e testamento. Podemos
nos tornar impacientes com as situações com as
quais temos que lidar nos últimos anos de vida, mas
enquanto esperamos pelo dia em que iremos nos
reunir com nosso Salvador, lembremo-nos da
vontade de Deus para nós: “Regozijai-vos sempre.
Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é
a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”
(1Tessalonicenses 5.16-18, grifo nosso).

1 Texto integral do Testamento de J. Pierpont Morgan: “Will


Executed Jan. 4, 1913 — Codicil Executed Jan. 6, 1913 — Died
March 31, 1913”. In: New York Times, 20 de abril de 1913.
Disponível em: <http://query.nytimes.com/gst/abstract.html?
res=FB0813F93A5D13738DDDA90A94DC405B838DF1D3>
Perdendo forças, mantendo-
se firme

Não me rejeites na minha velhice;


Quando me faltarem as forças, não me
desampares.
— Salmo 71.9 NKJV
Enfrente seus obstáculos. Você descobrirá que eles
não têm metade da força que você temia que
tivessem.
— Norman Vincent Peale
“Uma roupa-robô que dá superpoderes aos
idosos” era o título do artigo publicado em um
website de Tóquio, em 2010, que exibia a foto de
uma espécie de armação motorizada colocada no
corpo de um jovem atleta, e não em um senhor de
idade. A chamada dizia que a resistente “roupa”
pesava 30 kg e custaria 1 milhão de yens (cerca de
21 mil reais). Perguntei a mim mesmo: “Quantas
pessoas da minha idade têm força suficiente para
carregar 30 kg durante uma única hora — ainda
mais em um dia inteiro? Quem poderia arcar com
um preço tão alto?” Fiquei aliviado ao ler que não
havia previsão de exportação. Lutar para calçar
meus sapatos todas as manhãs já está de bom
tamanho!
Tive que ler o artigo atentamente para entender
como um esqueleto mecânico feito de plástico e de
metal poderia dar-me alguma força. O segredo não
estava na roupa, mas nos oito motores elétricos e
sensores que respondem a comandos através de um
sistema de reconhecimento de voz, o que permite
que o corpo erga-se e curve-se sem contração
muscular. Provavelmente, esta invenção futurística
nunca será vista em nossas lojas, mas ilustra o
desejo humano pela força e pelo poder acima da
realidade.
Um senhor de 65 anos de idade ajudou seu filho
em sua mudança para uma nova casa. O filho
contou para os seus amigos: “Eu e meu pai
estávamos tentando levar o congelador para a
cozinha. Fui até a garagem buscar um carrinho de
mão e, quando voltei, meu pai tinha arrastado o
congelador pelo corredor até a cozinha. Ele tinha
feito o deslocamento do jeito mais difícil: usando
força pura! Minha primeira reação foi dizer que ele
poderia ter dado um mal jeito na coluna ou
tensionado um músculo. Então, notei um brilho em
seus olhos. Ele estava orgulhoso de seu feito e, devo
admitir, eu estava orgulhoso dele também. Percebi
que eu tinha muito a aprender com aquele homem
de cabelos grisalhos que sempre se manteve firme e
mostrou grande determinação”.
A Bíblia diz: “O ornato dos jovens é a sua força, e
a beleza dos velhos, as suas cãs” (Provérbios 20.29
NKJV
). Os jovens nem sempre valorizam a força e a
sabedoria que os velhos ainda podem ter e, por
vezes, os velhos testam os limitem de sua sabedoria!
“Quando jovem, eu com certeza via em meu pai um
homem de muita força. Ele era um agricultor e
trabalhava com as mãos. Quando envelheceu, meu
respeito pela força de sua sabedoria cresceu ainda
mais.”
Já vivi muito mais do que meu pai. Uma das
coisas que mais me surpreendeu no processo de
envelhecimento foi a perda de força para fazer as
tarefas mais simples: levantar de uma cadeira, fazer
uma visita de mais de uma hora, ou ir ao consultório
médico. Deus sabe das nossas enfermidades. Ele
sabe que nossas forças se esvaem com o passar dos
anos. Ele se deleita com nossa dependência Dele.
Em Colossenses 1.29, Paulo lembra-nos que
dependia da grande força de Cristo — também
podemos orar para que ela opere em nós. Ele não
criou nosso corpo para viver eternamente; Ele sabe
exatamente como nos sentimos.
Não deveríamos perder tempo pensando em quão
fracos estamos. Em vez disso, devemos pensar em
Deus e em quão forte Ele é. Da mesma forma que
os sensores da roupa-robô respondem ao comando
de voz, nós devemos responder à voz de Deus, e
assim Ele será a nossa força. O salmista registrou:
“Ainda que a minha carne e o meu coração
desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração”
(Salmo 73.26 NKJV). Dependemos Dele? Estamos
reconhecendo a Sua voz?
Quando Deus fala
Nunca ouvi a voz do Senhor de forma audível,
mas Ele falou comigo muitas vezes durante a minha
vida. Você pode perguntar: “Como alguém pode
reconhecer a voz do Senhor?” A Bíblia diz: “Todo
aquele que é da verdade ouve a minha voz” (João
18.37 NKJV). Para reconhecer a voz do Senhor,
devemos pertencer a Ele.
Uma avó e sua neta estavam fazendo compras
juntas certo dia. Toda vez que o telefone celular da
menina tocava, ela imediatamente respondia dizendo
o nome da pessoa que estava ligando. Após uma
série de telefonemas, a avó, confusa, perguntou:
“Minha querida, como é que você sabe o nome da
pessoa antes mesmo que ela diga uma palavra?” A
netinha sorriu, abraçou sua avó e disse: “É uma
nova tecnologia, vovó: identificador de chamadas”.
Após ouvir a explicação de como essa tecnologia
funcionava, ela disse: “Bem, confesso que essa
tecnologia não existia na minha época. Era minha
vizinha quem identificava todos aqueles que ligavam
— nós dividíamos uma linha telefônica”. Então, foi
a vez da neta ficar perplexa ao ouvir a incrível
história de linhas telefônicas compartilhadas.
Bem, Ruth nunca teve que se identificar quando
me ligava em minhas muitas viagens ao redor do
mundo. Quando eu atendia ao telefone e ouvia sua
voz, eu reconhecia a voz da minha esposa. Isso foi
antes dos telefones celulares e do identificador de
chamadas. Nunca tive que pedir aos meus filhos que
se identificassem pelo nome quando me ligavam. Eu
diferenciava facilmente a voz de cada uma das
minhas filhas, Gigi, Anne, Bunny, e de meus dois
filhos, Franklin e Ned. Minhas irmãs, Catherine e
Jean, e meu irmão, Melvin, tinham vozes
inconfundíveis para mim. Lembro-me de vezes em
que atendi ao telefone e ouvi a voz doce da minha
mãe. Nunca tive que perguntar quem estava ligando.
Reconhecemos as vozes de pessoas queridas e com
as quais convivemos.
Da mesma forma, quando nos comunicamos com
Deus em orações ou meditando sobre Sua Palavra,
nosso espírito se identifica com Sua voz. Jesus disse:
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as
conheço, e elas me seguem” (João 10.27 NKJV). O
Senhor não esperaria que ouvíssemos a Sua voz se
Ele não tornasse isso possível: Ele envia a Sua voz
poderosa (Salmo 68.33) e diz que podemos ouvi-la
(Salmo 95.7). “Porei no coração deles o desejo de
reconhecerem que eu sou Deus, o Senhor”
(Jeremias 24.7 NLT). “Dai ouvidos à minha voz, e eu
serei o vosso Deus” (Jeremias 7.23).
A voz do Senhor vem de muitas formas
diferentes: uma voz no meio do fogo
(Deuteronômio 5.24); uma voz sobre as águas
(Salmo 29.3); uma voz dos céus (Mateus 3.17);
uma voz vinda da nuvem (Mateus 17.5); a voz da
Sua boca (Atos 22.14); a voz da glória (2Pedro
1.17); e a voz do trono (Apocalipse 19.5).
Será que ouvimos a voz Dele em nossas tarefas
cotidianas? Às vezes, Ele fala, mas nós não
escutamos. Não podemos colocar a culpa no fim da
bateria do aparelho de audição. A voz de Deus não
está ligada às invenções humanas. Deus fala direto
ao coração humano. Sua voz é descrita como cheia
de majestade (Salmo 29.4), um sussurro calmo e
suave (1Reis 19.12) e voz gloriosa (Isaías 30.30). A
voz do Senhor é identificada como a voz do Deus
vivo (Deuteronômio 5.26), a voz do noivo (Jeremias
7.34); e a voz do Todo-Poderoso (Ezequiel 1.24).
Ele é uma voz poderosa (Salmo 29.4). Sua voz
faz tremer o deserto (Salmo 29.8), divide as chamas
do fogo (Salmo 29.7), troveja (Jó 37.5), é forte
como um estrondo (Ezequiel 3.12) e Sua voz clama
à cidade (Miqueias 6.9); devemos ouvi-la
(Deuteronômio 13.4) e obedecer à voz da sua
palavra (Salmo 103.20).
As telecomunicações mudaram o nosso mundo.
Quando pegava um avião, minha mulher sabia que
não teria notícias minhas durante muitas horas.
Agora, as distâncias são muito menores. Podemos
telefonar durante o voo. Não é mais necessário parar
o carro na estrada para procurar um telefone público
e dar um telefonema. Porém, nem sempre o sinal é
bom. Não é raro uma ligação cair no meio de uma
frase ou uma transmissão ser momentaneamente
interrompida por uma interferência. Muitas vezes, as
pessoas praticamente berram no telefone: “Você está
me escutando?” Chega a ser engraçado quando os
mais jovens ficam pedindo para seus amigos
repetirem a informação.
A primeira pergunta que Deus fez ao homem foi:
“Onde estás?” Adão respondeu: “Ouvi a tua voz no
jardim” (Gênesis 3.9-10). Deus também perguntou à
mulher: “Que é isso que fizeste?” (Gênesis 3.13). Se
Eva tivesse um telefone celular, provavelmente diria
que a linha estava com interferência.
Mas não há nada de engraçado em comunicação
cortada com o Senhor em nossa vida. Quando isso
ocorre, pode ter certeza de que nós somos a
interferência — não Ele. Por vezes, não queremos
ouvir o que Ele tem a dizer porque já sabemos o que
diz a Palavra de Deus. A Bíblia está cheia de relatos
de homens e mulheres que escutam a voz do
Senhor, porém não a reconhecem em um primeiro
momento. Isso aconteceu com o profeta Samuel.
Deus chamou pelo seu nome repetidas vezes.
Samuel pensou que fosse outra pessoa. Porém, o
Senhor persistiu até que Samuel reconheceu a Sua
voz (1Samuel 3.1).
Se Deus não quisesse comunicar-se conosco, Ele
não questionaria o homem. No entanto, Ele não
quer apenas comunicar-se conosco; Ele quer
escutar-nos. Ele espera uma resposta. Isaías escutou
o Senhor dizer: “A quem enviarei?” Isaías
respondeu: “Eis-me aqui, envia-me a mim!” (Isaías
6.8). O perseguidor dos cristãos ouviu a voz do
Senhor dizer: “Saulo, Saulo, por que me
persegues?” Neste diálogo marcante, Saulo
respondeu: “Quem és tu, Senhor... o que devo
fazer?” (Atos 9.4-6 NKJV). Este diálogo foi o início do
grande ministério de Paulo.
Contudo, nem sempre a voz de Deus é ouvida na
forma de pergunta. Ele é um Deus amoroso que se
preocupa com as nossas necessidades. A Sua voz dá
conforto e direção. Gideão ouviu o Senhor dizer:
“paz seja contigo” (Juízes 6.23), e Habacuque ouviu
a voz de Deus dizer: “o justo viverá pela sua fé”
(Habacuque 2.4).
Muitas pessoas já me disseram que acreditam que
Deus fala por meio de Sua Palavra, porém elas não
acreditam. Na verdade, Ele ouve os pedidos. A
Escritura evidencia isso. O Senhor ouve os lamentos
daqueles que O temem e honram (Salmo 6.8), e diz:
Reprime a tua voz de choro
e as lágrimas de teus olhos;
porque há recompensa para as tuas obras...
Há esperança para o teu futuro
(Jeremias 31.16-17 NKJV)
Quando sentir-se fraco e solitário, ouça as
palavras de conforto de Deus: “Escute a minha voz”
(Isaías 28.23). “Ergue a tua voz fortemente” (Isaías
40.9 NKJV). Ele escuta a voz de suas palavras
(Deuteronômio 5.28) e espera pela voz da oração
(Salmo 66.19). Espero que estes lembretes da
Escritura alimentem seu espírito. Na minha idade,
compartilho dos sentimentos da maioria dos idosos.
Por vezes, lembro-me dos bons velhos tempos,
especialmente quando estou com amigos que
passaram por inúmeras coisas junto comigo. Embora
eu não viva no passado nem reviva minha
juventude, às vezes, tenho saudades de escalar
montanhas com meus filhos ou subir no púlpito para
pregar o evangelho. Porém, o andador, a cadeira de
rodas e a bengala próximos à minha cama me
lembram de que esse capítulo da minha vida ficou
no passado. Agradeço a Deus pelas memórias que
enriqueceram minha vida, mas anseio por novas
oportunidades, experiências que possam trazer mais
significado para o presente. Nossas atitudes têm um
papel muito importante na cena final do palco da
vida.
Quando a juventude desaparece
“Fazer aniversário é bom”, alguém disse. “As
estatísticas dizem que, quanto mais se faz, mais se
vive”. A réplica foi a seguinte: “Aparentar ter 50
anos só é bom quando se tem 70!” É tudo uma
questão de perspectiva! As crianças acham que seus
pais de 30 anos são velhos e que seus avós são
anciãos. Por sua vez, os pais acham que seus filhos e
netos são eternamente jovens. Apesar disso, as
crianças estão sempre aumentando a própria idade.
Pergunte a uma criança quantos anos ela tem. A
resposta sempre será algum número “e meio”. Quem
tem dez anos, mal pode esperar para completar
doze. As adolescentes querem ter idade para se
casar. Os casais não veem a hora de seus filhos se
casarem para que possam ser avós. E quando a
época de ser avô chega, reclamam por serem muito
velhos.
Nossa sociedade é composta de contradições
desmesuradas: os jovens querem ser recompensados
com grandes empregos, sem precisar de experiência;
os de meia-idade vangloriam-se do próprio trabalho,
mas não veem a hora de se aposentar; e os velhos
querem beber da fonte da juventude. A verdade é
que o sucesso repentino tira o jovem do seu
caminho, mas é justamente ao percorrer o caminho
que adquirimos sabedoria, colecionamos memórias e
obtemos vitórias que fazem da vida uma experiência
recompensadora.
Os mais velhos costumam iludir-se com cremes e
remédios milagrosos que prometem vigor e beleza
renovados. Juan Ponce de León, o explorador
espanhol que viajou com Cristóvão Colombo, partiu
em busca de uma fonte de água mágica, que as
pessoas chamavam de “Fonte da Juventude”.
Segundo o rumor, beber de sua água fazia com que
a pessoa se mantivesse jovem. Ponce de León
decidiu encontrar essa fonte lendária mas, em vez
disso, encontrou a Flórida, que veio a se tornar o
paraíso da aposentadoria nos Estados Unidos.
Quantos casais americanos já não fizeram suas
malas, cortaram raízes e deixaram suas casas e
famílias para viver em um condomínio sofisticado,
em um campo de golfe na Flórida?
Um cirurgião plástico deu o nome de Instituto
Fonte da Juventude para sua clínica, mas, de acordo
com uma pesquisa da revista Scientific American, a
fonte da juventude é um mito. O trabalho diz que “a
possibilidade de imortalidade sempre teve um apelo
mundial”. O artigo inclui uma declaração com o
seguinte aviso: “Nunca foi comprovado que uma
invenção comercial diminuísse, parasse ou revertesse
o envelhecimento humano.”1
Lembro-me da história de um garotinho que se
debruçou na cadeira do seu avô e disse: “Vovô, as
rugas da sua cara estão começando a encobrir a
cicatriz de que o senhor tanto se orgulha!” O sábio
avô sorriu, deu um tapinha no menino e disse:
“Filho, cicatrizes, rugas e ossos enferrujados têm
todos uma história para contar”. Naquela tarde, o
neto aprendeu uma lição sobre o seu legado. Alguns
anos depois, ele alistou-se no exército e, quando
perguntaram o porquê do alistamento, ele
respondeu: “Quero conquistar minhas rugas e
cicatrizes, assim como meu avô”.
O sonho da fonte da juventude é uma miragem.
Só a Bíblia dota a alma de um oásis: “O temor do
Senhor é fonte de vida” (Provérbios 14.27 NKJV). Para
entendermos esse versículo, temos que entender o
que significa “temer o Senhor”. É diferente de ter
medo Dele. Deus não teria enviado Seu filho para a
Terra para comunicar-se conosco se Ele quisesse
que a humanidade tivesse medo de aproximar-se
Dele. Esta maravilhosa frase contida na Escritura é
um temo reverencial de Deus, para amarmos e nos
entregarmos completamente a Ele, em tudo:
“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de toda a tua força”
(Deuteronômio 6.5 NKJV). O apóstolo João disse:
“Afastem-se de tudo que puder tomar o coração de
Deus em vosso coração” (1João 5.21 NLT).
Aqui temos a linda imagem de uma fonte da qual
fluem bênçãos de vida. “Tu és a fonte da vida, e,
por causa da tua luz, nós vemos a luz” (Salmo 36.9
NLT
) — o salmista declarou. “As palavras dos bons
são uma fonte de vida” (Provérbios 10.11 NLT). “Os
ensinamentos das pessoas sábias são uma fonte de
vida” (Provérbios 13.14 NLT). “A sabedoria é uma
fonte de vida para os sábios” (Provérbios 16.22 NLT).
O Senhor Jesus resume tudo no último livro da
Bíblia: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o
Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte
da água da vida. O vencedor herdará estas coisas”
(Apocalipse 21.6-7 NKJV).
A fonte da vida é real. Podemos tirar forças de
seus recursos e permanecer firmes na determinação
de ser vencedores, merecedores da herança e com o
Salvador presente em nossa alma. Apesar de os
olhos dos que estão cansados, assoberbados e velhos
enturvecerem, a Sua luz iluminará o nosso coração.
Os lábios dos mais velhos podem ser silenciados,
mas palavras divinas continuarão a fluir em nosso
sere. Se escutar pode ser um desafio, instruções
sábias podem percorrer nossos pensamentos mais
profundos. Enquanto muitos perdem a capacidade
de decidir, outros irão se inspirar quando
percorrerem novos caminhos.
Há algum tempo, encontrei um conhecido que
não via há vinte e cinco anos, pelo menos. Quando
apertarmos as mãos, pensei: “Meu Deus, como ele
está velho!” (provavelmente, ele pensou a mesma
coisa a meu respeito). Da última vez em que o vi,
era alto e atlético. Agora, estava curvado e cheio de
rugas, tremendo levemente e se amparando
totalmente em sua bengala. Ele ainda era a mesma
pessoa, mas o pesar dos anos era claro.
Depois, dei-me conta de que, se tivéssemos nos
visto com intervalo de meses em vez de uma vez a
cada vinte e cinco anos, provavelmente não teríamos
notado nenhuma mudança um no outro. Em regra, o
envelhecimento é um processo gradual; não vamos
dormir numa bela noite e acordamos velhos no dia
seguinte. Tal qual a vida é uma viagem de muitos
passos, o mesmo vale para a parte que chamamos de
“anos de ouro”.
Se vivermos bastante, a velhice irá
inevitavelmente nos pegar. Podemos não gostar de
admitir e até negar este fato, fazendo o impossível
para afastá-la. Empresas de cosméticos e cirurgiões
plásticos prometem manter nossa aparência jovem;
produtores de vitaminas juram que suas pílulas
podem retardar o processo de envelhecimento;
médicos especialistas e preparadores físicos chamam
nossa atenção para os benefícios de viver de forma
saudável. Até certo ponto, essas soluções podem ser
válidas. Cuidados com a saúde podem desacelerar o
processo de envelhecimento e prevenir alguns de
seus efeitos mais penosos — ao menos por um
tempo. Isso não está necessariamente errado. Deus
quer que cuidemos de nosso corpo. A Bíblia diz:
“Glorificai a Deus no vosso corpo” (1Coríntios
6.20).
Na realidade, algumas pessoas parecem ter genes
mais fortes ou envelhecerem mais vagarosamente do
que outras pessoas. Alguns já estão velhos aos 60
anos de idade; outros sequer aparentam a idade.
Meu amigo e sócio de longa data, George Beverly
Shea, acabou de completar 102 anos e ainda está
lúcido e jovial. Muitos meses atrás, ele passou
alguns dias tocando sua música para prisioneiros na
Penitenciária Estadual de Louisiana, na cidade de
Angola — uma das maiores prisões dos Estados
Unidos. Pouco após o seu aniversário, ele e sua
esposa, Karlene, viajaram até Hollywood, onde ele
foi premiado com um Grammy pelo conjunto de sua
obra como cantor. Ele é a pessoa mais velha que já
recebeu este prêmio tão prestigiado (e merecido).
Poucos dias depois do retorno de Bev, ele e Cliff
Barrows, que trabalhou comigo no ministério desde
o início, participaram de um dos vídeos de
Homenagem a Bill Gaither, gravado na Biblioteca
Billy Graham. O show ao ar livre foi realizado sob
uma enorme tenda, com a participação de 140
artistas de música gospel no palco. Cliff, aos 89
anos, e Bev, aos 102 anos, subiram ao palco e
adentraram a noite cantando grandes canções de fé.
No dia seguinte, quando Bill e Gloria Gaither foram
em casa me visitar, eles me contaram como Cliff
dominou o palco e liderou o grande coro de músicos
e da congregação na canção Blessed Assurance.
Outras pessoas me disseram que, naquela noite, não
foi a bengala de Cliff que o amparou, mas seu
“entusiasmo”. Eu já tive a oportunidade de ver Cliff
entoar grandes coros, mas gostaria muito de ter
estado lá naquela noite especial.
Independentemente de quem você seja, nada irá
impedir completamente o início da velhice. Goste ou
não, quanto mais você viver, mais fardos e
deficiências o acompanharão. Em vez de negar as
realidades e dificuldades da velhice, é muito melhor
admiti-las e preparar-se para elas — com a graça de
Deus, até as aceitaremos como parte de Seu plano
de vida.
Quando a vida desacelera
Se tivesse que resumir as mudanças que ocorrem
à medida que envelhecemos em uma única palavra,
eu provavelmente escolheria “declínio”. A mudança
mais óbvia é o declínio da força física e da
capacidade de continuar a fazer tudo o que
costumávamos fazer anteriormente. Pouco a pouco,
os músculos perdem a força física, a mobilidade é
reduzida, a visão e a audição deterioram-se, as
reações diminuem e o vigor físico começa a decair.
Por mais que eu queira, não consigo mais levantar
sozinho da cadeira aos 92 anos de idade. Muitos
anos atrás, meus médicos insistiram para que eu
começasse a usar um andador para evitar que eu
perdesse o equilíbrio ou caísse. Eu seria tolo se
ignorasse a orientação deles.
Enquanto a idade aumenta, a energia diminui.
Tudo parece levar mais tempo, inclusive a
recuperação de uma doença ou de exercícios.
Quando me perguntaram qual era a maior surpresa
com relação ao envelhecimento, pensei e respondi:
“A perda de força; a completa incapacidade de
seguir adiante”. Nesse estado fragilizado, a dor e a
deficiência são hóspedes indesejáveis que se
recusam a partir e ainda ameaçam não ir mais
embora.
Outra nova realidade desse estágio da vida é ver
amigos e parentes adoecerem e morrerem. Rara é a
semana em que não recebo a notícia de que alguém
que conheço adoeceu ou faleceu. E não são apenas
os idosos. Parece que, cada vez mais, jovens são
diagnosticados com doenças que se acreditava que
só acometiam os mais velhos. Por exemplo, o mal
de Parkinson tem atingido muitos corpos jovens —
já vi muitos avós acolherem novamente seus filhos
crescidos para cuidar deles.
Em alguns casos, pessoas mais velhas podem
aprender com jovens que enfrentaram esse tipo de
golpe. Lembro-me de um rapaz. Ele estava no auge
da vida — 30 anos de idade — e tinha planos para
um futuro sensacional. Ele estava dirigindo na
estrada e uma dor no peito obrigou-o a parar no
acostamento. Quando não podia mais aguentar a
dor, dirigiu até o hospital e, dentro de poucos dias,
este rapaz foi diagnosticado com um tumor maligno
ao redor do coração. Durante meses de tratamento e
cirurgia, seu comportamento surpreendeu os
médicos da Universidade de Michigan. Ele era um
jovem bonito. Apesar dos tubos, das agulhas e da
forte medicação, a sua expressão era radiante.
Quando os médicos perguntavam de onde ele tirava
tamanha força, ele tinha a oportunidade de falar
sobre Cristo com eles. Os médicos tinham pouca
esperança, mas tentavam encorajá-lo, dizendo que
um milagre poderia salvar a sua vida. Ele olhou para
eles com uma segurança abençoada e falou:
“Doutores, estou em uma final de vitória certa: se
viver, eu ganho; se morrer, eu ganho”. Algum tempo
depois, ele faleceu com a certeza de que iria se unir
ao Senhor, deixando um testemunho que é até hoje
lembrado no Centro Médico da Universidade de
Michigan. Essa é uma lição através da qual todos
podemos aprender.
Não há dúvida de que doenças catastróficas
acometem, sobretudo, os idosos. Assim como nosso
corpo, nossa mente também envelhece e declina. Na
realidade, ambos estão intimamente ligados: à
medida que envelhecemos, mudanças físicas
ocorrem em nosso cérebro e em todo o nosso corpo,
resultando em todo tipo de problema, desde suave
perda de memória até demência e doença de
Alzheimer.
O Alzheimer é uma doença cruel. Ainda lembro-
me da tristeza que senti quando visitei o ex-
presidente americano Ronald Reagan. A doença
tomou conta de sua mente e ele mal conseguia
lembrar-se das pessoas que conhecia ou do escritório
que tinha tido. A última vez que o vi foi no gramado
de sua casa em Bel Air, no estado da Califórnia, a
convite de sua esposa, Nancy. Após receber-me em
sua sala de estar, ela perguntou se eu gostaria de
cumprimentar o Sr. Reagan, e concordei
imediatamente. Fomos para a parte externa da casa,
sob o sol escaldante da Califórnia. Uma enfermeira
estava ajudando o ex-presidente a almoçar. Ele
pareceu não notar nem a Nancy nem a mim quando
o cumprimentei. Depois de uma breve conversa
(unilateral), Nancy pediu-me para fazer uma oração
— como eu sempre fazia quando os visitava, tanto
em Washington como na Califórnia. Mais tarde,
enquanto ela me acompanhava até a porta,
perguntei: “A senhora acha que ele me reconheceu?”
E ela respondeu: “Não até o senhor orar. Nesse
momento, acredito que ele sabia quem estava
orando por ele”.
Já ouvi outras histórias parecidas. Recentemente,
uma escritora contou-me que viu seu pai sofrer dos
efeitos da demência. Ele não falava há meses e não a
chamava pelo nome. Logo antes de morrer, ela
pegou sua mão e começou a recitar uma oração. Ele
repetiu cada palavra com ela claramente.
Assistir impotente à perda de memória de uma
pessoa que amamos deve ser um dos fardos mais
pesados da vida de uma pessoa. Aqueles que passam
por isso merecem nossa compaixão e nossas
orações.
No entanto, lapsos de memória ocasionais são
normais quando ficamos velhos. Isso apenas nos
lembra de que não somos mais tão jovens quanto
antigamente. Na pior das hipóteses, pode ser
levemente desconcertante; na melhor das hipóteses,
pode até ser engraçado. Alguns anos atrás, fui
apresentado em uma recepção. O meu anfitrião era
um homem da minha idade e nos conhecíamos há
muito tempo. Ele estava contando para o grupo
como foi que nos conhecemos por meio de um
grande amigo que tínhamos em comum. Ele disse:
“O nome dela era...era... ai, está na ponta da língua.
Eu sei tão bem quanto o meu próprio nome. Era...
era...” Finalmente, ele me perguntou irritado: “Por
Deus, Billy, qual era o nome dele?” Tive que
confessar que eu também não me lembrava e nós
dois acabamos rindo das nossas memórias
envelhecidas. Ficamos mais tranquilos quando, um
minuto depois, lembramo-nos do nome.
Quando perigos latentes se aproximam
Podemos nos ver em diversas passagens da
Escritura: “Tu reduzes o homem ao pó... Tu os
arrastas na torrente... de madrugada, viceja e
floresce; à tarde, murcha e seca” (Salmo 90.3-6).
Descobri que esta descrição é muito real: murcha e
seca é exatamente como toda pessoa idosa que
conheço se sente de vez em quando, incluindo eu
mesmo.
Os efeitos físicos e mentais da idade são óbvios,
porém o envelhecimento também nos impacta de
maneiras menos óbvias. Refiro-me às reações
emocionais e espirituais que podem facilmente nos
abalar se não estivermos alertas. Como elas não são
tão óbvias quanto uma bacia quebrada ou a perda de
memória, elas esgueiram-se em nossa vida sem que
percebamos.
Quais são esses perigos latentes? Com certeza,
um deles é o medo. Quando enfrentamos as
incertezas de uma doença, de uma deficiência, da
solidão ou de preocupações financeiras, é natural
preocuparmo-nos quanto ao que irá acontecer
conosco. Contudo, às vezes, nossas preocupações
nos dominam e só conseguimos pensar nelas. Em
vez de lidarmos com uma preocupação passageira,
somos tomados pela ansiedade e pelo medo crônico
e implacável.
Outro perigo latente costuma estar relacionado
com o medo e a ansiedade: a depressão. Olhamos
para o passado, pensamos em todas as coisas que
fizemos na vida e ficamos abatidos ao pensar que
nunca mais as faremos. Os médicos nos dizem que a
depressão é um dos problemas mais frequentes (e
mais sérios) que os mais velhos enfrentam. No
entanto, na maior parte das vezes, não é detectada.
Os sintomas mais comuns incluem cansaço,
esquecimento e sensação de solidão, facilmente
confundidos com alguns dos efeitos do
envelhecimento, deixando, assim, de ser tratados.
Um perigo latente de outra natureza é a raiva.
Ninguém gosta de perder o controle da própria vida
— todos nós gostaríamos de continuar
independentes. Porém, muitas vezes, isso não é
possível, e não é fácil para nós aceitar este fato.
“Nunca vi a mamãe desse jeito”, uma pessoa me
disse. “Ela costumava ser tão gentil. Ela tem raiva de
não morar mais na casa dela e de depender dos
cuidados dos outros, apesar de não haver outra
opção”. Essa situação se repete em muitas outras
famílias. Às vezes, a raiva não se manifesta apenas
contra os outros, mas contra Deus: “Se Deus
realmente me amasse, Ele não deixaria isso
acontecer”, um amigo comentou recentemente.
Infelizmente, a amargura costuma vencer.
Outro perigo que pode nos assombrar quando
envelhecemos: uma grande solidão, ou até mesmo
um sentimento de abandono. “Ninguém se importa
com o que acontece comigo”, disse uma mulher na
casa de repouso. “Meus filhos moram em regiões
diferentes do país e raramente eles vêm me ver. Eu
choro até dormir, me sinto muito sozinha”. A sua
história tocou meu coração, mas eu sabia que havia
muitos outros na mesma situação que ela naquele
lugar.
Por vezes, pessoas idosas acabam tomando
decisões insensatas quando estão sozinhas, tais como
se casar com pessoas que mal conhecem ou gastar
muito dinheiro em coisas de que não precisam,
simplesmente porque o vendedor foi atencioso. Há
muitos anos, uma de minhas tias morava no estado
da Flórida. Ela nunca tinha se casado, mas
acumulou uma boa quantidade de bens e dinheiro
no decorrer da sua vida. Quando ela estava nos
últimos anos de vida, descobrimos que um homem
de personalidade amável tornara-se amigo dela e
conseguira conquistar a sua confiança. Em dado
momento, ele a convenceu a vender boa parte de
suas propriedades e deixá-lo investir o dinheiro para
ela. Pouco antes de morrer, ela descobriu que a
maior parte do dinheiro tinha desaparecido. Aquele
homem aproveitou-se dela e de sua solidão.
Um último perigo é ficarmos tão obcecados por
nossos próprios problemas que não conseguimos
pensar em mais ninguém. “Ninguém é mais egoísta
do que uma pessoa doente”, confessou-me uma
enfermeira após atender um paciente difícil. Acho
que ela tem a sua parcela de razão. Às vezes, tenho
que forçar-me para parar de pensar em meus
problemas e focar-me nas necessidades dos outros.
Jó tinha um problema parecido: em meio à dor e ao
sofrimento, ele esqueceu-se das verdades espirituais
com as quais sempre consolava aqueles que tinham
problemas. Um de seus amigos gentilmente o
repreendeu:
Eis que tens ensinado a muitos
e tens fortalecido mãos fracas.
As tuas palavras têm sustentado aos que
tropeçavam,
e os joelhos vacilantes tens fortificado.
Mas agora, em chegando a tua vez, tu te enfadas...
Porventura, não é o teu temor de Deus
aquilo em que confias?
(Jó 4.3-6)
Quando Cristo é o foco
Como superar os perigos que subtraem a vontade
de viver? Permita que as promessas da Palavra de
Deus amparem-no todos os dias. Volte-se para Ele
por meio da oração, certo de que Ele sempre escuta
e de que Jesus sempre intercederá por você.
Concentre seus pensamentos em Cristo e mantenha-
se em contato com fiéis que possam encorajá-lo e
ajudá-lo nessa missão. As palavras da Bíblia são
verdadeiras: “Nem a morte, nem a vida, nem os
anjos, nem os demônios, nem as coisas do presente,
nem do porvir... nem qualquer outra criatura poderá
separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8.38-39).
Nas semanas que precederam a morte de minha
esposa, Ruth repetiu esses versos diversas vezes para
nós. Ela sempre pensava nos outros. Esse era o seu
segredo para viver com alegria. Ela nunca colocou
os seus problemas no centro de tudo: ela voltava sua
atenção para Cristo, e Ele sempre a direcionava até
alguém necessitando de uma palavra de
encorajamento ou de um ouvido atento.
Minha irmã Catarina viveu em uma casa de
repouso durante anos antes de falecer. Ela tinha
mobilidade restrita e sua saúde era frágil. Ela
conhecia todos os residentes e escutava cada um
deles com muita paciência. Ela compartilhou a
compaixão de Cristo e teve muitas oportunidades
para dar o seu testemunho. O Senhor usou-a mesmo
em suas horas de fraqueza.
Contaram-me a respeito de uma senhora de 86
anos de idade que está enfrentando uma doença
altamente destrutiva e, ainda assim, vai a igreja todos
os domingos, de onde parte para visitar os idosos,
ler a Escritura para eles e orar por eles. Ela anseia
por esse momento a semana inteira. Ela preocupa-se
com os outros.
Uma avó de 96 anos de idade contou-me que
passa muito tempo sozinha em casa. “Sento-me na
poltrona e começo a seguir minha lista de orações.
Deus Pai, há tantas pessoas por quem orar que me
falta tempo”.
Outra senhora, que está com quase cem anos de
idade, espera ansiosamente durante toda a semana
pelo dia em que distribui “comida sobre rodas” para
idosos. Ela pensa nas outras pessoas.
O Senhor abençoa aqueles que abençoam os
outros. Ele dá graças àqueles voltados para coisas
que O satisfazem.
Raramente, a vida é fácil quando envelhecemos,
mas a idade também tem seus prazeres especiais: o
prazer de ter mais tempo para passar com a família e
os amigos, o prazer da liberdade de
responsabilidades que costumávamos ter, o prazer
de experimentar pequenas coisas que, antes,
deixávamos passar. Acima de tudo, quando
aprendemos a confiar todos os nossos dias em Suas
mãos, os anos de ouro podem se transformar em um
período de aproximação de Cristo. E esse é o maior
prazer da vida.

A CAMINHO DE CASA
COM A FORÇA DE DEUS
A verdadeira alegria advém da dependência no
Senhor Jesus. É Ele que nos dá forças na fraqueza,
pois somos fracos e Ele é forte (2Coríntios 12.10).
Se, por um lado, é importante colocar a casa em
ordem, por outro, não podemos nos esquecer de
fazer das coisas de Deus o centro de nossos
pensamentos e atitudes. Com certeza, este era o
estado de espírito do profeta Ageu quando escreveu
o segundo menor livro do Velho Testamento, aos
quase 70 anos de idade. Ageu foi escolhido pelo
Senhor para reconstruir o templo em Jerusalém após
o cativeiro da Babilônia. Ele repreendeu o povo de
Deus por permitir que a casa de Deus ficasse em
ruínas. “Pensem bem no que tem acontecido com
vocês. Vocês esperavam colheitas grandes, porém
elas foram pequenas... foi porque vocês só vivem
cuidando das suas próprias casas, mas não se
importam com a minha Casa, que está destruída”
(Ageu 1.7-9).
O que me toca nesse livro de dois capítulos é a
repreensão de Ageu e o seu encorajamento. Por
meio da esperança, Ageu mobilizou o povo de Deus
a cuidar dos negócios de Deus e a construir sua
casa. “Sê forte... porque eu sou convosco” (Ageu
2.4).
Podemos conseguir colocar nossos assuntos
pessoais em ordem. Porém, se para tanto,
sacrificamos o mais importante — colocar nossos
assuntos espirituais em ordem — perdemos o prazer
e o objetivo da vida. A Bíblia diz: “Mais poder tem
o sábio do que o forte, e o homem de
conhecimento, mais do que o robusto” (Provérbios
24.5 NKJV). A força está na sabedoria de Deus, e ela
está à nossa disposição, sejamos jovens ou velhos. A
sua única preocupação é cuidar de negócios em um
mundo que o aprisiona? Ou Cristo está no centro da
sua vida e você irá obedecer-lhe por toda a
eternidade — o lugar onde a esperança se torna
realidade? Você pode perder suas forças, mas é Ele
quem irá levantá-lo e ajudá-lo a permanecer firme
durante a sua fraqueza? Quando sua fé começar a
enfraquecer, peça ao Senhor que a renove,
lembrando-se de tudo o que Ele fez por você. Fique
firme, pois “Meu Espírito habita no meio de vós;
não temais” (Ageu 2.5 NKJV).

1 Olshansky, S. Jay; Hayflick, Leonard; CARNES, Bruce A. No


Truth to the Fountain of Youth. In: Scientific American, junho de
2002. Disponível em:
<http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=no-truth-to-
the-fountain-of-youth>
O propósito da morte

Os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus;


e os que a ouvirem viverão.
— João 5.25 NKJV
Ainda estou na terra dos mortais; em breve,
devo estar na terra dos viventes.
— John Newton
Uma chamada em um website dizia: “Morte, o
assassino número 1 da nação”. O significado era
claro: a morte é inevitável!
Ninguém pode fugir da morte. Um dia, ela
chegará para todos nós. Quando fui entrevistado
pela revista norte-americana Newsweek, em 2006,
pediram que eu fizesse uma declaração sobre o
assunto. Disse que tinha sido educado e preparado
para morrer, mas que, em toda a minha vida,
ninguém tinha me ensinado a envelhecer. Essa
declaração gerou muito interesse e foi aí que
comecei a pensar em escrever este livro.
Por certo, não sou nenhum especialista no tema
envelhecimento, mas estou ganhando um pouco de
experiência. Devo admitir que nem tudo melhora
com a idade. Passei a entender de outra forma e dar
uma nova interpretação à passagem do capítulo 12
de Eclesiastes, que diz:
Lembra-te do teu Criador nos dias da tua
mocidade,
antes que venham os maus dias...
Lembra-te do teu Criador
antes que se rompa o fio de prata...
(Eclesiastes 12.1,6 NKJV)
Quando era um jovem pastor e lia essa passagem,
eu não fazia as ligações que faço hoje. O que me
impressiona é que Salomão, o rei mais sábio que já
governou Israel, queria que os jovens lessem estas
palavras nos dias da “mocidade, antes que venham
os maus dias” (grifo nosso).
Quando jovem, não conseguia imaginar-me velho.
Minha mãe dizia — e o médico confirmou — que
eu tinha uma quantidade incomum de energia, e isso
persistiu no início da vida adulta. Quando atingi a
meia-idade, sentia desgaste físico, mas minha mente
estava sempre em marcha acelerada, de modo que
não demorava muito para meu vigor físico se
reestabelecer após períodos cansativos de trabalho.
Hoje, extenua-me só de pensar em como eu
conseguia seguir uma agenda tão atribulada. Eu lutei
contra o envelhecimento de todas as formas.
Dedicava-me a exercícios físicos e relutava em
diminuir o ritmo quando comecei a sentir o tempo
da velhice se aproximar. Não via essa transição com
bons olhos e passei a temer o que eu sabia que viria
a seguir.
Contudo, minha esposa Ruth era uma daquelas
pessoas capazes de aliviar corações angustiados,
especialmente o meu. Nunca me esqueço de quando
ela anunciou a frase que queria que fosse gravada
em sua lápide. Aqueles que tiveram a oportunidade
de visitar o seu túmulo na Livraria Billy Graham
sabem que os seu desejo foi seguido à risca.
Um dia, muito antes de ficar confinada a uma
cama, ela estava dirigindo em uma estrada com
trechos em construção. Cuidadosamente, ela
obedeceu a todos os retornos e seguiu a orientação
de cada placa. Quando chegou à última placa, viu
escrito: “Fim da Construção. Obrigado pela
compreensão”. Ela chegou em casa rindo e contou
para a família sobre essa frase: “Quando eu morrer,
quero isso gravado na minha lápide”, falou. Ela
disse em tom de humor, mas falou sério. Ela até
escreveu para que não esquecêssemos. Além de
acharmos o seu bom humor espirituoso, também
valorizamos a verdade contida nessas poucas
palavras. Todo ser humano está em construção,
desde sua concepção até a morte. A vida é feita de
erros e acertos, espera e crescimento, paciência e
persistência. Ao final da construção, ou seja, na
morte, concluímos o processo.
Pois tu formaste o meu interior...
os meus ossos não te foram encobertos,
Quando no oculto fui formado e entretecido
como nas profundezas da terra...
quando nem um dos meus dias havia ainda.
(Salmo 139.13,15-16 NKJV)
Dizem que a morte é o “ponto final da
realização”. Como não podemos adicionar mais
nada à nossa experiência, os fiéis em Cristo têm a
esperança de ouvir o Salvador dizer: “Muito bem,
servo bom e fiel” (Mateus 25.21 NKJV).
O apóstolo Paulo fala dos cristãos como sendo
“Nele radicados, e edificados, e confirmados na fé”
(Colossenses 2.7 NKJV). Isso faz parte de nossa
construção contínua da vida. No entanto, a Bíblia
nos assegura que “se a nossa casa terrestre deste
tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um
edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus”
(2Coríntios 5.1 NKJV). Quando Ruth deixou seu corpo
tomado de dores e a construção terrestre foi
concluída, ela encontrou a paz duradoura. Agora,
sua morada é eterna.
Há um trecho de rodovia que sobe até as
montanhas da Carolina do Norte, que esteve em
construção durante muitos anos. É um terreno
pedregoso. O Departamento de Transportes da
Carolina do Norte tem a árdua missão de abrir
caminho em meio a pedras e raízes de árvores
destorcidas para poder construir uma pequena
passagem plana que leva para a parte alta da região.
Carros já foram atingidos por deslizamentos de
pedras e fechamentos de estrada temporários.
Durante a noite, as placas brilham “Prossiga com
cuidado” à medida que a estrada sobe e vira nas
colinas, deixando os motoristas confusos. Quando
os moradores que vivem no alto da montanha
avistam a placa “Fim da Construção”, eles sabem
que estão próximos de casa. Conheci muitos pais
que vivem naquela parte do estado e que se
inquietam por saber que seus filhos sobem e descem
a montanha o dia inteiro. Chegar ao destino com
segurança traz alívio.
A vida pode ser como viajar em uma estrada
traiçoeira. Há buracos que nos solavancam, retornos
que nos tiram do rumo, e sinais que nos alertam
quanto ao perigo. O destino da alma e do espírito é
de extrema importância para Deus, logo ele nos guia
diariamente. Alguns prestam muita atenção às
coordenadas de Deus; outros as ignoram e aceleram,
apesar das placas refletoras. Porém, todos, sem
exceção, chegam à destinação final: o portão da
morte. É onde o corpo separa-se da alma.
Mesmo na cruz, Jesus ensinou que a morte é uma
passagem do espírito para a presença de Deus
(Lucas 23.46). O salmista declarou: “Mas Deus
remirá a minha alma do poder da morte” (Salmo
49.15 NKJV). Você já entregou a sua alma nas mãos do
Criador? Você está observando os sinais de alerta
que Deus marcou em Seu guia, a Bíblia? “O
caminho dos retos é desviar-se do mal; o que guarda
o seu caminho preserva a sua alma” (Provérbios
16.17 NKJV).
Você pode se pegar dizendo: “Mas, Billy, estou
me aproximando do fim da vida. Não tenho sido
uma pessoa ruim”. Há muitos jovens e velhos que
disseram isso quando contemplaram a morte, mas é
meu dever falar a verdade da Palavra de Deus: “Pois
todos pecaram e carecem da glória de Deus”
(Romanos 3.23 NKJV).
Durante uma visita à Livraria Billy Graham, uma
mulher relatou sua história: “Minha doce mãe, 76
anos de idade, que, a meu ver, nunca fez nada de
errado, sofria por acreditar que todas as pessoas
nascem pecadoras, de acordo com a Escritura.
Durante anos, orei para que ela reconhecesse seu
próprio pecado e se arrependesse, certificando-se da
salvação de Cristo e tendo a promessa de eternidade
com Ele. Quando recebi um telefonema, dizendo
que minha mãe estava no leito de morte, viajei da
Europa para a casa dela, no estado da Flórida, EUA.
Ela segurou minha mão e disse: ‘Minha querida,
quando eu partir, tenha coragem. O senhor me
salvou’. Perguntei a ela como havia acontecido, e ela
respondeu: ‘Quando eu já não aguentava mais e fui
confinada a essa cama de enfermidade, percebi que
tinha chegado ao meu fim; eu não tinha mais
controle sobre a minha vida. Sentime perdida na
minha própria casa. A enfermeira da assistência
médica domiciliar que tem cuidado de mim,
pacientemente lia alguns trechos da Bíblia: Não há
justo, nem um sequer (Romanos 3.10 NKJV);
Disponde, pois, agora o coração e a alma para
buscardes ao Senhor, vosso Deus (1Crônicas 22.19
NKJV
); e Porque o Filho do Homem veio buscar e
salvar o perdido (Lucas 19.10 NKJV). Nunca irei
esquecer daquele momento’. Quando conheci a
caridosa senhora que levara minha mãe até Deus,
fiquei espantada com sua vitalidade. Elas tinham a
mesma idade. Confortou-me saber que Deus irá nos
usar para ministrarmos aos outros se nos fizermos
disponíveis, independentemente de nossa idade”.
A Bíblia diz: “A testemunha verdadeira livra
almas” (Provérbios 14.25 NKJV). Os vivos nunca ficam
sem oportunidade; a questão é: aproveitamos as
oportunidades que nos são proporcionadas, como a
enfermeira da assistência médica domiciliar? Às
vezes, a morte ocorre repentinamente e de forma
inesperada. “Sequer pude dizer adeus” é um
lamento que já devo ter ouvido dezenas de vezes.
Perder a última oportunidade de disseminar o
evangelho é ainda mais trágico.
À medida que envelhecem, menos as pessoas
ficam espantadas com sua provável morte, o que
normalmente ocorre após um período de
deterioração da saúde. Pode ser que haja tempo para
a família reunir-se com a pessoa amada nas horas
finais. Foi assim com Ruth. “O corpo dela está
começando a sucumbir”, disse-me o médico com
franqueza. “A morte ainda pode levar alguns dias,
mas o processo já começou e você precisa estar
preparado”. Após duas semanas, estávamos
reunidos ao redor de sua cama e sua respiração
começou a desaparecer. Eu estava sentado junto a
ela, segurando sua mão, e nossa filha Anne estava
atrás de mim. De repente, Anne disse: “Ela está no
céu”. A respiração tinha parado e sua mão
escorregou da minha. Seus anos de sofrimento
tinham chegado ao fim, Ruth adentrara em sua
morada final.
Pelo resto da minha vida, guardarei as lembranças
dos seus últimos meses: sua fraqueza crescente, seu
sofrimento, suas manifestações de amor, nossos
momentos de oração, a sua certeza — e até mesmo
regozijo — de que, em breve, estaria na presença do
Senhor que ela tinha amado e servido por tantos
anos. Quando penso nesses dias, as palavras
presentes no Salmo 23 ganham um novo
significado, reproduzindo a confiança de Ruth,
quando ela sentiu que seu tempo na terra estava
chegando ao fim: “Ainda que eu andasse pelo vale
da sombra da morte, não temeria mal nenhum,
porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me
consolam... Certamente que a bondade e a
misericórdia me seguirão todos os dias da minha
vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias”
(Salmo 23.4,6 KJV).
Vivendo com a saudade
Faz quase três anos que Ruth foi para a casa do
Senhor. Hoje, sinto ainda mais a sua perda. Não há
um dia em que eu não a imagine passando pela
minha sala de estudos ou de mãos dadas comigo em
nossa varanda, assistindo o sol se pôr atrás das
montanhas, como costumávamos fazer.
Questionei-me sobre o porquê disso. Afinal, o
pesar pela perda de um ser amado não deveria
diminuir com o passar do tempo? Sim, deveria — e,
em alguns aspectos, isso aconteceu. Porém, em
outros, não diminuiu e nem espero que diminua.
Acho que uma das razões é o fato de minha
principal lembrança de sua morte ser em relação aos
seus últimos dias — sua fraqueza, sua dor, seu
desejo de subir aos céus. Por mais que eu quisesse
que ela permanecesse conosco, eu também sabia
que a morte seria um alívio dos fardos desta vida.
No entanto, com o passar do tempo, lembranças das
alegrias que compartilhamos em mais de sessenta e
três anos de casamento vêm à mente, como nossos
últimos anos juntos, quando minhas viagens
diminuíram e tínhamos mais tempo para nós. Foram
alguns dos melhores anos de nossa vida, como se
estivéssemos nos apaixonando novamente. Essas
lembranças trazem um sentimento de perda muito
forte.
A outra razão pela qual eu sinto sua morte tão
intensamente é porque acredito que misturei meu
luto com uma espécie de expectativa — a certeza de
que, um dia, o Senhor também virá para mim, e
Ruth e eu estaremos juntos novamente no céu.
Anseio por esse dia como nunca!
O sofrimento da perda
O sofrimento é uma realidade. Aqueles que dizem
que não deveríamos sofrer “porque eles estão
melhor agora” nunca entenderão o enorme vazio
que se instala em nosso coração quando a pessoa
amada morre. Sim, eles podem estar melhor se
estiverem no céu, mas nós não estamos. A parte
mais importante de nossa vida foi arrancada de nós.
Assim como leva tempo recuperar-se de uma grande
cirurgia, também leva tempo para curar a dor da
perda de um ente amado. As palavras de Paulo para
os fiéis em Tessalônica são verdade: “Não
queremos... vos entristecerdes como os demais, que
não têm esperança” (1Tessalonicenses 4.13). Porém,
ainda sofremos, e é assim que deve ser. Jesus
chorou quando esteve na tumba de seu amigo
Lázaro, mesmo sabendo que Ele iria trazer Lázaro
de volta à vida (João 11.35).
Minha experiência pode não ser a mesma que a
sua, mas a dor vem para todos. Você pode ainda não
ter sido tocado pela morte de seu cônjuge; você
pode não ter perdido alguém próximo, como um pai
ou avô. Por outro lado, o luto pode entrar na sua
vida de forma trágica e inesperada — a morte de um
filho ou de um parente ou cônjuge, subitamente
levado por um ataque cardíaco ou acidente.
Independentemente de sua experiência atual, as
palavras da Bíblia são verdadeiras:
Tudo tem o seu tempo determinado,
e há tempo para todo propósito debaixo do céu:
há tempo de nascer e tempo de morrer...
(Eclesiastes 3.1-2)
Lidando com o luto
Como lidar com o luto? Contarei sobre os quatro
passos que me ajudaram, não apenas durante o luto
pela morte de Ruth, mas quando lidei com a morte
de meus pais, de meu irmão (e melhor amigo)
Melvin, de minha irmã Catherine, dos pais de Ruth,
além de outros amigos e parentes.
Aceite seus sentimentos
Primeiramente, não se espante com sentimentos
como pesar, negação e culpa. Mesmo quando já
sabemos que um ente querido irá morrer, ainda
assim sentimos sua falta e sofremos com a sua
perda. Da mesma forma, não se espante se estes
sentimentos o invadirem em momentos inesperados
e pegá-lo de surpresa. “Achei que tinha superado o
sofrimento pela morte do meu esposo, porém,
alguns dias atrás, vi um homem parecido com ele na
rua e, subitamente, comecei a chorar”, uma mulher
disse em sua carta.
O luto é um processo, e não acaba da noite para o
dia — mesmo quando sabemos que o sofrimento da
pessoa amada cessou e que, agora, ela está em paz
no céu. Quando a morte chega para alguém que
amamos, podemos nos sentir anestesiados e apáticos
em um primeiro momento (especialmente quando a
morte é repentina) — as pessoas podem até
comentar sobre como estamos lidando bem com o
luto. Porém, quando a apatia passa, a realidade pode
nos imergir em períodos de grande tristeza e mágoa
inconsolável. Quem nunca viveu um luto tem
dificuldade de entender isso, mas não temos que
pensar que somos anormais ou que temos que negar
nossos sentimentos e fingir que está tudo bem.
“Falei para as pessoas que não entendia por que
minha amiga não superava isso e parava de viver em
função da morte da mãe dela”, uma mulher falou.
“Depois, meu irmão faleceu e, agora, eu a entendo”.
Olhe para o futuro
Um segundo passo que me ajudou em momentos
de luto foi não pensar apenas no passado, mas
também voltar meu coração e minha alma para o
futuro. Quando alguém próximo morre,
naturalmente, pensamos no que esta pessoa
significou para nós no passado. Lembramo-nos dos
bons momentos que passamos juntos e em como o
nosso amor nos uniu, mesmo em tempos difíceis.
Também sentimos a crueldade da morte e vemos
mais claro do que nunca que o passado não volta
mais, nem nunca se reproduzirá. Não há nada de
errado em sentir isso. Ao contrário, é perfeitamente
natural. Quando recebíamos a notícia da morte de
um parente ou amigo, Ruth costumava dizer: “Estou
feliz por eles, mas triste por nós”.
Com o passar do tempo, também precisamos
voltar nossos pensamentos para o nosso próprio
futuro. Isso não é uma tarefa fácil: não queremos
encarar a dor e o vazio que sabemos que sentiremos
nos meses e anos seguintes. É mais fácil pensar nas
lembranças do passado. Porém, ainda temos pessoas
que nos amam e precisam de nós; ainda temos
responsabilidades. Acima de tudo, Deus ainda não
terminou conosco; ele ainda tem um plano para o
resto de nossa vida. As palavras de Paulo sobre sua
própria viagem espiritual cabem para nós quando
estamos de luto: “Uma coisa faço: esquecendo-me
das coisas que para trás ficam e avançando para as
que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para
o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus” (Filipenses 3.13-14).
No entanto, às vezes, o futuro nos perturba de
formas que preferiríamos evitar. Ninguém quer lidar
com as questões jurídicas que têm de ser resolvidas
logo após a morte de alguém; ninguém quer a tarefa
de esvaziar o armário ou a mesa de trabalho do
esposo. Sou grato, pois meus filhos se dispuseram a
me ajudar com estas questões práticas após a morte
de Ruth. Ao mesmo tempo, não se force a tomar
decisões apressadas ou impensadas a respeito das
quais você poderá se arrepender depois.
Forçar o nosso coração e a nossa mente a olhar
para o futuro significa aceitar o que aconteceu e,
pouco a pouco, aprender a conviver com esse fato.
Isso também implica começarmos a retomar nossas
atividades normais e nossos contatos — não
necessariamente tudo de uma só vez, mas resistindo
à tentação de permanecermos absortos. Retomar a
rotina pode depender de um ato deliberado da sua
parte, mas é importante fazê-lo. “Ninguém entende
pelo que estou passando” é um sentimento comum
dentre aqueles que perderam alguém próximo. Por
mais que seja verdade, não permita que isso se torne
uma desculpa para permanecer isolado ou inativo.
Ajudar os outros
O terceiro passo na cura do luto é o seguinte: com
o tempo, comece a estender a mão àqueles que
precisam de sua ajuda. Certa vez, soube de um
pastor que sempre terminava seus sermões com as
seguintes palavras: “Lembrem-se: todos os que
vocês encontrarem nesta semana estarão carregando
fardos”. Com o passar dos anos, descobri que é
verdade. Nunca conheci uma pessoa que não tivesse
algum tipo de problema ou fardo. Mas, Deus quer
ajudar todos a carregarem seus fardos. Por vezes,
ele o faz através do surgimento de alguém na vida da
pessoa, com quem poderá compartilhar o fardo.
Paulo nos lembra: “Levai as cargas uns dos outros e,
assim, cumprireis a lei de Cristo” (Gálatas 6.2), e
“Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os
que choram.” (Romanos 12.15).
O luto é um fardo pesado. Precisamos poder
contar com a ajuda de outras pessoas em vez de
tentar suportá-lo sozinhos. Todos ao seu redor têm
seus próprios fardos e Deus pode usar a sua
experiência para encorajá-los e ajudá-los. Há alguém
na sua igreja ou comunidade que esteja carregando
o fardo de um luto agora? Peça a Deus que ajude-o
a se tornar amigo desta pessoa. Mais do que os
outros, você pode entender o que eles estão
passando e você pode ajudá-los a aliviar o peso
desse fardo com a sua atenção. Às vezes, eles só
precisam de alguém para ouvi-los. Lembre-se de que
Deus é “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de
misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que
nos conforta em toda a nossa tribulação, para
podermos consolar os que estiverem em qualquer
angústia, com a consolação com que nós mesmos
somos contemplados por Deus” (2Coríntios 1.3-4).
Quando estendemos nossas mãos aos outros, não
estamos apenas os ajudando, mas também ajudando
a nós mesmos, pois desviamos um pouco a atenção
do nosso próprio luto.
Volte-se para Deus
O último passo é o mais importante. Leve o seu
sofrimento para Deus. Deus sabe pelo que você está
passando. Ele o ama e quer ajudá-lo. Lembre-se de
que Ele sabe o que é o luto, pois Ele viu Seu único
filho ser levado à morte. Jesus foi “homem de dores
e que sabe o que é padecer” (Isaías 53.3 KJV). Porém,
Jesus disse: “Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados” (Mateus 5.4).
Como Deus nos ajuda a lidar com o luto?
Primeiramente, Ele nos assegura de Sua presença.
Nunca estamos sozinhos quando conhecemos
Cristo. Ele vive dentro de nós através de Seu
espírito. Mesmo quando você não sentir a Sua
presença, isso não muda o fato de que ele está com
você em todos os momentos do dia. A promessa de
Deus é para você:
Não temas, porque eu sou contigo;
não te assombres, porque eu sou o teu Deus;
eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento
com a minha destra fiel.
(Isaías 41.10)
Ele também nos assegura de Suas promessas.
Deus não pode mentir. Do início ao fim da Bíblia,
ele nos dá “grandes e preciosas promessas” (2Pedro
1.4). Leia essas palavras, memorize-as, confie nelas
e deixe que elas cresçam e deem frutos em sua alma.
Pouco depois da morte de Ruth, folheei uma de
suas Bíblias. Ela tinha sublinhado centenas de
versos, sempre adicionando um pequeno comentário
pessoal ao lado. Em especial, ela destacou as
passagens nas quais o salmista falou da promessa de
Deus de permanecer conosco em momentos de
dificuldade, aflição ou solidão. Em meio ao
sofrimento, volte-se diariamente para Deus e deixe
que Suas promessas o encorajem e apoiem. Lembre-
se, “Confia os teus cuidados ao Senhor, e ele te
susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado”
(Salmo 55.22).
Sendo assim, Deus também nos ajuda ao nos
assegurar de Sua bondade. Normalmente, quando
perdemos um ente amado, só conseguimos pensar
em nosso próprio sofrimento e em quão vazia nossa
vida se tornará. Podemos até ficar bravos com Deus
por Ele tirar a pessoa amada de nós. Em vez disso,
deveríamos lembrar-nos das bênçãos de Deus e
sermos gratos: gratos pela vida da pessoa amada,
gratos por tudo o que ela significou, gratos pelos
anos de união que Deus nos proporcionou e, acima
de tudo, gratos pela morte conduzir uma alma para a
presença eterna de Deus. Uma atitude diária de
gratidão nos ajudará muito a superar nosso
sofrimento.
Lembre-se dos amigos
Você pode não estar enfrentando a morte de uma
pessoa amada agora. Você pode até achar que
pensar muito acerca disso seja um pouco mórbido
— ao menos, até acontecer. Por mais que você não
venha a passar por isso num futuro próximo, outros
ao seu redor irão — amigos, colegas de trabalho,
parentes e, até mesmo, conhecidos. Como você
pode ajudá-los a lidar com o luto se isto não o afeta
pessoalmente?
Nem sempre é fácil ajudar alguém que está
sofrendo: algumas pessoas são orgulhosas ou muito
discretas, tanto que podem acabar se ofendendo
apenas com a nossa tentativa de ajudá-las.
Globalmente, no entanto, descobri que podemos
ajudar pessoas passando pelo luto de, pelo menos,
três maneiras diferentes, como mostro a seguir.
Diga-lhes o quanto se importa
“Nunca pensei que uma simples mensagem ou um
cartão de condolências pudessem valer tanto até
meu pai morrer”, disse-me um homem. “Essas
mensagens significaram muito mais do que eu
poderia imaginar. Elas mostravam que as pessoas
realmente se importavam, e isso foi muito
encorajador”.
O cuidado e a atenção podem se expressar de
muitas formas — desde ajudar alguém com os
preparativos de um funeral até dizer o quanto a
pessoa amada significava para você, ou, ainda, ouvir
as pessoas descreverem os últimos dias ou as últimas
semanas do ente que se foi. Durante anos, Ruth
deve ter distribuído centenas de galões de sopa
caseira para famílias da nossa comunidade que se
reuniram para o funeral de um parente amado.
Procure alguma forma de ajudar, mesmo que seja
lavar a louça ou anotar quem esteve presente no
funeral. Mas, seja sensato: algumas pessoas relutam
em aceitar ajuda de quem não seja próximo.
Mantenha contato
Normalmente, a morte de alguém vem seguida de
um turbilhão de atividades — os parentes reúnem-
se, as pessoas telefonam, flores chegam e recebe-se
condolências. Porém, o tempo passa e nossa
preocupação também. “No início, todos ligavam ou
vinham me visitar”, escreveu uma mulher, “agora,
faz seis meses que o Jim morreu e ninguém mais
liga para saber como estou. É como se eu tivesse
sido esquecida”.
Mas não deveria ser desta forma, especialmente
entre os cristãos. A Bíblia diz: “Mostrais
misericórdia e compaixão uns aos outros” (Zacarias
7.9). Um contador aposentado dedica-se a ajudar
pessoas que perderam um cônjuge recentemente a
lidar com a papelada jurídica e de seguro que elas
podem não entender. Também ouvi falar de um
homem que passa vários dias da semana levando
pessoas idosas que perderam seus parceiros a
consultas médicas.
Ore por Eles
Ore para que eles gozem do conforto de Deus e
ore também para que eles se voltem para Cristo em
busca da paz e da esperança de que eles precisam.
Se você tivesse perdido um ente querido
recentemente, você não gostaria de saber que há
outras pessoas orando por você?

A CAMINHO DE CASA
COM O CONFORTO DE DEUS
A morte é sempre uma intrusa, mesmo quando
esperada. Ela destrói nossa vida e traz sofrimento.
Ninguém saúda o seu legado de dor, vazio e solidão.
Porém, Deus não nos abandonou; mesmo em meio
às maiores aflições, Sua Palavra ainda é verdadeira:
“De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te
abandonarei” (Hebreus 13.5). Esta é uma promessa
maravilhosa, cheia de garantia, diante da aflição e da
morte. Na Palavra de Deus, podemos identificar Sua
presença, que vive em nós pelo Espírito Santo. O
Senhor também envia conforto através dos outros.
Devemos pedir que Ele nos revele quem está orando
pelo conforto de Deus, pois Ele envia-o através de
seus servos.
Reler as saudações e os votos de Paulo em suas
epístolas para aqueles que serviram com ele durante
o seu ministério sempre conforta meu coração. Um
trecho em particular é especialmente revelador:
“Saudai Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a sua
mãe, que também tem sido mãe para mim”
(Romanos 16.13). Rufo era filho de Simão Cireneu,
por sua vez escolhido em meio à multidão para
carregar a cruz para Jesus.
A Escritura não menciona os pais de Paulo, mas
nosso coração é tocado pelo reconhecimento de
amor do apóstolo por esta querida mãe nesta
passagem. Ela é a esposa de Simão e, como detalhes
não são fornecidos, parece que esta mãe anciã
cuidou de Paulo durante seu ministério.
Vocês podem imaginar as conversas que Paulo e
Rufo tiveram com a esposa de Simão quando ela
contou sobre o dia em que seu marido foi chamado
para ajudar a carregar a cruz de Jesus durante o
caminho do Calvário para o local de Sua morte?
Certamente, Paulo contou sobre sua viagem até
Damasco. Naquele dia, Seu destino era capturar
cristãos e voltar a Jerusalém, onde eles também
enfrentariam a morte. Você pode mensurar a alegria
de sua mãe ao saber que seu filho, Rufo, servia ao
lado do homem que o Senhor milagrosamente
salvou e mandou levar o evangelho da salvação para
o mundo? Obviamente, ela amou Paulo como um
dos seus e marcou-o significativamente, tal qual
registrado na Escritura. Imagine a bênção que esta
mãe anciã teria perdido caso não tivesse aberto sua
casa e seu coração ao amado apóstolo Paulo.
Ao passo que muitos colegas de idade não
conseguem mais cuidar de si próprios, muitos ainda
são capazes de cuidar dos outros de diversas formas
diferentes. Quando começamos a ajudar os outros,
costumamos descobrir que nossos fardos não são
tão pesados. Nossas escolhas determinam o nosso
destino. Quando fazemos escolhas cujo centro é o
Senhor Jesus, a jornada da vida pode ser
significativa e plena de esperança de que, um dia,
estaremos reunidos com todos aqueles que
impactaram nossa vida.
Influência valiosa

Pela recordação que guardo de tua fé sem


fingimento,
a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó...
e em tua mãe... e estou certo de que
também vives em mim agora.
— 2Timóteo 1.5
Aconselhar sabiamente os mais jovens é o dever
dos velhos.
— Autor desconhecido
“Nova geração de cuidadores se encarrega das
crianças” era a manchete do jornal Washington Post
em 2010. Escrito com base em um estudo de 2007
do Centro de Pesquisas Pew, o artigo dizia que,
hoje, uma em cada dez crianças nos Estados Unidos
vive com um avô ou uma avó. Essa inversão de
papéis é surpreendente se levarmos em consideração
toda a controvérsia atual sobre seguro de saúde,
aposentados, previdência social e dificuldade para
encontrar profissionais da saúde para os idosos.
Muitas razões explicam esta estatística
surpreendente. Dentre elas, destacam-se a recessão
— pais que perderam o emprego e precisam sair de
casa para procurar um trabalho, pais em serviço
militar, pais encarcerados, crianças órfãs, mandados
judiciais contra pais viciados em drogas, pais
solteiros lutando contra doenças apresentando risco
de morte, gravidez precoce, e assim por diante.
As histórias são aterrorizantes: uma avó disse que
encontrou seu neto de três anos de idade na soleira
de sua porta quando atendeu a campainha às três
horas da madrugada. Ele tinha sido deixado ali pela
sua filha viciada em drogas. Perguntaram a um avô
se ele se ressentia de ter sido obrigado a interromper
sua aposentadoria para criar seus netos pequenos,
cujos pais morreram em um acidente de carro. Ele
disse: “É o meu dever. Com certeza, não quero que
estranhos cuidem dos filhos dos meus filhos. Além
disso, para que servem os avós?”
Enquanto alguns não gostam da invasão, outros
veem a possibilidade de criar netos como uma
bênção e são gratos pela oportunidade de dar
estabilidade em momentos de trauma emocional,
que são difíceis para os jovens. Para alguns avós,
uma considerável dificuldade financeira acompanha
esse novo papel. Muitos vivem com receitas parcas e
não podem retornar ao mercado de trabalho devido
a inúmeras razões.1
Há cem anos, as mesmas condições não
representariam os mesmos desafios. Casas habitadas
por várias gerações eram muito comuns,
especialmente em comunidades agrícolas. A
sociedade não tinha preconceito contra lares nos
quais habitavam avós, filhos casados e muitas
crianças. Todos sentavam ao redor da mesa de
jantar, tendo coletivamente trabalhado na fazenda,
realizado as tarefas domésticas e preparado as
refeições. Todos participavam. Todos se reuniam na
varanda ao cair da noite ou se aqueciam juntos na
lareira durante o inverno. Eles riam, contavam
histórias e planejavam fazer tudo de novo no dia
seguinte. As crianças viam seus pais respeitarem
seus avós, o que ensinava sobre a importância da
estima pelos mais velhos. Os avós eram gratos pela
agitação e barulho dos jovens, assim como pela
oportunidade de apoiar e ensinar seus filhos adultos
na vida de pais. Muitos da geração mais antiga
diziam que isso aumentava sua vitalidade e apetite
pela vida. Apesar de nem todas as famílias viverem
essa situação, as casas que reuniam diversas
gerações não eram um conceito ruim. Fortes laços
familiares propiciavam a construção de uma
personalidade confiável e sólida. Acho que os jovens
que nada sabem dessa época deixaram de aprender
lições valiosas.
O que quero dizer é que, hoje, avós e bisavós
subestimam seu papel familiar. O respeito deve ser
conquistado e demonstrado. De um lado, a
sociedade menosprezou o impacto das gerações
mais antigas; por outro lado, os velhos abdicaram
muito facilmente de seus papéis. A Bíblia nos diz
que devemos cuidar de nossos familiares,
especialmente de nossos familiares mais próximos
(1Timóteo 5.8). O exemplo deve começar por
aqueles que viveram por mais tempo. Há quem diga
que os velhos não são mais importantes na
sociedade, mas isso não significa que devemos ficar
para trás. Quando a família é destruída,
inevitavelmente, a sociedade desintegra-se. Certo
dia, um amigo me disse: “Está na hora de deixarmos
os jovens tomarem a dianteira. Já tivemos o nosso
dia, fizemos do nosso jeito. Agora, é a vez deles”.
Sou grato pelo fato de que meus filhos foram
influenciados pelos seus avós. Eles eram muito
jovens quando meu pai morreu, e minha mãe
morreu logo depois, mas as crianças sempre a
visitavam, até sua morte, em 1981. Contudo,
morávamos a poucos passos dos pais da Ruth. Eles
passavam muito tempo com meus filhos e tiveram
um impacto profundo na vida de cada um deles. Dr.
Bell contava histórias sobre o tempo em que viveu
na China como médico missionário. Quando ele
chegava aos detalhes sangrentos, a mãe de Ruth
ralhava com ele por dizer tais coisas. As crianças
riam, insistindo para o avô continuar. Eles falam
sobre isso até hoje. Eles também falam da força que
encontraram nas experiências e sabedoria de seus
avós. Afinal, isso é parte do legado deles e eles
passaram essa herança para seus filhos e netos. Este
é um legado duradouro.
Sei que essa não é a história de todos. Há muitos
que nunca conheceram o amor de uma família.
Muitos têm histórias assombrosas de abuso e falta
de amor e aceitação. A sociedade parece
enfraquecer-se a cada geração. Um casal de idosos
admitiu que “não tinha a menor ideia” de como
influenciar seus netos adolescentes. Simplesmente,
eles não sabiam como se relacionar com eles. O
problema talvez seja estarmos buscando soluções
terrestres. Em vez disso, deveríamos olhar para a
Palavra de Deus; é lá que encontraremos as
respostas. A pressão de um colega é muito real e
pode impactar e influenciar as pessoas. A Bíblia diz:
Se você disser coisas que se aproveitem e não
palavras
inúteis, você será de novo meu profeta.
O povo voltará para você,
mas você não deve voltar para eles.
(Jeremias 15.19 NLT)
Na minha época, a pressão dos colegas era para
fumar. A geração dos meus filhos era muito
influenciada para experimentar drogas. A geração
dos meus netos é exposta ao sexo promíscuo em
quase todos os níveis e faixas etárias da sociedade.
Como a Palavra de Deus não é mais ensinada nas
escolas há décadas e as famílias pararam de ir juntas
à igreja, há apenas sombras de influências divinas
que instruem os jovens a viverem de acordo com a
moral e reverenciando a Deus.
É impressionante ver como os jovens estão
influenciando os mais velhos. Uma avó de idade
avançada se justificou por viver com um homem.
Ela disse: “Minha neta me acha bacana”. Foi-se o
tempo da fazenda, no qual a neta aprendia com os
conselhos da doce avó, que “é mestra do bem” (Tito
2.3). A geração mais velha devia buscar formas de
encorajar os mais jovens, pois eles estão sendo
constantemente bombardeados com maus
ensinamentos, exemplos ruins e pressões.
Ao entrevistar uma senhora de 104 anos de idade,
a repórter perguntou: “Qual a melhor coisa de se ter
104 anos?” Ela simplesmente respondeu: “Não ser
mais pressionada pelos amigos”. Essa afirmação nos
faz sorrir porque é uma grande verdade. Quando
envelhecemos, tendemos a esquecer o que era ser
jovem e volúvel.
George Beverly Shea goza da vida aos 102 anos
de idade. Ele me considera um amigo mais jovem.
Aqueles abençoados com uma vida plena e saudável
durante um século e pouco fazem parte de uma
classe especial. Muitos se perguntam como é que
Bev consegue se comunicar tão eficazmente com os
jovens. Acho que é porque ele aceita a sua idade
com graça e humor, e essa autenticidade atrai as
pessoas. Elas sentem-se revigoradas pelo seu alto
astral e pelo seu testemunho do que o Senhor
representa para ele. Ele não tenta adaptar suas
crenças para ser aceito pelos mais jovens do que ele.
Ainda, acho interessante a quantidade de jovens que
o visitam e pedem para ele tocar órgão. Nós, da
geração mais velha, costumamos nos “vender” para
os mais jovens ao dar a eles o que achamos que eles
querem em vez de compartilhar nossas experiências
— que são como notícias antigas para nós. Para o
jovens, são informações que eles nunca ouviram
nem pensaram. Dez anos atrás, a Universidade de
Stanford sediou um congresso sobre envelhecimento
e convidou jovens para participar da discussão. A
pergunta era: “Por que a velhice é um problema da
pessoa jovem?”2
Temos o grande privilégio de preparar o caminho
para aqueles que ainda são expectadores. Será que
realmente levamos isso a sério? Permitimos que
Satanás destrua nossa influência ao nos fazer
acreditar que ninguém se importa de verdade
conosco. Enquanto escrevia este livro, li comentários
postados em blogs de jovens, que discutiam a
diferença entre as novas gerações e as gerações
passadas. Um dos comentários dizia: “Precisamos de
ambas as gerações na sociedade por suas
contribuições. A nova questiona, desafia e gera
mudanças; a passada coloca o freio quando
necessário, mostrando a sabedoria da experiência
[capaz de nos ajudar a tomar decisões prudentes
para nossa vida]”.3
Mesmo que isso não represente todas as novas
gerações, vemos que nem todos se negam a escutar
os mais velhos. A pergunta com a qual nos
deparamos é se estamos fugindo de oportunidades
de sermos boas influências ou se estamos sendo
irresponsáveis nos encontros com aqueles que
podem levar a sério nossa contribuição. A Bíblia
instrui as gerações a transmitir o que aprenderam.
Nossa juventude precisa repetir com o salmista:
Ouvimos, ó Deus, com os próprios ouvidos;
Nossos pais nos têm contado
O que outrora fizeste,
Em seus dias...
(Salmo 44.1 NKJV).
Do que seus filhos e netos irão se lembrar muito
tempo após a sua partida? Às vezes, os mais velhos
perdem suas oportunidades. Eles estão tão
concentrados em suas dores que acabam repelindo
as pessoas, até mesmo os netos.
Há algum tempo, um homem me escreveu:
“Gostaria de poder dizer que tenho boas lembranças
da minha avó, mas só consigo me lembrar da sua
aparência muito velha e que estava sempre
resmungando e reclamando sobre tudo”. Outro
escreveu: “Sempre nos divertíamos quando
visitávamos nosso avô, mas ele nunca dava notícias
de seu dia a dia”. Uma filha contou em desalento:
“Meus pais são tão fechados em si mesmos que só
pensam em se divertir desde que se aposentaram.
Imagino se serei como eles quando envelhecer.
Espero que não”.
Também espero que não, porque não é desta
forma que Deus quer que passemos nossos últimos
anos. Resmungões, descomprometidos, egoístas —
que tipo de impressão essas atitudes causam
naqueles que nos seguem? Quais lembranças eles
terão de nós se agirmos assim? Ainda mais
importante, o que estas atitudes podem ensiná-los a
respeito da vida e de como ela deve ser vivida? A
resposta é: muito pouco e nada de bom.
Contudo, Deus não quer que desperdicemos
nossos últimos anos ou que os gastemos em buscas
superficiais e sem sentido. Ao contrário, Ele quer
nos usar de todas as formas possíveis para
influenciar aqueles que virão depois de nós. Deus
quer que terminemos bem e, uma das formas de
fazê-lo, é transmitindo nossos valores e nossa fé
para aqueles que nos sucederão.
Deixando um legado
Nossas crianças não são como computadores —
não podemos programá-las para que sempre façam
exatamente o que queremos que elas façam ou
transformem-se exatamente naquilo que gostaríamos
que se transformassem. É um dos mistérios da vida:
duas crianças podem ser criadas na mesma família e
da mesma forma; no entanto, podem ser
completamente diferentes quando crescerem. Os
pais sabem que cada filho é diferente. Mesmo com a
melhor educação, alguns podem rejeitar nossos
sacrifícios para instruí-los. O melhor que podemos
fazer é proporcionar o ambiente correto — amá-los,
ensiná-los, orar por eles e equipá-los com as
ferramentas de que precisam para tomar decisões
sábias quando crescerem.
Enquanto pais, temos uma influência direta sobre
nossos filhos. Mais adiante, nossa influência sobre
nossos netos será provavelmente menor. Claro que
há casos diferentes, como quando os pais se
divorciam ou em outra situação na qual os avós tem
de assumir o papel de pais. Em geral, nossas
oportunidades de influenciar tanto nossos filhos
quanto nossos netos tendem a diminuir quando
envelhecemos. Porém, isso não significa que não
tenhamos influência sobre eles — nós temos —;
também não significa que nossa influência seja
insignificante — porque não é. De fato, isso pode
ser uma das coisas mais importantes que faremos
um dia. Ainda que não tenhamos netos, sejamos
solteiros ou sem filhos, temos um legado importante
e único para transmitir para a próxima geração e
além. Eles estão nos observando e vão aprender com
nosso exemplo.
Pense por um momento: como eles aprenderão
sobre as realidades da velhice e como lidarão com
elas? Como irão aprender sobre a importância de
construir sua vida sobre uma sólida base de fé em
Cristo e em Sua Palavra? Como irão descobrir a
diferença que Cristo pode fazer na vida de uma
pessoa, especialmente quando ela envelhece? A
resposta é óbvia: eles aprenderão todas essas coisas
ao observar aqueles que já são velhos.
Nosso maior legado
O maior legado que você pode transmitir para
seus filhos e netos não é o seu dinheiro ou outras
coisas materiais que acumulou durante a vida. O
maior legado que você pode deixar é o seu caráter e
a sua fé. O mesmo vale para jovens que nos
conhecem e nos observam, mesmo aqueles que não
são nossos parentes.
Afinal, é disso que nossos netos e outras pessoas
que nos conheceram lembrarão após nossa partida,
aconteça o que acontecer. Se nossa personalidade é
ruim, marcada pela cobiça, raiva, falta de
consideração, amargor, egoísmo, irresponsabilidade,
falta de integridade ou qualquer outra característica
negativa, é assim que seremos lembrados. Todavia,
quando se tem caráter e integridade moldados por
Cristo, é inevitável que isso seja visto e lembrado.
Por que a fé é o nosso maior legado? Porque a
lembrança de quem nós éramos – não apenas a
nossa personalidade, mas nosso caráter e nossa fé –
tem a capacidade de influenciar os outros na direção
de Cristo.
Meus pais tiveram um impacto profundo sobre
mim. A personalidade meiga e gentil de minha mãe,
assim como sua preocupação com o bem-estar
espiritual dos outros estão dando frutos até hoje.
Apesar de sua limitada educação formal, ela amava
a Bíblia e passava muito tempo ensinando-a aos
outros. Também lembro com muita gratidão do meu
pai, um exemplo de honestidade, integridade,
disciplina e esforço. Quando jovem, lembro-me de
observar um casal mais velho que vivia em nossa
comunidade. Eles desfrutavam a companhia um do
outro, sem perceber o impacto que causavam nos
outros ao seu redor. Com o passar dos anos,
incontáveis pessoas influenciaram-me e
transformaram-me através de suas vidas — por mais
que eu não percebesse. O mesmo deve ser válido
para pessoas que também observam a sua vida.
Nosso maior impacto sobre os outros é, sobretudo,
uma consequência daquilo que fazemos, e não do
que falamos.
Nossa maior esperança
Qual é sua maior esperança para seus filhos e
netos (e outros fora do seu círculo familiar que
fazem parte da próxima geração)? O seu desejo é
que eles se tornem homens e mulheres de
compaixão, honestidade, moral, responsabilidade,
generosidade, lealdade, disciplina e sacrifício? Você
espera que eles se tornem homens e mulheres de fé,
que acreditam no Senhor como Salvador e
procuram segui-Lo como Mestre de suas vidas todos
os dias?
Como não podemos tomar essa decisão pelos
outros, podemos mostrar-lhes o caminho, sendo um
exemplo do amor de Cristo e de Seu poder de
transformar todas as vidas a Ele enviadas.
No entanto, impõe-se uma palavra de cautela: não
podemos fingir ser algo que não somos. Um caráter
como o de Cristo não pode ser simulado. Se Cristo
não é real para nós e se não aprendemos a andar ao
Seu lado e entregar nossa vida a Ele diariamente,
nosso impacto espiritual sobre aqueles que nos
sucederão será muito menor do que poderia ter sido.
Os jovens são muito sensíveis quanto à hipocrisia; se
eles a veem em nós, eles irão ignorar nossas
pretensões e não prestarão atenção em nossos
conselhos. Por outro lado, quando percebem que
nossa fé é sincera e nosso amor é autêntico, irão
respeitar-nos e levar-nos a sério (mesmo quando eles
sabem que não somos perfeitos). É por isso que é
importante começarmos a construir nossa vida sobre
a sólida base de Jesus Cristo agora, em vez de
esperar até que seja tarde demais e os problemas da
velhice nos assolem. Todo jardineiro sabe que o
fruto não amadurece da noite para o dia. Isso leva
tempo, e o mesmo vale para o fruto do Espírito em
nossa vida. A Bíblia nos encoraja para que sejamos
“perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tiago
1.4).
Vencendo as diferenças
Em termos práticos, como podemos impactar
aqueles que estão quatro ou cinco décadas de
distância ou a milhares de quilômetros de nós? No
passar dos anos, Ruth e eu tentamos adotar várias
práticas em nosso relacionamento com nossos netos
(e, agora, bisnetos também — quarenta e três ao
total), apesar de sabermos que não éramos perfeitos.
Talvez essas práticas o ajudem.
Ore sempre
Ore regularmente pela sua família. Deus sabe das
necessidades deles muito melhor do que você, e Ele
é capaz de fazer imensuravelmente mais do que
podemos pedir ou imaginar (Efésios 3.20). Deus é
capaz de fazer o que não podemos fazer,
especialmente dentro de nossas famílias. Todos já
ouvimos a expressão “O que os olhos não veem, o
coração não sente”. Não deixe isso acontecer com
sua família; ore por eles sempre.
Não ore apenas em termos gerais (o tipo de
oração que, de forma vaga, pede para Deus
abençoá-los). Faça orações específicas, e faça-as
todos os dias. Não ore apenas para que Deus os
mantenha seguros, mas para que Ele guarde-os das
tentações e das maldades que acometem os jovens
hoje. Ore para que Deus dê a eles coragem para
fazer o certo e evitar o errado, assim como para que
procurem saber Sua vontade para o futuro deles
quando crescerem. Ore pela decisões que você sabe
que terão de tomar ou pelas dificuldades que
estejam enfrentando. Faça-os saber que você ora
por eles — não por estar se intrometendo na vida
deles, mas por amá-los e se importar profundamente
com tudo o que acontece com eles. Acima de tudo,
ore para que eles abram sua vida e seu coração para
Jesus Cristo, tornando-se seus fiéis seguidores.
Mantenha contato
Às vezes, não é fácil comunicar-se com
frequência: as famílias se dispersam e também temos
que evitar dar a impressão de que estamos tentando
interferir na vida pessoal das pessoas. Porém,
aproveite todas as oportunidades que você tiver. Em
algumas famílias, o contato pode ocorrer
diariamente; em outras, apenas por telefonemas
ocasionais, como na data de aniversário. Conheço
avós que aprenderam sozinhos a enviar e-mails e se
inscreveram em redes sociais para manter contato
com seus netos.
Também é importante dizermos o quanto os
amamos e que nos importamos muito com tudo o
que acontece com eles. Há pouco tempo, uma
mulher abordou-me na sala de espera de um
consultório médico e perguntou se eu tinha netos.
Quando disse que tinha dezenove, ela ficou
horrorizada: “Dezenove! Como você aguenta?
Tenho apenas dois e eles me deixam louca. Não
consigo me imaginar com dezenove netos!”
Inicialmente, achei a reação dela engraçada, mas
depois fiquei triste. Pode ser que seus netos não se
vistam da forma que você gostaria que eles se
vestissem, ou não ouçam o seu tipo favorito de
música, porém Deus os deu a você e Ele os ama.
Eles são um dos presentes de Deus para você,
portanto, deixe-os saber que você os ama, tanto pela
suas palavras como pelas suas atitudes.
Encoraje-os
A Bíblia diz: “Consolai-vos, pois, uns aos outros e
edificai-vos reciprocamente” (1Tessalonicenses
5.11). Depois que Saulo de Tarso (posteriormente
chamado de Paulo) encontrou Cristo na estrada para
Damasco, um homem tornou-se seu amigo e
ajudou-o, vindo a tornar-se companheiro de Saulo
em sua primeira viagem missionária. Este homem
era Barnabé, cujo significado é “filho de exortação”
(Atos 4.36).
É tentador dar lições aos nossos netos ou apontar
o que achamos que estão fazendo de errado. Isso
pode ser feito ocasionalmente, mas não exagere nas
negativas! Eles precisam saber que os amamos e,
acima de tudo, que Deus os ama. Felicite-os quando
merecerem. Quando não, encoraje-os a pensar sobre
um caminho diferente. Também aprenda a perdoar e
esquecer quando eles forem insensíveis ou fizerem
algo que os machuque.
Ao mesmo tempo, evite as armadilhas. É fácil
mostrar favoritismo, mesmo em nossas famílias.
Podemos gostar mais de um neto do que de outro e,
inconscientemente, passar mais tempo com o
preferido e dar mais presentes a ele. Contudo, a
Bíblia diz: “nada fazeis com parcialidade”
(1Timóteo 5.21). Deus fez cada um de nossos netos
e ama-os exatamente como eles são — assim como
deveríamos amar. Nosso amor por eles e um
tratamento justo deve aumentar a fé que têm neles
mesmos e em Deus.
Lembre-se de sua posição
Não somos os pais dos nossos netos e temos que
ser cuidadosos para não ultrapassarmos a linha e
criarmos uma situação de tensão ao interferirmos na
educação dada por seus pais. Também precisamos
evitar tomar partido em brigas familiares, evitando
maiores tensões e conflitos. Deixe a admoestação da
Bíblia ser a sua guia: “Acima de tudo, porém, tende
amor intenso uns para com os outros, porque o
amor cobre multidão de pecados” (1Pedro 4.8).
Seja um exemplo
Lembre-se, seus filhos e netos descobrem muito a
seu respeito ao observar suas ações e atitudes. Eles
veem Cristo em você? Eles lembrarão de você como
um exemplo vivo da Sua compaixão e do Seu amor?
Mesmo em tempos difíceis ou quando acometido de
doenças senis, eles lembrarão da paz e alegria que
você transmitia? Deixe-os lembrar de você como
alguém cuja vida foi modificada por Jesus Cristo —
assim como pode ser a deles.
Superando desavenças
Como podemos recuperar um legado que foi
maculado por algo que aconteceu há muitos anos,
mas que continua a nos perseguir porque o
problema nunca foi resolvido? Normalmente, isso
tem a ver com relacionamentos rompidos cujas
feridas nunca cicatrizaram. Talvez isso tenha
acontecido na sua vida. Se esse for o caso, encare
honestamente e faça tudo o que puder para mudar
isso. Quando envelhecemos e olhamos para trás,
como vemos esses conflitos não resolvidos?
“Eu e minha mãe sempre tivemos um
relacionamento difícil”, escreveu-me uma mulher
recentemente; “não nos falamos nos últimos dez
anos. Agora, ela se foi, e eu daria tudo para ter
apenas um minuto com ela e pedir desculpas”. Outra
mulher escreveu: “Há doze anos, disse ao meu filho
que não tinha mais nada a ver com ele. Hoje me
pergunto se fiz a coisa certa. Sinto-me tão sozinha e
ele é a única família que tenho”. A carta de um
homem tinha o seguinte comentário: “Acho que
posso dizer que briguei para valer com a minha
família nos últimos doze anos. Eles não eram
perfeitos, mas devo admitir que eu era o principal
problema. Gostaria de retomar o contato, mas eles
mandaram avisar que não estão interessados”.
Cada um deles (e outras centenas de pessoas que
eu poderia citar) conta uma história levemente
diferente, mas a essência do problema é a mesma:
um relacionamento rompido e que nunca foi
resolvido. Cada um deles também tem outro tópico
em comum: o arrependimento — arrependimento
pelo que aconteceu, arrependimento pelos anos que
foram perdidos, arrependimento porque a época de
curar a ferida já passou. Não chegue ao fim da sua
vida sentindo arrependimento por uma ferida que
poderia ter sido perdoada ou por um relacionamento
que poderia ter sido reatado, caso você tivesse
tomado iniciativa e dado o primeiro passo. Por que
não fazemos isso?
Na maioria das vezes, devido ao orgulho: odiamos
admitir que estamos errados ou que tivemos alguma
culpa na desavença. Às vezes, temos medo de ser
rejeitados ou de desproteger ainda mais nossa vida
contra mágoas. Qualquer que seja o motivo, não
deixe que ele o impeça de resolver mágoas e
conflitos do passado. Claro que nem sempre é
possível remendar um relacionamento rompido —
algumas pessoas se negam a reconciliar-se com
pessoas que magoaram ou por quem foram
magoadas. Algumas pessoas também se recusam a
assumir a responsabilidade pelo que fizeram, sempre
culpando os outros pelo que aconteceu. Nesse caso,
você provavelmente não pode resolver os problemas
dessas pessoas, mas pode resolver os seus ao se
propor a ir atrás de alguém que se voltou contra
você. Siga “a paz com todos e a santificação, sem a
qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14), e,
“se possível, quanto depender de vós, tende paz com
todos os homens” (Romanos 12.18). A paz não é
possível em todos os casos, mas devemos fazer a
tentativa.
Ore a Deus para ter um espírito clemente como
parte de seu legado, não apenas reconciliando-se
com os outros, mas também transmitindo o exemplo
do perdão e da graça de Cristo para aqueles que
vierem até você. Não é fácil: isso exigirá muita
reflexão, sabedoria e oração, mas será uma das
coisas mais importantes que você fará.

A CAMINHO DE CASA
COM UM LEGADO
DURADOURO
O perdão é uma das palavras mais lindas do
vocabulário humano, e a sua melhor ilustração é o
perdão divino para o pecado. Quando o povo de
Deus pratica o perdão ao próximo, a doçura
substitui a grosseria. Um maravilhoso exemplo é
revelado na vida de José, que perdoa seus irmãos
por terem-no vendido como escravo quando jovem.
José mostrou a seus irmãos que, quando eles
quiseram fazer mal ao seu irmão caçula, Deus fez
disso o bem ao usá-lo para salvar muitas pessoas
durante a fome que assolou a Terra (Gênesis 50.20).
José foi grandemente abençoado por Deus em sua
velhice devido à sua demonstração de perdão. A
Bíblia diz: “Viu José os filhos de Efraim até à
terceira geração; também os filhos de Maquir, filho
de Manassés, os quais José tomou sobre seus
joelhos” (Gênesis 50.23 NKJV). Que cena! Os netos
deste herói da fé gozaram da convivência com seu
bisavô, José. Se nosso coração não puder perdoar
sequer nossa própria família, como poderemos
praticar este atributo de Cristo com o próximo e
receber as bênçãos de Deus? A Bíblia diz que a
grande bênção dá-se quando vemos os filhos de
nossos filhos (Salmo 128.6). Compreendemos
inteiramente as bênçãos que vêm da mão de Deus?
Que possamos aproveitar as oportunidades de voltar
nossas famílias para Cristo.

1 MORELLO, Carol. A new generation of caregivers takes control


of kids. In: Washington Post, 10 de setembro de 2010. Disponível
em: <http://www.washingtonpost.com/wp-
dyn/content/article/2010/09/09/AR2010090906576.html>
2 ALEXANDER, Meredith. Stanford conference invites young
people to discuss aging. In: Stanford News Service, 27 de abril de
2001. Disponível em:
<http://news.stanford.edu/pr/01/Aging502.html>
3 MSHURN [pseud.]. Topic: can you differentiate the old
generation from the new generation?. In: eNotes. Disponível em:
<http://www.enotes.com/history/discuss/can-you-differentiate-old-
generation-from-new-51515>
Um alicerce duradouro

Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém


pode lançar outro fundamento, além do que foi
posto, o qual é Jesus Cristo.
— 1Coríntios 3.10-11
Deus enterra Seus operários, mas continua Seu
trabalho.
— Charles Wesley
Os jovens nunca pensam que irão envelhecer.
Eles estão gozando da mocidade, repletos de um
entusiasmo que alimenta seus sonhos e esperanças.
Lembro-me desses dias. No final da década de
1930, eu tinha 19 anos de idade e estudava no
Instituto Bíblico da Flórida (atualmente, Faculdade
Trinity), na periferia da cidade de Tampa. Junto com
outros estudantes, conheci um velho pregador de
nome Judson W. Van DeVenter, que tinha
ministrado com J. Wilbur Chapman (que, por sua
vez, tinha viajado com D. L. Moody e,
posteriormente, tornou-se conselheiro espiritual de
Billy Sunday). O senhor Van DeVenter dava aulas
de hinologia no instituto e escreveu muitas canções
célebres, como I Surrender All (“Tudo Entrego”, na
versão em português) e Saved Through Jesus’ Blood
(“Salvo pelo Sangue de Jesus”, em tradução livre).
O senhor Van DeVenter cultivava um pomar de
laranjas nessa região tão ensolarada dos Estados
Unidos. Quando ele não podia mais trabalhar, os
jovens colegas colhiam as frutas para ele antes que
chegasse a época de geadas. Nós nos víamos
cuidando do velho pastor. Lembro-me de como ele
apreciava e reconhecia a ajuda dos colegas mais
jovens. Ele era ajudado pelo nosso trabalho e,
apesar de, na época, não imaginarmos que um dia
seríamos tão velhos, aprendemos com o seu
exemplo. Encontros como esse contribuem para a
formação do alicerce da vida.
J. W. Van DeVenter faleceu na cidade de Temple
Terrace, no estado da Flórida, em 1939, aos 84 anos
de idade. Sendo um estudioso vigoroso da Bíblia, eu
não poderia imaginar uma vida tão longa e a
necessidade de tantos cuidados como a dele.
Parecia-me que ele praticamente não conseguia
cuidar de si mesmo. Agora que tenho 92 anos,
minha gratidão pelo senhor Van DeVenter é muito
grande. Aprendemos a respeitar os outros quando
nos tornamos dependentes. Pensar na ajuda que
demos ao senhor Van DeVenter faz com que eu
tenha grande consideração por aqueles que tão
amavelmente cuidam de mim hoje. O que espero
nesse estágio avançado da vida é poder construir
pontes para aqueles que me seguem ao apoiá-los na
estrada da vida pela qual viajam.
Para aqueles dentre nós que estão a caminho de
casa, nossos passos podem ser lentos, porém não
são passos a esmo. As gerações mais jovens
acompanham o último quilômetro do nosso
percurso. O que isso quer dizer? Que ainda estamos
conduzindo outras pessoas. Mas estamos
conduzindo de forma vitoriosa? Estamos preparando
o caminho para aqueles que seguirão nossos passos?
Talvez devêssemos nos perguntar: vale a penas
seguir nossos passos? A resposta é sim, desde que
estejamos seguindo os passos do Senhor Jesus
Cristo e nossas pontes sejam construídas com a
rocha sólida de Seu alicerce. Só Ele nos cobre de
cuidados e alivia nossos fardos.
Transformando os fundamentos em
alicerce seguro
Ninguém escapa de uma vida com dificuldades.
Alguns até passam por problemas de saúde durante
a juventude. Outros nascem na riqueza e perdem
tudo. Alguns procuram o amor e só encontram
rejeição, uma atrás da outra. Se não tivermos um
alicerce firme, o peso da vida será mais difícil de ser
suportado. Deus tem um objetivo para cada um de
nós, e Ele quer que, através Dele, preparemos o
mesmo alicerce que Ele estabeleceu. A Escritura fala
de artesãos que fixavam seus trabalhos com estacas:
“com pregos fixa o ídolo para que não oscile” (Isaías
41.7 NKLV). Quando as mãos de Cristo foram pregadas
à cruz, Ele tornou-se nossa base segura. Certa vez,
D. L. Moody disse: “Entregue sua vida a Cristo: Ele
pode fazer mais com ela do que você”.
Recentemente, ouvi falar de uma família que
construiu uma casa nos Apalaches há muitos anos,
não muito longe da minha casa. A propriedade
ficava em uma colina, com uma linda vista dando
para um vale e com montanhas ao fundo. Depois de
os planos terem sido colocados no papel e a
construtora, escolhida, o projeto foi realizado dentro
do tempo previsto e, alguns meses depois, a nova
casa estava pronta. A família ficou encantada com o
resultado e logo se mudou para o lar dos sonhos.
Porém, após cerca de um ano, o sonho
transformou-se em pesadelo. O primeiro sinal de
problema foi uma leve depressão no solo ao redor
de uma parte da fundação da casa. Com o passar do
tempo, essa depressão acentuou-se e fissuras
começaram a formar-se nas paredes. Eles ficaram
preocupados e contrataram um engenheiro civil para
avaliar. Ele descobriu que parte do concreto da
fundação tinha sido colocada sobre um buraco cheio
de resíduos — velhos troncos de árvores, rochas
soltas e até mesmo restos de madeira da construção.
Quando essa madeira apodreceu, abriu-se um
espaço no chão e as paredes começaram a oscilar,
deixando a casa com uma instabilidade perigosa.
Seja por ignorância ou negligência, o empreiteiro
construiu a casa deles sobre um alicerce defeituoso e
foi preciso tempo e dinheiro para corrigir este erro.
Assim como aquela casa, nós também precisamos
de uma fundação sólida para a nossa vida — um
conjunto imutável de crenças, objetivos e valores
morais que irão nos manter seguros e estáveis, ainda
que em meio às tempestades da vida.
Independentemente da idade, nada nos prepara mais
para o futuro do que um sólido alicerce moral e
espiritual fundado na vontade de Deus.
Enquanto revisava este capítulo, um terremoto de
intensidade 9 e um enorme tsunami devastaram
parte do norte do Japão, causando a morte de
milhares de pessoas e alterando levemente o eixo da
Terra. Compadeci-me do sofrimento e da perda
daqueles que sobreviveram, e minha primeira reação
foi orar para que Deus os ajudasse.
Imediatamente, meu filho Franklin foi para a
região afetada e iniciou um trabalho com igrejas
japonesas para trazer ajuda aos que tiveram suas
vidas destruídas pelo desastre.
Não conseguia parar de pensar naqueles que um
dia viveram lá e perderam tudo. Eles construíram
suas casas sobre fundações que acreditavam que
fossem seguras. Por ser uma área de risco de
terremoto, muitos devem ter tomado precauções
extras. Mas quando o chão se moveu sob os seus
pés e a gigantesca onda do tsunami invadiu a terra,
as fundações não resistiram, causando um dos
maiores desastres naturais da atualidade.
Catástrofes como esta nos lembram do que pode
acontecer quando construímos nossa vida sobre o
alicerce errado — uma fundação que pode parecer
adequada em tempos normais, mas que não suporta
as tensões e percalços da vida. Tragicamente, no
entanto, muitas pessoas nunca param para pensar
sobre isso ou avaliar alicerces sobre os quais estão
construindo sua vida. Elas acham que estão na
estrada certa e que suas fundações serão sempre
seguras. Para alguns, esse alicerce pode ser
composto de autoindulgência, prazer ou
entretenimento. Outros constroem sua vida sobre
sucesso financeiro ou posição social. Há ainda quem
pense que se pudesse achar a pessoa certa... ou
descobrir o lugar ideal para viver... ou obter o
trabalho de melhor remuneração... Então, poderia
ser feliz e inabalável.
No entanto, em seus momentos de silêncio, essas
pessoas devem se perguntar se estão realmente
certas. Às vezes, uma crise pessoal — uma doença
inesperada, a revolta de um filho, um revés
financeiro — revela o que a fundação é, na verdade:
instável e insegura. Ou, então, estas pessoas
finalmente atingem seus objetivos e conseguem tudo
o que sempre desejaram, só que vêm a descobrir
que o sucesso as deixou vazias, impacientes e
entediadas. Elas repetem junto com o escritor de
Eclesiastes:
Considerei todas as obras que fizeram as minhas
mãos,
Como também o trabalho que eu, com fadigas,
havia feito; E eis que tudo era vaidade
e correr atrás do vento.
(Eclesiastes 2.11)
Seus sonhos e esperanças foram destruídos,
deixando-as confusas e desiludidas, tentando
imaginar o que foi que deu errado. Talvez, isso
tenha acontecido com você.
Quando construímos sobre bases instáveis,
teremos problemas. O mesmo vale para quando
substituímos Cristo por outras coisas, colocando em
primeiro lugar: nossos sonhos, nossas ambições,
nossas esperanças, nossos objetivos, nossa
aparência, nossa saúde ou nossas posses. “No final
das contas, a vida não é isso?” — perguntamos a
nós mesmos. “Não é desse jeito que devemos viver?
Não é assim que todos vivem — ou, ao menos,
tentam viver?” Porém, cedo ou tarde, essa fundação
vai se revelar. Quando chegam os problemas (como
acontece inevitavelmente), falhas aparecem e a
fundação começa a desabar. Infelizmente, nos
tornamos como o homem da parábola de Jesus, “um
homem insensato que edificou a sua casa sobre a
areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios,
sopraram os ventos e deram com ímpeto contra
aquela casa, e ela desabou” (Mateus 7.26-27).
Por que o dinheiro, o sucesso e o prazer não
trazem satisfação duradoura? Por que eles não
compõem um alicerce sólido para uma vida
vitoriosa, especialmente quando envelhecemos?
Porque tais coisas ignoram as grandes verdades da
vida; não temos apenas corpo e mente, mas também
temos alma e espírito. Se ignorarmos essa premissa,
alimentaremos nosso corpo, mas privaremos nossa
alma, deixando nossa vida vazia e incompleta —
descobriremos quão fracos e despreparados estamos
para os inevitáveis desafios da vida. Em algum
momento, as tempestades da vida nos atingirão e
descobriremos que edificamos nossa vida sobre a
areia.
Vale dizer que é fácil priorizar o bem-estar e a
felicidade emocional quando nos preparamos para o
futuro; afinal, somos bombardeados com esse tipo
de mensagem o tempo inteiro. Consultores
financeiros dizem que tudo o que temos que fazer
para nos preparar para o futuro é investir
corretamente. Especialistas em saúde alertam que
precisamos comer os alimentos certos, tomar as
vitaminas certas e fazer os exercícios certos para ser
saudáveis, felizes e bem-amados. Editores e
comerciais televisivos promovem uma gama de
produtos que oferecem o que há de mais moderno
para alcançar o sucesso, superar os problemas da
vida ou combater a idade. Até as empresas de
cosméticos entraram nessa, anunciando que seus
produtos são capazes de reverter o relógio e nos
fazer parecer mais jovens. Há pouco tempo, li que
as mulheres norte-americanas gastam quase sessenta
bilhões de dólares por ano em produtos anti-idade
— número que deve aumentar em 10% no futuro
próximo.
É claro que não está completamente errado se
preocupar com algumas dessas coisas. Devemos
economizar para o futuro, cuidar de nosso corpo
físico e de nossa saúde emocional. Mas é a isso que
se resume preparar-se para o futuro?
A resposta é não. Mesmo o investimento
financeiro mais seguro e o melhor plano de saúde
não são suficientes para nos manter estáveis quando
surgem os desafios. Será que uma farta conta
bancária irá ajudá-lo quando a deficiência tirar sua
liberdade ou a morte levar alguém que você ama?
Uma ótima saúde irá protegê-lo contra as mazelas da
solidão e do luto ou contra a instabilidade financeira
que aumentar com o avanço da idade? Jesus disse:
“Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo,
mais do que as vestes?” (Mateus 6.25). Precisamos
de algo a mais, algo mais profundo e inabalável, algo
que irá nos ajudar durante os momento difíceis da
vida. Precisamos de uma fundação sólida sob nossa
vida — um alicerce que nos dará força e
estabilidade, independentemente do que acontecer. E
a hora de construí-lo é agora.
Deus não quer que fiquemos à deriva da vida,
sem objetivo, buscando desesperadamente
felicidade, segurança e paz, sem nunca encontrar
nada disso. Da mesma forma, Ele não quer nos ver
construir nossa vida sobre instáveis alicerces
temporários. Deus já nos deu toda a base de que
precisamos!
Há muitos anos, quando Ruth e eu estávamos
planejando a construção de nossa casa, um amigo
nosso nos indicou um engenheiro para avaliar a área
que seria construída. Aceitamos a ideia
imediatamente. Os testes feitos pelo engenheiro
revelaram que, sob certas condições, o solo poderia
se mover após um longo período de chuvas.
Conforme recomendado por ele, o empreiteiro
cavou até a rocha matriz e preencheu a cavidade
com estacas de concreto, de modo a tornar nossa
casa segura e estável. Esta solução se mostrou a
mais correta.
Precisamos de uma base tão sólida quanto aquela
rocha matriz. Só Deus é capaz de proporcionar isso.
Jesus Cristo é a rocha matriz sobre a qual
precisamos construir nossa vida. Quando
entregamos nossa vida a Ele, descobrimos que Ele é
a fundação sólida da qual precisamos. Todas as
outras fundações são falsas. A Bíblia diz: “Vocês são
como um edifício e estão construídos sobre o
alicerce que os apóstolos e os profetas colocaram. E
a pedra fundamental desse edifício é o próprio
Cristo Jesus” (Efésios 2.20 PHILLIPS).
Cristo: o alicerce seguro
Por que deveríamos construir nossa vida em
Cristo? Em primeiro lugar, devido a quem Ele é.
Jesus Cristo não foi apenas um grande mentor
religioso que passou pela Terra há cerca de dois mil
anos. A Bíblia diz que Ele é muito mais do que isso:
Ele foi Deus em carne humana. É por isso que
comemoramos o natal, e é por isso que deveríamos
comemorar todos os dias de nossa vida. A Bíblia
conta-nos que, no primeiro natal, Deus fez algo que
você e eu mal podemos imaginar: Ele desceu dos
céus e transformou-se em um homem. Este homem
era Jesus, totalmente divino e totalmente humano ao
mesmo tempo.
Você quer saber como Deus é? Olhe para Jesus,
pois Ele era Deus em carne humana. A Bíblia diz:
“Este é a imagem do Deus invisível... porquanto,
nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da
Divindade” (Colossenses 1.15; 2.9). A prova foi a
sua ressurreição dos mortos, que confirmou não
apenas a sua vitória sobre o pecado, mas também a
verdade sobre Sua natureza divina. Seus
ensinamentos não são apenas reflexões de um
profundo filósofo ou de um mentor religioso; elas
são mensagens de Deus para nós. Seus feitos de
misericórdia não foram apenas ações de um
indivíduo particularmente misericordioso; eles foram
uma demonstração do amor e da preocupação de
Deus por cada um de nós.
Em segundo lugar, Cristo deveria ser nosso
alicerce devido ao que Ele fez por nós. Nossa maior
necessidade é reconciliarmo-nos com Deus e
tornarmo-nos parte de Sua família. No entanto, há
uma barreira insuperável no caminho: nosso pecado.
O pecado nos separa de Deus e nos submete ao Seu
julgamento. Por mais que tentemos, não podemos
apagar nossos pecados por meio de nossos próprios
esforços. Estamos alienados a Deus e somos
culpados perante Seus olhos sagrados. O profeta
Isaías diz: “Mas as vossas iniquidades fazem
separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos
pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos
não ouça” (59.2). Apenas Deus pode tirar os seus
pecados; Ele tornou isso possível ao enviar Seu
único Filho ao mundo para morrer por nós. Por ser
divino, Jesus Cristo não tinha pecados. Porém,
quando estava na cruz, todos os pecados do mundo
foram colocados Nele e, com sua morte, Ele tomou
para si o julgamento e a condenação que
merecíamos. Ele fez por nós o que nunca
poderíamos fazer por nós mesmos. Agora, ele nos
oferece gratuitamente o presente do perdão e da
vida eterna se O aceitarmos. Como Paulo nos
recorda, “porque o salário do pecado é a morte, mas
o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo
Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6.23). Pense nisso:
hoje Deu oferece o presente gratuito do perdão e da
salvação — ele é gratuito porque Jesus Cristo já
pagou o seu preço.
Quando vamos a Ele e confiamos apenas Nele
para nossa salvação, Deus perdoa nossos pecados e
nos reconciliamos com Ele para sempre. Ele
também vive dentro de nós através de Seu Espírito
Santo e nos adota em Sua família como filhos e
filhas. E, como pertencemos a Ele, estaremos com
Ele no céu um dia. Nesse intervalo, Ele está conosco
em todos os momentos do dia, até o final de nossa
jornada terrestre. Nunca é tarde demais para
começar a construir sua vida sobre o alicerce de
Jesus Cristo e de Sua vontade, “porque ninguém
pode lançar outro fundamento, além do que foi
posto, o qual é Jesus Cristo” (1Coríntios 3.11). Ele é
o fundamento da sua vida?
A grande decisão
A primeira coisa que um empreiteiro faz quando
começa a construção de fato de uma nova casa é
trabalhar na sua fundação. Ele sabe que, se pular
este passo ou se ele não for feito corretamente, a
casa ficará inevitavelmente defeituosa ou
simplesmente não irá durar muito tempo, por mais
linda ou esplêndida que seja sua aparência externa.
Cedo ou tarde, ela vai se enfraquecer e desmoronar.
No entanto, antes de iniciar a construção ou
sequer colocar os pés no terreno, algo deve
acontecer. Este “algo” é uma decisão — um
comprometimento pessoal do proprietário em
construir o edifício. Este deve ser o nosso primeiro
passo. Todos querem uma vida feliz e segura, um
alicerce sólido e duradouro, mas sonhar apenas não
é o suficiente! Precisamos tomar uma decisão:
aceitar um comprometimento pessoal com Jesus
Cristo e Sua vontade para nossa vida.
Independentemente de quão jovem ou velho você
seja, você está tentando construir sua vida Nele? A
decisão mais importante que você irá tomar é dar
sua vida a Cristo e tornar-se seu seguidor. Não
espere até que as tempestades da vida comecem a
abatê-lo, pois pode ser tarde demais. Abra seu
coração e sua vida para Ele agora. “Eis o socorro de
Deus, eis o dia da salvação” (2Coríntios 6.2).
Se você nunca convidou Jesus Cristo para
adentrar sua vida, ou se você duvida de sua
salvação, convido-o a parar agora e pedir a Ele que
venha para sua vida, perdoe-o e salve-o — e Ele o
fará. Para ajudá-lo nesse compromisso, peço que
faça a seguinte oração (ou use suas próprias
palavras) agora mesmo:
“Ó Deus, eu sei que sou um(a) pecador(a).
Perdoe-me pelos meus pecados, eu quero remi-los.
Confio em Jesus Cristo como meu Salvador,
confesso-o como meu Senhor e convido-o a entrar
em minha vida hoje. A partir deste momento, quero
fazer Dele o alicerce da minha vida e servi-Lo e
segui-Lo na comunhão de Sua igreja. Oro em nome
de Cristo. Amém.”
Se você fez essa oração com sinceridade, Deus
ouviu-o e perdoou-o — agora você é Seu filho para
sempre. Você também deu o primeiro passo não
apenas na construção da sua vida, mas de toda a
eternidade. Do seu comprometimento, virá a força
moral e espiritual da qual você precisa para enfrentar
os desafios do futuro.
A CAMINHO DE CASA
COM UM ALICERCE SÓLIDO
Quando penso nas palavras escritas por J. W. Van
DeVenter em 1986, penso na base da vida cristã:
Tudo entrego a Jesus;
Tudo ofereço a Ele;
Sempre O amarei e confiarei Nele,
Vivo na Sua presença todos os dias.
No momento de nossa entrega pessoal e da
aceitação de Jesus Cristo como Senhor e Salvador,
Ele ordena que caminhemos por Seus passos.
Receber o Seu poder nos dá coragem para segui-Lo
e habitar em Sua presença.
Os idosos deveriam inspirar-se nas biografias
presentes nas páginas da Escritura e nos alicerces
deixados por aqueles que viveram antes de nós. A
Bíblia não diminui a idade, porém ensina seus
valores e virtudes. Deveríamos reproduzir a
sabedoria daqueles que transmitiram os blocos de
construção da verdade de Cristo.
Antes da morte de Josué, aos 110 anos de idade,
ele reuniu todos aqueles que comandara e lembrou-
os do passado: de suas desobediências, de seus
arrependimentos, do perdão de Deus e da fidelidade.
Ele proclamou que, em milhares de anos,
perseverariam casas ao redor do mundo: “eu e a
minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24.15
NKJV
). Josué não retrocedeu na velhice nem abdicou
de suas responsabilidades. Ele enfaticamente
relembrou as pessoas sobre os blocos de construção
que tornarão nosso alicerce seguro: “Temei ao
Senhor e servi-o com integridade e com fidelidade”
(Josué 24.14 NKJV).
Em lugar de assumir uma posição retardatária nos
anos de crepúsculo, precisamos fielmente proclamar,
como Josué fez: “Inclinai o coração ao Senhor”
(Josué 24.23 NKLV). Talvez aqueles que estiverem
assistindo e ouvindo responderão como aqueles que
ouviram os sábios conselhos de Josué, quando ele
disse: “Ao Senhor, nosso Deus, serviremos e
obedeceremos à sua voz” (24.24 NKLV). A Bíblia diz
que Josué “sabia todas as obras feitas pelo Senhor”
(Josué 24.31 NKLV). Nossas vozes podem ser fracas,
mas façamos com que nosso espírito seja forte ao
relembrar os outros da raiz do amor de Deus, que
irá crescer no coração de todos que almejarem a
Água da Vida.
As raízes se fortalecem com o
tempo

Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim


andai nele,
nele radicados, e edificados, e confirmados na fé,
tal como fostes instruídos, crescendo em ações de
graças.
— Colossenses 2.6-7
Quem cessa de aprender fica velho,
seja aos vinte ou aos oitenta.
— Henry Ford
Nossa cultura não é definida pelo velho ou pelo
novo, mas pelo mais recente. O mundo da alta
tecnologia evolui em uma velocidade
impressionante. A sociedade se molda pelo que há
de mais moderno, o que pode ser ilusório.
Recentemente, uma rede de notícias transmitiu a
coletiva de imprensa para anunciar o novo iPad.
Antes do final da apresentação, os criadores do
produto já falavam dos planos para a nova versão do
eletrônico. Acompanhar o melhor e o mais recente é
difícil.
O ritmo acelerado da inovação é especialmente
desafiador para quem tem a idade avançada. Minha
geração assistiu a vida passar do Ford modelo T
para o iTudo — iPhone, iPod, iPad, iCard, etc.
Aprendemos a cuidar do que possuíamos para
passar adiante aos jovens, esperando que eles
fossem cuidar com carinho de coisas que tinham
significado. No entanto, a juventude está
acostumada a descartar um objeto para trocá-lo por
outro que possa ter a aparência idêntica, mas que
possui algo invisível: mais memória. Em um mundo
submerso em inundações de informação, as
empresas de tecnologia estão progressivamente
aumentando a capacidade de memória para deleite
dos usuários, que adoram descartar o velho e abrir
espaço para o novo. Paralelamente, a geração mais
antiga se apega às memórias acumuladas durante a
vida, com medo de esquecer-se das âncoras que a
estabilizaram, do farol que a direcionou, e da
Palavra de Deus que acalmou águas turbulentas.
Uma empresa popular de acessórios eletrônicos
publicou em seu site: “Estamos rodeados por tanta
tecnologia que começamos a esquecer de nossas
raízes”1. É um reconhecimento e tanto. É verdade.
As pessoas podem ficar tão sobrecarregadas para
estar “conectadas” com as informações que acabam
“desconectadas” dos outros. A tecnologia pode
enfraquecer relacionamentos e afastar a realidade.
Normalmente, quanto mais velha uma pessoa é,
mais intenso é o impacto dessa “desconexão”,
especialmente com os jovens. Aconselho aqueles
que são avós a nunca desistir de buscar alternativas
criativas para prender o interesse de seus netos.
Lembre-se de que a geração mais antiga pode sofrer
de falha de memória recente, mas a sua capacidade
de concentração é provavelmente melhor do que a
das gerações mais novas. Instruí-las é nossa
responsabilidade: “Consolai-vos, pois, uns aos
outros e edificai-vos reciprocamente”
(1Tessalonicenses 5.11).
Gerações anos mais jovens conseguem superar o
tédio mais do que a minha geração. Algo que era
novo permanecia novo por um longo período de
tempo. Mas, eventualmente, a novidade ficava
ultrapassada. Poucos dias após o nascimento de um
bebê, aquilo que era um chorinho estimado pelos
pais se transforma em uma barulheira. Os primeiros
passos de uma criança, inicialmente aplaudidos, logo
viram motivo de repreensão quando eles a levam
para algum lugar não seguro. O sábio rei Salomão
previu este rápido descontentamento com o que há
de mais novo e melhor quando escreveu:
Nem se enchem os ouvidos de ouvir...
Nada há, pois, novo debaixo do sol.
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é
novo?
Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós.
(Eclesiastes 1.8-10 NKJV)
Considerando que todos nós tiramos proveito da
tecnologia moderna de alguma forma, tento
imaginar o que aconteceria com o mundo se, de
repente, perdêssemos toda a energia elétrica
necessária para manter o funcionamento de nossa
comunicação. Será que as gerações mais jovens
saberiam como cultivar alimentos para suas famílias?
Elas saberiam como jogar a âncora e esperar a
presa? Elas saberiam como ganhar a vida com o
suor de seu rosto? O novo é bom. O antigo é
necessário.
A Bíblia tem muito a dizer sobre o novo e o
antigo. “Não vos escrevo mandamento novo, senão
mandamento antigo, o qual, desde o princípio,
tivestes. Esse mandamento antigo é a palavra que
ouvistes” (1João 2.7 NKJV). Neste texto, João relembra
aos leitores que a prova de que se conhece Deus é a
obediência aos mandamentos que Ele proferiu há
muito tempo, “desde o princípio”. O amor de Deus
é aperfeiçoado naquele que guarda a sua Palavra
(1João 2.5 NKJV). Nada “desde o princípio” é antigo
ou ultrapassado, incluindo o amor de Deus, existente
desde antes do início dos tempos. Quando o homem
não compreendeu o amor inexprimível do Deus
Criador, Ele enviou o amor para a Terra na forma de
Seu filho, o Senhor Jesus Cristo. Nossa redenção
tem suas raízes no próprio sacrifício de Jesus, nos
mantendo firmemente plantados.
De semente a muda
Cultivar levar tempo. Exige planejamento. Requer
comprometimento. Há algo de gratificante em
preparar o solo, plantar a semente, regar as raízes,
assistir o sol erguer uma planta do solo. É agradável
abrir o chão, erguer uma estrutura e fincar uma raiz.
Um cronômetro é incapaz de contar o tempo que
falta para alcançar os resultados. A paciência tornou-
se uma virtude perdida. Há cem anos, a ampulheta
marcava o tempo. Hoje, se o ícone da ampulheta
permanece na tela do computador mais do que
alguns segundos, ele causa uma tensão exagerada no
aluno ou no executivo que não tem tempo para
contemplação.
Sempre admirei as pessoas que trabalham com as
mãos. Quando um amigo meu se aposentou, anos
atrás, ele e sua esposa começaram a pesquisar onde
iriam viver. Um pré-requisito era encontrar um lugar
onde ele pudesse abrir uma marcenaria. Até hoje,
ele faz lindos vasos e candelabros de madeira antiga
que ele encontra quando faz caminhadas pela
floresta.
— Qual sua madeira favorita para trabalhar? —,
perguntei a ele certo dia.
— Acho que é a madeira das árvores que crescem
no alto dos Apalaches —, ele respondeu.
— Por quê?
— Porque devido ao clima hostil, aquelas árvores
crescem muito lentamente — ele explicou. —
Consequentemente, a madeira é dura e de grão fino,
o que a torna difícil de entalhar, porém tudo que é
feito com ela fica lindo e dura muito tempo.
Isso me surpreendeu porque eu já tinha visto
várias dessas árvores e elas sempre me pareceram
atrofiadas e grotescamente retorcidas pelos ventos
frios que sopram no alto do monte Mitchell, o ponto
mais alto do leste dos Estados Unidos, no Rio
Mississippi, a cerca de 20 quilômetros de casa.
Contudo, quando ele me mostrou uma caixa que
tinha feito com essa madeira, entendi que aquilo
que, um dia, foi feio e surrado, pode se tornar algo
requintado quando trabalhado por mãos magistrais.
Pedi a ele que me mostrasse um pedaço da madeira
bruta. “Não tenho nenhum agora. Sabe, eu não
derrubo essas árvores. Espero até que elas caiam,
então as recolho e transformo a madeira em algo
belo”.
Assim como essas árvores expostas ao vento do
alto das montanhas, costumamos nos ver atingidos
por tempestades — as tempestades da vida. Assim
como essas árvores, precisamos de raízes profundas
que nos fornecerão os nutrientes espirituais
necessários para crescermos em nossa fé e nos
mantermos ancorados quando confrontados com os
testes da vida.
Nos últimos anos, o mundo tem sofrido uma
catástrofe pluvial atrás da outra. Revisei e atualizei
meu livro, Storm Warning2, em 2010, para alertar
sobre o que a Bíblia diz sobre tempestades no nosso
mundo, tempestades em nossa vida e tempestades
que estão por vir. À medida que envelhecemos,
deparamo-nos com tempestades que nunca
imaginamos que enfrentaríamos. Porém, com a
ajuda de Deus e por Sua misericórdia, podemos
permanecer fortes quando os ventos começarem a
soprar.
Não é por acaso que a Bíblia nos compara a
árvores, alertando para que nos certifiquemos de
que nossas raízes são profundas e fortes. Segundo o
salmista, uma pessoa religiosa “é como árvore
plantada junto a corrente de águas, que, no devido
tempo, dá o seu fruto” (Salmo 1.3). Mas, uma
árvore não foi sempre uma árvore. Ela começou
como uma pequena semente que, no tempo certo,
germinou. Se as condições forem corretas, ela se
transforma em árvore nova e, finalmente, em árvore
madura.
O mesmo vale para a vida espiritual. Ela começa
com uma semente — a semente da Palavra de Deus,
plantada no solo de nossa alma que, com o tempo,
germina e se transforma em nova muda. Porém,
assim como a árvore, a muda espiritual não deve
permanecer para sempre como muda! Ela é feita
para crescer e se tornar forte e madura, dando frutos
que agradem a Deus. A Bíblia ilustra esta verdade de
outra forma. Quando se trata de Cristo, diz que
somos como bebês recém-nascidos: cheios de vida,
mas indefesos, fracos e vulneráveis a todo tipo de
perigo. No entanto, um bebê não é feito para
permanecer para sempre dessa forma. As crianças
devem crescer e se tornar adultas — não mais
indefesas, fracas e vulneráveis, mas capazes de
cuidar de si mesmas e de ter uma vida plena e
produtiva.
Isto se aplica à nossa espiritualidade. Quando nos
voltamos para Cristo, nascemos novamente — ou
seja, Deus, nosso Pai Celestial, trabalha em nosso
coração por meio do Espírito Santo para nos dar
uma vida nova como Seus filhos (ver João 3.1-17).
Mas não devemos permanecer crianças espirituais
fracas e vulneráveis a toda e qualquer tentação,
dúvida, falsidade ou medo. A vontade de Deus é que
nossa fé se fortaleça e nos tornemos espiritualmente
maduros, alicerçados na verdade da Sua Palavra e
fortemente comprometidos com a realização da Sua
vontade. A Bíblia diz: “desejai ardentemente, como
crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual,
para que, por ele, vos seja dado crescimento para
salvação” (1Pedro 2.2).
Entregar a sua vida a Cristo é um primeiro passo
essencial, mas é apenas o primeiro. A vontade de
Deus é que você se torne espiritualmente maduro,
fortalecendo-se através de sua relação com Cristo e
servindo a Ele. Porém, isso requer tempo e esforço.
A conversão é o trabalho de um instante, a
maturidade espiritual é o trabalho de uma vida. É
uma jornada composta de muitos passos e deveria
ser o principal objetivo da vida de todos. É o seu?
Parecidos com Ele
O que é maturidade espiritual? Em outras
palavras, o que Deus quer fazer em nossa vida? O
que ele quer fazer na sua vida? A resposta da Bíblia
cabe em uma frase: a vontade de Deus é que
sejamos cada vez mais semelhantes ao Senhor Jesus
Cristo. Ele quer nos modificar internamente,
afastando tudo que O desonre e substituindo pelo
amor e pela pureza de Cristo. Por toda a eternidade,
o plano de Deus é que sejamos “conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8.29).
Isso é maturidade espiritual: tornarmo-nos cada vez
mais parecidos com Cristo em “amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão e domínio próprio” (Gálatas 5.22-23).
Atingiremos este objetivo? Não, não
completamente nesta vida, mas, um dia, estaremos
na presença eterna de Deus e, então, estaremos
totalmente livres do pecado. Então, “seremos
semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como
ele é” (1João 3.2).
Mas, e o presente? É inútil almejar maturidade
espiritual? Não! Deus quer começar a nos modificar
internamente, tornando-nos mais parecidos com
Cristo agora. O processo será concluído no céu: o
poder que o pecado tem sobre nós será destruído e
herdaremos a casa celestial que Cristo preparou para
nós. Quer saber qual a vontade de Deus para você?
Simplesmente isso: torne-se mais semelhante a
Cristo. Os outros veem Cristo em você?
Cultivando raízes fortes
Como podemos desenvolver uma fé que será
forte o suficiente para nos acompanhar durante toda
nossa vida, mesmo durante os desafios e incertezas
da velhice?
Eis a resposta: Deus quer que sejamos
espiritualmente fortes e nos deu todos os recursos de
que precisamos. Sozinhos, somos fracos; portanto,
se tentarmos combater as lutas e tentações da vida
sozinhos, fracassaremos. Precisamos da força de
Deus para enfrentar os desafios da vida — Ele quer
nos dar esta força. Ele irá nos fortalecer na fé
quando usarmos os recursos que Ele nos deu. Ele irá
desenvolver raízes fortes dentro de nós, que com
certeza irão se fixar. Como lembra Pedro, “pelo seu
divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas
que conduzem à vida e à piedade, pelo
conhecimento completo daquele que nos chamou
para a sua própria glória e virtude” (2Pedro 1.3).
Tragicamente, muitos cristãos nunca chegam a
descobrir isso. Eles entregaram sua vida a Cristo...
eles podem ser engajados em suas igrejas... eles
oram e leem a Bíblia quando necessário, porém, eles
continuam espiritualmente imaturos e fracos diante
das tentações e reveses da vida. A Bíblia nos alerta
sobre o perigo de permanecermos como crianças
espirituais, “agitadas de um lado para outro e levadas
ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha
dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”
(Efésios 4.14).
Podemos ser velhos na idade, mas se nossa fé for
imatura, passaremos nossos últimos anos temerosos
e despreparados. Porém, não precisa ser dessa
forma. Assim como um bebê precisa de alimento e
exercícios para poder crescer, nós também
precisamos do alimento e dos exercícios espirituais
que Deus nos dá. Sem eles, nossa fé é fraca. Com
eles, nossa força espiritual aumenta e ficamos mais
preparados para tudo o que a vida nos reserva.
Como crescemos em nossa fé? Quais recursos
espirituais Deus nos deu para tanto? Nas próximas
páginas, eu gostaria de avaliar cinco dessas dádivas.
A dádiva da Palavra de Deus
Alguns anos atrás, quando Ruth estava visitando
uma de nossas filhas, ela decidiu construir uma
pequena tirolesa para os netos. Sempre aventureira,
ela ancorou um cabo robusto entre duas árvores.
Para testar, ela subiu no ponto mais alto da árvore,
agarrou a alça (feita de um pedaço de cano) e
começou a descer o cabo inclinado.
O cabo, porém, se rompeu, fazendo-a despencar
quase cinco metros. Ela quebrou vários ossos,
fraturou uma vértebra e teve uma concussão
cerebral aguda, que a deixou em coma por uma
semana. Enquanto se recuperava lentamente, ela
percebeu que tinha perdido parte da memória,
incluindo versículos bíblicos que ela sabia de cor
desde criança. “Foi a pior parte”, ela disse. “A Bíblia
significava tanto para mim e tinha me guiado
durante toda a minha vida, mas eu não conseguia
lembrar-me de um versículo sequer. Foi
devastador”. Eu entendia sua preocupação, afinal,
eu teria me sentido da mesma forma. Felizmente,
grande parte de sua memória voltou com o tempo,
inclusive — pouco a pouco — os versículos da
Bíblia que ela tinha aprendido.
Por que a Bíblia era tão importante para ela? E
por que deveria ser importante para nós? O motivo é
simples: a Bíblia é a Palavra de Deus, dada por Ele
para nos ensinar Sua verdade e nos guiar durante a
vida. A Bíblia diz:
Eu sou o Senhor, o teu Deus,
que te ensina o que é útil
e te guia pelo caminho em que deves andar...
(Isaías 48:17)
A Bíblia não é uma opção; ela é uma necessidade
quando pretendemos estabelecer nossas raízes Nele.
Como a Bíblia nos ajuda no desenvolvimento
espiritual? Primeiramente, ela nos aponta a verdade
— sobre Deus, sobre nós mesmos, sobre o mundo
ao nosso redor, sobre o futuro e, acima de tudo,
sobre Jesus Cristo e Seu amor por nós. Só Jesus, o
filho encarnado de Deus, poderia dizer: “Eu sou o
caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai
senão por mim... Quem me vê a mim vê o Pai”
(João 14.6,9). A fé do cristão não é apenas questão
de opinião pessoal ou otimismo infundado. Ela tem
suas raízes na verdade imutável de Deus, revelada
para nós nas páginas de Sua Palavra escrita. A Bíblia
é a chuva constante que rega nosso sistema de raiz
de fé. É a inspiração da qual bebemos diariamente.
Então, a Bíblia alimenta nossas raízes com
princípios de acordo com os quais devemos viver.
Todos os dias temos decisões a tomar — algumas
insignificantes, mas outras de grande importância
(apesar de nem sempre percebermos na hora).
Como podemos ter certeza de que estamos tomando
as decisões corretas? Pelo cultivo dos princípios
bíblicos. O salmista nos relembra: “De que maneira
poderá o jovem guardar puro o seu caminho?
Observando-o segundo a tua palavra” (Salmo
119.9).
O mundo tem seus próprios valores e objetivos:
autogratificação, sucesso, prazer, segurança, orgulho
e assim por diante. Todavia, esses valores são falsos
e nunca irão nos fornecer a paz e a certeza
duradoura que buscamos. Em Seu guia, Deus nos
fornece um grupo diferente de valores e objetivos —
valores que colocam Cristo no centro de nossa vida,
em vez de nós mesmos. A Bíblia diz para nos
livrarmos do pecado e da autoindulgência, pautando
nossa vida em “justiça, piedade, fé, amor, constância
e mansidão” (1Timóteo 6.11). A Bíblia também nos
dá sabedoria prática para a vida cotidiana. Ela é
nossa instrutora, mostrando-nos como viver.
Durante muitos anos, adotei a prática de ler um
capítulo do livro de Provérbios por dia, logo
terminando o livro todo mês. Ele é repleto de
sabedoria prática sobre uma série de assuntos:
relacionamentos, bens, família, trabalho, hábitos e
muito mais. “Os caminhos do Senhor são retos, e os
justos andarão neles” (Oseias 14.9). A Bíblia é nossa
autoridade em tudo.
Do começo ao fim, a Palavra de Deus é cheia de
promessas: sobre Seu amor incondicional, Sua
presença, Sua ajuda, Sua paz em tempos de
turbulência. Acima de tudo, a Bíblia nos promete
que, um dia, estaremos para sempre com o Senhor
graças ao que Jesus Cristo fez por nós. Aprenda
sobre as promessas de Deus, confie nelas e viva de
acordo com elas, pois Deus “tem nos doado as suas
preciosas e mui grandes promessas, para que por
elas tornemo-nos coparticipantes da natureza divina,
livrando-vos da corrupção das paixões que há no
mundo” (2Pedro 1.4).
Você está tentando pautar sua vida nos princípios
e valores que Deus nos deu na Bíblia? Não se deixe
intimidar, acreditando que é impossível entendê-los.
Mesmo que você leia poucos versículos por dia,
Deus ainda pode usá-los para redesenhar sua vida.
Aproveite as oportunidades de aprender sobre a
Bíblia com os outros — seu pastor, respeitados
professores da rádio cristã, conferências e estudos
bíblicos, livros cristãos, etc., mas nunca deixe essas
coisas substituírem sua leitura pessoal das Escrituras.
A dádiva do Espírito Santo
Quando vamos até Jesus Cristo e depositamos
nossa fé e nossa confiança Nele, o próprio Deus
passa a viver dentro de nós. Podemos não sentir
nada de diferente, podemos não ter consciência de
Sua presença, podemos até mesmo duvidar que
alguma coisa tenha acontecido conosco. Mas
aconteceu. Agora Deus vive dentro de nós! Ele o faz
através de Seu Espírito Santo.
Assim como Jesus é totalmente Deus, o Espírito
Santo também é totalmente Deus. Apesar de não o
vermos, Ele é a parte de Deus que está operando e é
ativa em nosso mundo. Não é uma força impessoal
(como a gravidade), mas uma pessoa, assim como
Deus Pai e Cristo Filho são pessoas — colocado de
outra forma, são pessoas na natureza deles (é por
isso que não devemos nos referir ao Espírito Santo
como “isto”, e sim, como “Ele”).
Por que o Espírito Santo passa a viver dentro de
nós quando entregamos nossa vida a Cristo? Um
dos motivos é para nos assegurar de nossa salvação.
Como sabemos que Cristo perdoou todos os nossos
pecados e nos concedeu a dádiva da vida eterna?
Sabemos porque a Bíblia diz que o Espírito Santo
confirma em nosso coração que isso é verdade. A
Bíblia afirma: “O próprio Espírito testifica com o
nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos
8.16).
Deus também nos concede o Espírito Santo para
nos ajudar a descobrir a vontade de Deus. Por certo,
a Bíblia contém os princípios de acordo com os
quais devemos viver, nos ajudando a evitar o que é
errado e fazer o que é certo. Devemos mudar de
emprego? Devemos vender nossa casa? Casar com
esta pessoa? Aposentarmo-nos? A lista é quase
infinita porque a vida é repleta de decisões. Deus
quer nos orientar na tomada de decisões porque Ele
nos ama e quer que tenhamos o que é melhor para
nós. A promessa de Deus é certa: “Quando te
desviares para a direita e quando te desviares para a
esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma
palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele”
(Isaías 30.21). O Espírito Santo ilumina nossa mente
e nos faz lembrar de Deus. Ele carrega a verdade
espiritual e a torna compreensível para todos nós.
Ainda, o Espírito Santo nos foi concedido para
nos encorajar e nos fortalecer em tempos de
dificuldade. “O Espírito, semelhantemente, nos
assiste em nossa fraqueza” (Romanos 8.26) — isso
inclui mais do que mera ajuda quando oramos.
Quando chegam os tempos difíceis, Ele pode trazer
à mente passagens da Escritura que nos asseguram o
amor e a proteção de Deus. Quando as tentações
nos atacam, o Espírito nos fortalece e nos dá
coragem para lutarmos contra o nosso adversário, o
diabo. Paulo orou a Deus para que, “segundo a
riqueza da sua glória, vos conceda que sejais
fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no
homem interior” (Efésios 3.16).
Por fim, o Espírito Santo veio para nos
transformar internamente. Deus quer transformar
nossa vida, tornando-nos mais semelhantes a Cristo.
Nunca é uma questão de quanto temos do Espírito,
mas sim, do quanto Ele tem de nós. A Bíblia diz:
“não vos conformeis com este século, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente”
(Romanos 12.2). Isso está acontecendo na sua vida?
Não tente lutar a batalha da vida cristã com suas
próprias forças. Em vez disso, volte-se para Deus
com submissão e fé para que o Espírito Santo ajude-
o.
A dádiva da oração
Algumas pessoas veem a oração como um fardo
ou uma obrigação. Na realidade, a oração é um de
nossos maiores privilégios enquanto filhos de Deus.
Pense nisso: o Senhor do universo quer que
enviemos todas as nossas preocupações para Ele na
oração! Nunca conheci ninguém que orasse bastante
diariamente, estudasse a Palavra de Deus
regularmente e tivesse uma fé forte se sentir
desesperançado por muito tempo. A Bíblia diz:
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo,
porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas
petições, pela oração e pela súplica, com ações de
graças. E a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, guardará o vosso coração e a vossa
mente em Cristo Jesus” (Filipenses 4.6-7).
Deus sempre responde nossas orações da forma
que gostaríamos que Ele respondesse? Não, não
necessariamente — nem Ele prometeu fazê-Lo. Ele
vê a situação completa; nós, não. Ele sabe o que é
melhor para nós, mas nós normalmente não o
sabemos. Portanto, algumas vezes Ele diz “não” ou
“agora não”. Porém, Deus prometeu nos ouvir
quando oramos, responder às nossas súplicas em
Seu tempo e da Sua forma. “E esta é a confiança
que temos para com ele: que, se pedirmos alguma
coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1João
5.14).
No entanto, lembre-se de que orar não se resume
a pedir o que queremos. A oração é para todos os
momentos da nossa vida, não apenas momentos de
tristeza ou alegria. A oração é um lugar: um lugar
onde você encontra Deus em uma conversa franca.
Na oração, devemos agradecê-Lo e louvá-Lo por
quem Ele é e pelo que Ele faz. Em 1Tessalonicenses
5.17, a Bíblia nos diz para “orarmos sem cessar”,
não apenas quando estamos passando por uma crise
ou desejamos que Deus faça algo por nós.
Independentemente do quão sombria e
desesperadora uma situação possa parecer, nunca
pare de orar. A oração deveria ser uma atitude da
vida. Não podemos estar ocupados demais para orar.
Normalmente, recebo cartas de inválidos ou
pessoas idosas que dizem: “Tudo o que posso fazer
é orar”. Costumo responder o seguinte: “Deus o
abençoe por poder fazer a coisa mais importante”.
Lembro-me do conforto que sentia no início do
ministério quando sabia que minha mãe estava em
casa orando por mim. Isso me fortalecia, e Deus
usou essa informação para me ajudar a ficar
concentrado e engajado na tarefa que Ele tinha
reservado para mim. Precisamos de batalhões de
cristãos que orem.
A dádiva da congregação
Não somos feitos para ficar isolados uns dos
outros, nem como seres humanos, nem como
cristãos. Precisamos de outras pessoas para viver, e
elas precisam de nós. Isso é especialmente válido
quando almejamos crescer na fé. Diz a Bíblia: “Não
deixemos de congregar-nos; antes, façamos
admoestações” (Hebreus 10.25). Um cristão
solitário é um cristão fraco porque ele ou ela não
consegue tirar forças do que Deus está fazendo na
vida de seus irmãos e irmãs em Cristo.
Case você não faça parte de uma congregação da
igreja, rogue a Deus para que ele o guie até uma
igreja onde você possa crescer em sua fé através da
pregação, do ensinamento e da adoração. A igreja é
o armazém da comida espiritual. É lá que as almas
são alimentadas, nutridas e desenvolvidas para a
maturidade. É o lugar para aplicar o que diz a
Palavra: “consolai-vos, pois, uns aos outros e
edificai-vos” (1Tessalonicenses 5.11).
A dádiva do serviço
Assim como nosso corpo precisa se exercitar para
ficar fisicamente forte, nossa fé precisa de exercícios
para ser espiritualmente forte. Sabe-se que muitos
rios deságuam no Mar Morto, mas nenhum rio sai
dele. É por isso que a água se tornou tão saturada de
minerais com o passar dos séculos que nada lá
consegue viver. Sem nenhuma saída, ele se tornou
efetivamente um mar “morto”. O mesmo vale para
nós. Se guardarmos a nossa fé para nós mesmos, se
nunca permitirmos que ela flua e enriqueça os
outros e se ela não tiver saída, então seremos como
o Mar Morto: sem vida e espiritualmente mortos.
Deus quer usá-lo exatamente onde você está.
Provavelmente, todos os dias você está em contato
com pessoas que nunca vão à igreja, conversam com
um pastor ou abrem uma Bíblia. Você pode ser a
ponte que Deus usará para trazê-las para Seu Filho,
o Senhor Jesus Cristo. Qualquer um pode servir,
independentemente do quão incapaz se sinta. O
próprio Moisés protestou que não poderia falar em
nome de Deus porque ele não era eloquente e talvez
até sofresse de uma dificuldade de comunicação
(Êxodo 4.10). Uma querida amiga ficou paraplégica
há alguns anos. Apesar das dificuldades, a sua
fisionomia irradia amor pelo Cristo. Ela é grata por
cada ida ao médico, ao terapeuta, ou a qualquer
outro profissional da saúde porque, como diz para
amigos em comum, “seu não estivesse nessa cadeira
de rodas, eu não teria o privilégio de contar sobre
Jesus”.
Permanecendo forte
Uma ameixeira jovem de folhas roxas parecia ser
a escolha perfeita: a sua cor combinava com o resto
da paisagem e minha vizinha achou que, quando
crescesse, ela faria uma sombra sobre o quente lado
leste de sua casa. Ela estava errada. Cinco anos após
plantá-la, a árvore estava como que atrofiada. Ela
estava frequentemente doente — atacada por insetos
e enfraquecida pela geada — e, pior, ela se curvava
até seu galhos tocarem o chão sempre que ventava
forte. Independentemente do quanto ela cuidasse
daquela ameixeira, ela nunca crescia ou ficava ereta.
Minha vizinha reclamou para um amigo, que foi
examinar a árvore. Ele identificou o problema: suas
raízes não tinham se desenvolvido. Plantada próxima
a uma calha, a árvore nunca precisou alongar suas
raízes para encontrar água. Inevitavelmente, ela iria
morrer.
Compare esta árvore com uma muda de bordo
plantada no canto de sua casa, naquela mesma
primavera. Planta de raiz reduzida, seria obrigada a
crescer bastante para poder alcançar a luz do sol e
receber água da chuva. Cinco anos depois, estava
tão grande como uma ameixeira e muito saudável.
Quando nossas raízes da fé são plantadas no solo
fértil da verdade, devemos crescer por meio da
compreensão da Palavra de Deus, da aproximação
com o Espírito Santo, da conversa diária com Deus
na oração, da congregação com irmãos e irmãs em
Cristo. Quando bebemos da primavera da vida,
nossas raízes crescem cada vez mais profundamente
se estamos servindo a Cristo. Só um profundo
sistema de raiz é capaz de suportar as tempestades
da vida e preparar as próximas gerações para seguir
nossos passos.

A CAMINHO DE CASA
COM UMA FÉ MADURA
O fortalecimento de nossas raízes espirituais
começa com a Palavra de Deus. Muitos dizem que,
quando eram jovens, estavam sempre ocupados
demais para ler a Bíblia e decorar a Escritura. Antes
que pudessem perceber, eles tinham envelhecido e
não conseguiam gravar versículos bíblicos porque
suas memórias falhavam. Isso pode ser verdade para
alguns, mas não para todos. Muitos de nós se
lembram apenas do que querem se lembrar.
Um grande amigo nosso, Robert Morgan,
escreveu um pequeno livro sobre a declamação e a
memorização da Bíblia. “Nossa mente é um cofre
especialmente elaborado para armazenar as
sementes da Palavra de Deus”. Neste livro, ele conta
a história de uma mulher de 89 anos de idade da sua
igreja, que disse: “Pastor Morgan, estou tão feliz
pelo senhor estar nos fazendo decorar os versículos
da Bíblia. Eu já comecei. Isso irá me ajudar a
manter a mente fresca e jovem”3. Sorri ao ver que
ela queria manter sua mente fresca e jovem... Ela
não permitiu que sua mente envelhecesse. Não há
depósito melhor para o coração e a alma do ser
humano do que os tesouros encontrados na Palavra
de Deus.
Vemos os resultados do comprometimento com a
Palavra de Deus na memória das vidas de Simão e
Ana, que testemunharam quando os pais trouxeram
o menino Jesus ao templo (Lucas 2.27). Como eles
conheciam as profecias do Velho Testamento e
acreditavam que um Salvador nasceria em Israel, o
Espírito Santo revelou-lhes o menino Jesus quando
eram velhos. Simão, um homem velho que não
queria morrer antes de saber que o Salvador tinha
chegado ao mundo, pegou Jesus em seus braços e
abençoou-o, dizendo: “Agora, Senhor, podes
despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra,
porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual
preparaste diante de todos os povos (Lucas 2.29-31
NKJV
). Também Ana, uma viúva de 84 anos, não
deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns
e orações, e falava a respeito do menino a todos os
que esperavam a redenção” (Lucas 2.37-38 NKJV).
Nas histórias de Simão e Ana, vemos essas dádivas:
Palavra de Deus, Espírito Santo, oração,
congregação e serviço, todas trabalhando juntas para
gerar bênçãos extraordinárias. Tudo começou com
corações e mentes plenas da palavra de Deus.
Sempre que leio sobre a fé dos idosos na
Escritura, meu coração fica tocado. As verdades de
Deus estão alimentando nossas raízes? Podemos nos
aposentar de nossas carreiras, mas nunca devemos
nos aposentar da plenitude de dádivas divinas que
trazem esperança e satisfação.

1 Introducing Root Cases. In: Root Cases LLC. Disponível em:


<www.rootcases.com>
2 GRAHAM, Billy. Storm Warning: Whether Global Recession,
Terrorist Threats, or Devastating Natural Disasters, These Ominous
Shadows Must Bring Us Back to the Gospel, rev. ed. Nashville,
Thomas Nelson, 2010
3 MORGAN, Robert J. 100 Bibles Verses everyone Should Know
by Heart. Nashville, Broadman & Holman, 2010, p. 42
Outrora e agora

Sabemos que, se a nossa casa terrestre


deste tabernáculo se desfizer,
temos da parte de Deus um edifício,
casa não feita por mãos, eterna, nos céus.
— 2Coríntios 5.1
O último capítulo da vida pode ser o melhor.
— Vance Havner
Nunca sabemos em qual idade ou estágio
estaremos vivendo o último capítulo da vida. Alguns
não sobrevivem ao nascimento. Outros são levados
ainda na juventude. Muitos são privados da
existência na Terra durante o ápice da vida.
Nunca pensei que viveria mais do que os 63 anos
em que estive casado com minha querida Ruth, que
deixou essa vida de incertezas rumo ao lugar onde
ela certamente poderia ver lindas paisagens celestes
e a face abençoada do Mestre por quem ela viveu e
a quem serviu. Um dos piores momentos da minha
vida foi ver a Ruth morrer antes de mim. Eu a assisti
sofrer com dignidade, humor exuberante e um
espírito gentil, pronto para encontrar nosso Senhor.
Ela me ensinou muito a respeito do último capítulo
da vida. Saber onde ela está, com Quem ela está e
que, em breve, estarei com ela são um grande alento
para mim.
Da última vez em que preguei em um estádio
(Flushing Meadows, em Nova York, 2005), não
podia imaginar que passaria a viver sem Ruth em
apenas dois rápidos anos. Eu realmente acreditava
que a crescente fraqueza de minha saúde não me
permitiria viver por muitos anos mais. Durante seis
décadas, apesar de ficarmos distantes durante longos
períodos de tempo, quando eu viajava devido à
minha intensa agenda de pregação, eu nunca
imaginei viver sem Ruth. Em nosso casamento, a
única coisa que existia entre nós era o telefone, e eu
sempre adorei ouvir a sua voz. Viver sem ela em
nossa casa, no Little Piney Cove, seria mais do que
sou capaz de aguentar se não fosse o fato de ela ter
deixado tantas coisas que reavivam sua memória.
Ela supervisionou a construção de nossa casa há
mais de cinquenta anos e, até hoje, há toques dela
em todos os cômodos. A saudade dos últimos quatro
anos me ensinou coisas que eu nunca teria
aprendido sem a Ruth, ainda que em sua ausência.
Como ela escrevia versos do fundo de sua alma
encantadora, ela ainda me faz sorrir.
Esta velha casa está vazia agora,
Na maioria das vezes, habitada somente por mim,
As árvores se amontoam na colina
Como se quisessem companhia.1
Isso reflete seus pensamentos depois que todos os
filhos saíram de casa. Hoje, isso é chamado de
“síndrome do ninho vazio”, mas Ruth chamava essa
sensação daquilo que ela realmente representa:
outrora e agora. Eu a vi passar de uma fase da vida
para outra com resignação.
Deus determina transições e dá misericórdia para
abraçarmos o que está por vir. Quando Jesus se
preparava para deixar Sua morada terrestre e voltar
para a Glória, Ele disse a seus amados discípulos:
“vou embora... se me amásseis, alegrar-vos-íeis de
que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do que eu”
(João 14.28 NKJV). “Eu sou o caminho, e a verdade, e
a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João
14.6 NKJV). “E Jesus lhe disse: Apascenta as minhas
ovelhas” (João 21.17), “Segue-me” (21.19), e
“Sereis minhas testemunhas” (Atos 1.8). Ele não
abandonou simplesmente Seus discípulos — Jesus
os guiou em direção ao trabalho que precisavam
fazer para o Reino, de modo que a igreja não
sofreria e os discípulos permaneceriam concentrados
no trabalho de Jesus, mesmo após Seu retorno ao
Pai. É maravilhoso saber que Deus não deixou a
Terra sem a Sua presença, e enviou o Seu Espírito
Santo para ser o nosso companheiro permanente!
Apesar de saber que nunca me acostumarei à vida
sem Ruth, ela seria a primeira pessoa a me
repreender caso eu não seguisse os planos Dele para
o “aqui e agora”. Era essa a sua filosofia. Seria fácil
sentar e me lembrar de todas as minhas realizações
durante os anos de ministério. Eu sou grato, pois sei
que “tais maravilhas se fazem por suas mãos”
(Marcos 6.2 NKJV). Porém, também sei que Deus tem
um objetivo para tudo e que Ele irá nos guiar para o
que quer que tenha reservado para nós, se nosso
coração, mente e olhos estiverem observando e
aguardando atentamente.
Nos anos que passei viajando de leste a oeste, de
país em país, eu raramente tinha tempo para assistir
televisão. Isso foi “outrora”. “Agora”, minha
capacidade visual não é mais a mesma e tornou-se
difícil assistir televisão. Também não é fácil ir até a
igreja. Sou muito grato por aqueles que fielmente
pregam a Palavra de Deus pela televisão, pois, ao
menos, posso ouvir um bom sermão da Escritura.
Fui pessoalmente abençoado por aqueles que o
Senhor está usando para ministrar aos idosos que
não conseguem mais ir até a igreja.
Comecei ouvindo um programa da cidade de
Spartanburg, no estado da Carolina do Sul. O Dr.
Don Wilton, um antigo pastor da First Baptist
Church, encheu meu coração com suas mensagens e
vi-me ansioso pelo programa do domingo seguinte.
Alguns meses depois, liguei para agradecê-lo pelo
seu ministério e convidei-o para vir até minha casa.
Nós adoramos a companhia um do outro. De lá para
cá, ele tem gentilmente dirigido cento e quarenta e
cinco quilômetros toda semana para me visitar.
Almoçamos juntos e conversamos sobre tudo, desde
família até acontecimentos mundiais. Porém, a parte
mais importante das nossas visitas é quando lemos
as Escrituras juntos e nos dedicamos à oração.
Normalmente, ele compartilha comigo o esboço de
um sermão no qual está trabalhando e, animado,
pergunta minha opinião. Também já pedi sua ajuda
com passagens da Bíblia que eu estava analisando
para declarações e pequenas falas. Para mim, é um
privilégio desfrutar a amizade de um grande mestre
das Escrituras e ter o objetivo recíproco de ver os
outros caminharem na direção de Cristo. Este é o
trabalho que Deus tem para o Seu povo — agora.
Não viva sem esperança
Não fomos feitos apenas para este mundo. Fomos
feitos para o céu, nossa morada final. O céu é o
nosso destino e a nossa esperança jubilosa. Porém,
nem todos concordam com isso. Um jovem me
escreveu recentemente: “Você é livre para ter sua
própria opinião, mas, pelo que eu saiba, depois que
você morre, acabou. A única vida que terei é essa
que estou vivendo agora. A vida após a morte é um
mito”.
Minha resposta saiu do fundo do meu coração:
“Sua carta entristeceu-me grandemente, porque você
está vivendo sem esperança — esperança para esta
vida e esperança para a vida que está por vir. Você já
pensou em como isso tornará sua vida vazia e sem
sentido?” Então, pedi que ele se voltasse para Jesus
Cristo e colocasse sua vida nas mãos Dele, pois
somente Ele pode nos dar esperança para o futuro.
O que seria de nós se não tivéssemos esperança na
vida além do túmulo? A morte é uma realidade, mas
não faz parte do plano original de Deus. Quando
Deus criou Adão e Eva, deu-lhes corpos físicos,
como toda criatura na Terra. Porém, uma coisa Ele
fez diferente: Deus não lhes deu apenas um corpo,
mas também lhes deu uma alma ou um espírito,
feitos à sua imagem. Isso foi feito para que eles
pudessem conhecê-Lo e se tornassem Seus amigos.
Por essa razão, eles foram feitos para viver para
sempre. Deus não pode morrer, e os portadores de
Sua imagem também não foram feitos para morrer.
Porém, algo terrível aconteceu. Esse “algo” foi o
pecado. O pecado, como um câncer fatal, atacou
toda a humanidade e um dia eu e você iremos
morrer. Pode ser que seja logo, pode ser que falte
muito tempo, mas um dia sua vida chegará ao fim.
Em um momento específico, o corpo que você
habitou durante toda a sua vida irá parar de
funcionar e começar a se desintegrar. Então, as
palavras proferidas a Adão serão válidas para você
também: “porque tu és pó e ao pó tornarás”
(Gênesis 3.19). Não é à toa que a Bíblia chama a
morte de “o último inimigo” (1Coríntios 15.26).
Mas a morte é mesmo o fim? O jovem rapaz
estava certo? Definitivamente não. A Bíblia nos diz
que, apesar da morte de nosso corpo, nossa alma e
espírito continuam a viver, seja com Deus no céu ou
em um lugar de desespero e solidão infinitos que a
Bíblia chama de inferno, totalmente separados de
Deus e de Suas bênçãos. Jesus avisou: “Não temais
os que matam o corpo e não podem matar a alma;
temei, antes, aquele que pode fazer perecer no
inferno tanto a alma como o corpo” (Mateus 10.28).
Esta vida não é o fim
Como sabemos que esta vida não é o fim? Como
sabemos que o céu não é apenas um anseio ilusório
de nossa parte? Deus nos revelou a realidade do céu
de muitas formas. Por exemplo, dentro de cada um
de nós, há um sentimento ou uma sensação interna
de que a morte não é o fim e que tem que existir
alguma coisa para além da sepultura. Por mais que
tentemos negá-lo ou ignorá-lo, este chamado
continua lá e é universal. De onde ele veio? Diz a
Bíblia que Deus colocou-o dentro de nós: “[Ele]
também pôs a eternidade no coração do homem”
(Eclesiastes 3.11). Alguns mencionam os relatos de
pessoas que vislumbraram o céu, normalmente
quando estavam morrendo. Ainda que tais relatos
devam ser tratados com cuidado, tenho certeza de
que muitos deles acontecem. Minha própria avó
materna teve uma visão de Jesus recebendo-a no céu
quando ela estava em seu leito de morte.
Contudo, a prova final da realidade do céu vem
do próprio Jesus Cristo. Reiteradamente, Jesus disse
a seus discípulos que o céu não apenas existia, mas
que todos eles iriam para lá um dia. Ele declarou
para a irmã de Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a
vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e
todo o que vive e crê em mim não morrerá” (João
11.25-26). Ele prometeu a Seus discípulos: “Na casa
de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora,
eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar...para
que, onde eu estou, estejais vós também” (João
14.2-3). O versículo mais conhecido da Bíblia
destaca essa verdade: “Porque Deus amou ao
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna” (João 3.16).
Como podemos saber, sem sombra de dúvida,
que há vida após a morte? A única forma seria
alguém morrer e, depois, voltar para a Terra e nos
contar sobre o que existe depois da sepultura. E é
exatamente isso que aconteceu quando Jesus Cristo
ressurgiu dos mortos. Foi um acontecimento único e
o mais impressionante da história. Graças a Ele,
sabemos que a morte não é o fim e que existe vida
eterna. A Bíblia diz: “porque o salário do pecado é a
morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna
em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6.23).
Mais do que isso, a morte e a ressureição de Jesus
nos mostram que o pecado e a morte foram
derrotados para sempre. Não precisamos temer a
sepultura porque a morte e a ressureição de Jesus
Cristo nos abriram as portas do céu. A Bíblia diz:
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que, segundo a sua muita misericórdia, nos
regenerou para uma viva esperança, mediante a
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para
uma herança incorruptível, sem mácula,
imarcescível, reservada nos céus para vós outros”
(1Pedro 1.3-4). Estas palavras, escritas pelo apóstolo
Pedro ao final de sua vida, são uma promessa de
Deus para você e para todos que depositarem sua fé
e sua verdade em Jesus Cristo, como seu Senhor e
Salvador. Sim, o céu é real!
Como é o céu?
Jamais conheci uma só pessoa (ou, ao menos, um
cristão) que não queira saber como é o céu,
incluindo eu! Tentar imaginar um lugar que nunca
visitamos não é mera curiosidade. Pelo contrário,
sabemos que o céu é nossa morada final, o lugar
onde passaremos toda a eternidade. Por que não
deveríamos querer saber como será o céu?
É sabido que a Bíblia não responde a todas as
perguntas sobre o céu. Cheguei à conclusão que, um
dos motivos, é porque o céu é muito melhor do que
qualquer coisa que nossa mente limitada é capaz de
imaginar. Ainda que Deus respondesse a todas as
nossas perguntas sobre o céu, não seríamos capazes
de entender todas as respostas! A Bíblia diz:
Nem olhos viram,
nem ouvidos ouviram,
nem jamais penetrou em coração humano
o que Deus tem preparado para aqueles que o
amam.
(1Coríntios 2.9)
Só no céu poderemos compreender totalmente
Sua glória e graça infinitas. Nesse sentido, a Bíblia
nos insta a: “tomar parte na glória que será revelada”
(1Pedro 5.1).
Porém, por mais que a Bíblia não nos conte tudo
o que queremos saber sobre o céu, ela nos diz tudo
o que precisamos saber. E tudo que ela nos diz sobre
o céu nos faz querer ir para lá, sem exceção! (Por
outro lado, tudo que ela diz sobre o inferno, nos faz
não querer ir para lá, sem exceção). Então, como é
no céu? A Bíblia nos conta, ao menos, cinco
verdades importantes.
O céu é glorioso
Às vezes, dizemos que um lindo pôr do sol ou um
dia quente de primavera são “gloriosos”. No
entanto, nem mesmo a paisagem mais incrível da
Terra é uma sombra da glória do céu. Quando o
apóstolo João teve uma visão da grandeza do céu,
ele mal conseguiu encontrar palavras para descrevê-
lo, resolvendo compará-lo aos objetos mais
maravilhosos da Terra, só que muito melhor: “O seu
fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima,
como pedra de jaspe cristalina... A praça da cidade é
de ouro puro, como vidro transparente... A cidade
não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem
claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o
Cordeiro é a sua lâmpada” (Apocalipse
21.11,21,23).
Por que o céu é glorioso? Não é apenas devido à
sua incrível beleza, por mais estupefaciente que ela
possa ser. O céu é glorioso por uma razão principal:
é a morada de Deus. “Então, ouvi grande voz vinda
do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão
povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles...
contemplarão a sua face, e na sua fronte está o
nome dele” (Apocalipse 21.3; 22.4). Pense nisso: se
você conhece Jesus Cristo, um dia você estará
eternamente em Sua presença! Mal posso imaginar
como será, mas será mais glorioso do que qualquer
descrição.
O céu é perfeito
O céu não é apenas glorioso: ele também é
perfeito. Isto não deveria nos surpreender. Assim
como Deus é perfeito, igualmente perfeito é o céu,
Sua morada.
Por que isso é importante? Porque isso nos
lembra que tudo que é imperfeito será expulso do
céu. A Bíblia diz: “Quando vier o que é perfeito,
então, o que é imperfeito será aniquilado”
(1Coríntios 13.10). Pense em todos os pecados e
males que nos afligem hoje: doença, morte, solidão,
medo, mágoa, tentação, frustação, deficiência, vício,
guerra, inveja, cobiça — a lista é quase interminável.
Mas, no céu, todas essas coisas serão exterminadas!
Todo mal e todo pecado serão destruídos; toda
dúvida e todo medo serão removidos; toda
frustração e toda dor serão curadas. Uma das
maiores promessas da Bíblia sobre o céu declara: “E
lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já
não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem
dor, porque as primeiras coisas passaram... Nela,
nunca, jamais, penetrará coisa alguma contaminada”
(Apocalipse 21.4,27).
A Bíblia relata uma última verdade sobre a
perfeição do céu: lá seremos perfeitos e, um dia,
assim será para todas as criaturas. O pecado não terá
mais nenhum poder, pois o pecado e Satanás estarão
presos para sempre e seremos como Cristo. Mais do
que isso, receberemos novos corpos: corpos
perfeitos, como o de Jesus Cristo após Sua
ressurreição, livres de todas as limitações e
fragilidades de nossos corpos atuais. A Bíblia diz:
“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não
se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos
que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes
a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”
(1João 3.2).
Isto não vale só para nós, mas para todas as
criaturas. O pecado atingiu tudo; não apenas nós,
mas o mundo inteiro. Não menospreze o pecado —
o seu poder destrutivo se estende a todas as criaturas
e todos os objetos do universo. Porém, a história
não acaba aqui, pois a Bíblia promete que, um dia,
toda a criação chegará ao fim e “a própria criação
será redimida do cativeiro da corrupção, para a
liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos
8.21). Não consigo deixar de pensar se Deus nos
permitirá conhecer os intermináveis tesouros que
farão parte de Sua nova criação.
Quando isso irá acontecer? Quando Cristo irá
aparecer novamente? Acadêmicos especializados na
Bíblia nem sempre concordam com os detalhes, mas
um fato é claro: um dia, Cristo voltará para derrotar
todas as forças do mal e do pecado, assim como
para estabelecer Sua autoridade suprema sobre todas
as criaturas. O próprio Jesus nos alertou que não
deveríamos tentar determinar um calendário exato
para seu retorno: “Mas a respeito daquele dia ou da
hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o
Filho, senão o Pai” (Marcos 13.32). A atual ordem
mundial chegará ao fim e Cristo voltará para
governar com poder, glória e justiça. “Segundo a sua
promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos
quais habita justiça” (2Pedro 3.13).
O retorno de Cristo deve nos encher de
esperança, alegria e expectativa. Porém, o retorno de
Cristo também deve nos lembrar de outra verdade:
quando Cristo vier novamente, Ele julgará o mundo
com justiça perfeita. Neste dia, a Bíblia diz, quanto
àqueles que tiverem se revoltado contra Deus e
rejeitado Sua oferta de Salvação em Cristo, que
“irão estes para o castigo eterno, porém os justos,
para a vida eterna” (Mateus 25.46). Essas palavras
são preocupantes. Se você nunca se arrependeu de
seus pecados e abriu seu coração e sua vida para
Jesus Cristo, rogo para que o faça agora, antes que
seja tarde. Não aposte com sua alma eterna!
O céu é jubiloso
O céu não será apenas glorioso e perfeito; ele
também será jubiloso. Como poderia ser menos do
que isso? É glória, é perfeição — características que,
por si só, seriam suficientes para nos proporcionar
uma alegria inimaginável. Mas o céu também será
jubiloso por outras razões. O rei Davi declarou: “Tu
me farás ver os caminhos da vida; na tua presença
há plenitude de alegria, na tua destra, delícias
perpetuamente” (Salmo 16.11).
O céu será um lugar de encontro jubiloso com
todos aqueles que se foram antes de nós. Costumam
me perguntar se nos reconheceremos no céu, e
minha resposta é sempre enfática: “sim”! Em um dia
não muito distante, sei que estarei reunido com
todos os meus parentes que já foram para o céu —
especialmente minha querida esposa, Ruth. Após a
morte de seu filho, o rei Davi expressou a seguinte
esperança com confiança: “Poderei eu fazê-lo
voltar? Eu irei a ele” (2Samuel 12.23). Quando
Cristo foi transfigurado e Sua glória celestial encheu
de luz Sua aparência celestial, Moisés e Elias
apareceram, falando com ele (Mateus 17.1-3). A
Bíblia nos diz que não seremos espíritos isolados,
separados um do outro, e flutuando sem rumo ao
redor das nuvens (como os desenhos animados
sugerem). Em vez disso, nossos espíritos estarão
novamente unidos no céu: “nós, os vivos, os que
ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles,
entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e,
assim, estaremos para sempre com o Senhor”
(1Tessalonicenses 4.17, grifo nosso).
No entanto, talvez você deseje evitar isso. Talvez,
você não queira encontrar alguém que o machucou
ou que você tenha machucado. Não se preocupe
com isso: no céu, todos serão perfeitos, e você
também será!
O céu também é jubiloso porque, lá, todas as
nossas perguntas serão respondidas. A vida pode ser
confusa. Todos nós já choramos diante do túmulo
de uma pessoa querida ou vimos o mal se impondo
e nos perguntamos: “Por que, Deus? Por que o
Senhor deixou isso acontecer? Onde estavas? Isso
não faz sentido”. Porém, um dia, todas as nossas
dúvidas serão sanadas e nós compreenderemos.
Paulo colocou da seguinte forma: “Agora, vemos
como em espelho, obscuramente; então, veremos
face a face. Agora, conheço em parte; então,
conhecerei como também sou conhecido”
(1Coríntios 13.12). Como parte disso, seremos
capazes de enxergar nossa vida e gozarmos da
bondade e da misericórdia de Deus.
Além disso, o céu será jubiloso porque todos os
nossos fardos serão retirados para sempre. Uma das
imagens mais reconfortantes da Bíblia é o céu como
um lugar de repouso: “Bem-aventurados os mortos
que, desde agora, morrem no Senhor...para que
descansem das suas fadigas” (Apocalipse 14.13).
Por fim, a Bíblia nos conta uma última verdade
sobre o júbilo do céu: nossa experiência celeste se
expressará na forma de adoração jubilosa. O escritor
do livro de Hebreus expressou da seguinte forma:
“Tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus
vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de
anjos, e à universal assembleia e igreja dos
primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de
todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados”
(Hebreus 12.22-23). Nesta Terra, nossa adoração é
imperfeita, incompleta, superficial e, até mesmo, tola
e maçante. Claro que não deveria ser dessa forma. A
adoração jubilosa deveria ser parte do dia a dia de
todo fiel e uma experiência cotidiana. Porém, nossa
adoração será perfeita no céu, pois veremos o nosso
Salvador face a face. Apesar de normalmente passar
despercebido, a adoração no céu é um dos temas
centrais do livro do Apocalipse: “ Então, ouvi que
toda criatura... estava dizendo: Àquele que está
sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a
honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos
séculos!” (Apocalipse 5.13).
O céu é ativo
“Para ser honesto, nem tenho certeza se realmente
quero ir para o céu”, dizia um e-mail que recebi há
muito tempo. “Parece-me chato ficar sentado ao
redor de uma nuvem, sem fazer nada”. Esse é um
sério mal-entendido sobre o céu. Não ficaremos
sentados em nuvens tocando harpas, como no
imaginário popular. Em vez disso, a Bíblia diz que
estaremos ocupados. Deus terá trabalhos para nós
executarmos! “Nela, estará o trono de Deus e do
Cordeiro. Os seus servos o servirão” (Apocalipse
22.3). A diferença é que, na vida, ficamos cansados
e desgastados, porém, no céu, jamais ficaremos
exaustos, pois gozaremos de energia ilimitada para
servir a Cristo.
O que faremos? A Bíblia não diz exatamente. De
qualquer forma, provavelmente não entenderíamos
caso ela o fizesse! No entanto, ela nos conta que
Deus nos dará o privilégio de participar do governo
de Cristo sobre todas as criaturas: “O Senhor Deus
brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos
séculos” (Apocalipse 22.5). Definitivamente, não
nos entediaremos no céu.
Meu parceiro de longa data e líder musical da
Cruzada, Cliff Barrows, brincou comigo, dizendo
que serei desempregado no céu. Com ironia, ele me
explicou que o céu não precisa de pregadores, ao
passo que os coros celestiais precisam de um músico
acompanhante. Assegurei-o de que não me
preocupo porque sei que Deus encontrará algo a
mais para eu fazer. Disse para ele que, inclusive,
Deus pode me transformar em regente!
O céu é certo
O céu é glorioso, o céu é perfeito, o céu é
jubiloso, o céu é ativo. Mas, podemos realmente
saber se o céu também é certo? Podemos saber com
certeza se iremos para o céu quando morrermos e se
lá será nossa morada eterna? A Bíblia diz que sim!
Só uma coisa pode tirá-lo do céu: o pecado. Deus
é absolutamente puro e sagrado; apenas um pecado
— um único — seria suficiente para nos banir de
Sua presença para sempre. Porém, Jesus Cristo veio
à Terra para limpar os nossos pecados através de
Sua morte. A Bíblia diz: “o sangue de Jesus, seu
Filho, nos purifica de todo pecado” (1João 1.7).
Por mais que você confie em si mesmo — na sua
bondade, nas suas atividades religiosas, nas suas
esperanças internas — para sua salvação, você
nunca terá uma certeza permanente disso. Afinal,
como você saberá se foi bom o suficiente ou
religioso o suficiente? A resposta é a seguinte: você
não saberá.
Porém, a sua salvação não depende da sua
bondade; se assim fosse, nós nunca seríamos salvos,
pois o padrão de Deus não é nada menos do que a
perfeição. Nunca seremos bons o suficiente, pois
“qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um
só ponto, se torna culpado de todos” (Tiago 2.10).
Em vez disso, nossa salvação depende somente de
Jesus Cristo e do que Ele já fez por nós. Nossa fé
deve ser Nele, e não em nós mesmos.
Você confia apenas Nele para sua salvação? Caso
negativo, ou se houver dúvida, aconselho que se
volte para Deus em arrependimento e fé hoje. Em
uma oração simples, clame para que Ele entre em
sua vida como seu Senhor e Salvador. Diz a Bíblia:
“E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida
eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem
o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de
Deus não tem a vida” (1João 5.11-12). Não viva
nem mais um dia sequer sem Cristo. Nunca duvide
das promessas de Deus sobre a certeza do céu. Da
mesma forma, não duvide do que Jesus Cristo já fez
para salvá-lo através de Sua morte e ressurreição.
Quando surgir a dúvida, lembre-se: se você
depositou sua fé e sua confiança em Cristo, agora
você pertence a Ele. Você foi adotado em Sua
família, sendo agora Seu filho amado ou Sua filha
amada. Graças a isso, a Bíblia diz: nada, “nem a
altura, nem a profundidade, nem qualquer outra
criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que
está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos
8.39). Agora, você é parte de Sua família para
sempre!
Nossa casa final
Para mim, foi um grande privilégio ser um pastor.
Minha maior alegria foi ver pessoas ao redor do
mundo responderem à mensagem de mudança de
vida de Jesus Cristo. Pessoalmente, o lado negativo
foi ter de passar tanto tempo longe de casa —
meses, às vezes. Porém, não importa quão longa ou
curta fosse a viagem: quando o avião pousava na
cidade de Charlotte ou Asheville, eu sabia que
estava a caminho de casa. A casa era o lugar de paz,
descanso, amor, alegria e segurança.
Dadas as devidas proporções, o céu é a nossa
casa, nossa última casa: o local de descanso, paz,
segurança e alegria eternos. Aqui, nossas casas são
imperfeitas — mesmo as melhores. Infelizmente, a
casa é um lugar de conflito e infelicidade para
muitas pessoas, mas isso não vale para o céu.
Quando pertencemos a Cristo, sabemos que, quando
morrermos, finalmente estaremos em paz, pois
estaremos em casa. As palavras de Paulo para os
cristãos no livro de Coríntios também se aplicam a
nós: “Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo
que, enquanto no corpo, estamos ausentes do
Senhor... entretanto, estamos em plena confiança,
preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor”
(2Coríntios 5.6,8). O céu é a nossa esperança, o céu
é o nosso futuro e o céu é a nossa casa! Anseio pelo
dia em que, finalmente, estarei em casa e oro para
que vocês também cheguem em casa.
Quando os fardos da vida o pressionam ou
quando seu peso parece ser maior do que você é
capaz de aguentar, volte seu coração para sua casa
celestial. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da
morte, não temeria mal nenhum, porque tu estás
comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam...
bondade e misericórdia certamente me seguirão
todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do
Senhor por longos dias” (Salmo 23.4,6 KJV). Quando
seus sonhos e suas esperanças se despedaçam e as
pessoas o decepcionam ou viram-se contra você,
volte seu coração para sua casa celestial. Ainda,
quando as enfermidades e dificuldades da velhice
lhe ameaçarem, volte seu coração para sua casa
celestial.

A CAMINHO DE CASA
COM SEGURANÇA
Antes de partir de Sua vida terrestre, Cristo tinha
Sua mente em casa e nos levou com Ele: “Vim do
Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e
vou para o Pai” (João 16.28 NKJV). Jesus disse a seus
discípulos: “Para onde vou, não me podes seguir
agora; mais tarde, porém, me seguirás” (João 13.36
NKJV
). “Pois vou preparar-vos lugar... voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que, onde eu
estou, estejais vós também. E vós sabeis o caminho
para onde eu vou” (João 14.2-4 NKJV).
Meu amigo, você conhece o caminho? Jesus nos
contou: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6
NKJV
). Ninguém é velho demais para aceitar o perdão
de Cristo e adentrar Sua presença gloriosa. Quando
olhamos para as experiências que tivemos ao longo
da jornada da vida, podemos nos arrepender das
escolhas que fizemos, mas lembre-se: isso foi
outrora... e estamos vivendo o agora! Podemos
lembrar-nos das vezes em que falhamos com as
nossas famílias, mas isso foi outrora... estamos
vivendo o agora! Alguns leitores deste livro podem
dizer: “Mas, rejeitei Cristo durante toda a minha
vida. Agora é tarde demais para mim”. Meus
amigos, isso foi outrora.... estamos vivendo o agora!
As promessas da Bíblia eram válidas antes, são
válidas agora e serão válidas para sempre. “Eis,
agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o
dia da salvação” (2Coríntios 6.2 NKJV, grifo nosso).
Para aqueles que receberão a dádiva mais
preciosa do sangue redentor de Cristo, vocês têm
um motivo para ansiar pelas glórias do céu, pois
vocês se tornarão perfeitos, vocês serão jubilosos e
vocês serão novamente ativos. Agora, vocês podem
ter certeza de que estão a caminho de casa.
*

1 GRAHAM, Ruth Bell. Clouds are the Dust of His Feet. Wheaton,
Crossway Books, 1992, p. 132
Table of Contents
Frontispício
Expediente
Nota Brasil
Agradecimentos
Introdução
Correndo para a base
Não se aposente da vida
O impacto da esperança
Pense nos anos de ouro
Perdendo forças, mantendo-se firme
O propósito da morte
Influência valiosa
Um alicerce duradouro
As raízes se fortalecem com o tempo
Outrora e agora

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