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“A Toledoth de Adão [Via Seth]” (Gn 3:15; 4:25-26; 5:1-32; 11:10-32 / Lc 3:23-38)

As genealogias na Bíblia não narram apenas nomes, como se seu único propósito fosse
identificar indivíduos e suas respectivas famílias. Não, as genealogias mostram Deus agindo na
história humana e, especialmente, na história do Seu povo. Como Deus no decurso da história
da redenção escolheu (separou) homens, mulheres, famílias (tribos) e um povo, a fim de
preservar uma semente santa através da qual viesse o Messias. Numa sentença, a história bíblica
é a história de como Gênesis 3:15 se cumpriu.
Com esse entendimento do propósito teológico das genealogias, veremos o que a toledoth de
Adão em Gênesis 4:25-5:32 tem a nos ensinar como famílias e povo de Deus hoje.
1. A toledoth de Adão via Seth contrasta a descendência piedosa deste com a descendência
ímpia de Caim.
4:17,18. Caim… Enoque… Irade… Meujael… Metusael… Lameque. Os nomes são semelhantes àqueles de Gn 5, não para
representar variações da mesma fonte, mas para formar paralelo e contraste com as duas progênies de Adão. O sétimo, de Adão a
Caim e a Sete, respectivamente, o ímpio Lameque (4.19–24) e o santo Enoque (5.24), se põem em agudo contraste entre si. O
primeiro sofre a morte; o último não morre.
4:19-22. Lameque... Jabal… Jubal... Tubal-Caim... A linhagem familiar de Caim é uma trágica imagem da distorção e destruição
que o pecado causa. As artes e as ciências, extensões apropriadas do mandato cultural divino, são aqui expressas numa cultura
depravada como meio de auto-afirmação e auto-suficiência, que culmina com “o cântico tirano” de Lameque.
Enoque andou com Deus (5:22,24). Esta rara expressão (5:22,24; 6:9) denota o desfruto da comunhão sobrenatural e íntima com
Deus, não meramente viver uma vida santa. A vida de Enoque mostra que os que “andam com Deus” (5.22,24) neste mundo
apóstata se distinguem dos ímpios e experimentam vida, não morte, tanto aqui quanto no porvir como a palavra final (Hb 11:5 / Rm
8:11 / Jo 11:25-26).
Enoque viveu 365 anos e já não era, porque Deus o tomou para Si (5:24). Embora a longevidade dos antediluvianos fosse um
sinal do favor divino, a extensão relativamente breve da vida abençoada de Enoque, especialmente comparada à de seu filho
Matusalém, mostra que viver na presença de Deus é o maior dos privilégios.

■ Com Abel morto, Deus, graciosamente, deu a Adão e Eva um filho santo, Seth, por meio do
qual a semente da redenção (3:15; 4:25-5:32) seria transmitida até Jesus Cristo (Lc 3:38). O
plano de Deus é perfeito e não pode ser frustrado, e assim a promessa feita no Éden estava de
pé. A linhagem dAquele que haveria de esmagar a cabeça da serpente não seria interrompida
com a ímpia família de Caim. Enquanto esta se vangloriava de sua força e destreza, os
descendentes piedosos de Seth davam glórias ao nome do Senhor (4:26).
Deus antes e após o dilúvio levantou uma geração piedosa (Noé, Abraão) para fazer a diferença
num mundo de trevas. Assim foi no decurso dos séculos, e assim é hoje! (Fp 2:15)
2. A geração piedosa de Adão identifica “a semente” que esmagará a serpente (3:15) e
abençoará o mundo (5:2; 12:3; Gl 3:9,29 / Mt 28:18-20).
Após amaldiçoar a serpente física, Deus se voltou para a serpente espiritual, o sedutor
mentiroso, Satanás, e o amaldiçoou. “Ferirá a cabeça [...] lhe ferirá o calcanhar”. Esse
“primeiro evangelho” é uma profecia da luta e de seu resultado entre “sua semente” (Satanás e
seus seguidores) e a semente de Eva (a descendência pactual 》 Cristo, o descendente da mulher
Gl 4:4 》 e aqueles que nEle vivem, a igreja), que começou no jardim e irá até a consumação
dos séculos.
No meio do anúncio dessa maldição, emerge uma mensagem de esperança — o descendente
da mulher chamado “Este” é Cristo, que, algum dia, esmagará a serpente (Gl 4:4; 3:16).
Satanás conseguiria apenas “ferir” o calcanhar de Cristo (fazendo-o sofrer), enquanto Cristo
feriria a cabeça de Satanás (destruindo-o com um golpe fatal), o que evidentemente aconteceu
na Cruz.
■Paulo, numa passagem que lembra fortemente Gn 3:15, encorajou os cristãos em Roma: “Em
breve o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês” (Rm 16:20). Os cristãos
deveriam reconhecer que participam do ato de esmagar Satanás (Lc 10:18-19) e abençoar o
mundo, pois, juntamente com o Salvador e por causa de sua obra consumada na cruz, eles
também são semente messiânica (“sementes do Messias”). At 1:8 / Mc 16:15-16
3. As toledoths em Gênesis retratam a importância da família piedosa, que passa de
geração em geração a fé e o conhecimento de Deus (Sua Palavra, Seus preceitos).
Adão ensinou a Sete, que ensinou a Enos, que ensinou a Cainã... Assim de geração em geração
o conhecimento de Deus foi transmitido. Sobretudo, destacando-se a fidelidade de Deus no
cumprimento de Suas promessas.
Adão era da idade de 130 anos quanto Seth nasceu.
Adão era da idade de 235 anos quando Enos Nasceu.
Adão era da idade de 325 anos quando Cainã nasceu.
Adão era da idade de 395 anos quando Maalaleel nasceu.
Adão era da idade de 460 anos quando Jarede nasceu.
Adão era da idade de 622 anos quando Enoque nasceu.
Adão era da idade de 687 anos quando Matusalém nasceu.
Adão era da idade de 874 anos quando Lameque nasceu.

■Lameque era da idade de 56 anos quando Adão morreu. Matusalém e Lameque puderam receber a história da criação diretamente
de Adão. Lameque foi o pai de Noé. Noé foi a décima geração desde Adão. Matusalém poderia ter passado a história da criação de
Adão para os filhos de Noé, Cão, Sem e Jafé, que eram da idade de 100 anos aproximadamente quando Matusalém morreu.
O dilúvio ocorreu no ano 600 da vida de Noé. Da criação de Adão até o dilúvio, se passaram 1656 anos. Noé viveu 350 anos após o
dilúvio. Abrão era da idade de 56 anos quando Noé morreu.
Sem viveu 500 anos após o dilúvio. Jacó era da idade de 48 anos quando Sem morreu. A história da criação e o relato do dilúvio
poderiam ter vindo desde Adão até Matusalém, de Matusalém até Sem; e de Sem até Jacó. Os doze filhos de Israel (Jacó) quando
habitaram no Egito, conheciam a história muito bem. Moisés que escreveu o relato da criação e do dilúvio, pertenceu a terceira
geração que estava no Egito.
■A mensagem poderia ter vindo de Adão até Matusalém, e então para Sem, depois para Jacó, em seguida para Levi e finalmente até
Moisés. Este relato poderia ter chegado até Moisés vindo de boca em boca desde Adão, caminhando assim através de cinco
gerações.

Em Gn 5:1-32 podemos notar quatro ciclos: vida, casamento, filhos e morte. Essas dez
famílias (10 descendentes de Seth) enfrentaram um mundo hostil, mas suportaram as pressões
de uma sociedade onde a maldade humana se multiplicava e era continuamente mau o desígnio
do seu coração (6:5), separando-se para Deus. Todas essas famílias passaram por esses quatro
ciclos: viveram, casaram-se, tiveram filhos e morreram.
■A sentença de morte pronunciada no Éden (3:19) se destaca aqui como o refrão de uma música
triste: “e morreu”, “e morreu”, “e morreu”. Ímpios (caimitas) e piedosos (setitas) provaram o
cálice da morte. Ora, a Escritura diz: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado
no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram” (Rm 5:12). O arrebatamento de Enoque (4:24 / 2 Rs 2:11,12), porém, evoca
esperança e vitória sobre a morte, prefigurando a ressurreição.
A morte entrou pelo primeiro Adão (5:12), mas o segundo Adão, Jesus, venceu a morte,
arrancou-lhe o aguilhão e ressuscitou como primícias dos que dormem. Agora, a morte não tem
mais a última palavra, pois foi tragada pela vitória (1 Co 15:54b-57).
Conclusão
Portanto, a genealogia de Adão nos remete às origens do propósito de Deus para a
criação, para o homem, para a família e para a igreja.
Mostra como o pecado não frustrou os planos de Deus, e como de geração em geração
Deus preparou um remanescente piedoso e o mundo com vistas a Encarnação do Filho e
Sua obra na Cruz.
Conecta-nos ao próprio Deus, nosso Criador e Pai. Somos todos descendentes de Seth,
através de Noé e seus filhos, uma vez que a descendência má caimita foi destruída no
dilúvio. Sabemos que não somos semitas, o que significa dizer que pertencemos aos
povos descendentes dos outros filhos de Noé, Jafé e Cam. Logo, somos gentios.
Ora, tudo isso nos fala da graça de Deus. Graça essa que na plenitude dos tempos se
manifestou salvadora a todos os homens por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, em
quem temos a redenção, a saber, o perdão de nossos pecados e filiação. Amém!

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