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Os dias, os meses e, quem sabe, até anos se passaram e Eva deu à luz novamente: Tornou a
dar a luz, e teve Abel (Gn 4:2). O nome desse segundo filho deriva-se de um vocábulo hebraico
que quer dizer “sopro” ou “vapor”. Alguns comentaristas chegam a sugerir que o nome pode
também significar “fraqueza” ou “vaidade”. Os dois significados podem ser verdadeiros. Não
sabemos se esse era o objetivo de Adão e Eva, mas os nomes desses dois irmãos lembram
algumas verdades importantes. Caim, “adquirido do Senhor”, nos lembra que a vida vem de
Deus, enquanto que Abel, “vapor”, “sopro”, “fraqueza” ou “vaidade”, nos lembra que a vida é
breve.
Apesar de serem irmãos, eles eram bem diferentes um do outro. Ao passar os dias, ficava
cada vez mais evidente que cada um tinha suas próprias habilidades e interesses distintos.
Caim se tornou lavrador da terra. Preparar a terra, semear e fazer colheitas eram as coisas
que mais gostava de fazer. Abel, o caçula, tornou-se pastor de ovelhas. Seu prazer era
cuidar do rebanho (Gn 4:1-2). Os dois escolheram boas profissões! Sem dúvida alguma,
Adão deve ter ensinado para os seus filhos a importância do trabalho. Deve ter dito para
eles que eram privilegiados por poderem trabalhar, como ele próprio fazia (Gn 2:15).
Ambos conheciam a Deus. Certamente, seus pais haviam lhes ensinado sobre o Criador e
sobre o valor de buscá-Lo. Por isso, eles tinham necessidade de se aproximar de Deus e
adorá-Lo. Então, passado o tempo, certo dia, ambos, Caim e Abel, trouxeram uma oferta
ao Senhor (Gn 4:3-4). O texto não diz e nem deixa transparecer que essa oferta foi
ordenada. Eles fizeram isso voluntariamente. Ralph L. Smith diz que esse gesto,
provavelmente, era uma resposta de gratidão deles a Deus, pela dádiva da fertilidade da
terra e dos animais.
...trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos
primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura (Gn 4:3-4). O Senhor se agradou de Abel
e de sua oferta, mas reprovou Caim e sua oferta. Não sabemos como eles ficaram sabendo
disso. Talvez Deus tenha demonstrado sua aprovação enviando fogo do céu, ou, quem sabe,
isso se tornou evidente, quando o rebanho de Abel se multiplicou, enquanto a colheita
seguinte de Caim foi um fracasso. Seja como for, Deus fez a sua escolha conhecida.
Ao se sentir rejeitado, Caim despejou toda a sua ira sobre seu irmão, e o matou (Gn
4:5,8). Por que o Senhor aceitou uma oferta e rejeitou a outra? O problema estava na oferta
ou no ofertante? Muitos dizem que o problema estava na oferta, visto que uma envolvia
morte e derramamento de sangue e a outra, não. Ou ainda, que Abel deu “as primícias”, o
melhor da colheita; enquanto Caim deu uma animal qualquer do rebanho. Todavia, “não é
correto afirmar isso”. Caim foi rejeitado por que a intenção do seu coração era má. Isso
ficou evidenciado na sua atitude posterior.
O problema não foi o que eles ofertaram, mas a atitude com que o fizeram. Tanto a oferta
de animais como a de frutos da terra, que, até então, não haviam sido normatizadas, eram
aceitas por Deus. Observe que, na sentença de aprovação e reprovação de Deus em Gn 4:4-
5, os nomes dos ofertantes aparecem antes das referências as suas ofertas. Deus está “mais
interessado” na pessoa do ofertante do que no tipo da oferta. Os sacrifícios para Deus são
o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus (Sl
51:17).
Caim não foi rejeitado por causa da oferta que escolheu, mas por causa de si mesmo,
diferentemente de Abel, que “veio a Deus com atitude certa de um coração disposto a
adorar e pela única maneira em que os homens pecadores podem se aproximar do Deus
santo, pela fé”. O NT mostra que a sua fé era diferente da de Caim: Pela fé, Abel ofereceu
a Deus mais excelente sacrifício do que Caim (Hb 11:4); e também mostra que as suas
obras eram diferentes das dele: Caim (...) era do maligno (...) suas obras eram más, e as
do seu irmão justas (I Jo 3:11).
Culto e oferta só agradam a Deus quando o ofertante tem fé e obras, o que não era
o caso de Caim. A essa altura, é bom entendermos que a oferta também é
importante para Deus, mas não é o principal. Jesus disse: ...se trouxeres a tua
oferta ao altar, e aí te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa
diante do altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão (Mt 5:23-
24). Note que a ênfase de Cristo está no ofertante. Abel foi aprovado como
ofertante! E nós?
4:25,26. Adão se deita novamente com sua esposa. A linhagem de Caim, por meio
do tirânico Lameque, é apresentada para ilustrar as consequências do pecado da
vingança. Agora a história lembra o nascimento de Sete a revelar a esperança no
progresso da semente santa (“a semente messiânica”). A despeito das vicissitudes
da história, Deus está mantendo sua promessa de prover uma semente para destruir
a serpente (3:15).
Sete (Deus concedeu). Seu nome, derivado do verbo hebraico traduzido por
“concedeu” significa “pôr, colocar”. Expressa a fé de Eva de que Deus continuará
a família pactual a despeito da morte.
4:26 Enoque. Seu nome significa “fraqueza”, e em sua fraqueza ele se volta para
Deus com sua petição e louvores (Sl 149:6). Sarna observa: “É a consciência da
fragilidade humana, simbolizada pelo nome Enoque, que intensifica a consciência
do homem da total dependência de Deus, uma situação que intuitivamente evoca a
oração” (contrário da tentação no Éden de ser independente de Deus).
Enos. Daí se começou a invocar o nome do Senhor (4:26). Esta é uma imagem de
oração, de comunhão com Deus. A descendência santa, fazendo sua petição e
adorando o nome do Senhor, não os caimitas (“filhos dos homens” – 6:2).
Nota
Gn 4-5 Mostram o alcance progressivo e rápido do pecado e a incapacidade da semente santa da
mulher de por si mesma revertê-lo. O pecado, como a serpente, é forte demais para eles.
Evidentemente, fazem-se necessários tanto o juízo divino quanto o livramento.
5:1-32 Adão [...] Noé . A genealogia vincula Adão à família de Noé, que não só sobreviveu ao
Dilúvio, como também se tornou a primeira família no mundo pós-Dilúvio de Deus. Duas expressões
recorrentes levam a história da redenção adiante: “gerou outros filhos e filhas” e “e morreu.” Essas
palavras, que são repetidas para cada descendente sucessivo de Adão, são eco de duas realidades
contrastantes: Deus dissera: “certamente você morrerá” (2:17), mas ele também lhes havia ordenado:
“Sejam férteis e multipliquem-se” (1:28).
Esboço
- A linhagem piedosa (pactual) de Sete 5:1b–32
- A escalada do pecado antes do dilúvio 6:1–8
- A rebeldia dos filhos de Deus e a solução divina 6:1–4
- A universalidade do pecado e solução divina 6:5– 8
Gn 5:1 No dia em que Deus os criou... Esta referência ao prólogo do Gênesis
(cap.1-2) estabelece uma sólida relação entre a linhagem de Adão e os propósitos
divinos para a criação. A linhagem santa de Sete, em contraste àquela de Caim
(4.1–24), é ligada com a criação original.
Gn 5:2 Macho e fêmea. Os nomes de Adão e Eva contêm significado pessoal e
genérico. Sua criação também representa a criação divina de toda a humanidade.
Deus é explicitamente o Pai da semente messiânica (pactual e santa - Lc 3.38) e
implicitamente de toda a humanidade (Gn 10:1).
Gn 5:3 Semelhança … imagem. A desobediência da queda não destruiu a imagem
de Deus. O elo verbal com Gn 1:26–28 apresenta a procriação humana como a
continuação do ato criativo de Deus. A imagem de Deus continua seminalmente
em cada linhagem (cf. Ec 12.7).
Gn 5:3 ... E lhe chamou Sete. O padrão de “nascer” e “chamar” proporciona relação da
humanidade com a atividade divina. A relação entre Deus e os primeiros pais, e os
primeiros pais e seus filhos é estabelecida pela similaridade entre 5:1,2 e 1:26–28, a
designação da “descendência” (5.2) e a repetição de “semelhança … imagem” (5.3).
Também liga a passagem com o relato prévio (4:25,26).
Gn 5:4 Depois que gerou sete viveu Adão 800 anos. A longevidade dos antediluvianos
contrasta agudamente com a brevidade dos pós-diluvianos. Evidentemente, o mundo
pós-diluviano é mais hostil à vida do que o antediluviano.
Morreu. Termo que se repete na toledoth de Adão (genealogia) referindo-se à consequência
imediata do pecado. Por meio da transgressão de Adão, a morte veio sobre todos (Rm 5:12–
14). Em contrapartida, a bênção de Deus assegura estabilidade da ordem criada. A despeito
de juízo e morte, a graça de Deus preserva a linhagem messiânica (Gn 3:15) mesmo quando
o pecado se prolifere na terra (4:17–24), com vistas à salvação.
Gn 5:18-24 Enoque. A descrição de Enoque se desvia da genealogia-padrão, lançando luz
em sua retidão. Nesta linhagem, ele é o sétimo na lista, uma posição amiúde favorecida nas
genealogias bíblicas (Gn 5:1-32; Hb 11:5; Jd 14). Enoque é um símbolo da força pactual
dentro desta linhagem.
Andou com Deus (5:22,24). Esta rara expressão (5:22,24; 6:9; Ml 2:6) denota o desfruto da
comunhão sobrenatural e íntima com Deus, não meramente viver uma vida santa. A vida de
Enoque afirma que os que “andam com Deus” (5.22,24) neste mundo apóstata
experimentarão vida, não morte, como a palavra final (Dt 30:15,16; 2Rs 2:1,5,9,10; Sl
49:15; 73.24; Hb 11:5).
365 anos (5:23). Embora a longevidade às vezes seja um sinal do favor divino (Sl 91.16), a
extensão breve da vida relativamente abençoada de Enoque, especialmente comparada à de
seu filho Matusalém, mostra que viver na presença de Deus é o maior dos privilégios.
Já não era, porque Deus o levou para si (5:24). Isto descreve um súbito e misterioso
desaparecimento. De todos os santos registrados no Antigo Testamento, somente Enoque e
Elias são representados como não experimentando a morte física (2Rs 2:1-12; Hb 11:5).
Schmidt traduz corretamente “o tomou” em Gn 5:24 e 2 Reis 2:3,5 por “o arrebatou”.
Gn 5:29 Ele nos consolará (aliviará). Viria alívio por meio da vida santa de Noé, que é um
“herdeiro da justiça” e é de acordo com a fé (Hebreus 11:7). Enquanto o Lameque cainita
buscava reparar o erro por meio da vingança (4:24), o Lameque setita busca o livramento da
maldição (5:29). Noé cumpre a profecia sendo lavrador(9:20).
Gn 5:32 Aos 500 anos de idade gerou Sem, Cam e Jafé. É incerta a idade precisa de Noé
quando esses filhos nasceram. Dados posteriores da formação do tempo pressupõem que a
ordem dos filhos alistados não representa a ordem de nascimento (ver 10.21 e 11.10).
Nota
5:24 andou com Deus [...] não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado. A vida de
Enoque representa a única ruptura no incessante comentário “e ele morreu” nesse capítulo
(4:17,18; 1Cr 1:3; Lc 3:37; Hb 11:5; Jd 14). Apenas outro homem da geração antediluviana
teve essa intimidade em sua caminhada com Deus: Noé (6:9). Enoque teve a experiência de
ser levado em vida para o céu por Deus, como aconteceria, mais tarde, com Elias (2 Reis 2:1-
12).
5:25-27 Matusalém . Esse homem teve a vida mais longa em registro. Ele morreu no ano do
julgamento do Dilúvio (cf. 7:6).