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Três Homens e seus pecados capitais

Paulo Ferreira Lales1

INTRODUÇÃO
Ao escrever aos “chamados, santificados em Deus Pai, e conservados por
Jesus Cristo”, Judas eleva seus escritos além do objetivo inicial, o qual era
discorrer sobre a vida comum dos salvos. Ao que parece, Ele se encontrou
diante da necessidade de escrever, e exortar-lhes a batalhar pela fé que uma
vez foi dada aos santos. Isto se deve ao fato da intromissão de alguns
homens problemáticos no seio convivêncial da comunidade cristã, os quais,
nas palavras do remetente, já antes estavam escritos para este mesmo juízo.
Judas qualifica tais intromissores como “homens ímpios, que convertem em
dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor
nosso, Jesus Cristo” v.3. Além da qualificação judas afirma que tais
intromitentes, entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo
engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré. Jd.
11. À luz deste quadro, este trabalho traz como objeto de estudo analisar a
luz da bíblia e da teologia, a vida e atitudes destes personagens. Para tanto
de modo especifico, esta pesquisa se divide em três objetivos, a saber: Qual
foi o caminho de Caim, qual o prêmio enganoso de Balaão, e quais as
contradições de Coré.

I CAIM E SEU CAMINHO DE PROSCRITURA

1.1Quem Foi Caim

O escritor de gêneses, descreve o nascimento dos primeiros filhos do


casal edênico, sendo Caim o primogênito. A narrativa em sua literalidade
descreve: “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a
Caim, e disse: Alcancei do SENHOR um homem”, (Genesis 4.1). O
1
Economista; MBA Gestão Financeira Auditoria e Controladoria; Pós-Graduado em Aconselhamento e
Psicologia Pastoral. Mestre em Teologia.
nascimento de Caim está coberto pela ordem e lei natural da frutificação
humana, Gn 1.28. De modo que Eva tem sua madre rasgada pelo irromper de
Caim, daí sua alegria pelo nascimento de Caim. Passando a ser o primeiro
homem gerado e nascido de uma mulher. Para Gardner (2005), o nome Caim
está relacionado a gratidão de Eva.

O crescimento de Caim se deu na companhia de seu irmão Abel. Vale


destacar que ao contrário do nascimento de Caim, não se registrou nenhum
gesto de alegria da parte de seus pais pelo nascimento de Abel. Com fulcro no
texto bíblico, há indícios que Caim possuía censo de temor a Deus, pois levou
ao Senhor ofertas de sacrifícios da sua produção agrícola. Além de
primogênito, também foi o primeiro assassino e fratricida da raça adâmica. Em
sua fase adulta torna-se o fundador de uma civilização que incluiu uma cidade,
agricultura, manufaturas e artes.

1.2 O Caminho de Caim

O caminho de Caim tem sido objeto de interpretações as mais diversas.

O capitulo 4 (quatro) de gêneses traz em seu bojo, o maior número de


informação bíblicas sobre Caim. De modo que sua trajetória pode ser
imaginariamente mapeada sob a lupa deste capitulo.

Se observa, que o v.1 registra o nascimento, o v.2 a profissão ou


ocupação, a saber, lavrador da terra. O v.3 apresentando-o como um ofertante
ao Senhor, até a esta medida seu caminho é louvável. O v.5 descreve que,
para a sua oferta Deus, não atentou. Isto lhe produziu um estado de ira, e
descaiu-lhe o semblante. Tal variação de humor chamou a atenção de Deus,
assim no v. 6, o Senhor lhe interroga: Por que te iraste? E por que descaiu o
teu semblante? A essa altura percebe–se que o caminho de Caim entra em
declive espiritual.

No v.7 Deus, aconselha-o dizendo: “Se bem fizeres, não é certo que
serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o
seu desejo, mas sobre ele deves dominar. Na distância de sua origem o
viajante Caim se encontra com a incitação para o mal, cabendo lhe decidir
fazer o bem ou o mal. A vida de Caim é como de todos os seres humanos,
feita de escolhas, e consequências, assim no v.8 se registra que as mãos se
tornam fratricida, registra-se também o primeiro óbito (Abel) e o primeiro
assassino (Caim), assim o pecado reitera seu poder sobre os homens.

De agora em diante segue se um caminho marcado pelo


derramamento de sangue inocente e coberto pela mentira, logo no v.9
registra-se a fala mentirosa de um assassino. No v.10, o assassino e
mentiroso se encontra acusado pelo silencio gritante, promovido pelo sangue
de Abel perante o tribunal de Deus. No v.11,12 Caim é sentenciado, leia-se:
“E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da
tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a
sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra”. O adverbio de tempo ‘agora’
indica uma contagem que se inicia e/ou algo que marca a trajetória de Caim.

Como se não bastasse o caminho do crime, com base nos v.13 e14,
Caim vive um caminhar nebuloso e sombrio cheio de incertezas e confusões
mentais, por isto diz: É maior a minha maldade que a que possa ser
perdoada. Com isto questiona a capacidade perdoadora de Deus. Em sua
confusão mental planeja uma fuga planetária e afirma: Eis que hoje me lanças
da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e vagabundo na
terra, e será que todo aquele que me achar, me matará. Como se percebe,
ele se imagina um fugitivo, vagabundo e se ver diante da possibilidade da
morte, por parte de um outro assassino.

No v.15 Caim se ver caminhando em meio as suas mazelas de forma


sinalizada, e misticamente obrigado a amargar pela ausência da morte
prematura. No v.16 o caminho de Caim o leva ao lugar mais longe que um ser
humano pode ir, isto é, para longe de Deus. Cf. “E saiu Caim de diante da
face do Senhor, e habitou na terra de Node”.

De outra forma, com apoio do capítulo 4, de Gênesis, se entende que


Caim foi o primeiro homicida antediluviano, (v. 8), o qual chega a ser também o
primeiro homem a ter o seu coração visitado pelo espirito do erro (v. 9).
Também é tido como o primeiro proscrito, é desterrado e separado da
ambiência onde fluem as bênçãos de Deus (v. 12) e vai morar na terra de Node
(v. 16).
Pouco se sabe sobre a Terra de Node. Conforme Champlin (2001, v 4,
p.511), Node, a luz do hebraico, é exílio, vagueação. Para o mesmo autor, há
quem afirme que esse local ficava situado entre as cidades de Bussorá e
Busire, a nordeste do golfo Pérsico. Seja como for, ficava a leste do jardim do
Éden. Não há como se fazer uma identificação exata. Não há indicio bíblico de
que havia alguma família por lá. Com a leitura bíblica se entende que, Node foi
a Terra da Fuga de Caim, onde ele levou consigo sua esposa e formou família,
fundando a primeira Cidade com o nome de Enoque, nome de seu filho. No
v.17 e seguintes Caim contrai matrimonio e constrói uma cidade, dando a
entender que o mal se estabelece e se multiplica hereditariamente.

Nas palavras de Macdonald (2008), do ponto de vista prático/teológico, o


caminho de Caim é, basicamente, a rejeição da salvação através do sangue de
uma vítima sacrificial (Gn. 4). É uma tentativa de apaziguar a Deus pelo esforço
humano. É recusar o remédio de Deus para purificação do pecado. Este é o
caminho de Caim que o levou ao ódio e este por sua vez, à perseguição e até
assassinato 1 Jo.3:15. 

1.3 A Proscritura de Caim

Pelos reflexos da teologia sistemática, Geisler (2010) faz entender que o


pecado teve efeito horizontal, bem como vertical sobre o ser humano, pois,
alterou a convivência com Deus e com o seu semelhante. Neste sentido o
pecado de Caim lhe conduziu a uma proscrituração efetiva e desastrosa. O
pecado originário e sequencial de Adão e Eva e Caim, abriram precedentes de
maldades incontáveis.

Prevendo tais mazelas, Deus intima Caim a não se deixar dominar pelo
pecado, antes dominá-lo, (Gn 4.7. O fato de Caim não ter correspondido a essa
intimação é, sinal do constante perigo de que o pecado irrompa em maldade.
Para Pannenberg (2009), a despeito disto, pelo uso da razão e do direito os
instintos pecaminosos podem ser dominados.

A pesar da possibilidade de domínio, não foi esta via que Caim


pavimentou para seus pés, pelo contrário sedimentou um labirinto, que além de
evidenciar sua inclinação para o mal, o levou para uma deserção de sua
origem que é Deus. Os escritores canônicos do AT a partir de Gn 4, calaram e
não mais se ouviu sobre o personagem Caim. Curiosamente Jesus fala de Abel
Lc 11.51, mas, não emite nota alguma sobre Caim.

Ligeiramente, três escritores neotestamentários fazem referência a


Caim. De modo que o escritor ao Hebreus enaltece o sacrifício de Abel em
detrimento ao de Caim Hb 11.4. Tais informações por si só não traz um
arcabouço doutrinário robusto, porem indica que não é qualquer sacrifício que
Deus aceita.

A segunda referência percebida refere-se a forma correta de amar e


extensivamente contempla as obras de Caim. Nas palavras do apóstolo que
diz: Não como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que
causa o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão justas.1
Jo 3.12.

II BALÃO E O PREMIO EGANOSO

I Balaão e seus enganos

Segundo Champlin (2001), Balaão foi um adivinho, que morava em


Petor, cidade midianita, próxima do rio Eufrates, a luz da bíblia, esta
informação é autentica Nm: 22:5;31.8. Com base no livro de números 22. Foi
contratado por Balaque, rei de Moabe, para amaldiçoar Israel, quando da
migração do povo de Israel para a terra de Canaã, o rei Moabita, (Nm 22:1-6).
Diante deste quadro migratório, Balaão viveu momentos que lhe

requereu postura profética, assim ele inicialmente mostra sua

dependência divina, e Deus, através de um sonho noturno, disse-lhe para

não ir. No entanto Balaque envia homens de reputação e oferece honras a

Balaão. Balaão continua a pressionar Deus, e Deus finalmente permite que

ele vá, mas com instruções para dizer apenas o que ele ordenasse.

quando Balaão parte ao encontro de Balaque, Deus fica irado e

envia seu anjo para impedi-lo (Nm 22:22). No início, o anjo é visto apenas

pela jumenta em que Balaão está andando, esta desvia-se do caminho


tentando evitar o anjo. Ao avistar o anjo pela terceira vez, a jumenta

recusa-se a andar e Balaão a puni. Milagrosamente, a jumenta começa a

falar com Balaão queixando-se da punição (Nm 22:28).

Neste ponto, Balaão tem permissão para ver o anjo, que o informa que a
decisão da jumenta de não prosseguir no caminho errado é o único
motivo pelo qual o anjo não matou Balaão. Balaão imediatamente se
arrepende e decide votar,mas o anjo mande que ele continuei  e diga a
Balaque apenas o que Deus lhe ordenar.

Por toda a Bíblia, Balaão é citado de forma negativa e tido como mau exemplo. Sua
maneira de agir e sua motivação são condenadas no nt, e sua morte é relatada, em
Números 31, como cumprimento da sentença divina sobre sua vida.

Balaão abençoa a Israel


Ao chegar em Moabe,  Balaque levou Balaão a um lugar onde ele podia
ver a vastidão do campo israelita. Seu propósito era convencer Balaão de
que os israelitas eram uma séria ameaça.

Mas Deus havia avisado Balaão para falar apenas as palavras que Deus
lhe disse para falar. Balaão obedeceu e, em vez de anunciar uma maldição
sobre Israel, anunciou uma benção (Nm 22:35,41; 23:1-12).

Decepcionado com este resultado, Balaque levou Balaão para outro lugar,
onde ele conseguiu uma visão melhor e, assim, fosse persuadido a
pronunciar uma maldição destrutiva. Mas Balaão anunciou uma bênção
sobre Israel (Nm 23:13-26).

Uma terceira tentativa, de um terceiro lugar, trouxe mais benção (Nm


23:27; 24:1-9). Balaque, com raiva, descartou Balaão, mas em resposta,
Balaão anunciou mais uma longa bênção sobre Israel (Nm 24:10-25).

Balaque e Balaão diante do povo de Israel no deserto. Autor: desconhecido

No entanto, Balaão também estava bravo. Seu fracasso em amaldiçoar de


Israel significava que ele não receberia o pagamento de Balaque que ele
queria tanto. Ele, portanto, decidiu ter um plano próprio.

Este plano não tinha nada a ver com benção ou maldição, mas Balaão
esperava que isso pudesse trazer destruição a Israel e assim ganhar a
recompensa de Balaque.Ele usou as mulheres estrangeiras para seduzir
homens israelitas, e logo o campo israelita era uma cena de imoralidade e
idolatria generalizadas.

Quando Deus enviou uma praga que matou vinte quatro mil, Balaão deve
ter pensado que seu plano estava funcionando, mas a ação rápida do
sacerdote israelita Fineias salvou Israel (Nm 25:1-9; 31:16) .

Deus ordenou a Moisés que se vingasse do crime de Balaão. Ele declarou a


guerra contra os midianitas, matou cinco de seus príncipes e um grande
número de outras pessoas sem distinção de idade ou sexo, entre os quais o
próprio Balaão (Js 13:22).

Doutrina de Balaão
No Novo Testamento, os escritores compararam falsos mestres de seu
tempo com Balaão. Como Balaão, tais mestres se preocupavam
unicamente com o ganho pessoal, mesmo que seus ensinamentos fossem
prejudiciais moral e religiosamente ao povo de Deus (2Pe 2:14-16, Jd 1:10-
11).

Eles encorajaram o povo de Deus a se juntarem às práticas idólatras e a se


envolverem em comportamentos imorais (Ap 2:14-15).

Deus assegurou aos que seguiram o caminho de Balaão que estariam indo
para a destruição, mas prometeu à aqueles que resistiam que gostariam
da recompensa que receberiam (Nm 2:15-17, compare com Nm 25:10-13).

Balaão conheceu a Deus?


Balaão era provavelmente um descendente de Sem, e possuía muitas
ideias do Deus verdadeiro. Ele o chama “o Senhor meu Deus” (Nm 22:18),
e, no entanto, ele parece ter sido apenas um encantador e falso profeta,
como muitos nos tempos dos reis de Israel, até que ele entrou em conflito
com o povo de Deus.

Nesse evento, ele foi levado contra a sua própria vontade para entregar a
mensagem do SENHOR; No entanto, seu coração permaneceu inalterado, e
ele não teve uma morte honrada (Nm 31:8; Js 13:22).
IV considerações finais

Existem aqueles que acusam Deus de ter sido injusto para com Kayin. Como Kayin poderia
saber o que deveria oferecer? Se ele não sabia, por que razão Deus o puniu por isso? Minha
resposta é que Deus possui uma natureza tal que sempre concede àquele que erra uma
oportunidade de se arrepender. E isso é exatamente o que ele fez em Gênesis 4:6-7.
Infelizmente Kayin, em vez de se levantar e aproveitar a oportunidade, "levantou-se contra
Abel seu irmão, e o assassinou" (Gênesis 4:8). Foi em função desse crime deliberado que ele
foi punido (Gênesis 4:9-15), e não por ter feito a oferta errada.

REFERENCIAS

CHAMPLIM, Russell. Norman. Enciclopédia de Bíblia, teologia e Filosofia.


S-Z v.4. 5ºEd.Sao Paulo: Hagnos, 2001.
GARDNER, Paul. Quem é quem na bíblia Sagrada; tradução Josué Ribeiro.
São Paulo: Editora Vida,2005.

GESILER, Norman. Teologia Sistemática: Pecado e Salvação. A igreja e as


últimas Coisas. Tradução Marcelo Gonçalves e Degmar Ribas 1ª Edição.v.2.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular: novo testamento. Editado


com introduções de Artfarstad. São Paulo: Mundo Cristão,2008.

PANNENBERG, Wolfhart. Teologia Sistemática. Volume; tradução: Ilson


Kayser e Santo André. São Paulo: Editora Academia Cristã Ltda, Paulus, 2009.

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