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Subsídio para Lição de Jovens preparado por Jefferson Rodrigues - @EBDinteligente

LIÇÃO 12 - A IMPIEDADE DECORRENTE DOS FALSOS ENSINOS


INTRODUÇÃO
Na lição da semana anterior vimos que Pedro denunciou a ação dos falsos mestres, agora veremos
que o apóstolo tratará de apresentar o perfil daqueles que estão destinados ao juízo divino. Assim,
da mesma forma que Paulo (Rm 1.18ss) e Judas em suas epistolas, Pedro faz questão de destacar
que uma vida apartada da presença de Deus e de seus princípios éticos expostos nas Escrituras
levarão inevitavelmente o ser humano a viver de modo condenável pelo Eterno.
Os tempos atuais são favoráveis ao surgimento de pessoas com as mesmas características
denunciadas por Pedro. Isto acontece em razão de vivermos em épocas marcadas pela falta de
temor a Deus e pela desvalorização da Palavra, fato percebido inclusive entre aqueles que se dizem
cristãos. Neste momento um alerta soa alto: quando nos afastamos dos ensinos do Senhor,
fatalmente enveredamos por caminhos que levam a morte. Estejamos atentos!

I. OS ÍMPIOS E SUAS DEPRAVAÇÕES (1Pe 2.10)


Quando fazemos um paralelo deste texto apresentado pelo apóstolo Pedro com aquilo que é
exposto por Paulo ao escrever aos romanos, veremos uma similaridade muito grande. Percebemos
que os ímpios tendem cada vez mais a caírem em suas próprias armadilhas. Escrevendo aos
romanos, Paulo elenca uma lista considerável de práticas abomináveis feitas por pessoas entregues
aos seus próprios pecados e afirma que: “do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade
e injustiça dos homens...” (Rm 1.18a). Deus não deixará os pecadores obstinados sem o merecido
juízo.
Paulo diz que homens ímpios entregues aos seus desejos carnais eram “loucos, idólatras, entregues
aos seus desejos pecaminosos, cheios de paixões infames” (Rm 1.18-28), entre outros adjetivos
terríveis. A lista de práticas pecaminosas é enorme, mostrando como a cegueira provocada pelo
pecado leva o homem a viver em “abismo (que) chama outro abismo”. Nos versículos 28 a 32 deste
mesmo capítulo, Paulo descreve a tragédia do homem divorciado da Palavra de Deus.
Percebam que tais homens vivem sem se importar em conhecer a Deus, nem aceitar o Seu senhorio
e por conta disso desprezam a possibilidade de arrependimento. Diante desta recusa da parte do
homem, Deus os entrega para que vivam conforme suas vontades, sabendo, porém, que serão réus
de juízo do Senhor. Amado irmão, quantas pessoas tem vivido assim em nossos dias? Sabem da
verdade revelada pelas Escrituras mas preferem satisfazer seus desejos carnais, mesmo que o preço
cobrado por esta satisfação seja alto demais, ou seja, a condenação eterna.
De volta às palavras de Pedro, cujas cartas são objetos de estudo nesse trimestre, percebemos que
os falsos mestres estavam distorcendo as doutrinas cristãs, ensinando que os crentes não
precisariam viver uma vida de consagração a Deus e separação do pecado. Igualmente hoje são
muitas as falsas doutrinas e perversões dos costumes que tentam semear como joio na seara do
Senhor. São pessoas que acreditam que tudo é permitido, que nada mais é pecado, “desde que te
faça feliz e não faça mal ao próximo”, dizem os pregadores libertinos. Temos inclusive igrejas que
defendem o relacionamento homossexual entre seus membros, ou até o relacionamento sexual
entre jovens solteiros, “desde que tenham um sincero compromisso de amor entre si”, ensinam os
propagadores da imoralidade. Uma verdadeira afronta à sã doutrina!
Pedro apresenta as seguintes práticas pecaminosas ensinadas pelos falsos mestres e seguidas por
alguns cristãos em seus dias. Vejamos:
a) “seguem os desejos impuros da carne” (2 Pe 2.10, NVI). Devemos lembrar que as igrejas para as
quais Pedro escreveu estavam sob ataque frontal de falsos mestres gnósticos. Para eles o corpo em
si mesmo é mal e, portanto, era preciso destruir o corpo o mais rápido possível, inclusive, através
de práticas pecaminosas. Sobre isso Champlin escreve: “os gnósticos, embora se apresentassem
como os mais espirituais de todos os homens, realmente andavam segundo sua natureza ‘carnal’ ou
pecaminosa, expressando isso em sua conduta diária, o que era uma desgraça para a comunidade
dos crentes onde isso ocorria”1. Estes falsos ensinadores eram impulsionados por um sentimento
egoísta que os cegava para a vontade de Deus. Pedro continua e os classificando-os como atrevidos,
obstinados e que não receiam blasfemar das autoridades. Para esclarecer estas características
faremos uso mais uma vez de Champlin, vejamos nos tópicos a seguir.
b) “atrevidos”. No grego é tolmetes, que também significa audacioso ou atrevido. Esses se
mostravam “atrevidos no egoísmo”, temerários, não submetendo a qualquer restrição legal, pessoal
ou externa.
c) “arrogantes [ou obstinados]”. No grego, é authades, palavra que se deriva de autos (de si mesmo)
e edomai (de deleitar-se em). Em outras palavras, alguém amante de si mesmo. Viviam para agradar
a si mesmo e nada mais. Eram os supremos modelos de comportamento egoísta, nada tendo
aprendido da lei do amor ensinada por Cristo.
d) “não temem blasfemar das autoridades”. No grego, é blasphemeo, que é “falar injuriosamente”
contra Deus, contra o homem ou contra qualquer outra criatura. Não sabiam controlar a língua.
Neste ponto é válida a observação do comentarista bíblico Warren W. Wiersbe:
A natureza decaída do ser humano estimula o orgulho. Quando o ego está em jogo, não
há nada que impeça esses apóstatas de promover e de proteger a si mesmos. Sua
atitude é completamente oposta à de Jesus, que se esvaziou a si mesmo a fim de se
tornar um servo e morreu como sacrifício por nossos pecados [...] Sua arrogância era tal
que estavam dispostos a desafiar até mesmo Deus para conseguir o que desejavam.2
Percebam que este era o tipo de pessoa que se considerava acima de todos e que por sua arrogância
não se submetiam a ninguém. Ainda temos muitos em nossas igrejas que levados por um espirito
faccioso mantem-se rebeldes, buscando satisfazer exclusivamente os seus desejos carnais. A estes

1
CHAMPLIN, 2014, p. 254
2
WIERSBE, 2014, p. 584
o alerta continua válido: “O Senhor tem reservado os injustos para o Dia do juízo, para serem
castigados” (2Pe 2.9, paráfrase nossa).

II. COMPORTAMENTOS DECORRENTES DOS FALSOS ENSINOS


Pedro afirma que estes homens agiam como animais irracionais, cumprindo em suas carnes todos
os desejos pecaminosos que sentiam e por fim, seguiam um caminho que os afastaria
definitivamente de Deus. Entrariam pelo caminho da apostasia.
O versículo 12 tem seu início da seguinte forma: “Mas estes, como animais irracionais...”. E em
verdade, tanto os “brutos irracionais” como os que seguem seus ensinos estão destinados a serem
destruídos.
Na continuidade do texto observamos que Pedro vai destacar o modo hedonista pelo qual estes
falsos mestres vivem e ensinam a viver, pois “...tais homens têm prazer nos deleites cotidianos [...]
olhos cheios de adultério e não cessando de pecar, enganando as almas inconstantes” (vv 13,14).
De acordo com Wiersbe tais palavras “deixam claro que se trata de um divertimento de caráter
sensual. Também dão a ideia de libertinagem, maciez e extravagancias”3. Estes pseudodoutores
gnósticos se entregam a todo tipo de pecado sexual, inclusive em adultério continuo, pois
acreditavam que agindo assim estariam degradando seus corpos mais rápido e deixando livre suas
almas incontaminadas (lembre-se que para os gnósticos o corpo é prisão da alma, sendo esta pura
e incontaminável independente do que se faça ao corpo).
Nesta perniciosa crença estava envolvido tanto a falta de caráter, como crenças demoníacas que já
haviam sido motivo de embaraço para o povo de Deus em toda a história apresentada na Bíblia. É
neste ponto que Pedro faz a observação de que aquele que segue por este caminho estaria seguindo
pelos “caminhos por Balaão” (2Pe 2.15). Balaão era um falso profeta que não conseguindo
amaldiçoar o povo abençoado de Deus, resolveu embaraça-los através de mulheres impuras (Nm
23-25). Wiersbe faz uma pertinente observação: “podemos ver em Balaão dois aspectos da
apostasia que Pedro enfatiza neste capítulo: concupiscência e avareza. Ele amava o dinheiro e levou
Israel a entregar-se à lascívia”4. William Barclay nos esclarece que:
(1) Balaão era ambicioso. À medida que se desenvolve o relato vemos como os dedos de
Balaão tremem de ansiedade por conseguir o ouro de Balaque e como lhe brilham de cobiça
os olhos. Claro que o obteve, mas o mau desejo de tomá-lo esteve presente. Os ímpios do
tempo de Pedro eram ambiciosos, estavam dispostos a obter tudo o que pudessem
conseguir, estavam dispostos a explorar sua condição de membros da Igreja para obter
ímpios benefícios.
(2) Balaão ensinou Israel a pecar. Mais que por alguma outra característica, Balaão passou
à história como o homem que ensinou Israel a pecar. Tirou o povo do caminho reto e o pôs
no caminho tortuoso. Os ímpios contemporâneos do apóstolo Pedro estavam seduzindo os
seguidores de Cristo, tirando-os do caminho esboçado por ele e levando-os a quebrantarem
os votos de lealdade com que se haviam comprometido com seu Senhor 5.

III. O PERIGO DA APOSTASIA (2Pe 2.20-22)


É possível perder a salvação? Esta pergunta tem sido motivo de grandes debates dentro da teologia
cristã, especialmente, entre seguidores das correntes teológicas calvinista e arminiana. Nós,
pentecostais, cremos verdadeiramente na possibilidade de um crente genuíno deixar o caminho da

3
Idem, p. 585
4
WIERSBE, 2014, p.588
5
BARCLAY, S/D, p. 63
salvação e se perder mediante um ato de apostasia. Esta parece ser a mesma posição de Pedro ao
advertir seus leitores de que se seguissem os caminhos dos falsos mestres poderiam
inevitavelmente perder a tão preciosa esperança de vida eterna.
Pedro destaca (2Pe 2.20) que estas pessoas “haviam escapados da corrupção do mundo pelo
conhecimento de Jesus”, e aponta que se “eles se envolveram novamente nestas praticas” (como
era o caso de muitos crentes), “o seu último estado tornou-se pior do que o primeiro”. Ele ainda
conclui dizendo que: “Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que,
conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (v. 21). William Barclay
analisando estes textos afirma:
Se nunca ouviu a verdade, se nunca ouviu a mensagem de Cristo, não pode ser
condenado por não aceitá-lo e obedecê-lo. Mas se o conheceu e, deliberadamente,
toma o caminho oposto, peca contra a luz; conheceu o melhor e escolheu o pior; pecou
em que pese ter pleno conhecimento do que está fazendo. E se isto assim, teria sido
melhor que nunca tivesse conhecido a verdade porque este conhecimento lhe serve de
condenação. Ninguém deveria esquecer a responsabilidade que lhe impõe o
conhecimento.6
Corroborando com a posição de que é possível ao crente apostatar da fé quero deixar parte do
excelente comentário feito pelo teólogo pentecostal José Gonçalves ao analisar o texto de Hebreus
6.4-6. Em primeiro lugar, Gonçalves apresenta o conceito de apostasia e define quem seriam
aqueles que poderiam cometer tal pecado. Segundo o autor, “o substantivo apostasia aparece em
Atos 21.21 e em 2Tessalonicenses 2.3. Já o verbo aphistemi, de onde se originou apostasia, é
traduzido pelo léxico de Thayer como cair, tornar-se infiel a Deus”7. Desta forma, apostasia é o ato
de afastar-se de Deus de modo consciente e contínuo tornando-se infiel ao Eterno.
Não obstante, este teólogo ainda ressalta que é preciso se atentar que a apostasia não é uma prática
eventual de pecado, na verdade, “nem tampouco um tropeço que o cristão teve na sua
caminhada”8. Gonçalves citando Adam Clarck deixa mais explicito o que é o apóstata:
[...] alguém que rejeita completamente a Jesus e seu sacrifício e renuncia a todo o
sistema evangélico. Isso nada tem a ver com os desviados no uso comum do nosso
termo. Um homem pode cair repentinamente em uma falta ou ainda deliberadamente
andar em pecado e, porém, não rejeitar o evangelho nem negar ao Senhor que lhe
comprou. Sua situação é temerária e perigosa, mas não sem esperança. O único caso
sem esperança é o do apóstata deliberado, que rejeita o evangelho depois de haver sido
salvo pela graça ou convencido da verdade do evangelho. Para o tal, já não resta mais
sacrifício pelo pecado, porque já houve um, o de Jesus, e ele o rejeitou por completo.9
Ao observarmos a definição acima exposta compreendemos que aqueles falsos mestres já haviam
apostatado da fé, caso já a tivesse abraçado algum dia. E de igual modo, muitos crentes, convencidos
pelos falsos ensinos estavam apostatando da fé e, portanto, perdendo a salvação por livre escolha.
Não era uma mera hipótese, era um fato concreto de que estes um dia conheceram a Cristo e agora
estavam o rejeitando (apostatando da fé). Gonçalves mais uma vez nos traz um alerta genuíno:

6
BARCLAY, S/D, p. 64
7
GONÇALVES, 2017, p.133
8
Idem, p.134
9
Idem, p.135
“Quem está em Cristo está seguro da vida eterna (1 Jo 1.7; 2.24,28), mas não há segurança alguma
para quem ser afasta dEle”.10
Por fim, Silas Daniel ao comentar 2Pedro 2.9-22 nos apresenta o trágico caminho que o apóstata
seguirá caso prossiga trilhando a senda da obstinação, pois “aquele que termina sua vida na terra
em apostasia terá o mesmo destino do apostata irremediável: a perdição eterna”11. Apostasia tem
como destino a condenação eterna e por isso é urgente que marchemos fieis ao Senhor Jesus e sua
Palavra, pois a promessa para os que perseveram até o fim é a vida Eterna (1Jo 2.25).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pedro apresenta nesta secção uma gama de advertências para aqueles que seguem os caminhos
dos falsos mestres, bem como apresenta as características dos falsos mestres e daqueles que são
deduzidos por estas falsas doutrinas. O perigo é sempre destacado na fala de Pedro. E o maior perigo
é a apostasia e por conseguinte a perda definitiva da salvação. Diante destes alertas é urgente que
a Igreja do século XXI marche em santidade e fidelidade, sem dar ouvidos a falsos ensinadores que
buscam inteiramente satisfazer suas vontades pessoais. Estejamos alertas e sempre fiéis aos
princípios da Palavra de Deus.

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Revisão e adaptação do subsídio feitas por Tiago Rosas, administrador de @EBDinteligente
_________________

SOBRE O AUTOR DESTE SUBSÍDIO


Jefferson Rodrigues é evangelista da Igreja Assembleia de Deus no estado do Piauí. É professor
de História e de Teologia, e também escritor de vários livros publicados, entre eles: Escudo
pentecostal: uma visão panorâmica das principais doutrinas pentecostais, publicado pela
editora Reflexão. Agora, também colaborador da página EBD Inteligente.

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10
GONALVES, 2017, p.152
11
DANIEL, 2017, p.463
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
BARCLAY, William. O Novo Testamento comentado por William Barclay: 2ª Carta de Pedro.
Disponivel em: <https://files.comunidades.net/pastorpatrick/2Pedro_Barclay.pdf> acesso em 17 de
setembro de 2019.
CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo:
Hagnos, 2014. Vol. 6.
DANIEL, Silas. Arminianismo, a mecânica da Salvação: uma exposição histórica, doutrinária e
exegética sobre a graça de Deus e a reponsabilidade humana. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
GONÇALVES, José. A supremacia de Cristo: fé, esperança e animo na carta aos Hebreus. 1ª Ed. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017.
SANTOS, Vladimir Milomem. A razão da nossa esperança: alegria, crescimento e firmeza nas
Cartas de Pedro. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2019.
WIERSBE, Warren W. Novo Testamento. 1ª edição. São Paulo: Geografica Editora, 2014. Volume II

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