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“[...] Que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do
maligno e matou a seu irmão [...]” 1Jo 3.11,12
O capítulo 4 do livro do Gênesis apresenta a consumação do pecado e sua história de
implicações práticas para o gênero humano. O assassinato de Abel por seu irmão,
Caim, é o símbolo do alcance do mal quando este domina o coração humano. E o
consequente banimento de Caim da presença de Deus mostra o quanto o homem se
afasta da presença do Altíssimo quando decide em seu coração fazer o mal.
Tudo começa bem na vida do ser humano. Assim, Caim nasceu e cresceu numa
família que devotava a vida a Deus, tanto que a sua mãe, Eva, devotou a Deus ação
de graças: “Alcancei do Senhor um varão” (Gn 4.1). A vida de Caim para os seus pais
era uma bênção de Deus. Um presente.
Adulto, Caim tornara-se um agricultor, pois trabalhava a terra, administrava-a e assim
cumpria o plano de Deus estabelecido para a humanidade (Gn 1.26-28). Fazendo
assim, Caim obedecia a Deus. Até que, num belo dia, o ciúme, a inveja e o desejo
egoístico tomaram o coração de Caim. Seu sacrifício fora rejeitado por Deus e o de
seu irmão, aprovado e aceito por Ele. A razão de o Senhor aceitar o sacrifício de Abel
e rejeitar o de Caim, embora não esteja totalmente claro nas Escrituras, pelo menos
deixa claro que o Senhor olhava e olha com atenção e justiça para o interior do ser
humano, de modo que nada lhe escapa o olhar divino.
Caim não se achou aprovado, muito menos aceito, pelo olhar de Deus. Entretanto,
essa reprovação de Deus não significava que Caim seria banido de sua presença, pois
bastava outro sacrifício com a motivação correta, espontânea e voluntária que o
Senhor não haveria de rejeitá-lo. Mas Caim não escolheu o caminho do bem. Ele
matou o seu irmão covardemente. O resultado: Caim foi banido da presença de Deus.
O caminho de Caim é muito fácil de trilhar. Basta dar vazão ao ódio, à inveja, ao
rancor, à raiva e a tudo que não esteja de acordo com o nosso interesse. O caminho
de Caim está a cada dia próximo de nós, quando rejeitamos considerar o nosso
próximo superior a nós mesmos. O caminho de Caim está mais próximo das nossas
vidas, quando procuramos fugir da realidade inventando desculpas para não fazermos
a nossa parte com retidão.
Qual o caminho que você deseja trilhar: o de Caim ou o de Jesus? - Revista Ensinador
Cristão nº64-pg.38
Quem ama de verdade não se deixa dominar nem pela inveja nem pelo
ódio.
INTRODUÇÃO
Se o orgulho é o primeiro dos pecados, a inveja talvez seja o segundo. Logo atrás de
si, vem o medo que, não controlado, acaba por gerar o ódio e outros pecados ainda
mais deletérios. Antes o invejoso. Agora, o assassino dissimulado e frio. Mais além, o
réu confesso. Na terra, clama o sangue do irmão.
O Senhor, todavia, intervém e desfaz, ali mesmo no Eden, o motim que visava
transformar-lhe o Reino no império de Satanás. A partir daquele momento, o
inimigo perde uma aliada, ao passo que Deus ganha uma grande auxiliadora.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“A história dos primeiros dois rapazes nascidos a Adão e Eva realça as repercussões
do pecado dentro da unidade familiar. Caim e Abel, tinham temperamentos
notavelmente opostos. Caim gostava de trabalhar com plantas. Abel gostava de estar
com animais. Ambos tinham uma disposição de espírito religioso.
Os filhos de Adão levaram sacrifícios ao Senhor, o primeiro incidente sacrificial
registrado na Bíblia. Que Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da
sua gordura não quer dizer necessariamente que animais são superiores a plantas
para propósitos sacrificiais. Por que atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta
fica evidente à medida que a história se desenrola. A primeira pista aparece quase
imediatamente. Caim não suportava que algum outro ficasse em primeiro lugar. A
preferência do Senhor por Abel encheu Caim de raiva. Só Caim podia ser o ‘número
um’.
O Senhor não estava ausente na hora da adoração. Ele abordou Caim e lhe
deu um aviso. Deus não o condenou diretamente, mas por meio de um jogo de
palavras informou Caim que ele estava em real perigo. Em hebraico, a palavra
aceitação é, literalmente, levantamento, e está em contraste com descaiu. Um
olhar abatido não é companhia adequada de uma consciência pura ou de uma
ação correta. O ímpeto das perguntas de Deus era levar Caim à introspecção e
ao arrependimento” (Comentário Bíblico Beacon. 1ª Edição. Volume I. RJ: CPAD,
2005, p.43).
E provável que Satanás haja tentado cooptar também Abel. Este, todavia,
observando os conselhos paternos, não lhe dera guarida. O tentador, não se
dando por vencido, propõe-se a destruí-lo pelas mãos de Caim. Dessa
maneira, imaginava o Maligno, poderia comprometer de vez a germinação da
semente da mulher. Abel seria destruído, morrendo; Caim, matando.
2. Um perfeito aliado de Satanás. Se não pode ter Eva como aliada, por que
não o seu primogênito? Havendo, pois, o Diabo trabalhado a religiosidade de
Caim, já o tinha como aliado. Agora, poderia contrapor-se ao estabelecimento
do Reino de Deus, que viria através da semente da mulher.
Caim, portanto, aliou-se a Satanás. Fez-se tão diabo quanto o próprio Diabo.
Assim ocorre com os que, desprezando a Deus, pecam e fecham-se ao
arrependimento. Aos tais, a perdição eterna. Caim, além da depravação
essencial, totalmente depravou-se ao ignorar o apelo divino.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“‘E irou-se Caim fortemente’ (4.5). A ira de Caim mostra quão decidido ele
estava em agir por conta própria, sem se submeter a Deus. A ira é uma
emoção destruidora. Nunca poderemos nos desculpar por ter ofendido alguém
dizendo:
‘Tenho um temperamento agressivo’.
Precisamos considerar a ira como pecado e conscientemente nos submeter à
vontade de Deus” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de
Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.28).
Nessa época, o único que sabia matar era Abel. Sendo ele pastor de ovelhas, das
primícias destas apresentava regularmente uma oferenda ao Senhor. Não sei quantos
cordeiros santificara em sua adoração. Mas, certamente, aprendera a imolá-los no
altar que, rusticamente, construíra. Caim, que o observava atentamente, não demorou
a premeditar o assassinato do irmão: Por que não matar Abel como Abel matava suas
ovelhas? Por que não sacrificar o sacrificador?
Vem o Senhor, então, e pergunta-lhe: “Onde está Abel, teu irmão'”’ (Gn 4.9). E
bem provável que Caim, ao ser arguido de forma tão direta pelo Autor e
Conservador da vida, haja sido tomado pela surpresa. Afinal, o seu crime fora
executado com requinte, astúcia e muita discrição. Ninguém vira nada. Nem o
pai, nem a mãe. Talvez ele não soubesse ainda que Deus é tanto onisciente
quanto onipresente. Mas, agora, sabe que nada poderá escondê-lo do Juiz de
toda a Terra.
Mesmo arguido judicialmente pelo Senhor, desculpa-se Caim: “Não sei; acaso,
sou eu tutor de meu irmão?”’ (Gn 4.9). Em sua resposta, descortinamos uma
filosofia violenta e contrária à lei do amor. Em primeiro lugar, Caim encobre o
seu pecado com outro pecado. Embora soubesse onde estava seu irmão,
mente. O corpo de Abel jazia nalgum lugar, talvez até insepulto. Em seguida,
alega não ter qualquer responsabilidade sobre o irmão mais novo. Diz não ser
tutor de Abel. Irmão mais velho, tinha ele, sim, responsabilidade quanto ao
caçula da família. Caim era tutor de seu irmão. Portanto, deveria ter agido
como referência moral e ética de Abel.
Na verdade, ele bem sabia onde estava Abel. Quanto à sua tola indagação,
não precisava de resposta alguma. Na qualidade de irmão mais velho, ele era,
sim, como já dissemos, tutor do mais novo. Assim como Judá, mais tarde,
haveria de responsabilizar-se por Benjamin, deveria o perverso e desalmado
primogênito ter-se dado fraternalmente pelo caçula (Gn 44-32-34).
“Que fizeste?” Caim sabia o que havia feito quando ele e Abel encontravam-se
sozinhos no campo. Julgando-se longe dos olhos dos pais, matara-o. Todavia,
Deus, que a todos vê e escrutina, presenciara-lhe o homicídio, qualificando-o
como gravemente doloso: ‘A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim”
(Gn 4.10). O sangue de Abel fizera-se eloquente e irretorquível; clamava a
Deus, não por vingança, mas por justiça. Sem outro tribunal a que recorrer,
Caim ouve o veredito do Juiz de toda a terra: “Es agora, pois, maldito por sobre
a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão.
Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força,- serás fugitivo e errante
pela terra” (Gn 4-11-12).
Caim não seria punido com a morte, mas com a vida. Ninguém o mataria, mas
todos haveriam de censurá-lo por haver, covardemente, matado Abel. O seu
castigo, além de pessoal, seria também doméstico e social.
CONCLUSÃO
Por que Caim matou Abel?
Se procurarmos a resposta na psicologia, ou na sociologia, corremos o risco de
inocentar o assassino e condenar o assassinado. Mas, se nos voltarmos à
Palavra de Deus, encontraremos uma resposta simples, direta e que não
deixará margem alguma à dúvida Responde-nos o discípulo do amor: “Porque
a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos
outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por
que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas”
(1Jo 3.12).
Não são poucas as ovelhas que, em nossos redis, são vítimas de mercenários
e lobos vorazes. Dos maus obreiros, nem os pastores logram escapar.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Caim foi amaldiçoado por Deus no sentido de Deus já não abençoar seus esforços
para extrair da terra o seu sustento (vv.2,3). Caim não se humilhou com tristeza e
arrependimento diante de Deus, pois afastou-se do Senhor e procurou viver sem a sua
ajuda (v.16).
O sinal na testa de Caim (4.15) talvez deva ser entendido como posto em Caim para
assegurá-lo da promessa de Deus. Caim não sofreu pena de morte nesse tempo.
Posteriormente, quando a iniquidade e a violência da raça humana tornou-se extrema
na terra, a pena de morte foi instituída (9.5,6).
Caim e seus descendentes foram os cabeças da civilização humana até hoje desviada
de Deus. A motivação básica de todas as sociedades humanistas está em superar a
maldição, buscar o prazer e reconquistar o ‘paraíso’, sem submissão a Deus. Noutras
palavras, o sistema mundial fundamenta-se no princípio da autorredenção da raça
humana na sua rebelião contra Deus