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“A Necessidade de Congregar”

O conteúdo da carta aos Hebreus é dividido em duas partes principais: a) doutrinária; b)


prática ou pastoral. 

O autor expõe na parte doutrinária que Cristo é o clímax da revelação de Deus (1:1-3); a sua
superioridade em relação aos anjos, a Moisés e ao sacerdócio Levítico (1-11); explica sobre a
tipificação e simbolismo das cerimonias no AT, como sombra do que haveria de vir, Cristo
(10:1-18) e que Jesus é sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque.

Na segunda parte ele aborda de modo prático como os crentes hebreus (aqueles a quem
primeiramente a carta foi escrita) deveriam viver a luz dessas verdades doutrinárias.

■ O autor exorta a Igreja não agir como os apostatas (6:1-12); a não cometerem o mesmo erro
que o povo de Israel cometeu no passado rebelando-se contra o Senhor e apostatando da fé
(10.26-31);

■ Exorta esses crentes hebreus à perseverança e progresso na Fé como fizeram os homens e


mulheres de Deus no AT, sempre olhando para o Autor e Consumador da nossa fé, Cristo (11-
12);

■ Buscar a santidade (12:14-17), o amor fraternal (13:1-6) e a honra mútua (13:7-17).

É nesse contexto doutrinário, prático e pastoral que o autor exorta os leitores originais e
também a nós, a não deixar de congregar, como era o costume de alguns.

Contexto Anterior
Mas antes de expor propriamente o texto que originou o tema dessa pregação, é preciso que falemos do contexto anterior, os
versos imediatamente anteriores a passagem. O autor usa muitas figuras do AT para mostrar aos seus leitores originais, que eram
hebreus (judeus) convertidos, que esses ritos, cerimonias e ministérios em Israel, eram sombra de Cristo!

Ele fala sobre a ineficácia dos ritos e leis cerimonias do AT (10:1) para salvar: “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros,
não a imagem real das coosas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano,
perpetuamente eles oferecem”. 

Os sacrifícios diários e anuais em Israel nunca foram exigidos por Deus como meio de salvação, nem mesmo a Lei. Mas serviam
para apontar para a morte sacrificial de Cristo, que de uma vez por todas cancelaria o escrito de dívida que pesava sobre nós (Cl
2:13-15). O autor reafirma essa verdade ao dizer (10:3-4): “Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os
anos, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados. Os sacerdotes apresentam sacrifício diariamente,
todavia, Cristo como sumo sacerdote e a própria oferta, apresentou-se perante o Senhor nos Santos dos Santos de uma vez por
todas” (10:11-18).

Através de Cristo, é tão somente por Ele, pelos seus méritos expiatórios, temos livre acesso a presença do Pai (10:9): “Tendo, pois,
irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus”.

O escritor sagrado está dizendo a esses irmãos hebreus, que em Cristo todos os ritos cerimoniais no tabernáculo e depois no
templo, se cumpriram. Em Cristo temos acesso a presença do Pai, porque Ele é o Novo e Vivo Caminho! Como o próprio Jesus
afirmou aos discípulos, que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida e ninguém pode ir ao Pai senão por ele (Jo 14:6). Devemos entrar
na presença de Deus com ousadia, intrepidez, confiados nos méritos de Cristo, porque ele é o nosso Mediador (1 Tm 2:5), o nosso
Advogado Justo (1Jo 2:1-3); e a nossa justificação (Rm 5:1)! O véu foi rasgado de uma vez por todas! Quando Cristo morreu na
cruz, é dito que o véu do templo rasgou de alto a baixo (Mt 27:51-53).

Não existe mais necessidade de “mediadores", temos um único Sumo Sacerdote que nos representa na presença do Pai, para
sempre! O Senhor Jesus é o grande sumo sacerdote na Casa de Deus (10:21-22). O sacerdócio levítico apontava para Jesus (7. 4-
19). Os sumos sacerdotes da casa de Arão, apontavam para o Sumo Sacerdote segundo a Ordem de Melquisedeque (7:1-3). Para
ele tudo converge, se cumpre! Por isso, devemos entrar com coração sincero e plena certeza de fé na presença do Senhor (10:23)!

A convicção de fé envolve crer em tudo que a Escritura testemunha sobre Jesus. O coração sincero é de alguém que foi
alcançado pela graça.

A Necessidade de Congregar
“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”.
(10:24)

1. O autor exorta esses crentes a congregar, considerando uns aos outros, para que
mutuamente ocorra o estimulo espiritual para a caminhada. A comunhão da igreja é, dentre
outros fatores, uma forma de estimulo espiritual. O amor é estimulado, e a santidade é
desenvolvida com maior intensidade. A relação social na comunidade cristã exerce sobre nós o
aperfeiçoamento na fé! 
Porque ele diz: “Não deixemos de congregar-nos como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto
vedes que o Dia se aproxima”. (10: 25)

2. Porque o escritor fala para não deixar de congregar? Porque alguns haviam deixado: a)
muitos haviam abandonado a fé e a igreja (6:4-8); b) outros retrocederam na fé, voltando a
práticas judaicas já cumpridas em Cristo (10:32-39); c) outros que estavam congregando
estavam com as mãos descaídas, joelhos trôpegos e profundamente desanimados na fé
(12:12-13). Logo, esses irmãos deveriam se reanimar no Senhor e se firmar na  esperança da
volta de Cristo, que virá para buscar a Sua igreja, e não os apostatas ou desigrejados!

O termo “desigrejado” é moderno, tá na moda infelizmente. Não gosto dele, mas o uso aqui
para contextualizar a mensagem à nossa realidade que é essencialmente a mesma do autor.
Não quero dizer com isso que desigrejados não serão salvos porque estão fora da igreja. A igreja não salva ninguém, muitos que
estão na igreja não serão salvos, porque nunca conheceram realmente o Evangelho! Muitos desses desigrejados estão nesse
estado por uma frustração com a Teologia da Prosperidade, outros por problemas de relacionamentos no corpo, e ainda outros
por total imaturidade espiritual e ignorância bíblica. Contudo, muitos que estão desigrejados por ter abandonado
deliberadamente a vida em comunidade, a comunhão da igreja, demonstrando com isso, nunca terem conhecido realmente o
Evangelho!

■■ A pessoa que realmente entendeu a essência do Evangelho e o Supremo Pastor da igreja,


anseia por fazer parte do corpo de Cristo em adoração e serviço. Não existe epístolas no NT
para desigrejados, apenas para os “igrejados"! É uma profunda incoerência afirmar que ama o
Senhor e odeia o seu povo!

3. O culto na vida diária e individual conduz o crente a participar do culto coletivo com o
povo de Deus! É completamente incoerente que alguém afirme ser um verdadeiro adorador e
não deseje intensamente adorar juntamente com o povo de Deus e ser pastoreado (Hb 13:7-
9).

A Vinda do Supremo Pastor está próxima, e devemos nos exortar mutuamente para que
vigiemos e perseveremos nessa esperança.

4. Quem não congrega, não pode ser exortado a vigilância e santidade, pois vive no
individualismo e egoísmo, disfarçado de piedade! Talvez seja essa uma das maiores razões
para a existência de desigrejados, a falta de humildade e incoerência de achar que pode viver a
vida cristã sem congregar. O orgulho impede de viver em comunidade, ser orientado
pastoralmente, submeter-se a uma liderança espiritual (Hb 13:7-17) e ser instruído pelo
convívio cristão, e as vezes até conflitantes, com os demais membros da igreja!

5. A vida fora da comunidade cristã, da comunhão dos santos, estimula a prática de


pecados  (10: 26-27): “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento
da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a
consumir os adversários”.  A
razão é simples, quando estamos em comunhão com os santos em Cristo,
somos constrangidos pelo amor de Deus e exortados pela Palavra, estimulados na fé com o
bom exemplo de muitos irmãos e irmãs, enfim, tudo isso nos estimula a buscar em primeiro
lugar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6:33).

Todavia, quando estamos distantes da igreja, somos mais suscetíveis as tentações da carne,
do mundo e do Diabo. O curso natural é afastar-se progressivamente da santidade e cometer
vários pecados que começam a ser justificados na mente como normais e que os que a igreja
prega contra é fruto de religiosidade e legalismo. Não discordo que na igreja existem práticas
proibidas que não são proibidas por Deus, fruto de tradição e costumes errados, mas é
também verdade que na igreja fiel às Escrituras, somos exortados constantemente a
santidade!

Considerações Finais

Temos livre acesso a presença do Pai, pelo novo e vivo Caminho, Cristo! Devemos entrar
diariamente em devoção, por meio da fé em Cristo!

Precisamos perseverar até o fim, crendo em todas as promessas redentoras de Deus, feitas a
nós! Corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o
autor e Consumador da nossa fé, Cristo (12:1-3)! Sem, contudo, deixar de servir a Cristo na
comunhão dos santos.

Aprendemos com esse texto que é na comunhão da igreja que nos estimulamos na fé, na
esperança e no amor! É na comunhão da Igreja que nos exortamos a viver em santidade! É na
comunhão da Igreja que amadurecemos na fé! A igreja não é perfeita, é composta de
pecadores salvos pela graça, mas se fosse perfeita, deixaria de ser quando você e eu
entrássemos para adorar!

Viver isoladamente, é uma clara evidência de falta de piedade, e talvez de conversão! O crente
verdadeiro anseia e se alegra por estar com o povo de Deus! O crente verdadeiro usa seus
dons para a edificação do corpo! O crente verdadeiro compreende as falhas da igreja e luta em
oração para que ocorra arrependimento e quebrantamento da mesma! O crente verdadeiro
clama a Deus para fortalecer a Igreja! O verdadeiro adorador anseia pelo Dia que congregará
com uma multidão incontável perante aquele que está no trono e ao Cordeiro, na Nova
Jerusalém (Ap 7:9-17)! A Ele toda a glória, hoje e sempre! Amém.

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