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ANO VIII VOL.

46 BIMESTRAL - JULHO 2014 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

• NAVIOS ILUMINADOS • PIANO SOLTO

• DECISÃO

MUSEU PELÉ

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EDITORIAL Sumário
Edição 46 - Ano 8 - Julho de 2014
Olá, leitores:
4 TROVAS
Após a ressaca da Copa do
5 DECISÃO
Mundo, a expectativa é que Carolina Ramos
a mesma confiança, união e 6 NAVIOS ILUMINADOS PELO PORTO DE SANTOS
disposição se mantenham e Maria Apparecida Franco Pereira
façam valer a missão e o pri- 7 UM GRANDE ERRO SOBRE SANTOS
vilégio de escolher àqueles DUMONT
Fernando Jorge
que administrarão o nosso
país. Religião e Política são 8 UM VELHO TEMA SEMPRE ATUAL
Wilma Therezinha Fernandes de Andrade
temas que não proporcionam
unanimidade, mas enquanto 9 POR UM CONGRESSO INEXPRESSIVO
Ives Gandra da Silva Martins
a primeira nos conduz a um
10 PIANO SOLTO
direcionamento pessoal, a se- Maria Zilda da Cruz
gunda tem consequências in-
trinsicamente coletivas e im-
11 40 ANOS SEM CASSIANO RICARDO
Cláudio de Cápua
pactam diretamente na vida
de todos os brasileiros. 12 ROSEMARY E O ROJÃO
Lauret Godoy
Na capa de Santos Arte e
Cultura, o recém-inaugurado 12 HEXACAMPEÃO!?!?
Antonio Colavite Filho
Museu Pelé, que expõe mais
13 O SOBRADINHO DA VILA OPERÁRIA
de 2.500 peças do esportista, Ecilla Bezerra
como chuteiras, condecora- 14 SER DIFERENTE
ções, troféus, dentre outros. Adriana de Oliveira Ribeiro
Funciona no Casarão do Va- 15 NOSSA SENHORA DO MONTE SERRAT:
TRÊS IGREJAS AO LONGO DO MAR
longo, imóvel do século 19, Ney Malvásio
que, por si só, já é uma gran-
16 TABAGISMO
des atração. Josué Reinaldo Ferreira
Esperamos que gostem! 17 NOTAS CULTURAIS
Boa leitura
18 ESPAÇO DO LIVRO

O Editor

Expediente
Editor - Cláudio de Cápua. MTB 80
Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190.
Editoração Gráfica - Liane Uechi
Revisão: Cláudio de Cápua
Designer Gráfico - Mariana Ramos Gadig Gonçalves
Fotos: Gervásio Rodrigues
Capa: Museu Pelé - J.A.Sarquis
End.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP. E-mail: revistaartecultura@yahoo.com.br
Participam desta edição: Adriana de Oliveira Ribeiro; Antonio Colavite Filho; Carolina Ramos;
Cláudio de Cápua; Ecilla Bezerra; Fernando Jorge; Ives Gandra da Silva Martins; Josué Reinal-
do Ferreira; Lauret Godoy; Maria Apparecida Franco Pereira; Maria Zilda da Cruz; Ney Malvásio
e Wilma Therezinha Fernandes de Andrade. Os autores têm responsabilidade integral pelo
conteúdo dos artigos aqui publicados. Distribuição Gratuita. 3.000 exemplares.

PARA ANUNCIAR ENTRE EM CONTATO:


revistaartecultura@yahoo.com.br

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TROVAS
TROVAS

Nosso prazo foi pequeno, Demoras... e à luz do ocaso,


mas, hoje, sei que é verdade: refém da angústia e do medo,
- Um momento de amor pleno os meus relógios atraso
tem valor de Eternidade! para fingir que ainda é cedo!
Carolina Ramos Dilva Maria de Moraes

Na escola da minha vida Bela cidade de Santos,


aprendi a te esquecer, de praias, morros e flores,
mas fiquei tão esquecida são molduras tais encantos
que até esqueci de viver! dos seus nobres trovadores!
Nair Rodrigues Antonio Alves Passig

No jardim de minha vida O colorido das flores,


com carinho semeei... seja qual for a estação,
A ternura desmedida traz alegria de amores,
por aqueles que eu amei! encanta o meu coração.
Fabíola Savioli Edite Rocha Capelo

Fugindo...mas te querendo Voando entre nuvem...montanha...


numa louca indecisão Sou Poeta e Aviador!
ao teu olhar eu me rendo Minha ambição é tamanha
vencida pela paixão! Navego em busca do amor!
Maria Nelsi Sales Dias Cláudio de Cápua

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DECISÃO
CAROLINA RAMOS

Copa e eleições chegaram quase juntas. Mas preci- haja conscientização e união de propósitos sadios. Cruz que
sam ser estudadas em separado. simbolize a crença num Deus que dizemos brasileiro, mas que
Copa é o nosso orgulho esportivo camuflado de civis- parece tão desencantado quanto o indignado repúdio que mora
mo, desejoso de ver o Brasil brilhar coroado de louros! O que, dentro de nós!
aliás, é muito válido! Mas o que vem em seguida não permite Que maravilha, caso pudéssemos unir, numa só voz,
alienações! o jubiloso clamor de uma vitória esportiva e a vibração cívica de
A Copa, infelizmente, segue em ritmo não mais oti- uma Nação saneada, muito embora ferida em sua dignidade,
mista, marcada por fatos contundentes como o caso do nosso sofrida, dilapidada moral e financeiramente, mas saída do caos
garoto Neymar, dolorosamente injustiçado pela fatalidade ocor- de cabeça erguida, em busca da reabilitação perante a plateia
rida no jogo contra a Colômbia, que juntou um ato criminoso à mundial, que, estupefata, assiste ao que aqui se desenrola sem
impunidade que nos é familiar. Mas o brilho da atuação desse entender o porquê da nossa passividade! A primeira parte, não
“menino de ouro”, já mundialmente querido, vá para onde for a deu certo! Perdemos a Copa! Mas é a hora de nos concentrar-
Copa, acompanhará a nossa Seleção até o derradeiro apito do mos nesse resquício de esperança que é a urna!
juiz que encerrará a competição, muito embora sua ausência Hora de darmos aquele basta enrustido há tanto tem-
tivesse contribuído para o terrível vexame sofrido ante a Alema- po em nossa garganta! Basta de hipocrisia! Basta de promes-
nha. E já que perdemos a Copa vamos esquecê-la, pulando o sas não cumpridas, alheamentos oportunos, esmolas degra-
lance final do enfrentamento com a Holanda. dantes, arrogâncias, esbanjamentos e doações com o bolso
O que vem em seguida não permite alienações. É mo- alheio, com vistas a metas não nossas e que bem longe de nós
mento da mais alta responsabilidade perante a Pátria Brasilei- queremos ver! Basta de mover cordéis à vontade, como se o
ra, que exige a maior concentração, sem permitir que o voto povo brasileiro não passasse de mero fantoche, sem alma e
irresponsável venha transformar possíveis vitórias, no maior sem decisão própria! A hora é de união!
pesadelo de todos os tempos! Não faço apologia de nome algum! Brasileira, apelo
Chega de argumentos pueris! De protestos sinceros, para a consciência de cada cidadão, ao lembrar não ser mais
vandalizados por quem os quer desmoralizar! Chega de “bom- admissível a omissão, o voto em branco, ou de protesto, es-
bas” enviadas pela internet, que externam descontentamentos banjados com brincadeiras aleatórias e de mau gosto. O mo-
e nos absolvem da inércia ou incapacidade de reação. Chega mento é sério! Muito sério! É hora da escolha do nome que te-
de protestos! O momento é de ação, de decisão! É parar para nha verdadeira condição de vencer! Hora sagrada de banir o
pensar, medir prós e contras e sair do dilema: - Em quem vou que nos desagrada que, mercê do nosso acomodamento, so-
votar?! nha em se perpetuar! Nossa hora é agora!
Aceitamos ou estamos insatisfeitos com o que se pas- Unidos torcemos pela Copa! Perdemos! Mas, unidos,
sa?! A urna é nosso microfone, a nossa internet! Nela, nosso torçamos muito mais pela vitória consciente nas urnas, da qual
protesto consciente ganhará voz e luz própria! depende o resgate da nossa cidadania, a recuperação da nos-
O brasileiro pretendia largar o grito pleno, que o pas- sa dignidade e, até mesmo, quem sabe? - a própria soberania
sado justifica: - “A Copa é nossa!” Desta vez, não foi possível! do nosso Brasil!
E, em vez de gritar, que ouça os íntimos reclamos de sua Pá-
tria, que geme sob o peso do opróbrio, da corrupção e dos
desmandos que lhe vêm sendo impostos de modo ditatorial, Carolina Ramos é poetisa e escritora, vice-presidente do
como se fora corpo inerme, sem defensores! Conselho Nacional da União Brasileira de Trovadores - UBT e
A Pátria é nossa! O Brasil é nosso! Este, sim, deve ser presidente da UBT/Santos; Secretária Geral do Instituto
o grito de guerra a ecoar de norte a sul do nosso país! E tam- Histórico e Geográfico de Santos. Pertence à Academia
bém de leste a oeste, traçando sobre o corpo do gigante brasi- Santista de Letras - ASL, à Academia Feminina de Ciências,
leiro aquela cruz que o liberte dos maus ventos que o assolam! Letras e Artes de Santos - AFCLAS e à Academia Cristã de
A cruz que o ajude a acreditar que tudo ainda é possível, caso Letras de São Paulo - ACL
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NAVIOS ILUMINADOS PELO PORTO DE SANTOS
MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA

“Navios iluminados” é Santos], como de toda a cidade, da Inglesa, da City, das fá-
um romance escrito pelo bricas, dos moinhos. Fora aluno destacado do grupo escolar
dr. Ranulfo Prata (1896- da Companhia. Sabia na ponta da língua tudo quanto era
1942). Autor de inúme- regulamento e lei trabalhista. Possuía no quarto duas estan-
ros escritos, a obra de tes pejadas de brochura e caixas de sapatos entupidas de
Ranulfo Prata mais sig- retalhos de jornal. Gostava de discutir, de explicar, de orien-
nificativa para a cidade é tar, sendo figura de proa no sindicato de trabalhadores da
“Navios Iluminados”, pu- Companhia” [...]
blicada em primeira edi- Mais do que a medicina, que exercia com compe-
ção em 1937, que mere- tência e responsabilidade e no exercício dela colheu o ma-
ceu grandes elogios no terial para sua criação literária (foi chefe do Serviço de Raios
cenário nacional da época. X da Santa Casa e conviveu com os operários doentes no
O romance é um retrato Ambulatório das Docas), Ranulfo Prata sentia interiormente
vivo dos anos que medeiam os a sua verdadeira vocação em ser o escritor (ainda que re-
finais da década de 1920 e pri- servado, discreto) e não apenas “um fotógrafo” do interior
meira metade dos anos 30 no porto do corpo humano.
santista. Ranulfo Prata é um médico Mantinha-se no clima da literatura de sua época em
sergipano que chegou a Santos em 1927, onde vai atuar que saíam publicações de Raquel de Queiroz, Jorge Amado,
nos hospitais da Santa Casa e da Beneficência. Nesses am- Graciliano Ramos entre outros, que, “ambientados no Nor-
bientes de trabalho, fez amigos verdadeiros que, além da deste, buscavam contar a história do ponto de vista dos
medicina, usavam a pena literária e que se reuniam em ver- oprimidos, dos miseráveis, retratando o cotidiano sofrido da
dadeiras pequenas tertúlias. Um dos maiores amigos de parcela pobre da população. Além disso procuravam des-
Prata foi José Martins Fontes ( 1884 - 1937), unindo-os uma crever fielmente o linguajar e os costumes dos habitantes da
amizade sólida. região que lhes servia de cenário” diz Cassia dos Santos
“Navios iluminados” mostra a vida e dá voz aos em um estudo seu de crítica literária sobre anos 30 e 40.
operários do porto de Santos. Em sua pena circulam traba- Em Santos, também o médico Antonio Alberto Leal,
lhadores nacionais (de várias partes do país) e portugueses, casado com a romancista Isa Silveira e, portanto, genro do
espanhóis, italianos, japoneses entre outros, em diálogo, escritor regionalista, Waldomiro Silveira, escrevera à época
revelando suas lutas, conflitos e agruras, seus desejos de o romance “Cais de Santos”, revelando também em outro
melhorias de vida. foco o ambiente portuário, mais para o lado da região do
Diz o grande literato paulista Silveira Bueno ao pre- Paquetá.
faciar a obra: “Santos, a babel do Brasil, aí está nas páginas Santos possuía uma marcante vida cultural literária
de ‘Navios Iluminados’ com todo o doloroso drama dos seus e Ranulfo Prata deveria ser melhor conhecido para revelar-
homens do porto, da estiva, das cargas e descargas, legi- mos essa cidade.
ões dantescas de lutadores desconhecidos e incompreendi- Diz Mons.Primo da Motta Vieira, que estudou a
dos, gente diversas daquela que os veranistas conhecem, obra de Ranulfo Prata:"Santos possue para com Ranulfo
que nem sequer suspeitam possa existir. Ranulpho Prata uma não resgatada dívida de gratidão: a de fazê-lo conhe-
conheceu esta parte de Santos, tratou dos seus párias, aus- cido, porque ele engrandeceu a cidade pela sua clínica e
cultou-lhes as esperanças e as desesperanças, dando-nos pela sua arte. É preciso recordá-lo às gerações presentes”.
a mais viva e impressionante descrição da sua tragédia so-
cial.”
Isso fica muito claro, quando, em passagem de Maria Apparecida Franco Pereira é Mestra e Doutora,
“Navios Iluminados”, Prata mostra a labuta de seu protago- Historiadora da Universidade Católica de Santos
nista principal, o nordestino José Severino, que ao final vai
tornar-se tuberculoso, doença que assola a população san-
tista: “Não sentia a ruindade das cargas: o
sal e o enxofre que lhe queimavam o rosto
e as canelas; o frio das carnes congela-
das; caixas de banha de setenta e cinco
quilos que lhe dobravam o lombo; tambo-
res de soda vazando cáustico nas mãos;
os rolos golpeantes de arame farpado”.
As condições ruins de trabalho,
moradia, saúde, ou seja, de sobrevivên-
cia, reveladas no livro, podem ser compro-
vadas pelo grande número de doentes,
nos relatórios dos ambulatórios para os
Empregados da Cia. Docas de Santos.
O romance pinta ao leitor inúme-
ros quadros, o bairro operário do Macuco
e personagens da vida portuária: os vá-
rios locais de emprego dos operários, os
tipos representativos que labutam, nas lu-
tas reivindicatórias pelos seus direitos
:"Valentim era a figura entre os operários
moços, não só da Companhia [Docas de

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UM GRANDE ERRO SOBRE SANTOS DUMONT
FERNANDO JORGE

A revista Leituras da História é excelente Oliveira Orlandi: - Meu Deus, meu Deus! Não ha-
e está sendo muito bem dirigida por Valter verá meio de evitar derramamento de sangue
Costa, porém apresentou num dos seus últi- de irmãos? Por que fiz esta invenção que,
mos números uma nota sobre Santos Du- em vez de concorrer para o amor entre os
mont contendo grande erro. A nota tem homens, se transformou numa arma mal-
este título: Santos Dumont nunca foi con- dita de guerra? Horrorizam-me estes avi-
tra o uso militar de aviões. ões que estão constantemente pairando
O autor da nota precipitou-se, sobre Santos.
não se acha bem informado, pois garan- Ele se referia aos “Vermelhi-
tiu: “De forma romanceada, ainda há nhos”, a esquadrilha de aeroplanos da
quem defenda que, em 23 de julho de ditadura. Tais aparelhos bombardeavam
1932, a visão de aviões em combate, que os navios dos rebeldes, nas águas da ci-
sobrevoavam o Guarujá(SP), provocou dade natal de José Bonifácio. O desespero
uma angústia profunda em Santos Dumont de Santos Dumont, sob as garras dilacerado-
que, se aproveitando da ausência do sobrinho, ras da esclerose múltipla, espicaçou o inventor
suicidou-se aos 59 anos de idade”. a revoltar-se contra o uso militar de aviões.
Em seguida o autor da nota salienta: Santos Du- Daí se conclui: Não foi “de forma romanceada” que
mont escreveu cartas ao Presidente do Brasil, a fim de o eu e outros biógrafos de Santos Dumont descrevemos o seu
estimular a desenvolver a indústria aeronáutica militar do suicídio, no dia 23 de julho de 1932, durante o auge da Re-
nosso país. Isto é verdade, mas o autor da nota não foi sutil volução Constitucionalista.
e, repito, precipitou-se, não está bem informado. Cabem Aconselho o competente Valter Costa a advertir o
aqui dois provérbios portugueses. autor da nota infeliz, publicada na revista, Leituras da Histó-
“A pressa é mãe do imperfeito”. “Quem se apressa ria, a ser mais cauteloso, pois como acentua o historiador
demais, come cru”. Tácito, o insigne historiador romano grego Appiano de Alexandria, no De Bella Mithridatico, a im-
mostrou nos Anais como a verdade se fortalece com a ins- prudência costuma preceder, quase sempre, a calamidade”
peção e o exame tranquilo e como a falsidade se aproveita (Imprudentia solet plerumque calamitatem antecedere).
da pressa (Veritas Visu et mora, falsa festinatione et incer-
tis valescunt).
As duas cartas de Santos Dumont enviadas
ao presidente Venceslau Braz, para o animar a desen-
volver a indústria aeronáutica militar do Brasil, são de
1916, conforme esclarece o genial inventor no seu li-
vro: O que eu vi, o que nós veremos, publicado em
1918.Ora, o autor da nota da revista Leituras da Histó-
ria não levou em consideração o seguinte fato: No ano
de 1932, quando se suicidou, portanto dezesseis anos
depois do envio das duas cartas, Santos Dumont se
encontrava mentalmente perturbado, devido ao avanço
inexorável de uma grave afecção neurológica, a es-
clerose múltipla, também conhecida como esclerose
em placas, causadora, enfatizo de sérias, de visíveis
alterações mentais.
Conforme frisei no capítulo 11 da minha bio-
grafia de Santos Dumont, o inventor do 14-Bis já era,
em 1918, sem a menor dúvida, um caso completa-
mente diagnosticado de esclerose múltipla, doença de
lenta natureza progressiva.
Além de gerar lesões nos vasos sanguíneos do cé-
rebro, essa esclerose provoca distúrbios sensoriais, sobre- Fernando Jorge é jornalista, membro do Conselho de
Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
tudo dores de cabeça, irritabilidade, instabilidade emocio- Estado de São Paulo. O petropolitano Fernando Jorge é
nal. autor do livro “A Academia do Fardão e da Confusão”,
Apesar das duas cartas enviadas ao Presidente lançado pela Geração Editorial, em que mostra numero-
Venceslau Braz, aconselhando-o, em 1916, a desenvolver a sos erros de Português cometidos pelos membros da
Academia Brasileira de Letras.
nossa indústria aeronáutica militar, Santos Dumont, pouco
antes de se suicidar, declarou pelo telefone ao Prof. José de
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UM VELHO TEMA SEMPRE ATUAL
WILMA THEREZINHA FERNANDES DE ANDRADE

No Trabalho das passagens, se emocionam, permitem-se discretas lágrimas. Neste


Walter Benjamin (1892-1940), pensa- sentido a solenidade com pompa e circunstância é um
dor alemão, examina os fragmentos da compromisso. Por isso, o bombardeio de alguns se-
História; os detritos do tempo. Dá como tores da sociedade contra o fausto de algumas bo-
exemplos os bibliófilos, colecionadores das. Na verdade, esse tipo de cerimônia nupcial
de livros e até os catadores de lixo. Um procura conciliar, na atualidade do século XXI,
destes dizia: “Tenho toda Paris dentro duas forças. A do romantismo antigo, com toda
deste cesto”. Enfim, para ele, a História sua beleza poética, e a do pragmatismo ego-
é constituída de fragmentos, de restos, ísta, com toda sua força biológica.
de pedaços da vida que existiu. Uma força pretende a perenidade
Colocando o Velho Tema, o buscando reforços na tradição e a outra
amor, dentro desse contexto podemos apresenta o consumismo passageiro que
pensar. O amor no final do século XX e torna um casamento descartá-
início do XXI é fragmentado também. vel. Uma força é constru-
Todos querem ter um amor, isto é, um tiva; a outra destrutiva,
caso, um parceiro (a). Casam e muitas ambas fragmentá-
vezes não dá certo, 35%, aproximada- rias. Qual vence-
mente, se divorciam e após a separa- rá? Quem vi-
ção – outro parceiro é procurado. “Re- ver, verá.
fazer a vida"; "começar de novo"; é o O
que dizem. amor eterno
As moças de programa con- "até que a
correm com as mulheres de má fama morte os se-
de antigamente, ainda existentes, pare", no
como detrito sociológico. Uma amiga embate
disse-me: “As moças de hoje querem da vida coti-
ser modelos e atrizes e os rapazes jo- diana, leva à di-
gadores de futebol ou modelos". Nesse luição desse senti-
sentido, a teoria de Walter Benjamin mento até o cansaço,
confirma-se: são profissões rápidas e ao desencanto. A prole
cujos personagens são implacavel- criada na primeira infância
mente substituídos. não prende mais, no século
Todas as celebrações são mo- XXI, o par e a separação pode
mentos de euforia e, como tal, são efê- acontecer, se o amor, esse Velho Tema, te-
meras, fragmentos em que procuramos nha força para que novos momentos possam permane-
o melhor da vida. cer.
As cerimônias de casamento,
com seus rituais complexos, são uma
busca da permanência da felicidade
para sempre, o final feliz, a culminância
luxuosa de uma história a dois. São re- Wilma Therezinha Fernandes
miniscências do exacerbado romantis- de Andrade é mestra e doutora
mo lírico do século XIX, mantido pela em História Social pela USP –
Universidade de São Paulo;
sociedade que procura, na obstinação,
professora assistente, coorde-
dos rituais, a continuidade de suas tra-
nadora do Centro de Documen-
dições. Há uma incoerência: o cerimo- tação da Baixada Santista da
nial do casamento, o conluio dos pa- UniSantos - Universidade Cató-
rentes e convidados na festa nupcial, lica de Santos; membro da
todos se iludindo de que o ato, do qual AFCLAS Academia Feminina
são testemunhas, vai durar para sem- de Ciências, Letras e Artes de
pre. As menções "na saúde e na doen- Santos – e da ASL – Academia
ça" são obrigatórias referências no ápi- Santista de Letras, autora de
artigos e livros.
ce da cerimônia. Belas palavras,
inevitáveis promessas. Os presentes
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POR UM CONGRESSO INEXPRESSIVO
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
A Política Nacional de Partici- que o Ministério
pação Social – PNPS, tal como descri- correspondente
ta no Decreto 8243/14, tende a substi- imponha restri-
tuir o Congresso Nacional na representação ção de conteúdo
popular, para “fortalecer e articular meca- à imprensa, a
nismos e instâncias democráticas de pretexto de que é
diálogo” e em “atuação conjunta com a esta a “vontade
administração pública federal” da “so- do povo”, que
ciedade civil” (art. 1º), criar Conselhos será “obrigado” a
e Comissões de políticas públicas e so- atender aos ape-
ciais (artigos 10 e 11) eleitos pelo povo, los populares.
objetivando auxiliar a Secretaria Geral As polí-
da Presidência da República (artigo 9º) ticas públicas e
a “monitorar e implementar as políticas sociais não mais
sociais” por eles definidas, com atua- serão definidas
ção junto às diversas instâncias gover- pelo Poder Legis-
namentais. lativo, mas, por
Num curto artigo, é impossível este grupo limita-
descrever e analisar o nível de força do de cidadãos
que se pretende atribuir a instrumentos enquistados nes-
“populares”, na promoção com o gover- tes organismos.
no, das políticas que desejarem, sem a Estamos
participação dos legítimos represen- perante uma au-
tantes do povo, que são os senadores têntica ressurreição, da forma mais in-
e deputados. sidiosa e sorrateira, do PNH-3, que re-
Como os Conselhos e as Co- cebeu o repúdio nacional e, por isto, Dr. Ives Gandra da Silva Martins
missões serão eleitos pelo “povo”, mas nunca foi aplicado. é Professor Emérito das Universidades
a eleição não é obrigatória e o “povo” Às vezes, tenho a impressão, Mackenzie, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do
dificilmente terá condições de dedicar- com todo o respeito que tenho pela fi- CIEE/O ESTADO DE SÃO PAULO, das
-se em tempo integral, deixando traba- gura da presidente da República, que Escolas de Comando e Estado-Maior do
lho ou ocupações diversas, para estar ela tem recaídas “guerrilheiras”. Talvez, Exército - ECEME e Superior de Guerra
presente nestas “eleições”, serão os a “devoção cívica” que demonstrou nu- - ESG; Professor Honorário das Universi-
“amigos do rei” os beneficiados pelas trir pelo sangrento ditador Fidel Castro dades Austral (Argentina), San Martin de
Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia);
indicações, que lá estarão presentes, – tão nítida no retrato exibido por todos
Doutor Honoris Causa da Universidade
num verdadeiro aparelhamento do os jornais, de sua recente visita a Cuba
de Craiova (Romênia) e Catedrático da
Executivo e redução do Congresso Na- – a tenha levado a conceber e editar Universidade do Minho (Portugal); Presi-
cional à sua expressão nenhuma. esta larga estrada para um regime anti- dente do Conselho Superior de Direito da
Por pior que seja, o Legislati- democrático. É que o decreto suprime FECOMERCIO - SP; Fundador e Presi-
vo é eleito pelo povo. Nele está contida as funções constitucionais do Parla- dente Honorário do Centro de Extensão
100% da representação popular (situa- mento e pretende introduzir entre nós o Universitária.
ção e oposição). No atual Executivo, estilo bolivariano das Constituições da
nem 50% do povo brasileiro está repre- Venezuela, Bolívia ou Equador. Nelas,
sentado, pois a atual presidente teve o Executivo e o “povo” são os verdadei-
que ir ao 2º turno para ganhar as elei- ros poderes, sendo – é o que está na-
ções. quelas leis maiores — o Legislativo,
Em outras palavras, pretende Judiciário e Ministério Público, poderes
o decreto que a autêntica representa- acólitos, vicários, secundários e sem
ção popular de 130 milhões de brasilei- maior expressão.
ros seja substituída por um punhado de Por ter densidade normativa
pessoas, que passará a DEFINIR A própria, o referido decreto é diretamen-
POLÍTICA SOCIAL DE TODOS OS MI- te inconstitucional, ferindo cláusula pé-
NISTÉRIOS, INDICANDO AO EXECU- trea da Constituição, que é a autono-
TIVO COMO DEVE AGIR! mia e independência dos Poderes
A linha da proposta é tornar o (artigos 2 e 60 § 4º, inciso III).
Congresso Nacional uma Casa de ter- Espero que o Congresso Na-
túlias acadêmicas, pois os Conselhos e cional repila o espúrio diploma, com
Comissões eleitos pelo “povo” serão base no artigo 49, inciso XI, da Carta
aqueles que dirigirão o país. Por exem- Maior, zelando, como deve, por sua
plo, a Comissão encarregada da Co- competência legislativa.
municação Social poderá determinar
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PIANO SOLTO
MARIA ZILDA DA CRUZ
No fundo de um corredor, entre tantos outros de uma guarde-chuva desbotado, como uma espada transversal,
grande estação de ônibus paulistana, mora a música espon- marcando a porteira entre a carne do idoso e o mundo de
tânea e pessoal. Lá, um bar oferece a compra de refrescos, fora. Ao seu lado descansava um carrinho de feira enferruja-
doces e salgados a passageiros em conexões entre linhas do, cheio de embrulhos pouco definidos. Eram pacotes de
de ônibus. Mas ali não é um espaço qualquer. Nascem e conteúdo ignorado, escondidos por papel amassado. Todo
voam notas musicais de um grande piano de cauda. Negro, esse quadro do miserável, do sujo, diluiu-se aos primeiros
sério, lustroso e afinado, nele toca quem quiser ser artista acordes musicais. Músicas clássicas de autores universal-
por alguns momentos: minutos rápidos ou horas de um con- mente conhecidos invadiram o bar. O ambiente se torna uma
certo inesperado. O tempo se apaga, o som sobrevive e do- sala de concerto, com amplas janelas envidraçadas enfeita-
mina o ouvinte atento de quem come ou sorve o café, preo- das com plantas artificiais, fabricadas em algum lugar des-
cupado com o compromisso de continuar uma viagem conhecido. Lá fora a visão do verde da natureza no jardim
programada. bem cuidado: as plantas crescem cultivadas pelo homem.
Mas quem pode parar ganha alegria de vida musi- Todo o cenário parece de um bar de fantasia. No ar
cal. Assim, num intervalo entre deixar um ônibus e esperar o cheiro do café se escondia entre as notas musicais. A po-
por outro, pude avaliar o valor do piano preto, solene, em esia ao ouvido ganhava do desejo do paladar. O espírito se
total disponibilidade de uso. Sem escolha de homem ou mu- preenchia da criatividade do compositor e gozava da alma
lher, jovem ou idoso, bem penteado ou gritando por um pen- interpretativa do pianista. A técnica em dedilhar o teclado
te, ele oferece a todos sua musicalidade autêntica, plena de atendia à passagem emocional do executor. O real mudara-
um mecanismo bem tratado. O primeiro anônimo pianista -se em irreal. O mendigo fez a mágica de criar um mundo
que eu ouvi, um jovem em seus vinte anos de idade, muito encantado de ondas sonoras, de melodias cativantes. A pou-
concentrado, tocava música popular. Sua aparência denota- cos metros à frente, um corredor com passageiros apressa-
va ser um trabalhador simples e o prazer de dedilhar um dos em, idas e vindas, estabelecia a função do local: ser
piano estampava-se em seu rosto. Encantava os ouvintes uma rodoviária para milhares de usuários diários. O bar, se-
com sambas e chorinhos bem brasileiros. Aplausos da pe- renamente, transfigurava-se em descanso espiritual e o
quena plateia e um aceno de adeus do moço marcaram a mendigo o rico distribuidor do alimento musical. Tendo domí-
sua retirada. nio da sonoridade ele desafiava o piano a ser obediente e o
Então veio mais uma surpresa: alguns espectado- tocava. Tudo o que havia de pobre se apagou naqueles mo-
res eram outros tantos candidatos esperando a vez para mentos. Roupas velhas e desbotadas, sapatos surrados,
mergulhar no som, alisar e correr os dedos sobre o teclado guarda-chuva esfarrapado desapareceram. Plateia e pianis-
branco e negro. Sentou-se o próximo na banqueta e, como ta usufruíam enriquecidos a envolvente execução da música
pouco sabia, repetiu uma única frase musical várias vezes, clássica.
provocando a paciência da plateia e nenhum aplauso. O úni- Assim foram os minutos, quase uma hora de enlevo
co fato positivo morava nele mesmo: a autossatisfação em musical. O mendigo era o príncipe mostrando sua nobreza
tirar som do piano. ao dedilhar o piano. Com a postura de grande artista, levan-
O pianista seguinte não estava só. Acompanhava-o tou-se o pianista andrajoso, puxando ferros enferrujados,
a esposa, antiga cantora de música clássica, com passado seguindo a sina de pedir esmolas aos donos de lojas e bar-
de glórias, em espetáculos de ouvintes exigentes. Agora a racas na rodoviária.
voz se fora na potência, mas permanecia na harmonia, sem Quem era? Um privilegiado musical. Seu nome?
desafinar a melodia. O marido tocava de ouvido; com simpli- Um anônimo pedinte de esmolas. De onde veio? De um
cidade perguntava aos presentes o que desejavam ouvir. A mundo rico de vida musical, repleto de arpejos, acordes, tri-
vida sem largueza econômica não lhe permitira aulas de mú- nados e tantas outras belezas da arquitetura dos sons. Não
sica. Nem por isso ele jogava fora o presente lhe dado pela sei responder com veracidade a nenhuma das perguntas. A
natureza: ouvidos especiais para gravar melodias e acordes imaginação auditiva me dominou naquele viver tão diferente.
de partituras. Não reclamava dos poucos recursos, da falta Não consegui perguntar coisa alguma. As únicas palavras
de dinheiro. Afirmou ter muito a doar e toca para suavizar as pertenciam ao meu coração com um “Muito obrigada, men-
dores dos doentes, como voluntário, no hospital da Santa digo pianista!”
Casa de São Paulo. O piano ajuda na espera da volta da Viva o piano solto num bar de rodoviária paulistana.
saúde perdida, disse sorridente.
E, então, aconteceu o mais inesperado: um mendi- Maria Zilda da Cruz – Mestra e Doutora em Psicologia pela
go sentou-se ao piano. Sua aparência mostrava pobreza USP. Membro da Academia Feminina de Ciências, Letras e
com alguma sujeira. Trajava roupas velhas, puídas e em al- Artes de Santos e Membro da Diretoria da Academia
gumas partes até esfarrapadas. Pendurado nas costas um Santista de Letras.

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40 ANOS SEM
CASSIANO
RICARDO
CLÁUDIO DE CÁPUA
Poeta paulista, Cassiano Ricar-
do, nascido em São José dos Cam-
pos, em 26 de julho de 1895, falecido
na cidade do Rio de janeiro de 1974,
publica seu primeiro livro: “Dentro da
Noite”(Poesias), aos 20 anos.
Entrou para a Faculdade de
Direito, do Largo São Francisco, mas nacional, vinculava-se à civilização ca-
concluiu o curso no Rio de Janeiro. feeira e à utilização industrial. É poema
Ingressou no Jornalismo profis- da terra e das grandes cidades, produ-
sional no “Correio Paulistano” tendo to eufórico de um momento eufórico,
ocupado o cargo de chefe de redação de um instante de crescimento de for-
do mesmo. Fundador e dirigente de vá- mação de uma grandeza.
rios jornais e revistas, em São Paulo e Cantava uma raça nova, pro-
Rio de Janeiro. duto da miscigenação, raça que fora
Torna-se um dos líderes do Mo- anunciada pelos modernistas desde as
vimento de Arte Moderna de 1922. primeiras horas do movimento que de-
Em 1924, funda a revista literária veria produzir um tipo especial de bra-
“Novíssima”, baluarte da causa moder- sileiro, esse filho de todos os povos
nista. Ao mesmo tempo, através dessa que constituíam um povo original e di-
mesma revista faz intercâmbio da cul- ferente no mundo, que era feito da por-
tura Pan-Americana e ainda cria mais centagem de todos os sangues, do
duas revistas: “Planalto”, em 1930, e branco, preto, índio, e de todos os imi-
“Invenção”, em 1962. Tem publicado grantes.
vários livros, em sua maioria, com di- É canto nascido da crença na
versas edições. “Democracia Biológica”, inventada, ali-
Cassiano, além de Jornalista é ás, pelo próprio Cassiano Ricardo, ou
Ensaísta, Historiador, Estudioso de So- seja a Democracia fundada na ausên-
ciologia, Acadêmico das Academias cia de preconceitos de sangue. O poe-
Paulista de Letras e Brasileira. ma engrandecedor dessa raça está em
Quando Jurado da A.B.L, fez “Martim Cererê”.
premiar o livro: “Viagem”, primeiro tra- Cassiano Ricardo participa in-
balho de versos livres a ser premiado tensamente da poesia brasileira e dos
na Academia, de autoria de Cecília momentos históricos do seu tempo e
Meireles. deixa sua marca na Literatura Brasileira.
Martim Cererê, sua obra de
maior repercussão, é parte clássica da Cláudio de Cápua é aviador, jornalista e
poesia moderna brasileira. Assim o fa- escritor. Pertence ao Instituto Histórico e
lou Carlos Drummond de Andrade. Geográfico de Santos, à Academia Paulistana
Esse poema propunha uma vi- de História. É sócio-fundador da União
são épica da História Pátria, exaltava o Brasileira de Trovadores - Seção de São Paulo.
Bandeirismo, buscava uma mitologia www.de-capua.com

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ROSEMARY E O ROJÃO
LAURET GODOY

A cada quatro anos a mesma história: Copa do


Mundo de Futebol e a esperança de um novo título para
o Brasil. Vem à lembrança a bonita figura dos capitães
do passado, com a taça brilhante levantada lá no alto e,
depois, o desfile dos jogadores, em carro aberto, pelas
capitais do país.
Era um futebol de lindos passes, dribles mira-
culosos, pernas que corriam o campo inteiro, pé bem HEXACAMPEÃO?!?!
treinado, batendo forte na bola ensinada a encontrar o ANTONIO COLAVITE FILHO
caminho do gol. Bons tempos aqueles! Cada jogador Quando você, leitor, estiver lendo este artigo,
com sua mágica, procurando vencer, mas respeitando o com certeza a dúvida suscitada no título já estará dirimi-
adversário. Vez ou outra o tempo esquentava contra ar- da: - ou o Brasil é hexacampeão mundial de futebol ou o
gentinos e uruguaios, nossos eternos rivais sul-ameri- sonho foi adiado por mais quatro anos.
canos. Mas os chilenos eram amigos. Até vencemos Mas, parodiando uma música cantada pelo
uma Copa do Mundo em solo chileno! E foi aquela bruta saudoso seresteiro Francisco Petrônio, "foi feliz o poeta
festa! Mas faz tanto tempo... Isso aconteceu em 1962. que disse: - recordar é viver novamente", gostaria de
Com o passar dos anos as coisas mudaram. relembrar os passos que levaram a seleção do Brasil a
Em 1989 explodiu uma guerra envolvendo, justamente, sonhar com o hexacampeonato.
Brasil e Chile. O mais forte de nervos venceria, porque Em 1958, na Suécia, o selecionado canarinho
chute e cabeçada não eram apenas na bola, mas, de iniciava a caminhada para os cinco títulos mundiais con-
preferência, no adversário. quistados até hoje. Eu tinha catorze anos de idade e
Em um Maracanã lotado, no dia 3 de setembro, ouvi pela rádio a transmissão do jogo final, cujo resulta-
o Brasil disputou uma vaga para a Copa de 1990. O time do foi de 5 a 2 contra os donos da casa e que fez surgir
da casa jogando pelo empate, mas o desejo era mesmo no cenário mundial o "atleta do Século", o Pelé, à época
de vencer os chilenos, de goleada, para comemorar na com apenas dezessete anos.
Avenida Atlântica e na Paulista. Até o “bicho” dos joga- Em 1962, no Chile, recordo-me apenas que
dores ficou sofisticado. Americanizou-se. Em vez de ser minha família dirigia-se à casa de Sebastião e Natalina
pago em cruzados novos, moeda nacional vigente na para assistir, em preto e branco, aos videotapes dos jo-
época, seria em dólares. gos, numa tela chuviscada de um televisor que hoje ta-
No segundo tempo, o Brasil vencia por 1 x 0. chamos de "caixote". Brilhou a estrela do "craque de
Os chilenos estavam nervosos, à espera de uma opor- pernas tortas", o Garrincha.
tunidade que, de repente, aconteceu. Foi apenas um Aí veio 1970. Com a minha mulher grávida de
gesto. Com o puxar do cordão de um sinalizador da Ma- seis meses, já com um aparelho de TV em cores na
rinha, o céu iluminou-se no Maracanã. O clarão, a fuma- sala, vibrávamos com aquela que muitos julgam ter sido
ça no gramado e Rojas, o goleiro chileno, foi ao chão, a melhor seleção já formada no Brasil. E, com os 4 a 1
mãos segurando a cabeça e contorcendo-se. O jogo foi sobre a Itália, ficamos com a posse definitiva da taça
interrompido e a confusão generalizou-se. Os chilenos "Jules Rimet", roubada e derretida tempos depois.
abandonaram o campo e a partida não terminou. Vieram, então, vinte e quatro anos de fracas-
Indagada, Rosemary, a autora, disse que não sos, decepções e insucessos, até que surgiu a oportuni-
sabia de nada, que foi sem querer. Com relação ao Chi- dade de formarmos uma equipe não tão técnica, mas
le, mais tarde a verdade veio à tona. Rojas confessou ,com uma garra impressionante em 1978 para a Copa
que estava com um plano preparado para anular a par- dos Estados Unidos. Jogo a jogo, chegamos à final con-
tida. Descoberta a fraude, ele foi banido do Futebol. E tra a Itália. E, nos pênaltis, brilhou a estrela do goleiro
tudo isso por quê? Por causa do rojão de Rosemary, Taffarel e veio a conquista do tetracampeonato.
que a levou para as páginas da revista Playboy, trans- Em 2002, fomos à Ásia para mostrar nosso fu-
formando a fogueteira em estrela temporária e apagan- tebol. Também com uma equipe não tão brilhante tecni-
do, por longo tempo, a estrela de Rojas. camente, os jogadores colocaram "o coração na ponta
Coisas do esporte... Que podem ser relembra- das chuteiras" e despachamos a Alemanha por 2 a 0 na
das neste ano de 2014, em que o mundo vive, uma vez final, com o brilho do craque Ronaldo Fenômeno.
mais, as emoções de mais uma Copa do Mundo de Fu- Agora, em 2014, coube ao Brasil sediar a Copa
tebol. do Mundo. Modernos estádios (arenas) foram construí-
dos e/ou reformados para receberem os mais badala-
dos craques de trinta e duas seleções previamente clas-
Lauret Godoy é professora universitária de Educação Física, sificadas em eliminatórias. E, no instante em que
pós-graduada em Administração Esportiva pela USP e escrevo estas linhas (hoje é 25 de junho), espero que a
campeã sul-americana de Atletismo. Foi Consultora do "família Scolari" tenha dado ao Brasil aquilo que 200 mi-
Departamento de Esportes da Rede Globo de Televisão para lhões de brasileiros aguardam: - a conquista definitiva
assuntos de Olimpismo, durante os Jogos de Seul. Recebeu da Taça Fifa, a ser erguida no dia 13 de julho em pleno
a Comenda Mérito Panathlético , a Comenda João Gomes
Maracanã.
- honraria outorgada pelo Legislativo da cidade de Santos
Assim, poderemos , enfim, ouvir o grito de "HE-
Dumont, MG, é Membro Honorário da Força Aérea Brasileira
XACAMPEÃO"...
e Membro Correspondente da Academia Santos-Dumont da
Argentina. Pesquisadora, escritora, articulista e palestrante. Antonio Colavite Filho é poeta, contista e trovador, diretor
aposentado de escola e vice-presidente administrativo da
UBT - Seção de Santos

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O SOBRADINHO DA VILA OPERÁRIA
ECILLA BEZERRA
Jurema tinha uma casa. Era - Mãe, a senhora vai mudar
um sobrado espremido num terreno de daqui. Vai morar com a tia Judith.
cinco por vinte, que formava uma Vila - Eu?! Por quê? -
Operária. As casinhas foram vendidas - A senhora está velha, não
para empregados de uma companhia pode ficar vivendo aqui sozinha, subin-
inglesa, que acabou falindo, quando do e descendo essa escada. É perigo-
Zeca já era aposentado e já terminara so. Se a senhora tiver um mal-estar,
de pagar o imóvel. Quando se muda- cair...
ram para o sobrado, Zequinha comple- - Tia Judith também é sozinha,
tou um ano de idade. Dois anos depois, não teve filhos... Mora naquele aparta-
nasceu Julieta. mento de três quartos, na praia. Tia Ju-
Ali, viu os filhos crescerem, dith ocupa um só. A senhora fica com o
brincando na rua com os filhos dos ou- outro. O terceiro é para nós irmos pas-
tros operários. As donas de casa var- sar fim de semana, férias.
riam a calçada como desculpa para Jurema viu os filhos empaco-
bater papo, apoiadas no cabo das vas- tarem alguns pertences. O que ela ia
souras. precisar. De resto, lixo. “Credo! Aqui só
O sobradinho não tinha jar- tem velharia! Nada que se aproveite!”
dim, apenas uma pequena área entre o Levaram-na, de carro, para o litoral.
portãozinho de ferro batido e a porta de Ela chegou à casa de Judith apenas
entrada. Naquele pequeno espaço, Ju- com a mala que acomodava algumas
rema cultivava dois vasos de samam- roupas e a valise de mão, com objetos
baia de metro e dois vasos de antúrios. de higiene. A filha guardou as poucas
Ela os plantara há muitos anos. joias, para não serem roubadas.
Os filhos se casaram e muda- Agora, Jurema tinha um quar-
ram. O marido morreu. Jurema não se to, sem televisão. A televisão era de
sentia sozinha no sobrado da Vila Ope- Judith, que não gostava de novela. Ju-
rária. Tinha as mesmas vizinhas, que dith também não gostava de papo fura-
envelheceram como ela. Elas ainda do com vizinhos. Judith não gostava de
varriam a calçada para falar do passa- ir à praia, não podia tomar sol. Era mui-
do: to clara e tinha medo de pegar câncer
- Lembra quando o Geraldo de pele.
foi promovido? Fizemos uma churras- - Carnaval? Um horror! Baru-
cada bem aqui, no meio da vila... lheira, aglomeração, essa gente que
- E o susto que levei quando o vem de fora, sem educação, sem com-
Fabinho subiu no telhado para pegar postura, ouvindo essa música indecen-
um balão e despencou lá de cima. te, essa mulherada indecente, de bun-
- Foi o André quem acudiu da de fora... Criançada mal educada...
seu Zeca, quando ele teve o enfarte... Drogas...
Dentro de casa, os móveis Jurema tinha uma casa, em
eram os mesmos, tão velhos quanto algum lugar, dentro da sua saudade:
ela. O aparelho de televisão ainda era uma caixinha misteriosa, que se abriu,
de tubo! No fogão, a tampa do forno e expôs todo seu passado, colorido,
era amarrada com arame, pois os para- alegre. “Moço, eu quero ir pra minha
fusos, enferrujados, haviam caído. A casa. É um sobradinho, numa vila... ”.
máquina de lavar, quando acionada, - Nunca mais se soube de Ju-
andava pelo pequeno quintal. Só a ge- rema. Deve ter sido enterrada como
ladeira era mais moderna, com freezer. indigente. Coitada. Estava com mal de
Presente dos filhos, para gelar melhor Alzheimer, disse Judith.
a cerveja. - A casa? A gente vendeu e ra-
Jurema tinha uma casa, até o chou a grana...disseram os filhos.
domingo em que os filhos chegaram,
sentaram, comeram a macarronada Ecilla Bezerra é bacharel em
com frango, o pudim de leite, arrotaram Dramaturgia, diplomada em Inglês e
a cerveja e o refrigerante, mandaram gerentologia, escritora, poetisa e
as crianças brincar lá fora e disseram: trovadora

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SER DIFERENTE!
ADRIANA DE OLIVEIRA RIBEIRO
- Que estrela é essa, que sopro divino é esse que, Nunca pensou em ser Alguém mais?
de repente, nos envolve e faz de nós um Ser diferente de Você não está, com tudo o que tem, completamen-
todos? te feliz.
- De onde vem essa chama que nos carrega à nos- Saia do casulo. Faça como a crisálida que vira bor-
sa revelia para sermos o Ser Único, Especial, entre todos? boleta. Você pode!
Nascemos de forma sui generis: somos brancos, negros, Se você sair de seu pequeno tamanho por instan-
pobres e ricos, selvagens e eruditos, mas Deus nos marcou tes, e viver um deslumbramento, você já está salvo.
com uma língua de fogo e nos deu o dom de ser diferentes. Terá um novo olhar para o mundo e esse olhar será
A todos nós, com direito a uma parcela do Universo. valioso em qualquer tempo e circunstância.
Por esse dom somos, por alguns momentos, se- O operário que trabalha na fábrica, numa única
nhores de nossas vidas. peça de encaixe, pode criar uma peça diferente que mudará
Por ele somos capazes de sair de nosso corpo, pai- todo o sistema na fábrica. Ele o fará se, em algum tempo
rar acima de nossa tristeza, de nossa pequenez, de nossas atrás, ele saiu de seu pequeno mundo e se fez Rei nas pla-
limitações e comungar com as forças do Cosmos e sentir, no gas siderais.
fundo de nosso coração, o gosto supremo de estar no Topo O professor de Filosofia pode estudar Kant e Scho-
do Mundo, a partir de uma ideia, uma imagem, uma forma, pechauer, mas se ele sonhou, lá atrás, com a magia da es-
um gesto, uma palavra. pada Excalibur do Rei Arthur, ele pode criar a sua própria fi-
Por instantes somos parte do Todo, do Mistério, do losofia e passá-la para seus alunos e começar uma geração
Infinito, do Imensurável.Dizer que o homem foi criado à ima- de gente pensante que, lá no futuro, vai deixar o mundo mui-
gem e semelhança de Deus, parece uma quimera! to melhor!
Mas nesses momentos de ascensão a altas esferas, chega- Então? Vamos ser diferentes?
mos muito perto de sentir o gosto do Divino.
Deus nos fez assim. Ele nos deu impressões digi-
tais exclusivas e deu a cada um de nós o jeito particular de Adriana de Oliveira Ribeiro é musicista, escritora,
Ser, de Ver e de Sentir. Por isso, nascemos crianças. Deus psicóloga e professora.
fez a criança que olha a nuvem e vê um Dinos-
sauro; que olha a chama da vela e vê o Tocheiro
do Mago, olha a montanha e vê um Castelo En-
cantado. Vibra com o que existe e o que não
existe.Esse olhar nos foi roubado no correr da
vida. Perdemos o dom do encantamento.
Os artistas, os escritores, os poetas
conservam a magia da infância; por isso, são
mais felizes e são mais longevos, pois, no mo-
mento em que criam, o mundo para, eles saem
de suas tocas para virar “anjos”...e, quando pou-
sam, vêm abençoados! Eles canalizam o poder
de sonhar do tempo em que eram meninos e ain-
da estavam perto de sua origem Cósmica.
Hoje, o mundo está mais triste.
O homem já não sonha em ser diferen-
te.
Deus está magoado conosco.
E nossos meninos?
Resistem ao desejo de vencer a gravi-
dade e pairar sonhando no Espaço.
Pensam em segurança e tornam-se ra-
cionais.
Seguem modelos. Veem o mesmo vide-
ogame, brincam com o mesmo celular, frequen-
tam as mesmas baladas e fazem as mesmas
tatuagens.
- Mas eles vivem o seu tempo, dizem os
céticos. É o tempo da Tecnologia.
Meu caro jovem!
Viva o seu Tempo. É um direito seu de
ter nascido na era da Tecnologia.
Mas já lhe disseram que se a Tecnolo-
gia chegou aonde chegou é porque alguém dife-
rente criou essa possibilidade?
Não deixe de lado a Internet.
Mas sua vida é só isso?
Não é muito pouco?

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NOSSA SENHORA DO MONTE SERRAT:
TRÊS IGREJAS AO LONGO DO MAR
NEY MALVÁSIO
Entre 1591 e 1602, D. Francis- para os olhos de D. Francisco de Sou-
co de Sousa, Governador do Brasil e sa. Ele se fez, então, rogado, aquilo era
Capitão- mor de nossas plagas, era ca- a visão tropical da Igreja Santíssima,
sado com uma bela espanhola, das ter- de Barcelona, na Europa. Ele viu a me-
ras da Catalunha, onde todos os brasi- lhor igreja possível no topo daquele
leiros que là vão, hoje em dia, sempre morro, e dentro a tão querida imagem.
passam pela cidade de Barcelona. D. E assim se fez, a igreja era
Francisco de Sousa e sua bela esposa belíssima, em cima do Monte Serrat e
eram devotos da Sra de Catalunha, assim o milagre se fez. Um bando de
com muitos devotos naquela área da piratas quis destruir tudo nas nossas
Espanha atual. santificadas Santos e São Vicente. Mas
Quando D. Francisco de Sou- o que aconteceu foi a população local
sa veio ao Brasil, sua grande capital, à subir o morro, apelando para a Nossa
época, era Salvador. Lá, tão apaixona- Senhora do Monte Serrat, e o milagre
do por Nossa Senhora de Monte Ser- se fez... gigantes pedras do morro de-
rat, D. Francisco logo procurou cons- sabaram sobre os piratas, vitória dos
truir uma bela igreja em honra de sua caiçaras.
Nossa Senhora. Mas, para o Governa- Enfim, algo milagroso foi dado
dor do Brasil, a capela era bonita, muito à Igreja de D. Francisco de Sousa e de
bonita, ainda existente na Bahia, mas Montserrat da Espanha, fez-se a mila-
faltava algo desde seu início. Faltava grosa Nossa Senhora de Santos, co-
algo desde o início de sua bela constru- memorada, todos os anos.
ção no Brasil, estamos
falando de baixa água,
tocando a bela igreja,
nada parecido com a
fundada na Catalunha,
faltava algo da primeira
visão... a montanha,
apesar da incrível bele-
za de nossa baiana, fal-
tava a montanha exis-
tente na Espanha!
Em seu tempo
de Governador-Geral
de nosso Brasil, D.
Francisco de Sousa,
era um bom regente de
nossa ainda não inde-
pendente nação, mas
algo faltava em seu co-
ração. É claro que além
de ser o Governador-
-geral do Brasil, D.Fran-
cisco também foi gover-
nador da parte sul do
Brasil, de 1609 a 1612.
É claro que em toda
essa época, D. Francis-
co passou por nossa
Santos, e, então se fez
sua incrível visão... pas-
sou por nossas praias,
nossa vegetação, entre-
tanto, avista ao longe
um perfeito morro, antes, próximo da Ney Paes Loureiro Malvasio é Mestre
cidade e do porto, que sempre existiu, Historiador (UFRJ), oficial reformado do
apesar de o porto ter sua época de Exército Brasileiro.
construção. neymalvasio@gmail.com
Enfim, era um local magnífico
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TABAGISMO
JOSUÉ REINALDO FERREIRA

A quantidade de informações 4,0% de selo, 3,5% de CONFINS e


sobre os males do tabagismo que se 0,9% de PIS.
encontra espalhada por todos os meios Dadas essas considerações,
de comunicação no mundo todo, não é que medida poderia ser mais eficaz
o suficiente, ainda, por si só, para di- na erradicação do tabagismo? A
minuir significativamente o número única medida realmente promis-
de pessoas que se iniciam ou não sora na eliminação do vicio do
abandonam o vício de fumar. cigarro e ou-
Dados como 200 mil tras drogas é a
mortes por ano no Brasil e 5 educação.Deve-
milhões de mortes por ano no ríamos investir maio-
mundo, disponíveis em qual- res recursos e trabalho in-
quer site sobre o assunto, cansável na formação
em nada assustam ou in- saudável de nossas crian-
fluenciam atitudes individu- ças, educando-as para
ais para cessação do taba- que rejeitem qualquer ten-
gismo. tativa de aproximação com
Sofrimentos conheci- substâncias de tão alto poder
dos de pessoas portadoras de enfi- destrutivo.
sema pulmonar, bronquite crônica,
câncer de pulmão e tantos outros ma-
les relacionados ao vício de aspirar Josué Reinaldo Ferreira é
defesas de informação e exemplo? médico pneumologista
fumaça não impressionam o fumante
E,assim por diante, quantas outras
que se acha saudável e intocável à
argumentações, todas já bem conhe-
ação deletéria da fumaça. Fotos dra-
cidas, poderiam ser elencadas na ten-
máticas expostas em maços e publica-
tativa de se buscar um entendimento
ções diversas não diminuem a procura
sobre a persistência do hábito de fu-
pelo funesto produto.
mar entre seres humanos inteligentes
Quando haverá uma informa-
e esclarecidos?
ção suficiente para desestimular, vez
Governos de todos os paí-
por todas, o consumo de nicotina e ou-
ses, agora se dão conta de que o lu-
tras quatro mil e quinhentas substân-
cro com impostos são insignificantes
cias tóxicas (das quais, trezentas can-
face aos prejuízos nos gastos com
cerígenas) presentes na composição
recuperação e tratamento de fuman-
do cigarro?
tes e iniciam medidas cerceadoras
Que argumento mais contun-
para conter ou marginalizar o hábito
dente poderia seduzir uma pessoa
danoso de fumar. Arrecada-se: 41,3%
que volta a fumar após superar, a du-
de IPI, 22,2% de ICMS de industriali-
ras penas, um infarto do miocárdio em
zação, 2,8% de ICMS de vendas,
que sentiu a brevidade da vida tor-
nar-se tão palpável?
Como convencer um jovem
que assiste a um familiar definhando
lentamente, exaurindo-se em tosse,
catarro e cansaço sem trégua, que
abandonar o vício seria a única
chance de lhe prevenir o mesmo
fim?
Que motivação sádica per-
mite a um adulto, aqui incluindo
pais, professores, a exibir-se em se-
dentas baforadas diante de olhos
curiosos e invejosos de crianças in-

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NOTAS CULTURAIS
NOTAS CULTURAIS
CURSO MULTIDISCIPLINAR NO I.H.G.S.
O Curso Multidiscipli-
nar Aspectos de Santos Cultu-
ral, finalizado em junho, no Ins-
tituto Histórico e Geográfico de
Santos, contou com ilustres pa-
lestrantes: Profa. Carolina Ra-
mos, Profa. Dra. Wilma Therezi-
nha (que substituiu por motivo
de força maior a Profa. Dra. Clo-
tilde Paul); Profa. Dra. Maria
Apparecida Franco (Coordena-
dora) e Dr. José Manoel Costa
Alves.
Dentre os temas abor-
dados estavam: Martins Fontes
e os Cinemas de Santos.

Na foto: Alunos do Curso promo-


vido pelo Inst. Histórico e Geo-
gráfico de Santos, Aspectos de
Santos Cultural.

FORMATURA
LV JOGOS FLORAIS DE NOVA FRIBURGO
Noé Yioitiro bacharelou-se, recentemente, Enge-
nheiro-Biomédico, pela Universidade Federal do ABC e
segue agora promissora carreira na profissão escolhida.
Parabéns!

Considerada a “Capital da Trova”, Nova Friburgo


realizou com sucesso, sob a batuta da Trovadora Elizabeth
Souza Cruz, seus tradicionais LV Jogos Florais.
O evento contou com homenagem a Rodolpho Ab- O Bacharelando com seus tios Cláudio de Cápua e Carolina Ramos.
bud, recentemente falecido, que presidiu a Seção Fribur-
guense por muitos anos. Na oportunidade deu-se o lança-
mento do livro: “A Trova-Raízes e Florescimento- UBT” de LANÇAMENTO "1973"
Carolina Ramos- Redatora e Coordenadora do mesmo.

CONCURSO DE ARTES PLÁSTICAS Silvio Atanes lançou, junto com


outros 49 autores do livro, "1973 -
COLÉGIO UNIVERSITAS O Ano que Reinventou a MPB". Na
Estão abertas as inscrições colha do trabalho ocorrerá obra, os escritores trazem rese-
para o Concurso de Dese- em outubro com divulgação nhas sobre os LPs lançados
nhos e Pintura sobre tela na edição de novembro da no ano que dá o nome ao li-
"Guiomar Fagundes". O con- Revista Santos Arte e Cultu- vro.
curso é dirigido aos alunos ra, promotora do evento. A
do colégio Universitas em iniciativa conta com apoio do
Santos e o tema é livre. A es- Shopping Miramar.
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Espaço do Livro
CLÁUDIO DE CÁPUA

UMA RELAÇÃO PERIGOSA


de CAROLE SEYMOUR - JONES
Carole Seymour- Jones nas-
ceu no País de Gales, é Historiadora e
Escritora renomada.
Nesta dupla biografia, ela re-
trata duas grandes personagens das
Letras e da Filosofia do século passa-
do.
Em 1929, Simone Beauvoir
(1908-1986) e Jean-Paul Satre (1905-
1980) assumiram uma relação que du-
rou mais de 50 anos.
Relação, descrita pela autora,
como dolorosa, em que reina a intriga,
a sedução de virgens, prostitutas, ado-
lescentes, lesbianismo e admiradores.
Na obra, Carole Seymour-Jo-
nes relata a vida atribulada desses dois
pensadores, da infância à morte.
Uma boa leitura.

A PAIXÃO DE TIRADENTES
DO TANQUE AO Stefânia G. Assunção
JORNALISMO Marc Boisson
Elisabet Souza Cruz
O livro é dividido em três partes: poesia
pós- Universidade Candido Mendes;
Textos decorrentes do período univer-
sitário e a parte III - no rastro de um
cometa (crônicas, casos e causos).
Como bem traduz a escritora, a obra é
um documentário exclusivo. Descon-
traído, bem humorado, Do tanque ao
Jornalismo é um diário de bordo de um
período repleto de afeto e conquistas.

Um romance histórico que ressalta


toda a maturidade de seus autores
através de um paralelo de dois tempos
diferentes. A história se desenvolve en-
tre Paris e Ouro Preto, nos dias de
hoje, e na época de Joaquim José da
Silva Xavier – o Tiradentes. Compa-
nheirismo e aventura cercam a antiga
Vila Rica de Tereza e Xavier e a atual
Ouro Preto de Gabriela e Philippe,
mostrando as cidades que continuam a
inspirar paixões atravessando séculos.

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