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• DECISÃO
MUSEU PELÉ
O Editor
Expediente
Editor - Cláudio de Cápua. MTB 80
Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190.
Editoração Gráfica - Liane Uechi
Revisão: Cláudio de Cápua
Designer Gráfico - Mariana Ramos Gadig Gonçalves
Fotos: Gervásio Rodrigues
Capa: Museu Pelé - J.A.Sarquis
End.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP. E-mail: revistaartecultura@yahoo.com.br
Participam desta edição: Adriana de Oliveira Ribeiro; Antonio Colavite Filho; Carolina Ramos;
Cláudio de Cápua; Ecilla Bezerra; Fernando Jorge; Ives Gandra da Silva Martins; Josué Reinal-
do Ferreira; Lauret Godoy; Maria Apparecida Franco Pereira; Maria Zilda da Cruz; Ney Malvásio
e Wilma Therezinha Fernandes de Andrade. Os autores têm responsabilidade integral pelo
conteúdo dos artigos aqui publicados. Distribuição Gratuita. 3.000 exemplares.
Copa e eleições chegaram quase juntas. Mas preci- haja conscientização e união de propósitos sadios. Cruz que
sam ser estudadas em separado. simbolize a crença num Deus que dizemos brasileiro, mas que
Copa é o nosso orgulho esportivo camuflado de civis- parece tão desencantado quanto o indignado repúdio que mora
mo, desejoso de ver o Brasil brilhar coroado de louros! O que, dentro de nós!
aliás, é muito válido! Mas o que vem em seguida não permite Que maravilha, caso pudéssemos unir, numa só voz,
alienações! o jubiloso clamor de uma vitória esportiva e a vibração cívica de
A Copa, infelizmente, segue em ritmo não mais oti- uma Nação saneada, muito embora ferida em sua dignidade,
mista, marcada por fatos contundentes como o caso do nosso sofrida, dilapidada moral e financeiramente, mas saída do caos
garoto Neymar, dolorosamente injustiçado pela fatalidade ocor- de cabeça erguida, em busca da reabilitação perante a plateia
rida no jogo contra a Colômbia, que juntou um ato criminoso à mundial, que, estupefata, assiste ao que aqui se desenrola sem
impunidade que nos é familiar. Mas o brilho da atuação desse entender o porquê da nossa passividade! A primeira parte, não
“menino de ouro”, já mundialmente querido, vá para onde for a deu certo! Perdemos a Copa! Mas é a hora de nos concentrar-
Copa, acompanhará a nossa Seleção até o derradeiro apito do mos nesse resquício de esperança que é a urna!
juiz que encerrará a competição, muito embora sua ausência Hora de darmos aquele basta enrustido há tanto tem-
tivesse contribuído para o terrível vexame sofrido ante a Alema- po em nossa garganta! Basta de hipocrisia! Basta de promes-
nha. E já que perdemos a Copa vamos esquecê-la, pulando o sas não cumpridas, alheamentos oportunos, esmolas degra-
lance final do enfrentamento com a Holanda. dantes, arrogâncias, esbanjamentos e doações com o bolso
O que vem em seguida não permite alienações. É mo- alheio, com vistas a metas não nossas e que bem longe de nós
mento da mais alta responsabilidade perante a Pátria Brasilei- queremos ver! Basta de mover cordéis à vontade, como se o
ra, que exige a maior concentração, sem permitir que o voto povo brasileiro não passasse de mero fantoche, sem alma e
irresponsável venha transformar possíveis vitórias, no maior sem decisão própria! A hora é de união!
pesadelo de todos os tempos! Não faço apologia de nome algum! Brasileira, apelo
Chega de argumentos pueris! De protestos sinceros, para a consciência de cada cidadão, ao lembrar não ser mais
vandalizados por quem os quer desmoralizar! Chega de “bom- admissível a omissão, o voto em branco, ou de protesto, es-
bas” enviadas pela internet, que externam descontentamentos banjados com brincadeiras aleatórias e de mau gosto. O mo-
e nos absolvem da inércia ou incapacidade de reação. Chega mento é sério! Muito sério! É hora da escolha do nome que te-
de protestos! O momento é de ação, de decisão! É parar para nha verdadeira condição de vencer! Hora sagrada de banir o
pensar, medir prós e contras e sair do dilema: - Em quem vou que nos desagrada que, mercê do nosso acomodamento, so-
votar?! nha em se perpetuar! Nossa hora é agora!
Aceitamos ou estamos insatisfeitos com o que se pas- Unidos torcemos pela Copa! Perdemos! Mas, unidos,
sa?! A urna é nosso microfone, a nossa internet! Nela, nosso torçamos muito mais pela vitória consciente nas urnas, da qual
protesto consciente ganhará voz e luz própria! depende o resgate da nossa cidadania, a recuperação da nos-
O brasileiro pretendia largar o grito pleno, que o pas- sa dignidade e, até mesmo, quem sabe? - a própria soberania
sado justifica: - “A Copa é nossa!” Desta vez, não foi possível! do nosso Brasil!
E, em vez de gritar, que ouça os íntimos reclamos de sua Pá-
tria, que geme sob o peso do opróbrio, da corrupção e dos
desmandos que lhe vêm sendo impostos de modo ditatorial, Carolina Ramos é poetisa e escritora, vice-presidente do
como se fora corpo inerme, sem defensores! Conselho Nacional da União Brasileira de Trovadores - UBT e
A Pátria é nossa! O Brasil é nosso! Este, sim, deve ser presidente da UBT/Santos; Secretária Geral do Instituto
o grito de guerra a ecoar de norte a sul do nosso país! E tam- Histórico e Geográfico de Santos. Pertence à Academia
bém de leste a oeste, traçando sobre o corpo do gigante brasi- Santista de Letras - ASL, à Academia Feminina de Ciências,
leiro aquela cruz que o liberte dos maus ventos que o assolam! Letras e Artes de Santos - AFCLAS e à Academia Cristã de
A cruz que o ajude a acreditar que tudo ainda é possível, caso Letras de São Paulo - ACL
5 Julho 2014 - Santos Arte e Cultura
“Navios iluminados” é Santos], como de toda a cidade, da Inglesa, da City, das fá-
um romance escrito pelo bricas, dos moinhos. Fora aluno destacado do grupo escolar
dr. Ranulfo Prata (1896- da Companhia. Sabia na ponta da língua tudo quanto era
1942). Autor de inúme- regulamento e lei trabalhista. Possuía no quarto duas estan-
ros escritos, a obra de tes pejadas de brochura e caixas de sapatos entupidas de
Ranulfo Prata mais sig- retalhos de jornal. Gostava de discutir, de explicar, de orien-
nificativa para a cidade é tar, sendo figura de proa no sindicato de trabalhadores da
“Navios Iluminados”, pu- Companhia” [...]
blicada em primeira edi- Mais do que a medicina, que exercia com compe-
ção em 1937, que mere- tência e responsabilidade e no exercício dela colheu o ma-
ceu grandes elogios no terial para sua criação literária (foi chefe do Serviço de Raios
cenário nacional da época. X da Santa Casa e conviveu com os operários doentes no
O romance é um retrato Ambulatório das Docas), Ranulfo Prata sentia interiormente
vivo dos anos que medeiam os a sua verdadeira vocação em ser o escritor (ainda que re-
finais da década de 1920 e pri- servado, discreto) e não apenas “um fotógrafo” do interior
meira metade dos anos 30 no porto do corpo humano.
santista. Ranulfo Prata é um médico Mantinha-se no clima da literatura de sua época em
sergipano que chegou a Santos em 1927, onde vai atuar que saíam publicações de Raquel de Queiroz, Jorge Amado,
nos hospitais da Santa Casa e da Beneficência. Nesses am- Graciliano Ramos entre outros, que, “ambientados no Nor-
bientes de trabalho, fez amigos verdadeiros que, além da deste, buscavam contar a história do ponto de vista dos
medicina, usavam a pena literária e que se reuniam em ver- oprimidos, dos miseráveis, retratando o cotidiano sofrido da
dadeiras pequenas tertúlias. Um dos maiores amigos de parcela pobre da população. Além disso procuravam des-
Prata foi José Martins Fontes ( 1884 - 1937), unindo-os uma crever fielmente o linguajar e os costumes dos habitantes da
amizade sólida. região que lhes servia de cenário” diz Cassia dos Santos
“Navios iluminados” mostra a vida e dá voz aos em um estudo seu de crítica literária sobre anos 30 e 40.
operários do porto de Santos. Em sua pena circulam traba- Em Santos, também o médico Antonio Alberto Leal,
lhadores nacionais (de várias partes do país) e portugueses, casado com a romancista Isa Silveira e, portanto, genro do
espanhóis, italianos, japoneses entre outros, em diálogo, escritor regionalista, Waldomiro Silveira, escrevera à época
revelando suas lutas, conflitos e agruras, seus desejos de o romance “Cais de Santos”, revelando também em outro
melhorias de vida. foco o ambiente portuário, mais para o lado da região do
Diz o grande literato paulista Silveira Bueno ao pre- Paquetá.
faciar a obra: “Santos, a babel do Brasil, aí está nas páginas Santos possuía uma marcante vida cultural literária
de ‘Navios Iluminados’ com todo o doloroso drama dos seus e Ranulfo Prata deveria ser melhor conhecido para revelar-
homens do porto, da estiva, das cargas e descargas, legi- mos essa cidade.
ões dantescas de lutadores desconhecidos e incompreendi- Diz Mons.Primo da Motta Vieira, que estudou a
dos, gente diversas daquela que os veranistas conhecem, obra de Ranulfo Prata:"Santos possue para com Ranulfo
que nem sequer suspeitam possa existir. Ranulpho Prata uma não resgatada dívida de gratidão: a de fazê-lo conhe-
conheceu esta parte de Santos, tratou dos seus párias, aus- cido, porque ele engrandeceu a cidade pela sua clínica e
cultou-lhes as esperanças e as desesperanças, dando-nos pela sua arte. É preciso recordá-lo às gerações presentes”.
a mais viva e impressionante descrição da sua tragédia so-
cial.”
Isso fica muito claro, quando, em passagem de Maria Apparecida Franco Pereira é Mestra e Doutora,
“Navios Iluminados”, Prata mostra a labuta de seu protago- Historiadora da Universidade Católica de Santos
nista principal, o nordestino José Severino, que ao final vai
tornar-se tuberculoso, doença que assola a população san-
tista: “Não sentia a ruindade das cargas: o
sal e o enxofre que lhe queimavam o rosto
e as canelas; o frio das carnes congela-
das; caixas de banha de setenta e cinco
quilos que lhe dobravam o lombo; tambo-
res de soda vazando cáustico nas mãos;
os rolos golpeantes de arame farpado”.
As condições ruins de trabalho,
moradia, saúde, ou seja, de sobrevivên-
cia, reveladas no livro, podem ser compro-
vadas pelo grande número de doentes,
nos relatórios dos ambulatórios para os
Empregados da Cia. Docas de Santos.
O romance pinta ao leitor inúme-
ros quadros, o bairro operário do Macuco
e personagens da vida portuária: os vá-
rios locais de emprego dos operários, os
tipos representativos que labutam, nas lu-
tas reivindicatórias pelos seus direitos
:"Valentim era a figura entre os operários
moços, não só da Companhia [Docas de
A revista Leituras da História é excelente Oliveira Orlandi: - Meu Deus, meu Deus! Não ha-
e está sendo muito bem dirigida por Valter verá meio de evitar derramamento de sangue
Costa, porém apresentou num dos seus últi- de irmãos? Por que fiz esta invenção que,
mos números uma nota sobre Santos Du- em vez de concorrer para o amor entre os
mont contendo grande erro. A nota tem homens, se transformou numa arma mal-
este título: Santos Dumont nunca foi con- dita de guerra? Horrorizam-me estes avi-
tra o uso militar de aviões. ões que estão constantemente pairando
O autor da nota precipitou-se, sobre Santos.
não se acha bem informado, pois garan- Ele se referia aos “Vermelhi-
tiu: “De forma romanceada, ainda há nhos”, a esquadrilha de aeroplanos da
quem defenda que, em 23 de julho de ditadura. Tais aparelhos bombardeavam
1932, a visão de aviões em combate, que os navios dos rebeldes, nas águas da ci-
sobrevoavam o Guarujá(SP), provocou dade natal de José Bonifácio. O desespero
uma angústia profunda em Santos Dumont de Santos Dumont, sob as garras dilacerado-
que, se aproveitando da ausência do sobrinho, ras da esclerose múltipla, espicaçou o inventor
suicidou-se aos 59 anos de idade”. a revoltar-se contra o uso militar de aviões.
Em seguida o autor da nota salienta: Santos Du- Daí se conclui: Não foi “de forma romanceada” que
mont escreveu cartas ao Presidente do Brasil, a fim de o eu e outros biógrafos de Santos Dumont descrevemos o seu
estimular a desenvolver a indústria aeronáutica militar do suicídio, no dia 23 de julho de 1932, durante o auge da Re-
nosso país. Isto é verdade, mas o autor da nota não foi sutil volução Constitucionalista.
e, repito, precipitou-se, não está bem informado. Cabem Aconselho o competente Valter Costa a advertir o
aqui dois provérbios portugueses. autor da nota infeliz, publicada na revista, Leituras da Histó-
“A pressa é mãe do imperfeito”. “Quem se apressa ria, a ser mais cauteloso, pois como acentua o historiador
demais, come cru”. Tácito, o insigne historiador romano grego Appiano de Alexandria, no De Bella Mithridatico, a im-
mostrou nos Anais como a verdade se fortalece com a ins- prudência costuma preceder, quase sempre, a calamidade”
peção e o exame tranquilo e como a falsidade se aproveita (Imprudentia solet plerumque calamitatem antecedere).
da pressa (Veritas Visu et mora, falsa festinatione et incer-
tis valescunt).
As duas cartas de Santos Dumont enviadas
ao presidente Venceslau Braz, para o animar a desen-
volver a indústria aeronáutica militar do Brasil, são de
1916, conforme esclarece o genial inventor no seu li-
vro: O que eu vi, o que nós veremos, publicado em
1918.Ora, o autor da nota da revista Leituras da Histó-
ria não levou em consideração o seguinte fato: No ano
de 1932, quando se suicidou, portanto dezesseis anos
depois do envio das duas cartas, Santos Dumont se
encontrava mentalmente perturbado, devido ao avanço
inexorável de uma grave afecção neurológica, a es-
clerose múltipla, também conhecida como esclerose
em placas, causadora, enfatizo de sérias, de visíveis
alterações mentais.
Conforme frisei no capítulo 11 da minha bio-
grafia de Santos Dumont, o inventor do 14-Bis já era,
em 1918, sem a menor dúvida, um caso completa-
mente diagnosticado de esclerose múltipla, doença de
lenta natureza progressiva.
Além de gerar lesões nos vasos sanguíneos do cé-
rebro, essa esclerose provoca distúrbios sensoriais, sobre- Fernando Jorge é jornalista, membro do Conselho de
Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
tudo dores de cabeça, irritabilidade, instabilidade emocio- Estado de São Paulo. O petropolitano Fernando Jorge é
nal. autor do livro “A Academia do Fardão e da Confusão”,
Apesar das duas cartas enviadas ao Presidente lançado pela Geração Editorial, em que mostra numero-
Venceslau Braz, aconselhando-o, em 1916, a desenvolver a sos erros de Português cometidos pelos membros da
Academia Brasileira de Letras.
nossa indústria aeronáutica militar, Santos Dumont, pouco
antes de se suicidar, declarou pelo telefone ao Prof. José de
7 Julho 2014- Santos Arte e Cultura
FORMATURA
LV JOGOS FLORAIS DE NOVA FRIBURGO
Noé Yioitiro bacharelou-se, recentemente, Enge-
nheiro-Biomédico, pela Universidade Federal do ABC e
segue agora promissora carreira na profissão escolhida.
Parabéns!
A PAIXÃO DE TIRADENTES
DO TANQUE AO Stefânia G. Assunção
JORNALISMO Marc Boisson
Elisabet Souza Cruz
O livro é dividido em três partes: poesia
pós- Universidade Candido Mendes;
Textos decorrentes do período univer-
sitário e a parte III - no rastro de um
cometa (crônicas, casos e causos).
Como bem traduz a escritora, a obra é
um documentário exclusivo. Descon-
traído, bem humorado, Do tanque ao
Jornalismo é um diário de bordo de um
período repleto de afeto e conquistas.
18
Julho 2014 - Santos Arte e Cultura