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F UNDAMENTOS S ÓCIO-H ISTÓRICOS

DA É TICA P ROFISSIONAL S ERVIÇO


Cristiane Gonçalves de Souza
Flavio José Souza Silva
Leandro Rocha da Silva
Mariana Souza Campos
Samya Katiane Martins Pinheiro
CAPÍTULO 2 - ÉTICA E VIDA SOCIAL
Cristiane Gonçalves de Souza
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Definir a diferença entre valores morais e éticos em diferentes contextos culturais.
• Identificar as bases filosóficas dos valores ético-morais, adquirindo uma compreensão crítica acerca dos
princípios éticos e da conduta moral na vida social.

Tópicos de estudo
• Ética, moral e comportamento
• Pressupostos éticos e morais
• A ética e o comportamento em sociedade
• Ética e vida social
• Os valores ético-morais como referências para as práticas humano-sociais
• Valores ético-morais: culturais e circunstanciais

Contextualizando o cenário
Os conceitos de moral e ética apresentam uma relação de complementariedade e interdependência, mas têm
significados diferentes. A palavra ética deriva do grego ethos e significa modo de ser ou caráter. É um ramo da
filosofia que busca analisar e compreender o comportamento humano e estabelecer uma forma de agir, levando
em conta os valores morais. Já a moral vem do latim mos ou mores e é entendida como costumes. Engloba as
qualidades de um indivíduo e o pré-julgamento do ponto de vista particular do que é correto ou errado, proibido
ou aceitável (VÁZQUEZ, 2017).

A ética enquanto ciência prioriza uma abordagem cientifica da moral, com vistas a elaborar uma reflexão que seja
racional e objetiva sobre os valores morais que norteiam a vida em sociedade. Portanto, tem como suposto uma
observação sistemática que se apoia em processos teórico-metodológicos para poder validar o que pode ser
reconhecido enquanto comportamento ético em sociedade. Isso posto, cabe uma reflexão: qual a importância do
estudo da ética e da moral para a intervenção profissional do serviço social?

2.1 Ética, moral e comportamento


O comportamento em sociedade é norteado por valores morais e valores éticos, que contribuem para organizar as
relações humano-sociais.
Elementos do comportamento em sociedade

Vázquez (2017) destaca que o ser humano, enquanto ser histórico e social, é aquele sujeito que, no devir histórico,
classificou aquilo que tem ou não valor, portanto, o autor conclui que os valores são construções humanas. Assim
sendo, só existem e se realizam no homem e pelo homem. Dessa forma, os valores morais e valores éticos
correspondem às construções humanas, que revelam ou ocultam os diversos interesses que permeiam as relações
humano-sociais.

2.1.1 Pressupostos éticos e pressupostos morais

A moral é constituída por um conjunto de normas ou regras adquiridas por meio de hábitos, os quais o ser humano
passa a incorporar e legitimar ao longo de sua vivência.

Paiva (2009, p. 106) explica que a “[...] moral seria a capacidade do indivíduo de formular suas próprias opiniões e
pautas de comportamento [...] e optar por aquele que considerar mais correto e justo”. Corresponde a elementos
do comportamento humano que são adquiridos por meio das experiências e vivências familiares, sociais,
religiosas, educacionais, culturais etc., não sendo natural ou genética do ser humano, visto que é resultado de uma
aprendizagem que se transforma em hábito (VÁZQUEZ, 2017). Isso ocorre porque espaços como a família e a
religião perpassam costumes e hábitos e os reforçam como normas comportamentais que devem ser seguidas.
Fonte: © Rawpixel.com / / Shutterstock. (Adaptado).

Mesmo que a moral pressuponha o estabelecimento de normas e regras, não é criada pela ética. Segundo Vázquez
(2017, p. 22):

A ética depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de
práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as
condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos
juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão
de diferentes sistemas morais.

Fonte: © 3D_creation / / Shutterstock. (Adaptado).


Observa-se que a moral já estava presente no cotidiano das relações humanas. Assim, a ética parte do estudo
desse comportamento moral que norteava e ainda norteia a vida em sociedade e, enquanto ciência, investiga os
critérios que o ser humano usa para classificar e determinar os valores morais como bons ou maus. É diferente da
moral, que não é ciência, mas, sim, objeto dela:

Um código moral, ou um sistema de normas, não é ciência, mas pode ser explicado cientificamente,
seja qual for o seu caráter ou as necessidades sociais às quais corresponda. A moral — dizíamos antes
— não é científica, mas suas origens, fundamentos e evolução podem ser investigados racional e
objetivamente; isto é, do ponto de vista da ciência. Como qualquer outro tipo de realidade — natural
ou social — a moral não pode excluir uma abordagem científica. (VÁZQUEZ, 2017, p. 25).

PAUSA PARA REFLETIR


Como, em determinadas sociedades, alguns valores são considerados morais e, em outras, não?

A ética indaga os critérios de validação moral que o ser humano e as comunidades elegem para construção de suas
normas e regras comportamentais. Ou seja, a ética é a ciência que investiga, explora e estuda os elementos que
compõem a moral. Uma vez que a moral é objeto de investigação da ética, pode-se afirmar que a ética, enquanto
ciência, explora as ações humanas, que são realizadas de forma consciente e que repercutem no indivíduo e nas
relações sociais.

Relação da ética com a moral


Ante o exposto, é correto afirmar que a ética consiste no estudo racional e sistemático do comportamento humano
moral. Na medida em que a moral passa a ser objeto de investigação da ética, instala-se nessa dinâmica o processo
reflexivo, que favorece a problematização da legitimidade e naturalidade dos preceitos morais, visto que os valores
morais surgem revestidos de várias formas e aparências. Para desvendá-los, é necessário um esforço filosófico e
reflexivo.

2.1.2 A ética e o comportamento em sociedade


Para elucidar a importância da ética para o comportamento e vivência em sociedade, Vázquez (2017, p. 15) elabora
as seguintes indagações:

Devo cumprir a promessa X que fiz ontem ao meu amigo Y, embora hoje perceba que o cumprimento
me causará certos prejuízos? Se alguém se aproxima, à noite, de maneira suspeita e receio que me
possa agredir, devo atirar nele, aproveitando que ninguém pode ver, a fim de não correr o risco de ser
agredido? Com respeito aos crimes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, os
soldados que os executaram, cumprindo ordens militares, podem ser moralmente condenados? Devo
dizer sempre a verdade ou há ocasiões em que devo mentir? Quem, numa guerra de invasão, sabe que
o seu amigo Z está colaborando com o inimigo, deve calar, por causa da amizade, ou deve denuncialo
como traidor?

Tais indagações correspondem a fatos e problemas que se impõem aos indivíduos em suas relações sociais e têm
uma ordem prática, ou seja, são problemas práticos, que “[...] que se apresentam nas relações efetivas, reais, entre
indivíduos ou quando se julgam certas decisões e ações dos mesmos” (VÁZQUEZ, 2017, p. 15).

Fonte: © iQoncept / / Shutterstock. (Adaptado).


Os problemas citados por Vázquez (2017) demandam soluções que exigem considerar o envolvimento de mais de
uma pessoa. Uma mentira a um colega, por exemplo, repercute sobre a vida de ambas as partes: tanto quem
contou a mentira quanto o indivíduo que a ouviu. Ou seja, o sujeito que toma a decisão e executa a ação provoca
um resultado na vida de outrem ou em uma coletividade.

Quando um indivíduo se questiona se deve ou não contar a verdade para seu colega, sua decisão provocará uma
reação nessa pessoa. Por sua vez, ao se pensar se um soldado deveria ou não executar seus inimigos usando armas
cujo potencial atinge várias pessoas ao mesmo tempo, tal ação repercute sobre um grupo coletivo. “Enfim, as
consequências podem estenderse a uma comunidade inteira, como a nação (devo guardar silêncio em nome da
amizade, diante do procedimento de um traidor?)” (VÁZQUEZ, 2017, p. 16).

Tipos de impacto de uma ação

Nos exemplos citados, os sujeitos envolvidos se confrontam com situações em que há a necessidade de tomar
decisões, as quais são balizadas por regras e normas comportamentais que perpassam pela lógica do julgamento.
Isto é, deve-se julgar se são ou não apropriadas de se cumprir, dadas as condições em que os sujeitos se
encontram. Segundo Vázquez (2017, p. 16):

Estas normas são aceitas intimamente e reconhecidas como obrigatórias: de acordo com elas, os
indivíduos compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Nestes casos, dizemos
que o homem age moralmente e que neste seu comportamento se evidenciam vários traços
característicos que o diferenciam de outras formas de conduta humana. Sobre este comportamento,
que é o resultado de uma decisão refletida e, por isto, não puramente espontânea ou natural, os outros
julgam, de acordo também com normas estabelecidas, e formulam juízos como os seguintes: ‘X agiu
bem mentindo naquelas circunstâncias’; ‘Z devia denunciar o seu amigo traidor’, etc.

Assim, as ações demandam do sujeito decisões fundamentadas em preceitos morais que aprovam ou desaprovam
os encaminhamentos realizados. Contudo, Vázquez (2017) alerta que, em todos os casos, há o pressuposto de que
existe nas normas morais uma resposta/encaminhamento razoável do que se deve, efetivamente, fazer.
Fonte: © Adrian Niederhaeuser / / Shutterstock.

Por exemplo, na iminência de um amigo traidor, em contexto de guerra, o encaminhamento adequado é sua
denúncia, visto que o que está em questão nesse momento é a seguinte regra: “[...] os interesses da pátria devem
ser postos acima dos da amizade” (VÁZQUEZ, 2017, p.16). O autor resume que:

[...] na vida real, defrontamonos com problemas práticos do tipo dos enumerados, dos quais ninguém
pode eximirse. E, para resolvêlos, os indivíduos recorrem a normas, cumprem determinados atos,
formulam juízos e, às vezes, se servem de determinados argumentos ou razões para justificar a decisão
adotada ou os passos dados. (VÁZQUEZ, 2017, p. 16).

Vázquez (2017) explica que os problemas práticos e as formas estabelecidas para seu enfrentamento compõem
aquilo que pode ser classificado como comportamento efetivo, ou seja, aquele que pode ser observado em um
indivíduo ou em grupos sociais tanto no passado quanto no presente. Logo, “[...] o comportamento humano prático
moral, ainda que sujeito a variação de uma época para outra e de uma sociedade para outra, remonta até do
homem como ser social” (VÁZQUEZ, 2017, p.17). Clique no recuso a seguir, para entender o comportamento
humano prático-moral e o desencadeamento da evolução histórico-social.

O comportamento humano práticomoral está presente no contexto histórico social, visto


Prático-moral que, nas comunidades primitivas, já havia o estabelecimento de normas e regras morais que
ordenassem as relações de seus membros.

Histórico- No desencadeamento da evolução histórico-social, o que se alterou foi a reflexão sobre as


social normas e regras de comportamento que regiam essas comunidades.

Por conseguinte, além de agir moralmente no enfretamento das situações cotidianas, o ser humano passou a
refletir sobre suas condutas e princípios que as regem.
Na medida em que o comportamento prático moral se tornou objeto de reflexão, começou um movimento de
considerar elementos teóricos para relacionar com os valores morais. Assim, Vázquez (2017) sugere que, da moral
efetiva, há a passagem para a moral refletida, que coincide com a gênese do pensamento filosófico. Portanto, a
moral é considerada no terreno da ciência, estudada pela ética.

2.2 Ética e vida social


A humanidade sempre age em busca de alcançar a felicidade, seja na área pessoal, seja na profissional. Ao se referir
à ética, Comparato (2006, p.17) afirma que não se ouve “[...] falar de alguém que tivesse a infelicidade por
propósito ou programa de vida”. Contudo, adverte que “[...] a felicidade não é uma dádiva, e sim, a recompensa de
um esforço constante e bem orientado. Daí a importância suprema da investigação sobre o que é bom ou mau para
se alcançar esse objetivo [...]”. (COMPARATO, 2008, p. 17).

Se a busca da felicidade é um dos propósitos do ser humano, é fundamental considerar as estratégias adotadas
para alcançá-la. Nesse sentido, a temática da ética é inserida, com vistas a estabelecer os limites para o alcance
dos propósitos humanos, tendo em vista a manutenção da vida em sociedade.

2.2.1 Os valores ético-morais como referência para as práticas humano-sociais

O avanço tecnológico e científico propicia que o ser humano altere diversas circunstâncias e “[...] modela o mundo
circunstante à sua imagem e semelhança, para o bem ou para o mal. É este, como ninguém ignora, um dos
principais, senão o principal problema ético dos dias atuais” (COMPARATO, 2008, p. 21).

CURIOSIDADE
Sarmento (2008) destaca que, quanto ao debate dos avanços da modernidade, existe a bioética,
que problematiza as recentes descobertas tecnocientíficas da biologia, biofísica, bioquímica,
genética e ciências médicas, que sugerem novos problema éticos junto às ciências.

Para Vázquez (2017), classificar o que é o bom não é um problema da moral, mas uma questão geral que deve ser
definida pela ética. Os investigadores devem se debruçar sobre a moral, relacionando-a com fundamentos teórico-
metodológicos capazes de orientar e normatizar o comportamento humano dentro de padrões aceitáveis.
Fonte: © Digital Genetics / / Shutterstock.

Ainda segundo Vázquez (2017, p. 18), “[...] ao se definir o que é o bom, se está traçando um caminho geral, em cujo
marco os homens podem orientar a sua conduta nas diversas situações particulares. Neste sentido, a teoria pode
influir no comportamento moralpratico”. Dessa forma, inúmeras teorias passaram a ser organizadas com intuito de
definir o que eticamente é o bom, considerando que, na medida em que se estabelece o que é bom, os indivíduos
em sociedade têm condições de nortear seu comportamento e ações. Contudo, Vázquez (2017, p. 18) afirma que:

As respostas sobre o que é o bom variam, evidentemente, de uma teoria para outra: para uns, o bom é
a felicidade ou o prazer; para outros, o útil, o poder, a autocriação do ser humano, etc. Mas,
juntamente com este problema central, colocamse também outros problemas éticos fundamentais,
tais como o de definir a essência ou os traços essenciais do comportamento moral, à diferença de
outras formas de comportamento humano, como a religião, a política, o direito, a atividade científica,
a arte, o trato social, etc. O problema da essência do ato moral envia a outro problema
importantíssimo: o da responsabilidade.

Diante disso, verifica-se que a responsabilidade é inerente ao debate em torno da ética e da moral, a julgar que o
sujeito é responsável por seus atos e decisões. Diante das circunstâncias cotidianas, as decisões dos sujeitos
devem ser tomada considerando as possibilidades de escolha. Ou seja, diante de um dilema profissional, por
exemplo, o sujeito teve possibilidade de escolher o que fazer? Teve mais de uma alternativa para decidir como
agir? Teve liberdade para escolher e agir? Ou a escolha lhe foi imposta?

Decidir e agir numa situação concreta é um problema praticomoral; mas investigar o modo pelo qual a
responsabilidade moral se relaciona com a liberdade e como determinismo ao qual nossos atos estão
sujeitos é um problema teórico, cujo estudo é da competência da ética. (VÁZQUEZ, 2017, p.18-19).
AFIRMAÇÃO
“A liberdade é ao mesmo tempo, capacidade de escolha consciente dirigida a uma finalidade, e,
capacidade prática de criar condições para a realização objetivas de escolhas [...]” (BARROCO,
2003, p. 59).

Nesse sentido, a ética busca investigar quais os argumentos e razões que validam as normas, regras e juízo moral
que se aplicam nas decisões e escolhas adotadas pelos sujeitos que se relacionam socialmente.

2.2.2 Valores ético-morais: culturais e circunstanciais


O estabelecimento de um sistema ético tem a finalidade de contribuir para organizar a vida em sociedade. Nas
sociedades primitivas, por exemplo, a finalidade era imposta a todos os membros com base em determinações da
evolução biológica, ou seja, era a preservação e expansão reprodutiva do grupo. Ao passo que ocorre a evolução
societária, o ser humano consegue avançar e estabelecer outros objetivos para além dessa necessidade primária,
que dependem da vontade humana. Assim, implicam escolhas de considerar o que é importante alcançar
enquanto meta.

Fonte: © dockstockmedia / / Shutterstock. (Adaptado).

Essas escolhas são tomadas por meio de valores que regem as relações sociais e, especialmente, em decorrência
dos interesses do grupo. Nessa dinâmica, a presença do poder é um componente inerente à tomada da decisão. Os
interesses podem ser comuns ao grupo ou próprio dos detentores do poder. Em razão disso, Comparato (2008, p.
24-25), explica que:

A intenção social, ou animus social, é composta por paixões coletivas, mitos, crenças, opiniões e
preconceitos. Toda sociedade vive deles, muito mais do que ideias racionalmente elaboradas, ou de
certezas experimentadas e provadas. As ideias racionais e as certezas científicas constituem algo que
produzimos e mantemos, por assim dizer, fora de nós mesmos, como objeto de pensamento e análise.
Já os mitos, as opiniões e os preconceitos formam o ambiente social em que banham as nossas
mentes, e que atua, portanto, dentro de nós mesmos, como uma espécie de segunda natureza.
Formação da intenção social

Nessa linha de raciocínio, Cortella (2009, p.49) expõe que a ética “[...] existe porque nós, humanos, somos
agregados, e porque só conseguimos existir em sociedade”. E, em razão de se viver em sociedade e em
comunidade, as decisões e escolhas realizadas pelos seres humanos, muitas vezes, podem ter como ponto de
partida seus desejos e paixões, que, por vezes, precisam ser limitados pelos valores éticos, por exemplo.

DICA
Leia o livro Educação, Convivência e Ética: audácia e esperança, do professor Mário Sérgio
Cortella (2015), que é referência no debate sobre a temática da ética e relações sociais.

Na análise da vida em sociedade, Cortella (2009) explica que a questão central não é somente pensar sobre o
espaço que a ética ocupa nas relações sociais, mas, principalmente, refletir sobre as alterações que se fazem
presente na sociedade. Portanto, para entender o lugar da ética, é necessário um olhar histórico, visto que a ética é
relativa no que se refere à história, aos grupos sociais, à cultura e principalmente às diferentes profissões, ou seja,
altera-se conforme a cultura e circunstâncias.
Fonte: © Sergey Nivens / / Shutterstock.

PAUSA PARA REFLETIR


Os valores morais (pessoais) dos assistentes sociais devem incidir em seus encaminhamentos no
atendimento das demandas da população? Por quê?

Cortella (2009, p. 52) apresenta alguns exemplos para ilustrar como os valores éticos e morais são culturais e
circunstanciais:

Trabalhamos na área universitária, nas profissões de nível superior. Temos, evidentemente, projetos
políticos e quase sempre desejamos implantar a nossa ética nas relações. E, por desejar implantá-las,
acabamos, muitas vezes, correndo o risco de, mais do que oferecer ao outro uma reflexão sobre a ética
que ele tem, emprestar a que é nossa, que serve para a nossa camada social, mas que é estranha a
outros grupos. Isto pode ocorrer, principalmente quando trabalhamos com a camada popular da
sociedade. E aí o trabalho deixa de ser de serviço social, no seu sentido mais contemporâneo, e passa
ser de doutrinação religiosa, muito semelhante às formas clássicas de religiosidade, cujo objetivo
central é converter as pessoas. Quase como se pudéssemos pôr as mãos sobre elas e dizer: você
precisa, você deve, você vai, porque assim você estará salvo social, politicamente, sem perceber, antes
de mais nada, qual é a ética que molda aquelas relações.

Diante do exposto, Cortella (2009) chama a atenção para o fato de que alguns preceitos éticos podem variar de
profissão para profissão. Logo, é preciso um diálogo coletivo para que seja possível refletir sobre os princípios
éticos que fazem sentido a determinada profissão e, para outra, são estranhos. A ideia não é impor um princípio
como verdade absoluta, mas, principalmente, procurar elucidar a razão da escolha de tal princípio ético.
No que se refere ao serviço social, a profissão elege como um dos seus princípios fundamentais a opção pela
democracia, pela cidadania e construção de uma sociedade com mais justiça social. O reconhecimento desse valor
ético e a escolha por sua defesa ocorre porque a profissão parte do pressuposto da admissão da desigualdade
social como resultado das contradições do sistema capitalista.

Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um fichamento, destacando as
principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu fichamento, considere as leituras básicas e
complementares realizadas.

Recapitulando
Ética e moral são conceitos que se relacionam, mas são diferentes. A moral é objeto de investigação da ética
enquanto ciência. Para a intervenção profissional do serviço social, a importância do estudo da ética consiste no
fato de elucidar que a ética e a moral se alteram no contexto histórico.

A moral é o conjunto de tradições, hábitos e costumes que formam o ser humano, logo, pode ter diversos
significados ao se considerar o contexto social dos sujeitos. Apreender esses elementos enquanto profissional do
serviço social é fundamental para não realizar intervenções fundamentadas em juízos de valor no momento de
atender a uma demanda da população. O que deve nortear a intervenção profissional são os valores éticos
profissionais e, não, os valores pessoais dos profissionais.

Para tanto, é importante estar em constante diálogo com a categoria profissional, com intuito de refletir sobre
escolhas e conflitos éticos que podem se estabelecer no cotidiano. Esse fato implica a necessidade de reconhecer o
outro na construção da reflexão, troca de ideias e de saberes, envolvendo não apenas o pensamento, como,
sobretudo, o diálogo, em que há presente uma troca de conhecimentos entre sujeitos reais que verbalizam sobre
suas experiências reais e expressam suas formas de ver o mundo e de agir sobre ele.

Referências
BARROCO, M. L. S. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. São Paulo. Cortez, 2003.
COMPARATO, F. K. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. 2. ed. São Paulo. Companhia das Letras,
2008.

CORTELLA, M. S. O espaço da ética na relação indivíduo e sociedade. In: BONETTI, D. A. (Org.). Serviço Social e Ética
: convite a uma nova práxis. 10. ed. São Paulo. Cortez. 2009.

______. Educação, Convivência e Ética: audácia e esperança. São Paulo. Cortez. 2015.
PAIVA, B.A. Algumas considerações sobre ética e valor. In: BONETTI, D. A. (Org.). Serviço Social e Ética: convite a
uma nova práxis. 10. ed. São Paulo. Cortez. 2009.
SARMENTO, H. B. M. Bioética, violência e desigualdade: as biociências e a constituição do biopoder. Katálysis,
Florianópolis, v. 11 n. 2, jul./dez. 2008. Disponível em: <periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/
S1414-49802008000200010/8258>. Acesso em: 20/10/2019.
VÁZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

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