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REUTILIZAÇÃO DE AREIA REGENERADA TERMICAMENTE (1)


Fabiano Peixoto (2)
Wilson Luiz Guesser (3)

RESUMO

O presente trabalho aborda o estudo das propriedades tecnológicas da areia de


macharia regenerada termicamente e a influência de suas características no processo
de religação via sistema ligante Caixa Fria fenólico uretânico.
O processo de regeneração aplicado consiste de planta industrial baseada na
tecnologia de forno de leito fluidizado. Após regeneração, as areias sofreram religação
em laboratório para avaliação das propriedades mecânicas, seguido da caracterização
físico-química da areia-base, discussão e comparação com as características e
propriedades das areias novas. Verificou-se que a areia regenerada apresenta
características físicas e químicas diferenciadas em relação às areias novas, as quais
não afetam as propriedades mecânicas mas diminuem a vida útil das misturas.

PALAVRAS CHAVE: Areia de fundição, Caixa Fria, Regeneração.

ABSTRACT

It was studied the technological properties of the thermally reclaimed core sand and the
influence of the characteristics in the rebonding process in the phenolic urethane Cold
Box process.
The reclamation process applied consists of industrial plant based on the technology of
fluidized bed calciner system. After reclamation, the sands were rebonded in laboratory
for evaluation of the mechanical properties, followed by the physical and chemical
characterization of the base sand, discussion and comparison with the characteristics
and properties of the new sands. It was verified that the reclaimed sand presents
differentiated physical and chemical characteristics in relation to the new sands, which
don't affect the mechanical properties but they reduce bench life of the mixtures.

WORDS KEY: Foundry sand, Cold Box, Reclamation.

(1) Contribuição ao CONAF-ABIFA, São Paulo, 24 a 26 de setembro de 2003.


Este trabalho contém parte dos resultados da Dissertação de Mestrado de
Fabiano Peixoto, realizado na Universidade do Estado de Santa Catarina –
UDESC.
(2) Engenheiro Químico, Mestre em Engenharia de Materiais e Processos
Avançados. Tupy Fundições Ltda. Coordenador Laboratórios - Engenharia
Metalúrgica.
(3) Engenheiro Metalurgista, Mestre em Engenharia, Doutor em Engenharia.
Tupy Fundições Ltda. Diretor-Gerente Engenharia Metalúrgica. Professor da
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.
2

1. INTRODUÇÃO
As tendências de gerenciamento ambiental têm evoluído em função da
regulamentação mundial estabelecida para as questões de desenvolvimento
sustentável, de forma a substituir as alternativas corretivas por medidas preventivas.
A diminuição da geração de resíduos e a reciclagem dos mesmos constituem
práticas consideradas básicas e necessárias, atingindo objetivos de natureza ambiental
e econômica, através da redução de consumo de materiais e economia de taxas de
disposição em aterros controlados.
A indústria de fundição, apesar de empregar em seu processo grandes
quantidades de materiais metálicos reciclados, possui como um dos principais
excedentes de seu processo de fabricação as areias residuais dos sistemas de
moldagem e macharia, as quais não são classificadas como materiais inertes para a
disposição.
A regeneração de areias de fundição é um tema apresentado na literatura há
mais de 40 anos, sendo aplicada através de diferentes processos em fundições do
mundo todo. Atualmente constitui uma alternativa técnica e economicamente viável,
dependendo dos volumes a regenerar, sendo considerada uma operação padrão da
indústria de fundição.
A regeneração de areia é o processo pelo qual as areias de moldagem e
macharia tornam-se reaplicáveis, podendo substituir total ou parcialmente a areia nova
[1] e consiste no tratamento físico, químico ou térmico de um agregado refratário para
permitir sua reutilização sem significante perda das propriedades originais na aplicação
envolvida [2, 3].
O processo não deve ser confundido com a recuperação de areia, a qual
consiste na reintrodução da areia usada no próprio sistema, sendo necessário apenas a
aplicação de operações de desagregação de grumos e remoção de finos e materiais
metálicos [3, 4].
As propriedades tecnológicas de reaplicação do material são função das
características físico-químicas do agregado base regenerado, as quais são definidas
pelo tipo de processamento aplicado.
A qualidade da areia-base possui efeito dramático no desempenho do processo
de macharia Caixa Fria. As características granulométricas, morfológicas, químicas e
aspectos como temperatura e umidade influenciam diretamente na vida útil da mistura
bem como nas propriedades mecânicas dos machos [5, 6].
As areias regeneradas podem possuir suas características físicas e químicas
alteradas em função das operações unitárias a que são submetidas bem como pela
presença de agentes contaminantes residuais oriundos do processo de macharia. Tais
características modificadas podem influenciar negativamente no desempenho do
sistema ligante e serão abordadas a seguir.

2. MÉTODOS EXPERIMENTAIS
O objetivo do presente trabalho consiste na avaliação das propriedades
tecnológicas da areia regenerada e estudo das características de influência da areia
base no processo de religação através do sistema ligante Caixa Fria fenólico uretânico.
O trabalho experimental foi subdivido nas seguintes etapas:
3

1. Regeneração dos resíduos de areia de macharia através de processo


térmicos via forno de leito fluidizado.
2. Religação dos materiais em laboratório e caracterização das propriedades
mecânicas.
3. Caracterização analítica das areias regeneradas e novas (areia padrão e de
processo de fabricação de machos).
4. Discussão e comparação dos resultados e relações entre as características
físico-químicas da areia regenerada e areias novas e seus efeitos nas
propriedades tecnológicas.

O fluxograma da figura 1 demonstra as etapas do procedimento


experimental.
4

Areia de sílica padrão Areia de sílica nova


Módulo de Finura 50 – Módulo de Finura 50 –
57 AFS 57 AFS

Processo de fabricação de machos Caixa Fria e


Caixa Quente

Separação de areia a regenerar (bicos,


quebras, refugos, grumos)

Processo de regeneração térmica via forno de


leito fluidizado

Amostragem

Religação em laboratório via processo Caixa


Fria fenólico uretânico

Ensaios tecnológicos

• Resistência à tração imediata


• Resistência à tração após 24 horas
• Resistência à tração após 24 horas
em câmara úmida
• Vida de banca

Ensaios analíticos

• Umidade
• Perda ao fogo
• Granulometria
• Aspecto superficial
• Demanda ácida
• Análise química

Comparação e discussão dos resultados

Figura 1. Fluxograma de elaboração e caracterização dos materiais.


5

O material a ser regenerado consiste de restos de machos refugados, pinos de


sopros e resíduos de limpeza de equipamentos dos processos Caixa Fria e Caixa
Quente, com areias de módulo de finura 50/57 AFS, utilizado na produção de machos
para blocos e cabeçotes de motores.
O processo de regeneração térmica via leito fluidizado utilizado consiste de uma
planta industrial instalada na unidade de fabricação de blocos e cabeçotes da Tupy
Fundições – Joinville. A instalação é utilizada para a regeneração térmica de resíduos
de areias ligadas pelos processos de macharia Caixa Fria e Caixa Quente, possuindo
capacidade produtiva de 5 t/h e composta pela seqüência de operações apresentada na
figura 2.

1.Silo areia destorroada 3. Resfriador


2. Forno leito fluidiz. 4. Classificador

Figura 2. Esquema da planta de regeneração térmica via forno de leito fluidizado.

A operação de destorroamento é realizada através de peneira vibratória, seguida


do transporte do material, via elevador de canecos, aos silos de alimentação do forno
de leito fluidizado. Esta etapa possui sistema de exaustão e separação magnética,
objetivando a remoção do material fino gerado pela quebra de grãos no processo de
atrição mecânica e a separação de partículas metálicas, tais como parafusos e arruelas
de montagem de machos.
O forno de leito fluidizado opera a temperaturas entre 600 e 630 ºC, através da
combustão de gás natural. Após calcinação, a areia passa pelo sistema de refrigeração,
resfriando a areia a temperaturas médias de 34 ºC.
Uma última operação de peneiramento é aplicada após o resfriamento para
posteriormente a areia ser carregada através de elevadores de caneco para os silos,
estando disponível para a reaplicação no processo de macharia.
O detalhamento dos parâmetros operacionais foi apresentado por Masiero e
Silva [7] no Congresso Internacional de Tecnologia CINTEC/METALURGIA 2002.
Foram efetuados ensaios com as seguintes areias-base:
• Areia regenerada: areia obtida do processo de regeneração descrito acima.
• Areia de processo: areia-base nova utilizada no processo de macharia da Tupy
Fundições e originária da região norte de Santa Catarina.
6

• Areia padrão: areia-base normalizada pela CEMP-ABIFA.

As linhas tracejadas, que são apresentadas juntamente com alguns dos


resultados, representam os limites de intervalo estatístico (+/- 1 desvio padrão) do
histórico das características de fornecimento da areia de processo, utilizados como
padrão comparativo entre as amostras em estudo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Resultados Tecnológicos


3.1.1. Propriedades Mecânicas
Na figura 3 são apresentados os resultados de propriedades mecânicas, onde
observa-se que a areia regenerada apresenta resultados de resistência à tração
imediata e após 24 horas muito similares aos determinados na amostra de areia de
processo.

PROPRIEDADES MECÂNICAS
231
240 219 206
189
200
167
RESISTÊNCIA N/cm 2

160 141

120 95
84 86
80

40

0
PROCESSO

PADRÃO

PROCESSO

PADRÃO

PROCESSO

PADRÃO
REGEN.

REGEN.

REGEN.

IMEDIATA APÓS 24 h APÓS 24 h C.ÚMIDA

Figura 3. Resultados de propriedades mecânicas das areias ligadas.

A areia padrão possui tendência de apresentar resultados um pouco superiores


em relação às demais amostras, porém tais diferenças não são consideradas
significativas. Todas as amostras apresentam valores acima da especificação industrial
mínima (mín 80 e 190 N/cm2 para resistência à tração imediata e para resistência à
tração após 24 horas, respectivamente).
Em relação à resistência à tração após 24 horas em câmara úmida, os
resultados demonstram que a amostra de areia regenerada apresenta valores
superiores à areia de processo e padrão, não estando claras, entretanto, as causas
para o comportamento diferenciado desta propriedade.
7

3.1.2. Vida de Banca


Considerando-se os valores de resistência à tração imediata no tempo zero
como critério para definição da vida de banca, observa-se através dos resultados da
figura 4, que as misturas preparadas com amostras de areias de processo e padrão
possuem comportamentos similares, não apresentando perdas significativas de
resistência no período de 2 horas.
A amostra de areia regenerada apresenta diminuição muito mais rápida das
características de vida de banca, observando-se perdas de resistência mecânica da
ordem de 40% - em relação à resistência inicial - após 2 horas da preparação da
mistura.

VIDA DE BANCA - RESISTÊNCIA IMEDIATA

100

80
RESISTÊNCIA N/cm2

60

40

20

0
0 0,5 1 2 3 4
TEMPO (h)

REGEN. PROCESSO PADRÃO

Figura 4. Resultados de vida de banca obtidos.

Adotando-se outro critério para definição da vida de banca, como por exemplo,
uma redução máxima de 30% da resistência inicial (tempo zero), observa-se que a
areia regenerada apresentaria uma vida de banca de aproximadamente 1 hora contra
aproximadamente 3,5 horas das areias de processo e padrão.
Em suma, pode-se afirmar que as propriedades de resistência à tração imediata,
após 24 horas e após 24 horas em câmara úmida da areia regenerada não foram
afetadas significativamente, observado pelos resultados das propriedades mecânicas
similares aos da areia de processo. Verifica-se, porém, que as características de vida
de banca da areia regenerada foram afetadas de forma negativa enquanto que as
areias novas (processo e padrão) possuem tendências similares.

3.2. Resultados Analíticos


3.2.1. Teor de umidade
A umidade da areia constitui uma variável de grande importância para o
desempenho do sistema ligante Caixa Fria, sendo prejudicial em função da reação
indesejada com o isocianato, impactando negativamente nas propriedades mecânicas e
vida de banca.
8

Através da figura 5, observa-se que a areia regenerada e a areia padrão


apresentam resultados iguais entre si e inferiores aos resultados da areia de processo,
comparando-se tanto ao seu histórico, como à amostra analisada.
Todas as amostras apresentam-se com teores de umidade bem abaixo do limite
máximo de especificação (0,1%) e em função dos resultados, tal característica não
pode ser considerada como uma variável que influenciaria nos resultados das
propriedades tecnológicas do material regenerado.

UMIDADE

0,05

0,04
0,03
0,03
%

0,02
0,01 0,01
0,01

0,00
REG. L. F. PROCESSO PADRÃO
AREIAS

L. I. E.

Figura 5. Resultados de umidade das amostras de areia avaliadas.

O teor de umidade da areia regenerada inferior aos das areias novas – processo
e padrão – é característico do processo térmico aplicado – calcinação - e consiste em
uma informação utilizada na avaliação do processo de secagem do material
regenerado.

3.2.2. Perda ao fogo


Para avaliação desta característica, foram ensaiadas as amostras das areias-
base, bem como dos resíduos de macho (antes da regeneração) e da areia em
processo de regeneração, após o destorroador.
O resultado de perda ao fogo da areia regenerada, apresentado na figura 6,
demonstra que a regeneração térmica promove a redução dos teores de materiais
carbonáceos da areia de macharia a valores inferiores aos da areia de processo e
padrão.
Observa-se que os valores dos machos Caixa Fria e da areia destorroada são
praticamente iguais, o que evidencia a elevada presença de material orgânico, neste
caso, predominantemente, o filme de resina.
9

PERDA AO FOGO

1,60
1,37 1,36
1,40
1,20
1,00
%

0,80
0,60
0,40
0,20
0,20 0,12
0,06
0,00
MACHO CAIXA DESTOR. REGEN. PROCESSO PADRÃO
FRIA
AREIAS

Figura 6. Resultados de perda ao fogo das amostras de areia avaliadas.

Tal afirmação pode ser complementada através das figuras 7 e 8, as quais


apresentam as regiões de ligação da resina-grão quebradas pela ação mecânica das
peneiras vibratórias, a presença de pequenas partículas aderidas à camada superficial
de resina da amostra de areia destorroada e a presença da capa de resina.

Região de Partículas
quebra de aderidas
ligação

Figura 7. Morfologia e aspecto superficial de amostra de areia destorroada


apresentando as regiões de quebra de ligação resina-grão e presença de partículas
aderidas à superfície. Aumentos de (a) 150X e (b) 350X.
10

Filme de
resina

Figura 8. Aspecto superficial da amostra de areia destorroada apresentando a


camada de resina não removida com aumentos de 500 X (a) e 1000 X (b).

Os resultados de perda ao fogo das areias regeneradas evidenciam teores de


materiais carbonáceos inferiores aos da areia base nova de processo e padrão,
confirmando a remoção eficiente da camada de resina bem como de outras impurezas
orgânicas. Conforme mostram os números abaixo, a eficiência de remoção de material
orgânico foi de 96%.

Eficiência (%) = 100 X (PFu – PFr)/Pfu = 96 % (1)

onde:
PF = perda ao fogo
u = areia usada
r = areia regenerada

Os valores de perda ao fogo da areia destorroada e dos machos a regenerar


demonstram que somente a operação de destorroamento não remove a capa de resina
que envolve os grãos, atuando somente na quebra das ligações entre os mesmos.

3.2.3. Características granulométricas


A figura 9 reúne os resultados das características granulométricas determinadas
nas amostras em estudo. A avaliação das características em relação ao histórico de
fornecimento da areia de processo foi aplicada para a argila AFS, módulo de finura AFS
e teor de finos, em função da existência de dados históricos.
Observa-se que a areia regenerada possui o menor teor de argila AFS entre os
materiais em estudo, porém todas as amostras pertencem ao intervalo estatístico do
histórico de fornecimento da areia de processo.
Através dos resultados do módulo de finura verifica-se que a amostra de areia
regenerada possui valor superior à areia de processo, tanto em relação à amostra em
estudo como ao intervalo de confiança do histórico de fornecimento e apresenta-se com
resultados similares à areia padrão. A areia de processo apresenta o menor módulo de
11

finura entre os materiais estudados, pertencente ao intervalo estatístico da média de


seu histórico.
Os resultados do teor de finos (% retido nas 2 últimas peneiras e prato)
demonstram que a areia regenerada possui maior quantidade de partículas finas
quando comparada à amostra de areia de processo estudada e seu histórico.

ARGILA AFS MÓDULO FINURA

0,20 70

0,18 60 57,22 56,21


0,16 51,10
0,14
0,13 50
0,14
0,12 40
0,10

AFS
AFS

0,10
30
0,08
0,06 20
0,04
10
0,02
0,00 0
R EG EN . P R O C ES S O P A D R ÃO R EG EN . PR O C ESSO PA D R Ã O

AREIAS (a) AREIAS (b)


L. I. E. L. I. E.

FINOS COEFICIENTE DE ANGULARIDADE

3 2,35
1,70
1,66
2 1,65
1,60
1,60
2 1,30
1,20
%

1,55
1 1,51
1,50

1
1,45

0 1,40
R EG EN . PR O C ESSO PA D R Ã O R EG EN . PR O C ESSO PA D R Ã O

AREIAS (c) AREIAS (d)


L. I. E.

Figura 9. Características granulométricas das areias em estudo.

Em relação ao coeficiente de angularidade, a areia de processo possui o maior


coeficiente entre as amostras sendo classificada como uma areia composta por grãos
angulares por possuir o coeficiente maior que 1,65. A areia regenerada e a areia padrão
12

são classificadas como sub-angulares por possuírem valores inferiores a 1,65 e


superiores a 1,25.
Mediante caracterização realizada através de microscopia eletrônica de
varredura, observa-se pelas figuras 10 e 11 que os grãos de areia regenerada possuem
suas extremidades desgastadas e arredondadas (grãos sub-angulares) pela atrição
sofrida nas etapas de processamento, enquanto que a areia de processo apresenta
cantos vivos e irregulares (grãos angulares).

(a) (b)

Figura 10. Morfologia de amostra de areia regenerada com aumentos de (a)


150X e (b) 350X.

(a) (b)
Figura 11. Morfologia de amostra de areia de processo com aumentos de (a)
150X e (b) 350X.

Desta forma, através dos resultados granulométricos, observa-se que a amostra


de areia regenerada apresenta teor de finos superior às areias novas, resultado das
etapas de atrição presente no processo de regeneração térmica aplicado.
Tais características granulométricas são função direta da intensidade da ação
mecânica aplicada aos grãos bem como da eficiência do sistema de classificação das
plantas regeneradoras. A influência do processo mecânico aplicado pode ser
observada pelos resultados dos coeficientes de angularidade, demonstrando a
13

transformação de grãos angulares (areia de processo) para grãos sub-angulares (areias


regeneradas).

3.2.4. Demanda ácida


Observa-se através da figura 12 que a amostra de areia regenerada possui valor
mais alto de demanda ácida pH 2 quando comparada com as areias de processo e
padrão, apresentando seu resultado pertencente ao intervalo estatístico do histórico da
areia de processo para a demanda ácida pH 2. Para a demanda ácida pH 6, a amostra
de areia regenerada apresenta-se com valores superiores à amostra de areia de
processo estudada, bem como seu histórico.

DEMANDA ÁCIDA - pH 2 DEMANDA ÁCIDA - pH 6

2 1,80
20

15

m l NaOH
11,30
m l NaOH

9,50 1
10

4,50 0,40
5 0,20

0
0 R EG EN . PR O C ESSO PA D R Ã O
R EG EN . PR O C ESSO PA D R Ã O
AREIAS
AREIAS
L. I. E. (a) L. I. E.
(b)

DEMANDA ÁCIDA

40
35

35
31,4

28,1

30
25,8

25
ml NaOH

17,2

20

15
11,3

9,3

10
3,9

5
1,7

1,7
1,1

0
pH 2 FINOS pH 6 FINOS pH 2 AGIT. 24 h pH 6 AGIT. 24 h

REGEN. PROCESSO PADRÃO


(c)

Figura 12. Resultados de demanda ácida das amostras de areias avaliadas.


14

A mesma tendência é observada nos resultados dos ensaios aplicados à fração


fina das amostras de areia regenerada e de processo bem como para os ensaios
aplicados com 24 horas de agitação em meio ácido.
Através dos valores de demanda ácida, verifica-se que a areia regenerada
possui maior quantidade de material alcalino do que as amostras de areias novas,
apresentando, conseqüentemente, maior reatividade em relação ao sistema ligante
Caixa Fria fenólico uretânico.
Os valores superiores de demanda ácida da areia regenerada estão
relacionados à quantidade, características granulométricas e químicas das partículas
finas contaminantes presentes na areia. Os resultados demonstram que a maior
reatividade/valor de demanda ácida está concentrada na fração fina do material, a qual
tende a acumular os contaminantes da areia-base. Este aspecto foi investigado em
maiores detalhes e é apresentado a seguir.

3.2.5. Composição química superficial


Através da figura 13, observa-se que os resultados da análise química superficial
da amostra de areia regenerada indicam a existência de uma maior quantidade de
impurezas químicas típicas, citadas pela literatura (óxidos alcalinos), quando
comparados com os valores da areia de processo, com exceção do Na2O, o qual é
superior na areia de processo.
A presença dos contaminantes de natureza básica, os óxidos alcalinos CaO,
MgO, K2O e Na2O, está diretamente relacionada aos resultados de demanda ácida
determinados na areia-base e comentados anteriormente.
Observa-se que a areia regenerada apresenta maiores teores de óxidos básicos
formados por elementos alcalinos - K2O - e alcalinos terrosos - CaO e MgO - quando
comparadas à areia de processo.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA SUPERFICIAL AREIAS

Al203 (x100) CaO MgO K2O (x10) Na2O (x10)

54

34
30
mg/Kg

20 19
16 16

9
6
3

COMPOSTOS

REGEN. PROCESSO

Figura 13. Resultados de composição química superficial das amostras de areias


avaliadas (a análise química foi realizada no material presente na superfície da
amostra, solubilizado mediante lavagem ácida da areia).
15

Os compostos acima citados são considerados como os principais


contaminantes alcalinos do processo Caixa Fria, influenciando diretamente no
mecanismo de cura do sistema ligante, refletindo na diminuição das propriedades de
vida de banca.
O composto Al2O3 é classificado como um óxido anfótero, apresentando
comportamento de óxido ácido na presença de bases e de óxido básico na presença de
ácidos [8]. Como no ensaio de demanda ácida a areia é agitada em meio ácido, supõe-
se que o Al2O3 adquira comportamento básico e é identificado como um material
alcalino sendo determinado qualitativamente pelos valores de demanda ácida.
A resina fenólica bem como o isocianato são líquidos extremamente ácidos,
fazendo com que o composto Al2O3 assuma comportamento básico reagindo com a
mistura de resinas e influenciando negativamente no mecanismo de cura de forma
similar aos óxidos citados anteriormente.
Identificada a presença dos contaminantes e seu mecanismo de atuação, a
origem dos mesmos torna-se outra questão a ser compreendida. As fontes possíveis de
contaminação estão relacionadas aos aditivos do sistema ligante, resinas, catalisadores
residuais, colas e tintas.
Verificou-se que as tintas aplicadas aos machos podem representar importante
fonte de contaminação da areia regenerada. A figura 14 apresenta informações sobre a
composição química de uma das tintas empregadas na macharia da Tupy Fundições.
Esta tinta constitui um material que apresenta os compostos identificados na análise
química superficial da areias regenerada, com exceção do Na2O.

COMPOSIÇÃO BÁSICA DA TINTA USADA NO PROCESSO DE MACHARIA

43,02
45
40
34,4
35
30
25
%

20
15 11,38
10 6,18
5 2,65
0,025 0,73 0,81 0,79 0,012
0
K2O
SiO2

Fe2O3
Al2O3

CaO
TiO2

ZrO2
MnO2

MgO

Perdas

COMPOSTOS

Figura 14. Composição química típica de tinta utilizada no acabamento de


machos.

A presença de Na2O na areia de processo em maior quantidade que a areia


regenerada via leito fluidizado demonstra que a jazida da areia-base possui a presença
do mesmo, ocorrendo de forma natural.
16

O efeito da presença das partículas contaminantes pode ser combatido através


da eliminação gradual dos finos mediante otimização do sistema de exaustão ou
através da diluição com areia nova, a qual deve ser evitada, objetivando redução de
custos. Desta forma, verifica-se que os sistemas de classificação e exaustão de uma
planta regeneradora consistem em equipamentos e operações tão importantes e vitais
quanto o próprio sistema de calcinação aplicado.

3.3. Comentários Finais


Resumidamente, pode-se afirmar através dos resultados comentados
anteriormente, que a areia regenerada possui diferentes características granulométricas
e químicas, as quais não afetam significativamente as propriedades mecânicas de
machos com gasagem imediata após mistura, porém possuem forte influência nas
propriedades de vida de banca da mistura.
O efeito da reatividade está relacionado à existência de uma maior fração de
finos na amostra de areia regenerada, parcela esta que tende a acumular os materiais
contaminantes. Quanto menor a granulometria do material contaminante, maior a área
superficial de contato e maior a reatividade da areia em relação ao sistema ligante.
Além da reatividade, em função da granulometria, a presença de compostos
alcalinos, demonstrados pelos resultados da análise química, confirmam e justificam
valores de demanda ácida superiores à areia de processo, acelerando e interferindo no
processo de cura do sistema ligante e afetando negativamente as propriedades de vida
de banca.
As características granulométricas e químicas diferenciadas são função do
processo de regeneração aplicado. Obviamente, o sistema calcinador consiste em uma
etapa de extrema importância para a eficiência do processo de regeneração térmico a
ser aplicado, porém as etapas de classificação e exaustão são de igual importância
para a definição das características físico-químicas do material regenerado.
O sistema térmico aplicado no estudo possui eficiência para a remoção da
camada orgânica que recobre os grãos, demonstrada pelos resultados de perda ao
fogo entre as amostras de areias destorroadas e termo-regeneradas. Entretanto, os
resultados granulométricos demonstram a ineficiência dos sistemas para a classificação
e remoção da parcela indesejada de material fino, a qual demonstrou ser a fonte de
contaminantes dos sistemas estudados, influenciando no desempenho das
propriedades de vida de banca e demonstrando a importância vital dos sistemas de
peneiramento e exaustão.
A areia regenerada termicamente na planta da Tupy Fundições tem sido
reaplicada na fabricação de machos Caixa Fria à proporção de 100%, não observando-
se efeito negativo no processo de macharia e de vazamento, conforme apresentado por
Masiero e Silva [7]. Neste caso a vida de banca não é um aspecto crítico, já que
empregam-se misturadores contínuos, acionados por sensores de volume no silo da
máquina, preparando-se a quantidade de areia correspondente a um sopro, sendo a
capacidade do silo igual a três sopros.
17

4. CONCLUSÃO
Considerando-se que o objetivo inicial do trabalho consistia na avaliação do
comportamento de religação da areia regenerada e estudo das características de
influência da areia base, as conclusões obtidas podem ser resumidas conforme segue:
• As etapas de atrição dos sistemas de regeneração fragmentam e desgastam
os grãos de areia promovendo o arredondamento dos mesmos;
• O desgaste dos grãos proporciona a geração de uma maior quantidade
partículas finas ao produto regenerado, as quais estão associadas à
intensidade da ação mecânica aplicada e à eficiência do sistema de exaustão
da planta regeneradora;
• A fração fina das amostras tende a acumular os contaminantes, os quais são
constituídas por pequenas partículas e apresentam valores elevados de área
superficial com conseqüente maior reatividade;
• A fração contaminante do material estudado possui a presença de óxidos
alcalinos não removidos durante o processo de exaustão, os quais atuam de
forma negativa no mecanismo de cura do sistema ligante;
• As tintas refratárias constituem uma provável fonte de partículas finas de
caráter alcalino, as quais, por serem refratárias, não são eliminadas através
do processo de calcinação. Dependendo da eficiência de exaustão, não são
totalmente removidas após combustão e permanecem como contaminantes
na areia regenerada;
• As propriedades tecnológicas – resistência à tração imediata, após 24 horas e
após 24 horas em câmara úmida - não demonstraram terem sido
significativamente influenciadas pelas características das areias-base
regeneradas;
• As propriedades de vida de banca foram afetadas negativamente em função
da reatividade da areia-base regenerada, identificada pelos elevados valores
de demanda ácida;
• O processo térmico de regeneração utilizado possui grande eficiência de
calcinação, gerando material com teores de carga orgânica inferiores à areia
nova;
• O sistema regenerador aplicado produz areia com grau de pureza
considerado adequado, possuindo um baixo nível de contaminantes e
apresentando características adequadas para a reutilização.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. THE CASTINGS DEVELOPMENT CENTRE. Sand reclamation – Techniques and


equipment. Birmingham: The castings Development Centre, Broadsheet 348,
2000.

2. GOOD, G. Thermal sand reclamation joins foundry and supplier skills. Modern
Casting, v. 81, n. 7, jul. 1991, p. 27-29.
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3. MARIOTTO, C. L. Regeneração de areias: uma tentativa de discussão temática.


São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A.,
1998.

4. FERNANDES, D. L. Areias de fundição aglomeradas com ligantes furânicos.


Itaúna: SENAI-DR.MG, 2001.

5. AMERICAN FOUNDRYMEN´S SOCIETY. Chemically bonded cores and molds.


An operator´s manual for the use of chemically bonded, self-setting sand
mixtures, 1987.

6. ARCHIBALD, J., CAREY, P. Part X - The Phenolic Urethane Amine Cold Box
System. Foundry Management & Technology, mar. 1995, p. 53-58.

7. MASIERO, I., SILVA, R. C. Regeneração térmica de areia na Tupy Fundições.


Trabalho apresentado no Congresso Internacional de Tecnologia –
CINTEC/METALURGIA 2002. Joinville, set. 2002.

8. SARDELLA, A., MATEUS, E. Curso de Química. Química Geral, 21ª ed. São
Paulo, Ática S.A., v. 1, 1995, p. 262-296.

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