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ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

DEPTO. DE ENGENHARIA MECÂNICA


SISEA – LAB. DE SISTEMAS ENERGÉTICOS ALTERNATIVOS
www.usp.br/sisea

PME – 3361 Processos de Transferência de Calor


Prof. Dr. José R Simões Moreira

2o semestre/2016
versão 1.5
primeira versão: 2005
Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 2

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE

Este trabalho perfaz as Notas de Aula da disciplina de PME


3361 - Processos de Transferência de Calor (antiga PME
2361) ministrada aos alunos do 3º ano do curso de
Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da USP.

O conteúdo aqui apresentado trata de um resumo dos


assuntos mais relevantes do livro texto “Fundamentos de
Transferência de Calor e Massa” de Incropera e Dewitt.
Também foram utilizados outros livros-texto sobre o
assunto para um ou outro tópico de interesse, como é o
caso do “Transferência de Calor” de Holman.

O objetivo deste material é servir como um roteiro de


estudo, já que tem um estilo quase topical e ilustrativo. De
forma nenhuma substitui um livro texto, o qual é mais
completo e deve ser consultado e estudado.

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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 3

Prof. José R. Simões Moreira

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2457667975987644

Breve Biografia

Graduado em Engenharia Mecânica pela Escola Politécnica da USP (1983), Mestre em


Engenharia Mecânica pela mesma instituição (1989), Doutor em Engenharia Mecânica -
Rensselaer Polytechnic Institute (1994) e Pós-Doutorado em Engenharia Mecânica na
Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (1999). Atualmente é Professor Associado da
Escola Politécnica da USP, professor do programa de pós-graduação do Instituto de Energia e
Meio Ambiente (IEE-USP), professor de pós-graduação do programa de pós-graduação em
Engenharia Mecânica da EPUSP, pesquisador do CNPq, consultor ad hoc da CAPES, CNPq,
FAPESP, entre outros, Foi secretário de comitê técnico da ABCM, Avaliador in loco do
Ministério da Educação. Tem experiência na área de Engenharia Térmica, atuando
principalmente nos seguintes temas: mudança de fase líquido-vapor, uso e processamento de gás
natural, refrigeração por absorção, tubos de vórtices, sensores bifásicos, energia solar, ciclos
termoquímicos e sistemas alternativos de transformação da energia. Tem atuado como revisor
técnico de vários congressos, simpósios e revistas científicas nacionais e internacionais.
MInistra(ou) cursos de Termodinâmica, Transferência de Calor, Escoamento Compressível,
Transitórios em Sistemas Termofluidos e Sistemas de Cogeração, Refrigeração e Uso da
Energia e Máquinas e Processos de Conversão de Energia. Coordenou cursos de especialização
e extensão na área de Refrigeração e Ar Condicionado, Cogeração e Refrigeração com Uso de
Gás Natural, termelétricas, bem como vários cursos do PROMINP. Atualmente coordena um
curso de especialização intitulado Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência
Energética por meio do PECE da Poli desde 2011 em sua décima segunda edição. Tem sido
professor de cursos de extensão universitária para profissionais da área de termelétricas,
válvulas e tubulações industriais, ar condicionado, tecnologia metroferroviária e energia. Tem
participado de projetos de pesquisa de agências governamentais e empresas, destacando:
Fapesp, Finep, Cnpq, Eletropaulo, Ipiranga, Vale, Comgas, Petrobras, Ultragaz e Fapesp/BG-
Shell. Foi agraciado em 2006 com a medalha ´Amigo da Marinha`. Foi professor visitante na
UFPB em 2000 - João Pessoa e na UNI - Universitat Nacional de Ingenieria em 2002 (Lima -
Peru). Foi cientista visitante em Setembro/2007 na Ecole Polytechnique Federale de Lausanne
(Suiça) dentro do programa ERCOFTAC - ´European Research Community On Flow,
Turbulence And Combustion`. Participou do Projeto ARCUS na área de bifásico em
colaboração com a França. Foi professor visitante no INSA - Institut National des Sciences
Appliquées em Lyon (França) em junho e julho de 2009. Tem desenvolvido projetos de cunho
tecnológico com apoio da indústria (Comgas,Eletropaulo, Ipiranga, Petrobras e Vale). Possui
uma patente com aplicação na área automobilística. É autor de mais de 100 artigos técnico-
científicos, além de ser autor dos livros "Fundamentos e Aplicações da Psicrometria" (1999) e
“Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência Energética (2016) e autor de um
capítulo do livro "Thermal Power Plant Performance Analysis" (2012). Já orientou mais de 20
mestres e doutores, além de cerca de 50 trabalhos de conclusão de curso de graduação e
diversas monografias de cursos de especialização e de extensão, bem como trabalhos de
iniciação científica, totalizando um número superior a 90 trabalhos. Possui mais de 100
publicações, incluindo periódicos tecnico-científicos nacionais e internacionais. Finalmente,
coordena o laboratório e grupo de pesquisa da EPUSP de nome SISEA - Lab. de Sistemas
Energéticos Alternativos.

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AULA 1 - APRESENTAÇÃO

1.1. INTRODUÇÃO

Na EPUSP, o curso de Processos de Transferência de Calor sucede o curso de


Termodinâmica clássica no 3º ano de Engenharia Mecânica. Assim, surge de imediato a
seguinte dúvida entre os alunos: Qual a diferença entre “Termo” e “Transcal”? ou “há
diferença entre elas”?
Para satisfazer à essa dúvida, vamos considerar dois exemplos ilustrativos das áreas de
aplicação de cada disciplina. Para isso, vamos recordar um pouco das premissas da
Termodinâmica.

A Termodinâmica lida com estados de equilíbrio térmico, mecânico e químico, e é


baseada em três leis fundamentais:

- Lei Zero (“equilíbrio de temperaturas” – permite a medida de


temperatura e o estabelecimento de uma escala de temperatura)
- Primeira Lei (“conservação de energia” – energia se conserva)
- Segunda Lei (“direção em que os processos ocorrem e limites de
conversão de uma forma de energia em outra”)

Dois exemplos que permitem distinguir as duas disciplinas:

(a) Equilíbrio térmico – frasco na geladeira

Considere um frasco fora da geladeira à temperatura ambiente. Depois, o mesmo é


colocado dentro da geladeira, como ilustrado. Claro que, inicialmente, TG  T f

frasco

t

T f  Tambiente T f  TG

inicial final

As seguintes análises são pertinentes, cada qual, no âmbito de cada disciplina:

Termodinâmica: QT  U  mcT - fornece o calor total necessário a ser transferido do


frasco para resfriá-lo baseado na sua massa, diferença de temperaturas e calor específico
médio – APENAS ISTO!

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Transferência de calor: responde outras questões importantes, tais como: quanto


tempo t  levará para que o equilíbrio térmico do frasco com seu novo ambiente
(gabinete da geladeira), ou seja, para que Tf = TG seja alcançado? É possível reduzir (ou
aumentar) esse tempo?

Assim, a Termodinâmica não informa nada a respeito do intervalo de tempo t para


que o estado de equilíbrio da temperatura do frasco ( T f ) com a da geladeira ( TG ) seja
atingido, embora nos informe quanto de calor seja necessário remover do frasco para
que esse novo equilíbrio térmico ocorra. Por outro lado a disciplina de Transferência
de Calor vai permitir estimar o tempo t , bem como definir quais parâmetros podemos
interferir para que esse tempo seja aumentado ou diminuído, segundo nosso interesse.

De uma forma geral, toda vez que houver gradientes ou diferenças finitas de
temperatura ocorrerá também uma transferência de calor. A transferência de calor pode
se dar no interior de um corpo ou sistema ou na interface da superfície deste corpo e um
meio fluido.

(b) Outro exemplo: operação de um ciclo de compressão a vapor

qc

condensador

compressor válvula

wc evaporador

qe
TERMIDINÂMICA: 1ª Lei: wc  qe  qc . Permite conhecer ou estabelecer o trabalho
e os fluxos de calor envolvidos, mas não permite dimensionar os equipamentos
(tamanho e diâmetro das serpentinas do condensador e do evaporador, por exemplo),
apenas lida com as formas de energia envolvidas e o desempenho do equipamento,
como o COP:
q
COP  e
wc

TRANSFERÊNCIA DE CALOR: permite dimensionar os equipamentos térmicos de


transferência de calor. Por exemplo, responde às seguintes perguntas:

- Qual o tamanho do evaporador / condensador?


- Qual o diâmetro e o comprimento dos tubos?
- Como atingir maior / menor troca de calor?
- Outras questões semelhantes.
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Problema-chave da transferência de calor: o conhecimento do fluxo de calor.

O conhecimento dos mecanismos de transferência de calor permite:

- Aumentar o fluxo de calor: projeto de condensadores, evaporadores, caldeiras, etc.;


- Diminuir o fluxo de calor: Evitar ou diminuir as perdas durante o “transporte” de frio
ou calor como, por exemplo, tubulações de vapor, tubulações de água “gelada” de
circuitos de refrigeração;
- Controle de temperatura: motores de combustão interna, pás de turbinas, aquecedores,
etc.

1.2 MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

A transferência de calor ocorre de três formas, quais sejam: condução, convecção e


radiação térmica. Abaixo se descreve cada um dos mecanismos.

(a) Condução de calor

- Gases, líquidos – transferência de calor dominante ocorre da região de alta


temperatura para a de baixa temperatura pelo choque de partículas mais energéticas para
as menos energéticas.
- Sólidos – energia é transferência por vibração da rede (menos efetivo) e, também, por
elétrons livres (mais efetivo), no caso de materiais bons condutores elétricos.
Geralmente, bons condutores elétricos são bons condutores de calor e vice-versa. E
isolantes elétricos são também isolantes térmicos (em geral).

A condução, de calor é regida pela lei de Fourier (1822)

T1 . . T2
qx

sólido

dT
qx  A
dx

onde: A : área perpendicular ao fluxo de calor q x


T : temperatura

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A constante de proporcionalidade  é a condutividade ou condutibilidade térmica do


material, k, ou seja:
dT
qx  kA
dx

As unidades no SI das grandezas envolvidas são:


[ qx ] = W ,
[ A ] = m2 ,
[ T ] = K ou o C ,
[x] = m.
W W
assim, as unidades de k são: [ k ] = ou
m C
o
mK

A condutividade térmica k é uma propriedade de transporte do material. Geralmente, os


valores da condutividade de muitos materiais encontram-se na forma de tabela na seção
de apêndices dos livros-texto.

Necessidade do valor de (-) na expressão

Dada a seguinte distribuição de temperatura:

Para T2  T1
T

T2

T

x
T1

x1 x2 x

qx  0 (pois o fluxo de calor flui da região de maior para a de menor temperatura. Está,
portanto, fluindo em sentido contrário a orientação de x)

T  0 T
Além disso, do esquema;   0 , daí tem-se que o gradiente também será
x  0  x
positivo, isto é:

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dT
0 mas, como k  0 (sempre), e A  0 (sempre), concluí-se que,
dx
então, é preciso inserir o sinal negativo (-) na expressão da condução de calor (Lei de
Fourier) para manter a convenção de que qx  0
Se as temperaturas forem invertidas, isto é, T1  T2 , conforme próximo esquema, a
equação da condução também exige que o sinal de (-) seja usado (verifique!!)

De forma que a Lei da Condução de Calor é:

dT Lei de Fourier (1822)


q x  kA
dx

(b) Convecção de Calor

A convecção de calor é baseada na Lei de resfriamento de Newton (1701)

q  A(TS  T )

Onde a proporcionalidade  é dada pelo coeficiente de transferência de calor por


convecção, h, por vezes também chamado de coeficiente de película. De forma que:

q  hA(TS  T )

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onde:
A : Área de troca de calor;
TS : Temperatura da superfície;
T : Temperatura do fluido ao longe.

- O problema central da convecção é a determinação do valor de h que depende de


muitos fatores, entre eles: geometria de contato fluido-superfície (área da superfície, sua
rugosidade e sua geometria), propriedades termodinâmicas e de transportes do fluido,
temperaturas envolvidas, velocidades. Esses são alguns dos fatores que interferem no
seu valor.

(c) Radiação Térmica

A radiação térmica é a terceira forma de transferência de calor e é regida pela lei de


Stefan – Boltzmann. Sendo que Stefan a obteve de forma empírica (1879) – e
Boltzmann, de forma teórica (1884).
Corpo negro – irradiador perfeito de radiação térmica

q  AT 4 (para um corpo negro)

  constante de Stefan – Boltzmann (5,669x10-8 W/m2 K4)

Corpos reais (cinzentos) q   AT 4 , onde  é a emissividade da superfície que é


sempre menor que a unidade.

Mecanismo físico: Transporte de energia térmica na forma de ondas eletromagnéticas


ou fótons, dependendo do modelo físico adotado. Não necessita de
meio físico para se propagar. Graças a essa forma de transferência
de calor é que existe vida na Terra devido à energia na forma de
calor da irradiação solar que atinge nosso planeta.

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