Você está na página 1de 8

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MÉTODOS DE CZERNY, MARCUS E GRELHA PARA O CÁLCULO

ENGENHARIAS
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MÉTODOS DE CZERNY, MARCUS E GRELHA PARA O
CÁLCULO DE LAJES MACIÇAS

Igor Charlles Siqueira Leite


Mestre em Engenharia Civil pela COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Professor do curso de pós-graduação em Engenharia Estrutural da UNISUAM
engfabigor@gmail.com

Dirceu Pimentel da Silveira


Especialista em Engenharia Estrutural pela UNISUAM, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
dirceu.engcivil@hotmail.com

Luis Eduardo Amâncio Aguiar


Mestre em Gestão em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade
Federal
Professor do curso de pós-graduação em Engenharia Estrutural da UNISUAM
Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil.
leduaguiar@unisuam.edu.br

José Eudes Marinho da Silva


Mestre em Engenharia de Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), Rio
de Janeiro, RJ, Brasil.
j.eudesmarinho@souunisuam.com.br

RESUMO

O presente trabalho é uma análise comparativa entre os métodos de cálculo de lajes de


concreto armado maciças utilizando as tabelas de Czerny, Marcus e o método de analogia
de grelhas com a utilização do software Eberick para determinado tipo de arquitetura. O
objetivo do trabalho foi de analisar, comparar e verificar se a diferença entre os métodos
de cálculo são significativas para o modelo da arquitetura apresentada. Analisando as
diferenças entre os modelos foi verificado que entre os métodos de Czerny e Marcus as
diferenças entres eles são mínimas. Nas lajes L1 e L5 os maiores momentos fletores nas
direções Lx e Ly foram apresentados com o método de Marcus enquanto que nas Lajes
L2, L3 e L4 os maiores momentos fletores nas direções Lx e Ly foram apresentados com
o método de Czerny. Quando comparados ao método de analogia de grelhas, com a
utilização do Eberick, chegou-se a discrepâncias significativas nos momentos positivos
na direção Ly, os maiores momentos fletores positivos foram obtidos com o método de
analogia de grelhas e os maiores momentos negativos foram obtidos pelos métodos de
Czerny e Marcus. Tais diferenças deve-se ao método de Marcus e Czerny considerarem
que as vigas são indeformáveis (método das charneiras plásticas), o que não corresponde

Projectus | Rio de Janeiro | v. 2 | n. 4 | p. 114-121 | 2017 114


Igor Charlles Siqueira Leite, Dirceu Pimentel da Silveira, Luis Eduardo Amâncio Aguiar e José Eudes Marinho da Silva

ENGENHARIAS
a maioria dos casos de distribuição das cargas das lajes sobre as vigas.

Palavras-chave: Lajes maciças. Czerny. Marcus. Analogia de Grelha.

COMPARATIVE ANALYSIS BETWEEN METHODS OF CZERNY, MARCUS AND GRILLE FOR


THE CALCULATION OF SOLID DECK

ABSTRACT

This study is a comparative analysis of the methods of calculation of massive reinforced


concrete decks using the tables of Czerny, Marcus and the analogy method grids using
the software Eberick for certain type of architecture. The objective was to analyze,
compare and verify that the difference between the calculation methods are significant
to the model presented architecture. Analyzing the differences between the models it
was verified that among the methods of Czerny and Marcus the differences between
them are minimal. The L1 and L5 slabs larger bending moments Lx and Ly were presented
with the Marcus method while in Lajes L2, L3 and L4 the largest bending moments Lx
and Ly were presented with the Czerny method. When compared to the analogy method
grids using the Eberick come to significant discrepancies in the positive moments in the
direction Ly, the main positive bending moments were obtained with the analogy method
grids and the biggest negative moments were obtained by the methods of Czerny and
Marcus. Such differences due to the method of Marcus and Czerny consider that the
beams are dimensionally stable (the plastic hinges method) which does not correspond
to most cases of distribution of the loads of the slab on the beams.

Keywords: Solid deck, Czerny, Marcus method method, grid analogy.

1 INTRODUÇÃO

Há anos o cálculo de pavimentos de edifícios, compostos por lajes e vigas, tem


sido feito de maneira simplificada com o uso de tabelas. Considerava-se que as lajes
isoladas apoiavam-se em vigas rígidas. As continuidades entre os painéis eram tratadas
de forma simplificada como se não houvesse uma interação entre elas ou supondo um
engastamento fixo, no qual era feito uma compatibilização dos momentos fletores.
No início não existia recursos computacionais capazes de resolver o grande
volume de equações simultâneas necessárias para analisar uma estrutura como um
todo.
Atualmente apesar de existirem diversos programas capazes de realizar análises
com alto grau de refinamento, existe uma cultura acerca de resultados esperados para

Projectus | Rio de Janeiro | v. 2 | n. 4 | p. 114-121 | 2017 115


ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MÉTODOS DE CZERNY, MARCUS E GRELHA PARA O CÁLCULO

ENGENHARIAS
lajes que se baseia nas teorias simplificadas. Hoje está disponível no mercado alguns
softwares de análise estrutural que permitem analisar o comportamento da estrutura
como um todo, apresentando um resultado mais próximo da realidade do funcionamento
da mesma. A maioria dos softwares de análise estrutural utilizam o processo de analogia
de grelhas. O objetivo deste trabalho é comparar e analisar a diferença entre os
resultados obtidos para os momentos fletores máximos positivos e negativos, a partir de
um projeto definido. Foi utilizado as tabelas de Marcus, Czerny e o método pelo processo
de Analogia de Grelhas com a utilização do software Eberick V9.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Método de Marcus


Método de Marcus é um método elástico misto, que fornece valores satisfatórios
para os momentos da laje nos estados limites de serviço. É aplicado para lajes armadas
em cruz. O Método prevê seis casos de calculo, de acordo com os vínculos dos bordos
da laje, apoio simples ou engaste. O parâmetro de entrada é o coeficiente λ, conforme
apresentado na Equação 1. No qual lx é o vão perpendicular ao maior número de bordos
engastados, existindo igualdade lx será o menor vão. As referências quanto a esses
valores podem ser vistos em Botelho (2010).
Os momentos fletores positivos e negativos nas direções x e y, por unidade
de comprimento são calculados pelas equações vistas em Botelho (2010) a partir de
coeficientes obtidos da tabela de acordo com o caso. As tabelas fornecem ainda um
coeficiente onde se obtem a carga por área nas direções ortogonais x e y.

2.2 Método de Czerny


Método de Czerny, baseado na Teoria da Elasticidade, os momentos
fletores positivos e negativos são dados por equações específicas podendo este modelo
ser visto em Botelho (2010).

2.3. Analogia de Grelhas


O processo é fundamentado na substituição de um pavimento por uma
grelha equivalente, em que as barras da grelha representam os elementos estruturais
do pavimento (vigas e lajes). Esse processo permite reproduzir o comportamento
estrutural de pavimentos com praticamente qualquer geometria, seja ele composto por

Projectus | Rio de Janeiro | v. 2 | n. 4 | p. 114-121 | 2017 116


Igor Charlles Siqueira Leite, Dirceu Pimentel da Silveira, Luis Eduardo Amâncio Aguiar e José Eudes Marinho da Silva

ENGENHARIAS
lajes de concreto armado maciças, com ou sem vigas, ou por lajes nervuradas. Dessa
maneira, deve-se dividir as lajes em um número adequado de faixas, as quais terão
larguras dependentes da geometria e das dimensões do pavimento. Essas faixas podem
ser substituídas por elementos de barras, obtendo-se uma grelha (equivalente) que
representa o pavimento. (Hambly, 1976)
Admite-se que as cargas distribuídas se dividem entre as barras da grelha de
acordo com a sua área de influência; as cargas podem ser consideradas uniformemente
distribuídas ao longo das barras ou da grelha ou concentradas nos nós.

2.4 Metodologia do Estudo de Caso


O estudo baseou-se em uma arquitetura hipotética, a qual foi definida os vãos
efetivos das vigas. A partir disso, calcularam-se os momentos positivos e negativos, de
acordo com o preconizado na NBR 6118/2014. Em seguida, utilizaram-se os coeficientes
das tabelas de Marcus e Czerny para compatibilização dos momentos fletores. Com os
esforços calculados, verificou-se as seções de concreto por e por fim as áreas de aço.
No Eberick, realizou-se o lançamento da estrutura no programa. Lembra-se que foi
utilizada a configuração default do programa, que utiliza os critérios de dimensionamento
da NBR 6118/2014. Em seguida, foram obtidos os momentos e as áreas de aço e, então,
realizou-se uma comparação entre os modelos de análise aqui apresentado. O modelo
estrutural adotado por ser visto na Figura 1. Os cálculos aqui obtidos podem ser vistos
em Silveira (2015).
Figura 1 – Modelo Estrutural do Trabalho


2.5 Análise e Discussão dos Resultados
Os Quadros 1 e 2 apresentam os valores extraídos do Eberick para os momentos
de cálculo positivo e negativo.

Projectus | Rio de Janeiro | v. 2 | n. 4 | p. 114-121 | 2017 117


ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MÉTODOS DE CZERNY, MARCUS E GRELHA PARA O CÁLCULO

ENGENHARIAS
Quadro 1 – Momentos fletores positivos obtidos com o Eberick

Valores obtidos do Eberick momento positivo


Laje Mxd (kN.m) Myd (kN.m)
L1 5,72 5,45
L2 2,57 5,14
L3 2,57 5,01
L4 2,66 5,28
L5 5,41 5,45

Quadro 2 – Momentos fletores negativos obtidos com o Eberick

Valores obtidos do Eberick momento positivo


Laje Xxd (kN.m)
L1 – L2 5,79
L2 – L3 4,94
L3 – L4 5,45
L4 – L5 6,19
O Quadro 3 apresenta uma comparação entre os momentos de cálculo. Para
o método de Marcus e Czerny os valores foram multiplicados por 1,4 para obter o
momento de calculo. Observa-se que para lajes L1 e L5 os valores obtidos com Marcus
e Czerny ficaram menores do que os valores obtidos com o Eberick, na direção lx 1% e
5% respectivamente, já na direção ly ficaram menores 63% e 66%. Nas Lajes L1, L2 e L3
na direção lx, foram obtidos os maiores momentos fletores com os método de Marcus e
Czerny. A laje L3 ficou com um momento de calculo 28% superior ao obtido com o Eberick.
Na direção ly o quadro foi inverso os maiores momentos de cálculo foram obtidos com o
Eberick na laje L2 ficou 87% maior que o valor encontrado com os métodos de Marcus e
Czerny, essas diferenças em percentuais podem ser verificadas no quadro 4. A diferença
entre os valores se dá pelo fato do Eberick considerar na sua análise a plastificação dos
apoios. Além disso, o método teórico de Marcus e Czerny não levam em consideração a
deformação dos apoios, alterando consideravelmente os valores dos esforços. Na Figura
2 pode ser vista a planta de forma da laje calculada com as respectivas direções lx e ly
utilizadas.

Projectus | Rio de Janeiro | v. 2 | n. 4 | p. 114-121 | 2017 118


Igor Charlles Siqueira Leite, Dirceu Pimentel da Silveira, Luis Eduardo Amâncio Aguiar e José Eudes Marinho da Silva

ENGENHARIAS
Figura 2 – Planta de Forma da Laje Calculada

Quadro 3 – Comparação entre os resultados de Momentos de calculo

Analogia de Grelhas Marcus Czerny


Eberick V9
  Mdx (kN.m) Mdy (kN.m) Mdx (kN.m) Mdy (kN.m) Mdx (kN.m) Mdy(kN.m)
Laje L1 5,72 5,45 5,71 2,04 5,46 1,86
Laje L2 2,57 5,14 2,80 0,69 3,08 1,00
Laje L3 2,57 5,01 3,08 0,86 3,36 1,12
Laje L4 2,66 5,28 3,42 1,13 3,70 1,28
Laje L5 5,41 5,45 5,43 1,94 4,94 1,80

Quadro 4 – Comparação em percentual dos Momentos de cálculo em relação aos valores obtidos com o
Eberick.
Marcus Czerny
  Mdx Mdy Mdx Mdy
Laje L1 -0,14% -62,49% -4,55% -65,82%
Laje L2 8,95% -86,50% 19,84% -80,51%
Laje L3 19,84% -82,87% 30,74% -77,58%
Laje L4 28,42% -78,60% 38,95% -75,70%
Laje L5 0,41% -64,42% -8,65% -66,97%

Levando em consideração o preconizado na NBR 6118/2014, as lajes calculadas


pelos métodos de Marcus e Czerny precisaram sofrer alteração na área de aço, pelo
fato desta área esta abaixo da taxa de armadura mínima prevista. Com isso, foi possível
observar que os valores de área de aço nas direções lx para as lajes L2, L3 e L4 ficaram
praticamente iguais ao valores encontrados no Eberick e nas direções ly a área de aço
calculado pelo Eberick foi maior do que dos outros modelos. No Quadro 5 pode-se
verificar essas diferenças em percentuais.

Projectus | Rio de Janeiro | v. 2 | n. 4 | p. 114-121 | 2017 119


ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MÉTODOS DE CZERNY, MARCUS E GRELHA PARA O CÁLCULO

ENGENHARIAS
Quadro 5 – Análise percentual da taxa de armadura positiva em relação ao método de analogia de
grelhas
Marcus* Czerny*
Laje Asx Asy Asx Asy
L1 15% -50% 10% -50%
L2 -1% -47% -1% -47%
L3 -1% -46% -1% -46%
L4 -1% -48% -1% -48%
L5 16% -50% 5% -50%

Verificou-se então que os valores encontrados com os métodos de Marcus e


Czerny para área aço negativa foram maiores que os valores encontrados com método
de Grelhas com a utilização do Eberick, observa-se na laje L1 + L2 que o métodos de
Marcus obteve um resultado 44% maior que o o resultado encontrado com o Eberick e
nas laje L4 + L5 com o método de Czerny verifica-se um resultado 38% maior do que o
resultado obtido com o Eberick, no quadro 6 pode-se ver essas variações em percentual.
Quadro 6 – Análise percentual da área de aço de armadura negativa em relação ao método de analogia
de grelhas
Marcus Czerny
Laje As
-
As-
L1 + L2 43,96% 36,71%
L2 + L3 24,95% 27,23%
L3 + L4 25,23% 27,84%
L4 + L5 42,22% 37,97%

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados apresentados verificou-se que as diferenças entre os


métodos de Marcus e Czerny são mínimos comparados entre si, observa-se no cálculo
dos momentos positivos da laje L1 uma variação entre eles de 5% na direção lx. Quando
comparados com o método de analogia de grelhas com a utilização do Eberick obteve-
se algumas discrepâncias consideráveis principalmente na direção ly onde verifica-se os
valores encontrados pelos métodos de Marcus e Czerny foram menores que o encontrado
com o Eberick nas lajes L1 e L5 a diferença chegou a 50%. Na área de aço da armadura
negativa laje L1 com o método de Marcus ficou 44 % superior ao valor encontrado com o
Eberick. Essas variações são devidas ao fato dos métodos Marcus e Czerny considerarem

Projectus | Rio de Janeiro | v. 2 | n. 4 | p. 114-121 | 2017 120


Igor Charlles Siqueira Leite, Dirceu Pimentel da Silveira, Luis Eduardo Amâncio Aguiar e José Eudes Marinho da Silva

ENGENHARIAS
que as vigas são indeformáveis (método das charneiras plásticas), o que não acontece na
maioria dos casos de distribuição das cargas das lajes sobre as vigas.
O método de análise das lajes através da analogia de grelha permite um modelo
mais próximo do comportamento real da estrutura como um todo, este método de
análise do comportamento físico da laje verifica de maneira qualitativa os deslocamentos
da laje e a distribuição dos esforços no modelo elástico, modelo não linear e de
dimensionamento. O comportamento da laje depende muito da rigidez do pavimento,
constituída pelas dimensões das vigas e pelos vínculos entre as vigas e pilares.
Em pavimentos de edifícios reais, as lajes estão apoiadas sobre vigas que
são flexíveis. Esta condição de apoio altera o campo de deformações da laje e, como
consequência, os esforços internos e as reações de apoio. Nos processos para lajes
isoladas, supõe-se que os apoios sejam indeformáveis. É importante ressaltar que ambos
os métodos estão corretos. São métodos consolidados na Engenharia Estrutural e a
diferença entre as áreas de aço encontradas se dá pelas explicações dadas anteriormente.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de concreto –


Procedimento, NBR 6118. Rio de Janeiro, ABNT, 2014.

BOTELHO, M. H. C.; MARCHETTI, O. Concreto armado eu te amo. São Paulo: ed. Edgard
Blucher; 2010 e 2007, Vols 1 e 2.

Eberick V9. AltoQI Tecnologia em Informática Ltda. Disponível em: <http://www.altoqi.


com.br/>. Acesso em: 29 set. 2015.

HAMBLY, E. C. Bridge deck behaviour. London: Chapman and Hall, 1976.

SILVEIRA, D. P. Análise Comparativa Entre os Métodos de Czerny, Marcus e Grelha para


o Cálculo de Lajes Maciças. Monografia de pós-graduação em Engenharia Estrutural. Rio
de Janeiro: Centro Universitário Augusto Motta, 2015.

Projectus | Rio de Janeiro | v. 2 | n. 4 | p. 114-121 | 2017 121

Você também pode gostar