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Pesquisadores do Butantan fazem sequenciamento gendmico da jararaca, primeiro estudo do género em uma serpente brasileira Pubic em: 20/05/2021 Estudo revela que maioria dos genes que produzem peconha provavelmente surgiram da transformago de outros com fungées diferentes Um grupo liderado por pesquisadores do Instituto Butantan e financiado pela Fundagao de Amparo a Pesquisa do Estado de Sao Paulo (FAPESP) realizou o primeiro sequenciamento genético de uma serpente brasileira: a jararaca, O estudo, publicado na revista cientifica PNAS, revelou que nove dos genes responsaveis pela produgao das toxinas do veneno na jararaca (Bothrops jararaca) evoluiram, provavelmente, de genes que tinham outras fungbes no ancestral do animal, ‘Com o sequenciamento do genoma da jararaca, pudemos identificar marcadores que permitiram comparar os genes que produzem toxinas com os que esto na mesma posigdo em genomas de outros animais, como serpentes sem veneno, lagartos e anflbios. Observamos que nove dos 12 tipos de genes que produzem peconha na jararaca eram muito parecidos com aqueles encontrados na mesma posi¢ao da sequéncia de DNA dessas outras espécies. Isso nos permite afirmar que a maioria dos genes de toxina provavelmente surgiu a partir de elementos que jd existiam naquele local do genoma do ancestral comum a todos esses animals”, explica 0 coordenador do estudo e pesquisador do Instituto Butantan, Indcio de Loiola Meirelles Junqueira de Azevedo. De acordo com a pesquisa, os genes exerciam papéis fsiolégicos em um ancestral comum de todas essas espécies. Em algum momento, eles possivelmente comecaram a apresentar uma alividade semelhante a de toxinas, foram selecionados para esse caminho e, assim, perderam a funcao original. “Esse estudo trouxe elementos para entender a evolugdo das toxinas e quai foram os mecanismos que levaram alguns genes a serem recrutados para exercer a nova fungdo como produtores de componentes de veneno”, conta Diego Dantas Almeida, um dos autores principais do estudo, que foi realizado durante seu doutorado no Butantan com apoio da FAPESP. O sequenciamento mostrou ainda que dois genes que codificam importantes toxinas provavelmente se originaram a partir de duplicagdo. Com uma cépia realizando as fungdes originals do gene, é normal em qualquer organismo que a outra possa evoluir mais livremente para exercer diferentes atividades. No caso das serpentes da familia da jararaca, essas copias podem ter sofrido alguma pressao seletiva para gerar duas familias de. toxinas que respondem pela maior parte da acao do veneno, a metaloproteinase, conhecida pela sigla SVMP, e a fosfolipase AZ (PLA2). A conclusio do sequenciamento rebateu a hipétese até entao predominante de que a maioria dos genes produtores de pegonha nas jararacas tinham se originado dessa forma "Apenas nessas duas familias de genes produtores de toxinas conseguimos demonstrar que ainda existem genes ‘ancestrais' no \xicos, presentes no cédigo genético, logo ao lado das toxinas. Para as outras, os ancestrais se perderam completamente, provavelmente se transformando em geradores de toxinas’, afirma Vincent Louis Viala, outro autor principal do estudo, realizado durante seu pés-doutorado no Butantan, Nao fol possivel determinar a origem de apenas uma das 12 familias de genes que codificam toxinas na serpente. Esforco de pesquisa grupo tenta realizar 0 sequenciamento do genoma da jararaca desde 2013. A serpente 6 responsavel pela maior parte dos acidentes ofidicos na regio Sudeste do Brasil, e é uma das mais estudadas, No entanto, os cientistas ainda nao tinham informagbes fundamentais da origem do veneno, que o sequenciamento genético agora trouxe. Mais do que saber os genes oxistentes em um organismo, para obter um genoma completo é preciso monté-lo na sequéncia correta, Essa é uma das partes mais complexas do trabalho, uma vez que o sequenciamento gera uma grande quantidade de informagées, que depois precisam ser pracessadas por meio de ferramentas de computagdo. ‘Apenas nos iiltimos anos, apés combinar diversos métodos, 0 grupo conseguiu obter uma montagem satisfatéria do genoma, com a colaboragao de pesquisadores da Ohio State University, nos Estados Unidos. O genoma agora esta disponivel on-line para quem quiser estudé-t. COutras respostas importantes foram obtidas a partir do trabalho. Em 2009, uma andlise realizada por pesquisadores japoneses de alguns genes de veneno da Protobothrops flavoviridis, serpente peconhenta da mesma familia da jararaca (Viperidae), havia mostrado que o gene que produzia a toxina VEGF-F, também presente na cobra brasileira, era provavelmente resultante de uma duplicacao do gene VEGF-A. grupo brasileiro mostrou que é mais provavel que ele tenha se originado de uma outra familia de genes, conhecida na literatura cientifica como *PGF-ike" © grupo reuniu ainda mais evidéncias de que os peptideos potenciadores da bradicinica (BPP), que s4o a base do medicamento para hipertensdo arterial captopril, provavelmente t8m origem no gene CNP, produtor dos chamados peptideos natriuréticos tipo-C e que std presente em outros vertebrados, inclusive em humanos. Os pesquisadores agora trabalham na obtencao de versdes mais refinadas do genoma da jararaca, assim como de outras familias de serpentes produtoras de veneno. Com isso, esperam encontrar novas moléculas de veneno e relacioné-las com proteinas de relevancia na fisiolagia de outros organismos, Fonte: André Julido/FAPESP = Ouvidoria | Transparéncia. | SIC GOVERNO DO ESTADO Sn ed

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