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HERBERT BALDUS
Doutor em filosofia pela Universida de de Be rlim
ENSAIOS DE
ETNOLOGIA
BRASILEIRA
CO~I UM PREFACIO DE
AFFONSO DE E . TAUNAY
da Academia Brasileira de Letras
EDIÇÃO ILUSTRADA
1937
COMPANHIA EDITORA NACIONAL
SÃO PAULO - RIO DE JANEIRO - RECIFE
Ao grande conhecedor
tios indios no Brasil
«Jurt Nimueu.dajú
INDICE
pag.
Prefacio de Affonso de E. Taunay 11
Advertencia. 15
Etnologia IJrasilcira . 17
O culto aos mortos entre os Kaingang de
Palmas 29
A sucessão hereditaria do chefe entre os
Tereno. 70
Os grupos de comer e os grupos de trabalho
dos Tapirapé 86
A posição social da mulher entre os Bororo
orientais . 112
Ó professor Tiago Marques e o caçado r Aiipo-
bureu (A rração de um individuo Bororo
á influencia da nossa civilização) . 163
Mitologia Karajá e Tereno . 187
A mudança de cuJ.tura entre ,índios no Brasil 276
Bi-bliografia 323
Indice alfabetico . 331
Indice das tribus de índios sulamericanos, clas-
sificadas em grupos lingüísticos 341
lodice dos autores . 343
Indice das estampas . 345
PREFACIO
:Z - 1 . 1 , muu:1.. nuu
16 HERilERT BA LD US
20 de junho de 1936.
Seguindo a C-Onvenção i,ntemadona:1 dos etnólogos, não altero
os nomes de tribu e de outros agrupamentos sociais e linguísticos,
para designar a forma ,plural; digo, por exemplo, os tupí, e
não, os tupis.
HERBERT BALDUS.
CA SADOS E CASADAS
1 homem de mais de 60 anos 1 mulher de mais de 60 anos
3 homens de mais de 50 a nos 1 mulher de mais de 50 anos
9 homens de mais de 40 anos 3 mulheres de mais de 40 anos
10 homens de mais de 30 anos 7 mulheres de mais de 30 anos
5 homens de mais de 20 anos 9 mulheres de mais de 20 anos
1 homem de mais de 17 anos 2 mulheres de mais de 17 anos
1 mulher de mais de 14 anos
1 mulher de mais de 12 anos
"}1;) homens 25 mulheres
4 mulheres casadas estavam
ausentei ,
ENSAIOS DE ETNOLOGIA BRASILEIRA 31
SOLTEIROS E SOLTEIRAS
VIUVOS E VIUVAS
3 - 1. 1. IR.AJll.lliDU
32 H ERBERT BALDl!S
* * *
* * *
Os homens têm, em media, de 1,65 a 1,70 mts. de
altura e as mulheres um pouco menos. Todos são mus-
culosos, espadaudos e magros. O unico individuo corpu-
lento que encontrei era uma mulher albina. Em geral; os
Kaingang apresentam conformação do corpo bastante fina
e porte erecto. Seu andar é rapido, e seus movimentos
são todos seguros e ~armonicos. As mãos são delgadas,
um tanto frias e um pouco h umidas. Hoje, muitas vezes,
já os jovens carecem dos <lentes incisivos. O chefe Kõí-
kãng, homem de mais ou menos sessenta anos, tinha raros
pêlos de 'barba. Num ou noutro homem dos mais mo-
ços encontram-se, agora, de vez em quando, bigode e barba
no queixo. Os homens usam, às vezes, cabelo comprido e
solto; as mulheres usam-no separado pela risca 110 meio
da cabeça e enovelado na nuca. Os homens, geralmente,
usam chapeus de palha, de copa alta e abas grandes; as
mulheres não cobrem a cabeça. Antigamente, os homens
apertavam o prepúcio com uma fitinha chamada méfe, e
atavam o penis na corda da cintura, enquanto que as
mulheres usavam uma tanga de embira.
O clima e a.s aguas dos territorios dos Kaingang de
P almas, na maior parte situados a mais de 1.000 mts. de
ENSAIOS DH ETNOLOGIA BRASILEIRA 35
* * *
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Viuvo 20 10 - - - - - - 4 - - 1 -
Casado, de mais de 60 anos 43 6 - - -- - 2 2 8 - - 1 ·-
,Casado,
Casados,
de
de
mais
mais
de
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50 anos
40 anos
60
708 31
5 - - - - - - - - 1 2
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Casados, de mais de 30 anos 47ll - - 1 4 - 10 19 66 li o lO 10 -
Casados, de mais de 20 anos 9\) 18 - - - 1 6 4 J3 40 20 3 2
Solteiro, de mais de 25 anos 20 - - - - - - - - - - 1 -
Solteiro, de mais de 20 anos 20 - - - - - - - - - - l -
Solteiro, de mais de 14 anos 30 2 - - - - 5 6 - - - 1 2
* * *
avós? avós?
1 . 1
a1 A mãe Ku
f
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1___ ...,
'irmão Ké 'Kõ1kãng A 'irmão A 'irm11 A
1 rsposa Ku
fü-ho- do~ir_m_ã_o _K~é'W-ho_ K_é _'{-ilh_o_A
_ '{-ilh_o_A
- ' f-il~ho_ A
_ 'l-il-ho- K
- -é '!-ilh_a_A
- 'f-ilb_a_K_6
1
nora Ku
1
neta A
* * *
Se um Kaingang morre, um homem, em geral o
chefe, recita, ao lado do cadaver, lentamente e em voz
baixa, fazendo ruido com a cabaça de mús,ica, um texto
tradicional, cujas palavras, s·egundo Kõíkãng, são, intradu-
ziveis e tampouco são entendidas pelos Kaingang moder-
nos, porque já não pertencem à língua corrente. O che-
fe Kõíkãng chamou esse texto, reproduzido no meu t ra-
balho ''Sprachp raben etc.", uma reza, provavelmente, po-
rém, só porque as circu nstâncias e a mane ira de fal ar
lembravam a reza do sacerdote num enterro cristão.
Três homen s levam o cadaver para o cemitério. O
caminho para o cemitério do "Toldo das Lollltras" é uma
picada estreita de cerca de dois km s. de comprimento
atravé3 dum alto taquaral que alberga algumas araucá-
rias e outras árvores, e é, aquí e alí, interrompido por
grandes samambaias. No caminho, os carregadores põem
o cadaver no chão, trê3 vezes mais ou menos, para des-
cançar; e então talham numa árvore proxima um sinal
4 - e. &, a.utumu
48 HERBERT BALDUS
* * *
Os Kaingang de Palmas fazem esforços para pra-
ticar o culto cristão ao lado do seu culto aos mortos.
Provavelmente, fazem-no antes de tudo para não ser con-
siderados inferi ores aos seus vizinhos brasileiros, com os
quais estão em contacto continuo. Não só colocam nos
tumulos pequenas cruzes de madeira, sobre as quaes, ás
* * *
Ideias magicas dum povo primitivo costumam reve-
lar-se, especialmente, em sua medicina. Os Kaingang
têm um remedia anticoncepcional que, segundo, dizem,
provêm de uma planta. Dizem que a mulher to'l"na-se
estéril depois de ter comido duas ou tres vezes desta
planta. Só certas velhas . conhecem êsse remedia e tam-
bem só elas pódem, segundo se diz, desfazer-lhe o efeito.
Mas não falam sobre este remedia porque, de contrario,
ele não produz efeito. Tambem as outras mulheres não
falam nisso. O que sei a respeito, foi-me contado pelos
homens. Todas as mulheres que interroguei não, queriam
saber dêsse remedia e tinham f ilhos. Disseram-me que
uma moça usou dele com bom resultado, mas não me
mostraram essa moça. Quando quiz adquirir o remedia,
contando, para êssc fim , que minha mulher estava doente
e teria de morrer se desse à luz mais um filho, e que eu
queria, por conseguinte, salva-la responderam-me que o
meu povo devia ter um médico; e o chefe Kõikãng me
dizla mais tarde: "Como o remedia póde servir se tua
mulher não é Kaingang ! Seguramente ela é· 'portugueza'
(brasileira ou branca) e necessita dwn remedio portuguez
66 HERBERT BALDUS
* * *
ENSAIOS DE ETNOLOGIA BRASILEIRA 67
Ilm Si
o - E. E. Brasileira
72 H ERB ERT BALD U S
* • *
1 fi lhos 1 1 a
iilhúS
e 1 1 filho 1
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ENSAIOS DE ETNOLOGIA BRASILEIRA 79
7 · - 1, J: , ltBUlLaUU..
80 HERB E RT BALDUS
* * *
1 - 1,1, . . . . _
96 HERBERT BALDUS
9 - 1, a, JIRUD..&&4
A POSIÇÃO SOCIAL DA MULHER ENTRE
OS B ORORO ORIENTAIS
Colbacchini. p. 48 : 7 1
6 3 5 2
1
l 1 1 l 7 l 6' 2' 4' 6'
Colbacchini, p. 49 : 6 6 6 J 5
/ 2 \ 1 1
7 5 7 7 2 2 1-
7
l' 7 7
3' e 6'
e 7
filho•
vivos mortos
pai mãe 111 ! m· f
Alexio 50 Alvina 55 2 1
Antonio 55 v Assumpção 65 v (1) [1] [1) (3) [1] []]
-
Attilho 23 Fre<lerica 17 1
Braz 50 Josefina 38 2 4 3
Benedito 65 Loiduvina 55 1. 1
Bentino 20 Dosithea 20
Baptista 26 Erminia 21 1
Claudio 22 Ismaelita 19 1
Domingo 50 Natalia 52 1 1
Elias 21 Conceição 18 a
Estanislão 45 Angelina 45 1 1
Eugenio 18 Cecília 16
J oão· 38 Regina 19
João Cagliero 50 Judit h 50 1 4 2 2
João Baptista 50 v Lucina 20 (2) (1) 1 (4)
Modesto 35 Ani ta 26 2 2
Sebastião 55 v Aida 4-0 v (2) [l] (1 ) [í]
Thiago 35 Maria Luísa 3S 1 1 2
Ugo í.7 Claudia 22 2
Vito 45 Angelina ? 3 2
Rafael 60 T Catarina 32 (1) (3)
124 HER BE RT BA LD US
f i Ih o s
vivos mortos
pai mãe m f m f
.
Total : 3 1 39 20 17
orfãos irmãos 2
> > 2
orfão
orfã 1
3 solteiros
1 viuvo
viuva
li - •. s. lil,UU.IIIIA
128 HERUERT BALDUS
DIVISÃO DE TRABALHO
ROMEnI MULHER
constrncção da casa
cortat madeira
bu ic:ir lenha . ._· ±l- +~±t t!ltt
cortar ou incisar as arvoHB par:t extrnç ao
do mel - -
1
+ - - +++ +- - _,_
cortar ns p almeiras para lo grnr ~a frutas-- - - - -1--+ - - - -
~,~li~===~
coçar . • • • H-,++ ++ +,++ -- - _,_
recolhe, o alimento vegetal silvestre. ·!+\++,+++,++++ ++++++
recolher os pequeno, anima i, . +++ ++ +++ +++ +++ + +
re colher o mel •
pescar com a rede
·H-1+
l+I
++++
1 1 ++++++_+1+_+1++
:::::: ::~,n~n:1~~: ea ªag~:chu
1
1
-=
~:±: :±: :±: t,~t ±+= == ? +~
cozer e • •
trn2er ngua
levar a carga nas march.as
carregar 01 fil h oe ptquenos
carregar 01 filhoe e;rnncle 11 na s marchas
pintar o rosto
_±±==1~ +1±=±=++++
+ ? - - - +- - ? - - - - +-
pintar o corpo
tatuat
p erfura r o labio in ferior do m enino
perfur a r o lobulo da orelha do menino ++ - ? - ++ - - - - ? + - -
perfurar o lobulo da orelhn d a menina +- - ? - +- - - - - ? + - -
fab ricação do esto jo pen ian o f-t- - - -
::~;:~:m :: e~:~~:
- - - - - - - -1- - -
~,r-
1
d!:~?.::-er ca belo
fab ric nçiio do co rda• líun,
~ =+?
ftt +- ±~ il~
+1- -
=~ - ±
-- -
~?1-J. +t
==
- +- - -+ - ++ + + -
1
fabricaç ão de tr abalhos onorl ados
e11trançnr (ce,101 etc.)
entrançar o bolsa de caça de uma ÍO·
- _
• . - - - ++++- + +++- - + -
lh a de p almei ra . • • +- - - - -- - +- - -- 1
fiar • tecer ou fazer crochê .
fabricação dos instrumentos pa ra o fiar e
• +- - - +- - - _(_ -1+- +1+
1 1
-
o lmr
elaboração d e mndsira
+---+++----+-
++++++++
cultivo de cabaças ?+ - +?++- ?= - - ?=- -
elaboração do cabaça,. .ma·· ++ _ + ? ++ _ ? _
elaboraçúo de osso &, unhas. dentes,
• f + + +++++ - ---
+ ? +++ H- t ? I+ - +
rlaco,y pedras ou m etnis
fabricação de enfeitei de plumas
bbrlcação dt vuo, de barro . - ? - +H- +H- + ++
ENSAIOS DE ETNOLOGIA BRASILEIRA 143
11 - 1 , • . IIIU.IU.lffi.Â
144 HERBERT BALDUS
outros fabr icavam o seu <le um meta1 que a trlhu possuia antiga-
mente. Dizem que este metal era o ouro, noticia não muito
dificil de acei·ar porque os Bororo ocupavam regiões nas qua is
hoje ai nda o ouro aparece freqüentemente. A tualmente, os brincos
aqui re produzidos em tamanho natural são fabr icados do ·rne'. al
de car~uchos. Chamam-se meriri-kiga-réu e são firmados por meio
rt6. 1
Flú.2
Fló.3
de um fio d'arame anula r nio buraco furado cm ambos os lobulos
das orelha,, de mat,cira qne o individuo us a 11m par dc:sses
bri!lcos. O representado na figura l, que !em um dente em cima
e um em baixo, é proprio <lo clan dos Aroia; é usado por Mario
Bokoc:o ri Kudde, figurado na estampa 21, ainda que este homem
não pertença ao dito clan. Mas tinha matado uma onça e dado
154 HERBERT BAL D US
1% - •• 1. . ~U I U.t:Ii\&
160 HERBERT BALDUS
A LEGENDA DO KÉ-MARUGODU
11 - I , 1 . KPJ.an..lD\A
176 HERBERT B ALDUS
LENDA DO DILUVIO
* .• *
Interroguei Tiago Aipobu reu sobre a sua opi nião a
respeito do futuro dos Bororo, e êle calou-se refletindo
com o s,eu sor riso doce. Depois de algum tempo, porém,
di sse: "Antigamente, o homem agarrava com as mãos a
onça. pela boca, separando-lhe as queixadas. Hoje não
1~6 H~RB x nT BALous
RÃRARESA
NAXIVÉ.
li - •. !, B!WlLllM
208 HERBERT BA LDUS
O INCENDIO UNIVERSAL
* * *
Se bem que Dyu'aisã declarasse que as aventuras <le
Alobederí e de seu irmão tinham suced.ido <lepois do tempo
no qual Rãrãrcsá deu o sol aos Karajá, i11dubitavelmente
o papel do sol como homem velho que, na sua qualidade
de sogro malicioso, impõe provas funestas aos d ciis irmãos,
pertence a um outro grupo de mitos, do q uai o do Rãrãresá
em que o sol aparece como enfeite da caheça do urubú-rei.
O fato de Dyuasá não poder dizer nada sobre o conceito
hodierno do sol a este respeito, como já mencionamos
acima, significa unicamente que, para o índio, não existia
diferença entre o que os mitos <lo passado contam, e o
que a realidade presente lhe oferece à vista.
Segundo um conceito dos Chamacoco no Chaco (Bal-
dus, Indianerstudien, p. 77 ), o sól é tido como um homem
grande· e muito velho,--mas solteiro e sem fi lhos, e identi-
ficado com Deus. ~ verdade que nisto existe certa analo-
gia com o mito do Rãrãresá, no qual o urubú-rei que,
embora não seja o só!, possue-o. R ãrãresá é igualado tam-
bem ao deus <los crjstãos.
Como Rãrãresá, o só!, num mito <los Mbyá ( l\1üller:
"Beitriige etc.", p. 44~-)', aparece como bemfeitor cultural,
fabricando para os homens a canôa, o maracá e todas as
outras cousas. Fez isto, porque os homens o atormen-
taram querendo matá-lo.
A primeira parte das "a,-enturas de dois irmãos", na
qual Alobederí e seu irmão casam-se com as filhas do sol,
230 HERBERT BALD US
li - ÍI, W, ll!UIIS.Jll&l
256 HERBERT BALDUS
AS FLECHAS MAGICAS
TERENO
19 - s. •. 1111.UttJCili
272 HERB E RT BALDU S
que fica na terra, quasi morre de fome, até que, por fim,
Makunaíma se compadece, mas caçoa dele por sua magreza.
Então Makunaíma continúa impunemente as relações com
a cunhada.
N um outro mito contam como Makunaíma fez de
uma folha a raia, para causar dano a seu irmão Gigué,
com o qual se desaveiu por causa da mulher deste. Este
último fáto, p·rovavelmente, refere-se ao mito anterior,
às relações ilícitas de Makunaíma oom a mulher do irmão
mais velho. Para vingar-se, Gigué faz de um pedaço
de cipó a cobra venenosa.
Traços aparentados a Makunaíma encontramo-los
no Nãxivé <los Karajá. Como aquele, tambem eslte é
criador, distinguindo-se por esta qualidade, do Pitanoé e
do Perú, que conhe~emos só como do:idores de elemen-
tos culturais ( a alfa rroba e o fogo). Mas tem em comum
com todos os três a inclinação para fazer mal aos homens,
e assemelha-se ainda especialmente a Makunaíma pela
criação da raia espinhosa. Os outros doadores de elemen-
tos culturais, que mencionámos no decurso deste t rabalho,
como o urubú-rei dos Karajá e o papagaio dos Kaskihá,
pertencem a familia de mitos diversa da destes quatro
malvados.
A MUDANÇA DE CULTURA ENTRE
ÍNDI OS NO BRASIL
20 - t: , E. 1111..Ull.EiftA
288 HERBERT BALDUS
21 - • • •• ...l&lllltA
HERBERT BALD US
KAINGANG
TERENO
BORORO ORIENTAIS
KARAJA
TAPIRAPÉ
J. Capi'strano de
Abre11: rã-txa hu-ni-k,u-i. A língua dos Ca.xi-
nauás. Rio de Janeiro 1914.
José de Alarcón y Ca1iedo, Riccardo Pittú~i: El Chaco paraguayo
e sus tribus, Turin ( 1924).
1
assimilação: 27, 42, 71, 187, 276, canôa: 84, 102, 187, 191, 201 , 203,
292, 294, 301, 307, 313-316, 319, zos, 2no, 217, 229, zso, 253, 2.86,
320 ( v. tambem: mudança de 290
cultura) canto: 55, 56, 58, 59, 82, 101, 105,
109, 158, 160, J~. 202, 2'03, 215,
banana: 87, 90, 92, 101, 107, 108, 216, 218, 304, 307, 311
114, 141, 287 cão: 36, 37, 93, 194, 224-Z26
Bananal (Uha <lo) : 187, 190, carater: 26, 33, 63, 67, 71, 74,
216, 285, 309 148-151, 172, 188, 300, 314
barba: 34, 73, 288 casa: 33, 81, 135, 139, 142, 168,
Barreiro (rio) : 113 195, 239, 240, 249, 278-280, 294,
baitistas : 309 295, 308
bebida ailooólica: 52, 54, 57, 59, casa dos homens: 93, 95, 96, 1"-1,
60, 64, 158, 282, 287, 288, 303, 115, 131, 132, 135, 136, 151,
317 155, 158, 278, 279, 304
Bdém do Pará: 201 casada: 30
Bering (Estreito de): 262: casado : 30, 38-40
Beroromandú (aldeia): 82, 83, casamento: 41, 44, 70-73, 75, 76
187, 309 79, 83, 90, 129-13,1, 133, 135-
137, 143, 217, 219, 223-Z26, 23í
bigamía: 137
245, 248, 249, 251, 261, 262,
Blumenau (municipio e cidade) : 292, 295
164
catre: 33
Bolivia: 133, 213, 220, 321
cemitetiio: 47-49, 54, 56, 58, 299
Brasil: 26, 27, 53, 98, 163, 170,
195, 276, 289, 298, 313, 319 ceramica: ( v. olaria)
brincos de metal: . 152, J53 figu- cesto; 33, 37, 39, 41, 42, 44, 142,
ras, 154, 155, 289 · 224, 247, 250, 254, 280, 282,
283, 289, 294, 296
cabelo: 29, 34, 73, 159, 171, 187, Ohaicp: 50, 129, 132, 157, 193, 197,
227, 288, 290 211, 221, 222, 226, 229, 263,
3H, 316
caça: 32, 36, 37, 50, 81 , 84, 88,
93, 1.12, 113, 135, 139, 140, Chapecó (Toldo do): 30, 31,277
142, 145, 167, 169, 170, 175, chapéo de ,palha: 34, 39, 74, 188,
178, 185, 186, 191, 202, 206, 233, 282, 288
283-287, 295, 296, 314 chefe de tribu: 33, 34, 40, 44, 46,
47, 49, 60, 64, 65, 70, 71, 73-86,
Cachoeirinha (aldeia) : 76 91, 96, 97, 99, 110, 162, 165,
caipiras: 33, 278, 280, 281 1195, 288, 291-293, 298, 299 307-
Califórnia: 26 J 309
Canadá : 22, 28 Chile: 263
EKSAIOS DE ETNOLOGIA BRASILEI RA 33.J
~- - 1 , 1 . 11\,UIUIJU
336 HERBERT BAL DUS
Meruri (missão): 15, 113, U4, aos mortos, enterro, v.irla depois
116, 122, 133, 138, 143, 146, da morte)
149, 167-169, 171, 186, 278, 280, Mor:tes (rio das): 112, 113, 278
287, 289, 296, 300, 304, 308, 317,
320 mudança de cultura: 17-19, 71,
102-104, 112, 146, 149, 150,
<metade» (divisão de .tribu): 154, 162, 185, 186, 276-321 (v.
29, 44-46, 51, 54-58, 61-63, 127, tambem : assimilação)
128, 133, 147, 291, 292, 298
mulatos: 280, 308, 318, 319
metal: 152-154, 280, 281, 284-286,
289, 290, 300, 306, 308, 310-312 mulher: 30, 31, 34, 36, 39-44, 52,
núlho: 36-39, 51, 53, 113, 114, 58, 59, 61, 62, 65, 72-79, 81,
125, 141, 199, 217, 235, 236, 84, 90, 93, 97, 101-103, 107,
242, 244, 282, 284, 304, 308 112, 114, 116-162, 164-166, 190,
Minas Gemes (Estado): 163 195, 197-200, 202, 203, 207, 212,
217-220, 223-228, 231, 245-253,
Miranda (cidade): 70, 112 255, 257, 261, 262, 265-269, 272,
missionarias: 15, 21, 24, 64, 65, 274, 275, 279, 280, 291, z93.
101, 308-310 (v. tambem: ad- 301, 317-319
ventistas, batistas, donúnicanos,
Mureim (aldeia) : 71, 75, 76
j esuitas, salesianos)
mistura de sangue: 26, 27, 315,
318, 319 nassa: 37
mito africano: 144 negros (africanos) : 21, 26, 27,
mito és quimo: 225. 60, 280, 301, 312, 315
mito euroasiatico: 230, 264 nome: 40, 71, 72, 82, 127-129,
298
núto europeo: 22, 262, 263
numero dos individuos : 28, 30,
mito indiano: 263 31, 41, 71, 86, 114-116, 293,
mito índio: 22', 60, 147, 161, 162, 317
174-185, 187, 189-275, 313, 316
mito japonez: 230 olaria : 142, 288, 289
núto .polinesiano: 263 orfãos: 124, 316-318
mito sírio-judaico: 144 organização social: 29, 33, 44
Mfütáííã (aldeia): 86 52, 87-99, 118, 127, 161, 178
monogamía, 41, 74, 136, 137, 293, 291-293, 311 (v. tambem : clan
295 fanúlia, «metade»)
moral: 143, 145, 147, 300 (v. origem do ,fogo: WO, 201, 212-
tambem: carater, psicología) 216, 271
morte, morto: 42, 43, 47, 71, 72, origem dos homens: 49, 60, 161
143, 158, 159, 173, 217, 249, 174, 178, 190, 191, 193-195, 207,
2'98, 299, ( v. tambem: culto 219, 271
ENSAIOS DE ETKOLOG I A BRASILEIRA 337
viuva : 31, 71, 72, 159, 160 Xanxeré ((Povoação) : 30, 277
VÍUVI() : 31, 38, 71, 72, 133, 1'59, Xingú (11io): 151
160, 188
viveres: 139-141, 273, 286-288,
317 (v. tambem: caça, ,colhei- Yarudori (aldeia) : 305
ta, lavoura, mandioca, milho)
vulva dentada: 227, 262 Zeitsdlrift für Bthnologie: 24
I NDICE DAS TRIBUS DE INDIOS SULAMERICANOS,
CLASSIFICADAS EM GRU P OS LI NGOI STICOS
Karajã : 15, 8 1-84, 86, 87, 9-0, Chané (Aruak gua ranizado):
102, 105, 107, 141, 142, 144, 197, 209
151, 187-193, 196, 197, 200-206, Chiriguano: 209, 215, 220, 316
212, 216-219, 223, 226-230, 263- Ch iripá: 210, 213, 274
271, 275, 279, 281, 282, 284- Guajajám: 215
287, 290-292, 297, 299, 300,
306, 307, 309, 310, 312, 316, Guaran~ (<lio litoral paulista) :
317, 319 213
Guaray ú: 213, 214, 220, 263
Diãrá (habitantes ,dia · aldeia
Guayakí: 15, 69, 84, 85, 142,
Beroroman dú): 82-84 144, 210, 211, 2.22, 3~0. 321
Xavajé (Javahé) : 1.90, 191, Mbyá : 210, 229
285
Mundurukú: 140, 258-261
Maskoi Tamoyo: 87, 207
Kaskihá: 60, 84, 142, 144, 193, Tapirapé: l tS, 80, 81, 83, 86,
194, 275 111, 126, 140-14í2, 144, 151,
1SS, 161, 189, 190, 193, 195,
Matako .2>07, 215, 219, 223, 279, 282
Choroti: 129 265-288, 290-293 , 297, 299,
303, 306, 307, 310, 3,12, 316-
Pano 3,19
K axinauá; 197, 2 12
1
Tembé: 1'40, 21 1, 215, 220
Samuko 222, 223, 251-258
Chamaco,co ( H ório, Tume- Tu,pinambá: 87, 207, 208, 211
re~á); 5-0, óO, 70, 84, 132, 219, 220, 263, 316
142, 144, 147, 157, 193, 194, Xipá ia: 2•09, 215, 220
211, 221, 226, 229, 311
Vilela: 2112
Tupí-Guaraní: 26, 27, 64, 87, 89,
98, 180, 208-216, 2'19, 220, 282, W arrau: 2150, 25'1
314 Yurakare : 220
Ampaneá : 90
tribu desconhecida: Kayámo
Apapocúva-Guaraní: 98, 208,
210, 214, 220 (Kayapó ?) : 113, 320
INDICE DOS AUTORES
Koppers, Wilhelm : 25, 156, 225, Petrullo, Vincent M.: 157, 324
327 Pittini, Ri:ccardo: v. Alarcón
Koslowsky, Julio: 120, 145, 151, Pohorilles, Noah Elieser: 261,
324, 327 329
Krause, F,ritz : 81, 82; 84, 187, Quesada, Ernesto: 27, 329
191-193, 203-206, 265, 325 Ratzel, Friedrich : 24, 25
Labrador, José Sánchez : 22 Roquette-Pinto, E .: 140, 329
Lehmann-Nitsche, R. : 21.1, 221, Roth, Walter E.: 199, 247, 250,
ZJO, 258, 263, 264, 328 329
Lenz, Rodolfo : 258, 328 Rousseau, Jean Jacques: 23
Lery, Jean de: 87, 328 Schmidt, Max: 323
Lcvi-Strauss, Claude: 324 Schmidt, Wilhelm: 25
Loukotka, Ohestmír : 32, 182, 328 Schultz, Wolfgang : 261, 329
Lozano, Pedro: 22 Soethlage, H einrich: 215, 330
Magalhães, Basilio de : 324 Soares de Souza, Gabriel : 87
Magalhães, Couto de : 151, 180, Spengler, Oswald : 27
328 Staden, Hans : 87, ~IJ8, 282, 330
Marcgrav, Georg: 208, 328 · Steinen, Karl von den: 24, 112,
Mar.tius, Carl Friedrich Phil. 118, 119, 122, 126, 128, 131,
von : 23 132, 135-137, 139, 147, 151 ,
Métraux, A.: 87, 161, 207-209, 152, 154-159, 182, 195, 324
215, 219, 316, 325, 328 Tatevin, C. : 98, 330
Montoya, Antonio Ruiz de : 2Z, Taunay, Visconde de; 55, 71, 74,
98 32'3
Müller, F ranz: 210, 229, 328, 329 T,hevet, André: 87, 207, 208, 219,
Nieuhof, J ohan : 208, 329 330
Nimuoodajú Unkel, Curt : 88, Trhurnwald, Richard ; 20, 25, 330
98, 110, 208-211 , 214, 215, 220, Tonelli, Antonio: 127, 324
223, 251, 329 Trombetti, Alfredo: 324
Nino, Bernardino de: 209, 215, Tschudn, 1. J. von: 163, 165, 330
329 Vaerting, M. : 120, 129, 132', 330
Nobrega, Manuel da : 2Z Vasconce!los, Simão de: 87, 208,
N ordenskiold, Erland : 129, 197, 330
209, 214, 215, 220, 329. Voltaire: 23
Orbigny, Alci<le d' : 220, 3l9 Waehneldt, Rodolfo: 137
Palha, Luiz: 187, 325 Wegncr, Richard N.: 133, 330
INDICE DAS ESTA1V1PAS
(:fodu as fo tografiu foram tirada , pelo aulor)
32 .
'J'apirap6: tlansnrino ele
cnru
. ..
I
,,e
•
.
•
.
·.·
·.
.,,.: ..
~t ;.. ~·
'
l.
Kaingang de Pnlmas: .Kõikãng
(Pedro Mendes) , o chefe do
"Toldo das Lontras"
2.
Ka ingang- de Palmas: Kõíkãng
com o seu neto
3.
Ka ingang de Palma~ : no ml!io
uma i ndiu a lbina com o {ilho
no brnto; o homem é meJtiço
casado com uma Ka :ncanr:
- ---,
4.
Kningnng de Palmas:· menina
albina enlrc dois meninos
5.
Kaini:ang <lo Palmaa: a irmfi
g ra nde e o irmão IJequeno
6.
Kni n gnng ele PaJmas : o signal
em forma d!! cruz talhado no
tronco de um pinhe;ro (arau·
caria ) em frente do cemiter io
do " Toldo das Lontras".
7. de Pa 1m as: ccmite-u
Kningan~' Toldo das Lo ntra•.
rio do tambcm os f o rm1-
(veem-sc bi tnções das pe-
c ueiros, as ha ultima~
formigas, )
quenas .. dos K ningang
cnca rnnçoes
\
:,
8. Palma~ : indin
Ka ingang de d Palmas
na rua e .
9. Bororo orientais: casas de índios de Me ruri
10.
noror o orientai~: ppquena
fa m ilia com o P adre D ireto r
em Meru ri
li .
Bororo orienta is : pequena
familia com o P ~<l r e Dlrc ...
tor em Mer4rí
1:1.
Dororo orienta is: casal vol-
tando na caça (Me rur i)
13.
n ororo orif'nta,is : Tiai:o Mar.-
q ues Aipobur eu (Meruri)
.
.•.
14 .
nororo orienta:s : Tiago Ma!.'·
nues Aipobureu voltando da
caça ( Mer urt)
16 .
IJo ro ro oricnt.nis: velho cuç-a ·
dor (Meruri)
l 7.
Bororo oriento.is: rapazes em
Me rur i
l!I.
Bororo orientais: mãe con-
templando o filho (Snngra-
douro)
] 9,
Bororo orienlt\is: l\tario Doko-
dori· l{udd~. um dos mo.is va-
lentes cac;udores de onç:w:
A laysa A roia Chcrcuddn, m o-
ca de 17 anos, de espirita vivo
e critico, que sabe perfeita -
mente ler e escrever : e o
filh o do ensnl (Sang radour~ )
20.
Ilororo orientais:
AJaysa Aro ia. Che-
rcudda com O filho
(Sangradouro)
21.
Bororo orientais: Mario Bo-
,,
;(
k odori Kudde com o brin.:c t
de meta l do cln n dos Aroia
·,
no lnbulo da ore lho (Sangra-
douro)
•
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R· • "· _. 1 i. .
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~
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~1fi " u
;.,,
22.
Bororo orientai s : Outro Rr
do Mario Ilokodori K udde
( Bokoóori nome do seu
clan e signi fi ca ''tatu canas-
tra"; Kud de s '. gn ifica '1 g t1 -
to " (Sangradouro )
~- · -~
23.
Boro ro orientais : Um sorri-
so do Mar io Bokodori Kudde
(Sangradouro)
24. lloro ro orientais: Roberto lpureu, meu in t.érpretc em Tori~pnru,
e um menino da mesma aldeia
.
, ,
25.
Ka ra i á do norte : mãe
filho
28.
,. 29.
T3pirap~: meninos