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INTRODUÇÃO
Então:
PROCESSO
=
RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL + PROCEDIMENTO
Juiz Natural
Vedação de tribunal de exceção Juiz tem que ser aquele cuja
competência seja definida
anteriormente ao fato.
c) Verdade real (arts. 156, II, 196, 234 e 616) – o Juiz tem o dever de
investigar como os fatos se passaram na realidade, não se conformando
com a verdade formal constante dos autos.
Exceções art. 5º LVI CR/88, arts. 155, p.u., 206, 207 e 479 do CPP e
trânsito em julgado da sentença penal absolutória.
PAULO RANGEL: fala em verdade processual, aquela que ocorre dentro
dos autos de processo criminal.
g) Publicidade – regra publicidade absoluta (art. 792). Exceção: art. 485, §1º e
art. 792, §1º - nestas hipóteses a publicidade é restrita
A publicidade pode ser dividida em:
- publicidade interna ou específica – relativa às partes.
- publicidade externa – relativa ao público em geral.
Esta última é que se encontra mitigada pela legislação. A primeira
continua intocada. TÁVORA explica que o máximo a se admitir seria a
autorização momentânea para a prática de algum ato e publicidade posterior,
como no exemplo da interceptação telefônica.
Ampla Defesa
1
Súmula 707 STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-razões ao
recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.
Defesa pessoal Defesa técnica
Próprio réu: Feita pelo advogado
direito de audiência e presença (defesa efetiva)
Dispensável a critério do réu Indispensável
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Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com auto de prisão em flagrante ou por meio de
portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.
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PRINCÍPIO. IDENTIDADE FÍSICA. JUIZ. SENTENÇA. FÉRIAS. O princípio da identidade física
do juiz passou a ser aplicado também no âmbito do Direito Penal a partir da Lei n. 11.719/2008, que
incluiu o § 2º no art. 399 do CPP ao dispor que o magistrado que presidir a instrução criminal deverá
proferir a sentença no feito. Contudo, o aludido princípio não tem aplicação absoluta. O STJ vem
admitindo mitigação do aludido princípio nos casos de convocação, licença, promoção ou de outro
motivo que impeça o juiz que tiver presidido a instrução de sentenciar o feito, aplicando, por analogia, o
art. 132 do CPC. Assim, em razão do princípio da identidade física do juiz, a sentença deverá, em regra,
ser proferida pelo magistrado que participou de produção das provas durante o processo criminal,
admitindo-se, excepcionalmente, que juiz diverso o faça quando aquele estiver impossibilitado de realizar
o ato em razão das hipóteses acima narradas. No caso, o juiz prolator de sentença encontrava-se em gozo
de férias regulamentares. Daí, ao prosseguir o julgamento, a Turma, por maioria, concedeu a ordem para
anular a sentença proferida contra o paciente, pois caberia ao magistrado substituto fazê-lo, inexistindo
motivos que justifiquem a prolação de sentença durante o período de descanso regulamentar. Precedente
citado: HC 163.425-RO, DJe 6/9/2010. HC 184.838-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/8/2011.
ele só ficará vinculado na hipótese de colheita de prova oral (STJ REsp
499.188/SE e S. 262 TFR4).
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Súmula 262 TFR: “Não se vincula ao processo o juiz que não colheu prova em audiência.”
acusação. E à defesa? Incumbe provar excludente de ilicitude ou culpabilidade,
acaso alegadas.
Além disso, para ele, com base no estado de inocência, privação da
liberdade antes do trânsito em julgado deve ostentar natureza cautelar, com a
imposição de ordem judicial devidamente motivada e o indiciamento deve ter
justa causa.
p) “Favor rei” (“in dúbio pro reo” ou “favor libertatis”) – a dúvida sempre
beneficia o acusado (ex. 386, VI5);
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Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: (...) VI
– não existir prova suficiente para a condenação.
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Informativo 328 do STF: A designação de promotores de outras comarcas para auxiliar em determinado
processo sem a interferência na condução da persecução penal não revela violação do princípio do
promotor natural.
r.2) e se o acusado proceder a um seqüestro e manutenção em cárcere de
testemunhas oculares e acaba absolvido – não cabe revisão. Houve
ausência de serviço público estatal que deveria ter protegido as
testemunhas.
r.3) arquivamento – se determinado por juiz absolutamente incompetente
não impede a persecução penal por quem tem a atribuição constitucional.
É que se está falando de órgão com atribuições e órgão com competência
constitucionais e somente uma sentença absolutória poderia afastar a
aplicação de tais princípios. Não é o ocorre com a decisão de arquivamento
que, de regra, não adentra no mérito, fazendo coisa julgada formal.
E se o arquivamento se deu por atipicidade do fato? STF: não pode ser
objeto de novo questionamento, ao argumento de possível violação ao
princípio da vedação da reformatio in pejus indireta. É que esta decisão se
equipara à de mérito, fazendo coisa julgada material.
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Art. 5º, LXXVIII, CR/88 - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
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Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o País quarenta e cinco dias depois de
oficialmente publicada. §1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando
admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
regit actum (o ato processual será regulado pela lei que estiver em vigor no
dia em que ele for praticado). Efeitos:
a) atos realizados sob a égide da lei antiga são válidos;
b) normas processuais, com efeito, imediato, com a aplicação imediata
(em regra, nem vacatio legis possui), respeitando a coisa julgada, o direito
adquirido e o ato jurídico perfeito. Não se aplica o art. 5º XL da CF/88, ou seja,
mesmo que a norma seja prejudicial ao réu ela será aplicada.
Então: a lei de processo não disciplina processo findo antes de sua
vigência e nem aquele que vai iniciar-se após a sua revogação. O que
interessa é o momento do processo. Para processos pendentes quando da
entrada em vigor da nova lei a regra do CPP é a aplicação imediata, mas tem
que verificar regras específicas na lei alteradora. Ex. Lei 9.099/95, art. 90 (a
ADIN relativa a este artigo apenas se refere a pontos específicos9).
Mas e se a nova lei não trouxer normas de caráter intertemporal? Aí se
aplica o art. 2º do CPP.
E, por exemplo, o regime disciplinar diferenciado? Aplica-se
imediatamente, por ser norma processual, pertinente à disciplina interna dos
presídios.
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Inf. n.º 472 do STF: O Tribunal julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta de
inconstitucionalidade proposta pelo Conselho Federal da ordem dos Advogados do Brasil para dar
interpretação conforme ao art. 90 da Lei 9.099/95(“As disposições desta Lei não se aplicam aos
processos penais cuja instrução já estiver iniciada.”), de modo a impedir que dele se extraiam
conclusões conducentes a negar aplicabilidade imediata e retroativa às normas de direito penal
mais favoráveis aos réus contidas nesta lei. Tendo em conta que a Lei 9.099/95 tem natureza mista, já
que composta por normas de natureza processual e pena, entendeu-se que, para a concreta aplicação do
princípio da retroatividade da norma penal mais benéfica (CR, art. 5º, XL), o legislador não poderia
conferir o mesmo tratamento para todas as normas nela inseridas. Procedente citado: Inq 1055
QO/AM(DJU de 6.5.96). ADI 1719/DF, rel. Min. Joaquim BArbsa, 18.6.2007(ADI-1719).
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Art. 3º da LICPP. O prazo já iniciado, inclusive o estabelecido para interposição de recurso, será
regulado pela lei anterior, se esta não prescrever prazo menor do que o fixado no Código de Processo
Penal.
- Qdo a norma é processual e tem caráter material penal (tb chamada
natureza mista)?
CAPEZ: Qdo versar sobre o direito de punir do EE (tanto em sua forma
abstrata, qto em seu aspecto concreto, isto é, como pretensão punitiva)
criando-o, extinguindo-o, modificando-o. Ex. prescrição, decadência, sobre
cumprimento são normas de caráter penal e processual penal. A elas aplicam-
se as regras de direito intertemporal do direito penal: efeito retroativo do
dispositivo mais favorável ao réu.
E no tocante às normas que atingem o status libertatis?
- CAPEZ (p. 48), citando o STF, entende que a prisão se dá por
necessidade ou conveniência do processo e por isso tem caráter processual.
Portanto, continuam sendo aplicadas regras de direito intertemporal do direito
processual.
- NUCCI: Ele diz que as normas com caráter processual material são
normas com dupla previsão. E complementa que se aplicam as regras de
direito intertemporal do Direito Penal àquelas normas que tenham cunho
processual material ou se liguem ao status libertatis do indivíduo (o segundo
caso pq não há como falar em prisão cautelar desvinculada do direito
material).
- MIRABETE: só se aplicam as regras de Direito Penal às normas
mistas. A outras têm aplicação imediata. Entretanto, ver a opinião dele sobre o
art. 2º da LICPP.
Eram julgados pela justiça comum, mas regulado por lei especial.
Atualmente o STF entendeu que a Lei de Imprensa é inconstitucional.
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§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de
colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do
Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu
defensor
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Procedimento, não rito. Conjunto de atos ordenados, orientados a um fim específico.
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Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisãoexclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas
na lei civil.
diferido, exercido após a finalização da produção da prova. Podem ser
produzidas no curso da investigação ou no próprio processo judicial,
dependendo, em regra, de autorização judicial para tanto. Interceptação
telefônica é exemplo.
- Provas não repetíveis são aquelas que, uma vez produzidas, não podem sê-
lo novamente, em virtude do desaparecimento, destruição ou perecimento da
fonte probatória. Não dependem, ordinariamente, de autorização judicial
para sua produção. Exame de corpo de delito de lesões corporais é
exemplo.Aqui, igualmente, o contraditório será diferido.
- Provas antecipadas são aquelas produzidas com observância do
contraditório real, perante autoridade judicial, em momento processual
distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do
processo, em virtude de situação de urgência e relevância. É o caso do
depoimento ad perpetuam rei memoriam (CPP, art. 225)14.
- STJ, AgRg nos Edcl no AREsp 100695015. As provas inicialmente produzidas
na esfera inquisitorial e reexaminadas na instrução criminal, com observância
do contraditório e da ampla defesa, não violam o art. 155 do Código de
Processo Penal - CPP visto que eventuais irregularidades ocorridas no
inquérito policial não contaminam a ação penal dele decorrente.
- Percebe-se, assim, uma equiparação à qualidade de prova, dos elementos de
informação produzidos no curso do inquérito e submetidos ao contraditório e à
ampla defesa no curso do processo. STJ, AgRG no AREsp 103285316.
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Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar
receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento
de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.
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AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. VIOLAÇÃO AO ART. 155 DO CPP. NÃO
VERIFICADO. CONDENAÇÃO ANTERIOR. ULTRAPASSADO O PERÍODO DEPURADOR.
MAUS ANTECEDENTES. MANUTENÇÃO. MINORANTE NEGADA. REGIME SEMIABERTO
MANTIDO. SUBSTITUIÇÃO POR RESTRITIVAS. PREJUDICADO. REGIMENTAL
IMPROVIDO.
1. A condenação não está fundamentada apenas na prova colhida na fase inquisitorial, mas amparou-se
também na prova testemunhal – não só dos policiais - produzida durante a instrução do processo,
submetidas ao contraditório e a ampla defesa.
2. Entende este Superior Tribunal de Justiça que as provas inicialmente produzidas na esfera
inquisitorial e, depois, reexaminadas na instrução criminal, com observância do contraditório e da
ampla defesa, não ensejam a ofensa ao art. 155 do Código de Processo Penal. Precedentes.
4. Esta Corte Superior firmou entendimento de que o período depurador de cinco anos, previsto no
art. 64, I, do Código Penal, afasta a reincidência, mas não retira os maus antecedentes. Precedentes.
Não sendo caso de relativização desse entendimento já que o delito anterior está extinto há 6 anos,
um ano após a consideração deste como agravante da reincidência, podendo, portanto, ser
considerado como maus antecedentes.
5. Agravo regimental improvido.
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REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SONEGAÇÃO FISCAL.
INDEFERIMENTO MOTIVADO DE PRODUÇÃO DE PROVA REQUERIDA PELO RÉU.
POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. CONDENAÇÃO
BASEADA EM PROVA JUDICIALIZADA. DOSIMETRIA DA PENA. MAJORAÇÃO DA PENA-
BASE. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. QUANTUM DO AUMENTO.
DESPROPORCIONALIDADE. FLAGRANTE ILEGALIDADE. RECURSO IMPROVIDO.
HABEAS CORPUS. CONCESSÃO DE OFÍCIO.
1. Ao magistrado é facultado o indeferimento, de forma fundamentada, do requerimento de produção
de provas que julgar protelatórias, irrelevantes ou impertinentes, devendo a sua imprescindibilidade ser
devidamente justificada pela parte.
- Função de investigação de infrações penais não se confunde, nos termos
da Constituição, com função de Polícia Judiciária, que consiste também em
cumprir ordens judiciais, requisições de diligências, mandados, etc.CRFB, art.
144, §117. Função de Polícia Judiciária da União é exclusiva da Polícia Federal,
enquanto a função de investigação de infrações penais pode ser exercida por
outros órgãos, como a Receita Federal, no caso de crimes tributários. STJ,
RHC 6645018.
- Existem inquéritos extrapoliciais. CPP, art. 419, a competência da Polícia
Judiciária para investigar infrações penais não exclui a competência de
outras autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma
função.
- A presidência do inquérito policial é exclusiva do Delegado de Polícia,
não sendo esta função delegável ou exercível por outras autoridades
administrativas.
- L12830, art. 2, §120. Afirma a “natureza jurídica” das funções de polícia
judiciária e de apuração de infrações penais do Delegado de Polícia,
2. Esta Corte Superior de Justiça pacificou o entendimento de que documentos produzidos na fase
inquisitorial, como o processo administrativo tributário, por se sujeitarem ao contraditório diferido,
podem ser utilizados como fundamento para a prolação de sentença condenatória, sem que tal
procedimento implique ofensa ao disposto no artigo 155 do Código de Processo Penal.
3. Na espécie, as circunstâncias judiciais levaram à compreensão de que o acusado teria agido com
maior reprovabilidade na conduta criminosa praticada, o que constitui fundamento idôneo para o
aumento da pena na primeira etapa da dosimetria.
4. Dadas as particularidades do caso concreto, afigurando-se excessiva e desproporcional a sanção
básica fixada, cumpre reconhecer a ocorrência de ilegalidade manifesta que reclama a concessão de
habeas corpus de ofício, operando-se o redimensionamento da reprimenda.
5. Agravo regimental desprovido. Ordem concedida de ofício para reduzir a pena imposta e fixar o
regime inicial aberto
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§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo
se dispuser em lei; lembrar que competência investigatória da PF não se traduz necessariamente em
competência jurisdicional da JF.
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho,
sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
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"Nos termos do art. 144 da Constituição Federal, à polícia federal e às polícias civis compete, com
exclusividade, unicamente o exercício das funções de polícia judiciária, o que não se estende à
atividade de polícia investigativa. Assim, embora não seja atividade típica da polícia militar, não
consiste em ilegalidade - muito menos nulidade - eventual cumprimento de mandado de busca e
apreensão pela instituição" (RHC n. 66.450/MG, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, DJe de 30/9/2016).
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Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.
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Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de
polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
positivando a necessidade de fundamentação técnico-jurídica de seus atos.
Afirma que o Delegado de Polícia não é subordinado ao Juiz ou ao
membro do Ministério Público, lhe cabendo o mesmo tratamento protocolar
dispensado a estes (art. 3)21.
- Delegado de Polícia não tem autonomia funcional. Sob essa luz, o
legislador afirma na L12830, art. 2, §4, que o inquérito policial somente
poderá ser avocado ou redistribuído por ato de superior hierárquico,
fundamentado, e que o Delegado de Polícia só poderá ser removido por ato
fundamentado (§5)22.
- L12830, art. 2, §623. O indiciamento é ato privativo do Delegado de Polícia,
dando-se por ato fundamentado (natureza jurídica das funções do Delegado).
- STJ, RHC 4798424. Magistrado não pode requisitar ao Delegado de
Polícia o indiciamento de determinada pessoa, o que caracterizariaviolação
do sistema acusatório.
- Igualmente, o Ministério Público não pode requisitar indiciamento de
agente, sendo este ato privativo do Delegado de Polícia, não havendo, ainda,
qualquer utilidade no pedido, uma vez que a opinião do Delegado de Polícia
não vincula o Ministério Público.
- Indiciamento pode se dar antes do relatório. O indiciamento indica ser
determinada pessoa autora do ilícito em apuração.
- STJ, HC 14593525. Indiciamento realizado após já ter sido oferecida
denúncia contra o investigado configura constrangimento ilegal.
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Art. 3o O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado
o mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do
Ministério Público e os advogados.
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§ 4o O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser
avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo
de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da
corporação que prejudique a eficácia da investigação.
§ 5o A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.
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§ 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante
análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL. INDICIAMENTO COMO ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA DA
AUTORIDADE POLICIAL.
O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso porque o
indiciamento
constitui atribuição exclusiva da autoridade policial. De fato, é por meio do indiciamento que a
autoridade policial aponta determinada pessoa como a autora do ilícito em apuração. Por se tratar
de medida ínsita à fase investigatória, por meio da qual o delegado de polícia externa o seu
convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se admite que seja requerida ou determinada pelo
magistrado, já que tal procedimento obrigaria o presidente do inquérito à conclusão de que
determinado indivíduo seria o responsável pela prática criminosa, em nítida violação ao sistema
acusatório adotado pelo ordenamento jurídico pátrio. Nesse mesmo sentido, é a inteligência do art. 2º,
§ 6º, da Lei 12.830/2013, o qual consigna que o indiciamento é ato inserto na esfera de atribuições da
polícia judiciária. Precedente citado do STF: HC 115.015-SP, Segunda Turma, DJe 11/9/2013. RHC
47.984-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014.
25
CRIME CONTRA FLORA. INDICIAMENTO POSTERIOR. DENÚNCIA.
O paciente foi denunciado como incurso nas penas do art. 38 da Lei n. 9.605/1998 por ter danificado área
de floresta em formação considerada de preservação permanente, fatos supostamente ocorridos em
2/10/2007. No habeas corpus, o impetrante/paciente busca que seja determinada a revogação do seu
indiciamento formal após já ter sido oferecida a denúncia sobre os mesmos fatos. Registra o Min. Relator
- STF, RE 59372726. Corte afirma a competência do Ministério Público para
conduzir investigação criminal em procedimento próprio, respeitados os direitos
e garantias fundamentais dos investigados, observados os casos submetidos à
reserva de jurisdição, o controle jurisdicional, e as prerrogativas funcionais,
como as do advogado e do Defensor Público. Reconhecimento da
legitimidade do Ministério Público para investigação criminal.
- A tese que justifica o poder investigatório do Ministério Público é a chamada
“teoria dos poderes implícitos”27. Afirma a teoria que, se foi dada ao
Ministério Público a função de dominus litis em ações penais públicas, lhe
que, por ocasião da impetração do writ (no STJ) ainda não havia julgamento do HC originário impetrado
no tribunal de origem; somente depois sobreveio o acórdão denegando a ordem, motivo pelo qual
examina esse habeas corpus como substitutivo de recurso ordinário. Observa ser cediço que este
Superior Tribunal, em reiterados julgados, vem afirmando seu posicionamento jurisprudencial de
que caracteriza constrangimento ilegal o formal indiciamento do paciente que já teve contra si
oferecida denúncia, como no caso, inclusive esta já foi recebida pelo juízo a quo. Diante do exposto, a
Turma concedeu a ordem. Precedentes citados: RHC 21.657-SP, DJe 15/3/2010, e HC 145.935-SP, DJe
7/6/2010. HC 179.951-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 10/5/2011 (ver Informativo n. 471).
26
Ministério Público e investigação criminal - 20
O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem
a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por
seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdiçãoe, também, as prerrogativas
profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º,
notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente
no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos membros dessa Instituição.
Com base nessa orientação, o Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a
recurso extraordinário em que discutida a constitucionalidade da realização de procedimento
investigatório criminal pelo Ministério Público. No caso, o acórdão impugnado dispusera que, na fase de
recebimento da denúncia, prevaleceria a máxima “in dubio pro societate”, oportunidade em que se
possibilitaria ao titular da ação penal ampliar o conjunto probatório. Sustentava o recorrente que a
investigação realizada pelo “parquet” ultrapassaria suas atribuições funcionais constitucionalmente
previstas — v. Informativos 671, 672 e 693. O Tribunal asseverou que a questão em debate seria de
grande importância, por envolver o exercício de poderes por parte do Ministério Público. A legitimidade
do poder investigatório do órgão seria extraída da Constituição, a partir de cláusula que outorgaria
o monopólio da ação penal pública e o controle externo sobre a atividade policial. O “parquet”,
porém, não poderia presidir o inquérito policial, por ser função precípua da autoridade policial. Ademais,
a função investigatória do Ministério Público não se converteria em atividade ordinária, mas
excepcional, a legitimar a sua atuação em casos de abuso de autoridade, prática de delito por
policiais, crimes contra a Administração Pública, inércia dos organismos policiais, ou
procrastinação indevida no desempenho de investigação penal, situações que, exemplificativamente,
justificariam a intervenção subsidiária do órgão ministerial. Haveria, no entanto, a necessidade de
fiscalização da legalidade dos atos investigatórios, de estabelecimento de exigências de caráter
procedimental e de se respeitar direitos e garantias que assistiriam a qualquer pessoa sob investigação —
inclusive em matéria de preservação da integridade de prerrogativas profissionais dos advogados, tudo
sob o controle e a fiscalização do Poder Judiciário. Vencidos os Ministros Cezar Peluso (relator), Ricardo
Lewandowski (Presidente) e Dias Toffoli, que davam provimento ao recurso extraordinário e
reconheciam, em menor extensão, o poder de investigação do Ministério Público, em situações pontuais e
excepcionais; e o Ministro Marco Aurélio, que dava provimento ao recurso, proclamando a ilegitimidade
absoluta do Ministério Público para, por meios próprios, realizar investigações criminais.
RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 14.5.2015. (RE-
593727)
27
STF, RE468523.
devem ser concedidos os meios e instrumentos para consecução dessa
função institucional.
- STJ também afirma a licitude das investigações conduzidas pelo Ministério
Público, afirmando fazer parte do feixe de funções institucionais do parquet.
Teoria dos poderes implícitos.
- Note-se que, conquanto seja admitido ao Ministério Público exercer função
investigatória, trata-se, segundo o STF, de função extraordinária, que se
legitimaria somente em casos excepcionais, como investigações de alta
complexidade, crimes praticados por policiais, inércia de órgãos
correcionais policiais, inércia da autoridade policial, crimes contra a
Administração Pública, enfim, situações que, exemplificativamente,
justificariam a intervenção subsidiária do órgão ministerial, respeitados os
direitos e garantias dos investigados, e o controle jurisdicional da atividade.
Subsidiariedade da atuação investigatória do Ministério Público.
- Peças de informação, sejam as do inquérito policial ou de procedimento
investigatório conduzido pelo Ministério Público, serão documentadas.
Inquérito é procedimento escrito.
1.1. Características do Inquérito Policial.
1.1.1. Inquisitivo.
- O inquérito policial é procedimentoinquisitivo; não haverá contraditório no
curso do inquérito policial, ainda que seja possível ao investigado apresentar
manifestação e documentos. A pesquisa realizada pelo Delegado de Polícia
é unilateral e discricionária. Procedimento inquisitivo.
- CRFB, art. 5, LV28. Contraditório é obrigatório em processos (inquérito é
procedimento) administrativos ou judiciais. Não há acusado em inquérito,
somente investigado.
- Eventuais ilegalidades praticadas no curso do inquérito poderão ser objeto de
recurso ao Chefe de Polícia (CPP, art. 5, §2)29, sem prejuízo de eventual
controle jurisdicional através de habeas corpus ou mandado de segurança.
- O contraditório e a ampla defesa advogam a possibilidade de efetiva
participação, em paridade de armas, dos acusados no processo penal. A
participação efetiva se dá através da ciência dos atos processuais, da
possibilidade de manifestação sobre esses atos, e da efetiva análise e
consideração desses argumentos nas decisões adotadas, pelo Juízo.
Influência sobre as decisões jurisdicionais.
- No inquérito policial não há acusado, uma vez que não existe sequer
demanda. A relação jurídica processual se completa com a citação do réu,
após o oferecimento da denúncia ou queixa-crime.´
- Estatuto da OAB, art. 7, XXI 30. Advogado tem direito de acompanhar seu
assistido em interrogatório e de formular quesitos, que deverão constar no
respectivo termo.
28
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;processo.
29
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de
Polícia.
30
XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade
absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos
investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive,
no curso da respectiva apuração:
- Em regra a autoridade policial agirá de ofício instaurando o inquérito
policial (notitia criminis direta31).Princípio da oficialidade e da oficiosidade.
- STF. O livre convencimento do juiz pode decorrer das informações colhidas
durante o inquérito policial, nas hipóteses que complementam provas que
passaram pelo crivo do contraditório na fase judicial, bem como quando não
são infirmadas por outras provas colhidas em juízo. Contraditório diferido
incidente sobre os elementos de informação, e sua integração por provas
de fato colhidas em juízo.
- O Delegado de Polícia conduz discricionariamente as investigações,
determinando a realização das diligências que lhe pareçam úteis ou
necessárias à elucidação do crime e de sua autoria. Haverá, entretanto,
obrigatoriedade de realização de algumas diligências, como o exame de corpo
de delito (CPP, art. 184)32.
- O delegado ou juiz negarão a perícia requerida pelas partes, quando
irrelevante para o esclarecimento da verdade.
- CPP, art. 17533. Obrigatoriedade de realização de perícia sobre os
instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se lhe verificar a
natureza e eficiência. Lembre-se que o STJ, em última posição, fixou a
desnecessidade de realização de perícia sobre arma de fogo no caso de
crime de porte ou posse ilegal, presumindo-se a potencialidade lesiva. Há,
outrossim, jurisprudência pacífica referente à desnecessidade de perícia sobre
arma de fogo no caso de roubo circunstanciado.
- CPP, art. 14934. Autoridade Policial não pode realizar, de ofício, exame de
insanidade mental, devendo representar ao Juiz competente para
32
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia
requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.
33
Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se
Ihes verificar a natureza e a eficiência.
34
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou
cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.
§ 1o O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da
autoridade policial ao juiz competente.Delegado não pode determinar exame de insanidade mental de
ofício.
realização da perícia. Única perícia que não pode ser realizada de ofício pelo
Delegado de Polícia.Defesa pode, ainda, se opor à sua realização, ainda que
haja determinação judicial. STF, HC13307835. Autoridade policial não pode
realizar, de ofício, exame de insanidade mental.
- Não existe assistente técnico na fase investigatória. Tumultuo ao
inquérito. Assistente técnico só pode ser admitido após a juntada do laudo
pronto na fase processual. CPP, art. 15936. Assistente técnico, assim como
assistente da acusação, somente na fase processual.
- Delegado de Polícia pode ser suspeito na condução do inquérito policial.
Entretanto, não há previsão de oposição de suspeição nos autos do inquérito
§ 2º O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o processo,
se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento.
35
Incidente de insanidade mental e obrigatoriedade
O incidente de insanidade mental é prova pericial constituída em favor da defesa. Logo, não é
possível determiná-lo compulsoriamente na hipótese em que a defesa se oponha à sua realização.
Essa é a conclusão da Segunda Turma ao conceder a ordem em “habeas corpus” que discutiu a
legitimidade de decisão judicial que deferira pedido formulado pelo Ministério Público Militar
determinando a instauração de incidente de insanidade mental, com fundamento no art. 156 do Código de
Processo Penal Militar (CPPM), a ser realizado por peritos médicos de hospital castrense.
A Segunda Turma afirmou que o Código Penal Militar (CPM) e o Código Penal (CP) teriam adotado o
critério biopsicológico para a análise da inimputabilidade do acusado. Assim, a circunstância de o
agente ter doença mental provisória ou definitiva, ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado
(critério biológico), não seria suficiente para ele ser considerado penalmente inimputável, sem análise
específica dessa condição para aplicação da legislação penal.
Havendo dúvida sobre a imputabilidade, seria indispensável que, por meio de procedimento
médico, se verificasse que, ao tempo da ação ou da omissão, o agente era totalmente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (critério
psicológico).
Contudo, no caso em comento, a defesa não solicitara a realização do mencionado exame. Tendo isso em
conta, o Colegiado asseverou que o paciente não estaria obrigado a se submeter a esse exame.
HC 133.078/RJ, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 6-9-2016.
36
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior. Um perito oficial.
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação
técnica relacionada com a natureza do exame.
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo.
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao
querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos
exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que
o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com
antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar;
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou
ser inquiridos em audiência.
§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será
disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito
oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.
§ 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento
especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de
um assistente técnico.
(art. 107)37, uma vez que não existe contraditório no inquérito policial,devendo
o próprio Delegado de Polícia, de ofício, declarar sua suspeição. Risco de
prevaricação, por interferência dos sentimentos pessoais na investigação.
Delegado deve se declarar suspeito de ofício.
- Delegado de Polícia é obrigado a atender requisições legais de
instauração de inquérito feitas pelo Ministério Público. Descumprida a
requisição, poderá estar caracterizado crime de prevaricação, no caso de
descumprimento para satisfação de sentimento ou interesse pessoal; a
princípio não há crime de desobediência segundo a jurisprudência; assim,
ordinariamente tratar-se-á de mera infração disciplinar.
- CPP, art. 2138. Previsão de incomunicabilidade de indiciado. Previsão arcaica,
flagrantemente inconstitucional. Até mesmo no Estado de Defesa, situação de
restrição de direitos excepcional, não se admite incomunicabilidade39.
- Em regra não é cabível habeas corpus para trancamento de inquérito policial.
O Judiciário não pode paralisar o regular exercício da atividade policial, e
tampouco subtrair do Ministério Público, titular da ação pública, a opinio
delicti.Jurisprudência superior admite o habeas corpus como ferramenta
de trancamento de inquérito em casos de flagrante ilegalidade ou
teratologia. Flagrante ilegalidade, teratologia.
- A simples notitia criminis(direta, autoridade policial, ou indireta, vítima e
órgãos públicos)não caracteriza, por si só, constrangimento ilegal ao direito de
locomoção do paciente, sanável via HC. STF, HC 11917240.
37
Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão
elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.
38
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será
permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho
fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público,
respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil
39
Damásio defende a recepção do CPP, art. 21, afirmando justamente o contrário do dito pela doutrina
majoritária, que “situações excepcionais exigem medidas excepcionais”, concluindo que no Estado de
Defesa, medida excepcional, não se admitiria a incomunicabilidade para evitar-se abusos nesse tempo.
Afirma, pois, a contrario sensu, que em tempos de normalidade seria possível a incomunicabilidade, pelo
menor risco de abuso da medida.
40
Ementa: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO. CRIME
ELEITORAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS HÁBEIS A AFASTAR,
DESDE LOGO, A RESPONSABILIDADE PENAL. INVIABILIDADE DE ANÁLISE DE FATOS E
PROVAS NA VIA DO HABEAS CORPUS. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS ADMINISTRATIVA E
PENAL. ORDEM DENEGADA. 1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a extinção
de inquéritos e ações penais de forma prematura, via habeas corpus, somente se dá em hipóteses
excepcionais, quando patentemente demonstrada (a) a atipicidade da conduta; (b) a ausência de
indícios mínimos de autoria e materialidade delitivas; ou (c) a presença de causa extintiva da
punibilidade. Precedentes. No caso, não se constata nenhuma da hipóteses que justificariam o
trancamento excepcional do procedimento investigativo 2. Pelo menos na via estreita do habeas corpus,
os fatos objeto de investigação possuem relevância jurídica para o âmbito penal, razão pela qual se torna
ilegítimo suprimir, desde logo, as funções institucionais dos órgãos competentes pela investigação
criminal. Ademais, o deslinde das diversas questões aqui suscitadas demandaria, necessariamente, o
revolvimento de fatos e provas, o que é inviável em sede de habeas corpus. 3. A simples notitia criminis
não caracteriza, por si só, constrangimento ilegal ao direito de locomoção do paciente, sanável via
habeas corpus, especialmente quando não há qualquer informação de que o paciente esteja na
iminência de ser preso. Precedentes. 4. Ordem denegada.
- Há, entretanto, exceções. Jurisprudência do STF admite trancamento de
investigação através de HC em casos de flagrante atipicidade da conduta,
como nos casos do enunciado 2441 da Súmula Vinculante da Corte; ausência
de indícios mínimos de autoria e materialidade delitivas; presença patente de
causa extintiva de punibilidade. Nesses casos será possível o manejo de
habeas corpus para trancamento da investigação.
1.1.2. Sigiloso.
- CPP, art. 2042. O inquérito policial é procedimento sigiloso. A autoridade
assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido
pelo interesse da sociedade. Inquisitivo, sigiloso.
- O sigilo é fundamental ao sucesso da investigação. Primeira função do sigilo.
- O sigilo atende, ainda, a um interesse público, preservando a imagem de
investigados que podem não ser culpados de qualquer
crime.Strepitusiudicii.
- CRFB, art. 93, IX43. No processo judicial, ao contrário, a regra é a
publicidade. Requisito de validade.
- Os atos administrativos tem por requisito de eficácia (ou validade, a depender
da posição doutrinária), a publicidade. O inquérito policial, entretanto, terá seus
atos administrativos investigatórios válidos independentemente de sua
publicidade.
- STF, enunciado 14 da Súmula Vinculante 44. “É direito do defensor, no
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de
defesa.”. Obviamente, o direito de defesa a que faz alusão o enunciado é
aquele do cliente do defensor que pleiteia acesso aos autos. Defesa técnica.
1.1.3. Escrito.
- O inquérito policial é procedimento escrito. Todos os elementos de
informação colhidos no curso da investigação serão documentados,
fisicamente. Inquisitivo, sigiloso, escrito.
- CPP, art. 945.Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,
reduzidas a escrito ou digitadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
Delegado de Polícia deve rubricar todas as peças.
41
Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº
8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
42
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido
pelo interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não
poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes.
43
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes
e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
44
“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”.
45
Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
- A ação penal, ao contrário, tem por princípio a oralidade.
- Não se concebe, assim, inquérito policial oral.
1.1.4. Facultativo.
- CPP, art. 39, §546. O inquérito policial é procedimento administrativo
dispensável. O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a
representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.Inquisitivo,
sigiloso, escrito, facultativo.
- O inquérito policial é procedimento investigatório dispensável, ou seja, caso
existam elementos de convicção suficientes colhidos fora do inquérito policial,
poderá o Ministério Público dispensá-lo.
- CPP, art. 2747. Qualquer pessoa do povo poderá trazer, por escrito,
elementos de informação diretamente ao Ministério Público, viabilizando, de
maneira suficiente, o oferecimento da denúncia. Delatio criminis. Qualquer do
povo.
- CPP, art. 4648. Prazos para oferecimento de denúncia no caso de dispensa de
inquérito policial. 05 (cinco) dias para réu preso, 15 (quinze) dias para réu solto.
- No JECrim o Termo Circunstanciado de Ocorrência substitui o inquérito
policial, demonstrando, igualmente, a dispensabilidade deste. L9099, art. 77,
§149.
1.2. Início do Inquérito Policial.
1.2.1. Na Ação Penal Pública Incondicionada.
- CPP, art. 550. Em regra o inquérito policial será instaurado de ofício pela
autoridade policial, ou mediante requisição do Ministério Público, a
46
§ 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos
elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de
quinze dias.15 dias, réu solto.
47
Art. 27. Qualquer pessoa do povo(delatiocriminis) poderá provocar a iniciativa do Ministério Público,
nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e
indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.
48
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia,estando o réu preso, será de 5 dias, contado da
data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o
réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial
(art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
§ 1o Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento
da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação.
§ 2o O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do Ministério
Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que
aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.
49
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no
art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito
quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
50
Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. Notitia criminis indireta ou mediata.
§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representa-
lo.Notitia criminis direta e indireta.
- Princípio da obrigatoriedade, a autoridade policial deverá instaurar
inquérito de ofício quando existirem elementos mínimos que indiquem a
ocorrência de crime.
- A notitia criminis pode ser de cognição imediata, quando a própria
autoridade policial toma conhecimento da prática de um crime, ou de
cognição mediata, quando terceiro leva ao conhecimento da autoridade a
ocorrência do fato, seja o Ministério Público, através de requisição, seja a
própria vítima.
- Delatio criminis.Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da
existência da infração penal em que caiba ação pública incondicionada poderá,
verbalmente ou por escrito, comunica-la à autoridade policial, e esta, verificada
a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
- O inquérito pode ser instaurado, ainda, no caso de ação penal pública
incondicionada, por requisição do Ministério Público. CRFB, art. 129, I51.
- No contexto do sistema acusatório, entende a doutrina que o magistrado não
pode requisitar a instauração de inquérito policial.
- CPP, art. 4052. Notitia criminis judicial. Magistrado, tomando conhecimento da
aparente prática de crime, deverá encaminhar as peças de informação ao
Ministério Público, para conhecimento e adoção das medidas cabíveis.
Sistema acusatório.
- O inquérito policial pode ser instaurado ainda por requerimento do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representa-lo (CPP, art. 5, II – notitia
criminis indireta). Não instaurado o Inquérito, cabe recurso ao Chefe de Polícia.
- Note-se que, em face de uma delatio criminis, não deverá a autoridade
policial instaurar, imediatamente, o inquérito policial, devendo, antes,
verificar, através da chamada “verificação preliminar prévia – VPI” a
procedência das informações, em apuração sumária, com escopo de checar
a existência mínima de justa causa para instauração do inquérito policial.
Inquérito não prescinde de justa causa para sua instauração.
- Notitia criminisinqualificada, ou apócrifa. Notícia de crime levada à
autoridade policial ou Ministério Público de maneira anônima. Pode ensejar
instauração de inquérito policial, desde que corroborada por outros indícios
53
ANONIMATO - NOTÍCIA DE PRÁTICA CRIMINOSA - PERSECUÇÃO CRIMINAL -
IMPROPRIEDADE. Não serve à persecução criminal notícia de prática criminosa sem identificação da
autoria, consideradas a vedação constitucional do anonimato e a necessidade de haver parâmetros
próprios à responsabilidade, nos campos cível e penal, de quem a implemente.
54
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser
iniciado.
55
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
56
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. Permanentemente vulnerável.
57
DIREITO PROCESSUAL PENAL. NATUREZA DA AÇÃO PENAL EM CRIME CONTRA A
LIBERDADE SEXUAL.
Procede-se mediante ação penal condicionada à representação no crime de estupro praticado
contra vítima que, por estar desacordada em razão de ter sido anteriormente agredida, era incapaz
de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos. De fato, segundo o art.
225 do CP, o crime de estupro, em qualquer de suas formas, é, em regra, de ação penal pública
condicionada à representação, sendo, apenas em duas hipóteses, de ação penal pública incondicionada,
quais sejam, vítima menor de 18 anos ou pessoa vulnerável. A própria doutrina reconhece a existência
de certa confusão na previsão contida no art. 225, caput e parágrafo único, do CP, o qual, ao mesmo
tempo em que prevê ser a ação penal pública condicionada à representação a regra tanto para os
crimes contra a liberdade sexual quanto para os crimes sexuais contra vulnerável, parece dispor
que a ação penal do crime de estupro de vulnerável é sempre incondicionada. A interpretação que
deve ser dada ao referido dispositivo legal é a de que, em relação à vítima possuidora de incapacidade
permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos, a ação penal seria sempre
incondicionada. Mas, em se tratando de pessoa incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da
ocorrência dos atos libidinosos – não sendo considerada pessoa vulnerável –, a ação penal
permanece condicionada à representação da vítima, da qual não pode ser retirada a escolha de
evitar o strepitusjudicii. Com este entendimento, afasta-se a interpretação no sentido de que qualquer
crime de estupro de vulnerável seria de ação penal pública incondicionada, preservando-se o sentido da
redação do caput do art. 225 do CP. HC 276.510-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
11/11/2014, DJe 1º/12/2014.
- A representação deverá ser apresentada no prazo de até 06 (seis) meses.
CPP, art. 38-3958, e CP, art. 10359, contados do dia em que veio a vítima
saber quem é o autor do crime. Princípio da actio nata.
1.2.3. Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça.
- O inquérito policial em ação penal pública condicionada à requisição do
Ministro da Justiçasó poderá ser instauradoquando efetivamente houver
requisição daquele, que pode ocorrer em dois casos, quais sejam, crimes
cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil(CP, art. 7, §3,
“b”)60, e crimes contra a honra de chefe de governo estrangeiro ou do
Presidente da República (CP, art. 145, parágrafo único)61. Decisão política.
1.2.4. Ação Penal Privada.
- Nos crimes de ação penal privada o inquérito policial só pode ser instaurado a
partir de requerimento da vítima ou de seu representante
legal.Requerimento da vítima, não representação.
1.2.5. Cognição coercitiva.
- O inquérito policial pode ser instaurado por cognição coercitiva, nos casos
de prisão em flagrante delito. CPP, art. 862. Cognição direta, cognição
indireta, cognição coercitiva.
- Parte da doutrina afirma que o auto de prisão em flagrante substitui a própria
portaria de instauração do inquérito policial. Na Polícia Federal não há
substituição, elaborando-se portaria ainda que haja APFD.
- Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação ou privada,
deverá haver representação ou requerimento da vítima para lavratura do
auto de prisão em flagrante. Requerimento da vítima.
1.3. Prazos de Conclusão do Inquérito Policial.
58
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de
queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso da ação penal privada subsidiária da pública, do dia
em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes
especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à
autoridade policial.
59
Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de
representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber
quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo
para oferecimento da denúncia.
60
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do
Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
61
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando,
no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do
caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo
artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.
62
Art. 8o Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto no Capítulo II do Título IX deste
Livro.
- O inquérito policial será concluído com o relatório, em regra, em 10 (dez)
dias, sem previsão de prorrogação, se o investigado estiver preso, e em
30 (trinta) dias, se estiver o investigado solto. Rito comum, Justiça Estadual.
CPP, art. 1063.
- Na Justiça Federal, o prazo de conclusão é de 15 (quinze) dias, se o
indiciado estiver preso, prorrogável por mais 15 (quinze) dias (L5010, art.
66)64. 15 dias com réu preso na JF.
- Para crime de tráfico de drogas, o prazo será de 30 (trinta) dias para réu
preso, prorrogável por mais (trinta), e 90 (noventa) dias para réu solto,
prorrogável por mais 90 (noventa) dias. L11343, 5165.
- Não há prazo especial para crimes hediondos, à exceção do crime de tráfico
ilícito de drogas, que é hediondo por equiparação.Prazo especial para crimes
hediondos é o de prisão temporária, que será de até 30 (trinta) dias (L8072, art.
2, §4)66.
- O relatório deverá descrever minuciosamente os fatos, sendo remetido ao
Juiz (CPP, art. 10, §1), que é o responsável pelo controle de legalidade das
investigações, notadamente o prazo. Lembre-se que não há prorrogação do
prazo de 10 (dez) dias, no caso de réu preso na Justiça Estadual.
- CPP, art. 1967. Na ação penal privada o inquérito policial será remetido
também ao Juízo, aguardando em cartório a manifestação da vítima.
- Parte da doutrina afirma que a tramitação do inquérito deveria ser feita
diretamente com o Ministério Público, dominus litis, como forma de otimizar
63
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que
se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem
ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.
§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas,
mencionando o lugar onde possam ser encontradas.
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá
requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado
pelo juiz. Prorrogação só com réu solto.
64
Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias, quando o indiciado
estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze dias, a pedido, devidamente fundamentado,
da autoridade policial e deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo.
Parágrafo único. Ao requerer a prorrogação do prazo para conclusão do inquérito, a autoridade policial
deverá apresentar o preso ao Juiz. Apresentação do preso ao juiz para prorrogação do prazo do inquérito
policial na Justiça Federal.
65
Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e
de 90 (noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. Lei de drogas.
66
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes
previstos neste artigo (hediondos), terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso
de extrema e comprovada necessidade.Prazo de 30 dias para temporária em crimes hediondos.
67
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo
competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues
ao requerente, se o pedir, mediante traslado.Não há arquivamento de inquérito policial que investiga
crime de ação penal privada.
o trâmite legal, e de preservar o sistema acusatório. Magistrado continuaria
controlando os pedidos de arquivamento ou o recebimento de denúncia, bem
como diligências submetidas à reserva de jurisdição.
- CPP, art. 10, §3. Pode a autoridade policial requerer devolução dos autos
para diligências complementares necessárias à elucidação dos fatos, desde
que o investigado esteja solto.
- CPP, art. 1668. Ministério Público, caso entenda que não existem nos autos,
ainda, elementos de informação suficientes ao oferecimento de denúncia,
requisitará diligências complementares à autoridade policial, que deverá
cumpri-las.
1.4. Arquivamento de Inquérito Policial.
- Só se fala em arquivamento de inquérito policial nos casos de ação penal
pública, incondicionada ou condicionada à representação. Não existe
arquivamento de inquérito policial em crimes de ação penal privada. Não
se arquiva inquérito policial em ação penal privada.
- O arquivamento leva à paralisação das investigações, ante a ausência de
elementos probatórios que indiquem a ocorrência de crime ou viabilizem a
elucidação de sua autoria.
- Pedido de arquivamento, que poderá ser total ou parcial, só poderá ser
realizado pelo Ministério Público.
- CPP, art. 17. A autoridade policialnão pode determinar arquivamento de
inquérito. Ainda que conclua pela inexistência de crime, deverá expressar seu
entendimento em relatório e remetê-lo ao Juízo. Indisponibilidade do inquérito
policial à autoridade policial.
- CPP, art. 2869. Discordância entre o pedido de arquivamento feito pelo
Ministério Público e suas razões70, e a opinião do Magistrado que faz o controle
do princípio da obrigatoriedade no caso concreto. Nesse caso, o Juiz
remeterá os autos ao Procurador-Geral de Justiça, que poderá então:
oferecer denúncia, pessoalmente; designar outro membro do Ministério Público
para fazê-lo71; reiterar a manifestação de arquivamento, à qual o Magistrado
estará, então, vinculado, devendo homologar o arquivamento. Sistema
acusatório.
- O Juiz fará o controle do princípio da obrigatoriedade.
68
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão
para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
69
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento
do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as
razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá
a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Controle do princípio da
obrigatoriedade.
70
Pedido de arquivamento do Ministério Público deverá ser sempre fundamentado.
71
O membro do Ministério Público indicado pelo Procurador-Geral estará obrigado a oferecer denúncia.
Doutrina e jurisprudência entendem que não há violação à independência funcional, funcionando o
membro indicado como longa manus do Procurador-Geral. Parcela da doutrina entende que poderia sim o
membro do MP recusar o oferecimento da denúncia, invocando sua independência funcional, devendo o
Procurador-Geral, então, indicar outro membro para oferecer a denúncia, que concorde com sua opinio
delicti.
- Na esfera Federal, os autos são remetidos não ao Procurador-Geral da
República, mas sim à 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério
Público Federal, que fará a análise referente ao CPP, art. 28.
- STJ, Inf. 558. Subprocuradores-Gerais da República, que atuam no STJ por
delegação do PGR, caso peçam arquivamento de inquérito policial que tramite
perante aquela Corte, não poderão ser contestados ou ver os autos remetidos
à 2CCR ou ao PGR72, uma vez que este, delegando sua função ao
Subprocurador, estará representado nos autos por ele, sendo sua própria
opinião a expressada ali.
- Mesmo entendimento se aplica a inquéritos policiais em trâmite perante o
Supremo Tribunal Federal, onde não pode haver questionamento de pedido de
arquivamento feito pelo próprio Procurador-Geral da República. Sistema
acusatório.
- A ação penal privada subsidiária da pública é uma das formas de controle
do princípio da obrigatoriedade. Inércia do MP no oferecimento da denúncia
no prazo do CPP, art. 4673, autoriza o ofendido a ajuizar queixa subsidiária
(CPP, art. 30)74. Controle do princípio da obrigatoriedade.
1.4.1. Arquivamento Implícito ou Tácito.
- Em razão do princípio da indivisibilidade da ação penal pública75, segundo o
qual a denúncia deve ser oferecida em face de todos os autores de um
crime, caso o Ministério Público “escolha” contra quem oferecerá a denúncia,
deixando de fora outros autores ou fatos, parcela minoritária da doutrina
entende que haveria um pedido implícito de arquivamento referente aos demais
réus, e que o Juiz, ao receber a denúncia sem aplicar o CPP, art. 28, estaria
homologando tacitamente aquele pedido de arquivamento.
- Pela tese do arquivamento implícito, caso o Ministério Público deseje fazer
um aditamento da denúncia ou mesmo oferecer outra denúncia contra réu não
72
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INAPLICABILIDADE DO ART. 28 DO CPP NOS
PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS QUE TRAMITEM ORIGINARIAMENTE NO STJ.
Se membro do MPF, atuando no STJ, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
peças de informação que tramitem originariamente perante esse Tribunal Superior, este, mesmo
considerando improcedentes as razões invocadas, deverá determinar o arquivamento solicitado, sem a
possibilidade de remessa para o Procurador-Geral da República, não se aplicando o art. 28 do CPP. Isso
porque a jurisprudência do STJ é no sentido de que os membros do MPF atuam por delegação do
Procurador-Geral da República na instância especial. Assim, em decorrência do sistema acusatório,
nos casos em que o titular da ação penal se manifesta pelo arquivamento de inquérito policial ou de peças
de informação, não há alternativa, senão acolher o pedido e determinar o arquivamento. Nesse passo, não
há falar em aplicação do art. 28 do CPP nos procedimentos de competência originária do STJ.
73
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias(não se confunde
com o prazo de 10 dias para finalização do inquérito policial pela Polícia), contado da data em que o
órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto
ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á
o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
§ 1o Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento
da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação.
§ 2o O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do Ministério
Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que
aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.
74
Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá intentar a ação privada.
75
Doutrina majoritária entende que a indivisibilidade não incide sobre a ação penal pública.
denunciado, deveria apresentar provas substancialmente novas, hígidas a
ensejar o desarquivamento de inquérito policial.
- Tribunais Superiores entendem que a ação penal pública é divisível, e
que não tem aplicação a tese do arquivamento implícito. Todo pedido de
arquivamento é expresso, uma vez que o Ministério Público é obrigado a
apresentar fundamento em todas suas manifestações na ação penal
pública e sua investigação. STF, HC 10435676.
- Assim, o Ministério Público tem a prerrogativa de fracionar a denúncia
segundo a conveniência da investigação. Não se aplica, pois, o princípio da
indivisibilidade às ações penais públicas, somente às ações penais privadas.
STJ, RHC 3423377.
- STJ, Inf. 56278. Conquanto a ação penal privada seja considerada, pelos
Tribunais Superiores,indivisível, a não inclusão de eventuais suspeitos na
76
O sistema processual penal brasileiro não prevê a figura do arquivamento implícito de inquérito
policial. Ao reafirmar esse entendimento, a 1ª Turma denegou habeas corpus em que se sustentava a sua
ocorrência em razão de o Ministério Público estadual haver denunciado o paciente e corréu, os quais não
incluídos em denúncia oferecida anteriormente contra terceiros. Alegava a impetração que o paciente, por
ter sido identificado antes do oferecimento da primeira peça acusatória, deveria dela constar.
Inicialmente, consignou-se que o Ministério Público esclarecera que não incluíra o paciente na primeira
denúncia porquanto, ao contrário do que afirmado pela defesa, não dispunha de sua identificação, o que
impediria a propositura da ação penal naquele momento. Em seguida, aduziu-se não importar, de qualquer
forma, se a identificação do paciente fora obtida antes ou depois da primeira peça, pois o pedido de
arquivamento deveria ser explícito (CPP, art. 28). Nesse sentido, salientou-se que a ocorrência de
arquivamento deveria se dar após o requerimento expresso do parquet, seguido do deferimento,
igualmente explícito, da autoridade judicial (CPP, art. 18 e Enunciado 524 da Súmula do STF).
Ressaltou-se que a ação penal pública incondicionada submeter-se-ia a princípios informadores
inafastáveis, especialmente o da indisponibilidade (obrigatoriedade), segundo o qual incumbiria,
obrigatoriamente, ao Ministério Público o oferecimento de denúncia, quando presentes indícios de autoria
e prova de materialidade do delito. Explicou-se que a indisponibilidade da denúncia dever-se-ia ao
elevado valor social dos bens tutelados por meio do processo penal, ao se mostrar manifesto o interesse
da coletividade no desencadeamento da persecução sempre que as condições para tanto ocorrerem.
Ademais, registrou-se que, de acordo com a jurisprudência do Supremo, o princípio da
indivisibilidade não se aplicaria à ação penal pública. Concluiu-se pela higidez da segunda denúncia.
Alguns precedentes citados: RHC 95141/RJ (DJe de 23.10.2009); HC 92445/RJ (DJe de 3.4.2009).
77
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
INDIVISIBILIDADE EM AÇÃO PÚBLICA.
Na ação penal pública, o MP não está obrigado a denunciar todos os envolvidos no fato tido por
delituoso, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem não foi denunciado.
Isso porque, nessas demandas, não vigora o princípio da indivisibilidade. Assim, o Parquet é livre para
formar sua convicção incluindo na increpação as pessoas que entenda terem praticados ilícitos penais,
mediante a constatação de indícios de autoria e materialidade. Ademais, há possibilidade de se aditar a
denúncia até a sentença. Não há indivisibilidade na ação penal pública.
78
DIREITO PROCESSUAL PENAL. LIMITE PARA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL PRIVADA.
A não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não configura, por si só, renúncia tácita ao
direito de queixa. Com efeito, o direito de queixa é indivisível, é dizer, a queixa contra qualquer dos
autores do crime obrigará ao processo de todos (art. 48 do CPP). Dessarte, o ofendido não pode limitar
a este ou aquele autor da conduta tida como delituosa o exercício do jus accusationis, tanto que o art. 49
do CPP dispõe que a renúncia ao direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se
estenderá. Portanto, o princípio da indivisibilidade da ação penal privada torna obrigatória a formulação
da queixa-crime em face de todos os autores, coautores e partícipes do injusto penal, sendo que a
inobservância de tal princípio acarreta a renúncia ao direito de queixa, que de acordo com o art.
107, V, do CP, é causa de extinção da punibilidade. Contudo, para o reconhecimento da renúncia
tácita ao direito de queixa, exige-se a demonstração de que a não inclusão de determinados autores
ou partícipes na queixa-crime se deu de forma deliberada pelo querelante (HC 186.405- RJ, Quinta
queixa-crime não configura, por si só, renúncia tácita ao direito de queixa. Para
o reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa exige-se a
demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na
queixa-crime se deu de forma deliberada pelo querelante, apesar de ter
conhecimento de que também eram autores ou partícipes na conduta
objeto da queixa-crime.
- Doutrina majoritária afirma que o Ministério Público deve, no caso de dúvida
sobre suposta renúncia tácita ao direito de queixa, requerer a intimação do
querelante para aditamento da queixa-crime, desempenhando sua função
de guardião do princípio da indivisibilidade (CPP, art. 4879). Não se
manifestando o querelante, tem-se que a omissão é deliberada, renunciando
ao direito de queixa, extinguindo-se a punibilidade para todos os autores.
- CPP, art. 4580. O Ministério Público poderá aditar a queixa-crime somente em
aspectos formais, sem reforma subjetiva da peça. Se pretender ver reformada
subjetivamente a peça,com inclusão de autores, deverá requerer a intimação
do querelante para que o faça, sob pena de renúncia ao direito de queixa.
- Tourinho Filho entende que o Ministério Público tem plenos poderes de
aditamento, inclusive subjetivos. Interpretação ampliativa do CPP, art. 45.
Corrente minoritária.
- Terceira corrente entende que se a omissão é evidentemente voluntária
haverá renúncia ao direito de queixa, com extinção da punibilidade para todos
os autores; se a omissão é, entretanto, manifestamente involuntária, o próprio
Ministério Público poderia, ele mesmo, fazer diretamente o aditamento da
queixa-crime. Considera a omissão tão flagrante que seu saneamento seria
mera correção de erro material, como nos casos em que o querelante cita
um dos autores na exordial e se esquece de incluí-lo ao final da denúncia.
- Lembre-se que peças de informação coletadas pelo Ministério Público,
em procedimento próprio, deverão também se submeter à homologação
judicial para seu arquivamento, aplicando-se, em caso de discordância, o
CPP, art. 28.
- Relembre-se também que não há arquivamento de inquérito policial referente
a crime de ação penal privada.
1.4.2. Arquivamento Indireto.
- O arquivamento indireto é uma tese jurisprudencial, acolhida pelo STF a partir
de construção de Cláudio Fontelles, então Procurador-Geral da República,
incidente em casos em que há desacordo entre órgão do Ministério Público
e o Juízo, referente à competência para julgamento de fatos
determinados, entendendo aquele não ter atribuição para oficiar no feito,
enquanto este entende ser competente para julgá-lo. Nesses casos, estando
ambos garantidos pela independência funcional, não estaria o Ministério
Público obrigado a oferecer denúncia, e o magistrado tomará a recusa ao
oferecimento de denúncia como um pedido de arquivamento indireto,
Turma, DJe de 11/12/2014). RHC 55.142-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015, DJe
21/5/2015.
79
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério
Público velará pela sua indivisibilidade.Indivisibilidade da ação penal privada.
80
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo
Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo.
aplicando o CPP, art. 28, com remessa dos autos ao Procurador-Geral de
Justiça ou à 2CCR. Não há, a priori, conflito de competência, que só se
caracterizará posteriormente, caso haja declínio de competência no Juízo
perante o qual for oferecida a denúncia, através de Recurso em Sentido Estrito
(CPP, art. 581, II)81.
1.5. Desarquivamento de Inquérito Policial.
- É a retomada das investigações referentes a fato já objeto de inquérito policial
anteriormente arquivado, independentemente de qualquer manifestação
judicial. CPP, art. 1882. Crimes de ação penal pública.
- A autoridade policial pode proceder a novas pesquisas e investigações,
independentemente de decisão judicial, se de outras provas tiver notícia.
Note-se que para fins de investigação basta a existência de notícias de
provas novas(CPP, art. 18), enquanto para a propositura da ação penal em
inquérito previamente arquivado deve haver efetiva produção de provas novas
(STF, enunciado 524 da Súmula)83. Repita-se, o desarquivamento independe
de decisão judicial.
- Em regra o despacho de arquivamento não faz coisa julgada, exceto se
fundamentado: na prova da atipicidade do fato; em excludente de
ilicitude84; ou em extinção da punibilidade.
- STF, em decisão mais recente, afirmou que arquivamento de inquérito
policial fundamentado em excludente de ilicitude não faz coisa julgada
material. HC12510185. Jurisprudência reiterada pela Corte no HC 8739586.
81
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
(...)
II - que concluir pela incompetência do juízo;
82
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver
notícia.Desnecessidade de existência de provas substancialmente novas para reabertura das
investigações. Notícia de provas novas basta. Autoridade policial pode agir independentemente de
autorização judicial.
83
“Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode
a ação penal ser iniciada, sem novas provas.”.
84
DIREITO PROCESSUAL PENAL. EFEITOS DO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
PELO RECONHECIMENTO DE LEGÍTIMA DEFESA.
Promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de legítima defesa, a coisa
julgadamaterial impede a rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo
perquirir a existência de novas provas. Isso porque a decisão judicial que define o mérito do caso
penal, mesmo no arquivamento do inquérito policial, gera efeitos de coisa julgada material. Ademais, a
decisão judicial que examina o mérito e reconhece a atipicidade ou a excludente da ilicitude é
prolatada somente em caso de convencimento com grau de certeza jurídica pelo magistrado. Assim,
na dúvida se o fato deu-se em legítima defesa, a previsão legal de presença de suporte probatório de
autoria e materialidade exigiria o desenvolvimento da persecução criminal. Ressalte-se que a permissão
de desarquivamento do inquérito pelo surgimento de provas novas contida no art. 18 do CPP e na Súmula
524/STF somente tem incidência quando o fundamento do arquivamento for a insuficiência probatória -
indícios de autoria e prova do crime. Pensar o contrário permitiria a reabertura de inquéritos por
revaloração jurídica e afastaria a segurança jurídica das soluções judiciais de mérito, como no
reconhecimento da extinção da punibilidade, da atipia ou de excludentes da ilicitude. Precedente citado
do STJ: RHC 17.389-SE, Quinta Turma, DJe 7/4/2008. Precedente citado do STF: HC 80.560-GO,
Primeira Turma, DJe 30/3/2001. REsp 791.471-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 25/11/2014, DJe
16/12/2014.
85
Arquivamento de inquérito policial e coisa julgada
- STF, enunciado 524 da Súmula. “Arquivado o inquérito policial, por despacho
do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser
iniciada, sem novas provas.”.
- Nos casos onde a jurisprudência entende que o arquivamento de inquérito
policial faz coisa julgada material, quais sejam, prova da atipicidade do fato;
excludente de ilicitude (controverso – STF em decisão recente afirmou a não
incidência da coisa julgada material nesse caso); ou de extinção da
punibilidade, não poderá existir desarquivamento com oferecimento ulterior de
denúncia.
87
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
88
DIREITO PROCESSUAL PENAL. ANTECEDENTES CRIMINAIS. EXCLUSÃO DA
INFORMAÇÃO EM CASO DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA.
É indevida a manutenção na folha de antecedentes criminais de dados referentes a processos nos
quais foi reconhecida a extinção da pretensão punitiva estatal. Não há por que serem mantidos os
registros do investigado ou processado no banco de dados do instituto de identificação nos casos de
arquivamento do inquérito policial, absolvição, reabilitação ou extinção da punibilidade pelo
advento da prescrição, porquanto as referidas informações passam a ser de interesse meramente
eventual do juízo criminal. A manutenção dos dados na folha de antecedentes criminais nessas
circunstâncias constitui ofensa ao direito à preservação da intimidade de quem foi investigado ou
processado. Assim, os dados deverão ficar apenas registrados no âmbito do Poder Judiciário e
disponibilizados para consultas justificadas de juízes criminais. Precedentes citados: RMS 32.886-SP,
DJe 1º/12/2011; RMS 35.945-SP, DJe 3/4/2012; RMS 25.096-SP, DJe 7/4/2008; Pet 5.948-SP, DJe
7/4/2008. RMS 29.273-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/9/2012.
- O direito de ação é instrumental, a ação penal é instrumento para efetivar o
direito material.
- Autonomia, abstração, instrumentalidade.
2.2. Condições da Ação.
- As condições da ação clássicas apontadas no processo civil são ligeiramente
adaptadas ao processo penal.
2.2.1. Possibilidade Jurídica do Pedido.
- A providência requerida deve ser admitida pelo ordenamento jurídico.
- Doutrina controverte-se sobre incidência dessa condição.
2.2.2. Interesse de Agir.
- A ação penal deve ser necessária, útil e adequadaao caso concreto.
- STF, enunciado 693 da Súmula. “Não cabe habeas corpus contra decisão
condenatória à pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração
penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.”. Falta de interesse de
agir, utilidade, inexistência de perigo à liberdade do pretenso paciente.
- Prescrição pela pena em perspectiva. Inadmitida pelos Tribunais Superiores.
STJ, enunciado 438 da Súmula. “É inadmissível a extinção da punibilidade
pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena
hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.”.
Quem defende a incidência da prescrição em perspectiva afirma a perda
superveniente do interesse de agir, tendo em mente a futura incidência de
prescrição da pretensão punitiva. Inutilidade do processo penal no caso
concreto. Teoria da asserção e desnecessidade de presença das condições da
ação durante todo o processo.
2.2.3. Legitimidade das Partes.
- Pertinência subjetiva das partes para figurar em juízo. Respeito à
legitimidade para as diversas espécies de ações.
- Ação adesiva. Presença de crime de ação pública e ação privada, conexos.
Não poderá o Ministério Público atuar em ambos os crimes sem
oferecimento de queixa-crime pelo ofendido.
2.2.4. Justa Causa.
- Justa causa é o suporte probatório mínimo a demonstrar indícios de
autoria, materialidade e da existência da infração penal.
- A atipicidade manifesta, por exemplo, denotaria a falta de justa causa. Se o
fato é atípico, não podem haver indícios de uma materialidade inexistente.
- O STF afirma que a justa causa tem 03 (três) elementos constitutivos:
tipicidade, punibilidade e viabilidade. A tipicidade é observada em razão de a
conduta ser típica. A punibilidade, em face da ausência de prescrição. E a
viabilidade, ante presença de indícios mínimos de autoria e materialidade. HC
12967889. Tipicidade, punibilidade, viabilidade.
2.2.5. Condições Específicas.
- São condições específicas do processo penal, não incidentes a todos os
crimes: a representação do ofendido ou representante legal, e a requisição
do Ministro da Justiça. Representação e requisição do Ministro de Estado da
Justiça são condições especiais da ação.
89
No que se refere à justa causa, considerou presente o trinômio que a caracteriza: tipicidade,
punibilidade e viabilidade. A tipicidade é observada em razão de a conduta ser típica. A punibilidade,
em face da ausência de prescrição. E a viabilidade, ante a materialidade, comprovada com o evento
morte, e a autoria, que deve ser apreciada pelo tribunal do júri.
2.3. Ação Penal Pública Incondicionada.
- O titular da ação penal pública incondicionada será o Ministério Público, que
poderá atuar independentemente de qualquer manifestação de vontade de
vítima ou ofendidos.
- CPP, art. 2490. Ministério Público é o dominus litis de ações penais públicas. A
ação será sempre pública nos casos de crimes praticados em detrimento
de patrimônio ou interesse da União, Estado, Distrito Federal ou
Município. Bem jurídico tutelado.
- No caso de prejuízo à Caixa Econômica Federal, empresa pública, a
competência será da Justiça Federal, e a ação penal será pública
incondicionada, ainda que se trate de crime de dano, que frise-se, será
simples, uma vez que o dano qualificado não incide quando a vítima é
empresa pública. Mudança em 2017 insere a empresa pública no rol de
sujeitos passivos cujo dano é qualificado (CP, art. 163, parágrafo único)91.
- STJ, enunciado 498 da Súmula. “Compete à Justiça dos Estados, em
ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos crimes contra a
economia popular.”. CRFB, art. 109, VI92.
2.3.1. Princípios da Ação Penal Pública Incondicionada.
2.3.1.1. Obrigatoriedade.
- Presentes os requisitos legais e havendo suporte probatório, o Ministério
Público é obrigado a oferecer denúncia. Não há juízo de conveniência e
oportunidade. Obrigatoriedade.
- Existem duas exceções apontadas pela doutrina à obrigatoriedade. Primeira
é a transação penal (L9099, art. 76)93; segunda é a colaboração premiada
(L12850, art. 4, §4)94.
90
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. Condição especial da ação.
§ 1o No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de
representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
§ 2o Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da
União, Estado e Município, a ação penal será pública.
91
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - comviolência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave;
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de
serviços públicos
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
92
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira;
93
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não
sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena
restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
- A transação penal é um acordo que não faz coisa julgada até seu
cumprimento. Enunciado 35 da Súmula Vinculante do STF. “Ahomologação
da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa
julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação
anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da
persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de
inquérito policial.”.
- Note-se que as medidas restritivas de direito impostas em transação penal
não tem caráter de pena, não havendo condenação. STF95.
- STJ, tese. “No caso de concurso de crimes, a pena considerada para fins de
competência e transação penal será o resultado da soma ou da exasperação
das penas máximas cominadas ao delito.”.
- A L12850, art. 4, §4, ao disciplinar a colaboração premiada, permite que o
Ministério Público deixe de oferecer a denúncia, observados algumas
condições, quais sejam, não se tratar do líder da organização criminosa, e
que o beneficiário seja o primeiro a prestar efetiva colaboração. Mitigação
ao princípio da obrigatoriedade.Para que se deixe de oferecer denúncia, deve o
colaborador ser o primeiro a prestar efetiva colaboração, e não deve ser o líder
da organização criminosa.
- A colaboração premiada pode trazer como benefícios: o perdão judicial
(L12850, art. 4)96, redução de pena de até 2/3; substituição de pena e regime
94
§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se o
colaborador:
I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.
95
Transação penal e efeitos próprios de sentença penal condenatória - 4
As consequências jurídicas extrapenais, previstas no art. 91 do CP, são decorrentes de sentença
penal condenatória. Isso não ocorre, portanto, quando há transação penal, cuja sentença tem natureza
meramente homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante. As
consequências geradas pela transação penal são essencialmente aquelas estipuladas por modo consensual
no respectivo instrumento de acordo. Com base nesse entendimento, o Plenário proveu recurso
extraordinário em que se discutia a possibilidade de imposição de efeitos extrapenais acessórios de
sentença penal condenatória (homologatória) à transação penal prevista na Lei 9.099/1995.
96
Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3
(dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha
colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa
colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - aidentificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais
por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - arecuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa;
V - alocalização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a
natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da
colaboração.
§ 2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e
o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público,
poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda
que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28
do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). Fiscalização do
princípio da obrigatoriedade.
de cumprimento de pena mais favorável independente do atendimento das
condições objetivas. STF entende que, prestada a colaboração, e alcançados
os resultados almejados, o colaborador terá direito subjetivo às sanções
premiais ajustadas. HC 12748397. Matéria ainda controvertida.
§ 3o O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso
por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de
colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.
§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia
(exceção ao princípio da obrigatoriedade) se o colaborador:
I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.
§ 5o Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será
admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de
colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do
Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu
defensor.
§ 7o Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo, acompanhado das declarações do
colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar
sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o
colaborador, na presença de seu defensor.
§ 8o O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la
ao caso concreto.
§ 9o Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser
ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações.
§ 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias
produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor.
§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia.
§ 12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em
juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.
§ 13. Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou recursos de
gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior
fidelidade das informações.
§ 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao
direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
§ 15. Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá
estar assistido por defensor.
§ 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de
agente colaborador.
97
EMENTA Habeas corpus. Impetração contra ato de Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Conhecimento. Empate na votação. Prevalência da decisão mais favorável ao paciente (art. 146, parágrafo
único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Inteligência do art. 102, I, i, da Constituição
Federal. Mérito. Acordo de colaboração premiada. Homologação judicial (art. 4º, § 7º, da Lei nº
12.850/13). Competência do relator (art. 21, I e II, do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal).Decisão que, no exercício de atividade de delibação, se limita a aferir a regularidade, a
voluntariedade e a legalidade do acordo. Ausência de emissão de qualquer juízo de valor sobre as
declarações do colaborador. Negócio jurídico processual personalíssimo. Impugnação por coautores
ou partícipes do colaborador. Inadmissibilidade. Possibilidade de, em juízo, os partícipes ou os
coautores confrontarem as declarações do colaborador e de impugnarem, a qualquer tempo, medidas
restritivas de direitos fundamentais adotadas em seu desfavor. Personalidade do colaborador. Pretendida
valoração como requisito de validade do acordo de colaboração. Descabimento. Vetor a ser considerado
no estabelecimento das cláusulas do acordo de colaboração - notadamente na escolha da sanção premial a
que fará jus o colaborador -, bem como no momento da aplicação dessa sanção pelo juiz na sentença (art.
4º, § 11, da Lei nº 12.850/13). Descumprimento de anterior acordo de colaboração. Irrelevância.
Inadimplemento que se restringiu ao negócio jurídico pretérito, sem o condão de contaminar, a priori,
futuros acordos de mesma natureza. Confisco. Disposição, no acordo de colaboração, sobre os efeitos
extrapenais de natureza patrimonial da condenação. Admissibilidade. Interpretação do art. 26.1 da
- STF entende que a competência para homologação do acordo de delação
premiada é do relator do processo na Corte, que, segundo o regimento interno
(RISTF, art. 21, I e II)98, possui poderes instrutórios para ordenar a
realização de meios de prova, natureza jurídica do acordo de delação. Pet
707499. Acordo de delação é meio de produção de prova.
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo), e do
art. 37.2 da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção (Convenção de Mérida). Sanção premial.
Direito subjetivo do colaborador caso sua colaboração seja efetiva e produza os resultados almejados.
Incidência dos princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança. Precedente. Habeas corpus do
qual se conhece. Ordem denegada. 1. Diante do empate na votação quanto ao conhecimento de habeas
corpus impetrado para o Pleno contra ato de Ministro, prevalece a decisão mais favorável ao paciente, nos
termos do art. 146, parágrafo único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Conhecimento
do habeas corpus, nos termos do art. 102, I, “i”, da Constituição Federal. 2. Nos termos do art. 21, I e II,
do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, o relator tem poderes instrutórios para ordenar,
monocraticamente, a realização de quaisquer meios de obtenção de prova (v.g., busca e apreensão,
interceptação telefônica, afastamento de sigilo bancário e fiscal). 3. Considerando-se que o acordo de
colaboração premiada constitui meio de obtenção de prova (art. 3º da Lei nº 12.850/13), é
indubitável que o relator tem poderes para, monocraticamente, homologá-lo (art. 4º, § 7º, da Lei nº
12.850/13). 4. A colaboração premiada é um negócio jurídico processual, uma vez que, além de ser
qualificada expressamente pela lei como “meio de obtenção de prova”, seu objeto é a cooperação do
imputado para a investigação e para o processo criminal, atividade de natureza processual, ainda que se
agregue a esse negócio jurídico o efeito substancial (de direito material) concernente à sanção premial a
ser atribuída a essa colaboração. 5. A homologação judicial do acordo de colaboração, por consistir em
exercício de atividade de delibação, limita-se a aferir a regularidade, a voluntariedade e a legalidade
do acordo, não havendo qualquer juízo de valor a respeito das declarações do colaborador. 6. Por se
tratar de negócio jurídico personalíssimo, o acordo de colaboração premiada não pode ser
impugnado por coautores ou partícipes do colaborador na organização criminosa e nas infrações
penais por ela praticadas, ainda que venham a ser expressamente nominados no respectivo
instrumento no “relato da colaboração e seus possíveis resultados” (art. 6º, I, da Lei nº 12.850/13). 7.
De todo modo, nos procedimentos em que figurarem como imputados, os coautores ou partícipes
delatados - no exercício do contraditório - poderão confrontar, em juízo, as declarações do colaborador e
as provas por ele indicadas, bem como impugnar, a qualquer tempo, as medidas restritivas de direitos
fundamentais eventualmente adotadas em seu desfavor. 8. A personalidade do colaborador não constitui
requisito de validade do acordo de colaboração, mas sim vetor a ser considerado no estabelecimento de
suas cláusulas, notadamente na escolha da sanção premial a que fará jus o colaborador, bem como no
momento da aplicação dessa sanção pelo juiz na sentença (art. 4º, § 11, da Lei nº 12.850/13). 9. A
confiança no agente colaborador não constitui elemento de existência ou requisito de validade do acordo
de colaboração. 10. Havendo previsão em Convenções firmadas pelo Brasil para que sejam adotadas “as
medidas adequadas para encorajar” formas de colaboração premiada (art. 26.1 da Convenção de Palermo)
e para “mitigação da pena” (art. 37.2 da Convenção de Mérida), no sentido de abrandamento das
consequências do crime, o acordo de colaboração, ao estabelecer as sanções premiais a que fará jus o
colaborador, pode dispor sobre questões de caráter patrimonial, como o destino de bens adquiridos
com o produto da infração pelo agente colaborador. 11. Os princípios da segurança jurídica e da
proteção da confiança tornam indeclinável o dever estatal de honrar o compromisso assumido no
acordo de colaboração, concedendo a sanção premial estipulada, legítima contraprestação ao
adimplemento da obrigação por parte do colaborador. 12. Habeas corpus do qual se conhece. Ordem
denegada.
98
Regimento Interno do STF: “Art. 21. São atribuições do Relator: I – ordenar e dirigir o processo; II –
executar e fazer cumprir os seus despachos, suas decisões monocráticas, suas ordens e seus acórdãos
transitados em julgado, bem como determinar às autoridades judiciárias e administrativas
providências relativas ao andamento e à instrução dos processos de sua competência, facultada a
delegação de atribuições para a prática de atos processuais não decisórios a outros Tribunais e a juízos de
primeiro grau de jurisdição;”
99
O Plenário, por maioria, resolveu a questão de ordem no sentido de reafirmar — nos limites dos §§ 7º
e 11 do art. 4º (1) da Lei 12.850/2013 e incisos I e II do art. 21 (2) do Regimento Interno do STF (RISTF)
— a atribuição do relator para, monocraticamente, homologar acordos de colaboração premiada,
- A homologação do acordo limitar-se-á à verificação de sua regularidade,
legalidade e voluntariedade, sem qualquer incursão na veracidade do
conteúdo material da delação, que será verificada, posteriormente, pelo órgão
Colegiado, por ocasião do julgamento do processo, quando será verificado
então o cumprimento do acordo.
- Conquanto a L12850, art. 4, §8, afirme que o juiz poderá negar homologação
ao acordo “que não atenda aos requisitos legais” ou “adequá-lo ao caso
concreto”, o STF entende que o magistrado não deve interferir nos termos do
acordo de colaboração premiada, uma vez que se trata de negócio jurídico
processual e meio de obtenção de prova não submetido à reserva de
jurisdição, só cabendo interferência jurisdicional sobre os termos do acordo no
caso de manifesta lesão à ordem pública. STF, Pet 7074100.
- STF, Pet 7074101. O juízo que homologa a delação premiada não deverá
ser, necessariamente, competente para julgamento dos fatos delatados.
102
A homologação de acordo de colaboração premiada por juiz de primeiro grau de jurisdição, que
mencione autoridade com prerrogativa de foro no STJ, não traduz em usurpação de competência
desta Corte Superior.
A colaboração premiada é um instituto de cooperação processual, cuja natureza jurídica está relacionada à
comunicação da ocorrência de um crime ou à provocação da iniciativa do Ministério Público a esse
respeito. Por esse motivo, tem a característica de delatio criminis, de mero recurso à formação da
convicção do acusador, e não de elemento de prova. Essa característica restringe a possibilidade de
exame, na fase inquisitorial, de questionamentos sobre o conteúdo dos depoimentos prestados pelo
colaborador por parte do órgão jurisdicional. Assim, ao homologar o acordo de colaboração premiada,
realizando o juízo de delibação do art. 4º, § 7º, da Lei n. 12.850/2013, o juiz "se limita a aferir a
regularidade, a voluntariedade e a legalidade do acordo ", não existindo "emissão de qualquer juízo de
valor sobre as declarações do colaborador" (STF, HC 127.483, Tribunal Pleno, DJe de 4/2/2016). Sendo
a colaboração premiada uma forma de delatio criminis, ou seja, um meio de obtenção de elementos
de convicção, as informações prestadas pelo colaborador podem se referir até mesmo a crimes
diversos daqueles que dão causa ao acordo, configurando-se, nessa situação, a hipótese da
serendipidade ou descoberta fortuita de provas. De fato, o STF possui orientação no sentido de que
são válidos os elementos probatórios indicativos da participação de pessoas detentoras de prerrogativa de
foro colhidos fortuitamente no curso de medidas investigativas envolvendo indivíduos sem essa
prerrogativa. Outra consequência do encontro fortuito de provas é, portanto, a incidência da teoria
do juízo aparente, segundo a qual é legítima a obtenção de elementos relacionados a pessoa que
detenha foro por prerrogativa de função por juiz que até aquele momento era competente para o
processamento dos fatos. Aliás, a tese foi ratificada pela Suprema Corte, segundo a qual: "as provas
colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da autorização ou produção podem
ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a ser considerado incompetente, ante a aplicação no
processo investigativo da teoria do juízo aparente" (HC 106.152, Primeira Turma, Rel. Min. Rosa Weber,
DJe de 24/5/2016 e HC 128.102, Primeira Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 23/6/2016). Na
hipótese, como as investigações até então se referiam a pessoas sem prerrogativa de foro e a informação a
respeito do possível envolvimento de autoridade com prerrogativa de foro no STJ somente surgiu com a
formalização do acordo de colaboração premiada, o juízo de primeiro grau de jurisdição era competente
para sua homologação, não havendo, portanto, nulidade a ser declarada em relação ao ponto.
103
Colaboração premiada: prerrogativa de foro e competência
A 2ª Turma, por maioria, concedeu a ordem de “habeas corpus” para determinar o trancamento de
inquérito instaurado perante o STJ em desfavor de governador. A investigação foi instaurada para apurar
a suposta prática de crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral.
O procedimento investigatório foi inaugurado com base em depoimentos colhidos em sede de
colaboração premiada celebrada com o Ministério Público estadual e homologada pelo respectivo juízo.
A defesa sustentou que houve usurpação de competência e de jurisdição da Procuradoria-Geral da
República e do STJ, o que teria acarretado a nulidade das provas dele derivadas.
A Turma asseverou que, nos termos da lei, o acordo de colaboração premiada deve ser remetido ao juiz
para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade. Muito embora a
lei fale apenas em juiz, é possível que a homologação de delações seja da competência de tribunal.
O colaborador admite seus próprios delitos e delata outros crimes. Assim, quanto à prerrogativa de
função, será competente o juízo mais graduado, observadas as prerrogativas de função do delator e
dos delatados. Essa prática vem sendo observada no STF.
No caso, o investigado celebrou acordo de colaboração com o Ministério Público estadual, o qual foi
homologado pelo juiz. O acordo foi rescindido e outro foi firmado e homologado, com os mesmos
- Observe-se que esse julgado do STF ainda afirma que nesse caso haverá
exceção ao entendimento de ilegitimidade do delatado para impugnação de
acordo de delação premiada, considerado personalíssimo, podendo haver
impugnação pelo delatado no caso de homologação com violação a foro por
prerrogativa de função. Nesses casos, não haverá desconstituição do negócio
jurídico processual, mas sua ineficácia contra o delatado com foro por
prerrogativa.
- Lembre-se que a colaboração premiada é meio de obtenção de prova, e
não modalidade probatória em si. A colaboração tem natureza jurídica de
negócio jurídico processual, falando-se ainda em delatio criminis. STF,
sujeitos. O colaborador imputou delitos ao governador. Sustentou que um grupo de auditores da Receita
estadual cobrava de empresários vantagem indevida para deixar de apurar ou reduzir tributos. Durante o
período eleitoral de 2014, parte dos recursos teria sido repassada à campanha do paciente para o cargo de
governador. Como corroboração, o colaborador apresentou nota de compra de compensados, com
endereço de entrega na sede do comitê eleitoral da campanha do paciente. A despeito de terem sido
imputados delitos ao governador, a colaboração não foi realizada pela Procuradoria-Geral da República,
tampouco foi submetida à homologação pelo STJ.
Posteriormente, o STJ analisou a validade do acordo, em sede de reclamação. Reconheceu a usurpação da
própria competência, mas apenas após a homologação do acordo. Conforme a decisão, até os
depoimentos do colaborador, não havia elementos contra autoridades com prerrogativa de foro. Como os
elementos que atraíram a competência do STJ teriam surgido com o acordo, teria sido correto homologar
o acordo e, em seguida, remeter os autos ao STJ.
Essa interpretação, contudo, está em descompasso com o entendimento do STF, segundo o qual a
delação de autoridade com prerrogativa de foro atrai a competência do tribunal competente para a
respectiva homologação e, em consequência, do órgão do Ministério Público respectivo.
Após a instauração do inquérito, a defesa do paciente impugnou a utilização das declarações do
colaborador. O STJ decidiu, então, que o paciente não tinha legitimidade para impugnar o acordo.
O STF entende que o delatado não tem legitimidade para impugnar o acordo, por se tratar de negócio
jurídico personalíssimo. O contraditório em relação aos delatados seria estabelecido nas ações penais
instruídas com as provas produzidas pelo colaborador. A impugnação quanto à competência para
homologação do acordo, porém, diz respeito às disposições constitucionais quanto à prerrogativa de foro.
Assim, ainda que seja negada ao delatado a possibilidade de impugnar o acordo, esse entendimento não
se aplica em caso de homologação sem respeito à prerrogativa de foro. Portanto, o caso é de
reconhecimento da ineficácia, em relação ao governador, dos atos de colaboração premiada, decorrentes
de acordo de colaboração homologado em usurpação de competência do STJ. Por essa razão, as provas
devem ser excluídas do inquérito. Tento em vista que a instauração se deu com base exclusivamente nos
atos de colaboração, o inquérito deve ser trancado.
O Colegiado enfatizou, ainda, a necessidade de estrito cumprimento da lei quanto aos benefícios passíveis
de negociação e quanto à competência jurisdicional para dosar a sanção premial. O estabelecimento de
balizas legais para o acordo é uma opção do nosso sistema jurídico, para assegurar a isonomia e evitar a
corrupção dos imputados, mediante incentivos desmesurados à colaboração, e dos próprios agentes
públicos, aos quais se daria um poder sem limite sobre a vida dos imputados. As sanções premiais
previstas na lei para acordos fixados até a sentença são o perdão judicial, a redução da pena privativa de
liberdade e sua substituição por restritiva de direito. Além disso, a lei prevê que, mesmo que não
acordado, o perdão pode ser requerido ao juiz, considerando a relevância da colaboração prestada. O
perdão pode ser instrumentalizado por dispensa de ação penal, se o colaborador não for o líder da
organização criminosa e for o primeiro a prestar a efetiva colaboração. Na colaboração posterior à
sentença, a lei prevê a redução da pena até a metade e a relevação de requisitos objetivos para a
progressão do regime prisional.
De toda forma, compete ao STJ ratificar ou não a homologação dos acordos, avaliando a validade de suas
cláusulas. Eventual juízo sobre a validade dos acordos deverá ser baseado na decisão do STJ.
Vencido, em parte, o ministro Edson Fachin, que não determinou o trancamento do inquérito, por
considerar competir ao STJ a deliberação a respeito, uma vez avaliado o acordo por aquele tribunal.
HC 151605/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 20.3.2018. (HC-151605)
HC 127483104. Distinção entre meio de obtenção de prova e meio de prova
em si.
- STF, Inq 4483105. A anulação ou descumprimento do acordo de colaboração
premiada não enseja nulidade das provas ali produzidas.
- Parcela da doutrina diferencia os termos delação premiada e colaboração
premiada, esta empregada na L12850. Para este entendimento a nomenclatura
"colaboração premiada" é mais ampla, devendo ser considerada como um
gênero, do qual uma das suas espécies é a delação premiada. A delação
premiada ocorre quando o investigado ou acusado colabora com as
104
Cabimento de HC em face de decisão de Ministro do STF e colaboração premiada - 2
No mérito, o Plenário considerou que a colaboração premiada seria meio de obtenção de prova,
destinado à aquisição de elementos dotados de capacidade probatória. Não constituiria meio de
prova propriamente dito. Outrossim, o acordo de colaboração não se confundiria com os depoimentos
prestados pelo agente colaborador. Estes seriam, efetivamente, meio de prova, que somente se mostraria
hábil à formação do convencimento judicial se viesse a ser corroborado por outros meios idôneos de
prova. Por essa razão, a Lei 12.850/2013 dispõe que nenhuma sentença condenatória será proferida com
fundamento exclusivo nas declarações do agente colaborador. Assinalou que a colaboração premiada
seria negócio jurídico processual, o qual, judicialmente homologado, confere ao colaborador o direito
de: a) usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica; b) ter nome, qualificação,
imagem e demais informações pessoais preservados; c) ser conduzido, em juízo, separadamente dos
demais coautores e partícipes; e d) participar das audiências sem contato visual com outros acusados.
Além disso, deverá ser feito por escrito e conter: a) o relato da colaboração e seus possíveis resultados; b)
as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia; c) a declaração de aceitação do
colaborador e de seu defensor; e d) as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado
de polícia, do colaborador e de seu defensor. Por sua vez, esse acordo somente será válido se: a) a
declaração de vontade do colaborador for resultante de um processo volitivo, querida com plena
consciência da realidade, escolhida com liberdade e deliberada sem má-fé; e b) o seu objeto for lícito,
possível, determinado ou determinável. Destacou que a “liberdade” de que se trata seria psíquica, e não de
locomoção. Assim, não haveria óbice a que o colaborador estivesse custodiado, desde que presente a
voluntariedade da colaboração. Ademais, no que se refere à eficácia do acordo, ela somente ocorreria
se o ato fosse submetido à homologação judicial. Esta limitar-se-ia a se pronunciar sobre a
regularidade, legalidade e voluntariedade do acordo. Não seria emitido qualquer juízo de valor a
respeito das declarações eventualmente já prestadas pelo colaborador à autoridade policial ou ao
Ministério Público, tampouco seria conferido o signo da idoneidade a depoimentos posteriores. Em
outras palavras, homologar o acordo não implicaria dizer que o juiz admitira como verídicas ou
idôneas as informações eventualmente já prestadas pelo colaborador e tendentes à identificação de
coautores ou partícipes da organização criminosa e das infrações por ela praticadas ou à revelação
da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa.Por fim, a aplicação da
sanção premial prevista no acordo dependeria do efetivo cumprimento, pelo colaborador, das obrigações
por ele assumidas, com a produção de um ou mais dos resultados legais (Lei 12.850/2013, art. 4º, I a V).
Caso contrário, o acordo estaria inadimplido, e não se aplicaria a sanção premial respectiva.
HC 127483/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 26 e 27.8.2015. (HC-127483)
105
Art. 86 da CF: apreciação das teses da defesa e necessidade de aguardar juízo de admissibilidade da
Câmara dos Deputados
O Plenário, por maioria, resolveu questão de ordem — em inquérito que apura supostos delitos de
obstrução de justiça e organização criminosa praticados pelo presidente da República — no sentido de
que o juízo político de admissibilidade exercido pela Câmara dos Deputados [CF, art. 86, “caput” (1)]
precede a análise jurídica pelo STF para conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva
suscitada pelo denunciado.
A Corte decidiu, ainda, que a possibilidade de rescisão ou de revisão, total ou parcial, de acordo de
colaboração premiada, devidamente reconhecido pelo Poder Judiciário, em decorrência de
descumprimento de deveres assumidos pelo colaborador, não propicia conhecer e julgar alegação de
imprestabilidade das provas, porque a rescisão ou revisão tem efeitos somente entre as partes, não
atingindo a esfera jurídica de terceiros. Distinção entre o acordo de colaboração e as declarações
prestadas pelo colaborador.
autoridades delatando os comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas
que também praticaram as infrações penais. Desse modo, como já dito, a
delação é uma forma de exercer a colaboração premiada. Existem,
contudo, outras espécies. Exemplo de colaboração premiada que não é
delação premiada seria o caso do autor que confessa a prática do crime e não
delata nenhum comparsa, fornecendo, entretanto, todas as informações
necessárias para que as autoridades recuperem o dinheiro desviado com o
esquema criminoso e que se encontrava em contas bancárias no exterior.
Assim, toda delação premiada seria uma forma de colaboração premiada, mas
nem sempre a colaboração premiada seria feita por meio de uma delação
premiada, que pressupõe acusação de comparsas.
- A despeito da literalidade da L12850, adoutrina majoritária sustenta que a
legitimidade para celebrar o acordo de colaboração premiada é exclusiva
do Ministério Público. O Delegado de Polícia até poderia sugerir o acordo,
mas quem decide sobre a sua celebração e condições seria o membro do
MP. Apresentam-se como argumentos a ausência de capacidade postulatória
da autoridade policial, que seria necessária para o pedido de homologação do
acordo, e a titularidade, constitucionalmente garantida, da ação penal pelo
Ministério Público.
- STF, ADI 5508106. Corte afirma ser constitucional a previsão, contida na
L12850, de legitimidade do Delegado de Polícia para negociação de acordo de
106
DIREITO PENAL – APLICAÇÃO DA PENA
Acordo de colaboração premiada e delegado de polícia
O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta para assentar a
constitucionalidade dos §§ 2º e 6º do art. 4º (1) da Lei 12.850/2013, a qual define organização criminosa e
dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o
procedimento criminal.
A ação impugnava as expressões “e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a
manifestação do Ministério Público” e “entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a
manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso”, contidas nos referidos dispositivos, que
conferem legitimidade ao delegado de polícia para conduzir e firmar acordos de colaboração premiada
(Informativo 888).
Prevaleceu o voto do ministro Marco Aurélio (relator), no sentido de que o delegado de polícia pode
formalizar acordos de colaboração premiada, na fase de inquérito policial, respeitadas as
prerrogativas do Ministério Público, o qual deverá se manifestar, sem caráter vinculante,
previamente à decisão judicial.Manifestação do MP sem caráter vinculante.
No que se refere ao § 2º do art. 4º da Lei 12.850/2013, o relator esclareceu que o texto confere ao
delegado de polícia, no decorrer das investigações, exclusivamente no curso do inquérito policial, a
faculdade de representar ao juiz, ouvido o Ministério Público, pela concessão de perdão judicial ao
colaborador, ainda que esse benefício não haja sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que
couber, o art. 28 (2) do Código de Processo Penal (CPP). O perdão judicial é instituto que possibilita ao
juiz deixar de impor sanção diante da existência de determinadas circunstâncias expressamente previstas
em lei. Causa extintiva de punibilidade.
Considerou que o dispositivo, portanto, traz nova causa de perdão judicial, admitido a depender da
efetividade da colaboração. Não se trata de questão afeta ao modelo acusatório, deixando de caracterizar
ofensa ao art. 129, I (3), da Constituição Federal (CF), relacionada, apenas, ao direito de punir do
Estado, que se manifesta por intermédio do Poder Judiciário.
A representação pelo perdão judicial, proposta pelo delegado de polícia, ante colaboração premiada,
ouvido o Ministério Público, não é causa impeditiva do oferecimento da denúncia pelo órgão acusador.
Uma vez comprovada a eficácia do acordo, será extinta pelo juiz, a punibilidade do delator.
Quanto ao § 6º do art. 4º da mesma lei, asseverou que o ato normativo em nenhum ponto afasta a
participação do Ministério Público em acordo de colaboração premiada, ainda que ocorrido entre o
delegado de polícia, o investigado e o defensor. Não há, portanto, afronta à titularidade da ação penal. Ao
contrário, a legitimidade da autoridade policial para realizar as tratativas de colaboração premiada
desburocratiza o instituto, sem importar ofensa a regras atinentes ao Estado Democrático de Direito, uma
vez submetido o acordo à apreciação do Ministério Público e à homologação pelo Judiciário.
Embora o Ministério Público seja o titular da ação penal de iniciativa pública, não o é do direito de
punir. A delação premiada não retira do órgão a exclusividade da ação penal.
A norma fixa as balizas a serem observadas na realização do acordo. Estas, porque decorrem de lei,
vinculam tanto a polícia quanto o Ministério Público, tendo em vista que a nenhum outro órgão senão ao
Judiciário é conferido o direito de punir.
O acordo originado da delação não fixa pena ou regime de cumprimento da sanção. Ao Poder Judiciário,
com exclusividade, compete, nos termos do § 1º do art. 4º (4) da Lei 12.850/2013, para fins de concessão
de vantagens, levar em conta a personalidade do delator, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a
repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.
Os benefícios que tenham sido ajustados não obrigam o órgão julgador, devendo ser reconhecida,
na cláusula que os retrata, inspiração, presente a eficácia da delação no esclarecimento da prática
delituosa, para o juiz atuar, mantendo a higidez desse instituto que, na quadra atual, tem-se
mostrado importantíssimo. Longe fica o julgador de estar atrelado à dicção do Ministério Público, como
se concentrasse a arte de proceder na persecução criminal, na titularidade da ação penal e, também, o
julgamento, embora parte nessa mesma ação penal.
A norma legal prevê que, na prolação da sentença, serão estipulados os benefícios. Não se confunde essa
definição, que só cabe a órgão julgador, com a propositura ou não da ação penal. No campo, é soberano o
Ministério Público. Mas, quanto ao julgamento e à observância do que se contém na legislação em termos
de vantagens, surge o primado do Judiciário. Para redução da pena, adoção de regime de cumprimento
menos gravoso ou concessão do perdão judicial, há de ter-se instaurado o processo, garantindo-se a ampla
defesa e o contraditório. Na sentença o juiz, ao verificar a eficácia da colaboração, fixa, em gradação
adequada, os benefícios a que tem direito o delator.
Concluiu que os textos impugnados versam regras claras sobre a legitimidade do delegado de polícia na
realização de acordos de colaboração premiada, estabelecendo a fase de investigações, no curso do
inquérito policial, como sendo o momento em que é possível a utilização do instrumento pela autoridade
policial.
Há previsão específica da manifestação do Ministério Público em todos os acordos entabulados no âmbito
da polícia judiciária, garantindo-se, com isso, o devido controle externo da atividade policial já ocorrida e,
se for o caso, adoção de providências e objeções.
As normas legais encontram-se em conformidade com as disposições constitucionais alusivas às polícias
judiciárias e, especialmente, às atribuições conferidas aos delegados de polícia. Interpretação que vise
concentrar poder no órgão acusador desvirtua a própria razão de ser da Lei 12.850/2013.
A supremacia do interesse público conduz a que o debate constitucional não seja pautado por interesses
corporativos, mas por argumentos normativos acerca do desempenho das instituições no combate à
criminalidade. A atuação conjunta, a cooperação entre órgãos de investigação e de persecução penal, é de
relevância maior.
Vencidos, em parte, os ministros Edson Fachin, Rosa Weber, Luiz Fux e Dias Toffoli.
O ministro Edson Fachin julgou parcialmente procedente a ação, para, sem redução de texto, excluir a
interpretação aos §§ 2º e 6º do art. 4º da Lei 12.850/2013 que contemple poderes aos delegados de polícia
para celebrar, sem a manifestação do Ministério Público, acordo de colaboração premiada em que se
estabeleça transação envolvendo o poder punitivo estatal. E, por arrastamento, declarar como excluído da
expressão “ou do delegado de polícia”, constante do inciso IV do art. 6º (5) da referida lei, o sentido de
firmar, sem manifestação do Ministério Público, acordo de colaboração premiada.
Os ministros Rosa Weber e Luiz Fux julgaram improcedente o pedido principal, quanto à declaração da
inconstitucionalidade das expressões impugnadas nos §§ 2º e 6º do art. 4º da Lei 12.850/2013, e julgaram
parcialmente procedente o pedido sucessivo para dar interpretação conforme no sentido de que
manifestação positiva, ou seja, a anuência do Ministério Público aos termos de colaboração premiada
celebrado pelo delegado de Polícia é uma condição de procedibilidade da própria colaboração, ou seja, o
juiz sequer dela conhece se não houver a anuência do Ministério Público.
O ministro Dias Toffoli julgou parcialmente procedente a ação para: 1) dar interpretação conforme ao art.
4º, § 2º, da Lei 12.850/2013, para assentar a legitimidade da autoridade policial para, diante da relevância
da colaboração prestada, representar nos autos do inquérito policial ao juiz, para a concessão de perdão
judicial ao colaborador, ouvido, previamente, o Ministério Público; 2) dar interpretação conforme ao art.
4º, § 6º, da Lei 12.850/2013, para assentar a legitimidade da autoridade policial para firmar acordos de
colaboração premiada, desde de que, nas condições de sua proposta — art. 6º, II (6), da Lei 12.850/2013
—, somente figurem, de modo genérico, as sanções premiais expressamente previstas no art. 4º, “caput” e
seu § 5º (7), da Lei 12.850/2013, a que poderá fazer jus o colaborador, a critério do juiz, em razão da
colaboração premiada com autores de crimes, inclusive requerendo a
concessão de perdão judicial. Corte afirma que a matéria não se relaciona ao
exercício da ação penal, de titularidade do Ministério Público, mas sim ao jus
puniendi estatal, que não é titularidade do Ministério Público. Afirma-se, ainda,
que o Judiciário não está vinculado ao que acordado entre as partes da
colaboração, tendo discricionariedade para avaliar a natureza e
intensidade dos benefícios a serem concedidos na sentença.
- Corte ressalta que deve haver manifestação do Ministério Público sobre a
proposta de acordo de colaboração elaborada pelo delegado de polícia, mas
essa manifestação não é vinculante.
- STF, Inq 4435107. O sigilo sobre o conteúdo de colaboração premiada
deve perdurar, no máximo, até o recebimento da denúncia. L12850, art. 7,
§3108.
- Possível mitigação do princípio da obrigatoriedade a partir das Regras de
Tóquio – Regras Mínimas Padrão das Nações Unidas Para a Elaboração de
Medidas Não Privativas de Liberdade, que afirmam que “Sempre que
efetividade de sua cooperação, exigindo-se, antes de sua homologação, a manifestação, sem caráter
vinculante, do Ministério Público. Manifestação do MP não é vinculante.
ADI 5508/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 20.6.2018. (ADI-5508)
107
Delação premiada e sigilo
O sigilo sobre o conteúdo de colaboração premiada deve perdurar, no máximo, até o recebimento da
denúncia. Sigilo somente até o recebimento da denúncia.
Essa é a orientação, da Primeira Turma, que negou provimento a agravo regimental.
A Turma afirmou que, no âmbito da Administração Pública, a publicidade é a regra e o sigilo a
exceção (CF, art. 5º, LX) (1).
O sigilo do que ajustado é elemento essencial para a efetividade da colaboração firmada, como forma de
garantir o êxito das investigações (Lei 12.850/2013, art. 7º, § 2º) (2), e para assegurar a proteção da
pessoa do colaborador e das pessoas próximas (Lei 12.850/2013, art. 5º, II) (3).
A Lei, visando a consecução desses objetivos, estabeleceu diversas cautelas a serem adotadas. O art. 7º
dispõe que o pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas
informações que não revelem a identificação do colaborador e do objeto.
O sigilo sobre o conteúdo da colaboração premiada, consoante versa o § 3º do citado artigo, deve
permanecer, como regra, até o recebimento da denúncia.
O preceito trata da cessação do sigilo relativamente ao acordo, além de assegurar o direito de o
investigado conhecer aqueles que o subscreveram a denúncia, de modo a viabilizar a ampla defesa e
o contraditório. A delação premiada objetiva, com transparência, a elucidação de fato criminoso.
O parágrafo citado não encerra observância absoluta, mas termo final máximo. Deve ser mantido até
esse ponto apenas se houver necessidade concreta.
Uma vez realizadas as diligências cautelares, cuja indispensabilidade tiver sido demonstrada a partir das
declarações do colaborador, ou inexistentes estas, não subsiste razão para o sigilo.
Nada impede que o sigilo do acordo seja afastado em momento anterior ao recebimento da denúncia e,
assim, possibilitar o conhecimento daquele que subscrevera o acordo, bem como o conteúdo do que
declarado. Deste modo, tem-se a otimização dos princípios da ampla defesa e do contraditório, em favor
do investigado ou dos atingidos pela colaboração premiada. Não há direito subjetivo do colaborador a
que se mantenha, indefinidamente, a restrição de acesso ao conteúdo do acordo, ao argumento de
que o sigilo teria sido elemento constitutivo da avença.
A Turma ressaltou que o art. 19 (4) da referida norma, ao prever como crime a conduta de imputar
falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser
inocente, ou de revelar informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas — a
chamada delação caluniosa —, reforça a necessidade de conhecimento do que veiculado no acordo.
108
§ 3o O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a denúncia,
observado o disposto no art. 5o.Recebimento da denúncia como termo final possível do sigilo do acordo
de colaboração.
adequado e compatível com o sistema jurídico, a polícia, o Ministério Público
ou outros serviços encarregados da justiça criminal podem retirar os
procedimentos contra o infrator se considerarem que não é necessário recorrer
a um processo judicial com vistas à proteção da sociedade, à prevenção do
crime ou à promoção do respeito pela lei ou pelos direitos das vítimas. Para a
decisão sobre a adequação da retirada ou determinação dos procedimentos
deve-se desenvolver um conjunto de critérios estabelecidos dentro de cada
sistema legal. Para infrações menores, o promotor pode impor medidas não
privativas de liberdade, se apropriado” – Regra 5.1. Justiça restaurativa,
funcionalismo, responsabilidade, reprovabilidade somado à necessidade de
pena.
2.3.1.2. Indisponibilidade.
- Iniciado o processo penal, não poderá o Ministério Público desistir ou
dispor da ação. CPP, art. 42109.
- CPP, art. 385110. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença
condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição,
bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.Controle judicial do princípio da indisponibilidade, ainda que o
pedido de absolvição não seja, propriamente, uma disposição da ação penal
pública.
- Parcela da doutrina entende que o CPP, art. 385 violaria o princípio
acusatório, indicando a incidência do CPP, art. 28 nesses casos. Burocracia
desnecessária, uma vez que a congruência é respeitada, o juiz julgará de
acordo com o pedido feito inicialmente, a despeito da posição adotada pelo
Ministério Público ulteriormente no processo.
- O princípio da indisponibilidade encontra exceção na suspensão condicional
do processo (L9099, art. 89)111. Cumprimento da obrigatoriedade, com
109
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.Indisponibilidade.
110
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma
tenha sido alegada.
111
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não
por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por
dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado
por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena
(art. 77 do Código Penal). Desnecessidade de ausência de violência ou grave ameaça.
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia
(indisponibilidade), poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as
seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentardeterminados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas
atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por
outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por
contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
oferecimento de denúncia, mas com disposição do processo em seu curso.
Oferecida a denúncia, o Ministério Público encaminhará a proposta de
suspensão condicional do processo, notificando o Juiz ao réu para que se
manifeste. Aceita esta, o Juiz homologará a aceitação, receberá a denúncia,
e suspenderá o processo. Na suspensão condicional do processo há
recebimento da denúncia112.
- STJ, enunciado 337 da Súmula. “É cabível a suspensão condicional do
processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da
pretensão punitiva.”.O reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva
retroativa ou intercorrente(incidentes quando há sentença condenatória e pena
concreta imposta ao réu) para um dos crimes praticados em concurso não
torna admissível, para o outro, a suspensão condicional do processo, uma vez
que nesse caso não se terá procedência parcial da pretensão punitiva.
- No caso de prescrição da pretensão punitiva em um dos crimes
praticados em concurso, com trânsito em julgado para a acusação, restando
somente crime com pena mínima cominada igual ou inferior a 01 (um) ano,
será aplicável o enunciado 337 da Súmula do STJ, considerando se tratar de
procedência parcial da pretensão punitiva, baixando-se os autos ao primeiro
grau para que o membro do Ministério Público se manifeste sobre a proposta
de suspensão condicional do processo. STJ afirma que caso a procedência
parcial da pretensão punitiva se verifique em grau de recurso, haverá
suspensão da eficácia da sentença condenatória, com aplicação da
suspensão condicional do processo.
- STJ, REsp 1500029113. Após a sentença penal que condenou o agente pela
prática de dois crimes em concurso formal, o reconhecimento da prescrição da
pretensão punitiva em relação a apenas um dos crimes em razão da pena
concreta (art. 109 do CP) não autoriza a suspensão condicional do
processo em relação ao crime remanescente. Não se aplica, no caso, o
enunciado 337 da Súmula do STJ, uma vez que não se trata de procedência
parcial da pretensão punitiva.Somente procedência parcial admite a
suspensão condicional do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus
ulteriores termos.
112
Perceba-se que enquanto a transação penal é uma exceção ao princípio da obrigatoriedade, uma vez
que não há oferecimento de denúncia, a suspensão condicional do processo representa exceção ao
princípio da indisponibilidade.
113
DIREITO PROCESSUAL PENAL. HIPÓTESE DE INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 337
DO STJ.
Após a sentença penal que condenou o agente pela prática de dois crimes em concurso formal, o
reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva em relação a apenas um dos crimes em razão da pena
concreta (art. 109 do CP) não autoriza a suspensão condicional do processo em relação ao crime
remanescente. O comando da Súmula n. 337 do STJ tem a seguinte redação: "É cabível a suspensão
condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão
punitiva." Na hipótese em que a declaração de extinção de punibilidade se dá pela pena concreta,
verifica-se a existência de uma prévia condenação. Realmente, somente a partir do quantum concreto,
observa-se qual seria o prazo prescricional, dentre aqueles inscritos no art. 109 do CP. Ora, se a denúncia
teve de ser julgada procedente primeiro, para, somente após, ser reconhecida a prescrição, em razão da
pena concreta, não houve procedência parcial da pretensão punitiva - a qual, de fato, foi integral - não
sendo caso de incidência da Súmula n. 337 do STJ. Precedente citado do STF: RHC 116.399-BA,
Primeira Turma, DJe 15/8/2013. REsp 1.500.029-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
27/9/2016, DJe 13/10/2016.
- STF, enunciado 723 da Súmula. “Não se admite a suspensão condicional do
processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais
grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.”.
- STJ, enunciado 243 da Súmula. “O benefício da suspensão do processo não
é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material,
concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada,
seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de
um (1) ano.”.
- STF, enunciado 696 da Súmula. “Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o
Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o CPP, art. 28.”. Note-se que o
Supremo entende não ser cabível habeas corpus nesse caso, uma vez que a
proposta de suspensão condicional do processo não seria direito subjetivo
do réu. Discricionariedade regrada, prerrogativa do Ministério Público.
Juiz não pode oferecer proposta de suspensão condicional do processo.
- STJ, por sua vez, dissente do Supremo Tribunal Federal, afirmando que o
magistrado pode oferecer, ele mesmo e diretamente, proposta de suspensão
condicional do processo, uma vez que se trataria de direito subjetivo do réu.
HC 131108114. Observe-se que no caso concreto a proposta não foi oferecida
de ofício, havendo pedido expresso da defesa para propositura da
suspensão condicional do processo pelo Juiz. Pedido da defesa.
- Caso o Ministério Público não ofereça alegações finais deverá o Magistrado
aplicar o CPP, art. 28. Indisponibilidade.
- STJ, HC 125850115. Caso haja cominação alternativa de pena de multa ao
crime, será sempre cabível a suspensão condicional do processo,
114
DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO.
OFERECIMENTO DO BENEFÍCIO AO ACUSADO POR PARTE DO JUÍZO COMPETENTE EM
AÇÃO PENAL PÚBLICA.
O juízo competente deverá, no âmbito de ação penal pública, oferecer o benefício da suspensão
condicional do processo ao acusado caso constate, mediante provocação da parte interessada, não
só a insubsistência dos fundamentos utilizados pelo Ministério Público para negar o benefício, mas
o preenchimento dos requisitos especiais previstos no art. 89 da Lei n. 9.099/1995. A suspensão
condicional do processo representa um direito subjetivo do acusado na hipótese em que atendidos os
requisitos previstos no art. 89 da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Por essa razão, os
indispensáveis fundamentos da recusa da proposta pelo Ministério Público podem e devem ser
submetidos ao juízo de legalidade por parte do Poder Judiciário. Além disso, diante de uma negativa de
proposta infundada por parte do órgão ministerial, o Poder Judiciário estaria sendo compelido a
prosseguir com uma persecução penal desnecessária, na medida em que a suspensão condicional do
processo representa uma alternativa à persecução penal. Por efeito, tendo em vista o interesse público
do instituto, a proposta de suspensão condicional do processo não pode ficar ao alvedrio do MP. Ademais,
conforme se depreende da redação do art. 89 da Lei n. 9.099/1995, além dos requisitos objetivos ali
previstos para a suspensão condicional do processo, exige-se, também, a observância dos requisitos
subjetivos elencados no art. 77, II, do CP. Assim, pode-se imaginar, por exemplo, situação em que o
Ministério Público negue a benesse ao acusado por consideração a elemento subjetivo elencado no art. 77,
II, do CP, mas, ao final da instrução criminal, o magistrado sentenciante não encontre fundamentos
idôneos para valorar negativamente os requisitos subjetivos previstos no art. 59 do CP (alguns comuns
aos elencados no art. 77, II, do CP), fixando, assim, a pena-base no mínimo legal. Daí a importância de
que os fundamentos utilizados pelo órgão ministerial para negar o benefício sejam submetidos, mediante
provocação da parte interessada, ao juízo de legalidade do Poder Judiciário. HC 131.108-RJ, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 18/12/2012.
115
COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL. SURSIS PROCESSUAL. MULTA.
independentemente da pena mínima privativa de liberdade cominada
alternativamente à multa.
- STJ, tese. “O prazo de 5 (cinco) anos para a concessão de nova transação
penal, previsto no art. 76, § 2º, inciso II, da L9099, aplica-se, por analogia, à
suspensão condicional do processo.”. Prazo de 5 (cinco) anos para nova
suspensão condicional do processo.
- STJ, tese. “Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da
faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obrigações
equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a
prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que, para
os fins do sursis processual, se apresentam tão somente como condições
para sua incidência. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 –
TEMA 930)”.
- STJ, REsp 1123463116. É possível que o magistrado realize, no bojo do ato
concessivo de suspensão condicional do processo, com imposição de suas
Conforme a remansosa jurisprudência deste Superior Tribunal, o critério do legislador para definir a
competência dos juizados especiais criminais é o quantum máximo da pena privativa de liberdade
abstratamente cominada. No caso, a pena máxima abstrata prevista para o crime descrito no art. 7º, II, da
Lei n. 8.137/1990 é de cinco anos, logo não há constrangimento ilegal na conduta do juiz da vara
criminal de declarar-se competente para o feito. O referido artigo comina sanção mínima superior a um
ano de pena privativa de liberdade ou, alternativamente, multa. Assim, se a Lei n. 9.099/1995 autoriza o
sursis processual nos casos em que haja cominação de pena privativa de liberdade, mesmo que
restrinja sua aplicação aos crimes cuja pena mínima seja igual ou inferior a um ano, é de rigor
admitir tal benefício quando o legislador preveja ao delito pena alternativa de multa; pois, nesses
casos, independente da pena privativa de liberdade abstratamente prevista, não se trata de delito de alta
reprovabilidade, não sendo aqueles que, necessariamente, devam ser punidos com pena de prisão.
Destarte, como salientado pelo impetrante, a pena de multa é menos gravosa do que qualquer pena
privativa de liberdade. Logo, o oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo do
paciente, além de ser plenamente cabível, é providência consentânea com os institutos trazidos pela Lei n.
9.099/1995. Precedentes citados: HC 34.422-BA, DJ 10/12/2007; HC 109.980-SP, DJe 2/3/2009; RHC
27.068-SP, DJe 27/9/2010, e REsp 968.766-SC, DJe 28/9/2009. HC 125.850-SP, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 31/5/2011.
116
O ato de composição entre denunciado e vítima visando à reparação civil do dano, embutido na decisão
concessiva de suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95), é título judicial apto a
lastrear eventual execução.
Trata-se de ação em que se postula o cumprimento de sentença no ponto pertinente ao acordo realizado
entre acusado e vítima visando à reparação civil do dano, firmado como uma das condições para a
concessão da suspensão condicional do processo (art. 89, § 1º, I da Lei n. 9.099/95). É certo que, ao
contrário da transação penal do art. 72 da Lei dos Juizados Especiais, a qual pressupõe imediata aplicação
da pena, a suspensão do processo do art. 89 não faz coisa julgada para efeitos penais, podendo ser
revogada se o beneficiário vier ser processado por outro crime, contravenção, não reparar o dano
sem motivo justificado ou não cumprir as condições impostas. Todavia, a decisão concessiva da
suspensão condicional do processo não impede que, no seio do mesmo ato judicial, esteja também
embutido ato de composição entre denunciado e a vítima, apto a lastrear eventual execução de título
judicial. Noutros termos, não há como se confundir o deferimento da suspensão do processo, que não faz
coisa julgada para extinguir a pretensão punitiva do Estado, com a decisão que homologa o acordo
entabulado em juízo entre as partes, passível de execução por constituir-se título executivo judicial, ainda
que elaboradas em audiência única, tratando-se de verdadeira decisão complexa. A compreensão de que
tal ato não constituiria título cível em favor da vítima, e de que caberia a esta propor ação de
conhecimento contra o ofensor, em caso de descumprimento da obrigação, vai de encontro aos princípios
da confiança, boa fé e da segurança, uma vez que ela teria sido induzida a crer, por ato praticado em
juízo, que tivera seus direitos resguardados. Por outro lado, o reconhecimento do acordo celebrado entre o
autor do fato e a vítima, na audiência em que deferida a suspensão condicional do processo, como título
executivo atende ao intuito da Lei dos Juizados Especiais de primar pela celeridade e concentração dos
respectivas condicionantes, composição civil entre autor e vítima, sem efeito
extintivo da punibilidade, e com eficácia de título executivo judicial. Atos
distintos, praticados no mesmo momento, suspensão condicional do processo
e homologação de transação de interesses cíveis.
2.3.1.3. Indivisibilidade.
- Parte da doutrina entende que a ação penal pública é indivisível, sendo o
Ministério Público obrigado a oferecer denúncia contra todos os supostos
autores.
- Prevalece, entretanto, nos Tribunais Superiores, que a ação penal pública
não se submete ao princípio da indivisibilidade, afirmando-se sua
divisibilidade, podendo ser apresentada denúncia contra alguns réus e não
contra outros.
- Indivisibilidade, segundo STJ e STF, é característica da ação penal privada.
2.4. Ação Penal Pública Condicionada.
- Ação penal pública pode ser condicionada tanto à representação da vítima
ou de quem tiver qualidade para representa-la como à requisição do Ministro
da Justiça. Condição da ação.
- CPP, art. 24117. Representação do ofendido ou de seu representante legal,
e requisição do Ministro da Justiça.
- Requisição do Ministro da Justiça tem cunho político, decisão política de
provocar o Ministério Público para a persecução penal.
- O titular da ação penal pública condicionada é o Ministério Público, que terá
sua atuação condicionada à representação ou requisição.Condição de
procedibilidade, especial da ação.
- A autoridade policial também se submete à necessidade de
representação, requisição, ou requerimento do ofendido, para instauração
do Inquérito Policial. CPP, art. 5, §4118.
- CPP, art. 39119. A representação poderá ser feita pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais, perante a autoridade policial, o Juiz ou o
membro do Ministério Público, por declaração escrita ou oral. A previsão de
representação feita perante o Juiz não viola o sistema acusatório, devendo este
remeter as informações ao Ministério Público, para análise e providências.
CPP, art. 40120.
atos processuais, assim como pela simplificação dos procedimentos, a fim de incentivar as partes à
realização de autocomposição.
117
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo. Requisição do Ministro da Justiça.
§ 1o No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de
representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
118
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser
iniciado.
119
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com
poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público,
ou à autoridade policial.
120
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a
existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos
necessários ao oferecimento da denúncia.Sistema acusatório.
- Vontade da vítima de representar deve ser inequívoca.
- Assim, os destinatários da representação serão a autoridade policial, o
Ministério Público ou o Juiz. Polícia Militar não está entre os legítimos
recipientes de manifestação de representação.
- Não há qualquer rigor formal com a representação, qualquer manifestação
de vontade no sentido do interesse do legitimado na persecução penal é
suficiente para caracterizar a representação e autorizar a investigação ou a
persecução penal. STJ, AgRgno AREsp 587867121.
- Não se admite representação apócrifa, logicamente. A representação deve
trazer, ainda, umadescrição sumária dos fatos.
- CPP, art. 39, §1122. Representação oral ou por escrito sem assinatura
devidamente autenticada será reduzida a termo, perante o Juiz, a Autoridade
Policial ou o membro do Ministério Público.
- CPP, art. 38123. Representação se sujeita a prazo decadencial de 06 (seis)
meses, contados a partir do momento em que o ofendido tomou ciência
de quem é o autor do crime. A decadência, nesse caso, é causa de extinção
de punibilidade do autor (CP, art. 107, IV).
121
PENAL E PROCESSUAL. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA.
ART. 41 DO CPP. REPRESENTAÇÃO. DESNECESSIDADE DE RIGOR FORMAL.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
SÚMULA 7 DO STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO.
Somente em hipóteses excepcionais, o Superior Tribunal de Justiça tem admitido a utilização do recurso
especial para o reexame da individualização da sanção penal, notadamente quando é flagrante a ofensa à
lei federal, situação que não ocorre na espécie, tendo em vista que o grau de reprovabilidade da conduta
do réu excedeu o ordinário, não só pelo resultado, mas pela inobservância das regras de trânsito. Há o
preenchimento satisfatório dos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal quando a peça
acusatória expõe, ainda que de forma concisa, as circunstâncias do crime, a qualificação do acusado e a
tipificação da conduta.
De acordo com entendimento já pacificado nesta Corte Superior de Justiça, a representação da
vítima ou de seus representantes legais para a investigação ou deflagração de ação penal, nos casos
em que esta é condicionada àquela manifestação, prescinde de qualquer rigor formal, bastando a
demonstração inequívoca da parte interessada.
Inviável, em sede de recurso especial, a análise de questões que demandem o revolvimento de matéria
fático-probatória. Aplicação da Súmula 7 do STJ.
Nos termos do art. 255, § 2º, do RISTJ, para a comprovação da divergência jurisprudencial, não basta ao
recorrente transcrever trechos de ementas dos julgados apontados como paradigmas, sendo necessária a
realização do cotejo analítico, a fim de evidenciar a similitude fática das situações e a divergência de
interpretações entre os julgados confrontados. Statementof material facts e distinguishing.
Agravo regimental desprovido.
122
§ 1o A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do
ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade
policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida.
123
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de
queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia. Ação penal privada subsidiária da pública.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do
mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.
- O prazo de decadência para exercício do direito de representação tem
natureza penal, contando-se na forma do CP, art. 10124, ou seja, conta-se o dia
de início do prazo,não havendo prorrogação do termo final caso caia em dia
não-útil. Não há prorrogação, suspensão ou interrupção desse prazo.
- L9099, art. 75125. Não obtida a composição de danos civis, que é causa de
renúncia do direito de queixa e extintiva do direito de queixa ou
representação (art. 74)126, será dado imediatamente ao ofendido a
oportunidade de exercer o direito de representação verbal. A norma é estranha,
uma vez que, para que se chegue a esse ponto, de realização de audiência, o
direito de representação já deverá ter sido exercido anteriormente. Para que
não reste dúvida, aconselha-se que o ofendido ratifique sua
representação naquele momento.
- L9099, art. 75, parágrafo único. O não oferecimento de representação em
audiência preliminar não implica renúncia ao direito, que poderá ser exercido
até o final do prazo decadencial.
- Menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência apresentarão
representação através de seus representantes legais, pais, tutores,
curadores. Reflexos da L13146, Estatuto da Pessoa com Deficiência.
- CPP, art. 31127. No caso de morte do ofendido, o direito de representação
passará, nessa ordem, ao cônjuge, ascendentes, descendentes e irmãos.
Extensão da possibilidade de representar ao companheiro, por analogia.
Primeira corrente entende que essa extensão não se viabiliza, tratando-se de
analogia in malam partem; segunda corrente, majoritária, entende ser
possível e justa a analogia. Isonomia.
- A representação não vincula o Ministério Público, que pode na denúncia
tipificar o crime de maneira distinta, inserir outros acusados na peça inicial
(eficácia objetiva da representação), ou mesmo deixar de apresenta-la.
- Eficácia objetiva da representação. A representação diz respeito apenas à
constatação de que a vítima quer ver processados os autores da infração
penal, podendo o Ministério Público ampliar os limites subjetivos da
denúncia, incluindo os demais concorrentes, ainda que não indicados na
representação, sem necessidade de nova manifestação do ofendido.Eficácia
124
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos
pelo calendário comum.
125
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a
oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica
decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei. Indica a necessidade de
ratificação do oferecimento pretérito de representação, em audiência preliminar.
126
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante
sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação.
127
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito
de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.E
companheiro.
objetiva da representação do ofendido. Representação se liga ao fato, não aos
autores.
- STF, enunciado 714 da Súmula. “É concorrente(alternativa) a legitimidade do
ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à
representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções.”. Nos casos de
crime contra a honra de funcionário público quando relacionado ao exercício
de suas funções,doutrina afirma que, na realidade, a legitimidade seria
alternativa, uma vez que, oferecida representação ao Ministério Público, este
se revestiria definitivamente da legitimidade para oferecimento de denúncia,
não podendo posteriormente o ofendido apresentar queixa.
- Para os que entendem que a legitimidade é, de fato, concorrente, admite-se o
oferecimento de queixa-crime mesmo depois de oferecida representação ao
Ministério Público e arquivadas as peças de informação, com homologação do
Juiz. Nesse caso, o Juízo estaria prevento para análise de eventual queixa-
crime.
- Lembre-se que peças de informação coletadas pelo Ministério Público, em
procedimento próprio, deverão também se submeter à homologação judicial
para seu arquivamento, aplicando-se, em caso de discordância, o CPP, art. 28.
- Lembre-se inexistir arquivamento de inquérito policial instaurado para
apuração de crime de ação penal privada.
- CPP, art. 25128. A representação é irretratável após o oferecimento da
denúncia. Nesse caso estaria preclusa a via, tendo os fatos se transferido ao
domínio do Ministério Público. Oferecimento, não recebimento.
- L11340, art. 16129. Nos crimes submetidos à Lei Maria da Penha, quando
condicionados à representação, a renúncia à representação deverá ser feita
em audiência judicial especialmente designada para tanto, antes do
recebimento da denúncia.
- Essa audiência, especialmente designada para retratação da representação
da vítima, não pode, em hipótese alguma, ser designada de ofício pelo
magistrado, segundo doutrina majoritária e jurisprudência dos Tribunais
Superiores130, devendo existir pedido expresso da vítima para que o Juiz o
128
Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.Possibilidade de retratação
da representação até o oferecimento da denúncia, ordinariamente.
129
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só
será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
130
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI MARIA DA PENHA. AUDIÊNCIA.
Trata-se de RMS em que se pretende o reconhecimento do direito líquido e certo da mulher que tenha
sofrido violência doméstica e familiar de não ser obrigada a participar de audiência confirmatória da
representação pela persecução penal. Para tanto, alega-se que a audiência prevista no art. 16 da Lei n.
11.340/2006 (Lei Maria da Penha) só pode ser determinada pelo magistrado quando a vítima manifestar
interesse em retratar-se da representação. A Turma entendeu que a audiência prevista no art. 16 da
mencionada lei não deve ser realizada exofficio como condição da abertura da ação penal, sob pena
de constrangimento ilegal à mulher, vítima de violência doméstica e familiar, pois isso configuraria
ato de ratificação da representação, inadmissível na espécie. Consignou-se que a realização da
audiência deve ser precedida de manifestação de vontade da ofendida, se assim ela o desejar, em retratar-
se da representação registrada, cabendo ao magistrado verificar a espontaneidade e a liberdade na prática
de tal ato. Com esse entendimento, a Turma concedeu a segurança para determinar que a audiência de
retratação da representação da ação penal de natureza pública condicionada somente seja realizada após
prévia manifestação da ofendida. Precedentes citados: HC 178.744-MG, DJe 24/6/2011; HC 168.003-ES,
faça. Assim, designada arbitrariamente a audiência, sem pedido expresso da
vítima, esta não será obrigada a participar do ato, sem caracterização de
desistência da representação. Proteção suficiente e adequada à mulher,
proibição da proteção deficiente.
- STJ, tese. “A audiência de retratação prevista no art. 16 da Lei n. 11.340/06
apenas será designada no caso de manifestação expressa ou tácita da
vítimae desde que ocorrida antes do recebimento da denúncia.”.
- Assim, pela regra geral a retratação da representação oferecida pode ser
realizada até o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público; no
procedimento da L11340, por sua vez, a retratação da representação poderá
ser feita até o recebimento da denúncia, em audiência especialmente
designada para esse fim, desde que haja pedido expresso da vítima.
- A renúncia à representação não poderá ser feita, em nenhum caso, em
audiência de instrução e julgamento, não podendo, tampouco, o Ministério
Público retratar-se da denúncia, em respeito ao princípio da indisponibilidade.
Limite é o oferecimento da denúncia.
- STJ, enunciado 542 da Súmula. “A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.”. ADC 19 e ADIN 4424. Inaplicabilidade da L9099 aos crimes
praticados em contexto de violência doméstica.
- Lesão corporal culposa resultante de violência doméstica é de ação
penal pública incondicionada. Preocupação com lesões culposas que
camuflem, na realidade, lesões dolosas. Proteção insuficiente à mulher.
- É cabível a retratação da retratação, que se consolidaria através de nova
representação, feita dentro do prazo decadencial. Representação, retratação,
nova representação.
- STJ, Inf. 553131. Estupro praticado contra vítima desacordada em razão de ter
sido anteriormente agredida. Ação penal pública condicionada à representação,
DJe 1º/6/2011, e HC 96.601-MS, DJe 22/11/2010. RMS 34.607-MS, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu
(Desembargador convocado do TJ/RJ), julgado em 13/9/2011.
131
DIREITO PROCESSUAL PENAL. NATUREZA DA AÇÃO PENAL EM CRIME CONTRA A
LIBERDADE SEXUAL.
Procede-se mediante ação penal condicionada à representação no crime de estupro praticado
contra vítima que, por estar desacordada em razão de ter sido anteriormente agredida, era incapaz
de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos. De fato, segundo o art.
225 do CP, o crime de estupro, em qualquer de suas formas, é, em regra, de ação penal pública
condicionada à representação, sendo, apenas em duas hipóteses, de ação penal pública incondicionada,
quais sejam, vítima menor de 18 anos ou pessoa vulnerável. A própria doutrina reconhece a existência de
certa confusão na previsão contida no art. 225, caput e parágrafo único, do CP, o qual, ao mesmo tempo
em que prevê ser a ação penal pública condicionada à representação a regra tanto para os crimes contra a
liberdade sexual quanto para os crimes sexuais contra vulnerável, parece dispor que a ação penal do crime
de estupro de vulnerável é sempre incondicionada. A interpretação que deve ser dada ao referido
dispositivo legal é a de que, em relação à vítima possuidora de incapacidade permanente de oferecer
resistência à prática dos atos libidinosos, a ação penal seria sempre incondicionada. Mas, em se
tratando de pessoa incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos
libidinosos – não sendo considerada pessoa vulnerável fora desse contexto –, a ação penal
permanece condicionada à representação da vítima, da qual não pode ser retirada a escolha de
evitar o strepitusjudicii. Com este entendimento, afasta-se a interpretação no sentido de que qualquer
crime de estupro de vulnerável seria de ação penal pública incondicionada, preservando-se o sentido da
redação do caput do art. 225 do CP. HC 276.510-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
11/11/2014, DJe 1º/12/2014.
uma vez que a vulnerabilidade era pontual, o que não deve retirar da vítima a
escolha de evitar o strepitusiudicii.No caso de pessoa possuidora de
incapacidade permanente de oferecer resistência à prática de atos libidinosos,
a ação penal será pública incondicionada, nos termos do CP.Percebe-se,
assim, que para o STJ não se confunde o conceito de vulnerabilidade contido
no tipo penal de estupro de vulnerável (CP, art. 217-A), onde esta poderá ser
transitória, e na norma que determina que a ação será pública incondicionada
no caso de pessoa vulnerável (CP, art. 225), condição esta, aqui, que deverá
ser perene. Assim, o estupro de vulnerável nem sempre será de ação
pública incondicionada, podendo ser de ação penal pública condicionada
à representação no caso de vulnerabilidade transitória.
- Lembre-se que o STJ firmou a presunção absoluta de vulnerabilidade do
menor de 14 (catorze) anos em crimes contra a dignidade sexual,
independente de prévia iniciação sexual.
- STF, enunciado 608 da Súmula. “No crime de estupro, praticado mediante
violência real, a ação penal é pública incondicionada”. Parte relevante da
doutrina entende que a súmula está prejudicada com o advento da
L12015, que reformou o capítulo dos crimes contra a dignidade sexual no CP,
afirmando que, dentre as exceções à ação penal pública condicionada
àrepresentação, regra nos crimes sexuais com a reforma (CP, art. 225) 132, não
está previsto o caso de violência real.
2.4.1. Requisição do Ministro da Justiça.
- Configura ato de conveniência política, a cargo do Ministro da Justiça,
autorizando a persecução criminal nos casos em que a lei exige.
- O destinatário será o Procurador-Geral da República.
- O prazo para requisição é prescricional, não decadencial.
- Crimes contra a honra do Presidente da República ou de Chefe de
Governo estrangeiro (CP, art. 145, p. único)133; crimes praticados contra
brasileiro no estrangeiro (CP, art. 7, §3)134.
- Não cabe retratação pelo Ministro da Justiça, segundo doutrina dominante,
sob pena de desmoralização do Estado.
132
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa (permanentemente) vulnerável.
133
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput
do art. 141 deste Código (Presidente da República ou Chefe de Governo estrangeiro), e mediante
representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo (funcionário público), bem como no
caso do § 3o do art. 140 deste Código (injúria racial).
134
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior (entrar o agente no território
nacional; ser o fato também punível no país em que foi praticado; estar o crime incluído entre os quais o
Brasil admite extradição – pena máxima superior a 02 (dois) anos de prisão – Nova Lei de Migração;
não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou lá cumprido pena; não estar a punibilidade extinta no
estrangeiro):
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
- A requisição do Ministro da Justiça não vincula o Ministério Público, que
pode enquadrar a conduta em outro dispositivo legal ou mesmo promover o
arquivamento dos fatos.
- A requisição, analogamente à representação,tem eficácia objetiva, ou seja,
pode o Ministério Público denunciar outros agentes não expressamente
citados, mas ligados ao fato cuja persecução penal o Ministro da Justiça
expressou desejar ver processado.
2.5. Ação Penal Privada.
- Ação penal cuja titularidade é conferida ao particular ofendido, ou a seu
representante legal. CPP, art. 30135. Particular é o dominus litis.
- Incidente em casos em que as infrações penais praticadas atingem de forma
acentuada a intimidade da vítima.
- Legitimidade ativa penal, jus persequendi, conferida ao ofendido, ou a seu
representante legal.
- No caso de concurso de crimes cujas ações sejam pública, para um, e
privada, para outro, não poderá o Ministério Público oferecer denúncia pelo
crime de ação penal privada, devendo o ofendido oferecer a queixa-crime.
Chamada ação penal adesiva, correrão juntas as ações penais em razão da
conexão.Ação penal adesiva. Ministério Público não pode oferecer denúncia.
- O direito de oferecer queixa ou prosseguir na açãopassará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão, no caso de morte do ofendido. CPP, art.
31136. Doutrina entende ser extensível o direito de representação ao
companheiro.
- Há possibilidade de condenação do querelante ao pagamento de custas,
em caso de sucumbência, mesmo que não tenha o mérito da ação penal
privada sido apreciado. STJ, REsp 1218726137. Condenação do querelante em
custas.
2.5.1. Indivisibilidade.
135
Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá intentar a ação privada.
136
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito
de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
137
DIREITO PROCESSUAL PENAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS EM
AÇÃO PENAL PRIVADA EXTINTA SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.
É possível condenar o querelante em honorários advocatícios sucumbenciais na hipótese de rejeição
de queixa-crime por ausência de justa causa. É pacífica a orientação de possibilidade de condenação
em honorários advocatícios em caso de ação penal privada (AgRg no REsp 1.206.311-SP, Quinta Turma,
DJe 11/6/2014), com base no princípio geral de sucumbência e na aplicação do Código de Processo
Civil. Nesse contexto, o antigo Código de Processo Civil - aplicado quando da condenação dos honorários
advocatícios - previa a fixação da referida verba em razão da sucumbência da parte, independentemente
da apreciação do mérito do feito, com suporte no princípio da causalidade. Assim, considerando que o
regime de fixação de honorários advocatícios em sede de ação penal privada deve seguir a mesma
lógica do processo civil, não há como aplicar de forma restritiva o CPC/1973, devendo responder
por custas e honorários advocatícios a parte que deu causa ao ajuizamento da demanda, mesmo
quando não enfrentado o mérito. Causalidade. Portanto, deve prevalecer o entendimento da Corte
Especial sobre o tema (EDcl no AgRg na PET na APn 735-DF, DJe de 18/12/2015), a qual confirmou a
possibilidade de fixação de honorários advocatícios em caso de rejeição de queixa-crime,
fundamentando-se nos arts. 3º e 804 do CPP, em harmonia com o art. 20 do antigo CPC. EREsp
1.218.726-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016, DJe 1/7/2016.
- CPP, art. 48138. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará
ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
indivisibilidade.
- Ministério Público é o fiscal da indivisibilidade. A forma de exercício desse
múnus é controversa. Primeira corrente139 entende que o CPP, art. 45140 deve
ser interpretado de forma literal, admitindo o aditamento da queixa pelo
Ministério Público para expandir seus limites subjetivos passivos, integrando-a
para inclusão de outros acusados, com escopo de resguardar a indivisibilidade.
Corrente francamente minoritária; segunda corrente, majoritária, entende
que o Ministério Público deverá, nos casos de aparente violação da
indivisibilidade, requerer o aditamento da queixa-crime pelo querelante no
prazo de 03 (três) dias (CPP, art. 46, §2)141, com a advertência de que o
não-aditamento caracterizará a renúncia ao direito de queixa contra todos
os autores (CPP, art. 49)142; terceira corrente, também minoritária, divide as
soluções a partir da voluntariedade ou não da omissão. No caso de omissão
voluntária, caracterizar-se-ia renúncia ao direito de queixa contra todos (CPP,
art. 49), devendo o Ministério Público pedir a extinção da punibilidade. No caso
de omissão involuntária, o Ministério Público deveria requerer a intimação do
querelante para que faça o aditamento, com a advertência de que sua não
realização caracterizaria a renúncia ao direito de queixa (CPP, art. 49).
- STJ, Inf. 547143. Caso o querelante proponha, na queixa-crime, a composição
civil de danos para parte dos querelados,a peça acusatória deverá ser
rejeitada em sua integralidade em relação atodos os querelados. Isso
porque a composição civil dos danos, se aceita, significa a renúncia do
138
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério
Público velará pela sua indivisibilidade.
139
Tourinho Filho.
140
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo
Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo.
141
§ 2o O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do
Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não
tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.
142
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos
se estenderá.Lembre-se que a representação tem eficácia objetiva, se ligando ao fato, não às pessoas.
143
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL PRIVADA.
Caso o querelante proponha, na própria queixa-crime, composição civil de danos para parte dos
querelados, a peça acusatória deverá ser rejeitada em sua integralidade – isto é, em relação a todos
os querelados. Isso porque a composição pelos danos, sendo aceita e homologada judicialmente, implica
a renúncia ao direito de queixa, nos termos do disposto no art. 74, parágrafo único, da Lei 9.099/1995,
tratando-se a renúncia, expressa ou tácita (art. 104 do CP), de causa extintiva da punibilidade,
sendo irretratável (art. 107, V, CP). Por força do princípio da indivisibilidade, a todos se estende a
manifestação do intento de não processar parte dos envolvidos, de modo que a renúncia beneficia a todos
eles. Precedente citado: HC 29.861-SP, Quinta Turma, DJ 25/2/2004. AP 724-DF, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 20/8/2014.
direito de queixa (L9099, art. 74, P. único)144, que se estenderá a todos os
demais querelados (CPP, art. 49).
4.5.2. Oportunidade ou Conveniência.
- A decisão sobre apresentação ou não da queixa-crime fica a critério
exclusivo da vítima ou de seu representante legal. Juízo de conveniência e
oportunidade de apresentação da queixa.
- Na ação penal pública, por sua vez, vige o princípio da obrigatoriedade.Não
há obrigatoriedade para o particular.
- O princípio da oportunidade da ação penal privada é limitado pela decadência
do direito de queixa. Prazo de 06 (seis) meses, contados a partir do dia em
que o ofendido tomou ciência da autoria do delito. CPP, art. 38145.
- O decurso do prazo de decadência para apresentação da queixa-crime tem
por consequência a extinção da punibilidade. CP, art. 107, IV146.
- Nos crimes contra a propriedade imaterial, que possuem rito específico
definido no Código de Processo Penal, o prazo para oferecimento de queixa-
crime nos crimes de ação penal privada será de 30 (trinta) dias, contados a
partir da homologação do laudo constatador da materialidade do crime.
CPP, art. 529147.
- Outro instituto que decorre do princípio da oportunidade é a renúncia, ato
unilateral, caracterizado pela manifestação de vontade expressa, pela vítima,
de não processar o autor da infração penal, ou com a prática de ato
incompatível com a vontade de processá-lo, quando será tácita. CP, art. 104148.
- CPP, art. 50149. Renúncia poderá ser feita por procurador com poderes
especiais. A renúncia do representante legal do menor que houver
completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito de queixa, nem a
renúncia do último excluirá o direito do primeiro.
144
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada
à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.
145
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de
queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia.
146
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
(...)
IV - pelaprescrição, decadência ou perempção;
147
Art. 529. Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com fundamento
em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a homologação do laudo.
Parágrafo único. Será dada vista ao Ministério Público dos autos de busca e apreensão requeridas
pelo ofendido, se o crime for de ação pública e não tiver sido oferecida queixa no prazo fixado neste
artigo.
148
Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente.
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade
de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado
pelo crime.
149
Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante
legal ou procurador com poderes especiais.
Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito)
anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.
- A renúncia é pré-processual, e éirretratável. Regime distinto da
representação, que poderá ser retratada e oferecida novamente desde que não
escoado o prazo de 06 (seis) meses para sua apresentação.
- Renúncia é ato unilateral, não carece de aceitação do autor ou autores.
- A renúncia deve deferência ao princípio da indivisibilidade, se
estendendo a todos os autores caso renunciado o direito de queixa
contra somente um destes. CPP, art. 49150.
- O recebimento, pelo ofendido, fora do contexto de composição de danos em
juizado especial, de indenização pelo dano causado pelo crime não indica
renúncia ao direito de queixa contra o autor que indeniza.
- STJ, Inf. 562. A não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não
configura, por si só, renúncia tácita ao direito de queixa. O reconhecimento da
renúncia tácita ao direito de queixa exige a demonstração de que a não
inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu
de forma deliberada. Assim, dúvidas devem ser esclarecidas. Não inclusão de
forma deliberada.
2.5.4. Disponibilidade.
- O querelante pode desistir da ação penal privada já em curso.
- Da disponibilidade decorrem as figuras do perdão e da perempção.
- Lembre-se que a ação penal pública, condicionada ou não, se submete ao
princípio da indisponibilidade.
2.5.4.1. Perdão.
- Causa extintiva da punibilidade. Disponibilidade da ação penal privada.
- CPP, art. 51151. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a
todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.
Indivisibilidade. Note-se que a norma fala em querelados, indicando que o
perdão pressupõe queixa anterior. Para o momento anterior ao oferecimento
de queixa existe o instrumento da renúncia ao direito de queixa.Perdão,
assim, só existe em casos em que já exercido o direito de queixa. Querelados.
- O perdão é bilateral, deve ser aceito pelo querelado.O silêncio do
querelado será tomado como aceitação. CPP, art. 58152.
- O perdão só é cabível na ação penal privada originária. Na ação penal
privada subsidiária da pública não é cabível perdão. CP, art. 105153.
Indisponibilidade.
- CP, art. 106154. O perdão pode ser dado no processo ou fora dele, de maneira
expressa ou tácita, devendo obrigatoriamente, entretanto, haver processo em
150
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a
todos se estenderá.
151
Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia,
efeito em relação ao que o recusar.Disponibilidade da ação penal privada.
152
Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos (deve haver queixa pretérita), o
querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser
cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. Único caso em que o Processo Penal aceita o
silêncio como consentimento de algo.
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade.
153
Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao
prosseguimento da ação.Disponibilidade da ação penal privada.
154
Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito:
curso. Distinção entre perdão e renúncia ao direito de queixa, reflexos nos
honorários incidentes.
- O perdão conferido por um dos ofendidos não atinge o direito dos demais de
processar os autores.
- Perdão é cabível até o trânsito em julgado da sentença condenatória.
Momento em que se exaure o jus persequendi, passando o Estado, então, a
exercer o jus puniendi, estranho ao ofendido.
2.5.4.2. Perempção.
- É uma sanção processual pela desídia, pela falta de interesse do querelante,
evidenciando seu desinteresse em prosseguir com o processo.
- CPP, art. 60155. Hipóteses que caracterizam a perempção.
- Quando o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos caracterizar-se-á a perempção.
- Falecendo o querelante ou sobrevindo sua incapacidade, os legitimados a o
sucederem deverão comparecer ao processo em até 60 (sessenta) dias,
independentemente de intimação para tanto. Não comparecimento
caracterizará a perempção.
- Quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a
qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de
formular pedido de condenação nas alegações finais, estará caracterizada
a perempção.
- Note-se que não é a falta a qualquer ato do processo que caracterizará a
perempção, mas somente atos aos quais sua presença é necessária. Assim,
querelante que não comparece à audiência de oitiva de testemunhas não será
sancionado com perempção.
- A falta de pedido de condenação nas alegações finais não ensejará
automaticamente a perempção. Caso o magistrado entenda que não existem
elementos para a absolvição, deverá justificar a sentença e declarar extinta a
punibilidade pela perempção; de outro vértice, caso existam elementos que
indiquem a absolvição de maneira segura, deverá o magistrado, em respeito ao
direito à sentença de mérito do réu, absolvê-lo. Direito à sentença de mérito.
- Em se tratando de querelante pessoa jurídica, caso seja extinta sem
deixar sucessor, estará perempta a ação penal privada por ela proposta.
Pessoa jurídica querelante.
156
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe
impedimento que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser
intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule
o casamento.
157
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;
158
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva,
intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo,
no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
159
Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1o, sem que o representante do
Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá
oferecer ação penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses.
160
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data
em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver
solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16),
contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
subsidiária de particulares. Lembre-se que a legitimidade, em regra, para
ajuizamento da ação penal privada subsidiária da pública será do ofendido.
- Para os que adotam a corrente doutrinária que entende que a ação penal
pública é indivisível, posição, lembre-se, minoritária, seria possível
oferecimento de queixa-crime como instrumento de controle dessa
indivisibilidade, contra autores não incluídos na denúncia apresentada pelo
Ministério Público161.
- A ação penal privada subsidiária da pública pressupõe inércia na atuação do
Ministério Público. Assim, não é cabível no caso de pedido de arquivamento
de inquérito policial ou de requisição de novas diligências162.
- Em regra não é cabível recurso do arquivamento de inquérito. É cabível,
entretanto, mandado de segurança em matéria criminal diante de despacho de
arquivamento manifestamente ilegal, sem respaldo na Lei. Exemplo é
oarquivamento de inquérito policial fundado na prescrição pela pena hipotética,
em perspectiva163.
- No caso de queixa subsidiária, poderá o Ministério Público aditá-la livremente,
com plenos poderes. O Ministério Público será interveniente adesivo
obrigatório na ação penal privada subsidiária da pública, intervindo em
todos os atos do processo.Interveniente adesivo obrigatório.
- A ação penal privada subsidiária da pública não admite perempção. A
inércia do particular na condução do processo ensejará a retomada de sua
titularidade pelo Ministério Público (CPP, art. 29, última parte).
- No caso de propositura de ação penal privada subsidiária da pública,
caso haja manifestação do Ministério Público no sentido de rejeição da
queixa-crime subsidiária, entende-se que o acolhimento da manifestação
é obrigatório. STJ, HC175141164. Acolhimento obrigatório de manifestação de
rejeição da queixa-crime subsidiária.
3. Ação Civil ExDelicto.
161
Lembre-se que os Tribunais Superiores entendem que a ação penal pública é divisível.
163
STJ, enunciado 438 da Súmula. “É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do
processo penal.”.
164
HABEAS CORPUS. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA
PÚBLICA. FALTA DE CABIMENTO. AUSÊNCIA DE INÉRCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA.
1. Sendo a ação penal relativa ao crime tipificado no art. 339 do Código Penal (denunciação caluniosa)
pública incondicionada, a ação penal privada subsidiária da pública só tem cabimento quando há prova
inequívoca da total inércia do Ministério Público. Quer dizer, só é permitido ao ofendido atuar de
forma supletiva, quando o titular da ação penal pública – já de posse dos elementos necessários à
formulação da peça acusatória – deixar de ajuizar a ação penal dentro do prazo legal, sem motivo
justificável.
2. No caso, tal situação não ocorreu, porquanto, provocado, o Ministério Público local instaurou
procedimento investigatório, que, após acurada investigação, foi arquivado em razão da atipicidade da
conduta representada.
3. Mesmo tendo o Procurador-Geral promovido o arquivamento depois de ajuizada a ação penal
subsidiária, a falta de manifestação tempestiva está definitivamente suprida pelo parecer recomendando
a rejeição da queixa-crime, cujo atendimento – segundo a jurisprudência – é
irrecusável.Atendimento irrecusável de manifestação Ministerial pela rejeição da queixa-crime
subsidiária.
4. Ordem concedida para trancar a ação penal.
- CPP, art. 63165. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão o
ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros promover-lhe a
execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano.
- CP, art. 91166. A condenação penal tem por um de seus efeitos tornar certa
aobrigação de reparação dos danos causados pelo crime. Efeito
extrapenal da condenação.
- Assim, a sentença condenatória é título executivo (NCPC, art. 515, VI)167
que poderá ser liquidado em sede cível e executado.
- Lembre-se que o ordenamento jurídico adota sistema separatista de
matérias na jurisdição, mitigado pela possibilidade de adoção do sistema da
confusão, nos casos em que o pedido engloba, ao mesmo tempo, a
condenação penal e reparação do dano, com fundamento no CPP, art. 63, que
permite que o magistrado fixe na sentença condenatória o valor mínimo para a
indenização (CPP, art. 387, IV)168.
- Observe-se que, conquanto a previsão da fixação, já na sentença
condenatória penal, de valor mínimo para reparação dos danos oriundos do
crime só tenha ingressado no Código de Processo Penal em 2008, a L9605 já
previa essa possibilidade em seu art. 20169, com escopo de reparação do
meio ambiente e de eventuais danos a particulares.
- Caso haja pedido expresso nesse sentido, a sentença consignará valor
mínimo de reparação, fixado considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido,
não esgotando a discussão sobre a reparação dos danos, que poderá
sofrer nova liquidação em sede cível para aumentar seu valor.O valor
mínimo arbitrado em sede penal pode abranger, inclusive, danos morais
sofridos pela vítima. Danos morais incluídos no valor mínimo de reparação
em sentença penal.
165
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo
cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada
pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação
para a apuração do dano efetivamente sofrido. Valor mínimo.
166
Art. 91 - São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime
167
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos
previstos neste Título:
(...)
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
168
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
IV - fixarávalor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido; desde que haja pedido e contraditório.
169
Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação
dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio
ambiente.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor
fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido.
Valor mínimo.
- Se o ofendido entender que o valor fixado é insuficiente ele pode liquidar a
sentença em sede cível, e promover nova execução. Nova liquidação do título
executivo judicial já existente.
- STJ, REsp 1585684170. A fixação de valor mínimo para reparação dos danos
sofridos pela vítima, na sentença penal, pode incluir danos morais mínimos,
além dos danos materiais tradicionalmente arbitrados.
- A fixação de valor mínimo de reparação pelos danos sofridos pelo ofendido
em razão do crime depende de pedido expresso do autor da ação penal,
com escopo de oportunizar o devido contraditório sobre a matéria. STJ, REsp
1193083171.
170
DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE VALOR MÍNIMO
PARA COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS SOFRIDOS PELA VÍTIMA DE INFRAÇÃO
PENAL.
O juiz, ao proferir sentença penal condenatória, no momento de fixar o valor mínimo para a reparação dos
danos causados pela infração (art. 387, IV, do CPP), pode, sentindo-se apto diante de um caso
concreto, quantificar, ao menos o mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima, desde que
fundamente essa opção. De fato, a legislação penal brasileira sempre buscou incentivar o ressarcimento
à vítima. Justiça restaurativa. Essa conclusão pode ser extraída da observação de algumas regras do CP:
a) art. 91, I - a obrigação de reparar o dano é um efeito da condenação; b) art. 16 - configura causa de
diminuição da pena o agente reparar o dano ou restituir a coisa ao ofendido; c) art. 65, III, "b" - a
reparação do dano configura atenuante genérica, etc. Mas, apesar de incentivar o ressarcimento da vítima,
a regra em nosso sistema judiciário era a separação de jurisdição, em que a ação penal destinava-se à
condenação do agente pela prática da infração penal, enquanto a ação civil tinha por objetivo a reparação
do dano. No entanto, apesar de haver uma separação de jurisdição, a sentença penal condenatória possuía
o status de título executivo judicial, que, no entanto, deveria ser liquidado perante a jurisdição civil. Com
a valorização dos princípios da economia e celeridade processual e considerando que a legislação penal
brasileira sempre buscou incentivar o ressarcimento à vítima, surgiu a necessidade de repensar esse
sistema, justamente para que se possa proteger com maior eficácia o ofendido, evitando que o alto custo e
a lentidão da justiça levem a vítima a desistir de pleitear a indenização civil. Dentro desse novo
panorama, em que se busca dar maior efetividade ao direito da vítima em ver ressarcido o dano sofrido, a
Lei n. 11.719/2008 trouxe diversas alterações ao CPP, dentre elas, o poder conferido ao magistrado penal
de fixar um valor mínimo para a reparação civil do dano causado pela infração penal, sem prejuízo da
apuração do dano efetivamente sofrido pelo ofendido na esfera cível. No Brasil, embora não se tenha
aderido ao sistema de unidade de juízo, essa evolução legislativa, indica, sem dúvidas, o reconhecimento
da natureza cível da verba mínima para a condenação criminal. Antes da alteração legislativa, a sentença
penal condenatória irrecorrível era um título executório incompleto, porque embora tornasse certa a
exigibilidade do crédito, dependia de liquidação para apurar o quantum devido. Assim, ao impor ao juiz
penal a obrigação de fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pelo delito,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido, está-se ampliando o âmbito de sua jurisdição
para abranger, embora de forma limitada, a jurisdição cível, pois o juiz penal deverá apurar a
existência de dano civil, não obstante pretenda fixar apenas o valor mínimo. Dessa forma, junto com
a sentença penal, haverá uma sentença cível líquida que, mesmo limitada, estará apta a ser executada. E
quando se fala em sentença cível, em que se apura o valor do prejuízo causado a outrem, vale lembrar
que, além do prejuízo material, também deve ser observado o dano moral que a conduta ilícita
ocasionou. E nesse ponto, embora a legislação tenha introduzido essa alteração, não regulamentou
nenhum procedimento para efetivar a apuração desse valor nem estabeleceu qual o grau de sua
abrangência, pois apenas se referiu à "apuração do dano efetivamente sofrido". Assim, para que se possa
definir esses parâmetros, deve-se observar o escopo da própria alteração legislativa: promover maior
eficácia ao direito da vítima em ver ressarcido o dano sofrido. Assim, considerando que a norma não
limitou nem regulamentou como será quantificado o valor mínimo para a indenização e considerando que
a legislação penal sempre priorizou o ressarcimento da vítima em relação aos prejuízos sofridos, o juiz
que se sentir apto, diante de um caso concreto, a quantificar, ao menos o mínimo, o valor do dano
moral sofrido pela vítima, não poderá ser impedido de o fazer.REsp 1.585.684-DF, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 9/8/2016, DJe 24/8/2016.
171
DIREITO PROCESSUAL PENAL. REPARAÇÃO CIVIL DOS DANOS DECORRENTES DE
CRIME.
- STJ, REsp 1643051172. Nos casos de violência contra a mulher praticados no
âmbito doméstico e familiar, é possível a fixação de valor mínimo indenizatório
a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da acusação ou da
parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente
de instrução probatória. Lembre-se que o STJ entende que em casos de
violação à dignidade da pessoa humana, os danos morais apresentam-se in
reipsa. L11340, art. 6173. Entendimento aparentemente extensível a outras
modalides de crime onde o ataque à dignidade da vítima coloque-se in reipsa.
- A norma que prevê a fixação do valor mínimo de indenização, inserida no
CPP pela L11719/08, tem cunho material gravoso, não se aplicando, pois, a
delitos ocorridos preteritamente (CRFB, art. 5, XL)174, segundo o STJ.
Para que seja fixado na sentença valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
com base no art. 387, IV, do CPP, é necessário pedido expresso do ofendido ou do Ministério
Público e a concessão de oportunidade de exercício do contraditório pelo réu. Precedentes citados:
REsp 1.248.490-RS, Quinta Turma, DJe 21/5/2012; e Resp 1.185.542-RS, Quinta Turma, DJe de
16/5/2011. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/08/2013, DJe 27/8/2013.
172
Cinge-se a controvérsia a definir a necessidade ou não de indicação de um montante mínimo pelo
postulante, bem como a necessidade ou não da produção de prova, durante a instrução criminal, para a
fixação, em sentença condenatória, da indenização por danos morais sofridos pela vítima de violência
doméstica. Em relação à primeira questão, cumpre salientar que ambas as Turmas desta Corte Superior já
firmaram o entendimento de que a imposição, na sentença condenatória, de indenização, a título de danos
morais, para a vítima de violência doméstica, requer a dedução de um pedido específico, em respeito às
garantias do contraditório e da ampla defesa. Entretanto, a Quinta Turma possui julgados no sentido de
ser necessária a indicação do valor pretendido para a reparação do dano sofrido. Já a Sexta Turma
considera que o juízo deve apenas arbitrar um valor mínimo, mediante a prudente ponderação das
circunstâncias do caso concreto. Nesse sentido, a fim de uniformizar o entendimento, conclui-se que o
pedido expresso por parte do Ministério Público ou da ofendida, na exordial acusatória, é, de fato,
suficiente, ainda que desprovido de indicação do seu quantum, de sorte a permitir ao juízo sentenciante
fixar o valor mínimo a título de reparação pelos danos morais, sem prejuízo, evidentemente, de que a
pessoa interessada promova, no juízo cível, pedido complementar, onde, então, será necessário produzir
prova para a demonstração do valor dos danos sofridos. Já em relação à segunda questão, é importante
destacar que no âmbito da reparação dos danos morais, a Lei Maria da Penha, complementada pela
reforma do Código de Processo Penal através da Lei n. 11.719/2008, passou a permitir que o juízo único –
o criminal – possa decidir sobre um montante que, relacionado à dor, ao sofrimento, à humilhação da
vítima, de difícil mensuração, deriva da própria prática criminosa experimentada. Assim, não há
razoabilidade na exigência de instrução probatória acerca do dano psíquico, do grau de
humilhação, da diminuição da autoestima, etc, se a própria conduta criminosa empregada pelo
agressor já está imbuída de desonra, descrédito e menosprezo ao valor da mulher como pessoa e à
sua própria dignidade. O que se há de exigir como prova, mediante o respeito às regras do devido
processo penal – notadamente as que derivam dos princípios do contraditório e da ampla defesa –, é a
própria imputação criminosa – sob a regra, decorrente da presunção de inocência, de que o onusprobandi
é integralmente do órgão de acusação –, porque, uma vez demonstrada a agressão à mulher, os danos
psíquicos dela resultantes são evidentes e nem têm mesmo como ser demonstrados. Diante desse quadro,
a simples relevância de haver pedido expresso na denúncia, a fim de garantir o exercício do
contraditório e da ampla defesa, é bastante para que o Juiz sentenciante, a partir dos elementos de
prova que o levaram à condenação, fixe o valor mínimo a título de reparação dos danos morais
causados pela infração perpetrada, não sendo exigível produção de prova específica para aferição da
profundidade e/ou extensão do dano. O merecimento à indenização é ínsito à própria condição de vítima
de violência doméstica e familiar. O dano, pois, é in reipsa.
173
Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos
direitos humanos.
174
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
- A possibilidade de fixação de valor mínimo de indenização potencializou o
interesse do ingresso do assistente de acusação no processo.
- CPP, art. 64175. Não há vinculação de instâncias, podendo o ofendido
propor, desde logo, ação cível para reparação dos danos. Nesse caso o
processo penal será questão prejudicial do processo cível, podendo o Juízo
Cível suspender o processo até a resolução do processo penal.
- CPP, art. 65176. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer
ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de deverlegal ou no exercício regular de direito.
Excludentes de ilicitude. Justificada a ação, não haveria o dever de
indenizar, ausente ato ilícito. CC, art. 188177.
- Entretanto, doutrina majoritária entende que no caso de legítima defesa178ou
estado de necessidade agressivos, quando os lesados não têm vinculação
com a criação da agressão injusta ou da fonte de perigo, haverá dever de
indenização ao ofendido, ainda que justificada a ação, podendo o agente da
conduta exercer regresso contra o criador da agressão ou do perigo. CC,
arts. 929-930179.
- CPP, art. 67180. Outras hipóteses de não impedimento da propositura da ação
civil. Em regra o despacho de arquivamento de inquérito não impedirá a ação
cível, assim como a decisão que julgar extinta a punibilidade, ou a decisão
absolutória que decidir pela atipicidade do fato 181.
175
Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser
proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta,
até o julgamento definitivo daquela.
176
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado
de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito.
177
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
178
A legítima defesa agressiva só poderá existir em erro de execução, quando se atinge, por erro, terceiro
inocente.
179
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados
do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188 (estado de necessidade), se o perigo ocorrer por culpa de
terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver
ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188,
inciso I).
180
Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:
I - odespacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.
181
Fato atípico pode ser ilícito civil.
- CPP, art. 66182. Arquivamento de inquérito policial ou sentença absolutória
calcada na inexistência categórica do fato impede a propositura de ação
cível. CPP, art. 386183.
- CPP, art. 68184. Execução da sentença condenatória ou da ação civil no caso
de ofendido hipossuficiente economicamente. O texto afirma que no caso de
ofendido “pobre”, a execução ou propositura da ação cível será feita pelo
Ministério Público. Inconstitucionalidade progressiva.Com o advento da
Defensoria Pública é dessa Instituição o múnus de assistência aos
desfavorecidos. Só será cabível atuação do Ministério Público em lugares em
que não existir Defensoria efetivamente instalada.
- STJ, REsp 1354346185. Diante de sentença penal condenatória que tenha
reconhecido a prática de homicídio culposo, o juízo cível, ao apurar
182
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando
não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
183
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato; - não cabe ação civil, CPP, art. 66.
II - não haver prova da existência do fato; - cabe ação civil.
III - não constituir o fato infração penal; - cabe ação civil, CPP, art. 67, III.
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; - não cabe ação civil, em relação
ao réu absolvido, podendo ser proposta ação civil contra outros legitimados passivos.
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; - cabe ação civil.
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26
e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; -
cabe ação civil, exceto para o CP, art. 23 – excludentes de ilicitude, com os temperamentos da legítima
defesa e estado de necessidade agressivos.
VII – não existir prova suficiente para a condenação. – cabe ação civil
184
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da
sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo
Ministério Público.
185
DIREITO CIVIL. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA E SENTENÇA CÍVEL QUE
RECONHECE A OCORRÊNCIA DE CULPA RECÍPROCA.
Diante de sentença penal condenatória que tenha reconhecido a prática de homicídio culposo, o
juízo cível, ao apurar responsabilidade civil decorrente do delito, não pode, com fundamento na
concorrência de culpas, afastar a obrigação de reparar, embora possa se valer da existência de
culpa concorrente da vítima para fixar o valor da indenização. É sabido que o ordenamento jurídico
pátrio adota o princípio da independência entre as instâncias administrativa, cível e criminal. É o que reza
o art. 935 do CC quando destaca que a "responsabilidade civil é independente da criminal, não se
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o autor, quando estas
questões se acharem decididas no juízo criminal". Observe-se que, não obstante a primeira parte do
dispositivo acima citado expressamente assentar que a responsabilidade cível pelo mesmo fato é
independente da responsabilidade criminal, o trecho final do artigo explicita que a referida separação não
é absoluta, uma vez que a independência é relativa. Em virtude de diversos questionamentos sobre a
matéria, na I Jornada de Direito Civil, promovida pelo CJF e pelo STJ, foi aprovado o Enunciado 45, cuja
redação destacou que "no caso do art. 935, não mais se poderá questionar sobre a existência do fato
ou quem seja o seu autor se estas questões se acharem categoricamente decididas no juízo
criminal". Além disso, o art. 91, I, do Código Penal dispõe que a condenação penal torna certa a
obrigação de indenizar o dano causado pelo crime. Desse modo, a sentença penal condenatória
decorrente da mesma situação fática geradora da responsabilidade civil provoca incontornável dever de
indenizar, sob pena de afronta direta ao aludido art. 91, I, do CP. Some-se a isso o fato de que o CPC
reconhece a sentença penal condenatória como título executivo judicial (art. 475-N, II, do CPC).
Ademais, com a reforma efetuada pela Lei 11.719/2008, o parágrafo único do art. 63 do CPP passou a
estipular que "Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo
valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação
para a apuração do dano efetivamente sofrido". Nessa linha intelectiva, apesar da impossibilidade de
responsabilidade civil decorrente do delito, não pode, com fundamento na
concorrência de culpas, afastar a obrigação de reparar, embora possa se
valer da existência de culpa concorrente da vítima para fixar o valor da
indenização.
4. Competência.
- A competência é a medida e a limitação da jurisdição exercida por
determinado órgão jurisdicional, a partir de critérios previamente
estabelecidos, referentes àespecialização da justiça, distribuição territorial, ou
de serviço.
- Competência pode ser distribuída a partir de 04 (quatro) critérios: em razão da
matéria, em razão da pessoa, em razão do lugar, ou pelo critério funcional,
que leva em consideração os atos processuais praticados.
- Os subcritérios “em razão da matéria”;“em razão da pessoa”; e “em razão do
lugar” integram o chamado critério material de distribuição da competência.
- CPP, art. 69186. Critérios para distribuição de competência.
- STJ, enunciado 528 da Súmula. “Compete ao juiz federal do local da
apreensão da droga remetida do exterior pela via postal processar e
julgar o crime de tráfico internacional.”. Tráfico, crime permanente, juiz do
local da apreensão estará prevento para julgamento do caso.
4.1. Critério Material de Distribuição da Competência:
4.1.1. Competência Ratione Materiae, em Razão da Matéria.
- Estabelecida em virtude da natureza da infração penal praticada.
Exemplo é a competência da Justiça Eleitoral para julgar crimes eleitorais.
4.1.1.1. Justiça Comum Estadual e Justiça Comum Federal.
- A competência da Justiça Federal é taxativa, numerusclausus. CRFB, art.
109187.
discussão sobre os fatos e sua autoria, nada obsta que a sentença cível, após o exame dos autos e das
circunstâncias que envolveram as condutas do autor e da vítima, conclua pela existência de concorrência
de culpas em relação ao evento danoso (REsp 735.087-SP, Terceira Turma, DJ 20/02/2006; e REsp
83.889-RS, Terceira Turma, DJ 3/5/1999). Contudo, é claro que não poderá o juízo civil, ao apurar o
grau da responsabilidade civil decorrente do mesmo delito, afastar a indenização decorrente da
prática de crime, ainda mais se baseando em situação caracterizadora de culpa concorrente, que
não se inclui nas hipóteses de excludente da responsabilidade civil. REsp 1.354.346-PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 17/9/2015, DJe 26/10/2015.
186
Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:
I - olugar da infração:
II - o domicílio ou residência do réu;
III - a natureza da infração;
IV - a distribuição;
V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função.
187
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na
condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e
as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
- CRFB, art. 109, IV. Crimes políticos. Aquele que atenta diretamente contra
o Estado democrático, as instituições democráticas, o equilíbrio do
Estado. L7170/83.
- Ações que tenham motivação política ou ideológica não serão
necessariamente crimes políticos. Distinção entre crime político e crime
com motivação política.
- CRFB, art. 102, II, “b”188. STF julgará, em recurso ordinário, o crime
político. Da primeira instância o recurso será diretamente para o Supremo
Tribunal Federal.
- CRFB, art. 109, IV. Infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços, ou interesse da União189 ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, excluídas as contravenções.
“Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público
190
194
No caso de conexão haverá separação obrigatória do processo, julgando-se a contravenção penal
perante a Justiça Estadual.
195
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I - processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos
crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral;
b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região;
c) os mandados de segurança e os habeas datacontra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;
d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal;
e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal;
II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no
exercício da competência federal da área de sua jurisdição.
196
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o
título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o
testamento particular.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova
perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva
produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido
escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações
da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do
segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de
serviços.
de obtenção fraudulenta de benefício previdenciário, o estelionato resultante
será julgado pela Justiça Federal.
- STJ, enunciado 73 da Súmula. “A utilização de papel moeda grosseiramente
falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da
Justiça Estadual.”. Imitatioveri. O crime de moeda falsa necessita da
plausibilidade, da circulabilidade da falsificação como moeda. A falsificação
grosseira, notável “primo ictuoculi”, não tem aptidão para circular, não sendo
capaz de caracterizar o crime de moeda falsa. A utilização dessa nota
grosseiramente falsificada, entretanto, recebida desavisadamente pela
vítima, pode caracterizar o crime de estelionato.
- STJ, enunciado 165 da Súmula. “Compete à Justiça Federal processar e
julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista.”. Crime
contra a administração da Justiça. Considerando ser a Justiça do Trabalho uma
Justiça da União, competência para julgamento será da Justiça Federal.
- Observe-se que houve recente mudança legislativa que alterou a pena para o
crime de falso testemunho, aumentando a pena mínima de 01 (um) ano para
02 (dois) anos. CP, art. 342197.
- STJ, enunciado 200 da Súmula. “O Juízo Federal competente para processar
e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito
se consumou.”. Uso, onde o passaporte efetivamente foi apresentado. O
passaporte falsificado, por si só, atrai a competência da Justiça Federal,
documento que é propriedade da União, lembre-se (L13445, art. 5, §1)198.
- Nos casos em que o passaporte falso é apresentado em um município,
notando-se a falsidade em Estado estrangeiro, com deportação, ainda que a
devolução do indivíduo seja realizada a outro Estado, a competência para
julgamento será do local onde foi o passaporte falso originariamente
apresentado, quando da saída do autor do território nacional.
- STJ, enunciado 546 da Súmula. “A competência para processar e julgar o
crime de uso de documento falsoé firmada em razão da entidade ou órgão
197
Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou
intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil
em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o
agente se retrata ou declara a verdade. Sentença, não trânsito em julgado.
198
Art. 5o São documentos de viagem:
I - passaporte;
II - laissez-passer;
III - autorização de retorno;
IV - salvo-conduto;
V - carteira de identidade de marítimo;
VI - carteira de matrícula consular;
VII - documento de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando admitidos em tratado;
VIII - certificado de membro de tripulação de transporte aéreo; e
IX - outros que vierem a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento.
§ 1o Os documentos previstos nos incisos I, II, III, IV, V, VI e IX, quando emitidos pelo Estado
brasileiro, são de propriedade da União, cabendo a seu titular a posse direta e o uso regular.
§ 2o As condições para a concessão dos documentos de que trata o § 1o serão previstas em regulamento.
ao qual foi apresentado o documento público, não importando a
qualificação do órgão expedidor.”.
- STJ, enunciado 208 da Súmula. “Compete à Justiça Federal processar e
julgar Prefeito Municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas
perante órgão federal.”.
- A competência para prestação de contas será do órgão federal quando a
verba não tiver sido incorporada ao patrimônio do Estado ou Município, para
livre utilização. Havendo incorporação, com ingresso dos valores no caixa
único do ente federativo, a prestação de contas será feita perante o órgão
estadual.
- STJ, enunciado 209 da Súmula. “Compete à Justiça Estadual processar e
julgar Prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao
patrimônio municipal.”.
- Verba incorporada ao patrimônio do ente federativo não terá contas prestadas
perante o órgão que fez a transferência. Ausência de interesse Federal.
- Pacelli e Fischer afirmam que “como regra, sempre que houver repasse de
verbas federais a entidades estaduais ou municipais, eventuais desvios ou
modificação delituosa de destinação seriam da competência federal se houve
convênio no qual se estabeleça o poder de fiscalização e de controle dos
gastos por parte da Administração Federal”.
- STF, HC 100772199. Corte afirma que desvios de verbas no âmbito do Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação – FUNDEB (ADCT, art. 60, §1)200 é competência da
Justiça Federal. Note-se que o STF não afirma a fixação da competência
apenas na questão da fiscalização do emprego dos recursos, nos termos do
enunciado 208 da Súmula do STJ, mas também “no interesse institucional, nos
termos da CRFB, art. 211, §1201
- Note-se que a competência da Justiça Militar é restrita, sendo certo que crime
praticado contra o patrimônio militar da União, quando não se amolde às
taxativas hipóteses de crime militar, será julgado pela Justiça Federal. STJ, CC
146388202.
199
Habeas Corpus. 2. Desvio de recursos provenientes do Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento
do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF. 3. Competência da Justiça Federal.
Precedentes. 4. Ordem concedida.
200
§ 1º A distribuição de responsabilidades e recursos entre os estados e seus municípios a ser
concretizada com parte dos recursos definidos neste artigo, na forma do disposto no art. 211 da
Constituição Federal, e assegurada mediante a criação, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de
um fundo de manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e de valorização do magistério, de
natureza contábil.
201
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de
colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de
ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a
garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;
202
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM FEDERAL PARA
JULGAR MILITAR DA ATIVA.
Compete à Justiça Comum Federal - e não à Justiça Militar - processar e julgar a suposta prática,
por militar da ativa, de crime previsto apenas na Lei n. 8.666/1993 (Lei de Licitações), ainda que
praticado contra a administração militar. A CF preceitua no art. 124 que "À Justiça Militar compete
- L13491 modifica o CPM, afirmando-se agora serem crimes militares não só os
crimes militares próprios, contidos no CPM, mas também crimes não contidos
na legislação penal militar, quando praticados no contexto exposto no CPM, art.
9203.
processar e julgar os crimes militares definidos em lei". Os arts. 9º e 10 do CPM são normas de
interpretação de quais são exatamente os crimes militares. Quanto ao inciso II do art. 9º, são crimes
militares os "previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum
(crimes militares impróprios), quando praticados (redação superada): [...] e) por militar em situação de
atividade, ou assemelhado, contra patrimônio sob administração militar, ou a ordem administrativa
militar". O crime licitatório, no caso, não está previsto no CPM e, embora supostamente praticado
por militar da ativa contra a administração militar, não encontra respaldo jurídico no Código
Penal Militar para se atribuir a competência à Justiça Castrense, uma vez que o art. 9º, II, e, do
CPM exige que o crime esteja expressamente previsto nesse código (lei modificada). Desse modo,
para configurar crime militar com base no art. 9º, I e II, necessariamente o delito deve constar do rol de
crimes previstos expressamente no CPM, sob pena de não ser considerado crime militar e, por sua vez,
ser afastada a competência da justiça especializada. Interpretar de forma diversa é ampliar os crimes
militares quando o legislador expressamente inseriu nos incisos I e II que crime militar é aquele expresso
no Código Penal Militar. CC 146.388-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016, DJe 1/7/2016.
203
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou
nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:
(Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou
assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar,
contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em
formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado,
ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado,
ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração
militar, ou a ordem administrativa militar;
f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições
militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos
seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado,
ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu
cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação,
exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza
militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública,
administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a
determinação legal superior.
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra
civil, serão da competência do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças
Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto:
(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo
Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não
beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
- STF, HC 132847204. Na configuração de crime militar observa-se a data do
evento delituoso, considerado neutro o fato de o autor estar licenciado.
- CRFB, art. 109, V. Crimes previstos em tratado ou convenção
internacional205 quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.Transnacionalidade206.
- A competência federal será firmada nos casos em que haja crime previsto em
tratado internacional, praticado à distância.
- Crimes à distância. Aqueles em que conduta e resultado ocorrem em
países diferentes. A tão só circunstância de ter sido o crime praticado no
estrangeiro, sem que sua execução tenha se iniciado no Brasil, não é suficiente
para atrair a competência da Justiça Federal, ainda que se trate de crime
previsto em tratado internacional do qual o Brasil é signatário. STJ, CC
107397207. Exceção do caso do crime transferido à jurisdição brasileria por
negativa de extradição de nacional a Estado estrangeiro.
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição
subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma
dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
204
Configuração de crime militar e licenciamento
Na configuração de crime militar observa-se a data do evento delituoso, considerado neutro o fato de o
autor estar licenciado.
Com base nesse entendimento, a Primeira Turma denegou a ordem de “habeas corpus”.
HC 132847/MS, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26.6.2018. (HC-132847)
205
São exemplos de crimes previstos em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário: tráfico
internacional de armas de fogo, nos termos da Convenção Interamericana Contra a Fabricação e o
Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, Munições, Explosivos e Outros Materiais Correlatos (D3329/99);
tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual, nos termos da Convenção das Nações
Unidas Destinada à Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio (D46981/59); transferência ilegal
de criança ou adolescente para o exterior, nos termos da Convenção Sobre os Direitos da Criança;
pornografia infantil e pedofilia através da internet, nos termos da mesma Convenção Sobre os Direitos
da Criança; lavagem de capitais, nos termos das convenções de Mérida (Corrupção), de Palermo
(Organizações Criminosas) e de Estrasburgo. Não há tratado específico para crime de racismo,
havendo racismo com nota de transnacionalidade, competência da Justiça Estadual.
206
O conceito de delito transnacional é mais amplo que o de delito internacional.
A internacionalidade pressupõe transação criminosa envolvendo agentes de duas ou mais nações
soberanas, vinculando as pessoas envolvidas. Tanto isso é exato que, sob a égide da lei antiga, reiteradas
vezes se decidiu que a simples origem estrangeira da droga não era suficiente para o reconhecimento da
internacionalidade do crime de tráfico (STF, HC 77.598/PR, 2ª T., rel. Min. Carlos Velloso, j. 22-9-1998,
DJU de 6-11-1998, RT 760/551). Por outro vértice, para a configuração da transnacionalidade basta que o
delito vá além dos limites do território brasileiro, que ultrapasse os limites que envolvem as demarcações
do território, o espaço aéreo, águas internas e milhas marinhas, sem que necessite alcançar outra nação
soberana, ou, alcançando, sem necessidade de identificação de vínculo entre os agentes envolvidos. Por
ter alcance mais dilatado, também envolve a ideia de internacionalidade, que, uma vez identificada,
também autoriza a incidência da causa de aumento de pena. Transnacionalidade não envolve,
necessariamente, agentes de dois estados, mas apenas transcendência das fronteiras brasileiras, mesmo
que para águas internacionais.
207
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR CRIME DE
TORTURA COMETIDO FORA DO TERRITÓRIO NACIONAL.
- STF208. A competência da Justiça Federal se fixará apenas nos casos em
que o início de execução se dê em um país, e o resultado em outro. A
mera prática de atos preparatórios no Brasil, com integralidade de atos de
execução praticados no exterior, não atrai a competência da Justiça Federal.
Atos preparatórios não atraem a competência da Justiça Federal.
- STJ, CC 150629209. Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
de violação de direito autoral e contra a lei de software decorrentes do
O fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter ocorrido no exterior não torna, por si
só, a Justiça Federal competente para processar e julgar os agentes estrangeiros. De fato, o crime de
tortura praticado integralmente em território estrangeiro contra brasileiros não se subsume, em regra, a
nenhuma das hipóteses de competência da Justiça Federal previstas no art. 109 da CRFB. Esclareça-se
que não há adequação ao art. 109, V, da CRFB, que dispõe que compete à Justiça Federal processar e
julgar “os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente”, pois não se trata
de crime à distância. De igual modo, não há possibilidade de aplicar o inciso IV do art. 109 da CRFB,
visto que não se tem dano direto a bens ou serviços da União, suas entidades autárquicas ou empresas
públicas. Ademais, ressalte-se que o deslocamento de competência para a jurisdição federal de crimes
com violação a direitos humanos exige provocação e hipóteses extremadas e taxativas, nos termos do art.
109, V-A e § 5º, da CRFB. Desse modo, o incidente só será instaurado em casos de grave violação aos
direitos humanos, em delitos de natureza coletiva, com grande repercussão, e para os quais a Justiça
Estadual esteja, por alguma razão, inepta à melhor apuração dos fatos e à celeridade que o sistema
de proteção internacional dos Direitos Humanos exige (AgRg no IDC 5-PE, Terceira Seção, DJe
3/6/2014; IDC 2-DF, Terceira Seção, DJe 22/11/2010; e IDC 1-PA, Terceira Seção, DJ 10/10/2005). CC
107.397-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/9/2014.
208
Competência e crime cometido no estrangeiro por brasileiro
O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a competência da justiça
federal, porquanto não teria ofendido bens, serviço ou interesse da União (CF, art. 109, IV). Com base
nessa orientação, a Primeira Turma, com ressalva da posição majoritária quanto não conhecimento da
impetração, porque substitutiva de recurso extraordinário, denegou a ordem de “habeas corpus”. No caso,
tratava-se de crime em que a fase preparatória iniciou-se no Brasil, porém, a consumação ocorreu no
estrangeiro. O juízo de direito corregedor do tribunal do júri estadual declinou da competência para a
justiça federal que, por sua vez, suscitou conflito negativo de competência. O STJ assentara incumbir o
julgamento a um dos tribunais do júri estadual, competente o juízo da capital do Estado onde por último
residira o acusado. O inciso V do art. 109 da CF prevê a competência da justiça federal quando, “...
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro...”. No Brasil houve
a prática de atos meramente preparatórios. O ato criminoso fora inteiramente cometido no
exterior, a afastar a incidência da mencionada regra constitucional, cuja interpretação há de ser
estrita. Fixada a competência da justiça estadual e definida a cidade de Ribeirão Preto como o último
domicílio do paciente no País, o julgamento compete a um dos tribunais do júri do Estado de São Paulo,
nos termos do art. 88 do CPP (“No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será
competente o juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver
residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República”).
209
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes de violação de direito autoral e contra a lei de
software decorrentes do compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou cabo, por
meio de serviços de cardsharing.
A conduta assinalada consiste no compartilhamento ilícito de sinal de TV, por meio de um cartão no qual
são armazenadas chaves criptografadas que carregam, de forma cifrada, o conteúdo audiovisual. Tais
cartões são inseridos em equipamentos que viabilizam a captação do sinal, via cabo ou satélite, e sua
adequada decodificação, conhecidos como AZBox, Duosat, AzAmérica, entre outros. Ao que consta dos
autos, uma das formas de quebra das chaves criptográficas é feita por fornecedores situados na Ásia e
Leste Europeu, que enviam, via internet, a pessoas que as distribuem, também via internet, aos usuários
dos decodificadores ilegais, assim permitindo que o sinal de TV seja irregularmente captado. Nesse
sentido, de acordo com o art. 109, V, da Constituição Federal, a competência da jurisdição federal se dá
pela presença concomitante da transnacionalidade do delito e da assunção de compromisso internacional
de repressão, constante de tratados ou convenções internacionais. A previsão normativa internacional, na
hipótese, é a Convenção de Berna, integrada ao ordenamento jurídico nacional através do Decreto n.
compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou cabo, por
meio de serviços de cardsharing.
- Publicação de fotos de pornografia infantil em sites de relacionamento ou de
potencial alcance mundial, que podem ser acessados em qualquer local do
mundo, caracterizamtransnacionalidade, risco ao bem jurídico tutelado de
maneira global, firmando-se a competência da Justiça Federal210.
- Troca de e-mails com conteúdo pornográfico infantil não caracterizará a
transnacionalidade do delito, sendo competência da Justiça Estadual. STF211.
- L9613, art. 2, III212. Hipóteses de competência da Justiça Federal para
julgamento de crime de lavagem de capitais. Serão de competência da Justiça
75.699/1975, e reiterada na Organização Mundial do Comércio – OMC por acordos como o TRIPS
(Trade-RelatedAspectsofIntellectualPropertyRights) - Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade
Intelectual Relacionados ao Comércio (AADPIC), incorporado pelo Decreto n. 1.355/1994, com a
previsão dos princípios de proteção ao direitos dos criadores. O outro requisito constitucional, de tratar-se
de crime à distância, com parcela do crime no Brasil e outra parcela do iter criminis fora do país, é
constatado pela inicial prova da atuação transnacional dos agentes, por meio da internet. Nesse contexto,
tem-se por evidenciados os requisitos da previsão das condutas criminosas em tratado ou convenção
internacional e do caráter de internacionalidade dos delitos objeto de investigação, constatando-se, à luz
do normativo constitucional, a competência da jurisdição federal para o processamento do feito.
210
(...) 3. No presente caso, há hipótese de atração da competência da Justiça Federal, uma vez que o fato
de haver um usuário do Orkut, supostamente praticando delitos de divulgação de imagens pornográficas
de crianças e adolescentes, configura uma das situações previstas pelo art. 109 da Constituição Federal.
4. Além do mais, é importante ressaltar que a divulgação de imagens pornográficas, envolvendo
crianças e adolescentes por meio do Orkut, provavelmente não se restringiu a uma comunicação
eletrônica entre pessoas residentes no Brasil, uma vez que qualquer pessoa, em qualquer lugar do
mundo, desde que conectada à internet e pertencente ao dito sítio de relacionamento, poderá
acessar a página publicada com tais conteúdos pedófilos-pornográficos, verificando-se, portanto,
cumprido o requisito da transnacionalidade exigido para atrair a competência da Justiça Federal.
(...)
(CC 111.338/TO, Rel. Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 23/06/2010)
211
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. APURAÇÃO DO DELITO
DO ART. 241-A DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. SUPOSTA VEICULAÇÃO
DE IMAGENS DE PORNOGRAFIA INFANTIL PELA INTERNET. COMPETÊNCIA FIRMADA
PELO LUGAR DA INFRAÇÃO. ART. 70 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. COMPETÊNCIA
DE TERCEIRO JUÍZO, ESTRANHO AO CONFLITO. 1. A consumação do delito, que atualmente
tem previsão no art. 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente, "ocorre no ato de publicação
das imagens pedófilo-pornográficas, sendo indiferente a localização do provedor de acesso à rede
mundial de computadores onde tais imagens encontram-se armazenadas, ou a sua efetiva
visualização pelos usuários" (CC 29.886/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2007, DJ 01/02/2008, p. 427). 2. A conduta delituosa a ser
apurada, na hipótese, refere-se à veiculação de imagens de menores aliciadas para exposição em cenas
obscenas, via webcam, por meio do MSN/ORKUT e TWITTER, além de hackeamento e utilização do
perfil de uma delas, fazendo-se o agente passar por esta, para comunicar-se com terceiros. 3. Ausentes
indícios de transnacionalidade do crime, a tanto não servindo o mero meio internet, competente é o juízo
estadual do local de indicada residência do suspeito, em Londrina/PR, na forma do art. 70 do Código de
Processo Penal. 4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da Vara Criminal da
Comarca de Londrina - TJ/PR, juízo estranho ao conflito. (STJ - CC: 136257 PR 2014/0251911-6,
Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 11/03/2015, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data
de Publicação: DJe 20/03/2015)
212
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
(...)
II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em
outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade
Federal os crimes de lavagem de capitais quando praticados contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira (CRFB, art. 109, VI);
em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, suas entidades
autárquicas ou empresas públicas (CRFB, art. 109, IV); quando a infração
antecedente for da competência da Justiça Federal (conexão, prevalência da
Justiça Federal, STJ, enunciado 122 da Súmula213).
- L9613, art. 2, II. Juiz competente para julgamento da lavagem decidirá se
haverá unidade de processos com o crime antecedente. Regra especial em
relação à conexão prevista no CPP, art. 76, II214.
- Crime antecedente pode ser estadual, enquanto o crime de lavagem de
capitais pode ser Federal, por atingir ordem econômico-financeira. Nesses
casos aplicar-se-á o enunciado 122 da Súmula do STJ, “compete à Justiça
Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência
federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II,“a”, do CPP.”.
- Existem tratados internacionais215 sobre a prevenção e combate ao crime de
lavagem de capitais, sendo, pois, o crime de lavagem de competência da
Justiça Federal quando praticado com nota de transnacionalidade.
- Tráfico de pessoas, CP, art. 149-A216. Crime de competência da Justiça
Federal quando praticado comtransnacionalidade.
de processo e julgamento;juízo competente para lavagem decidirá sobre a unidade de processo com os
crimes antecedentes.
III - são da competência da Justiça Federal:
a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento
de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas;
b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal.
213
Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência
federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II «a», do CPP.
214
Art. 76. A competência será determinada pela conexão:
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias
pessoas, umas contra as outras; conexão intersubjetiva por reunião, por concurso ou por
reciprocidade;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou
para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; conexão teleológica;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir
na prova de outra infração. Conexão probatória.
215
Convenção de Estrasburgo, de 1990; a Convenção de Palermo, de 2000; e a Convenção de Mérida, de
2003.
216
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa,
mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
II - ocrime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
- L11343, art. 70217. Tráfico transnacional.Crime será de competência da
Justiça Federal, ainda que o local não possua Vara Federal.
- L10826, art. 18218. Tráfico internacional de armas, crime de competência da
Justiça Federal.
- CRFB, art. 109, VI219, os crimes contra a organização do trabalho e, nos
casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira serão de competência da Justiça Federal.
- TFR, enunciado 115 da Súmula. “Compete à Justiça Federal processar e
julgar os crimes contra a organização do trabalho, quando tenham por objeto a
organização geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados
coletivamente.”.
- Assim, será competência da Justiça Federal o crime contra organização do
trabalho quando atinja a organização geral do trabalhoou os direitos dos
trabalhadores coletivamente. Ex.: CP, art. 207220.
- CP, art. 149221. Redução à condição análoga de escravo, “plágio”. Tribunais
Superiores afirmam que o tipo penal transcende a liberdade individual da
222
Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de urgência decorrente de
crime de ameaça contra a mulher cometido, por meio de rede social de grande alcance, quando
iniciado no estrangeiro e o seu resultado ocorrer no Brasil.
Inicialmente, cumpre salientar que, segundo o art. 109, V, da Constituição Federal, aos juízes federais
compete processar e julgar "os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente".
Encontrando-se o suposto autor das ameaças em território estrangeiro, uma vez que não se tem notícia do
seu ingresso no país, tem-se um possível crime à distância, tendo em vista que as ameaças foram
praticadas nos EUA, mas a suposta vítima teria tomado conhecimento do seu teor no Brasil. Observe-se
que, de fato, não se tem, propriamente, crime previsto em tratado ou convenção internacional. Isto
porque, embora o Brasil seja signatário de acordos internacionais que asseguram os direitos das mulheres,
tais convenções não descrevem tipos penais. Em outras palavras, referidas convenções apenas apresentam
conceitos e recomendações sobre a erradicação de qualquer forma de discriminação e violência contra as
mulheres. Entretanto, em situação semelhante ao caso concreto, o argumento de ausência de
tipificação em convenção internacional foi derrubado pelo Supremo quando da análise de crimes de
pedofilia na Internet (RE 628.624). Segundo a tese vencedora, o Estatuto da Criança e do Adolescente é
produto de tratado e convenção internacional subscritos pelo Brasil. Dessarte, à luz do entendimento
firmado pelo Supremo Tribunal Federal, embora as convenções internacionais firmadas pelo Brasil não
tipifiquem ameaças à mulher, a Lei Maria da Penha, que prevê medidas protetivas, veio concretizar o
dever assumido pelo Estado Brasileiro de proteção à mulher. Assim, é evidente a internacionalidade
das ameaças que tiveram início nos EUA, por meio de rede social de grande alcance, o que resulta
na competência da Justiça Federal.
223
Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público Federal,
perante a Justiça Federal.
Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no art. 268 do Código de Processo Penal, aprovado pelo
Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, será admitida a assistência da Comissão de Valores
Mobiliários - CVM, quando o crime tiver sido praticado no âmbito de atividade sujeita à disciplina
e à fiscalização dessa Autarquia, e do Banco Central do Brasil quando, fora daquela hipótese,
houver sido cometido na órbita de atividade sujeita à sua disciplina e fiscalização.
224
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
(...)
III - são da competência da Justiça Federal:
a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento
de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas;
- L8137, crimes contra a ordem econômica. Competência da Justiça Estadual,
uma vez que a lei nada diz sobre competência da Justiça Federal. “Quando
previstos em lei”, a Constituição diz.
- L8176, lei de crimes contra a ordem econômica referente a combustíveis.
Competência da Justiça Estadual, uma vez que a lei nada diz sobre
competência da Justiça Federal. Exceção do crime de usurpação de bem da
União (L8176, art. 2 e L9605, art. 55)225, que é competência da Justiça
Federal, por se tratar de crime em detrimento do patrimônio da União
(CRFB, art. 109, IV).
- L8078, Código de Defesa do Consumidor. Positiva, também, crimes contra a
ordem econômica, que serão, igualmente, de competência da Justiça
Estadual, por falta de previsão específica de competência da Justiça
Federal.
- L1521/51. Crimes contra a economia popular226. STF, enunciado 498 da
Súmula. “Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o processo
e o julgamento dos crimes contra a economia popular.”.
- CRFB, art. 109, VII e VIII227. Habeas Corpus em matéria criminal da
competência da Justiça Federal, ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos à outra jurisdição;
mandados de segurança em matéria penal federal que não coloque em risco a
liberdade do indivíduo. Observar eventuais foros por prerrogativa de função.
- CRFB, art. 142, §2228. “Não caberá habeas corpus em relação a punições
disciplinares militares”. Conquanto a Constituição fale não ser cabível a
impetração de habeas corpus contra punições disciplinares militares, existe na
mesma Constituição, previsão de cabimento de HC nos casos em que qualquer
indivíduo tenha sua liberdade de locomoção ameaçada (CRFB, art.5, LXVIII) 229.
Exploração de Caça-níqueis é crime contra a economia popular. “Estelionato coletivo”, L1521, art. 2,
226
IX. “IX - obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de
pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos ("bola de neve", "cadeias", "pichardismo" e
quaisquer outros equivalentes);”.
227
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier
de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos
de competência dos tribunais federais;
228
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.
229
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
O que entende a doutrina é que não cabe no habeas corpus discussão
sobre o mérito da decisão disciplinar. Somente ilegalidades são
impugnáveis.
- CRFB, art. 124230. A Justiça Militar da União tem competência para julgar
somente crimes militares definidos em lei. Competência estreita, razão pela
qual o HC contra punição disciplinar militar não será julgado na Justiça
Militar, mas sim na Justiça Federal.
- CRFB, art. 109, IX231. Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves
serão de competência da Justiça Federal.
- STJ, Inf. 560232. Define navio como “embarcação de grande porte, com
capacidade para atingir águas internacionais, em situação de potencial
deslocamento”. Capacidade para atingir águas internacionais, situação de
potencial deslocamento.
- Embarcação parada, em manutenção, não está em situação de potencial
deslocamento. Assim, crime praticado em seu interior será de competência da
Justiça Estadual.
- O conceito de aeronave não é restrito como o conceito de navio. Será
considerada aeronave qualquer veículo capaz de transportar pessoas por
meio aéreo.
- A competência para crimes praticados no interior de aeronaves será da
Justiça Federal ainda que a aeronave esteja em pouso.
230
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Habeas
corpus não. Somente crimes militares.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.
231
IX - oscrimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça
Militar;
232
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR CRIME
COMETIDO A BORDO DE NAVIO.
Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime praticado a bordo de embarcação estrangeira
privada de grande porte ancorada em porto brasileiro e em situação de potencial deslocamento
internacional, ressalvada a competência da Justiça Militar. De fato, o art. 109, IX, da CRFB
determina a competência da Justiça Federal para processar e julgar “os crimes cometidos a bordo de
navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar”. Contudo, em razão da imprecisão do
termo “navio”, utilizado no referido dispositivo constitucional, a doutrina e a jurisprudência
construíram o entendimento de que “navio” seria embarcação de grande porte – embarcação seria
gênero, do qual navio uma de suas espécies – o que, evidentemente, excluiria a competência para
processar e julgar crimes cometidos a bordo de outros tipos de embarcações, isto é, aqueles que não
tivessem tamanho e autonomia consideráveis que pudessem ser deslocados para águas
internacionais (CC 43.404-SP, Terceira Seção, DJe 2/3/2005; e CC 14.488-PA, Terceira Seção, DJ
11/12/1995). Além disso, restringindo-se ainda mais o alcance do termo “navio”, a jurisprudência do
STJ também tem exigido que a embarcação de grande porte se encontre em situação de
deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (CC 116.011-SP, Terceira
Seção, DJe 1º/12/2011). Nesse sentido, a par da dificuldade de se delimitar a ideia de “potencial
deslocamento”, cuja análise impõe seja feita de maneira casuística, revela-se ponto comum na
interpretação dada pela jurisprudência desta Corte o fato de que a embarcação deva estar apta a
realizar viagens internacionais. CC 118.503-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
22/4/2015, DJe 28/4/2015.
- CRFB, art. 109, X233. Crimes de ingresso ou permanência irregular de
estrangeiro serão de competência da Justiça Federal. Ingresso ou
permanência irregular de estrangeiro.
- L6815, art. 125. Prevê alguns crimes de ingresso e permanência irregular
de estrangeiro, bem como ilícitos administrativos que ensejarão pena de
deportação. Ex. inciso XII234, declaração falsa em processo de naturalização,
dentre outros. Competência da Justiça Federal.
- CP, art. 338235. Reingresso de estrangeiro expulso. Competência da
Justiça Federal. Ingresso ou permanência irregular de estrangeiro.
- CRFB, art. 109, XI236. Crimes decorrentes de disputas sobre direitos
indígenas, coletivamente considerados, serão julgados pela Justiça Federal.
- STJ, enunciado 140 da Súmula. “Compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima.”. No
mesmo sentido, STJ, CC 38517237.
- Genocídio praticado contra população indígena, por exemplo, será crime de
competência da Justiça Federal.
- STJ decidiu que crime de porte de arma de fogo por indígena com escopo de
caça é competência da Justiça Federal, uma vez que se trataria de
preservação de tradição indígena, a caça, tendo as populações indígenas o
direito a essa preservação cultural.
4.1.1.1.1. Incidente de Deslocamento de Competência.
- CRFB, art. 109, §5238. Nas hipóteses de grave violação de direitos
humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de
233
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória,
após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade,
inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
234
XIII - fazer declaração falsa em processo de transformação de visto, de registro, de alteração de
assentamentos, de naturalização, ou para a obtenção de passaporte para estrangeiro, laissez-passer, ou,
quando exigido, visto de saída:
Pena: reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e, se o infrator for estrangeiro, expulsão.
235
Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.
236
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
237
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. CRIME PRATICADO CONTRA INDÍGENA.
A competência da Justiça Federal para processar e julgar ações penais de delitos praticados contra
indígena somente ocorre quando o processo versa sobre questões ligadas à cultura e aos direitos
sobre suas terras. O STF, no RE 419.528, afirmou que a competência da Justiça Federal, fixada no art.
109, XI, da CRFB, "só se desata quando a acusação seja de genocídio, ou quando, na ocasião ou
motivação de outro delito de que seja índio o agente ou a vítima, tenha havido disputa sobre
direitos indígenas, não bastando seja aquele imputado a silvícola, nem que este lhe seja vítima e,
tampouco, que haja sido praticado dentro de reserva indígena". Não se verificando a circunstância
diferenciadora para atrair a competência da Justiça Federal, observa-se a Súm. n. 140/STJ.
238
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de
direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça,
em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal.
direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.CRFB, art.
109, V-A239.
- Graves violações a obrigações referentes a Direitos Humanos, decorrentes de
tratados internacionais firmados pelo Brasil na ordem jurídica internacional.
Finalidade de assegurar o cumprimento desses compromissos internacionais.
- Legitimidade do Procurador-Geral da República; competência para
julgamento é do Superior Tribunal de Justiça. O incidente pode ser suscitado a
qualquer tempo, durante a investigação ou durante o processo penal.
- L11340, art. 6240. Lei Maria da Penha afirma, expressamente, que a violência
doméstica e familiar contra a mulher é forma de violação dos Direitos
Humanos.
- O incidente de deslocamento de competência também é cabível, para parte
da doutrina241, nos casos de graves violações a direitos humanos decorrentes
de fatos submetidos à jurisdição militar ou eleitoral.
- Deve restar demonstrado que o risco de graves violações a direitos humanos
previstos em tratados internacionais aos quais o Brasil se submete decorre de
inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do
Estado-membro, por suas instituições próprias, de proceder à devida
apuração e persecução penal dos fatos.
4.1.1.1.2. Competência da Justiça Militar.
- Competência rationae materiae, crimes militares definidos em lei. CRFB, art.
124242. Justiça Militar da União.
- Civil pode praticar crime militar (CPM, art. 9, III)243. Exemplo seria o crime
de estelionato militar (CPM, art. 251), praticado por civil contra a Administração
Militar; crime de furto de bem da esfera administrativa militar.
239
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
240
Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos
direitos humanos.
241
Denílson Feitoza
242
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.
243
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições
militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos
seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou
assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função
inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação,
exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem
pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a
determinação legal superior.
- Jurisprudência do STF tem afirmado que o julgamento de civis pela Justiça
Militar em tempo de paz é exceção, e somente se admite quando
vislumbrado o dolo de atingir a instituição militar. Dolo de atingir a instituição
militar.
- STJ, CC 129497244. Havendo dúvida quanto ao elemento subjetivo do militar
no crime doloso contra a vida praticado contra civil, deverá o processo tramitar
junto à Justiça Comum.
- CRFB, art. 125, §4245. Justiça Militar dos Estados. Excepcionam-se os crimes
dolosos contra a vida de civil praticados por militar, que serão julgados pelo
Tribunal do Júri, por expressa previsão constitucional e legal (CPPM, art.
82)246, com as exceções previstas no CPM247.
- Justiça Militar dos Estados não julga civis. Somente a Justiça Militar da
União pode fazê-lo. Constituição, ao falar da competência da Justiça Militar da
244
DIREITO PROCESSUAL PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR. COMPETÊNCIA PARA
PROCESSAR CRIME PRATICADO POR MILITAR CONTRA CIVIL QUANDO HOUVER DÚVIDA
QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO.
Havendo dúvida sobre a existência do elemento subjetivo do crime de homicídio, deverá tramitar
na Justiça Comum – e não na Justiça Militar – o processo que apure a suposta prática do crime
cometido, em tempo de paz, por militar contra civil. De fato, os crimes dolosos contra a vida cometidos
por militar (estadual) contra civil, mesmo que no desempenho de suas atividades, serão da
competência da Justiça Comum (Tribunal do Júri), nos termos do art. 9º, parágrafo único, do
CPM. Para se eliminar a eventual dúvida quanto ao elemento subjetivo da conduta, de modo a afirmar se
o agente militar agiu com dolo ou culpa, é necessário o exame aprofundado de todo o conjunto
probatório, a ser coletado durante a instrução criminal, observados o devido processo legal, o
contraditório e a ampla defesa. Dessa forma, o feito deve tramitar na Justiça Comum, pois, nessa situação,
prevalece o princípio do in dubio prosocietate, o que leva o julgamento para o Tribunal do Júri, caso seja
admitida a acusação em eventual sentença de pronúncia. No entanto, se o juiz se convencer de que não
houve crime doloso contra a vida, remeterá os autos ao juízo competente, em conformidade com o
disposto no art. 419 do CPP. Precedente citado: CC 130.779-RS, Terceira Seção, DJe 4/9/2014. CC
129.497-MG, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 8/10/2014.
245
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares (habeas corpus contra ato
disciplinar estadual), ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
246
Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil,
a ele estão sujeitos, em tempo de paz:
247
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das
Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto:
(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo
Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não
beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição
subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma
dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº
13.491, de 2017)
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e (Incluída
pela Lei nº 13.491, de 2017)
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
União afirma que esta será competente para julgar “os crimes militares
definidos em Lei”; ao se referir à Justiça Estadual, fala em competência para
“julgar os militares dos Estados”.
- STJ, enunciado 90 da Súmula. “Compete à Justiça Estadual Militar
processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar, e à
Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.”. CPP, art. 79,
I248.
- Crimes dolosos praticados por militar contra a vida de civil são, em regra,
competência da Justiça Comum. Exceção do chamado “tiro de destruição”,
derivado da Lei do Abate (CPM, art. 9, p. único)249. L7565, art. 303, §2250. Caso
de excesso doloso do piloto. Alteração no CPM insere novas exceções.
- STJ, enunciado 78 da Súmula. “Compete à Justiça Militar processar e julgar
policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em
outra unidade federativa.”. Atração territorial para o Estado de sua
corporação militar. Solução análoga a prefeitos.
- STJ, enunciado 172 da Súmula. “Compete à Justiça Comum processar e
julgar militar por crime de abuso de autoridade, contra vítima civil, ainda que
praticado em serviço.”. L4898, art. 5251.Não há previsão de crime de abuso de
autoridade praticado por militar contra civil no Código Penal Militar, não se
tratando, assim, de crime militar. Alteração no CPM modifica esse
entendimento, se tratando, agora, de crime militar.
- Abuso de autoridade praticado contra militar por militar é crime militar.
- STJ, enunciado 75 da Súmula. “Compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar o policial militar por crime de promover ou facilitar a fuga de
preso de estabelecimento penal”. Enunciado superado.
4.1.2. Competência Ratione Personae, em Razão da Pessoa.
- Foro por prerrogativa de função. CPP, art. 84. Critério material de definição de
competência.
- O foro por prerrogativa de função encontra fundamento na relevância das
funções prestadas pelo agente público, com escopo de preservar essas
funções. Fundamento para sua não extensão para após a cessação do
desempenho da função pública.
- Não se trata de privilégio, mas sim de uma garantia à função pública
desempenhada.
- STF. CRFB, art. 102, I, “b” e “c”252.
248
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
I - noconcurso entre a jurisdição comum e a militar;
249
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra
civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar
realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica.Tiro de abate.
250
§ 2° Esgotados os meios coercitivos legalmente previstos, a aeronave será classificada como hostil,
ficando sujeita à medida de destruição, nos casos dos incisos do caput deste artigo e após autorização do
Presidente da República ou autoridade por ele delegada.
251
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função
pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.
252
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe:
- STJ. CRFB, art. 105, I, “a”253. Note-se que somente os membros do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais serão julgados
pelo STJ. Membros do Ministério Público do Estado serão julgados pelo TJ.
- TJ. CRFB, art. 29, X254 (Prefeito); Deputados Estaduais, desde que haja
previsão de foro por prerrogativa na Constituição Estadual; Juízes
Estaduais e membros do Ministério Público do Estado (CRFB, art. 96, III) 255.
Ressalva da Justiça Especial.
- TRF, CRFB, art. 108, I, “a”256. Juízes Federais, membros do Ministério Público
da União.
- STF, enunciado 702 da Súmula. “A competência do Tribunal de Justiça
para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça
Comum estadual; nos demais casos a competência originária caberá ao
respectivo Tribunal de segundo grau.”. Solução que não se aplica a juízes
de direito, que ainda que pratiquem crime federal serão julgados perante seu
respectivo TJ, exceto no caso de crimes eleitorais.
- Prefeito que pratique crime militar será julgado perante o STM. “Respectivo
Tribunal de segundo grau”, enunciado 702 da Súmula do STF.
- Na competência por prerrogativa de função do Tribunal de Justiça e do
Tribunal Regional Federal há atração de competência territorial. Ainda que o
agente público pratique o crime em outro Estado-membro da Federação, será
257
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL.
ART. 14, DA LEI N.º 10.826/03. CRIME COMUM, SUPOSTAMENTE PRATICADO POR
PREFEITO, EM OUTRO ESTADO. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DO MUNICÍPIO GOVERNADO PELO INTERESSADO. ART. 29, INCISO X, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRERROGATIVA DE FORO CRIADA EM FUNÇÃO DA
RELEVÂNCIA DO CARGO DE PREFEITO PARA O RESPECTIVO ESTADO. CONFLITO DE
COMPETÊNCIA CONHECIDO, PARA RECONHECER A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL
SUSCITADO.
1. No caso, o Interessado, prefeito do Município de Rafael Fernandes/RN, foi autuado em flagrante-delito
em ocasião em que portava um revólver calibre 38 sem autorização ou registro, em rodovia no Município
de Salgueiro/PE. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, posteriormente, expediu
alvará de soltura. O Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, então, suscitou o presente conflito, sob
o fundamento de que a Corte potiguar não tinha jurisdição sobre crime comum ocorrido em município
pernambucano.
2. O Poder Constituinte, ao criar a prerrogativa prevista no art. 29, inciso X, da Constituição da
República, previu que o julgamento dos Prefeitos, em razão do cometimento de crimes comuns, ocorre
perante o Tribunal de Justiça.
3. A razão teleológica dessa regra é a de que, devido ao relevo da função de um Prefeito, e o interesse
que isso gera ao Estado em que localizado o Município, a apreciação da conduta deve se dar pelo
Tribunal de Justiça da respectiva unidade da Federação.
4. Ora, a Constituição é clara ao prever como um dos preceitos que regem o Município o "julgamento do
Prefeito perante o Tribunal de Justiça". Ressalte-se: está escrito no inciso X do Art. 29 da Carta Magna
"perante o Tribunal de Justiça", e não "perante Tribunal de Justiça". O artigo definido que consta na
referida redação, conferida pelo Constituinte, determina sentido à norma que não pode ser ignorado pelo
aplicador da Lei, impedindo a interpretação de que se utilizou a Corte Suscitante.
5. Outrossim, relembre-se o que já esclareceu o eminente Ministro MARCO AURÉLIO, do Supremo
Tribunal Federal: "[a] prerrogativa de foro, prevista em norma a encerrar direito estrito, visa a beneficiar
não a pessoa, mas o cargo ocupado" (HC 88.536/GO, 1.ª Turma, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJe de
15/2/2008).
6. Desta feita, não há nenhuma lógica em reconhecer a competência da Corte do local do delito no
julgamento do feito, em detrimento do interesse do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte
em apreciar causa referente a Prefeito - cujo cargo é ocupado em Município daquela unidade da
Federação.
7. Nem se diga ainda que, em razão de regra processual existente em legislação infraconstitucional,
poderia prevalecer, no caso, a competência em razão do local do cometimento do crime. Isso porque a
única interpretação que pode ser dada à hipótese é a de que qualquer regra de hierarquia inferior sobre
processo não pode sobrepor-se a determinação da Carta Magna, como por diversas vezes já esclarecido
pelo Supremo Tribunal Federal e por esta Corte.
8. Conflito de competência conhecido, para declarar como competente o Tribunal de Justiça do Estado do
Rio Grande do Norte.
258
Crime praticado por procurador da República e competência
A Segunda Turma, diante do empate na votação, concedeu “habeas corpus” de ofício em favor de
procurador da República e de advogado, presos preventivamente em razão de fatos investigados na
“Operação Patmos”. Os autos do inquérito tinham sido encaminhados ao TRF da 3ª Região, localidade
em que o procurador investigado ocupa seu cargo atualmente. Na época dos fatos, porém, o investigado
atuava como procurador da República exclusivamente no âmbito do TRF da 1ª Região.
A Turma deliberou, de início, fixar a competência do TRF da 1ª Região para processar e julgar o
investigado. Baseou-se, para tanto, na interpretação do art. 108, I, “a”, da Constituição Federal (CF),
segundo o qual compete aos TRFs processar e julgar, originariamente, os juízes federais da área de sua
jurisdição. Lotação à época do crime.
O mesmo tratamento dado aos juízes federais no tema deve ser conferido aos membros do Ministério
Público e aos advogados, tendo em vista que o vocábulo “jurisdição”, do texto constitucional, deve ser
entendido também como “atribuição”. Assim, o procurador da República precisa ser julgado pelo
crime, independentemente de eventual mudança posterior. Tribunal perante o
qual o réu oficiava na época do crime.
- Mesmo raciocínio da Súmula 702 se aplica aos demais agentes públicos
submetidos a foro por prerrogativa de função perante o Tribunal de Justiça,
notadamente o Deputado Estadual. STJ. No caso de crime federal,
competência do Tribunal Regional Federal. Exceção do juiz de direito.
- Defensores Públicos, Delegados de Polícia, só terão foro por prerrogativa de
função se a Constituição Estadual assim previr.
- STF, enunciado 45 da Súmula Vinculante. “A competência constitucional
do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função
estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.”.
- A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente por Constituição Estadual.
Supremacia da Constituição. Há entendimento doutrinário e sinalização na
jurisprudência do STJ, de que o Deputado Estadual, por uma questão de
simetria com os Deputados Federais, veria seu foro por prerrogativa de
função prevalecer sobre a competência do Tribunal do Júri; outra parte da
doutrina segue a jurisprudência hoje consolidada no STF, afirmando a
supremacia da competência do Tribunal do Júri.
- No caso de coautoria de crime, praticado por agentes com foro por
prerrogativa de função distintos259, como por exemplo um Deputado Federal
(STF) e um Desembargador Federal (STJ), a solução é controvertida na
doutrina. Duas correntes. Primeira corrente entende que haveria atração de
foro para o de maior hierarquia, entendendo não haver violação à garantia do
Juiz Natural, nos termos do enunciado 704 da Súmula do STF 260; segunda
corrente entende que os processos devem ser separados nos respectivos
foros, não podendo ser admitido que uma regra infraconstitucional (continência,
CPP) prevaleça sobre regra constitucional de competência. Na jurisprudência
prevalece a orientação do enunciado 704 da Súmula do STF. Atração para
o foro de maior hierarquia.
- O STF vem promovendo releitura do foro por prerrogativa de função,
estreitando seus limites. Assim, afirma a Corte que no caso de coautoria ou
participação envolvendo corréu com foro por prerrogativa de função, o fio
condutor da determinação de desmembramento é a união indissociável entre
as condutas, e não a mera conexão, que revela a impossibilidade de se
proceder ao desmembramento do processo.Inq 4506261.
TRF em cuja área exerce suas atribuições, sob pena de ofensa ao princípio do juiz natural. Além
disso, o Colegiado destacou o art. 70 do Código de Processo Penal (CPP), segundo o qual o foro para
julgar quaisquer crimes se processa segundo o critério “ratione loci”.
259
Continência por cumulação subjetiva.
“Não viola as garantias do Juiz Natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
260
A Turma entendeu que, na hipótese, o Ministério Público investiga um fato único, a respeito do qual
pleiteia a acusação com desmembramento de funções no fato. Dessa forma, não se aplica a conexão ou
continência entre crimes, por haver um único fato separado, o qual deve ser julgado no Supremo Tribunal
Federal (STF).
O Ministro Roberto Barroso ressaltou que o Plenário considerou excepcional o foro por prerrogativa, mas
que é a união indissociável entre as condutas, e não a mera conexão, que revela a impossibilidade de
se proceder ao desmembramento do processo. Observou que, no caso sob exame, o atual estágio da
investigação revela que as condutas dos investigados sem prerrogativa de foro estão indissociavelmente
unidas à conduta do parlamentar. Desse modo, estão de tal forma unidas que não seria possível apurar os
fatos de maneira dissociada, visto que o desmembramento, diante dos elementos coletados até o presente
momento, traria inequívoco prejuízo às investigações. União indissociável entre as condutas.
Vencido o Ministro Marco Aurélio, relator, que desprovia o agravo por considerar que o STF deveria
processar e julgar unicamente autoridades com prerrogativa de foro, tendo em conta que as normas
definidoras de sua competência são de direito estrito.
Inq 4506 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em
14.11.2017. (Inq-4506)
262
Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará
suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2o do art. 149.
§ 1o O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em
outro estabelecimento adequado.
§ 2o O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a
faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença.
263
Ação penal e “habeas corpus” de ofício - 4
Em conclusão de julgamento, a Primeira Turma, por maioria, resolveu questão de ordem no sentido de
conceder “habeas corpus”, de ofício, para trancar ação penal por ausência de justa causa. No caso,
delegado de polícia, hoje parlamentar, teria autorizado o pagamento de diárias a policial para viagens
oficiais não realizadas. O juízo recebera a denúncia referente ao crime de peculato apenas em relação à
policial. O tribunal provera recurso do “Parquet” para dar prosseguimento à ação penal relativamente ao
então delegado. Em seguida, diplomado deputado, os autos vieram ao STF. Instado a se pronunciar, o
Procurador-Geral da República deixara de ratificar a denúncia e requerera o arquivamento por entender
ausente o dolo do acusado, o que afastaria a justa causa da ação penal — v. Informativos 797 e 802. A
Turma observou que a alteração da competência inicial em face de posterior diplomação do réu não
invalidaria os atos regularmente praticados e o feito deveria prosseguir da fase em que se
encontrasse, em homenagem, ao princípio “tempus regitactum”. Ressaltou que a denúncia teria sido
regularmente recebida pelo então juízo natural. Não caberia, portanto, a ratificação da peça, o novo
oferecimento e consequentemente a renovação do ato de recebimento. Por outro lado, o pedido de
arquivamento também não seria possível neste momento processual, na medida em que o titular da ação
penal na origem exercera regularmente o recebimento da denúncia. Indisponibilidade. Entretanto, não se
poderia extirpar o direito de o Procurador-Geral da República não querer encampar a acusação.
Ação penal e “habeas corpus” de ofício - 5
Além disso, o STF não estaria vinculado ao recebimento da denúncia pelo juízo de 1º grau. Todavia, seria
processualmente adequado o exame de eventual concessão de “habeas corpus” de ofício com base na
manifestação do Procurador-Geral da República. Frisou que a orientação jurisprudencial do Tribunal seria
réu em cargo eletivo federal e deslocamento da competência para o STF.
Afirma, inclusive, não haver necessidade ou mesmo possibilidade de
ratificação da denúncia pelo Procurador-Geral da República, uma vez que
o ato processual já teria se consumado regularmente na instância
inferior.No mesmo sentido, STJ, HC 202701264. Não há que se falar em
ratificação de denúncia na instância superior.
- STF, Rcl 9248265. STF entende que, se no curso de investigação criminal
surgirem indícios de envolvimento de pessoa com foro por prerrogativa de
função, caberá ao próprio STF a decisão sobre desmembramento do feito em
relação aos demais investigados.
- STF, ADI 4791266. Corte considera constitucional a previsão de
necessidade de autorização da Assembleia Legislativa para a acusação e
no sentido de que o trancamento de ação penal pela via do “habeas corpus” só seria cabível quando
estivessem comprovadas, desde logo, a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a
evidente ausência de justa causa. Assinalou que o Procurador-Geral da República concluíra pela falta de
justa causa. Constatou não haver nos autos prova do dolo efetivo do acusado. Haveria, na denúncia, um
conjunto relevante de depoimentos, no sentido de que o réu, como delegado chefe, cumpriria função
puramente burocrática. A atribuição de autorização do pagamento das diárias seria, efetivamente, do
chefe imediato da policial. Assim, o parlamentar estaria sendo submetido a processo penal apenas pela
sua posição hierárquica, sem nenhum tipo de envolvimento direto com os fatos. Vencido Ministro Marco
Aurélio e a Ministra Rosa Weber, que entendiam não ser cabível o implemento da ordem de ofício à falta
de flagrante ilegalidade, abuso de poder ou decisão teratológica.
AP 905 QO/MG, rel. Min. Roberto Barroso, 23.2.2016. (AP- 905)
264
DIREITO PROCESSUAL PENAL. RATIFICAÇÃO DA DENÚNCIA NA HIPÓTESE DE
DESLOCAMENTO DO FEITO EM RAZÃO DE SUPERVENIENTE PRERROGATIVA DE FORO DO
ACUSADO.
Não é necessária(e sequer possível) a ratificação de denúncia oferecida em juízo estadual de
primeiro grau na hipótese em que, em razão de superveniente diplomação do acusado em cargo de
prefeito, tenha havido o deslocamento do feito para o respectivo Tribunal de Justiça sem que o
Procurador-Geral de Justiça tenha destacado, após obter vista dos autos, a ocorrência de qualquer
ilegalidade.Isso porque tanto o órgão ministerial que ofereceu a denúncia como o magistrado que a
recebeu eram as autoridades competentes para fazê-lo quando iniciada a persecução criminal, sendo que a
competência da Corte Estadual para processar e julgar o paciente só adveio quando iniciada a fase
instrutória do processo. Assim, tratando-se de incompetência superveniente, em razão da diplomação
do acusado em cargo detentor de foro por prerrogativa de função, remanescem válidos os atos
praticados pelas autoridades inicialmente competentes, afigurando-se desnecessária a ratificação de
denúncia oferecida. Desse modo, não há que se falar em necessidade de ratificação da peça inaugural,
tampouco da decisão que a acolheu, uma vez que não se tratam de atos nulos, mas válidos à época em que
praticados. Ademais, não tendo o órgão ministerial — após análise da denúncia ofertada e dos demais
atos praticados no Juízo inicialmente competente — vislumbrado qualquer irregularidade ou mácula que
pudesse contaminá-los, conclui-se, ainda que implicitamente, pela sua concordância com os termos da
denúncia apresentada. HC 202.701-AM, Rel. Ministro Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013.
265
AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. PENAL E PROCESSO PENAL.
INVESTIGAÇÃO. SURGIMENTO DE INDÍCIOS DE ENVOLVIMENTO DE PARLAMENTAR
FEDERAL NOS CRIMES INVESTIGADOS EM PRIMEIRO GRAU. CISÃO PROCESSUAL EM
PRIMEIRA INSTÂNCIA. PEDIDO DE NULIDADE DAS AÇÕES PENAIS AFETAS AO JUÍZO A
QUO DESDE A DECISÃO DO DESMEMBRAMENTO. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que “é de ser tido por afrontoso à competência do
STF o ato da autoridade reclamada que desmembrou o inquérito, deslocando o julgamento do
parlamentar e prosseguindo quanto aos demais”.
266
Licença prévia para julgamento de governador em crime de responsabilidade e crime comum - 2
Por outro lado, o Colegiado reconheceu a constitucionalidade das normas das Constituições
estaduais que exigiriam a aprovação de dois terços dos membros da Assembleia Legislativa como
processamento de Governador de Estado em crimes comuns e de
responsabilidade, sendo certo que essa necessidade de autorização não se
estende a medidas cautelares, como a prisão preventiva. Matéria em revisão.
STF modifica seu entendimento, afirmando ser inconstitucional a exigência,
contida em Constituição Estadual, de autorização de assembleia legislativa
para julgamento penal de Governador de Estado. ADI 5540 267. Julgado afirma
requisito indispensável — a denominada licença prévia — para se admitir a acusação nas ações por
crimes comuns e de responsabilidade, eventualmente dirigidas contra o governador do Estado.
Consignou que o condicionamento da abertura de processo acusatório ao beneplácito da Assembleia
Legislativa, antes de constituir uma regalia antirrepublicana deferida em favor da pessoa do governador,
serviria à preservação da normalidade institucional das funções do Executivo e à salvaguarda da
autonomia política do Estado-membro, que haveria de sancionar, pelo voto de seus representantes,
medida de drásticas consequências para a vida pública local. ADI 4791/PR, rel. Min. Teori Zavascki,
12.2.2015. (ADI-4791)
267
Processamento de governador: autorização prévia da assembleia legislativa e suspensão de funções.
Não há necessidade de prévia autorização da assembleia legislativa para o recebimento de denúncia
ou queixa e instauração de ação penal contra governador de Estado, por crime comum, cabendo ao
Superior Tribunal de Justiça (STJ), no ato de recebimento ou no curso do processo, dispor,
fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do
cargo. Incabível autorização da assembleia legislativa para processo penal contra Governador.
Com base nessa orientação, o Plenário, em conclusão e por maioria, julgou parcialmente procedente
pedido formulado em ação direta para: a) dar interpretação conforme ao art. 92, § 1º, I, da Constituição do
Estado de Minas Gerais para consignar não haver necessidade de autorização prévia de assembleia
legislativa para o recebimento de denúncia e a instauração de ação penal contra governador de Estado, por
crime comum, cabendo ao STJ, no ato de recebimento da denúncia ou no curso do processo, dispor,
fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo (ou
seja, não há afastamento automático do cargo); e b) julgar improcedente o pedido de declaração de
inconstitucionalidade da expressão “ou queixa” do art. 92, § 1º, I, da Constituição do Estado de Minas
Gerais — ver Informativos 851 e 855.
O referido dispositivo prevê que o governador será submetido a processo e julgamento perante o STJ nos
crimes comuns e será suspenso de suas funções, na hipótese desses crimes, se recebida a denúncia ou a
queixa pelo STJ.
No mérito, prevaleceu o voto do ministro Edson Fachin (relator), reajustado nesta sessão com os
acréscimos do voto do ministro Roberto Barroso no sentido do afastamento do cargo não se dar de
forma automática.
O relator afirmou a necessidade de superar os precedentes da Corte na dimensão de uma redenção
republicana e cumprir a promessa do art. 1º, “caput”, da Constituição Federal (CF), diante dos reiterados
e vergonhosos casos de negligência deliberada pelas assembleias legislativas estaduais, que têm
sistematicamente se negado a deferir o processamento de governadores. Asseverou ser refutável a referida
autorização prévia em razão de: a) ausência de previsão expressa e inexistência de simetria; b) ofensa ao
princípio republicano (CF, art. 1º, “caput”); c) ofensa à separação de poderes (CF, art. 2º, “caput”) e à
competência privativa da União (CF, art. 22, I); e d) ofensa à igualdade (CF, art. 5º, “caput”).
Esclareceu não haver na CF previsão expressa da exigência de autorização prévia de assembleia
legislativa para o processamento e julgamento de governador por crimes comuns perante o STJ. Dessa
forma, inexiste fundamento normativo-constitucional expresso que faculte aos Estados-membros fazerem
essa exigência em suas Constituições estaduais.
Não há, também, simetria a ser observada pelos Estados-membros. No ponto, o relator considerou que, se
o princípio democrático que constitui nossa República (CF, art. 1º, “caput”) se fundamenta e se concretiza
no respeito ao voto popular e à eleição direta dos representantes do povo, qualquer previsão de
afastamento do presidente da República é medida excepcional e, como tal, é sempre prevista de forma
expressa e taxativa, sem exceções.
O afastamento do presidente da República é medida excepcional, e, no caso de crime comum, seu
processamento e julgamento devem ser precedidos de autorização da Câmara dos Deputados (CF, arts.
51, I; e 86, “caput” e § 1º, I). Essa exigência foi expressamente prevista apenas para presidente da
República, vice-presidente e ministros de Estado. Essa é uma decorrência das características e
competências que moldam e constituem o cargo de presidente da República, mas que não se observam no
cargo de governador.
inconstitucional, ainda, a previsão de afastamento automático do Governador
pelo recebimento de denúncia ou queixa-crime pelo STJ, e a previsão de
julgamento de crimes de responsabilidade praticados por Governador de
Estado pela Assembleia Legislativa268. Constituição Estadual não pode prever
competência de assembleia legislativa para julgamento de crime de
responsabilidade.
- Lembre-se que a competência para julgamento de governadores de Estado
por crime de responsabilidade é de tribunal especial, composto por 05 (cinco)
membros da Assembleia Legislativa e 05 (cinco) desembargadores do Tribunal
de Justiça, sob a presidência do Presidente desta Corte. L1079, art. 78, §3269.
- STJ270 entende que, não obstante seja o juízo do foro por prerrogativa o
competente para exercer o controle de legalidade da investigação,
notadamente aquele referente ao prazo de conclusão das investigações (CPP,
art. 10, §3)271, não há necessidade de autorização judicial para instauração
de investigação criminal contra pessoa com foro por prerrogativa de
função, à exceção de pessoas com foro por prerrogativa perante o STF.
- STF, AP 937272. Corte fixa entendimento no sentido de que o foro por
prerrogativa de função só abarca crimes praticados após a diplomação ou
Esse é o entendimento do Plenário, ao resolver questão de ordem para determinar a baixa de ação penal
ao juízo da zona eleitoral para posterior julgamento, tendo em vista que: a) os crimes imputados ao réu
não foram cometidos no cargo de deputado federal ou em razão dele; b) o réu renunciou ao cargo para
assumir a função de prefeito; e c) a instrução processual se encerrou perante a 1ª instância, antes do
deslocamento de competência para o Supremo Tribunal Federal (STF) (Informativos 867 e 885).
Prevaleceu o voto do ministro Roberto Barroso (relator), o qual registrou que a quantidade de pessoas
beneficiadas pelo foro e a extensão que se tem dado a ele, a abarcar fatos ocorridos antes de o indivíduo
ser investido no cargo beneficiado pelo foro por prerrogativa de função ou atos praticados sem qualquer
conexão com o exercício do mandato que se deseja proteger, têm resultado em múltiplas
disfuncionalidades.
A primeira delas é atribuir ao STF uma competência para a qual ele não é vocacionado. Nenhuma corte
constitucional no mundo tem a quantidade de processos de competência originária, em matéria penal,
como tem a do Brasil. E, evidentemente, na medida em que desempenha esse papel de jurisdição penal de
primeiro grau, o STF se afasta da sua missão primordial de guardião da Constituição e de equacionamento
das grandes questões nacionais.
O procedimento no Supremo é muito mais complexo do que no juízo de primeiro grau, por essa razão
leva-se muito mais tempo para apreciar a denúncia, processar e julgar a ação penal. Consequentemente, é
comum a ocorrência de prescrição, o que nem sempre acontece por responsabilidade do Tribunal, mas por
conta do próprio sistema.
Portanto, o mau funcionamento do sistema traz, além de impunidade, desprestígio para o STF. Como
consequência, perde o Direito Penal o seu principal papel, qual seja, o de atuar como prevenção geral.
O relator frisou que a situação atual revela a necessidade de mutação constitucional. Isso ocorre quando a
corte constitucional muda um entendimento consolidado, não porque o anterior fosse propriamente
errado, mas porque: a) a realidade fática mudou; b) a percepção social do Direito mudou; ou c) as
consequências práticas de uma orientação jurisprudencial se revelaram negativas. As três hipóteses que
justificam a alteração de uma linha de interpretação constitucional estão presentes na hipótese dos autos.
A nova interpretação prestigia os princípios da igualdade e republicano, além de assegurar às pessoas o
desempenho de mandato livre de interferências, que é o fim pretendido pela norma constitucional.
Ademais, viola o princípio da igualdade proteger, com foro de prerrogativa, o agente público por atos
praticados sem relação com a função para a qual se quer resguardar sua independência, o que constitui a
atribuição de um privilégio.
Além disso, o princípio republicano tem como uma das suas dimensões mais importantes a possibilidade
de responsabilização dos agentes públicos. A prescrição, o excessivo retardamento e a impunidade, que
resultam do modelo de foro por prerrogativa de função, não se amoldam ao referido princípio.
A Corte registrou que essa nova linha interpretativa deve ser aplicada imediatamente aos processos
em curso, com a ressalva de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e pelos demais
juízos com base na jurisprudência anterior, conforme precedente firmado no Inq 687 QO/SP (DJU de
25.8.1999).
Vencidos, em parte, os ministros Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski, apenas quanto à restrição
do foro aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
Ambos consideraram que a expressão “nas infrações penais comuns”, prevista no art. 102, I, “b”, da
Constituição Federal, alcança todos os tipos de infrações penais, ligadas ou não ao exercício do mandato.
Vencido, em parte, o ministro Marco Aurélio, tão somente quanto à prorrogação da competência para
processar e julgar ações penais após a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais.
reeleições mantém hígido o vínculo funcional entre delito e cargo, aplicando-se
o foro por prerrogativa. STF, Inq 4435273
- STJ, QO na APn 703274. A iminente prescrição do crime praticado por
Desembargador excepciona o entendimento consolidado na APn 937 – o foro
por prerrogativa de função é restrito a crimes cometidos ao tempo do exercício
do cargo e que tenham relação com o cargo – e prorroga a competência do
Superior Tribunal de Justiça.
- STJ, QO na APn 878275. Corte afirma que no caso de crimes praticados por
membros da magistratura de segundo grau e seguintes, não relacionados com
273
O relator assinalou, ainda, que o parlamentar exercia mandato de deputado estadual naquela época.
Segundo a jurisprudência desta Corte, o instituto da prerrogativa de foro pressupõe infração praticada no
exercício do mandato e relacionada às funções desempenhadas (AP 937 QO). Assim, não se configura
situação a incidir a competência do Supremo à supervisão do inquérito, por se tratar de fato delituoso
distinto, anterior ao exercício do cargo de deputado federal.
Noutro passo, o ministro reconsiderou a decisão agravada e assentou a manutenção da competência do
STF no tocante aos fatos ocorridos em 2014, consistentes no alegado recebimento de valor, a título de
doação ilegal, por dizer respeito à campanha para reeleição ao cargo de deputado federal, portanto,
vinculado ao mandato parlamentar desempenhado desde 2011. A seu ver, mostra-se desimportante a
circunstância de os delitos haverem sido praticados em mandato anterior, bastando que a atual
diplomação decorra de sucessivas e ininterruptas reeleições.
274
Inicialmente cumpre salientar que o voto condutor do acórdão proferido pelo STF na QO na APn 937
considerou que a cláusula constitucional que confere prerrogativa de foro a agentes públicos deve ser
compreendida à luz dos princípios constitucionais estruturantes da igualdade e da República. Isto porque,
tal como qualquer outro cidadão, os agentes públicos devem responder comumente pela prática de delitos
que não guardem relação com o desempenho das funções inerentes ao cargo que ocupam. Como o foro
por prerrogativa de função é uma exceção ao princípio republicano, concluiu o STF que ele deve
ser interpretado restritivamente, de modo a funcionar como instrumento para o livre exercício de
certas funções públicas, mas não de modo a acobertar agentes públicos da responsabilização por
atos estranhos ao exercício de suas funções. Na sessão de julgamento de 20/06/2018, a Corte Especial
do Superior Tribunal de Justiça finalizou o julgamento da Questão de Ordem na Ação Penal 857 e efetuou
o julgamento de Agravos Regimentais na Ação Penal 866, fixando o entendimento de que as razões de
decidir adotadas pelo STF no julgamento da QO na AP 937 se impunham igualmente na interpretação da
extensão da prerrogativa de foro que a Constituição (art. 105, I, "a") confere aos Conselheiros de
Tribunais de Contas e aos Governadores. Na hipótese, situação em que o réu é Desembargador, em que,
como visto, a extensão da prerrogativa de foro é questão a ser ainda enfrentada pela Corte Especial, e o
cumprimento da pena pelo crime cometido pode restar prejudicado pela iminente ocorrência da
prescrição, o processamento da ação penal permanecerá no Superior Tribunal de Justiça.
275
O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o julgamento nas hipóteses em que, não
fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da Constituição Federal), o desembargador acusado houvesse de
responder à ação penal perante juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal.
Cinge-se a controvérsia a saber se desembargador que responde pela prática, em tese, de delito de lesão
corporal tem ou não prerrogativa de foro. O crime que é imputado ao réu não tem relação com o exercício
do cargo, de modo que, a princípio, aplicando-se o precedente do Supremo Tribunal Federal no
julgamento da QO na AP 937, não teria o réu foro no Superior Tribunal de Justiça. Porém, quanto aos
membros da magistratura nacional, pode-se afirmar que as razões subjacentes à norma
constitucional que estabelece foro por prerrogativa de função vão além daquela considerada pelo
STF (a de que o titular da prerrogativa de foro possa exercer suas funções de forma livre e
independente). É que, em se tratando de acusado e de julgador, ambos, membros da magistratura
nacional, pode-se afirmar que a prerrogativa de foro não se justifica apenas para que o acusado pudesse
exercer suas atividades funcionais de forma livre e independente, pois é preciso também que o julgador
possa reunir as condições necessárias ao desempenho de suas atividades judicantes de forma
imparcial. Esta necessidade não se revela como um privilégio do julgador ou do acusado, mas como uma
condição para que se realize justiça criminal. Ser julgado por juiz com duvidosa condição de se posicionar
de forma imparcial, afinal, violaria a pretensão de realização de justiça criminal de forma isonômica e
republicana. A partir desta forma de colocação do problema, pode-se argumentar que, caso
o exercício da função, se excepcionaria o entendimento esposado pelo STF,
referente à inaplicabilidade do foro por prerrogativa de função, uma vez que o
julgamento de magistrado de primeiro grau poderia criar embaraço a este,
comprometendo sua imparcialidade.
4.1.2.1. Foro por Prerrogativa de Função e Manutenção do Cargo ou Mandato.
- CPP, art. 84, §§1 e 2, declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal
Federal. Não há que se falar em manutenção de foro por prerrogativa de
função após o término do mandato ou do exercício do cargo, uma vez que não
há mais função sendo desempenhada.
- STF, Inf. 750276. Compete ao Supremo Tribunal Federal decidir quanto à
conveniência de desmembramento de procedimento de investigação ou
desembargadores, acusados da prática de qualquer crime (com ou sem relação com o cargo de
Desembargador) viessem a ser julgados por juiz de primeiro grau vinculado ao Tribunal ao qual ambos
pertencem, se criaria, em alguma medida, um embaraço ao juiz de carreira. Isso porque, consoante a
disciplina jurídica aplicável, os Tribunais locais (por meio de seus desembargadores) promovem sua
própria gestão (art. 96, I, "a", e art. 99 da Constituição) e correicionam as atividades dos juízes de
primeiro grau de jurisdição (art. 96, I, "b"), além de deliberarem sobre o vitaliciamento e efetuarem a
movimentação dos juízes na carreira, por antiguidade ou merecimento (art. 93, II e III) e, até, autorizarem
ou não o juiz a residir fora da comarca (art. 93, VII) e mesmo a fruição de licença, férias ou outros
afastamentos (art. 96, I, "f"). Neste contexto normativo constitucional, é de se questionar se resultaria em
credibilidade ou, eventualmente, em descrédito à justiça criminal a sentença penal prolatada por juiz de
primeiro grau que estivesse a apreciar se o desembargador que integra seu tribunal há de ser considerado
culpado ou não culpado pela infração a ele imputada.
276
Competência por prerrogativa de foro e desmembramento - 1
Compete ao Supremo Tribunal Federal decidir quanto à conveniência de desmembramento de
procedimento de investigação ou persecução penal, quando houver pluralidade de investigados e
um deles tiver prerrogativa de foro perante a Corte. Com base nessa orientação, a 2ª Turma resolveu
questão de ordem no sentido de que fosse promovida a remessa à origem das ações penais autuadas no
STF, bem como dos autos indiciários relacionados a não parlamentares, para que lá tivessem curso. A
Turma determinou fosse promovido o desmembramento do feito, a permanecer sob a jurisdição do STF a
investigação que tem como alvo integrante do Congresso Nacional, com remessa dos demais autos
indiciários ao juízo de origem. Na espécie, reclamação fora protocolada no STF sob a alegação de que
magistrado federal teria usurpado a competência do STF, porque diligências investigatórias presididas por
aquele juízo teriam, dentre seus alvos, agentes políticos com foro por prerrogativa de função perante o
Supremo (CRFB, art. 102, I, b). Solicitadas informações pelo Ministro Teori Zavascki (relator), o
magistrado reclamado esclarecera que, durante interceptação telemática, teriam sido colacionadas, em
encontro fortuito de provas, mensagens trocadas com pessoa identificada por determinado sobrenome.
Explicara que, somente após buscas e apreensões, a polícia federal concluíra que o nome citado se
referiria a deputado federal. Depreendera, do conteúdo das mensagens, possível caráter criminoso. O
magistrado destacara, ainda, que o parlamentar não fora investigado no processo e que as supostas provas
em relação a ele teriam surgido fortuitamente, após interceptação dos terminais de outra pessoa, não
parlamentar. Pontuara que, no material selecionado pelo próprio juízo reclamado para remessa ao STF,
haveria relatório de monitoramento telemático datado de 17.4.2014, em que teriam sido trocadas
mensagens entre determinada pessoa e parlamentar, ao longo de largo período de tempo. Na sequência, o
relator, Ministro Teori Zavascki, deferira a liminar na reclamação para suspender o processamento dos
inquéritos e das ações penais relacionados pela autoridade reclamada e determinara a remessa imediata
dos autos correspondentes ao STF. Esclarecera que assim, teriam sido remetidos ao STF os autos das
presentes ações penais acompanhados de outros procedimentos investigatórios em curso.
Competência por prerrogativa de foro e desmembramento - 2
A Turma consignou que a competência de foro por prerrogativa de função seria matéria de direito
estrito, reservada às ações penais e aos inquéritos em que se figurasse patente a participação das
autoridades indicadas no preceito constitucional. Pontuou que, em relação ao parlamentar com
prerrogativa de foro perante o STF, a referência a ele teria sido veiculada somente a partir de 17.4.2014,
nos autos de interceptação telefônica e telemática de não parlamentar. Registrou que, com relação às
ações penais em que não figurassem pessoas com prerrogativa de foro, não haveria razão para submetê-
las à jurisdição do STF. Reputou que essas ações deveriam ser remetidas ao juízo de primeiro grau para
persecução penal, quando houver pluralidade de investigados e um deles tiver
prerrogativa de foro perante a Corte.
- STF, enunciado 704 da Súmula. “Não viola as garantias do Juiz Natural, da
ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão
do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
condenados.”. No Informativo 750, STF afirma que o juízo de conveniência
do desmembramento do processo quanto a réus com e sem prerrogativa
de foro será sempre do Supremo. CPP, art. 80277. Separação facultativa. No
mesmo sentido, STF, Rcl 9248278 e Inq 3842279.
que lá reassumissem seu curso a partir do estado em que se encontrassem. Considerou que essas
providências não deveriam inibir que a higidez dos atos e provas neles produzidos viesse a receber o
controle jurisdicional apropriado, se fosse o caso.Enfatizou que não caberia a qualquer órgão
judiciário de inferior jurisdição manter, em situações em que houvesse hipótese de conexão ou de
continência de causas — em relação a terceiros que não detivessem prerrogativa de foro — a
tramitação da persecução penal. Concluiu que o juízo de conveniência fundado no art. 80 do CPP,
quanto à eventual cisão processual, competiria sempre ao STF. Advertiu que, definida objetivamente uma
data no tempo — 17.4.2014 — os atos probatórios produzidos antes desse momento se revestiriam de
plena validade.
277
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas
em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e
para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar
conveniente a separação.
278
AG. REG. NA Rcl N. 9.248-PE
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. PENAL E PROCESSO PENAL.
INVESTIGAÇÃO. SURGIMENTO DE INDÍCIOS DE ENVOLVIMENTO DE PARLAMENTAR
FEDERAL NOS CRIMES INVESTIGADOS EM PRIMEIRO GRAU. CISÃO PROCESSUAL EM
PRIMEIRA INSTÂNCIA. PEDIDO DE NULIDADE DAS AÇÕES PENAIS AFETAS AO JUÍZO A
QUO DESDE A DECISÃO DO DESMEMBRAMENTO. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que “é de ser tido por afrontoso à competência do
STF o ato da autoridade reclamada que desmembrou o inquérito, deslocando o julgamento do
parlamentar e prosseguindo quanto aos demais” (Rcl 1121, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO,
Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2000, DJ 16-06-2000 PP-00032 EMENT VOL-01995-01 PP-00033).
2. Contudo, o sistema processual penal consagra o princípio do pas de nullitesansgrief, segundo o qual, a
teor do disposto no art. 565, do CPP, “nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar
prejuízo para a acusação ou para a defesa”.
3. O dano deve ser concreto e efetivamente demonstrado para fins de reconhecimento de eventual
nulidade.
279
EMENTA: Agravos regimentais. Inquérito. Investigados sem prerrogativa de foro junto à Suprema
Corte. Desmembramento. Questão de ordem suscitada por integrante da Turma no julgamento de outro
recurso. Rejeição. Posterior cisão ordenada, monocraticamente, pelo Relator. Admissibilidade.
Inexistência de preclusão para o Relator. Inteligência do art. 21, I, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal. Ausência de ofensa ao princípio da colegialidade. Submissão da matéria, ademais, ao
colegiado, pela via do agravo interno. Excepcionalidade da competência originária do Supremo Tribunal
Federal. Precedentes. Recursos não providos.
1. A negativa de desmembramento do feito, em questão de ordem rejeitada pelo Colegiado, não importou
em preclusão da matéria para o relator, diante da natureza rebus sic stantibus daquela decisão.
2. Não houve ofensa ao princípio da colegialidade, uma vez que o relator pode determinar o
desmembramento de inquéritos ou ações penais, com fundamento no art. 21, I, do Regimento Interno
do Supremo Tribunal Federal.
3. Ademais, a própria interposição de agravo interno contra a decisão de desmembramento submete a
controvérsia à Turma julgadora, de modo a concretizar o princípio em questão.
- STF, Inf. 740280. Em face da renúncia de parlamentar do cargo que lhe
garantia foro por prerrogativa de função, Supremo Tribunal Federal decidira
da instrução processual (Lei 8.038/1990, art. 11). Frisou que a renúncia após o citado marco indicaria
presunção relativa de que teria sido feita para afastar a competência do STF. O Ministro Dias Toffoli, por
sua vez, aventou o lançamento, pelo relator da ação penal, do visto com a liberação do processo ao
revisor. Os Ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes e Marco Aurélio ponderaram que o exame sobre a
ocorrência, ou não, do eventual exercício abusivo do direito de renunciar deveria ser feito caso a caso. Por
fim, o Tribunal deliberou pela apreciação do tema em outra ocasião, uma vez que não fora alcançada a
maioria absoluta no sentido da definição, para o futuro, de critério objetivo referente à preservação da
competência penal originária da Corte na hipótese de renúncia do réu ao mandato parlamentar.
281
Ademais, fixada a tese segundo a qual o foro por prerrogativa de função se aplica apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas, impende assestar o
marco temporal para fins de prorrogação da competência do STJ. Nesse diapasão, o critério do fim da
instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações
finais, parece adequado como marco temporal para a prorrogação da competência desta Corte
superior para julgamento das ações penais originárias, visto constituir referência temporal objetiva,
privilegiando, ainda, o princípio da identidade física do juiz, ao valorizar o contato do magistrado
julgador com as provas produzidas na ação penal.
282
AP N. 568-SC
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA : PROCESSO PENAL. AÇÃO PENAL. QUESTÃO DE ORDEM. DEPUTADO FEDERAL
NÃO REELEITO. PERDA SUPERVENIENTE DE PRERROGATIVA DE FORO. INSTRUÇÃO
CONCLUÍDA. ATIPICIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA MANIFESTA. HABEAS CORPUS DE
OFÍCIO. CONCESSÃO. ABSOLVIÇÃO.
1. A Turma, por maioria de votos, já decidiu que a renúncia de parlamentar, após o final da instrução,
não acarreta a perda de competência do Supremo Tribunal Federal. Precedente: AP 606-QO, Rel. Min.
Luís Roberto Barroso (Sessão de 07.10.2014). Renúncia após final da instrução não desloca
competência.
2. No Inq 3734, a Turma entendeu, por ocasião do recebimento da denúncia, que na hipótese de não
reeleição não se aplica o mesmo critério de fixação de competência.
3. O caso presente, que envolve julgamento de ação penal, é análogo a este último. No entanto, a
instrução foi concluída e o voto do relator preparado quando o denunciado ainda era titular de mandato.
4. Diante disso, o relator propôs a concessão de habeas corpus de ofício, já que seu voto era pela
absolvição. A Turma concordou que vulneraria o mandamento da celeridade processual deixar-se de
formalizar a extinção do processo com base no art. 386, III do CPP quando relator e revisor já haviam
formado tal convicção.
4.1.3. Competência Ratione Loci, em Razão do Lugar.
- CPP, art. 70. Em regra, a competência será determinada pelo local onde se
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, o local da prática do último
ato de execução.
- Não se deve falar em teoria do resultado na medida em que nem todos os
crimes são de resultado. Crimes formais e de mera conduta, onde a atividade
consumará o crime, sem existência necessária (formal) de resultado físico.
Local em que o crime se consumou, não local em que ocorreu o resultado.
- No caso de tentativa a teoria adotada é a da atividade.
- L9099, art. 63283. Nos crimes de menor potencial ofensivo, submetidos ao
rito da L9099, a competência será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal. Teoria da atividade.
- Observe-se que, no Código Penal, art. 6284 adota-se a teoria da ubiquidade,
considerando-se local do crime aquele onde ocorreu a ação ou omissão, bem
como onde se produziu ou deveria produzir o resultado. Aparente antinomia
com a L9099, art. 63. Não obstante, doutrina entende que a L9099 adota a
teoria da atividade.
- A regra de competência do CPP, art. 70, sofre diversas mitigações pela
jurisprudência, a maioria com escopo de facilitar a investigação e instrução
probatória.
- No crime de homicídio, entende a jurisprudência que caso a conduta
seja praticada em um local e o resultado se consume em outro, a
competência será do local da ação, onde a coleta de provas será mais
eficaz.
- STJ, Inf. 518285. No caso de ação penal destinada à apuração de estelionato
praticado mediante fraude para a concessão de aposentadoria, é competente
o juízo do lugar em que situada a agência onde inicialmente recebido o
benefício, ainda que este, posteriormente, tenha passado a ser recebido em
agência localizada em município sujeito a jurisdição diversa.
- CPP, art. 71286. Crimes plurilocais. Tratando-se de infração continuada ou
permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a
283
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração
penal.
284
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.Norma que tem por escopo afirmar
a territorialidade da jurisdição brasileira, e não definir competência territorial para julgamento.
285
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR
ESTELIONATO PRATICADO MEDIANTE FRAUDE PARA A CONCESSÃO DE
APOSENTADORIA.
No caso de ação penal destinada à apuração de estelionato praticado mediante fraude para a concessão de
aposentadoria, é competente o juízo do lugar em que situada a agência onde inicialmente recebido o
benefício, ainda que este, posteriormente, tenha passado a ser recebido em agência localizada em
município sujeito a jurisdição diversa. Segundo o art. 70 do CPP, a competência será, em regra,
determinada pelo lugar em que se consumar a infração, o que, em casos como este, ocorre no
momento em que recebida a indevida vantagem patrimonial. Assim, embora tenha havido a
posterior transferência do local de recebimento do benefício, a competência já restara fixada no
lugar em que consumada a infração. CC 125.023-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
13/3/2013.
286
Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou
mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
competência firmar-se-á pela prevenção. Crimes permanentes a
competência deveria ser fixada pela prevenção, ao contrário do entendimento
esposado pelo STJ no julgado supracitado.
- STJ, Inf. 526287. Competência para processar e julgar o crime de peculato-
desvio é o do local onde efetivamente ocorreu o desvio da verba pública, e
não o local para onde foram os valores desviados.
- Crime de descaminho se consuma no momento em que o agente ingressa
com bens importados no país, elidindo o pagamento dos tributos devidos.
Assim, deveria ser competente para julgar o crime o juízo federal do local de
ingresso do agente no país. Entretanto, não é esse o entendimento do STJ,
exposto no enunciado 151 de sua Súmula. “A competência para o processo
e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela
prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.”. Local da
apreensão dos bens.
- CPP, art. 70, §3288. Quando incerto o limite territorial entre duas jurisdições, a
competência se determinará pela prevenção.
- STJ, enunciado 244 da Súmula289. Estelionato praticado mediante pagamento
com cheque sem fundos será julgado no juízo do local de recusa ao
pagamento da cártula pelo sacado, ou seja, o local da agência ao qual o
título de crédito está vinculado. STF, enunciado 521 da Súmula290, mesmo
entendimento.
- STJ, enunciado 48 da Súmula. ”Compete ao Juízo do local da obtenção da
vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante
falsificação de cheque.”.
- STF, enunciado 554 da Súmula291. Pagamento de cheque sem fundos antes
do recebimento da denúncia extingue a punibilidade. Entende a Corte que o
287
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR O CRIME
DE PECULATO-DESVIO.
Compete ao foro do local onde efetivamente ocorrer o desvio de verba pública – e não ao do lugar
para o qual os valores foram destinados – o processamento e julgamento da ação penal referente ao
crime de peculato-desvio (art. 312, "caput", segunda parte, do CP). Isso porque a consumação do
referido delito ocorre quando o funcionário público efetivamente desvia o dinheiro, valor ou outro bem
móvel. De fato, o resultado naturalístico é exigido para a consumação do crime, por se tratar o peculato-
desvio de delito material. Ocorre que o resultado que se exige nesse delito não é a vantagem obtida
com o desvio do dinheiro, mas sim o efetivo desvio do valor. Dessa forma, o foro do local do desvio
deve ser considerado o competente, tendo em vista que o art. 70 do CPP estabelece que a competência
será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração. CC 119.819-DF, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 14/8/2013.
288
§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição
por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência
firmar-se-á pela prevenção.
289
Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem
provisão de fundos.
290
O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da
emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento
pelo sacado.
291
O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta
ao prosseguimento da ação penal.
pagamento antes do recebimento da denúncia lança dúvidas sobre o dolo de
fraudar, chamado dolusfraus. STF, enunciado 246 da Súmula292.
- STF entendeu não ser cabível a incidência do enunciado 554 de sua
Súmula aos crimes de apropriação indébita. Arrependimento posterior.
- STJ, Inf. 515293. Competência para processar e julgar crime de racismo
praticado pela internet será do juízo do local onde teve início a apuração das
condutas, que deverá processar e julgar todos os supostos responsáveis
pela troca de mensagens de conteúdo racista em comunidades de rede
social na internet, ainda que morem fora do território nacional, salvo
quanto a eventuais processos em que já tiver sido proferida sentença.
Note-se que no caso de crime de racismo, o crime se consuma com a simples
publicação das mensagens. Prevenção, conexão probatória.
- Brasil não é signatário de tratados específicos para racismo religioso,
não podendo, pois, ser o crime julgado pela Justiça Federal, ainda que haja
transnacionalidade. Verificar modificação de postura do STF, referente à
competência da Justiça Federal para concessão de medidas protetivas à
mulher em caso de transnacionalidade de ameaças. Escopo de proteção de
tratados internacionais de direitos humanos, ainda que não prevejam tipificação
de condutas.
- CPP, art. 72. Domicílio ou residência do réu. Critério subsidiário. Não sendo
conhecido o local do crime, a competência regular-se-á pela residência ou
domicílio do réu.
292
“Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos.”.
293
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR OS
SUPOSTOS RESPONSÁVEIS PELA TROCA DE MENSAGENS DE CONTEÚDO RACISTA EM
COMUNIDADES DE REDE SOCIAL NA INTERNET.
Ainda que os possíveis autores dos fatos criminosos tenham domicílio em localidades distintas do
território nacional, compete ao juízo do local onde teve início a apuração das condutas processar e
julgar todos os supostos responsáveis pela troca de mensagens de conteúdo racista em comunidades
de rede social na internet, salvo quanto a eventuais processos em que já tiver sido proferida
sentença. Em situações como essa, embora cada mensagem constitua crime único, existe conexão
probatória entre os processos instaurados para a apuração das condutas. A circunstância na qual os
crimes teriam sido praticados – troca de mensagens em comunidade virtual – estabelece uma relação de
confiança, ainda que precária, entre os usuários, cujo viés pode facilitar a identificação da autoria. Com
efeito, ao ingressar em uma comunidade virtual, o usuário tem a expectativa de que os demais membros
compartilhem da sua opinião. Dessa maneira, não é incomum que o vínculo estabelecido vá além da mera
discussão, propiciando uma autêntica troca de informações, inclusive pessoais, entre os usuários desse
espaço. Ademais, é a forma por meio da qual os membros interagem na comunidade virtual que cria o
nexo entre as mensagens que ali circulam e, consequentemente, estabelece um liame entre as condutas
supostamente ilícitas. Assim, embora a competência para processar e julgar o crime de racismo praticado
por meio da internet se estabeleça de acordo com o local de onde partiram as manifestações tidas por
ofensivas, o modus operandi consistente na troca de mensagens em comunidade virtual deve ser
considerado como apto a caracterizar a conexão probatória (art. 76, III, do CPP). Portanto, constatada a
suposta ocorrência de crimes conexos, a competência deve ser fixada pela prevenção, em favor do
juízo no qual as investigações tiveram início, com ressalva apenas quanto a eventuais processos em
que já tenha sida proferida a sentença. Com efeito, de acordo com o disposto no art. 82 do CPP, se,
“não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de
jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já
estiverem com sentença definitiva”. Ainda acerca desse ponto, deve ser mencionada a Súmula 235 do
STJ, segundo a qual a “conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado”.
Precedente citado: CC 102.454-RJ, DJe 15/4/2009. CC 116.926-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 4/2/2013.
- Existente mais de uma residência, a competência se firma pela prevenção.
- Caso o réu não tenha residência certa ou seja ignorado seu paradeiro, a
competência será firmada por prevenção no juízo que primeiro tomar
conhecimento do fato. O mesmo ocorrerá no caso de delito transnacional em
que não se tenha definição de autoria. STJ, CC 130134294.
- CPP, art. 73295. No caso de ação exclusiva privada, o querelante poderá
preferir o foro de domicílio do réu, ainda que conhecido o local da infração.
Note-se que não é possível ao querelante escolher seu próprio domicílio. Ação
penal privada, é possível escolher-se o domicílio do réu. Lembre-se que não há
arquivamento de inquérto policial que apura ação penal privada.
- CPP, art. 89296. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas
territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de
embarcações nacionais, em alto-mar, serão processados e julgados pela
justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o
crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que houver
tocado.
- Lembre-se que navio é a embarcação de grande porte, capaz de alcançar
águas internacionais, em situação de potencial deslocamento.
- Mesma regra é aplicada a crimes praticados a bordo de aviões. CPP, art.
90297.
- Não sendo sabido o local de onde partiram aviões e navios ou onde
chegaram, a competência se firmará pela prevenção. CPP, art. 91 298.
294
DIREITO PROCESSUAL PENAL. DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA APURAÇÃO DA
PRÁTICA DO CRIME PREVISTO NO ART. 241 DO ECA.
Não tendo sido identificado o responsável e o local em que ocorrido o ato de publicação de imagens
pedófilo-pornográficas em site de relacionamento de abrangência internacional, competirá ao juízo
federal que primeiro tomar conhecimento do fato apurar o suposto crime de publicação de
pornografia envolvendo criança ou adolescente (art. 241 do ECA). Por se tratar de site de
relacionamento de abrangência internacional – que possibilita o acesso dos dados constantes de suas
páginas, em qualquer local do mundo, por qualquer pessoa dele integrante – deve ser reconhecida, no que
diz respeito ao crime em análise, a transnacionalidade necessária à determinação da competência da
Justiça Federal. Posto isso, cabe registrar que o delito previsto no art. 241 do ECA se consuma com o
ato de publicação das imagens. Entretanto, configurada dúvida quanto ao local do cometimento da
infração e em relação ao responsável pela divulgação das imagens contendo pornografia infantil, deve se
firmar a competência pela prevenção a favor do juízo federal em que as investigações tiveram início (art.
72, § 2º, do CPP). CC 130.134-TO, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE),
julgado em 9/10/2013.
295
Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou
da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.
296
Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou nos rios
e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão processados e
julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o crime, ou,
quando se afastar do País, pela do último em que houver tocado.
297
Art. 90. Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo correspondente ao
território brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço aéreo
correspondente ao território nacional, serão processados e julgados pela justiça da comarca em cujo
território se verificar o pouso após o crime, ou pela da comarca de onde houver partido a aeronave.
298
Art. 91. Quando incerta e não se determinar de acordo com as normas estabelecidas nos arts. 89 e 90,
a competência se firmará pela prevenção.
- Crimes praticados fora do território brasileiro serão julgados na capital do
Estado-membro onde por último residiu o acusado no território nacional. Se o
autor nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo do DF. CPP, art.
88299.
- CPP, art. 74. Competência pela Natureza da Infração. A organização
judiciária local pode prever distribuição de competência pela natureza da
infração, com especialidade da matéria.
- Havendo mais de um Juiz competente na mesma circunscrição judiciária, a
competência será fixada pela distribuição. CPP, art. 75300.
- A distribuição realizada para concessão de fiança, decretação de prisão
preventiva ou qualquer outra medida cautelar prevenirá a da ação penal.
CPP, art. 75, parágrafo único. Note-se que matéria julgada no regime de
plantão judiciário não gera prevenção.
- Prevenção é uma antecipação. Concorrendo dois ou mais juízes igualmente
competentes ou com jurisdição cumulativa, prevento é aquele que primeiro
pratica atos no processo ou medidas relativas ao mesmo, ainda que na
fase de investigação.
- STJ, enunciado 706 da Súmula. “É relativa a nulidade decorrente da
inobservância da competência penal por prevenção.”. Relativa a nulidade,
deve ser comprovado o prejuízo para seu reconhecimento. Pas de
nullitèsansgrief. Lembre-se que a nulidade relativa vicia somente os atos
decisórios.
- Até mesmo para incompetência absoluta tem se admitido a ratificação
dos atos praticados no curso do processo, com seu saneamento.
- STJ, APn 295301. Recebimento de denúncia por autoridade absolutamente
incompetente é ato absolutamente nulo, e não interrompe a prescrição.
4.1.3.1. Conexão e Continência.
4.1.3.1.1. Conexão.
- É a interligação entre duas ou mais infrações, decorrentes de várias
condutas, levando à sua apreciação perante o mesmo órgão jurisdicional,
em processo único, em prol da celeridade do feito e com escopo de evitar-se
decisões contraditórias.
- Divide-se em: conexão intersubjetiva; conexão teleológica; conexão
probatória.
4.1.3.1.1.1. Conexão Intersubjetiva.
299
Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo da
Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil,
será competente o juízo da Capital da República.
300
Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição
judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente.
Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de
prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação
penal.
301
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECEBIMENTO DE DENÚNCIA POR
AUTORIDADE INCOMPETENTE E PRESCRIÇÃO.
Quando a autoridade que receber a denúncia for incompetente em razão de prerrogativa de foro do
réu (competência absoluta), o recebimento da peça acusatória será ato absolutamente nulo e,
portanto, não interromperá a prescrição. Precedente citado do STJ: REsp 819.168-PE, Quinta Turma,
DJ 5/2/2007.
CPP, art. 76, I302. Duas ou mais infrações penais praticadas por duas ou
mais pessoas. São três casos possíveis. Conexão intersubjetiva por
simultaneidade; conexão intersubjetiva concursal; conexão intersubjetiva por
reciprocidade.
- Infrações praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas.
Conexão intersubjetiva por simultaneidade.
- Infrações praticadas por várias pessoas em concurso, embora diverso o
tempo e o lugar. Conexão intersubjetiva concursal.
- Infrações penais praticadas por várias pessoas, umas contra as outras.
Conexão intersubjetiva por reciprocidade.
4.1.3.1.1.2. Conexão Teleológica.
- CPP, art. 76, II303. Duas ou mais infrações penais praticadas para facilitar ou
ocultar uma à outra, ou para conseguir impunidade ou vantagem em
relação a qualquer delas.
- Uma infração é praticada para facilitar ou ocultar outra, ou para assegurar
a impunidade ou a vantagem decorrente do crime.
- Crime de lavagem de capitais e o crime antecedente serão conexos, via de
regra, pela conexão teleológica, uma vez que o crime de lavagem tem por
escopo garantir a vantagem decorrente de crime antecedente. Reunião dos
processos do crime antecedente e do crime de lavagem será decidida pelo
Juízo competente para o crime de lavagem, por expressa previsão legal.
L9613, art. 2, II304.
4.1.3.1.1.3. Conexão Probatória, ou Instrumental.
- CPP, art. 76, III305. Prova de uma das infrações penais praticadas interfere na
prova da outra infração praticada.
4.1.3.1.2. Continência.
- CPP, art. 77306. Continência existirá quando duas ou mais pessoas forem
acusadas pela mesma infração penal. Distinto da conexão intersubjetiva
302
Art. 76. A competência será determinada pela conexão:
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas (simultaneidade) ou por várias pessoas em concurso (concurso), embora diverso o
tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras (reciprocidade);
303
Art. 76. A competência será determinada pela conexão:
(...)
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
304
II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em
outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de
processo e julgamento;
305
Art. 76. A competência será determinada pela conexão:
(...)
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na
prova de outra infração.
306
Art. 77. A competência será determinada pela continência quando:
I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54
do Código Penal.
concursal onde, além do concurso de agentes, haverá mais de um crime.
Conexão trata sempre de multiplicidade de crimes.
- Existe ainda a chamada continência pela cumulação objetiva, que ocorrerá
quando uma mesma pessoa praticar váriasinfraçõespenais. CP, arts. 70307,
73308 e 74309. Concurso formal de crimes. Continência pela cumulação objetiva.
- Assim, são casos de continência o concurso de agentes para a prática do
mesmo crime, ou o concurso formal de crimes para um só agente, aberratio
ictus e aberratio criminis.
4.1.3.1.3. Foro Prevalente.
- Ocorrendo conexão ou continência, haverá um foro prevalente, que atrairá o
julgamento dos demais processos. CPP, art. 78 310.
- Havendo conexão entre a competência do Tribunal do Júri e de outro
órgão da jurisdição comum, prevalecerá o Tribunal do Júri. Tribunal do júri
atrai a competência dos outros crimes, exceto nos casos de crime militar ou
eleitoral.
- No concurso de jurisdições da mesma categoria, preponderará a do lugar da
infração à qual for cominada a pena mais grave.
- STJ, enunciado 122 da Súmula. “Compete à Justiça Federal o processo e
julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e
estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II «a», do CPP”. Justiça Estadual
é comum perante a Justiça Federal.
- Caso os crimes praticados tenham pena cominada idêntica, será competente,
na ocorrência de conexão e da continência, o juízo do local onde tenham
sido praticados o maior número de crimes.
- Praticados o mesmo número de crimes em locais distintos, com penas
idênticas, a competência será fixada pela prevenção.
307
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em
qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou
omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no
artigo anterior.
308
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra
aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a
pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
309
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime,
sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como
crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
310
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes
regras:
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a
competência do júri; exceto para Justiça Eleitoral e Militar.
II - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas
penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. Justiça Eleitoral.
- No concurso entre jurisdições de categorias diversas, prevalecerá a de maior
graduação. CPP, art. 78, III.
- Havendo foros por prerrogativa de função diversos, deverá ser o processo
desmembrado, respeitando-se a competência constitucional. Entretanto, vige o
enunciado 704 da Súmula do STF, que acaba deixando ao alvedrio da Corte a
decisão sobre desmembramento.
- CPP, art. 78, IV. No concurso entre jurisdição comum e a especial,
prevalecerá a especial. Justiça Eleitoral é jurisdição especial. STF, Pet 7319 311.
4.1.3.1.4. Separação de Processos.
- A separação de processos poderá ser obrigatória ou facultativa.
4.1.3.1.4.1. Separação Obrigatória.
- Concurso entre jurisdição militar e comum, e entre juízo de infância e
adolescência e comum, haverá separação obrigatória, ainda que haja
conexão ou continência. CPP, art. 79312.
311
Delitos eleitorais conexos com crimes comuns
A Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental interposto contra decisão que havia
determinado a cisão de investigações com a remessa de declarações prestadas em colaboração premiada
às Seções Judiciárias do Distrito Federal e do Paraná.
O caso versa sobre fatos imputados a diretor de empresa de comunicação que teria recebido supostos
pagamentos irregulares no contexto de campanha eleitoral de candidato ao cargo de governador de estado.
O Colegiado asseverou que a matéria em questão é única e exclusivamente eleitoral, e, por se tratar
de delitos eleitorais conexos com crimes comuns, seu processamento é da competência da justiça
especializada. (1) (2).
Com base nesse entendimento, determinou o envio dos termos de depoimento dos colaboradores e de
eventual documentação correlata à Justiça Eleitoral.
Perceba-se que essa posição não é pacífica na doutrina, que entende que, tendo tanto a competência da
Justiça Eleitoral quando a competência da Justiça Federal assento constitucional, deveria haver separação
dos processos, para preservação das respectivas esferas jurisdicionais. Nesse sentido, Leandro Paulsen. O
STF, entretanto, reafirmou seu entendimento no Inq 4435, julgado pelo Plenário:
313
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou
cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.
314
Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso
até que o acusado se restabeleça, observado o § 2o do art. 149.
§ 1o O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em
outro estabelecimento adequado.
§ 2o O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a
faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença.
315
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das
provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art.
312.Suspenso o processo e o prazo prescricional.
316
Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas poderão ser feitas por um só defensor.
§ 1o A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das recusas, não for obtido o
número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença.
317
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não
Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
4.1.3.1.4.3. PerpetuatioJurisdictionis.
- CPP, art. 81318. Verificada a reunião dos processos por conexão ou
continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou
tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para
outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em
relação aos demais processos. Absolvição ou desclassificação. Extinção da
punibilidade não.
- Absolvição ou desclassificaçãoatraem a perpetuatiojurisdictionispara os
demais crimes; extinção de punibilidade, por exemplo, não enseja o instituto,
havendo remessa dos autos dos demais crimes para o juízo competente.
Hipóteses taxativas.Extinção da punibilidade não atrai a perpetuatio, havendo
declínio de competência.
- STJ. “Ainda que desapareça a causa que atraiu a competência para
determinado órgão jurisdicional, a regra da perpetuatiojurisdictionis(CPP, art.
81) impõe ao magistrado a continuidade no julgamento da causa, aproveitando-
se a instrução penal realizada, de modo a possibilitar um trilhar menos oneroso
às partes e ao Estado, sem, obviamente, olvidar os direitos individuais do
acusado, atendendo-se assim aos princípios da economia processual e da
identidade física do juiz. Na espécie, a absolvição do corréu do delito de tráfico
internacional de entorpecentes não tem o condão e impedir a análise do fato
remanescente, pois a cogitada conexão instrumental, ainda que não
comprovada nos autos, é bastante para perpetuar a competência do paciente,
nos moldes do CPP, art. 81, afastando-se a declaração de nulidade da ação
penal, sob o argumento da incompetência do juízo sentenciante.”. HC 217363.
- Não há perpetuatiojurisdictionisna primeira fase do Júri; se o juiz no
sumário da culpa vier a desclassificar, impronunciar ou absolver o
acusado, de maneira a excluir a competência do Tribunal do Júri, remeterá o
processo ao Juízo competente. CPP, art. 81, parágrafo único.
- Na segunda fase do Júri, em Plenário, caso os jurados condenem ou
absolvam o réu pelo crime doloso contra a vida, continuarão competentes para
o julgamento dos demais crimes conexos.
- Caso o Conselho de Sentença desclassifique o crime para outro que não seja
de competência do Tribunal do Júri, o Juiz-Presidente do Tribunal do Júri
julgará o crime, bem como os conexos. CPP, art. 491, §1319.
- STF320. A modificação de competência territorial através da criação de nova
vara no local do crime não altera a competência se já iniciado o processo,
318
Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da
sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que
desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em
relação aos demais processos. Absolvição ou desclassificação. Extinção da punibilidade não.
Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o juiz,
se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a
competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente.
319
§ 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente
do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da
nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos
arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
320
Criação de nova vara e “perpetuatiojurisdictionis” - 4
A criação superveniente de vara federal na localidade de ocorrência de crime doloso contra a vida
não enseja a incompetência do juízo em que já se tenha iniciado a ação penal. Com base nesse
incidindo, na hipótese, a perpetuatiojurisdictionis, mantendo-se o processo no
Juízo de origem.
4.1.3.1.4.4. Avocatória.
- CPP, art. 82321. Se, não obstante a conexão ou continência, forem
instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá
avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já
estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só
se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.
- STJ, REsp1557461322. A alteração da data-base para concessão de novos
benefícios executórios, em razão da unificação das penas, não encontra
respaldo legal.
base para concessão de novos benefícios. Por conseguinte, deduz-se que a alteração do termo a quo
referente à concessão de novos benefícios no bojo da execução da pena constitui afronta ao princípio da
legalidade e ofensa à individualização da pena, motivo pelo qual se faz necessária a preservação do marco
interruptivo anterior à unificação das penas.Unificação de penas não modifica a data-base para
concessão de benefícios da execução penal. Ainda que assim não fosse, o reinício do marco temporal
permanece sem guarida se analisados seus efeitos na avaliação do comportamento do reeducando. Caso o
crime cometido no curso da execução tenha sido registrado como infração disciplinar, seus efeitos já
repercutiram no bojo do cumprimento da pena, pois, segundo a jurisprudência consolidada desta Corte
Superior, a prática de falta grave interrompe a data-base para concessão de novas benesses, à
exceção do livramento condicional, da comutação de penas e do indulto. Portanto, a superveniência
do trânsito em julgado da sentença condenatória não poderia servir de parâmetro para análise do mérito
do apenado, sob pena de flagrante bis in idem. No mesmo caminho, o delito praticado antes do início da
execução da pena não constitui parâmetro idôneo de avaliação do mérito do apenado, porquanto evento
anterior ao início do resgate das reprimendas impostas não desmerece hodiernamente o comportamento
do sentenciado e não se presta a macular sua avaliação, visto que é estranho ao processo de resgate da
pena. A unificação de nova condenação definitiva já possui o condão de recrudescer o quantum de pena
restante a ser cumprido pelo reeducando, logo, a alteração da data-base para concessão de novos
benefícios, a despeito da ausência de previsão legal, configura excesso de execução, baseado apenas em
argumentos extrajurídicos.
323
Art. 4o A admissão do preso, condenado ou provisório, dependerá de decisão prévia e
fundamentada do juízo federal competente, após receber os autos de transferência enviados pelo
juízo responsável pela execução penal ou pela prisão provisória. Competência pela natureza do
prédio. Admissão fica subordinada à decisão fundamentada do juiz federal competente, que será
provocado por pedido do juiz estadual sentenciante.
§ 1o A execução penal da pena privativa de liberdade, no período em que durar a transferência,
ficará a cargo do juízo federal competente.
de liberdade substituídas por restritivas de direito será feita diretamente pela
Justiça Federal, a despeito do enunciado 192 da Súmula do STJ.Competência
pela natureza do prédio.
4.2.2. Objeto do Juízo.
- Cada órgão jurisdicional exerce a competência sobre determinadas
questões324 a serem decididas no processo, como ocorre em juízos colegiados
heterogêneos.
§ 2o Apenas a fiscalização da prisão provisória será deprecada, mediante carta precatória, pelo juízo de
origem ao juízo federal competente, mantendo aquele juízo a competência para o processo e para os
respectivos incidentes.
324
Lembrando que “questão” é doutrinariamente definida como “todo ponto de fato ou de direito
controvertido no processo”.
5. Medidas Cautelares.
- CPP, art. 282324.
- As medidas cautelares devem ser aplicadas com observância do princípio da
proporcionalidade, por expressa previsão legal, atendendo a imperativos de
necessidade e adequação. Conceitos relacionais.
- A necessidade se relaciona à aplicação da lei penal, à investigação ou instrução
criminal, e em alguns casos, à ordem pública. Periculum libertatis.
- A adequação se relaciona à gravidade do crime, às circunstâncias do fato, e
condições pessoais do indiciado ou acusado. A medida cautelar deve atingir ao
objetivo que a se propõe.
- A gravidade do crime denota a proporcionalidade em sentido estrito que deve
orientar a imposição de cautelares. Crimes pouco graves ou circunstâncias sem
gravidade específica não podem ensejar medidas mais graves do que o estritamente
necessário. Proibição de excesso e proibição de proteção deficiente.
- As medidas cautelares são cumulativas, podendo ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
- As medidas cautelares serão decretadas pelo Juiz, de ofício ou a requerimento das
partes, durante a ação penal, ou a requerimento da autoridade policial ou mediante
representação do Ministério Público, durante a investigação criminal. Sistema
acusatório.
- L11340, art. 20324. Afirma a possibilidade da prisão preventiva do agressor em
qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, de ofício, pelo Juiz. Nítida
violação do sistema acusatório, devendo ser o texto interpretado conforme à
Constituição, limitando as hipóteses de decretação da prisão preventiva de ofício ao
curso do processo penal.
- Não há necessidade de oitiva do Ministério Público em pedidos de prisão
preventiva, não havendo previsão legal para tanto; em pedidos de prisão temporária,
ao contrário, há previsão expressa de oitiva do Ministério Público. L7960, art. 2, §1324.
Não há previsão legal de oitiva do Ministério Público no caso de prisão preventiva.
- CPP, art. 282, §3. Prevê que, ressalvados casos urgentes ou quando caracterizado o
perigo de ineficácia da medida, o Juiz, ao receber pedido de medida cautelar,
determinará a intimação da parte para que se manifeste sobre o requerimento.
Naturalmente a norma contida no parágrafo só terá aplicação em casos onde não haja
perigo de ineficácia da medida.
- CPP, art. 282, §4. Descumpridas quaisquer obrigações cautelares impostas, o Juiz, de
ofício ou a requerimento, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação ou, em
último caso, decretar a prisão preventiva. Prisão preventiva como ultimaratio.
- CPP, art. 282, §5. Toda medida cautelar é precária, se submetendo à cláusula rebus.
Juiz pode revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como voltar a decretá-la se sobrevierem razões que a
justifiquem.
- CPP, art. 282, §6. Reforça o caráter de ultimaratio da prisão preventiva, só sendo
cabível quando não forem adequadas as outras medidas cautelares previstas no Código.
- Princípio da individualização das medidas cautelares. Assim como a
individualização da pena, afirma a doutrina que as medidas cautelares devem ser regidas
também por um imperativo de individualização, observados os balizamentos legais do
instituto. Adequação das medidas cautelares ao indivíduo que a elas se submete.
5.1. Prisão Cautelar.
- Prisão é o cerceamento da liberdade de locomoção, que pode decorrer do trânsito em
julgado ou da decisão colegiada de segundo grau (prisão-pena), ou da necessidade
devidamente justificada de encarceramento antes daqueles marcos, nas hipóteses
estritamente previstas em lei (prisão cautelar).Periculum libertatis e fumus comissi
delicti.
- CRFB, art. 5, LXI324. Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.
- CPP, art. 283324. Reforça o previsto na Constituição Federal, afirmando que ninguém
poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória
transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de
prisão temporária ou prisão preventiva.
- STF, HC 126292324. Corte decide que a execução provisória de acórdão penal
condenatório proferido em julgamento de apelação, ainda que sujeito a Recurso
Especial ou Recurso Extraordinário, não compromete o princípio constitucional da
presunção de inocência. Admite-se, assim, a execução provisória da pena após
julgamento condenatório de segundo grau de jurisdição. Exaurimento das instâncias
de análise fática do processo.
- STF, HC 136720324. Corte entende que, em casos em que foi concedido ao autor o
direito de aguardar em liberdade o trânsito em julgado da sentença penal condenatória,
não poderiam as Cortes Superiores, em recurso interposto exclusivamente pela defesa,
determinar a imediata execução da pena ainda provisória, caracterizando-se, no caso,
reformatio in pejus.
- CPP, art. 283, §1. As medidas cautelares previstas no Título do Código de Processo
Penal, não se aplicam à infração penal à qual não for cominada, cumulativa ou
alternativamente, pena privativa de liberdade. Infrações cuja pena seja
exclusivamente de multa, ou restritiva de direitos (L11343, art. 28, v.g.) não ensejam
medidas cautelares.
- STJ, tese. “As medidas cautelares diversas da prisão, ainda que mais benéficas,
implicam em restrições de direitos individuais, sendo necessária fundamentação
para sua imposição.”.
- CPP, art. 283, §2. Possibilidade de cumprimento da prisão preventiva em qualquer dia
e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio.
Lembre-se que a possibilidade de ingresso em domicílio durante o dia pode ser
analisada pelo critério artificial, que considera dia o período compreendido entre 06h-
18h; e o critério naturalístico que usa a luz do sol como critério para definição do dia.
- CPPM, art. 18324. Permite prisão disciplinar, temporária, na fase de inquérito, sem
ordem judicial e sem flagrante. Duração máxima de 30 (trinta) dias, prorrogável por
mais 20 (vinte) dias. Crimes propriamente militares324. Constitucionalidade
reconhecida.
5.1. Prisão em Flagrante.
- Flagrante denota a situação de ocorrência atual de crime. Trata-se de medida
restritiva de liberdade de natureza cautelar, de caráter preponderantemente
administrativo, que não exige ordem escrita do Juiz, uma vez que ocorre de forma
inopinada. Natureza cautelar e administrativa. Medida restritiva de liberdade de
natureza cautelar.
5.1.1. Natureza Jurídica.
- A prisão em flagrante é ato complexo, com duas etapas, a prisão captura (captura e
lavratura do auto, conduzida pela autoridade policial, natureza administrativa), e
comunicação ao juiz (natureza processual), sendo que a homologação, a manutenção
ou a convolação só podem ocorrer se presentes os pressupostos da prisão preventiva.
Prisão captura e comunicação ao juiz.
- CPP, art. 301324. Flagrante obrigatório e flagrante facultativo. Qualquer do povo
poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja
encontrado em flagrante delito. Forças de segurança tem dever legal, enquanto
estiverem em horário de trabalho, de realizar a prisão em flagrante, derivado da
própria função pública exercida.
5.1.2. Espécies de Prisão em Flagrante Delito.
- CPP, art. 302324. Positiva a existência de 03 (três) espécies de flagrante: próprio;
impróprio; presumido.
5.1.2.1. Flagrante Próprio.
- CPP, art. 302, I e II.
- Crime que está acontecendo ou acaba de acontecer.
5.1.2.2. Flagrante Impróprio.
- CPP, art. 302, III.
- Ocorre quando o autor é perseguido logo após a pratica do crime, pela autoridade,
ofendido ou qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração
penal.
- Essa perseguição pode se dar após o lapso temporal mínimo necessário à polícia
chegar ao local, colher as provas e iniciar a perseguição. CPP, art. 290324, critérios
definidores da perseguição, sendo possível que se perca o autor de vista, desde que não
haja solução de continuidade nas diligências persecutórias.
- Enquanto houver perseguição ininterrupta haverá possibilidade de prisão em
flagrante, independentemente do tempo que leve a caçada, dentro de limites de
razoabilidade.
5.1.2.3. Flagrante Presumido.
- CPP, art. 302, IV.
- Autor é encontrado, logo após a ocorrência do crime, em posse de instrumentos,
armas, objetos ou papéis que indiquem, presumidamente, ser ele o sujeito ativo da
infração penal.
- Encontro do agente, no flagrante presumido, se dá sem perseguição, logo depois da
prática do crime. Aqui deve haver relação de imediatismo entre a prática criminosa e o
encontro do agente pelo condutor do flagrante.
- Flagrante lastreado em indícios.
5.1.2.4. Flagrante Esperado.
- Ocorre quando alguém toma conhecimento da ocorrência iminente do fato e se
antecipa a este, impedindo sua consumação.
- É considerado legítimo pela jurisprudência.
- Intervenção de seguranças de estabelecimentos comerciais, após monitoramento de
agente que indica ter intenção de furtar324, é considerada flagrante esperado, não crime
impossível.
- Flagrante esperado é flagrante próprio, uma vez que a intervenção do agente deve se
dar tão logo se inicie a execução. Crime ocorrendo. Intervenção antes do início dos
atos de execução não caracterizará flagrante, pela ausência de crime. Atos preparatórios,
apenas, em regra impuníveis. Teorias sobre início da execução, objetiva, subjetiva ou
objetiva-subjetiva.
- No flagrante esperado o terceiro não pode exercer qualquer estímulo ao autor para
a prática do crime, sob pena de se caracterizar flagrante preparado, considerado
crime impossível pela jurisprudência.
- Na maioria dos casos de flagrante esperado haverá tentativa de crime, uma vez que a
intervenção policial evitará a consumação do crime.
5.1.2.5. Flagrante Preparado ou Provocado.
- Ocorre quando o agente é estimuladopela vítima ou mesmo pela autoridade policial,
os chamados agentes provocadores, a praticar a infração penal, com o escopo de
prendê-lo, o que torna impossível a consumação do delito.
- STF, enunciado 145 da Súmula. “Não há crime, quando a preparação do flagrante
pela polícia torna impossível a sua consumação.”. Crime impossível, uma vez que o
agente provocador impede de forma absoluta a consumação do crime.
- Naturalmente, caso o crime se consume não há que se falar em crime impossível.
Presença do agente provocador não foi suficiente para evitar a prática do crime.
- Note-se que, a rigor, o agente provocador é um partícipe do crime, instigando,
induzindo, auxiliando a prática do crime, mas, depois, impedindo sua consumação.
- STJ. “Por essa razão, havendo notícias nos autos segundo as quais os acusados
mantinham drogas em depósito antes da simulação de compra feita pelos agentes
policiais, impossível o reconhecimento de crime impossível em razão de flagrante
preparado.”. HC 67639. Tipo misto alternativo, tem como um dos verbos do tipo “ter
em depósito”, caracterizando-se o flagrante independente da venda da droga.
5.1.2.6. Flagrante Prorrogado, Protelado, Diferido, ou Ação Controlada.
- Em algumas situações, para melhor proveito da investigação criminal, a Polícia pode
aguardar o momento mais oportuno para efetuar a prisão em flagrante, mesmo que
essa atitude implique em postergação da prisão.
- Trata-se de mitigação da obrigatoriedade da polícia de realizar a prisão em flagrante
delito, do flagrante obrigatório. Tem por escopo a obtenção aprofundada de elementos
de informação.
- O flagrante diferido é admitido em 03 (três) hipóteses no ordenamento jurídico
brasileiro. L12850, L11343, L9613.
- L12850, art. 8324. Lei de Organização Criminosa. Consiste a ação controlada em
retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por
organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e
acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à
formação de provas e obtenção de informações.
- Intervenção policial ou administrativa.
- Note-se que o flagrante postergado é admitido tanto para o crime de organização
criminosa como para crime por ela praticado. Assim, na prática, o flagrante
postergado pode incidir sobre a prática de qualquer crime, desde que praticado no
contexto de organização criminosa.
- É imperativa a manutenção dos autores em observação e acompanhamento, para
que a medida se concretize no melhor momento possível. Manutenção dos autores em
observação e acompanhamento.
- Não há necessidade de autorização judicial, bastando a comunicaçãoprévia e
sigilosa324do ato ao Juiz, podendo o magistrado, se for o caso, estabelecer limites à ação
controlada, comunicando-os ao Ministério Público. Controle da proporcionalidade e
razoabilidade da medida.
- Até término da diligência de ação controlada o acesso aos autos será restrito ao Juiz,
ao Ministério Público e ao Delegado de Polícia, lavrando-se, ao final, auto
circunstanciado dos resultados.
- L12850, art. 9324. Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o
retardamento da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a
cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino
do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto,
instrumento ou proveito do crime. Cooperação jurídica internacional, respeito à
soberania de outros Estados.
- STF, HC 147837324. Corte afirma a necessidade de autorização judicial para a
infiltração policial em organizações criminosas, e diferencia as figuras do agente de
inteligência, que atua difusamente na coleta e canalização de informações, e o agente
infiltrado, que atua na coleta de informações referentes a uma organização criminosa ou
prática criminosa específica.
- L11343, Lei de Drogas, art. 53324. Prevê o retardamento da prisão em flagrante de
portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua
produção, com finalidade de identificar e responsabilizar o maior número de
integrantes das operações de tráfico e distribuição de drogas.
- Aqui o instituto é chamado de entrega vigiada.
- Entrega vigiada requer autorização judicial, ouvido o Ministério Público. A
autorização será concedida desde que conhecido o itinerário provável da entrega de
drogas, e a identidade dos sujeitos ativos da infração penal, ainda que por alcunhas.
- L9613, art. 4-B324. A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de
bens, direitos ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público,
quando a sua execução imediata puder comprometer as investigações.
- Tem por escopo, outrossim, a adequada coleta de informações e provas referentes aos
delitos praticados.
- Autorização judicial é necessária, ouvido o Ministério Público. O único caso de ação
controlada onde não há autorização judicial ou oitiva prévia do Ministério Público é o
previsto na Lei de Organizações Criminosas, lei mais nova das três, que requer apenas
comunicação prévia.
- O rol de ações controladas é taxativo, somente nesses 03 (três) casos será ela possível.
Expressa previsão legal.
5.1.2.7. Flagrante em Crimes Permanentes.
- CPP, art. 303324. Crime permanente tem sua consumação alongada no tempo,
caracterizando lesão ininterrupta ao bem jurídico, o que permite a prisão em flagrante
delito do agente enquanto não cessa a permanência, uma vez queestá o agente
praticando a infração penal continuamente com seu comportamento. Flagrante
próprio.
- Cessada a permanência poderá haver flagrante nos mesmos moldes de crime comum,
observando-se o lapso temporal para início da perseguição (flagrante impróprio), do
encontro imediato do agente com instrumentos e bens que façam presumir ser ele o
autor da infração (flagrante presumido).
- Há polêmica sobre a natureza do crime de lavagem de capitais, se instantâneo com
efeitos permanentes ou permanente. Há quem entenda que alguns verbos do tipo penal
de lavagem, como “ocultar”, seriam permanentes. Baltazar entende tratar-se de crime
permanente.STF afirma que se trata de crime permanente.
5.1.2.8. Flagrante em Crime Continuado.
- Crime continuado é concurso material de crimes tratado de maneira especial por
razões de política criminal. Ficção jurídica para fins de aplicação da pena.
- O flagrante, em crime continuado, será realizado sobre cada crime individualmente,
independente dos demais. A consideração dos crimes como continuadossó incidirá no
momento de aplicação da pena, comprovado o nexo de continuidade, e não no momento
pré-processual do flagrante. Nexo de continuidade, elementos objetivos, subjetivo e
análise conglobante da trama delitiva.
5.1.2.9. Flagrante em Crime Habitual.
- Crime habitual é aquele que se consuma a partir da prática delitiva, com ânimo de
habitualidade, que é elemento subjetivo especial do crime. Haverá um só crime,
habitual, e não continuado.
- Parte tradicional da doutrina, entretanto, entende não ser possível a priori a
caracterização do crime habitual sem a reiteração das condutas.
- Doutrina de vanguarda fala do dolo de habitualidade, elemento subjetivo especial, que
possibilitaria a prisão em flagrante sem que haja de fato a reiteração da conduta,
bastando ainequívoca intenção em dar continuidade ao crime. Essa corrente admite
também a tentativa de crime habitual. Dolo de habitualidade.
5.2.1.10. Flagrante em Crimes de Ação Privada e de Ação Pública Condicionada.
- Para a lavratura do auto de prisão nesses casos é necessária a manifestação do
ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça, nos mesmos moldes da instauração do
inquérito policial; ausente esta, o autor da infração penal deverá ser liberado.
- Observe-se que, não obstante para lavratura do auto de prisão em flagrante seja
necessária a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça, será
possível em qualquer caso a prisão captura do agente do crime, forçando a
interrupção do crime.
5.1.2.11. Flagrante em Infrações de Menor Potencial Ofensivo.
- L9099, art. 69324, parágrafo único. Não se imporá prisão em flagrante, nem se
exigirá fiança ao autor de crime de menor potencial ofensivo que seja
imediatamente encaminhado ao Juiz ou assine termo de compromisso de
comparecimento ao Juízo, após lavratura do termo circunstanciado de ocorrência.
- Caso o conduzido se negue a assinar o termo de compromisso de comparecimento,
ser-lhe-á arbitrada fiança-crime (CPP, art. 322)324.
- Em caso de infração de menor potencial ofensivo envolvendo violência doméstica ou
familiar contra a mulher não se aplicará a L9099. STJ, enunciado 536 da Súmula. “A
suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.”.
- No caso de violência domiciliar envolvendo hipervulneráveis, como criança ou
adolescente, mulheres, idosos, deficientes, poderá o Juiz determinar cautelarmente o
afastamento do agressor do lar.
- L11343, art. 48324. No caso do crime previsto na L11343, art. 28, não se imporá
prisão em flagrante, em razão da falta de cominação de pena privativa de liberdade no
tipo. Note-se que a Lei prevê que o conduzido deverá ser encaminhado ao Juízo
competente imediatamente, o que na prática jamais acontece, ou assinar termo de
compromisso de comparecimento a Juízo. Caso se negue a fazê-lo, ainda assim não será
possível a prisão em flagrante, livrando-se solto o autor. É expressamente vedada a
detenção do agente.
5.1.3. Procedimentos e Formalidades Legais da Prisão em Flagrante.
- A prisão em flagrante passa por fases definidas. A primeira delas é a captura do
agente, que como dito pode ser feita por qualquer um do povo ou por agentes policiais
(CPP, art. 301)324; segue-se com a condução coercitiva e apresentação à Autoridade
Policial competente; será realizada então a lavratura do auto de prisão em flagrante,
ouvindo-se os envolvidos, testemunhas, realizando-se as diligências cabíveis (CPP, art.
304)324; não sendo caso de livrar-se solto o conduzido324 ou de arbitramento de fiança,
será ele recolhido ao cárcere; comunica-se então à família ou a pessoa indicada a prisão
do conduzido; finalmente, comunica-se a prisão em flagrante ao Juízo e ao Ministério
Público, encaminhando-lhe cópias do auto de prisão em flagrante em até 24 (vinte e
quatro) horas. No caso de ausência de defensor constituído, será também comunicada da
prisão à Defensoria Pública, no mesmo prazo. CPP, art. 306324.
- No mesmo prazo de 24 (vinte e quatro) horas será entregue ao preso a nota de culpa,
consignando os responsáveis por sua prisão, e as razões da prisão. A ausência da
nota de culpa caracterizará ilegalidade formal do auto de prisão em flagrante e, por
consequência, ilegalidade da própria prisão.
- A falta de encaminhamento de cópia do flagrante à Defensoria não enseja ilegalidade
da prisão em flagrante delito, ainda que o autuado não tenha apontado advogado
próprio, tratando-se de mera irregularidade.
- A falta de testemunha da infração penal não impedirá a lavratura do auto de prisão em
flagrante, devendo, no caso, assinar o auto pelo menos duas pessoas que hajam
testemunhado a apresentação do preso à autoridade. São as chamadas testemunhas
instrumentais ou indiretas. CPP, art. 304, §2324.
- Testemunha fedatáriaé a testemunha que depõe sobre a regularidade de um ato,
ou seja, são as testemunhas que confirmam a autenticidade de um ato processual
realizado. Depõem, portanto, sobre a regularidade de atos que presenciaram, não
sobre os fatos que constituem o objeto principal do julgamento. São, por exemplo,
as testemunhas instrumentárias do interrogatório extrajudicial (art. 6º, V, parte
final, do CPP), do auto de prisão em flagrante (art. 304 , § 2º e 3º , do CPP) etc.
5.1.4. Audiência de Custódia.
- A Convenção Interamericana Sobre Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa
Rica, art. 7, item 5 324, afirma que “Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser
conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei
a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser
posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser
condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.”.
- A audiência de custódia tem por escopo a análise da legalidade e necessidade da
prisão, análise esta feita na presença do preso, o que possibilita uma melhor
compreensão dos fatos; aponta-se ainda a possibilidade de verificação de eventuais
maus-tratos e coações impostas ao preso, podendo mesmo determinar a imediata
apuração de qualquer abuso ocorrido.
- Observe-se que, tendo por escopo apenas analisar a legalidade e necessidade da prisão,
não faz coisa julgada a fundamentação subjacente às decisões tomadas em audiência de
custódia. STF, HC 157306324.
- No controle de legalidade da prisão realizada na audiência de custódia (CPP, art.
310)324, o Juiz poderá relaxar a prisão em flagrante ilegal; decretar a prisão
preventiva ou outra medida cautelar diversa da prisão; manter solta a pessoa suspeita da
prática de determinado delito, se verificar ausentes os pressupostos de prisão cautelar
presentes no CPP, art. 312324.
5.2. Prisão Preventiva.
- É a prisão cautelar de índole mais ampla, podendo ser decretada durante toda a
persecução criminal até o trânsito em julgado da sentença condenatória (CPP, art.
311)324, por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente (CRFB,
art. 5, LXI), desde que presentes o suporte probatório mínimo, com indícios de autoria e
prova da materialidade, bem como alguma das razões legais que fundamentam a
necessidade da custódia cautelar.
- A prisão preventiva se submete à cláusula rebus sic stantibus. Presentes seus
pressupostos, poderá ser regularmente imposta ao acusado; mudança fática que os
torneausentes ensejará sua revogação, sem prejuízo de eventual reimposição no caso de
ressurgimento dos pressupostos legais.
- Prisão preventiva só pode ser decretada de ofício pelo juiz no curso da ação penal.
Sistema acusatório. L11340, art. 20324. Interpretação conforme que proíbe decretação de
prisão preventiva de ofício, pelo Juiz, na fase investigatória.
- Prisão pode ser requerida pela autoridade policial, no curso da investigação criminal,
pelo Ministério Público, na fase investigatória ou durante a ação penal, bem como pelo
ofendido, no curso da ação penal.
- A possibilidade do magistrado converter, de ofício, a prisão em flagrante em prisão
preventiva, a partir do recebimento da comunicação da lavratura do flagrante, é
controvertida na doutrina. Primeira corrente entende ser proibido ao magistrado fazê-lo,
sob pena de vulneração do sistema acusatório. Por esse prisma converter prisão em
flagrante em preventiva equivaleria em decretar prisão preventiva na fase pré-
processual, de ofício. Assim, o magistrado só poderia converter a prisão em flagrante
em prisão preventiva caso houvesse representação, feita pela própria autoridade policial
ou pelo membro do Ministério Público, pela prisão preventiva do autuado; segunda
corrente entende que a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva não
se confunde com a decretação autônoma de prisão preventiva, uma vez que
naquela já existe prisão, que somente seria mantida pelo magistrado, a outro título.
Corrente majoritária.
- Assim, posição majoritária doutrinária e jurisprudencial entende ser legítimo ao
magistrado converter a prisão em flagrante em prisão preventiva de ofício.
Doutrina majoritária.
- CPP, art. 312. A prisão preventiva pode ser decretada quando presentes, dentre outras
hipóteses, os chamados fumus comissi delicti, e o periculum libertatis.
- O fumus comissi delicti denota a existência de indícios mínimos de autoria delitiva, e
prova de materialidade, necessários à decretação de qualquer medida cautelar, como é
o caso da prisão preventiva. Note-se que, no que tange a materialidade delitiva, deve
haver prova de sua existência, ou seja, não devem existir dúvidas sobre a própria
existência da infração penal; quanto à autoria, bastam indícios de envolvimento do
suspeito no crime, elementos de informação ou prova que vinculem, de forma robusta, a
pessoa à prática do fato.
- Observe-se que na prisão em flagrante, em regra, o fumus comissi delicti estará bem
demonstrado.
- O periculum libertatisdenota o risco representado pela liberdade do sujeito, risco
que pode incidir tanto sobre a ordem pública324, ordem econômica324, sobre a
investigação criminal324, ou sobre a garantia da aplicação da lei penal324.
- L7492, Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro, art. 30324. Prevê possibilidade de
decretação da prisão preventiva tomando em consideração, em adição aos requisitos
previstos no Código de Processo Penal, a magnitude da lesão ao sistema financeiro
causada pelos crimes do agente.
- A gravidade abstrata, a repercussão do crime, o resguardo à imagem do Poder
Judiciário ou a existência de antecedentes criminais não são motivos idôneos a, por si
só, ensejar a decretação da prisão preventiva.
- O risco de fuga eventualmente existente deve ser fundado. A mera possibilidade
virtual de fuga, considerada a capacidade econômica do agente, não é suficiente
para decretação da prisão preventiva.
- STJ, tese. “A fuga do distrito da culpa é fundamentação idônea a justificar o decreto
da custódia preventiva para a conveniência da instrução criminal e como garantia da
aplicação da lei penal.”.
- STJ, HC 87752324. O mero fato do réu residir em Estado estrangeiro não é razão
suficiente para decretação de prisão preventiva como garantia de aplicação da lei penal,
desde que o réu resida em local certo e sabido, sendo citado por carta rogatória.
- STF, HC 138207324. Descumprimento de acordo de delação premiadanão é, por si
só, fundamento idôneo a sustentar decreto de prisão preventiva de acusado.
- Perceba-se que a presença do fumus comissi delicti e do periculum libertatis deve
observar o princípio da atualidade, ou seja, devem ser contemporâneos à decretação
da prisão preventiva. STJ, tese. “Os fatos que justificam a prisão preventiva devem
ser contemporâneos à decisão que a decreta.”.
- CPP, art. 313324. A presença do fumus comissi delicti e do periculum libertatis é
apenas o primeiro passo para viabilidade da prisão preventiva. Presentes estes, devem se
verificar, ainda, os requisitos previstos no CPP, art. 313. Segundo a norma, só será
admitida prisão preventiva para crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 04 (quatro) anos324, ou no caso de ser o réu reincidente em crimes
dolosos, ou, ainda, nos casos de crimes envolvendo violência doméstica e familiar
contra hipervulneráveis, ou seja, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, enfermos ou
pessoas com deficiência, para garantir a execução de medidas protetivas de
urgência. Pena privativa de liberdade superior a 04 (quatro) anos ou reincidência.
- A reincidência em crime doloso admite a decretação de prisão preventiva ainda que o
novo crime praticado não comine pena privativa de liberdade superior a 04 (quatro)
anos, porque o Código Penal, arts. 44, II324 e 77324 prevê que no caso de reincidência
dolosa não será possível a substituição da pena privativa de liberdade pela pena
restritiva de direitos ou a suspensão condicional da pena, não havendo, assim,
desproporcionalidade pela imposição de medida cautelar mais grave que aquela possível
de ser aplicada ao final do processo. Ressalva-se a previsão do CP, art. 44, §3, que
afirma que mesmo no caso de reincidência pode ser a pena substituída caso a medida
seja socialmente recomendável, e não se trate de reincidência específica. Nesse caso,
vislumbrando o magistrado a possibilidade de substituição ao final do processo,
não deverá decretar a prisão preventiva.
- STJ, RHC 63855324. Atos infracionais pretéritos praticados pelo indivíduo durante
a adolescência podem ser levados em consideração pelo magistrado para fins de
decretação de sua prisão preventiva, desde que os atos: sejam especialmente graves;
tenham sido praticados há tempo não muito distante, indicativo de cessação da
periculosidade do agente; tenham sido devidamente comprovados em procedimento em
que garantido contraditório ao adolescente.
- STJ, tese. “A prática de atos infracionais não pode ser considerada para fins de
reincidência ou maus antecedentes, mas serve para justificar a manutenção da
prisão preventiva para a garantia da ordem pública.”.
- CP, art. 33, §2324. Prevê que o condenado a pena privativa de liberdade superior a 08
(oito) anos deverá iniciar seu cumprimento em regime fechado, enquanto pena
privativa de liberdade superior 04 (quatro) e até 08 (oito) anos deverá iniciar seu
cumprimento em regime semiaberto, desde que não reincidente. Tribunais Superiores
entendem que o regime semiaberto previsto para o cumprimento de pena não é
incompatível com a prisão preventiva, sendo, pois, proporcional sua decretação
nessas condições. A prisão preventiva será, entretanto, cumprida no regime semiaberto.
STJ, HC 289636324.
- Nos casos de crimes envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, quando houver risco à
efetividade de medidas protetivas de urgência decretadas,é cabível a prisão preventiva,
qualquer que seja o crime praticado. Desobediência às medidas cautelares, CPP, art.
282, §4324.
- CPP, art. 313, parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando¸
verificada a presença do fumus comissi delicti e do periculumlibertatis, não for possível
identificar-se o autor do crime324. Doutrina entende que nesse caso seria possível
inclusive a decretação de prisão preventiva de autor de crime culposo.
- CPP, art. 366324. Citação do réu por edital com não comparecimento ou constituição de
advogado. Suspensão do processo e do prazo prescricional. Marcelo Uzeda afirma se
tratar de outra exceção ao CPP, art. 313, uma vez que o não comparecimento ensejaria a
decretação de prisão preventiva se presentes os requisitos do CPP, art. 312. Entretanto,
o STJ firmou a seguinte tese, “A citação por edital do acusado não constitui
fundamento idôneo para a decretação da prisão preventiva, uma vez que a sua não
localização não gera presunção de fuga.”. Assim, não se trata, no entendimento do
STJ, de exceção, mas sim de motivação inidônea para decreto de prisão cautelar,
não obstante a existência de previsão expressa na Lei de possibilidade de decretação de
prisão preventiva, ainda que em crimes culposos.
- CPP, art. 314324. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o
magistrado verificar que o agente praticou o fato acobertado por excludentes de
ilicitude. Desproporcionalidade da medida, tendo em vista perspectiva de absolvição ao
final do processo. Paralelo traçado com o CPP, art. 310, parágrafo único324, que afirma
que, na prisão em flagrante, verificando o Juiz que o agente praticou o ato em contexto
de excludente de ilicitude, poderá conceder a este liberdade provisória.
- Código Eleitoral, art. 236324. Não se pode prender preventivamente eleitor, desde
05 (cinco) dias antes, e até 48 (quarenta e oito) horas depois das eleições. Executar
a prisão, não impede que o Juiz decrete a prisão preventiva dentro desse lapso, desde
que a medida seja executada após. Prisões em flagrante não são afetadas. Assim, é
possível a decretação de prisão preventiva há menos de 05 (cinco) dias da data de
eleição, o que será ilegítimo é o cumprimento desse mandado de prisão nesse lapso
temporal. Execução da prisão.
- CPP, art. 315324. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva
será sempre motivada.
- STJ, tese. “A prisão cautelar deve ser fundamentada em elementos concretos que
justifiquem, efetivamente, sua necessidade.”.
- STJ, tese. “A alusão genérica sobre a gravidade do delito, o clamor público ou a
comoção social não constituem fundamentação idônea a autorizar a prisão
preventiva.”.
- Relembre-se que motivar não se resume a apontar artigos da Lei, o que caracteriza
fundamentação inidônea para qualquer ato processual.
- A decisão que indefere ou revoga prisão preventiva é impugnável por recurso em
sentido estrito. Ou seja, qualquer decisão envolvendo prisão preventiva que favoreça o
réu será impugnável por recurso em sentido estrito. CPP, art. 581, V324.
- A decisão que decreta a prisão preventiva é irrecorrível, devendo o preso, caso
entenda injusta a prisão, impetrar habeas corpus.
- CPP, art. 316324. Positiva a submissão da prisão preventiva à cláusula rebus sic
stantibus. Precariedade das medidas cautelares.
- STJ, RHC 53828324. A prisão preventiva pode ser mantida por ocasião da sentença
condenatória recorrível que aplicou o regime semiaberto para o cumprimento da
pena, desde que persistam os motivos que inicialmente a justificaram e que seu
cumprimento se adeque ao modo de execução intermediário aplicado.
5.3. Prisão Domiciliar.
- A prisão domiciliar tem como pressuposto a decretação da prisão preventiva. Consiste
no recolhimento do indiciado ou réu em sua residência, só podendo dela se
ausentar com ordem judicial. CPP, art. 317324.
- A prisão domiciliar se fundamenta em questões humanitárias. Prisão preventiva
convertida em prisão domiciliar.
- As possibilidades de prisão domiciliar sofreram grande mudança com o advento da
L13257/15, que reforma o CPP, art. 318324 para reforçar a proteção a crianças. Regras
de Bangkok, regras 57-59324.
- STF, HC 134734324. A simples condição de mãe da presa não é suficiente para a
conversão de sua prisão preventiva em domiciliar, devendo ser ponderados, pelo
magistrado, a personalidade e a conduta da presa, bem como a existência de maior
interesse da criança. Entendimento superado pela concessão de habeas corpus coletivo a
todas as mães gestantes, puérperas ou que tenham a guarda de criança ou pessoa
deficiente, presas preventivamente.
- STF, HC 143641324. STF defere habeas corpus coletivo em favor de todas as mulheres
gestantes, puérperas ou que possuam filhos crianças ou deficientes sob sua guarda,
presas preventivamente, determinando que sejam colocadas em prisão domiciliar, à
exceção de casos de crimes praticados com violência ou grave ameaça, em prejuízo dos
próprios descendentes, ou ainda em casos excepcionais, justificada a não substituição da
prisão no caso concreto pelo magistrado competente.
- Note que o texto fala em substituição da prisão preventivacomo hipóteses de prisão
domiciliar, sendo, pois, imprescindível a prévia análise positiva do cabimento da prisão
preventiva.
- A prisão domiciliar não se confunde com recolhimento domiciliar, espécie de
pena, cabível somente nos casos de cumprimento de pena em regime aberto. LEP, art.
117324. Razões igualmente humanitárias, ou de necessidade, inexistência de casas de
albergado ou estabelecimentos similares oferecidos pelo Estado. STF. Distinção entre
prisão domiciliar, de natureza cautelar, e recolhimento domiciliar, de natureza
executória.
- CPP, art. 318, parágrafo único. Magistrado só fará a substituição da prisão preventiva
pela prisão domiciliar após exigir prova idônea de seus requisitos. Exceção das
gestantes, puérperas e mães de crianças sob seus cuidados, a quem será dada especial
credibilidade à palavra.
- CPP, art. 319, V324. Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga
quando o acusado tenha residência e trabalho fixos. Medida cautelar diferente da prisão,
não se confunde com prisão domiciliar. No caso de recolhimento domiciliar não há
necessidade de autorização judicial para saída da residência.
Espécie Natureza Requisitos
Prisão Domiciliar Cautelar. Substitui a prisão Pressupostos da prisão
(CPP, arts. 318-319). preventiva, que é seu preventiva (CPP, arts. 312-
pressuposto. 313), além das situações de
risco previstas no CPP,
arts. 318-319, com especial
atenção às gestantes,
puérperas e mães de
crianças.
Recolhimento Executória. Alternativa ao regime
Domiciliar (LEP, art. aberto de execução de pena
117)324 privativa de liberdade.
Recolhimento Cautelar alternativa à prisão. Necessidade e adequação
Domiciliar (CPP, art. da medida. Residência e
319, V) trabalho fixos.
- CPP, art. 347. Não ocorrendo perda da fiança, o saldo remanescente será, no caso de
condenação, entregue a quem a houver prestado, depois de deduzidas as despesas a
que o réu estiver obrigado.
- CPP, art. 340324. Casos em que será exigido reforço da fiança: quando a autoridade
tomar, por engano, fiança insuficiente; quando houver depreciação material ou
perecimento dos bens dados em fiança; quando for inovada a classificação do delito.
- CPP, art. 340, parágrafo único. Quando necessário o reforço da fiança e não prestado
pelo acusado, esta ficará sem efeito, sendo o acusado recolhido à prisão, ou impondo-se
outras medidas cautelares adequadas e necessárias ao caso concreto.
- CPP, art. 341324. Quebra da fiança. Hipóteses. A mera prática de nova infração penal
dolosa ensejará a quebra da fiança, ainda que não haja condenação definitiva. Caso
sobrevenha absolvição, poderá ser reformada a decisão de quebra de fiança.
- Decisão que envolva quebra de fiança pode ser impugnada por recurso em sentido
estrito. Qualquer matéria que deva ser rediscutida e diga respeito à fiança será
impugnada por recurso em sentido estrito (CPP, art. 581, VII).
- CPP, art. 343324. O quebramento injustificado da fiança acarreta a perda imediata de
50% de seu valor, decidindo o Juiz sobre prisão ou imposição de outras medidas
cautelares.
- CPP, art. 346324. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções previstas no
art. 345 do Código, o valor restante será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da
lei.
- CPP, art. 344324. Perda da fiança. Ocorre nos casos em que o réu não se apresentar
para dar início à pena imposta, quando condenado. Haverá perda de todo o valor
dado em fiança. Não se confunde com quebra da fiança, onde há perda de somente de
50%, e cujos fundamentos sãodistintos. Não apresentação para início de cumprimento
de pena, que não necessariamente será privativa de liberdade. Pena restritiva de direitos
e multa.
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