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Os analistas de investimento em ações mais famosos, sem dúvida, são Benjamin Graham e
Warren Buffett, o segundo, discípulo do primeiro. A sua fama decorre essencialmente do
resultado obtido de suas análises. Warren Buffett era, em março de 2014, segundo a
Bloomberg, o dono da segunda maior fortuna do mundo, US$ 63,4 bilhões.
Buffett foi aluno de Graham e Dodd na Universidade de Columbia em 1950 e 1951. Ele foi o
melhor aluno, A+, dos dois professores. Ele sempre tentava ficar próximo deles para aprender
mais. Tentou, logo depois de formado, trabalhar com Graham na gestora de investimentos
Graham-Newman em Nova York, mas a gestora somente aceitava judeus. Porém, a insistência
foi tão grande, pois ele chegou a oferecer-se para trabalhar de graça, que em 1954, com vinte
e quatro anos, Buffett foi contratado.
Em 1956, Buffett voltou para Omaha e fundou um fundo de investimentos, cujos investidores
eram, no início, parentes e amigos. Em 1969, Buffett encerrou o fundo por ele administrado,
e, para os que queriam manter seus recursos na sua gestão, transferiu para ações da Berkhire
Hathaway, um mau investimento de Buffett, uma indústria têxtil que teve que vender suas
plantas industriais pois não consegui concorrer com o produto importado, mas o caixa advindo
da venda dos ativos foi direcionado para bons investimentos que fizeram o valor das ações da
Berkshire Hathway subir muito, na verdade, é uma empresa dona de participação acionária
em outras empresas, majoritária ou minoritária. Sim, Buffett fez maus investimentos, mas a
maioria foi de excelentes investimentos que geraram retornos para as ações da Berkshire
Hathaway condizentes com aquele registrado pelo fundo até 1969. A sua fortuna, hoje
corresponde às ações da Berkshire Hathaway, e ele não tem receio de afirmar que o método
de análise de investimento que utilizou foi o ensinado por Graham.
Para ilustrar o resultado do método de análise de investimento ensinado por Graham e Dodd,
Buffett escreveu um artigo em 1984 i, apresentado no seminário em comemoração dos
cinquenta anos da primeira edição do “Security Analysis”, em 17 de maio, na Universidade de
Columbia. Buffett no prefácio do “Security Analysis” afirma que esse livro (a primeira vez que
o leu foi a segunda edição de 1940) é um dos quatro mais importantes de sua vida, juntamente
com “O investidor Inteligente”, “A Riqueza das Nações” de Adam Smith, e a primeira edição
do “Security Analysis” cheia de comentários nas páginas feitas por Dodd, que lhe foi
presentado pela filha de Dodd logo após sua morte. Para o seminário foram convidados
Buffett e Fama para confrontá-lo, pois Fama era um dos principais teóricos da moderna teoria
de finanças que afirmava que o resultado de Buffett era pura sorte.
Seguindo essa onda, Burton Malkiel, de Princeton, escreveu em 1973 no seu livro “A Random
Walk Down Wal Street” (Um Passeio Aleatório por Wall Street) que qualquer um que
superasse o mercado poderia ser comparado a um macaco com sorte atirando dardos na lista
do Wall Street Journal, jornal que Buffett lia cuidadosamente todas as noites a edição do dia
seguinte, porque fez um acordo com o entregador do jornal para que ele colocasse o jornal
todos os dias na porta de sua garagem antes da meia-noite.
Para demonstrar que a utilização dos princípios de Graham e Dodd foi a origem do resultado
apresentado pelos superinvestidores e que a HME estava errada, Buffett propôs a imagem de
uma disputa nacional de cara ou coroa, onde 225 milhões de americanos na manhã do dia
seguinte apostariam um dólar. Aqueles que acertassem ganhariam os dólares daqueles que
perderam a aposta. A cada dia, os perdedores sairiam da disputa e os ganhadores
permaneceriam para apostar no dia seguinte. Segundo as probabilidades estatísticas, após
dez manhãs de apostas permaneceriam 220 mil pessoas de todo o país, e cada um teria
ganhado aproximadamente mil dólares. Ao final de mais dez rodadas sobrariam apenas 215
pessoas que acertaram vinte vezes em seguida, as quais teriam transformado a aposta de um
dólar em pouco mais de um milhão. Os cerca de 225 milhões de dólares dos que perderam
seria o ganho dos que restaram.
Segundo Buffett, esses 215 ganhadores perderiam a cabeça. Escreveriam livros com títulos
estranhos, do tipo “Como Ganhar Um Milhão de Dólares em Vinte Dias Trabalhando apenas
Trinta Segundos pela Manhã”; fariam palestras de auto ajuda, ensinando às pessoas a terem
pensamento positivo nas “apostas” diárias. Mas, nesse ponto, algum acadêmico
grosseiramente argumentaria que se colocassem 225 milhões de orangotangos engajados no
mesmo processo, no final haveria 215 milionários.
Buffett então dá um exemplo adicional em que se supõe que os 215 milhões de orangotangos
fossem distribuídos geograficamente como a população dos Estados Unidos era à época (a
população dos Estados Unidos então correspondia aproximadamente a esse total de pessoas)
e que dos 215 ganhadores 40 fossem de um zoológico específico em Omaha (cidade onde vive
Warren Buffett). Então, todos concordariam que haveria algo especial com esses 40, e
perguntariam ao tratador que tipo de comida era fornecida aos orangotangos, se eles faziam
exercícios especiais, que tipo de livros liam, ou outras formas de pesquisa, porque com essa
grande concentração de sucessos deveriam ser procurados os fatores causais.
Para Buffett pode haver outra origem diferente da geográfica para os fatores do sucesso, que
ele chama de fator intelectual. Se uma desproporcional quantidade de sucessos no mundo do
investimento viesse de uma pequena cidade intelectual que se chamasse Graham-and-
Doddsville, significa que a concentração de vencedores vinda deste pequeno local não pode
ter o sucesso explicado simplesmente pela sorte.
O grupo de investidores bem sucedidos que ele apresenta tem, em todos os seus elementos,
uma característica comum: têm como patriarca intelectual Benjamin Graham. Ele acrescenta
que todos os filhos desse patriarca e que deixaram sua casa fizeram suas apostas de maneiras
diferentes. Eles foram para diferentes cidades do país e compraram e venderam ações de
empresas diferentes, e todos obtiveram resultados surpreendentes que simplesmente não
podem ser explicados pela sorte, como eventos aleatórios. Não houve também um controle e
direcionamento de Graham sobre seus discípulos, ele somente colocou para eles a teoria, o
método, sobre como investir em ações, e cada discípulo tomou suas próprias decisões sobre
como aplicar o método, sem a interferência dos outros, sem consulta-los, sem combinar em
quais ações investir. As carteiras montadas por cada um eram muito diferentes na
composição.
Arremata afirmando que as pessoas complicam coisas simples e que o meio acadêmico
deveria ensinar o investimento em valor, pois o mundo evolui, mas sempre haverá
discrepância entre preço e valor (intrínseco) no mercado.
O valor intrínseco é considerado o preço justo ou quanto deveria valer uma ação, dada uma
taxa de retorno exigida para o investimento. Ele é o cálculo do valor presente do fluxo de caixa
projetado da empresa, descontado a uma taxa exigida de retorno. O método é o mesmo
utilizado para precificar um título de renda fixa, ou para fazer a análise financeira de um
projeto de investimento, obtendo o VPL, a análise de Buffett é quase um cálculo de VPL, pois
neste compara-se o valor presente do fluxo de caixa com o investimento inicial, e no caso de
Buffett, o investimento inicial é o preço de compra da ação; se o valor presente é maior do
que o preço de mercado, o VPL é positivo, significando que a taxa de retorno no investimento
é maior do que a taxa de retorno utilizada no desconto do fluxo de caixa.
Porém, deve-se levar em conta que uma empresa, teoricamente, não tem data de
encerramento, e o fluxo de caixa vai ao infinito. Os analistas de investimento costumam
projetar os fluxos de caixa da empresa até quando haja informações suficientes,
especialmente sobre o programa de investimentos da empresa; após esse período, o restante
do fluxo de caixa é considerado como perpetuidade, com taxa de crescimento bem
conservadora, entre 0% e 2%, porque as projeções da população e, consequentemente, do
mercado consumidor, apontam para desaceleração do crescimento até a estagnação e queda
num futuro próximo.
𝐹𝐹𝐹𝐹1
Para o cálculo da perpetuidade, utiliza-se a fórmula de Gordon
(𝑟𝑟−𝑔𝑔)
Onde,
∞ 𝐹𝐹𝐹𝐹𝑡𝑡
A Fórmula de Gordon é a função equivalente à série: ∑𝑡𝑡=1 , que é a série do fluxo de caixa
(1+𝑟𝑟)𝑡𝑡
descontado com infinitos fluxos de caixa. É uma série convergente porque o denominador fica cada
vez maior e o valor presente dos fluxos mais distantes no tempo aproximam-se de zero. Por ser uma
série que converge para um valor, é possível definir matematicamente uma função correspondente
que calcula esse valor.
Como exemplo, apresentamos o cálculo do valor intrínseco do capital de uma empresa, utilizando o
método do fluxo de caixa descontado, com projeção do fluxo de caixa nos primeiros três anos e, após,
a perpetuidade:
O último componente representa o cálculo do valor presente da perpetuidade, descontado pela taxa
de retorno exigida. Ele é calculado pela fórmula de Gordon, pela divisão do primeiro fluxo de caixa da
perpetuidade, o fluxo de caixa no quarto ano, obtido como o fluxo de caixa no terceiro ano acrescido
da taxa de crescimento na perpetuidade, dividido pela taxa de retorno na perpetuidade subtraída da
taxa de crescimento do fluxo de caixa na perpetuidade. O valor presente da perpetuidade é um valor
que estará no terceiro ano, um ano antes de seu primeiro fluxo de caixa, por isso deve ser dividido por
(1 + r)3 para trazê-lo a valor presente.
O fluxo de caixa da empresa é projetado conforme o conceito de fluxo de caixa livre, por meio das
variáveis receita, custos e despesas e investimento, conforme o modelo abaixo, ajustando o resultado
para caixa somando depreciação e amortização (lançamentos contábeis que não significam
movimentações no caixa) e subtraindo as despesas com investimentos (saídas de caixa).
+ RECEITA LÍQUIDA
- IMPOSTO DE RENDA
+ DEPRECIAÇÃO
1) O preço de mercado nunca é igual ao valor intrínseco, permitindo a possibilidade de comprar barato,
com o preço de mercado bem abaixo do valor intrínseco;
2) Procurar por barganhas, apelidadas de guimba de cigarro, ou seja, aquilo que ninguém quer, mas se
você pegar ainda pode dar umas baforadas. É o caso, por exemplo, de comprar ações de uma empresa
com boas perspectivas de resultado e taxas de retorno por valor abaixo do valor patrimonial, com o
valor do capital abaixo do patrimônio líquido;
3) Analisar empresas de segunda linha, mas com liquidez, pois as de primeira linha, as mais negociadas,
geralmente estão caras;
4) Quando o mercado está pessimista, quando ninguém quer comprar, é o melhor momento para
encontrar barganhas. Por outro lado, quando o mercado está otimista, é melhor ficar afastado, pois as
ações, provavelmente, estarão caras.
5) No cálculo do valor intrínseco não se deve calcular um valor exato, mas uma margem de variação,
simulando as situações de risco. Assim, essa margem pode ser grande, variando, por exemplo, de R$
10 a R$ 90. Comprar barato, é comprar por R$ 8.
6) Utilizar a margem de segurança, ou seja, investir quando se tem certeza que a taxa de retorno será
alta e que há um dividend yield (retorno dos dividendos) alto.
7) A ação da empresa que paga bons dividendos (dividend yield) é melhor avaliada pelo mercado.
Nesse artigo procuramos destacar, em primeiro lugar, que o método de análise fundamentalista
ensinado por Graham e praticado por seus discípulos apresenta bons resultados; em seguida,
apresentamos o método e os princípios de análise de investimento propugnados por Graham. Espero
que essa leitura possa ter contribuído para despertar seu interesse em se aprofundar na análise
fundamentalista de Graham e Buffett e que, nesse aprofundamento, desenvolva competências para
analisar empresas e aprender não somente a ter bons resultados nos investimentos, mas como são os
procedimentos da boa gestão, que geram valor para o acionista, promovem o aumento do valor do
capital da empresa, teórico e de mercado. Aprendendo nesse processo também a ser um excelente
gestor financeiro de empresas. Quero destacar finalmente que a análise dos fundamentos econômicos
e financeiros das empresas exige conhecimentos técnicos de gestão financeira conjugados com os de
contabilidade e economia. Aquele que desenvolver essas competências, fatalmente, será um grande
gestor e investidor no padrão de Graham e Buffett.
Bibliografia
Dodd, David L.; Graham, Benjamin. Security Analysis: Principles and Technique [recurso
eletrônico]. McGraw-Hill: 2009.
Graham, Benjamin. The Intelligent Investor: A Book of Practical Counsel [recurso eletrônico].
HarperCollins e-books: 2003.
Schroeder, Alice. A Bola de Neve: Warren Buffett e o negócio da vida [recurso eletrônico]. Rio
de Janeiro: Sextante, 2012.
i
O único de que se tem notícia, excluindo os relatórios da Berkshire Hathaway. Não há um livro escrito por
Buffett, apesar de haver vários sobre ele. Para quem quer conhecer mais do maior investidor do mundo é
recomendável começar pela biografia autorizada “A Bola de Neve: Warren Buffett e o negócio da vida”.
ii
Schroeder, Alice. A Bola de Neve: Warren Buffett e o negócio da vida [recurso eletrônico]. Rio de Janeiro:
Sextante, 2012
iii
Idem.