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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

RENATA CORRÊA DORNELES

Porto Alegre
2021
RENATA CORRÊA DORNELES

O DOMÍNIO DAS FACÇÕES CRIMINOSAS NO PRESÍDIO CENTRAL


Uma reportagem sobre o sistema carcerário no principal presídio gaúcho

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro


Universitário Ritter dos Reis como requisito para elaboração da monografia de
conclusão do curso de Jornalismo.

Orientador: Prof. Francisco dos Santos

Porto Alegre
2021
SUMÁRIO
Sumário.....................................................................................................2
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO.............................................................3
2 TEMA...................................................................................................4
3 DELIMITAÇÃO DO TEMA..................................................................4
4 PROBLEMA.........................................................................................4
5 JUSTIFICATIVA..................................................................................5
6 OBJETIVOS.........................................................................................5
7 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................6
7.1 JORNALISMO POLICIAL...........................................................6
7.2 A CADEIA PÚBLICA DE PORTO ALEGRE................................8
7.2.1 O crime organizado na Cadeia Pública de Porto
Alegre..........................................................................................................9
7.2.2 O desenvolvimento das facções criminosas e a morte de
um líder.......................................................................................................10
7.3 O PAPEL DO ESTADO ............................................................13
7.3.1 O tráfico de drogas e a omissão do
estado.........................................................................................................14
7.4 SEGURANÇA PÚBLICA..........................................................16
7.5 RESSOCIALIZAÇÃO................................................................18
8 ASPECTOS METODOLÓGICOS........................................................9
8.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA.........................................9
8.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA..................................................9
8.3 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS.....10
8.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DOS DADOS...................................10
9 PROPOSTA DE SUMÁRIO DA MONOGRAFIA..............................10
10 CRONOGRAMA................................................................................11
REFERÊNCIAS........................................................................................13
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

a) nome(s) do(s) autor(es): Renata Corrêa Dorneles


b) tipo de projeto, curso e orientador: Monografia, Jornalismo, Francisco dos
Santos
c) local (cidade): Porto Alegre
d) ano de entrega: 2021
4

2 TEMA

A cadeia pública de Porto Alegre, ou Presídio Central, como é


conhecida, é dominada há mais de 15 anos por facções criminosas, estas
ocupam atualmente 10 das 11 galerias que recebem presos na instituição. O
Estado por sua vez não intervém, não melhorando o ambiente onde vivem os
apenados e nessas condições as facções, que tiveram início nos anos 90 com
a Falange vermelha e se resumiam apenas à presença dentro do Central e do
Penitenciária de Charqueadas, acabaram se expandindo e tomando conta dos
presídios estaduais. Através desses fatores, iremos fazer uma análise de como
ocorreu essa expansão e de como o estado se comporta diante do caos
causado pelas facções dentro e fora do Central.

3 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Análise da expansão das facções criminosas nos presídios gaúchos,


mais especificamente na Cadeia Pública de Porto Alegre e as ações do
Governo do Estado em relação ao problema.

4 PROBLEMA

Como o Estado poderia intervir para acabar com as ações das facções
criminosas?

5 JUSTIFICATIVA

¹SERGIO DE LIMA, Renato. et al. Segurança pública e violência: o Estado está


cumprindo seu papel?. São Paulo: Editora Contexto, 2014.

6 OBJETIVOS

Geral: Reportar e analisar o atual cenário do sistema penitenciário na


Cadeia Pública de Porto Alegre com o domínio das facções criminosas em 10
5

das 11 galerias da instituição, a influência das gangues na sociedade e o


trabalho realizado pelo Estado em relação ao problema.

Específicos:
·Construir um livro-reportagem referente ao crescimento do crime organizado
no decorrer dos anos;
·Analisar publicações e artigos de opinião referentes às facções criminosas;
·Trazer a opinião pública a respeito dos problemas de superlotação dos
presídios;
·Investigar o trabalho do Estado na Segurança Pública em relação ao domínio
das gangues;
·Ampliar o conhecimento sobre o problema da falta de ressocialização entre os
presos do Central;

7 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

7.1 O JORNALISMO POLICIAL


O jornalismo policial trata de fatos criminais, judiciais de segurança
pública, sistema penitenciário e investigações. Esse tipo de cobertura é
complexa, por lidar com crimes que sempre geraram o interesse público. Nesse
tipo de jornalismo todo cuidado se faz necessário, mais do que outras editorias,
pois normalmente ele se constrói com relacionamento direto com as fontes,
uma apuração precisa e uma narrativa perspicaz. É necessário garantir a
proteção do entrevistado e também cuidar os termos para não acusar ninguém
antecipadamente.
Apesar de ser uma área extremamente necessária, o jornalismo policial
é ainda pouco estudado e debatido por profissionais e acadêmicos, havendo
poucas especializações sobre o tema. Sua necessidade se dá por refletir as
mudanças de comportamentos sociais. As pessoas precisam saber e entender
o ambiente em que vivem e, também, se bem estudada pode ajudar na
formação de políticas públicas.
6

Esse tipo de cobertura, por abordar na maior parte das vezes,


fatos relacionados às camadas mais populares da sociedade,
costuma ser visto como algo menos importante que o
jornalismo político ou econômico, os quais tratariam de
questões “vitais” para a população (UNIBAN, 2010. p. 3).

O jornalismo policial vem sofrendo muitas mudanças ao longo dos anos,


seu início no Brasil se deu nas primeiras décadas do século XX. Desde lá ele
sempre despertou interesse do público e com o aumento dos índices de crimes
e violência, ele estampa as principais manchetes dos jornais em todas as
cidades do Brasil. Essa modalidade de jornalismo às vezes é controvérsia, pois
em alguns momentos as editorias se mostram um tanto tendenciosas e
sensacionalistas.

7.2 A CADEIA PÚBLICA DE PORTO ALEGRE

Na manhã do dia 28 de janeiro de 1959 se inaugurava a Penitenciária


Estadual, no bairro Partenon, zona leste de Porto Alegre. Na época de sua
construção, Porto Alegre era tomada por problemas como o crescimento
expressivo de vilas e favelas, o aumento da miséria e também a explosão
alarmante de ocorrências policiais. No mês de janeiro haviam sido registrados
757 furtos. Porto Alegre contava com o Cadeião da Volta do Gasômetro e as
fugas e problemas penitenciários já existiam. Em 27 de novembro de 1954, em
um domingo, ocorreu um motim, os presos colocaram fogo em vários pontos da
prisão e se armados de padaços de pau, quebraram janelas e portões para a
fuga. Esse ocorrido motivou a construção da Penitenciária Estadual.

O novo presídio havia sido projetado ainda no início da década de 1950,


e suas obras iniciaram em 1955. Sua inauguração, em 1959, veio com obra
inacabada, porém vinha com uma expectativa grande, pois o Cadeião já não
supria as necessidades e também por questões políticas: o então governador
Ildo Meneghetti estava prestes a entregar o governo do estado a Lionel de
Moura Brizola que havia sido eleito em outubro do ano anterior. As
expectativas eram de que seria a resolução dos problemas de segurança em
Porto Alegre.
7

Os matutinos locais descreviam a nova prisão como “obra


monumental” e “modelo para a América Latina, que daria um
fim ao gravíssimo problema social e humano da absoluta
carência de instalações adequadas aos sentenciados do Rio
Grande do Sul (DORNELLES,R. 2017. p. 39).

A instituição foi inaugurada com sua primeira parte concluída, esta continha 13
mil metros quadrados de área útil, dois pavilhões e 300 alojamentos para
receber o presos em celas individuais, pavilhão para refeitório, hospital com
bloco cirúrgico e raio-x, sala de aula, capela, parlatório, auditório para 400
pessoas, biblioteca, cozinha, lavanderia, padaria, câmaras frias e almoxarifado,
e outro pavilhão para administração e oficinas que seriam realizadas pelos
presos. As etapas faltantes, seriam um pavilhão industrial com 1.572 metros e
6.072,55 metros quadrados de área construída, 705 metros de muro de 7
metros de altura, providos de passarela de concreto e guaritas com holofotes e
telefone.
Em 1962, o Cadeião precisou ser desativado por conta de sérios
problemas estruturais. No dia 24 de abril daquele ano os presos começaram a
deixar à instituição.
Os problemas na Penitenciária surgiram em 1966 acabando rápido com
a fama de cadeia modelo. Por conta da umidade, falta de higiene e
aglomeração a tuberculose logo tomou conta da instituição. Outros problemas
como má alimentação e falta de medicamentos também surgiram à época.
Porém na década seguinte de forma mais ousada agia “o problema” que existe
até hoje na Cadeia: O crime organizado.

7.2.1 O Crime organizado na Cadeia Pública de Porto Alegre

Em 8 de julho de 1994, ocorrera o maior motim realizado no Presídio


Central. Dionei Francisco Melara e parceiros de prisão tomaram 27 reféns e
escaparam da prisão, invadindo com um taxi o saguão do Plaza São Rafael,
hotel mais luxuoso da época, na região central. O motim deixou cinco pessoas
mortas. Melara liderou a facção Os Manos que existe até hoje e compõe parte
do Central.
8

O Presídio Central hoje é a maior cadeia do Rio Grande do Sul e é


dominada por facções criminosas. Essas facções ficam separadas dentro da
instituição e na última década veio crescendo expressivamente. Atualmente 10
das 11 galerias do presídio são dominadas por facções.
Quando o preso chega ao central se depara com uma série de
questionamentos e a seguinte escolha: a qual facção irá pertencer. Ou seja,
são duas sentenças. Com a falta de insumos no presídio e a situação
completamente insalubre eles se vêem obrigados a “comprar” produtos de
higiene, alimentação, cigarros e até mesmo drogas. Tudo rola no Central, e ao
invés da tão sonhada liberdade, o preso sai e volta a cometer novos crimes
para pagar o que consumiu lá dentro. Essas dívidas são pagas com novos
crimes, como roubos a bancos, assaltos e até mesmo assassinatos, tudo
mandado pelos “prefeitos” ou “chefes de facção”.
“A Facção criminosa Brasas surgiu em meados de 1997 no presídio central
de Porto Alegre, onde dividem galerias com a facção Os Manos. Os integrantes
da organização criaram uma estrutura hierárquica dentro da facção semelhante
àquela usada pelo governo municipal. Assim, os líderes são chamados de
“Prefeitos” e os hierarquicamente abaixo são os “secretários”.²
² PORTO, Roberto.O CRIME ORGANIZADO E SISTEMA PRISIONAL. São Paulo:
Editora Atlas S.A, 2008.

7.2.2 O desenvolvimento das facções criminosas e a morte de um


líder

O surgimento da facção Brasas, em 1997, se deu após um acordo


proposto pela Brigada Militar à um preso chamado Valmir Pires, que a época
era conhecido como “Brasa”. Foi proposto que Brasa ocupasse um dos
pavilhões do Presídio Central com seu grupo e comprometendo-se a não fazer
motins ou rebeliões e não fugir, mantendo a ordem e a paz. Em troca
ganhariam autonomia no pavilhão e não seriam duramente monitorados. O
acordo permanece até os tempos atuais.
A separação de grupos se fez necessária também para diminuição dos
homicídios no estabelecimento, pois se um preso caia em uma galeria que não
era compatível com seu perfil acabava morto.
9

A flexibilidade do diálogo com os Brasas também ajudou na


comunicação com os policiais:
“quando surgiu os Brasas, os “Manos” tavam tentando separar
[apenados de policiais], porque o Melara pregou uma ideologia de
que Mano não é aceito pela sociedade, então não aceita a sociedade
também. Mano não estuda, Mano não trabalha, Mano é do crime.
Com o tempo foi mudando” (CIPRIANI, 2016)

A comunicação dos agentes com a facção os Manos, anteriormente, era muito


complicada, nenhuma relação com o estado era admitida por eles, os
pertencentes da facção não executavam nenhum trabalho da cadeia, por
exemplo. Quando algum membro era chamado para conversar, nunca ia
sozinho, estava sempre acompanhado de outros dois “colegas” para vigiar a
conversa.
Na virada do século, o presídio contava com três grupos: Os Manos,
centralizados na figura de Melara, os Brasas, centralizados na figura de Valmir,
o Brasa, e os Abertos, que não se aliavam com nenhum grupo e possuíam uma
menor centralização no líder. No início dos anos 2000 um membro da facção
Brasas saiu do presídio central e foi para a Penitenciária Estadual do Jacuí
(PEJ), esta não havia espaço para membros do grupo. Ele e outros presos
então conseguiram conquistar uma galeria e passaram a acolher os que
chegavam e eram de seu “afeto”. Porém, o comando dos Brasas no Presídio
Central de Porto Alegre, não gostou da idéia, pois temeu perder o controle para
o grupo criado na PEJ. Esse evento marcou a dissolução gradual dos Brasas,
após um conflito entre os líderes da PCPA e PEJ, então os Brasas passaram a
se chamar “Unidos pela Paz”.
Com o tempo a descentralização da figura líder foi se tornando comum.
As decisões do cotidiano não seriam pautadas apenas por uma pessoa, mas
pelo grupo todo.
“Antes se você conversava com um preso, porque às vezes você tem
que estabelecer regras na prisão, porque do lado de trás da grade
são os presos que organizam. Se você chamava um preso,
conversava com ele ele respondia “está certo, trocamos a regra”.
Hoje já não é mais assim. Hoje você tem que conversar com o preso
e ele diz “Então o senhor nos dá alguns dias para conversar entre
nós, depois a gente traz a resposta, porque eu tenho que ouvir os
outros presos”” (CIPRIANI, 2016)
10

A morte de Melara em 2005 também acabou trazendo ainda mais a


descentralização da liderança absoluta, pois Melara era isso: um líder absoluto.
Melara levava consigo muitos fiéis no Central, mesmo estando preso em outra
penitenciária (PASC). Alguns anos antes de sua morte, apesar de os índices de
violência terem diminuído no Presídio Central, as disputas entre as três facções
(Brasas, Manos e Abertos) ainda causavam tensão. No dia 26 de março de
2002, membros dos Brasas resolveram se revoltar com a suspensão das suas
visitas- punição que lhes havia sido dada pelos policiais, que tinham
descoberto um plano para a fuga de seus integrantes. O objetivo deles, então,
foi de atribuir a responsabilidade deste plano aos Manos, que estavam no
mesmo pavilhão (D), os Brasas tentaram invadir a galeria rival, mas os presos,
fiéis a Melara colocaram fogos em colchões, causando um tumulto que fora
contido pela BM cinco horas depois.
No segundo semestre de 2004, fora concedido a Melara a progressão
para o regime semiaberto, sendo levado primeiramente para a Colônia Penal
Agrícola (CPA), e logo depois para o semiaberto da Penitenciária Estadual do
Jacuí (PEJ). Em novembro de 2004 Melara fugiu da penitenciária e, após dois
meses foragido, em janeiro de 2005 foi encontrado morto na estrada entre os
municípios de Estância Velha e Ivoti.
O corpo encontrado na noite de terça-feira em uma estrada da Região
Metropolitana de Porto Alegre é de Dilonei Melara, foragido do
sistema penitenciário desde o dia 29 de novembro do ano passado e
uma das pessoas mais procuradas pelas polícias do Rio Grande do
Sul. [...] O cadáver continha diversos ferimentos a bala, espalhados
pelas costas, pernas e quadris. Pelo menos cinco tiros foram
disparados também na cabeça do foragido. [...] Ex-agricultor de São
José do Ouro, começou a vida no crime assaltando táxis e ônibus em
Caxias do Sul, nos anos 70. Uma década depois, integrou a mais
famosa quadrilha de ladrões de bancos do estado. Os 17 anos
condenado lhe renderam status de líder da facção criminosa Falange
Gaúcha, organizada para defender os interesses dos apenados. [...].
De lá para cá, a facção de Melara trocou de nome, sendo hoje
denominada os Manos. (SSP, 2005)

Logo após a morte de Melara, as coisas começaram a mudar.


Especialmente quanto aos posicionamentos dos colegas de facção “Os Manos”
– até então eles eram conhecidos por não aceitar a coexistência de outros
grupos criminosos nas penitenciárias e não aceitavam contato com os policiais.
As galerias passaram a se tornar mais “exclusivas”: Os próprios presos
mandavam os novos moradores indesejados embora das galerias. A
11

diversificação fora aumentando, além dos Manos, Unidos e Abertos a “facção”

da Conceição já possuía domínio sobre galerias do Central. .


O comércio de entorpecentes na Vila Maria Conceição vinha sendo,
há mais de duas décadas, controlado por Paulão “da Conceição”, cuja
trajetória é ilustrativa para indicar parte das mudanças ocorridas
em torno das características dos grupos criminais de Porto Alegre
momento de sua emergência até sua manifestação atual. (CIPRIANI,
2016)

7.3 O PAPEL DO ESTADO EM RELAÇÃO ÀS FACÇÕES

O Estado perdeu o controle de boa parte do sistema prisional. O


crescente número de presos junto com a falta de investimento em infraestrutura
e itens básicos de sobrevivência pessoal acabam dando o poder quase que
total para as facções criminosas. Os três principais objetivos do sistema
prisional brasileiro consistem em proteger a sociedade incapacitando os
criminosos, puni-los e reabilitá-los. Porém o Central conta com uma condição
insalubre, estrutura velha, esgoto a fazem parte do cotidiano dos apenados, e o
Estado não intervém de nenhuma maneira para modificar o caos. O Presídio
inclusive já foi comparado a um “Campo de Concentração” pelo Juiz João
Marcos Buch:

“Não posso ser leviano em dizer que o Holocausto seja comparável


ao que nós estamos vivendo aqui, mas tenho certeza que no futuro,
daqui a 50 ou 100 anos, as novas gerações olharão para o começo
do século 21 farão esse questionamento e dirão: eles conviviam com
campos de concentração” (G1, 2014)

O magistrado ainda citou que os problemas que mais chamaram a atenção no


Central são a insalubridade, o controle das galerias por facções e a presença
da Brigada Militar no complexo:

“Realmente fiquei bastante impactado com a questão do saneamento.


A situação em que os 4,7 mil detentos vivem ali é bastante
complicada. Diria que nem bichos vivem da forma como eles vivem
ali, com esgoto escorrendo pela parede. As famílias que vão visitar,
senhoras e crianças, têm que conviver com isso” (G1, 2014)

Em março de 2014, o Secretário de segurança pública em atuação,


Airton Michels, afirmou após a vistoria do juiz que o governo pretendia reduzir a
12

população do Central pela metade até o segundo semestre do ano. Os presos


seriam transferidos para as cercas de 4,7 mil vagas em penitenciárias que
estavam sendo construídas. Em março de 2021, 7 anos depois, o presídio que
tem capacidade para 1824 apenados, contava com 3492.

Os presos mantém uma ligação forte com as facções do lado de fora do


Presídio através de celulares, e até mesmo visitas que levam e trazem
informações e mercadorias. Para facções criminosas, os benefícios de se
manterem do lado de dentro e de fora são grandes, pois conseguem novos
membros. Eles bancam inclusive com os gastos dos presos, o que deveria ser
de cuidado do Estado, pois eles bancam desde a comida até o colchão. Porém
nada disso é gratuito. Os presidiários não possuem dinheiro para pagar suas
“dívidas”, então eles pagam quando ganham liberdade, seja com dinheiro, ou
praticando crimes para a facção, caso o contrário são mortos. Ou seja: o ciclo
não se encerra, apenas aumenta e a liberdade se torna temporária.
O Juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC), Sidinei Brzuska entende
que a ausência progressiva do Estado acaba fazendo com que a administração
dos presídios seja feita de forma compartilhada com os apenados, o que acaba
gerando mais espaço para o crime:
“O Estado não faz a sua parte. O estado não fornece para o preso um
prato, uma colher, uma muda de roupa, um sabão, muito menos
papel higiênico. O problema é que o preso necessita destes bens. O
que ele faz? Acaba se associando a outros presos para conseguir o
que o Estado lhe nega. Ao buscar esta sociedade, ele se torna um
devedor. E devedor tem que pagar, com o que tiver à mão: com o
corpo, levando droga pra dentro da cadeia, executando tarefas.
Cometendo crimes nas ruas. Às vezes, paga com a própria vida.”
(CONJUR, 2011)

7.3.1 O Tráfico de drogas na cadeia e a omissão do Estado

Os presos conseguem realizar as mesmas atividades que realizavam fora


Prisão mesmo estando encarcerados. Eles não realizam mais rebeliões,
mantém a “ordem” e estão em constante negociação com os PM’s. Porém a
venda de drogas rola solta, inclusive em dias de visita. O jornalista Renato
Dorneles, na época repórter do Diário Gaúcho, recebeu de uma fonte de dentro
da prisão um vídeo que virou notícia nacional. No vídeo¹ de dezembro de 2014
13

dezenas de presos faziam fila para cheirar cocaína dentro de uma das galerias
do pavilhão B da Cadeia.
Os entorpecentes entram na cadeia por membros das facções que estão
do lado de fora do Central. O presídio é como um supermercado que precisa
ser constantemente abastecido e eles, os fornecedores. Os lucros são divididos
entre os membros, independente de estarem dentro ou fora da instituição. Os
itens entram com ajuda de familiares. Cerca de 230 mil pessoas visitam os
presos por ano – na maioria esposas, mães, irmãs e filhas. E, apesar de
passarem por escâneres de segurança, as mulheres levam pequenos pacotes
de drogas ou aparelhos dentro de pedaços de pão, tênis, ou até mesmo
brinquedos infantis
______________________________________________________________
¹http://videos.clicrbs.com.br/rs/diariogaucho/video/diario-gaucho/2014/12/video-mostra-farra-
coca-central/108913/

7.4 SEGURANÇA PÚBLICA


7.5 RESSOCIALIZAÇÃO

A descentralização da gura do líder


apareceu, ainda, em outra fala
concedida, na
A descentralização da gura do líder
apareceu, ainda, em outra fala
concedida, n
8 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Neste item serão organizados todos os aspectos que envolvem a


metodologia do projeto direcionados para a monografia.
14

8.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Toda metodologia depende da natureza da pesquisa. Nesta parte do


projeto são definidos os procedimentos técnicos, as modalidades e o método
que serão utilizados para a realização da pesquisa. Lembrando que há duas
grandes áreas ou modalidades de pesquisas. São as pesquisas de natureza
qualitativas e de natureza quantitativas. Nas pesquisas quantitativas, também
chamadas de Probabilísticas utilizam-se métodos estatísticos de análises. Já
nas pesquisas qualitativas, ou Não-Probabilistícas, faz-se uma análise crítica
dos dados e utilizam-se métodos e técnicas correspondentes.
Lembrando: a metodologia dependerá da natureza de cada
trabalho; do ponto de vista do pesquisador.

8.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Neste item constrói-se o corpus da pesquisa. Porém toda construção


depende de cada trabalho. Anteriormente estabeleceu-se a natureza:
Probabilística ou Não-Probabilística. Agora se estrutura a amostra. Há alguns
tipos de construção de amostragem.
Apresentaremos alguns para exemplificar:
Amostragem aleatória – sem preocupação com a população da amostra;
indicada para as pesquisas de natureza Probabilísticas.
Estratificada – seleciona-se a população segundo: grupo de idade,
ocupação, sexo, extrato econômico social. Indicada para pesquisas
Probabilísticas.
Por Cota – uma das mais elaboradas, pois já prevê uma seleção da
população e após, a segmentação por categorias e, a cada uma destas,
estabelece-se uma cota. Pesquisas Probabilísticas.
Direcionada, de tipicidade ou intencional – o pesquisador intervém
diretamente selecionando aqueles elementos que a seu juízo representam a
totalidade do fenômeno estudado.
É possível combinar as técnicas.
15

8.3 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

As técnicas e instrumentos de coleta de dados serão definidas a partir


de cada metodologia utilizada nos projetos de pesquisa.

8.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DOS DADOS

A técnica de análise também dependerá da metodologia selecionada


para a pesquisa.

9 PROPOSTA DE SUMÁRIO DA MONOGRAFIA


1 INTRODUÇÃO
2 JORNALISMO POLICIAL
1.1 A CADEIA PÚBLICA DE PORTO ALEGRE
1.2 O CRIME ORGANIZADO NA CADEIA PÚBLICA DE PORTO
ALEGRE
3 FACÇÕES CRIMINOSAS
3.1 O PAPEL DO ESTADO EM RELAÇÃO AS FACÇÕES
4 O TRÁFICO DE DROGAS E A OMISSÃO DO ESTADO
5 SEGURANÇA PÚBLICA
6 RESSOCIALIZAÇÃO
7 ASPECTOS METODÓLOGICOS
a. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
b. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
c. TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
d. TÉCNICAS DE ANÁLISE DOS DADOS
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
16

10 CRONOGRAMA

Ago/2021 Set/2021 Out/2021 Nov/2021 Dez/2021


Leitura X X X X X
Coleta de X X X
Dados
Análise de X X
Dados
Redação X X
Revisão X
Entrega X
Banca X

REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão. São Paulo:
Saraiva, 2017
CIPRIANI, Marcelli. Da “Falange Gaúcha” aos “Bala nos Bala”. Porto Alegre:
UFRGS, 2016
DE SOUZA NUCCI, Guilherme, Direitos Humanos versus Segurança
Pública. São Paulo: Forense, 2016
17

DORNELLES, Renato. FALANGE GAÚCHA: O Presídio Central e a História


do Crime organizado no RS. Porto Alegre: Diadorim, 2017.
LIMA, Renato Sergio de. et al. Segurança pública e violência: o Estado está
cumprindo seu papel?. São Paulo: Contexto, 2014.
MARTIS, Jomar. ESTADO ESCONDE O PRESO E VIRA REFÉM DO
CRIME. Conjur. 2011. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2011-jun-
11/entrevista-sidinei-brzuska-juiz-vara-execucoes-porto-alegre> Acesso
em: 14 jun. 2021.
MELARA ENCONTRADO MORTO NA REGIÃO METROPOLITANA. SSP/RS.
2005. Disponível em: <https://ssp.rs.gov.br/melara-encontrado-morto-na-
regiao-metropolitana> Acesso em: 17 jun. 2021.
PORTO, Roberto.O CRIME ORGANIZADO E SISTEMA PRISIONAL. São
Paulo: Atlas S.A, 2008.
PRESÍDIO CENTRAL DE PORTO ALEGRE É COMPARADO A CAMPO DE
CONCENTRAÇÃO. G1. 2014. Disponível em:< http://g1.globo.com/rs/rio-
grande-do-sul/noticia/2014/03/presidio-central-de-porto-alegre-e-comparado-
campo-de-concentracao.html> Acesso em: 11 jun. 2021.
UNIBAN. Jornalismo Policial: Histórias de quem faz. Jundiaí: In House,
2010.
VERNICE DOS ANJOS, Fernando. Execução Penal e Ressocialização.
Curitiba: Juruá Edirora, 2018.

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