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Consolidação e tensões
Material Teórico
Pensando o Brasil: A Construção da Ordem: o teatro das sombras,
de José Murilo de Carvalho
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Pensando o Brasil: A Construção da Ordem:
o teatro das sombras, de José Murilo de Carvalho
• Introdução
• Elites políticas e construção do Estado
• A elite política nacional: definições
• Unificação da elite: uma ilha de letrados
• A burocracia, vocação de todos
• Juízes, padres e soldados: os matizes da ordem
• Os partidos políticos imperiais: composição e ideologia
Faremos também algumas indicações de leitura interessantes para que você compreenda
melhor o que procuramos apresentar no texto. Não deixe de fazer essas leituras, com certeza
você irá achá-las bem interessantes.
É importante, também, que você participe dos fóruns propostos e se prepare para as
avaliações planejadas.
Bons estudos!
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Unidade: Pensando o Brasil: A Construção da Ordem: o teatro das sombras, de José Murilo de Carvalho
Contextualização
Os estudos relativos à disciplina História do Brasil Império, nesta Unidade, tratam do tema:
Pensando o Brasil a partir de A Construção da Ordem: o teatro das sombras, de José Murilo
de Carvalho. Essa é uma obra de referência para os estudos da história política do Brasil.
José Murilo de Carvalho analisa a formação da elite política brasileira a partir da montagem
do Estado português, dos estudos em Coimbra e, após a independência, das escolas de direito
de São Paulo e Recife.
O autor analisa a formação do Estado brasileiro e a importância dos magistrados para a
consolidação desse.
Por fim, analisa os partidos políticos a partir de sua composição e ideologia.
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Introdução
A forma burocrática que o Brasil herdou de Portugal foi fundamental para a estabilidade
e a manutenção de sua unidade territorial e política. Para isso, a elite brasileira contou com
uma homogeneidade ideológica, que já vinha da tradição portuguesa, como demonstrado
anteriormente. Essa homogeneidade foi desenvolvida “pela educação, treinamento e carreira
características que as levavam a agir coesamente” (CARVALHO, 2012, p. 35).
A elite brasileira do início do século XIX, assim como a portuguesa, foi formada em Coimbra.
Seu treinamento concentrou-se na formação jurídica e a maioria de seus membros tornou-se
“parte do funcionalismo público, sobretudo na magistratura e do Exército. Essa transposição
de um grupo dirigente teve talvez maior importância que a transposição da própria Corte
portuguesa e foi fenômeno único na América” (CARVALHO, 2012, p. 37).
A tese central do autor é justamente essa: a formação da elite brasileira se deu pela educação
e pelo treinamento, o que levou essa elite a ter um comportamento muito mais coeso, evitando
assim conflitos violentos que pudessem levar a grandes rupturas.
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A elite política nacional: definições
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Unidade: Pensando o Brasil: A Construção da Ordem: o teatro das sombras, de José Murilo de Carvalho
A elite eclesiástica poderia ser uma fonte de poder, porém, para José Murilo de Carvalho,
a Igreja se manteve mais preocupada com a educação e com o casamento civil, não sendo
influente nas demais questões de política nacional.
Quem então exercia o poder? Para o autor, em primeiro lugar vinha o grupo dos ministros
e, em segundo, a Constituição de 1824: “os ministros eram os agentes do Poder Executivo,
cujo titular era o imperador, que tinha total liberdade em escolhê-los”. Essa situação foi alterada
quando criou-se em 1847 o presidente do Conselho de Ministros, a partir daí “o imperador
limitava-se geralmente a escolher o presidente que por sua vez escolhia seus auxiliares em
consultas com o chefe do governo” (CARVALHO, 2012, p. 57).
Em seguida, vinham os senadores. Eles eram escolhidos em lista tríplice pelo imperador e
tinham seus mandatos vitalícios, essa era sua fonte de poder. “Os requisitos para a senatoria
eram idade mínima de 40 anos e renda de 800$000 por ano” (CARVALHO, 2012, p. 57).
Depois dos senadores vinham os deputados, que eram mais numerosos, embora tivessem
menos poder. O período imperial foi o de maior poder dos deputados, principalmente durante
as regenciais, período em que o poder moderador ficou suspenso.
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Unificação da elite: uma ilha de letrados
Segundo José Murilo de Carvalho, a unificação da elite brasileira se dava pela posse do
diploma superior, por três razões: em primeiro lugar, a elite era uma ilha de letrados em meio a
uma massa de analfabetos; segundo, porque a formação era concentrada nos cursos jurídicos
que, em consequência, fornecia “um núcleo homogêneo de conhecimentos”; em terceiro
lugar, como já foi dito anteriormente, a formação se dava na Universidade de Coimbra:
Em Portugal, o controle da educação superior estava nas mãos dos jesuítas. Com as reformas
de Pombal, realizadas no final do século XVIII, os jesuítas foram afastados da educação
universitária, produzindo um “notável grupo de cientistas. Muitos deles eram brasileiros e
algumas ainda militavam na política à época da Independência, como Manuel F. da Câmara e
José Bonifácio, naturalistas de estrutura internacional” (CARVALHO, 2012, p. 68).
Esse foi um período de difusão do Iluminismo em Portugal, porém, era bastante conservador
se comparado ao francês. O Iluminismo aparece em Portugal num momento de decadência
da mineração na colônia brasileira, da queda dos preços do açúcar e, da sempre presente,
dominação inglesa. As reformas educacionais do período tinham por objetivo tornar a educação
instrumento da recuperação econômica.
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Unidade: Pensando o Brasil: A Construção da Ordem: o teatro das sombras, de José Murilo de Carvalho
Essa formação da elite brasileira proporcionou “uma distribuição muita mais elitista da
educação e a menor difusão de ideias que os governos da época consideravam perigosas”
(CARVALHO, 2012, p. 70), dando maior homogeneidade a essa elite e, também, tornando-a
mais conservadora.
No Brasil, após a independência, surgiram duas escolas para formação da elite que
contribuíram, ainda mais, para homogeneizá-la: um curso de direito fundado na cidade de São
Paulo em 1828 e outro na cidade de Olinda, no mesmo ano, que depois foi transferido para
Recife em 1854.
O Colégio Pedro II, inaugurado em 1838, era destinado à formação dos filhos das famílias
ricas no ensino secundário, preparando-os para o ensino superior. Eram esses filhos das
famílias ricas que, em geral, frequentavam as escolas superiores, pois as escolas de direito
cobravam taxas de matrícula que, segundo José Murilo de Carvalho, eram de 51$200 réis no
primeiro ano de funcionamento.
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A burocracia, vocação de todos
Vimos até aqui que uma das principais características da elite política
imperial, à semelhança de outras elites de países de capitalismo
retardatário ou frustrado, era seu estreito relacionamento com a
burocracia estatal. Embora houvesse distinção formal e institucional
entre as tarefas judiciárias, executivas e legislativas, elas muitas
vezes se confundiam na pessoa dos executantes, a a carreira
judiciária se tornava parte integrante do itinerário que levava ao
Congresso e aos conselhos de governo. Daí ser necessário dedicar
algum espaço à análise da burocracia como um todo (CARVALHO,
2012, p. 145).
Segundo José Murilo de Carvalho, a burocracia brasileira dividia-se tanto vertical quanto
horizontalmente. Na verticalidade, os setores mais importantes eram o judiciário e o militar.
Esses setores foram os mais desenvolvidos em Portugal, e os herdamos da metrópole. Outro
setor relevante foi o clero que pertencia a duas burocracias e, portanto, estava numa situação
especial, ele “foi importante recurso administrativo, além de ter tido relevante participação
política (CARVALHO, 2012, p. 146). Esses foram os setores que mais forneceram elementos
para a elite política brasileira, mas “não só daí provinha sua importância. O fato de constituírem
corporação mais ou menos estruturadas, com maior grau de coesão interna do que os outros
setores, fez com que se tornassem atores políticos coletivos com muito maior poder de
barganha” (CARVALHO, 2012, p. 146).
Na divisão horizontal, o autor destaca o peso da burocracia proletária, principalmente no
setor militar. Segundo levantamentos da época, ele afirma “que o proletariado formava 89%
da burocracia militar e pouco menos de 50% da burocracia civil. A metade do proletariado civil
se encontrava nos arsenais da Marinha e do Exército”. Esses se constituíam principalmente de
serventes e operários e, apesar de algumas rebeliões, “a massa proletária militar permanecia
submetida a rigorosa disciplina, que por muito tempo incluía até mesmo o castigo físico”
(CARVALHO, 2012, p. 147).
Acima do proletariado, na burocracia civil, encontrava-se a auxiliar, contando com 39%
dos funcionários. Nessa parte da burocracia havia melhor qualificação e os salários eram mais
altos, era onde havia alguma possibilidade de chegar a chefia de seção; “na prática poucos
poderiam passar pelo filtro, pois a burocracia diretorial excluídos os ramos do judiciário e do
clero, pouco passava dos 5% do total (CARVALHO, 2012, p. 151).
A carreira judiciária era vista como trampolim para os postos mais altos, tanto políticos
como administrativos. “Por fim, havia o topo da pirâmide que não chegava a 1% de todo o
funcionalismo, ao todo umas 350 pessoas. Mas nesse ponto já se tornava muito difícil separar
a administração da política”. O topo da administração era, ao mesmo tempo, parte substancial
da elite política (CARVALHO, 2012, p. 151).
Criticando as teses de Raimundo Faoro, o autor afirma que no Brasil não se constituiu
um estamento burocrático, o Brasil imperial era composto por “uma elite política formada
em processo bastante elaborado de treinamento”, através das escolas de direito. O principal
caminho para se chegar ao topo da pirâmide, e da elite política, era a magistratura. “O
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segredo da duração dessa elite estava, em parte, exatamente no fato de não ter a estrutura
rígida de um estamento, de dar a ilusão de acessibilidade, isto é, estava em sua capacidade de
cooptação de inimigos potenciais (CARVALHO, 2012, p. 151).
A administração pública brasileira no período imperial era extremamente centralizada, com
acúmulo de funcionários no nível central. Províncias de municipalidades não contavam com
uma estrutura burocrática equivalente a do governo central.
Fazendo crítica aos que viam todos os males do país no tamanho da burocracia – que
segundo alguns, devora a maior parte das rendas –, José Murilo de Carvalho afirma que o que
esses críticos não percebiam era:
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Juízes, padres e soldados: os matizes da ordem
Já o clero apresentava uma formação bastante diferente dos juristas. Além dessa formação,
havia uma outra diferença entre essas duas categorias: o clero era ao mesmo tempo funcionário
do Estado e da Igreja (Padroado), pertencendo, assim, a dois sistemas burocráticos; quanto a
educação, o clero se distinguia dos juristas, pois a maioria de seus membros não era formada
em Coimbra, mas sim nos seminários episcopais.
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Segundo José Murilo de Carvalho, mesmo com toda coesão dos magistrados, existiam focos de
cisões internas, que podiam localizar-se dentro da própria burocracia; porém o autor destaca que:
Segundo José Murilo de Carvalho, os partidos políticos no Brasil só passaram a existir após
1837. Até esse ano, existiam sociedades secretas, que não podem ser consideradas partidos
políticos. Foi a partir da descentralização promovida pelo Código de Processo Criminal,
promulgado em 1832, e da promulgação do “Ato Adicional de 1834 e as rebeliões provinciais
da Regência é que iriam, ao final da década, possibilitar a formação dos dois grandes partidos
que, com altos e baixos, dominaram a vida política do Império até o final” (CARVALHO,
2012, p. 204).
O Partido Conservador aglutinou pessoas que eram contra a descentralização promovida
pelas leis acima citadas. O Partido Liberal se organizou a partir daqueles que defendiam as
leis descentralizadoras. Em 1864, surgiu o Partido Progressista, composto de conservadores
e liberais históricos, foi produto do período da Conciliação iniciado em 1853. Com o fim
do Partido Progressista, parte de seus integrantes fundou “o novo Partido Liberal e parte
ingressou no Partido Republicano fundado em 1870. Até o fim do Império o sistema partidário
permaneceu tripartite, tendo, de um lado, os dois partidos monárquicos e, de outro, o Partido
Republicano” (CARVALHO, 2012, p. 205).
Os dois grandes partidos imperiais não tinham programas publicados, suas posições podem
ser retiradas dos debates parlamentares. Os conflitos entre eles se prenderam basicamente
entre as posições descentralizadoras (liberais) e centralizadoras (conservadores).
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Com o fim do Partido Progressista e a fundação do novo Partido Liberal, nota-se uma
mudança nos debates e nas propostas. Se na década de 1830 a questão que norteava o
partido era a descentralização; na década de 1860, as demandas anteriores foram mantidas,
porém foram introduzidas novas reivindicações, como: liberdades civis, participação política
e reforma social. “Tal posição representava agora as reivindicações de profissionais liberais,
de intelectuais e de alguns industriais, todos vinculados à economia e modos de vida urbanos”
(CARVALHO, 2012, p. 208).
O Partido Republicano fundado no Rio de Janeiro em 1870 era composto, em sua maioria,
por profissionais liberais e homens de negócio. O manifesto lançado quando da fundação do
partido pedia o federalismo e criticava os “desvios do governo representativo por parte do
sistema brasileiro”. Verdade democrática, representação, direitos e liberdades individuais eram
os pontos fundamentais do Manifesto” (CARVALHO, 2012, p. 208).
Já o Partido Republicano Paulista, criado em 1873, era bastante distinto de seu
congênere carioca. Formado a partir de convenções municipais, esse partido era composto
por profissionais liberais em sua maioria, advogados e – o que é mais importante – tinha em
sua estrutura grande número de proprietários rurais. Segundo José Murilo de Carvalho, é
bastante provável que a maioria dos advogados filiados ao PRP fossem também proprietários
rurais, o que conferia diferença bastante significativa em relação ao Partido Republicano
fundado no Rio de Janeiro. “Enquanto os republicanos da capital, ou melhor, os que
assinaram o Manifesto de 1870, refletiam as preocupações de intelectuais e profissionais
liberais urbanos, os paulistas refletiam preocupações de setores cafeicultores da província”
(CARVALHO, 2012, p. 209).
A preocupação central dos republicanos paulistas era com a autonomia provincial, buscavam
colocar o governo a serviço de seus interesses. Para eles, “isso seria melhor conseguido
mediante o fortalecimento e o controle pleno do governo estadual. A centralização imperial
impedia esse controle, além de drenar os recursos dos cofres provinciais para a Corte e para
outras províncias” (CARVALHO, 2012, p. 209).
É preciso destacar, também, que o PRP foi contra o fim da escravidão, como ficou
demonstrado na declaração do Comitê Executivo do partido em 1873. Esse partido “só
apoiou abertamente a abolição um ano antes de sua efetivação, na mesma época em que o
Partido Conservador de São Paulo, liderado por Antônio Prado, tomou decisão semelhante”
(CARVALHO, 2012, p. 215).
Em relação a composição por ocupação dos principais partidos imperiais, os dados
demonstram que o Partido Conservador concentrava a maioria de funcionários públicos,
enquanto o Partido Liberal era marcadamente formado por profissionais liberais. Esses dados
são importantes, pois confirmam a tese do autor de que os conservadores foram os principais
arquitetos da centralização e do fortalecimento do Estado.
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É preciso ressaltar que ambos os partidos tinham na sua composição proprietários rurais.
O que os diferenciava eram os propósitos: enquanto os conservadores aliavam proprietários
rurais e burocratas e, por isso, propunham a centralização, ou seja, o fortalecimento do poder
central, os liberais, que tinham na sua composição, além dos proprietários rurais, profissionais
liberais, propunham a descentralização. José Murilo de Carvalho afirma que os liberais se
consideravam assim por defenderem a descentralização do poder. Na verdade, eles defendiam
uma certa autonomia provincial, que beneficiava a eles mesmo. Para o autor, essas diferenças
se davam, também, pela composição regional dos partidos.
Ainda sobre as diferenças entre os partidos, José Murilo de Carvalho aponta que os
conservadores eram fruto do período colonial, “descendentes” dos burocratas portugueses,
que tinham uma tradição centralizadora. Após 1830, uniram-se a esse grupo proprietários
rurais – principalmente das províncias de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro – que tinham
maior interesse na ordem nacional. O autor enumera três razões para as províncias citadas
fornecerem os quadros para o partido:
Já no sul e sudeste, a Lei do Ventre Livre não contou com o apoio de boa parte dos
liberais, que dependiam menos do governo – a maioria não era funcionário público, mas
proprietários rurais.
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Material Complementar
Sites:
Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, leia os textos
disponibilizados nos links abaixo:
http://www.eventos.uepg.br/ojs2/index.php/rhr/article/viewFile/2111/1592
http://goo.gl/Jjzr9V
http://goo.gl/63VdYJ
Vídeos:
Assista aos vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=rFto4QmZxBs
https://www.youtube.com/watch?v=AKgoOXmsT20
https://www.youtube.com/watch?v=qwPh5FdKNWA
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Unidade: Pensando o Brasil: A Construção da Ordem: o teatro das sombras, de José Murilo de Carvalho
Referências
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: teatro das sombras. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2012.
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Anotações
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