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1. AS REGRAS DO JOGO
O objectivo do comentário é dar a descobrir ao leitor os centros de interesse e os pontos originais do ou dos documentos.
Qualquer que seja a disciplina, são sempre as mesmas qualidades que se aguardam de si:
• O essencial da informação deve ser evocada sob a fornia de uma problemática sem que se cometam, evidentemente,
contrasensos.
• Toda e qualquer paráfrase é excluída; o seu desenvolvimento não deverá nunca apresentar-se como uma justaposição dos
elementos extraídos do documento.
• O comentário, no entanto, não é uma dissertação; os conhecimentos que irá evocar no seu trabalho deverão fazer sempre
parte precisamente do (s) documento (s) analisado (s). Esses conhecimentos são sempre precisos, tanto ao nível do vocabulário
empregue, como das informações fornecidas.
• Finalmente, para dar mais impacto à sua comunicação, ordene o seu trabalho em redor das ideias principais, descobertas nesses
documentos. Espera-se de si um trabalho "composto"; os centros de interesse serão, por conseguinte, ordenados consoante um
plano coerente.
O seu trabalho decompõe-se em dois tempos sucessivos: a análise, quer dizer, a observação e a descrição do conteúdo do
documento, seguindo-se o comentário das informações postas em evidência. Estas etapas efectuam-se no rascunho.
Para não haver esquecimentos e para ordenar correctamente o seu trabalho, organize metodicamente o seu rascunho
preparatório. Trace duas colunas: à esquerda, indique todas as informações que lhe são fornecidas (o que o autor quiz dizer ou
representar); à direita, frente aos elementos assinalados, escreva os seus comentários. Só poderá redigir o seu comentário defi-
nitivo, quando este trabalho estiver terminado.
2. A ANALISE
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para além das provocadas directamente pelas próprias palavras. Face ao termo "bandeira", por exemplo, não se contente em
imaginar simplesmente uma peça de tecido flotuan-do ao vento; essa palavra deve fazer pensar também no povo, erguendo-
se para defender a sua pátria, ou no quadro de Delacroix "A Liberdade conduzindo o povo", em Gravoche sobre as barricadas,
naquilo que sabe do empenho político de certos escritores. A maior parte dos textos literários fazem apelo a esses
elementos conotativos; poderá abordá-los com maior facilidade, e quanto mais rica fôr a sua cultura.
Esteja atento, no entanto, para não se afastar do texto. Os seus propósitos devem fazer continuamente referência ao documento
(colocando toda e qualquer citação entre aspas). Na realidade, a sua análise deve reflectir os seus conhecimentos, mas
igualmente a sua sensibilidade; prefira, por esta razão, as opiniões diferenciadas […], exprimindo-as de maneira segura e elegante.
3. O COMENTÁRIO
Os documentos visuais permitem sintetizar a informação. A sua análise e o seu comentário necessitam, por esse motivo, de
algumas adaptações.
Analisar e comentar uma tabela, um gráfico...
Para analisar uma tabela, um gráfico, um esquema ou um mapa, é preciso que saiba, como para um escrito, de que fala esse
documento; extraia, de seguida, as informações essenciais nele contidas.
• Para definir de que fala o documento, leia atentamente o título ou a legenda, a fonte, a data em que as informações foram
colhidas. Relacione esse documento com os textos que eventualmente o acompanham.
• Para extrair as informações essenciais de um documento: ponha em evidência o porte geral do documento (curvas
ascendentes, disimetria de uma pirâmide de idades...); assinale as "roturas" (mudanças de orientação numa curva, por exemplo);
defina as unidades utilizadas e identifique as variáveis (para isso, leia atentamente a legenda interrogando-se, por exemplo, se se
tratam de valores absolutos ou de valores relativos).
Efectue, de seguida, os cálculos necessários à síntese dos dados: cumule os algarismos, calcule as taxas de variação, as
diferenças; converta-os , eventualmente, em percentagens.
Uma vez esses dados em evidência, releia eventualmente o texto que acompanha o documento, de maneira a confirmar o que
descobriu.
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Precise o tipo de documento em questão (fotografia, desenho, banda desenhada), identifique o autor ou a fonte, dê um
título à cena representada (sirva-se, para isso, de todos os índices fornecidos pelo contexto: a legenda, a data de realização, a
origem do documento...).
Descreva a cena representada (tipo, lugar, época; os personagens; a acção representada: as relações entre os elementos ou a
sua disposição). Reformule, na sua linguagem, aquilo que vê.
Seja, no entanto, prudente e não avance desde que não esteja absolutamente seguro. Deve continuar sempre objectivo.
• O comentário propriamente dito
Releia atentamente as questões colocadas no tema. Relacione os elementos visuais já assinalados: eles opõem-se,
assemelham-se? Um é a causa ou a consequência do outro?
Tire proveito seguidamente, a propósito dos fenómenos constatados, de todos os seus conhecimentos; retenha os que possam
explicar os fenómenos em questão.
Verifique as suas primeiras hipóteses, confrontando-os com as indicações fornecidas pelo título e os eventuais textos
complementares. Assim, limitará os riscos de contrasenso.
O prosseguimento do trabalho (concepção do plano, redacção) não difere em nada do que já vimos anteriormente.
5. A REDACÇÃO DO COMENTÁRIO
É-lhe, agora, possível retomar os diferentes elementos anotados no rascunho (análise e comentários), para elaborar o seu
plano, e isto, num segundo rascunho. Pode encontrar esse plano, lendo atentamente o documento, mas igualmente, as
mensagens que com ele se relacionam. Com efeito, frequentemente as questões colocadas seguem uma progressão, a qual
permite geralmente esboçar um plano adaptado ao tema. É uma ajuda que lhe fornece o autor do tema . Quer siga esse
plano sugerido ou o seu próprio plano, o seu trabalho deve, evidentemente, abranger todas as questões colocadas.
Agrupe, então, as ideias e complete o seu plano que será, quer temático (irá, por exemplo, do tema mais aparente ao tema
mais abstracto ou mais elaborado), quer analítico (colocação em evidência dos fenómenos, das causas e das consequências
imediatas e remotas). Esse plano permitir-lhe-á contornar as questões propostas, evitando as repetições. Não se esqueça que o
seu trabalho é uma demonstração, em que a coerência deve estar aparente para todos.
Uma vez o plano concebido de maneira pormenorizada redija, no rascunho, a introdução e a conclusão.
• A introdução apresenta o documento, eventualmente o seu autor, a origem, a data e o contexto da sua criação. Pense em
formular, de maneira clara e directa a ou as questões colocadas.
Procure, igualmente, anunciar a estrutura do seu trabalho (as grandes rubricas do plano), de maneira clara mas elegante.
• A conclusão contém uma apreciação global, resume o interesse e o alcance do que constatou, depois desenvolve a
questão.
• O desenvolvimento, quanto a ele, será redigido directamente na folha de trabalho. Cuide, em especial, do seu estilo para
melhor se fazer conpreender: frases curtas, palavras de articulação para ligar as frases, estilo objectivo que evita o emprego da
primeira pessoa do singular (ou do plural, fora de moda e pouco natural).
A regra do jogo, como sempre num trabalho escrito, é explicar de uma maneira simples o que constatou, a alguém que não
conhece o documento.
NÃO SE ESQUEÇA
. Observe, sem "a priori", seguidamente procure explicações coerentes.
. Mantenha-se centrado no documento
. Comente, pondo em evidência primeiramente o essencial.
. Um espírito claro exprime-se com clareza.
Excerto do capítulo 42, «Comentário aos documentos», de Michel Coéffé, Guia dos métodos de trabalho, Mem Martins,
Edições, CETOP, 1992. Traduzido do francês por Vítor Romaneiro. Capítulo 42 (pp. 264 -270).