Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
º ANO
FICHA DE TRABALHO
GRUPO I
TEXTO A
Lê os textos A e B.
O mito universal do Dilúvio é descrito na tradição de muitas civilizações. A mais conhecida versão
desse mito encontra-se na Bíblia, no episódio da Arca de Noé (Génesis, 6-9). Segundo a tradição,
houve uma época em que o mundo era dominado pela maldade e pela violência, pelo que Deus
resolveu fazer desaparecer da terra todos os vícios humanos, aniquilando para tal o homem e os
5 animais.
Porém, Noé, o nono descendente de Adão, homem justo, foi escolhido por Deus para construir uma
grande arca fechada, com uma única porta, por onde ele deveria entrar com a mulher, os três filhos
Sem, Ham e Japeth e as suas três noras. Com eles deveriam ir um macho e uma fêmea de todas as
espécies animais do mundo. Deus disse a Noé que, passados sete dias sobre a entrada de todos na
10 arca, choveria na terra, durante quarenta dias e quarenta noites, exterminando, através de um dilúvio,
a vida à face da terra.
Depois do dilúvio, Noé soltara uma pomba para ver se as águas já tinham diminuído. Como a
pomba não trazia nada, Noé esperou mais sete dias e, de novo, soltou a pomba que trouxe então uma
folha verde de oliveira. A esperança estava relançada e a sua família repovoaria a terra. Esta história
15 faz parte da tradição cristã da humanidade e é uma das muitas versões que existem no mundo sobre
a inundação total e catastrófica.
https://www.infopedia.pt/$o-diluvio
TEXTO B
Excerto do conto “Vicente”, de Miguel Torga.
Naquela tarde, à hora em que o céu se mostrava mais duro e mais sinistro, Vicente abriu as asas
negras e partiu. Quarenta dias eram já decorridos desde que, integrado na leva dos escolhidos, deram
entrada na Arca. Mas desde o primeiro instante que todos viram que no seu espírito não havia paz.
Calado e carrancudo, andava de cá para lá numa agitação contínua, como se aquele grande navio
5 onde o Senhor guardara a vida fosse um ultraje à criação. Em semelhante balbúrdia – lobos e cordeiros
irmanados no mesmo destino –, apenas a sua figura negra e seca se mantinha inconformada com o
procedimento de Deus. (…)
A insólita partida foi presenciada por grandes e pequenos num respeito calado e contido. Pasmados
e deslumbrados, viram-no, temerário, de peito aberto, atravessar o primeiro muro de fogo com que
10 Deus lhe quis impedir a fuga, sumir-se ao longe nos confins do espaço. Mas ninguém disse nada. O
seu gesto foi naquele momento o símbolo da universal libertação. A consciência em protesto ativo
contra o arbítrio que dividia os seres em eleitos e condenados.
1
PORTUGUÊS 8.º ANO
FICHA DE TRABALHO
Mas ainda no íntimo de todos aquele sabor de resgate, e já do alto, larga como um trovão, penetrante
como um raio, terrível, a voz de Deus:
15
– Noé, onde está o meu servo Vicente? (…)
Noé e o resto dos animais assistiam mudos àquele duelo entre Vicente e Deus. E no espírito claro ou
brumoso de cada um, este dilema, apenas: ou se salvava o pedestal que sustinha Vicente, e o Senhor
preservava a grandeza do instante genesíaco – a total autonomia da criatura em relação ao criador – ou,
submerso o ponto de apoio, morria Vicente, e o seu aniquilamento invalidava essa hora suprema. A
20 significação da vida ligara-se indissoluvelmente ao ato de insubordinação. Porque ninguém mais dentro
da Arca se sentia vivo. Sangue, respiração, seiva de seiva, era aquele corvo negro, molhado da cabeça
aos pés, que, calma e obstinadamente, pousado na derradeira possibilidade de sobrevivência natural,
desafiava a omnipotência.
Três vezes uma onda alta, num arranco de fim, lambeu as garras do corvo, mas três vezes recuou.
25 A cada vaga, o coração frágil da Arca, dependente do coração resoluto de Vicente, estremeceu de
terror. A morte temia a morte.
Mas em breve se tornou evidente que o Senhor ia ceder. Que nada podia contra aquela vontade
inabalável de ser livre.
Que, para salvar a sua própria obra, fechava, melancolicamente, as comportas do céu.
Miguel Torga, Bichos, Gráfica de Coimbra, 1984
1. O conto de Miguel Torga estabelece uma relação intertextual com o mito do Dilúvio universal.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
b) o espaço.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
c) o tempo.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
2
PORTUGUÊS 8.º ANO
FICHA DE TRABALHO
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
3 Associa cada expressão destacada em cada frase da coluna A ao recurso expressivo que lhe corresponde na
coluna B.
GRUPO II
COLUNA A COLUNA B 1.
(a) “apenas a sua figura negra e seca se mantinha inconformada” (1) Metáfora
(b) “larga como um trovão, penetrante como um raio, (…) a voz de Deus” (2) Antítese
(d) “Três vezes uma onda alta (…) lambeu as garras do corvo” (4) Personificação
(6) Adjetivação
(7) Hipérbole
(B) Deus disse a Noé que choveria na Terra durante 40 dias e 40 noites.
______________________________________________________________________________
(C) Esta história é uma das muitas versões que existem no mundo.
______________________________________________________________________________
3
PORTUGUÊS 8.º ANO
FICHA DE TRABALHO
4. Reescreve as frases substituindo as expressões sublinhadas pelo pronome adequado. Faz apenas as alterações
necessárias.
(A) A sua família repovoaria a terra.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________