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Título - Gestão ambiental em organizações: as contradições percebidas pelas trabalhadores

Autor- Dra. Kátia Barbosa Macêdo – Universidade Católica de Goiás


katia.macedo@cultura.com.br
Co-autores- Elise Alves dos Santos, Universidade Católica de Goiás -
elise_alves@yahoo.com.br
Ana Tereza Elias Siqueira -bolsista Universidade Católica de Goiás
aninhates@yahoo.com.br
Jamaile de Souza Reis Universidade Católica de Goiás jamaile@gmail.com
Keila Mara de Oliveira Farias - Faculdades Alves Faria keila_mara@uol.com.br
Luiza Ferreira Rezende de Medeiros – doutoranda pela Universidade de Brasília
luiza502@bol.com.br
Resumo -
A presente pesquisa teve como objetivo levantar dados a respeito de organizações goianas
que atuam em Gestão Ambiental, enfocando a implantação dos programas de GA, tendo
como objetivo geral conhecer como os trabalhadores representam os programas
desenvolvidos pelas organizações onde atuam. Para que o SGA seja efetivo é fundamental
que este esteja integrado ao planejamento global da empresa; e que haja efetivo
envolvimento de todos os setores e pessoas responsáveis por sua implantação. É necessário
ainda refletir a política ambiental garantindo uma mudança de comportamento e submeter-
se a uma revisão periódica. Muitas vezes, as organizações que implantam os SGA buscam
tão somente o reconhecimento externo, de forma que a questão central do meio ambiente
assume um papel secundário. Trata-se de estudo de casos, de caráter descritivo e
exploratório, que foi realizado em parceria com a FIEG e Agência Ambiental do Estado de
Goiás. Foram coletados dados em 10 organizações goianas. Como instrumentos para coleta
de dados foi utilizado a análise documental, e entrevista semi-estruturada Para o tratamento
dos dados foi realizada a Análise Gráfica do Discurso de Lane. A partir do discurso dos
trabalhadores emergiram núcleos de pensamento que indicam representações dos
trabalhadores envolvidos no processo que consideram que: motivos distintos foram
considerados para decisão de implantar as ações; foram utilizadas abordagens
diferenciadas para conscientizar e sensibilizar os trabalhadores; alguns afirmaram que
houve adequação das atividades e declararam conhecer o Programa, avaliando-o como
bom; em outras, trabalhadores declararam que as ações visavam mais ao cumprimento da
legislação, que houve pouco investimento para sensibilização/implantação deste, e que não
gerou mudanças, sendo que muitos desconhecem seu funcionamento. Com relação à
pergunta “A organização possui algum sistema de gestão ambiental?”, se observou
diferentes respostas para os níveis gerencial e operacional. Fica claro que os trabalhadores
de uma maneira geral não têm esclarecimentos maiores quanto aos programas e ações
desenvolvidas nas organizações, e que muitas vezes apenas a área administrativa envolve-
se no processo. Dessa forma é possível afirmar que nem sempre o objetivo da organização
está voltado para a sensibilização dos funcionários acerca da importância da questão
ambiental. Ao falarem sobre o motivo pelo qual a organização buscou a implementação do
SGA, percebe-se uma clara diferenciação entre o discurso dos trabalhadores da área
operacional e administrativa, já que muitas vezes as informações ficam restritas à área
administrativa, e quando os trabalhadores não sabem relatar os motivos, nem tampouco
descrever o que é o próprio Sistema de Gestão Ambiental. Dados referentes à
implementação do SGA, e a questão da inclusão do SGA no planejamento estratégico
também ficam restritos tão somente ao departamento responsável pela Gestão Ambiental.
No que se refere ao planejamento acerca do Sistema de Gestão Ambiental, emergiram
respostas que tal levantamento foi realizado a partir de estudos, e à medida em que surgiam
dúvidas acerca da implementação, novos estudos eram realizados. Os trabalhadores da área
administrativa afirmaram que tinham conhecimento acerca do Estudo e do Relatório de
Impacto Ambiental, mas que tais estudos não eram a base para a implantação dos
programas. A implantação do programa. Observa-se que os trabalhadores da área muitas
vezes declaram não conhecer o programa e não sabem informar dados básicos acerca dos
mesmos, ainda que esses programas estejam em andamento, ou mesmo que as organizações
já tenham obtido alguma certificação de gestão ambiental, como ISO 14000 ou similares.
Fica claro assim, a contradição no discurso entre as áreas administrativa e operacional, pois
os trabalhadores que atuam em nível gerencial ou na área administrativa têm mais acesso às
informações do programa, porém não as repassam de forma coerente às demais áreas da
organização. Ao serem perguntados sobre as atividades de divulgação para que os
trabalhadores conhecessem os programas, do discurso dos trabalhadores da área
administrativa emergiram respostas relacionadas à realização de palestras e treinamentos
visando a sensibilização dos trabalhadores sobre o programa. Observa-se que há uma
incoerência entre tais informações, já que as respostas dos trabalhadores da área
operacional declaram desconhecer dados básicos dos programas e sobre as ações
desenvolvidas nas organizações onde atuam. Ao se questionar se a organização modificou
algum processo após a implantação do SGA, o que se percebe é que não foram relatadas
mudanças nem relacionadas à forma de os trabalhadores desenvolverem suas atividades
rotineiras. Assim, não há uma adequação ao sistema junto aos trabalhadores, o que remete
mais uma vez a questão de um questionamento mais aprofundado do motivo pelo qual as
organizações buscam um SGA, e a partir disso surge a questão de que se as organizações o
fazem visando utilizar o programa como marketing, para atender à exigências externas, ou
se realmente objetivam desenvolver uma sensibilização dos trabalhadores em relação às
questões ambientais, e realmente desenvolverem ações que visem prevenir e diminuir
impactos negativos no meio ambiente. Um treinamento que vise sensibilizar os
trabalhadores para questão ambiental deve envolver aspectos de sensibilização ambiental;
motivação e comunicação extensivos a todos os trabalhadores da organização. Constatou-
se que não existem indicadores, monitoramento nem produção de relatórios periódicos para
avaliar o desempenho ambiental das organizações. Alguns trabalhadores do grupo
administrativo até reconhecem a necessidade de implantá-las. Já os trabalhadores da área
operacional não sabem do que se trata ou têm apenas uma vaga noção. Quando isso ocorre,
atribui-se o conhecimento a outro departamento que não o seu. Quanto ao consumo de
energia e de água, redução na produção de resíduos e níveis de poluição liberados, o grupo
gerencial afirma que houve uma redução considerável, porém sem dados quantitativos
sistematizados. Enquanto o grupo de trabalhadores que atuam na área operacional afirma
que “acham que houve” uma redução, ou ainda que desconhecem qualquer informação a
esse respeito. Foram considerados como pontos positivos para a organização após a
implantação de ações de gestão ambiental a divulgação de uma imagem institucional
externa positiva; o sentimento de gratificação de algumas pessoas envolvidas com o
programa em contribuir com a preservação do meio ambiente e limpeza das ruas; foi
mencionado que houve aumento na lucratividade,a partir do início da venda de materiais
recicláveis; houve mais economia na compra de produtos e ainda houve redução das
faturas de pagamento de energia e água. Mais do que aspectos negativos relacionados ao
programa, pode-se detectar falhas relacionadas com sua concepção, falta de planejamento
que garantisse sua implantação de forma adequada, falta de envolvimento da cúpula. Ainda,
falta de indicadores claros e objetivos, falta de acompanhamento e avaliação do programa.
Todos esses fatores contribuíram para o comprometimento dos resultados do programa.
Ficou clara a dificuldade marcante de entendimento e conhecimento por parte dos
trabalhadores com relação ao programa, o que dificultou sobremaneira que eles
respondessem a algumas perguntas da entrevista; a constatação de que houve falhas na
comunicação do programa e ações, tendo em vista a inexistência quase generalizada de
trabalhadores sensibilizados para a questão ambiental e sua importância; infere-se que
houve pouco investimento e envolvimento da cúpula junto à implantação do programa,
tendo em vista que os trabalhadores de ambos os grupos declararam que houve falta de
divulgação, comunicação, execução, andamento e controle das práticas de gestão
ambiental. Sobre as análises críticas periódicas do SGA, quase todas as organizações
pesquisadas não realizam tais análises e quando as realizam, não o fazem periodicamente.
A sensibilização sobre a questão ambiental emerge em um momento em que cada
trabalhador, age localmente pensando de forma global. Essa sensibilização não ocorre
simplesmente a partir da implementação de ações por parte das organizações, como meio
de obter determinadas certificações, mas surge através da implementação programas
educativos, trocando experiências. Os resultados obtidos na pesquisa indicam um
envolvimento instrumental com o Sistema de Gestão Ambiental, visando atender à pressões
externas e obter acesso à liberação de verbas e financiamentos, logo um dos interesses
comercial. As organizações para atender a exigências externas, optaram por manipular os
processos de sistema de gestão ambiental, como um meio de atender as exigências, não se
trata, como mencionado, de uma questão de sensibilização e envolvimento com a questão
ambiental, mas sim de manutenção do sistema econômico. Levantou-se várias contradições,
no que se refere à implantação do sistema de gestão ambiental. Compreende-se que as
organizações não definiram sua política ambiental, o que indica que ela não assumiu
compromissos efetivos ao meio ambiente ou com um processo de melhoria contínua. Existe
um discurso de uma política de gestão integrada, mas esta não está nem disponível aos
trabalhadores nem é divulgada para os clientes. Os resultados desta pesquisa não mostram
essas ações, aliás, foi relatado pelos trabalhadores que essas ações não ocorreram, deixando
claro que o foco das organizações era interesse econômico. A incorporação dos conceitos
de um SGA, no cotidiano dos trabalhadores requer uma mudança de cultura em todos os
níveis. A inserção desses novos conceitos na cultura da organização exige um sistema de
sensibilização eficiente entre seus vários níveis hierárquicos por meio do estabelecimento
de um sistema de educação ambiental que mobilize todos os seus integrantes. Como as
organizações atuavam com o sistema de gestão ambiental para atender a pressões externas,
a preocupação em desenvolver ações de educação ambiental não era prioridade.
Tema e Eixo em que se insere – Trabalho
Introdução
Com o aumento da conscientização da questão ambiental pelos consumidores e o
fortalecimento de movimentos sociais, surgiram e se multiplicaram legislações específicas
para o meio ambiente, transferindo a responsabilidade de tratamento de resíduos, efluentes
e reciclagem de materiais para as organizações. O mercado verde criou oportunidades de
negócios em várias frentes diferentes.
Ao implantarem Sistemas de Gestão Ambiental, as empresas podem modificar
processos, fornecedores, desenho e embalagens dos produtos ou serviços visando alcançar
seus objetivos.
Para Donaire (1999), na América Latina, as prioridades dizem respeito às políticas
de desenvolvimento e à luta contra o subdesenvolvimento e suas manifestações. Entre os
problemas ambientais mais comuns destaca-se o da poluição, em sua expressão mais
tradicional ligada à industrialização, à mecanização da agricultura e ao crescimento urbano.
O problema ambiental latino-americano é a depredação passada e presente dos
recursos da região. Esses recursos têm sido sobre utilizados por uma exploração em
benefício de grupos poderosos. Nesse sentido, as ações dos países latino-americanos devem
enfocar em três aspectos: recuperação do meio ambiente degradado; avaliação da
degradação futura do meio ambiente; potencialização de recursos ambientais.
No Brasil, a preocupação ecológica e sua interiorização organizacional é fruto de
influências externas, da legislação ambiental e das pressões exercidas pela comunidade.
Para Viola e outros (1998), o ambientalismo brasileiro emergiu na primeira metade de
década de 1970, por meio de algumas poucas associações que realizavam campanhas de
denúncia e conscientização pública de âmbito local, as quais obtiveram mínima repercussão
na opinião pública
Dentre os motivos que levam organizações a incorporarem a variável ambiental em
sua gestão, geralmente ocorrem: necessidade de obedecer às leis; empresas devem tornar-se
mais eficazes, reduzindo custos com reciclagem, diminuição do consumo de matérias-
primas, energia e evitando desperdícios; elas devem ser mais competitivas e abrir novos
mercados; elas não devem correr o risco de comprometer sua imagem junto à opinião
pública associando sua imagem a poluição e degradação ambiental; responsabilidade social
e ética das empresas com a sociedade no presente e no futuro.
Gestão Ambiental nas Organizações: Sistema de Gestão Ambiental
Um SGA é “a parte do Sistema de Gestão Global que inclui a estrutura
organizacional, o planejamento de atividades, responsabilidades, práticas, procedimentos,
processos e recursos para o desenvolvimento, implantação, alcance, revisão e manutenção
da política ambiental”, segundo normas da ISO14000. A implantação do SGA ocorre em
cinco etapas sucessivas e contínuas: 1- Política ambiental da organização. 2- Planejamento,
3- Implementação e operação; 4- Monitoramento e ações corretivas e 5- Revisões
gerenciais. O SGA distingue-se das ações descontínuas, pontuais, não integradas de
controle da poluição da empresa.
O sucesso do SGA vai depender: Do comprometimento da alta direção, de ele estar
integrado ao planejamento global da empresa, do envolvimento de todos os setores e
pessoas responsáveis pela sua implantação, e de ele refletir a política ambiental, de ele
garantir uma mudança de comportamento, de ele considerar recursos humanos, físicos, e
financeiros necessários, de ser dinâmico e sofrer revisão periódica.
Elkington e Burke (1989 in DONAIRE 1999) sugerem os dez passos necessários
para a excelência ambiental: desenvolva e publique uma política ambiental; estabeleça
metas e continue a avaliar os ganhos; defina claramente as responsabilidades ambientais de
cada uma das áreas e do pessoal; divulgue interna e externamente a política, os objetivos e
metas e as responsabilidades; obtenha recursos adequados; eduque e treine seu pessoal e
informe aos consumidores e a comunidade; acompanhe a situação ambiental da empresa e
faça auditorias e relatórios; acompanhe a evolução da discussão sobre a questão ambiental;
contribua para os programas ambientais da comunidade e invista em pesquisa e
desenvolvimento aplicados à área ambiental e ajude a conciliar os diferentes interesses
existentes entre todos os envolvidos.
Para a implantação são necessárias algumas decisões anteriores: escolha de um
responsável; formar o Comitê de coordenação/Implantação; sensibilizar e treinar os
envolvidos e treinar para o comitê de coordenação/Implantação. Donaire sugere uma
avaliação do posicionamento da empresa em relação à questão ambiental, possibilitando
avaliar seu perfil, e inclui nove variáveis a serem observadas: ramo de atividade da
empresas; produtos, examinando se são renováveis ou não, se é possível reciclagem, se há
aproveitamento de resíduos, se há poluidores, a quantidade de energia; processo – um
processo deve estar próximo a : poluição zero, nenhuma produção de resíduos, nenhum
risco para os trabalhadores, baixo consumo de energia e eficiente uso dos recursos;
conscientização ambiental; padrões ambientais; comprometimento gerencial; capacitação
do pessoal; capacidade da área de Pesquisa e Desenvolvimento e capital.
Para Maimon (1999), os empresários e gestores encontram algumas dificuldades no
processo de implantação de um Programa de Gestão Ambiental nas organizações. Essas
dificuldades serão aqui tratadas como barreiras à implantação dos Programas de Gestão
Ambiental. As principais são: organizacionais, sistêmicas, comportamentais, técnicas,
econômicas e governamentais.
Um dos problemas enfrentados ao implantar os Programas de Gestão Ambiental é a
falta de incentivos governamentais para a redução dos impactos ambientais e para
compatibilização da política industrial com a segurança dos investimentos realizados.
Qualquer alteração na política industrial pode inviabilizar os Programas de Gestão
Ambiental.
Com o objetivo de atender a algumas dessas motivações, organizações passaram a
desenvolver mudanças para a implantação do sistema de gestão ambiental. Os
trabalhadores da organização são afetados de formas diferentes pela implantação desse
novo sistema de gestão, que muitas das vezes modifica completamente as atividades
exercidas por eles na organização. A forma como o trabalhador da organização percebe,
vivencia e representa a implantação de um sistema de gestão ambiental depende do impacto
que esta causa nos processos organizacionais que ele participa. Dessa forma, a percepção,
vivências e representações que o trabalhador do nível operacional se baseia para construir
seu discurso sobre o tema pode ser completamente diferente da de seus colegas que atuam
no nível estratégico/tático.
Compreender (via uma análise discursiva) a percepção, vivências e representações
dos trabalhadores da organização quanto à gestão dos programas ambientais, pode tanto
contribuir para a ampliação do conhecimento científico sobre o assunto, como para a
elaboração de propostas de melhoria ns organizações. Desse modo pode auxiliar na
conscientização/sensibilização dos trabalhadores para os impactos ambientais causados
pelas atividades que desenvolve, bem como esclarecer aos administradores das
organizações sobre a importância da implantação de um sistema de gestão ambiental.
Objetivo
O presente estudo teve como objetivo levantar dados sobre as representações que os
trabalhadores têm sobre os Sistemas de Gestão Ambiental ou Ações de Gestão Ambiental
em organizações goianas, partindo de seu discurso. Para tal, teve como parceiros a
Secretaria do meio Ambiente, e o SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial,
tendo em vista que ambos promovem o Prêmio de Gestão Ambiental em Goiás.
Método
Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório que foi realizada por meio de
estudos multicasos. A presente pesquisa contou com a participação de 10 organizações
localizadas na região metropolitana de Goiânia. Tais organizações foram selecionadas a
partir de um critério de possuírem alguma ação voltada para o meio ambiente.
A amostra foi composta por 61 trabalhadores, de ambos os sexos, com idade
variando entre 18 a 56 anos, com escolaridade variando entre analfabetos até ensino
superior completo, sendo que foram subdivididos em trabalhadores de nível operacional e
nível gerencial. Os dados foram coletados por meio de análise documental e entrevistas
semi-estruturadas, realizadas individualmente, e com consentimento expresso dos sujeitos.
Também desenvolveu a análise documental de todas as organizações que possuíam
documentos específicos sobre gestão ambiental. O roteiro de entrevista abordou cinco
categorias: comprometimento e política ambiental; planejamento; implementação; medição
e avaliação e análise crítica e melhoria. A técnica escolhida para a análise de dados foi
a análise gráfica do discurso de Silvia Lane (1985).
Resultados
Os resultados serão apresentados considerando os núcleos e categorias que emergiram do
discurso dos participantes, e serão apresentados considerando as categorias do roteiro:
Categoria 1- Comprometimento e Política
Os trabalhadores de uma maneira geral não têm esclarecimentos maiores quanto aos
programas e ações desenvolvidas nas organizações, e que muitas vezes apenas a área
administrativa envolve-se no processo. Dessa forma é possível afirmar que nem sempre o
objetivo da organização está voltado para a sensibilização dos funcionários acerca da
importância da questão ambiental.
Ao responderem o motivo pelo qual a organização buscou a implementação do
SGA, percebe-se uma clara diferenciação entre o discurso dos trabalhadores da área
operacional e administrativa, já que muitas vezes as informações ficam restritas à área
administrativa, e quando os trabalhadores não sabem relatar os motivos, nem tampouco
descrever o que é o próprio Sistema de Gestão Ambiental. Dados referentes à
implementação do SGA, e a questão da inclusão do SGA no planejamento estratégico
também ficam restritos tão somente ao departamento responsável pela Gestão Ambiental.
Categoria 2- Planejamento
Observou-se que para a questão “se foi realizado algum estudo para verificar a
viabilidade da implementação do SGA”, emergiram respostas que tal levantamento foi
realizado a partir de estudos, e à medida em que surgiam dúvidas acerca da implementação,
novos estudos eram realizados. Ao serem perguntados sobre o EIA/RIMA, os trabalhadores
muitas vezes não sabiam o que estava sendo perguntado. Os trabalhadores da área
administrativa afirmaram que tinham conhecimento acerca do Estudo e do Relatório de
Impacto Ambiental, mas que tais estudos não eram a base para a implantação dos
programas.
Os principais motivos para a implementação do SGA ocorrem por exigências
externas, exigências dos consumidores. Observou-se que uma das preocupações das
organizações em buscarem a implementação de tais ações, são advindas das exigências
externas da mesma. Já que tanto os fornecedores, quanto os consumidores cobram das
organizações uma postura de maior comprometimento com o meio ambiente.
A opta por implantar sistema de gestão ambiental, ou ações de gestão ambiental
como meio de atender às exigências do mercado, consumidores e fornecedores, e não
centrando no objetivo de sensibilização das pessoas envolvidas, já que os próprios
trabalhadores não conhecem o programa implantado.
A maioria das organizações não possui um departamento especificamente
responsável pela Gestão Ambiental, sendo geralmente gerenciado por algum departamento
ligado à área administrativa, ou mesmo tendo pessoas responsáveis, sem nem mesmo
constituir um departamento específico para tal objetivo.
Assim, deve-se ter claro que a disseminação da prática da gestão ambiental
certamente contribui para a maior sensibilização e envolvimento da sociedade com relação
ao tema ambiental, gerando efeitos positivos no comportamento dos dirigentes das
organizações e estimulando atitudes pró-ativas em favor da qualidade ambiental. Assim, o
planejamento deve abranger tanto questões políticas, quanto questões visando à
conscientização interna e externa da organização.
Categoria 3 - Implantação
Observa-se que os trabalhadores da área muitas vezes declaram não conhecer o
programa e não sabem informar dados básicos acerca dos mesmos, ainda que esses
programas estejam em andamento, ou mesmo que as organizações já tenham obtido alguma
certificação de gestão ambiental, como ISO 14000 ou similares. Há contradição no discurso
entre as áreas administrativa e operacional, pois os trabalhadores que atuam em nível
gerencial ou na área administrativa têm mais acesso às informações do programa, porém
não as repassam de forma coerente às demais áreas da organização; há uma incoerência
entre tais informações, já que as respostas dos trabalhadores da área operacional declaram
desconhecer dados básicos dos programas e sobre as ações desenvolvidas nas organizações
onde atuam.
Não houve relatos de que a organização modificou algum processo após a
implantação do SGA, o que se percebe é que não foram relatadas mudanças nem
relacionadas à forma de os trabalhadores desenvolverem suas atividades rotineiras. Assim,
não há uma adequação ao sistema junto aos trabalhadores, o que remete mais uma vez a
questão de um questionamento mais aprofundado do motivo pelo qual as organizações
buscam um.
De acordo com Reis (2002), um treinamento que vise sensibilizar os trabalhadores para
questão ambiental deve envolver aspectos de sensibilização ambiental; motivação e
comunicação extensivos a todos os trabalhadores da organização. Um processo de
treinamento e desenvolvimento eficaz deve envolver várias etapas e elementos essenciais, a
saber: Identificação das necessidades específicas de treinamento e desenvolvimento da
organização; Desenvolvimento de planos dirigidos de treinamento; Verificação e avaliação
da conformidade do programa de treinamento previsto com os requisitos legais ou
organizacionais; Treinamento de grupos específicos de trabalhadores de nível gerencial e
operacional, de todas as áreas da organização; Documentação do treinamento realizado e
Avaliação dos resultados do treinamento recebido.
Categoria 4 - Medição e Avaliação
Na maioria das entrevistas realizadas, constatou-se que não existem indicadores,
monitoramento nem produção de relatórios periódicos para avaliar o desempenho ambiental
das organizações. Alguns trabalhadores do grupo administrativo até reconhecem a
necessidade de implantá-las. Já os trabalhadores da área operacional não sabem do que se
trata ou têm apenas uma vaga noção. Quando isso ocorre, atribui-se o conhecimento a outro
departamento que não o seu.
Categoria 5 - Análise Crítica e Melhoria
Quanto ao consumo de energia e de água, redução na produção de resíduos e níveis
de poluição liberados, o grupo gerencial afirma que houve uma redução considerável,
porém sem dados quantitativos sistematizados. Enquanto o grupo de trabalhadores que
atuam na área operacional afirma que “acham que houve” uma redução, ou ainda que
desconhecem qualquer informação a esse respeito.
Foram considerados como pontos positivos para a organização após a implantação de ações
de gestão ambiental a divulgação de uma imagem institucional externa positiva; o
sentimento de gratificação de algumas pessoas envolvidas com o programa em contribuir
com a preservação do meio ambiente e limpeza das ruas; foi mencionado que houve
aumento na lucratividade,a partir do início da venda de materiais recicláveis; houve mais
economia na compra de produtos e ainda houve redução das faturas de pagamento de
energia e água.
Mais do que aspectos negativos relacionados ao programa, pode-se detectar falhas
relacionadas com sua concepção, falta de planejamento que garantisse sua implantação de
forma adequada, falta de envolvimento da cúpula. Ainda, falta de indicadores claros e
objetivos, falta de acompanhamento e avaliação do programa. Todos esses fatores
contribuíram para o comprometimento dos resultados do programa.
Sobre as análises críticas periódicas do SGA, quase todas as organizações
pesquisadas não realizam tais análises e quando as realizam, não o fazem periodicamente .
Conclusões
No que se refere à sensibilização sobre a questão ambiental, essa emerge em um momento
em que cada trabalhador, consciente de suas responsabilidades com relação ao meio
ambiente e às gerações futuras, age localmente pensando de forma global. Essa
sensibilização não ocorre simplesmente a partir da implementação de ações por parte das
organizações, como meio de obter determinadas certificações, mas surge através da
implementação programas educativos, trocando experiências, num respeito ao 'saber fazer'
existente em todas as culturas.
Ao iniciar a implantação do SGA, a organização deve promover momentos de
sensibilização e conscientização de todos os trabalhadores. Os resultados desta pesquisa
não mostram essas ações, aliás, foi relatado pelos trabalhadores que essas ações não
ocorreram, deixando claro que o foco das organizações era interesse econômico.
A incorporação dos conceitos de um SGA, no cotidiano dos trabalhadores requer uma
mudança de cultura em todos os níveis. A inserção desses novos conceitos na cultura da
organização exige um sistema de sensibilização eficiente entre seus vários níveis
hierárquicos por meio do estabelecimento de um sistema de educação ambiental que
mobilize todos os seus integrantes.
Como as organizações atuavam com o sistema de gestão ambiental para atender a
pressões externas, a preocupação em desenvolver ações de educação ambiental não era
prioridade. Quando não há um envolvimento real da cúpula com o projeto, ele fica
prejudicado, pois ocorre uma adoção de forma temporária e ou parcial a tecnologia em
questão, para aplacar as pressões, sem, no entanto, realizar mudanças consistentes ou mudar
aquilo que se considera intocável no status quo.
Com base nos dados apresentados, pode-se afirmar que os trabalhadores percebem o
sistema de gestão ambiental das organizações onde atuam como uma incógnita, tendo em
vista a falta de informações sobre o mesmo.
Como pode ser verificado ao longo do trabalho, a questão ambiental, sistematizada ou
não, já faz parte do ambiente das organizações estudadas, ainda que, na maioria das
organizações não existe uma preocupação direta com o meio ambiente. Observa-se que
existem vários fatores que levam uma determinada organização a um processo de mudança,
dentre esses é possível citar, tanto implicações no ambiente externo, quanto pressões do
governo e do mercado, e no ambiente interno, como novos objetivos ou pressões dos
grupos de influência, são alguns dos impulsionadores da mudança.
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