RÉMOND, René. A revolução industrial e a condição operária.
In: O século XIX: 1815-
1914. São Paulo, Cultrix, 1974, p. 100-108.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A CONDIÇÃO OPERÁRIA
A junção do desenvolvimento das máquinas e do uso de uma nova fonte de energia, o carvão, é a origem da Revolução Industrial que nasceu na Inglaterra do século XVIII e se propagou pelo continente no século XIX. Essa revolução afeta a relação do homem com seu trabalho e as relações dos homens entre si. Ocorre também uma maior concentração geográfica e humana em torno das fontes de energia e matérias-primas (isso acaba ligando-a ao fenômeno urbano), pois precisa-se de uma numerosa mão-de- obra, que, em sua maioria, vem dos campos (relação com o êxodo rural) e formam uma classe inteiramente nova. Uma nova realidade social modifica as relações entre os grupos, pois, surgem também novos postos de trabalho ligados a indústria. Essas mudanças aprofundam as desigualdades entre os patrões e os operários, que não se restringem ao ambiente fabril, pois, a participação política, os direitos, o lugar onde vive também são afetados, esse último, acaba por criar uma segregação sociológica até então desconhecida, dividindo a população que mora em bairros elegantes dos que vivem nos subúrbios. Esses fatores levam a uma tensão entre essas classes que têm interesses contrários: enquanto o patrão quer diminuir os salários, os trabalhadores buscam defendê-lo, especialmente porque existe uma grande concorrência de emprego, o que acaba transformando o empregado em dependente do empregador. Esse novo modelo de sociedade, inicialmente, se restringe a regiões limitadas, expandindo-se posteriormente. As condições de trabalho são péssimas, os operários estão na fábrica enquanto a claridade permitir (até 15 ou 16 horas), não tem dia de descanso, supressão de festas religiosas (que contribui para a descristianização), trabalham de crianças até os mais velhos, vivem em locais inadequados, insegurança no trabalho, baixos salários. Tudo isso de acordo com as máximas liberais, e intensificados pela falta de um regime jurídico. Nos períodos de depressão econômica, a procura por produtos diminui, e as empresas tentam diminuir ainda mais os salários dos trabalhadores. Assim, fatores econômicos e demográficos contribuem para agravar a condição dos trabalhadores. O pauperismo, inspira uma legislação, um movimento de piedade e simpatia, obras filantrópicas, romantismo do miserabilismo, o que acaba sendo útil para compreender o início do movimento operários e sua orientação atual.