Você está na página 1de 6

REGIONALIZAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO XINGU,

PARÁ.*

Edmundo Wallace Monteiro LUCAS1, Francisco de Assis Salviano de SOUSA2, Ronaldo Haroldo
Nascimento de MENEZES3, Rafael FERREIRA DA COSTA4, Leidiane Leão de OLIVEIRA4

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi regionalizar a precipitação sobre a Bacia Hidrográfica do
Xingu (BHX), Pará, a partir da técnica de agrupamento. Foram identificados três grupos homogêneos
de precipitação, os quais definiram as regiões central, sul e norte da BHX. As estações chuvosas sobre
essas regiões foram diferenciadas, refletindo as áreas de atuação dos principais sistemas
meteorológicos atuantes sobre a BHX. O extremo norte definido pelo grupo C, recebe a influência da
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), por outro lado, o extremo sul definido pelo grupo B, é
afetado pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). A região central formada pelo grupo A,
aparece como uma região de transição entre estes dois sistemas. Desta forma, a técnica foi capaz de
diferenciar as estações de acordo com os padrões de precipitação associados aos diferentes sistemas
meteorológicos produtores de tempo sobre a região da BHX.

ABSTRACT: The aim of this work was to regionalize the precipitation over Xingu River Basin
(XRB) in Pará State, from the grouping technique. Three homogeneous groups of precipitation had
been identified, which had defined the regions central, south and north of the XRB. The rainy seasons
on these regions had been differentiated, reflecting the areas of performance of the main operating
meteorological systems on the XRB. The extremity north defined for group C, receives the influence
from the Intertropical Convergence Zone (ITCZ), on the other hand, the south extremity defined for
group B, is affected by the South Atlantic Convergence Zone (SACZ). The central region formed for
the group A, appears like a region of transition between these two systems. In such a way, the
technique was able to differentiate the seasons in agreement with the precipitation patterns associates at
different meteorological systems weather producers over the region of the XRB.

“Palavras-Chave” Agrupamento, Chuva.


___________________________________________________________________________________
(*) Resultados Preliminares da Dissertação de Mestrado do primeiro autor em Meteorologia pela UFCG.
(1) Aluno de Pós-graduação da UFCG e Meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia. End.: Eixo Monumental Via
S 1 Sudoeste Cruzeiro, DF CEP: 70680-900. e-mail: edmundo.lucas@inmet.gov.br, Fone: (61) 3344 2192.
(2) Professor da Universidade Federal de Campina Grande. End.: Avenida Aprígio Veloso, 882, Bloco CL, 58.109-080 Campina
Grande/PB. e-mail: fassis@dca.udcg.edu.br, Fone: (61) 3344 2192.
(3) Professor da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA/CECEN/CCA Caixa Postal 09-65055-190 São Luís, MA.
e-mail: rhmenezes@yahoo.com.br, Fone: (83) 3333 4481.
(4) Alunos de Pós-graduação da Universidade Federal de Campina Grande. End.: Avenida Aprígio Veloso, 882, Bloco CL,
58.109-080 Campina Grande/PB. e-mail: leidianeoli@gmail.com, rfcostampeg@bol.com.br, Fone: (83) 3333 4481.
2
INTRODUÇÃO
Constata-se uma grande carência de estudos sobre as características do regime de chuva na Bacia
Hidrográfica do Xingu (BHX), localizada entre os paralelos 01º23'24''S e 09º48'05''S e entre os
meridianos 50º19'44''W e 55º15'06''W. Desta forma, para entender melhor essas características, a
identificação de regiões homogêneas quanto ao comportamento individual ou combinado de diferentes
elementos meteorológicos faz-se necessário.
A técnica estatística de agrupamento é utilizada com o objetivo de facilitar a identificação de
grupos homogêneos por meio do cálculo do coeficiente de similaridade. Esta técnica foi aplicada por
Nery et. al. (1996) sobre os períodos de intensidades das chuvas no estado do Paraná, classificando-o
em cinco grupos homogêneos. Por outro lado, Machado et. al. (1996), partiu da análise de agrupamento
para estudar a duração da estação chuvosa. A partir dos resultados, eles sugeriram as épocas mais e
menos propiciar as atividades agrícolas para o estado de Minas Gerais.
Em um trabalho mais amplo, Keller et. al. (2005), usaram a técnica de análise de agrupamento
hierárquica com o objetivo de delimitar regiões homogêneas sobre o Brasil. Os resultados permitiram
identificar 25 regiões zonas pluviometricamente homogêneas em todo o território brasileiro,
contribuindo para estudos de riscos climáticos na agricultura.
Para estudar a variabilidade interanual da precipitação sobre a bacia do Iguaçu no estado do
Paraná, Silva (2001) utilizou o método de agrupamento com classificação hierárquica de Ward, e
distância euclidiana. Os resultados ressaltaram a variabilidade das séries de precipitação e
possibilitaram geração de três áreas homogêneas sobre a bacia, de acordo com o corte feito no
dendrograma.
Desta forma esse trabalho teve como objetivos obter regiões homogêneas de precipitação sobre a
BHX, e caracterizar estas regiões quanto à variação das chuvas.

MATERIAL E MÉTODOS
Para a elaboração deste trabalho foram utilizados dados pluviométricos médios mensais
correspondentes ao período de 1980 a 2000, selecionados em 15 estações pluviométricas localizadas na
Bacia Hidrográfica do Xingu (BHX), com suas respectivas coordenadas geográficas latitude e
longitude, conforme tabela 01. Estes dados são consistidos, e fazem parte do acervo da Agência
Nacional de Águas (ANA), sendo obtidos via internet (Figura 1).
3
Tabela 01 - Dados dos postos Pluviométricos da
bacia hidrográfica do rio Xingu. 8
-2
Nome Latitude Longitude
1. CAJUEIRO -05:39:01 -054:31:16 -3
7
2. BOA ESPERANCA -06:43:00 -051:47:00
10 5
3. BELO HORIZONTE -05:24:29 -052:54:07 -4 9
i
4. ALDEIA DO BAU -07:20:00 -054:50:00 I ri r

Latitude Sul (º)


11
5. FAZENDA CIPAUBA -03:43:23 -051:34:05 -5 6
6. ALDEIA BACAJA -04:54:55 -051:25:46 3

ruá
1

Xi
Cu

ng
7. ALTAMIRA -03:12:30 -052:12:27 -6 13

u
8. PORTO DE MOZ -01:45:00 -052:14:00 2
9. KARARAO -03:55:00 -052:53:00 -7
4
10. BRASIL NOVO -03:37:00 -052:32:28 12
-8 15
11. MONTE ALEGRE -04:39:56 -052:43:13
12. FAZ. CUMARU DO NORTE -07:49:32 -050:49:42 14
-9
13. PRIMAVERA DO XINGU -06:03:00 -052:36:00
14. MENCRANOTIRE -08:39:00 -054:13:00
15. KUBENKRANKEIN -08:02:00 -052:09:00 -56 -55 -54 -53 -52 -51 -50
Longitude Oeste (º)

Figura 1: Localização geográfica das estações


pluviométricas.

Para classificar os postos pluviométricos em grupos homogêneos utilizou-se a técnica estatística


multivariada denominada Análise de Agrupamento (Cluster Analysis), onde o principal objetivo é
agrupar indivíduos (ou variáveis) baseados em suas características (Hair et al., 1998). Os métodos
hierárquicos aglomerativos são os mais utilizados na construção de agrupamentos, dentre os quais
podem ser citados ao método de ligação simples (single linkaje method), ligação completa (complete
linkaje method), método centróide (centroid method), método da mediana (median method), método da
média dos grupos (group average method) e método da variância mínima (Ward´s method), sendo este
último o utilizado nesta pesquisa. O resultado final da análise de agrupamento é um gráfico,
denominado dendrograma, que auxilia na definição dos agrupamentos similares para o conjunto das
variáveis envolvidas.
A similaridade utilizada para a formação dos grupos, foi determinada calculando-se a distância
euclidiana entre os postos pluviométricos, utilizando-se a expressão (1).

1/ 2
⎧N ⎫
d ( X 1 , X 2) = ⎨∑ ( X 1i − X ) ⎬⎭
2
(1)
⎩ i =1
2i

Para a análise de agrupamento utilizou-se o software SPSS 11.0 e para a definição dos grupos o
software SURFER 7.0.
4
Posteriormente, para cada região homogênea, considerando o centróide, foi realizada a
caracterização temporal mensal das chuvas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise de agrupamento, aplicada aos dados pluviométricos referentes às 15 estações, dividiu a
Bacia Hidrográfica do Xingu (BHX), em três grupos homogêneos, conforme identificado no
dendrograma da figura 2 e representados espacialmente na figura 3.
O grupo A foi formado pelas estações de Belo Horizonte, Aldeia Bacajá, Cajueiro, Primavera do
Xingu, Boa Esperança, Kararao e Monte Alegre, definindo uma região homogênea de precipitação
localizada na parte central da bacia, entre 4º e 7º de latitude sul, conforme mostrado na figura 3. Nesta
região chove em média anualmente 1760mm, sendo 1599mm concentrados entre outubro e maio
(estação chuvosa), representando 91% do total anual. Os 9% restantes concentram-se de junho a
setembro, com total acumulado de chuvas de 161mm (estação seca), conforme figura 4.
O grupo B foi representado pelas estações de Fazenda Cumarú do Norte, Mencranotire,
Kubenkrankein e Aldeia do Baú, definindo o regime pluviométrico do sul da bacia, entre os limites de
7º e 9º de latitude sul, conforme verificado na figura 3. O volume médio anual de chuvas nesta região é
de 2197mm, deste total, 2056mm, ou seja, 94%, das chuvas se concentram entre setembro e abril
(estação chuvosa). Os 6% restantes concentram-se entre maio e agosto, representando apenas 141mm,
conforme figura 5.
O grupo C foi definido pelas estações de Fazenda Cipaúba, Brasil Novo, Altamira e Porto de
Moz, as quais, definiram o regime pluviométrico do extremo norte da BHX, entre 4º e 2º de latitude
sul. Nesta região, o total médio anual de chuvas é de 2143 mm, sendo 1822mm acumulados entre
dezembro e junho (estação chuvosa), representando 85% do total anual. Entre julho e novembro chove
em média 321mm (estação seca), o que representa 15% do total anual, conforme figura 6.
Verifica-se que os períodos das estações chuvosas variam sobre as regiões definidas, o que é
explicado pela atuação dos diferentes sistemas atmosféricos sobre a bacia. O extremo norte da BHX,
definido pelo grupo C, recebe a influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), enquanto que
o extremo sul, definido pelo grupo B, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). A região
central formada pelo grupo A, aparece com uma região de transição entre estes dois sistemas.
5

-2
C

-3
C
C C
-4 A
i
Irir
A
-5 A

Latitude (º)
A

ru á
A

Xi
Cu

ng
-6 A

u
A
-7
B
B
-8 B
B
-9

-56 -55 -54 -53 -52 -51


Longitude (º)
Figura 2: Análise de agrupamento hierárquico: Figura 3: Regiões homogêneas de precipitação
Dendrograma usando o método de Ward. segundo método de Ward.

300
Precipitação Pluvial (mm)

250

200
150

100

50

0
J F M A M J J A S O N D
Meses

Figura 4. Variação mensal das chuvas. Grupo A


400
Precipitação Pluvial (mm)

350
300
250
200
150
100
50
0
J F M A M J J A S O N D
Meses

Figura 5. Variação mensal das chuvas. Grupo B


400
Precipitação Pluvial (mm)

350
300
250
200
150
100
50
0
J F M A M J J A S O N D
Meses

Figura 6. Variação mensal das chuvas. Grupo C


6
CONCLUSÃO
A técnica de agrupamento, aplicada aos dados pluviométricos referentes às 15 estações, permitiu
identificar sobre a Bacia Hidrográfica do Xingu (BHX), três grupos homogêneos de precipitação. O
grupo A limitando a região central, o grupo B o extremo sul e o grupo C a extremo norte da BHX.
Os períodos das estações chuvosas variam sobre as regiões definidas, os quais refletem as
diferentes áreas de atuação dos principais sistemas meteorológicos atuantes sobre a BHX. O extremo
norte definido pelo grupo C, recebe a influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), por
outro lado, o extremo sul definido pelo grupo B, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). A
região central formada pelo grupo A, aparece com uma região de transição entre estes dois sistemas.
Desta forma, a técnica foi capaz de diferenciar as estações de acordo com os padrões de
precipitação associados aos diferentes sistemas meteorológicos produtores de tempo sobre a região da
BHX.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS – ANA. Inventário das estações e Séries Históricas.


Disponível em: http://www.ana.gov.br . Acessado em abril 2006.
SILVA , F. M.; LERMEN, V. K.; Nery, J. T. Variabilidade interanual da precipitação na
bacia do rio Iguaçu. Acta Scientiarum Maringá, v. 23, n. 6, p. 1439-1444, 2001.
NERY, J. T.; VARGAS, W. M.; MARTINS, M. L. O. F. Caracterização da precipitação no
estado do Paraná. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.4, n.2, p. 81-89, 1996.
KELLER, T.; ASSAD, E. D.; SCHUBNELL, P. R. Regiões pluviometricamente homogêneas
no Brasil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.40, n.4, p.311-322, 2005.
MACHADO, M. A. M. et al. Duração da estação chuvosa em função das datas de início do
período chuvoso para o estado de Minas Gerais. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.4, n.2,
p.73-79, 1996.
HAIR, Jr., J. F., ANDERSON, R. E., TATHAM, R. L., BLACK, W. C. Multivariate Data
Analysis (5th ed.). New York: Macmillan Publishing Company, 1998.

Você também pode gostar