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Mais famoso detetive particular do país, Bechara Jalkh se tornou estrela ao
resolver série de crimes
Ainda na ativa aos 83 anos, hoje atua para evitar fraudes contra empresas. Ele
criou curso por correspondência
Caio Barretto Briso
21/06/2015 - 09:23 / Atualizado em 21/06/2015 - 09:25
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Jalkh: “Não é bom botar a mão no fogo por ninguém”


Foto: O Globo / Fernando Lemos
Jalkh: “Não é bom botar a mão no fogo por ninguém” Foto: O Globo / Fernando Lemos
RIO - Menor que a palma da mão, a microcâmera Minox era unanimidade entre espiões
americanos, soviéticos e alemães nos tempos da Guerra Fria. Na cola de um suspeito,
Bechara Jalkh carregava a sua no bolso do paletó. Era maio de 1958, o sequestro do
menino Sérgio Haziot, levado de uma escola em Copacabana sete meses antes,
terminara com o pagamento do resgate e a entrega da criança. Mas a polícia não
tinha pistas do sequestrador. Jalkh chegou ao suspeito cruzando informações
ignoradas pelas autoridades. Descobriu um endereço, seguiu o homem até um ônibus.
Sacou a pequena câmera e fez 14 retratos. Revelou as fotos, visitou testemunhas:
sim, era o sequestrador. Entregou à polícia um réu confesso. Nascia o maior
detetive que o país já conheceu.

Bechara Jalkh é uma lenda da crônica policial carioca. Ficou muito conhecido por
quem viveu no Rio dos anos 50, 60 e 70. Sua fama lhe rendeu o apelido de “Sherlock
Holmes brasileiro”, mas ele acha isso uma grande bobagem. Inteligente e destemido,
discreto e ao mesmo tempo midiático, Jalkh era uma estrela. Sempre vestindo ternos
de bom corte e equipado com os mais modernos aparelhos — coisas como gravata com
microfone, relógio que filma, chaveiro que fotografa —, manteve-se longe do mercado
de infidelidade conjugal e solucionou uma série de casos de comoção nacional. Virou
notícia no exterior ao descobrir os assassinos de Humprey Wallace Toomey, vice-
presidente da Pan American Airways, e do nazista francês Jacques de Bernonville,
morto na Lapa em 1972.

NOVOS CRIMES A SEREM INVESTIGADOS

Longe dos holofotes há décadas, o detetive continua trabalhando aos 83 anos, mas em
outra área. Especialista em proteger empresas das maracutaias do mundo corporativo,
sua lista de clientes tem de companhias de petróleo a bancas de advocacia. Embora
umas 40 pessoas trabalhem para ele em dois escritórios, ambos na Barra, é o próprio
Jalkh quem atende às ligações telefônicas.

— Sou o único a manter contato com os clientes — explica. — Não é bom botar a mão
no fogo por ninguém.

Acostumado a lidar com executivos, assiste ao alvorecer de novos crimes. Um dos


mais frequentes se dá em contratos de planos de saúde coletivos para empregados.

— Circulam listas com nomes de profissionais fantasmas. As pessoas existem, têm RG,
tudo, mas não são funcionárias. No Brasil, tudo funciona à base da propina. Não há
uma estatal, um órgão fiscalizador honesto neste país — revolta-se.

Nascido no Líbano, Jalkh chegou ao Rio com os pais. Tinha 17 anos. Começou a
trabalhar fazendo cobrança de inadimplentes, mas seu destino era outro. Viajou para
França e Estados Unidos, encantou-se com a tradição dos detetives particulares lá
fora, onde há agências como a Pinkerton, fundada em 1850 por um investigador que
salvou Abraham Lincoln de uma emboscada. O jovem Bechara mergulhou em filmes,
livros e revistas, e se fez detetive. Em 1961, criou um curso para aspirantes ao
ofício que virou uma febre — foram 150 mil alunos formados, a maioria por
correspondência.

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Em seus tempos de redação, o novelista (e jornalista de origem) Aguinaldo Silva
conviveu com o detetive.

— Eu o conheço desde o começo dos anos 70. Pude testemunhar dois fatos sobre ele. O
primeiro é que Jalkh engrandeceu a profissão de detetive ao dar a ela dignidade e
seriedade. O segundo é que ele sempre foi um homem reto, correto e fiel, no
trabalho e no trato com os amigos. Eu o admiro desde essa época. Tornou-se uma
lenda — afirma.

Aguinaldo está organizando um livro com textos seus publicados na imprensa daquele
tempo. Em muitos deles, o autor diz sentir “a presença de Bechara Jalkh, mesmo
quando ele não é citado”.

O detetive fez aniversário na última quinta-feira. Não quis saber de festa.


“Comemorar o quê?”, indaga. Ele olha o presente com desencanto. O Rio que conheceu
era tão diferente... O delegado ia ao pé do morro, atrás de um criminoso, e pedia
para chamarem o sujeito:

— Dez minutos depois, ele descia. Esse era o bandido do Rio.

Morando num apartamento de frente para o mar, na Barra, Jalkh leva uma vida pacata.
Deixou de ir ao clube de uísque que frequentava semanalmente porque da última vez,
há cerca de 15 anos, alguém o envenenou. O detetive foi levado às pressas ao
pronto-socorro por um dos filhos — são quatro, além de seis netos e quatro
bisnetos. Apesar da família grande, Jalkh, que é viúvo, mora só. Para dormir,
precisa de ajuda.

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— Como passava semanas sem dormir, tenho o sono desregulado até hoje. Tomo remédio
todas as noites — conta.

Já ouviu, com tristeza, que foi um pai ausente. Como o personagem de Arthur Conan
Doyle, o “Sherlock Holmes brasileiro” também tem seus dramas.

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