Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ge
gshow
vídeos
o globo
e-mail
todos os sites
RIO
BUSCAR
ACESSE NO
PUBLICIDADE
Mais famoso detetive particular do país, Bechara Jalkh se tornou estrela ao
resolver série de crimes
Ainda na ativa aos 83 anos, hoje atua para evitar fraudes contra empresas. Ele
criou curso por correspondência
Caio Barretto Briso
21/06/2015 - 09:23 / Atualizado em 21/06/2015 - 09:25
Newsletters
PUBLICIDADE
Bechara Jalkh é uma lenda da crônica policial carioca. Ficou muito conhecido por
quem viveu no Rio dos anos 50, 60 e 70. Sua fama lhe rendeu o apelido de “Sherlock
Holmes brasileiro”, mas ele acha isso uma grande bobagem. Inteligente e destemido,
discreto e ao mesmo tempo midiático, Jalkh era uma estrela. Sempre vestindo ternos
de bom corte e equipado com os mais modernos aparelhos — coisas como gravata com
microfone, relógio que filma, chaveiro que fotografa —, manteve-se longe do mercado
de infidelidade conjugal e solucionou uma série de casos de comoção nacional. Virou
notícia no exterior ao descobrir os assassinos de Humprey Wallace Toomey, vice-
presidente da Pan American Airways, e do nazista francês Jacques de Bernonville,
morto na Lapa em 1972.
Longe dos holofotes há décadas, o detetive continua trabalhando aos 83 anos, mas em
outra área. Especialista em proteger empresas das maracutaias do mundo corporativo,
sua lista de clientes tem de companhias de petróleo a bancas de advocacia. Embora
umas 40 pessoas trabalhem para ele em dois escritórios, ambos na Barra, é o próprio
Jalkh quem atende às ligações telefônicas.
— Sou o único a manter contato com os clientes — explica. — Não é bom botar a mão
no fogo por ninguém.
— Circulam listas com nomes de profissionais fantasmas. As pessoas existem, têm RG,
tudo, mas não são funcionárias. No Brasil, tudo funciona à base da propina. Não há
uma estatal, um órgão fiscalizador honesto neste país — revolta-se.
Nascido no Líbano, Jalkh chegou ao Rio com os pais. Tinha 17 anos. Começou a
trabalhar fazendo cobrança de inadimplentes, mas seu destino era outro. Viajou para
França e Estados Unidos, encantou-se com a tradição dos detetives particulares lá
fora, onde há agências como a Pinkerton, fundada em 1850 por um investigador que
salvou Abraham Lincoln de uma emboscada. O jovem Bechara mergulhou em filmes,
livros e revistas, e se fez detetive. Em 1961, criou um curso para aspirantes ao
ofício que virou uma febre — foram 150 mil alunos formados, a maioria por
correspondência.
PUBLICIDADE
Em seus tempos de redação, o novelista (e jornalista de origem) Aguinaldo Silva
conviveu com o detetive.
— Eu o conheço desde o começo dos anos 70. Pude testemunhar dois fatos sobre ele. O
primeiro é que Jalkh engrandeceu a profissão de detetive ao dar a ela dignidade e
seriedade. O segundo é que ele sempre foi um homem reto, correto e fiel, no
trabalho e no trato com os amigos. Eu o admiro desde essa época. Tornou-se uma
lenda — afirma.
Aguinaldo está organizando um livro com textos seus publicados na imprensa daquele
tempo. Em muitos deles, o autor diz sentir “a presença de Bechara Jalkh, mesmo
quando ele não é citado”.
Morando num apartamento de frente para o mar, na Barra, Jalkh leva uma vida pacata.
Deixou de ir ao clube de uísque que frequentava semanalmente porque da última vez,
há cerca de 15 anos, alguém o envenenou. O detetive foi levado às pressas ao
pronto-socorro por um dos filhos — são quatro, além de seis netos e quatro
bisnetos. Apesar da família grande, Jalkh, que é viúvo, mora só. Para dormir,
precisa de ajuda.
PUBLICIDADE
— Como passava semanas sem dormir, tenho o sono desregulado até hoje. Tomo remédio
todas as noites — conta.
Já ouviu, com tristeza, que foi um pai ausente. Como o personagem de Arthur Conan
Doyle, o “Sherlock Holmes brasileiro” também tem seus dramas.
O Globo, um jornal nacional: Fique por dentro da evolução do jornal mais lido do
Brasil