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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA

CÍVEL DA CIDADE
 
 
 
 
 
 
 
Ação de Embargos à Execução
Processo nº. 00.333.3.2222.00.0001
Embargante: Empresa Xista Ltda
Embargado: Banco Delta Ltda
 
 
 
                                                         EMPRESA XISTA LTDA, já qualificada nestes
autos, vem, por intermédio de seu patrono, com o devido respeito à presença de
Vossa Excelência, para, com supedâneo no art. 489, § 1º, inc. IV c/c 1.022, inc.
II e parágrafo único, inc. II, ambos do Estatuto de Ritos, assim como, ainda,
com suporte no art. 93, inciso IX, da Carta Política, no quinquídio legal (CPC,
art. 1.023), opor os presentes 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
(por omissão)  
para, assim, aclarar pontos omissos na r. decisão interlocutória que demora à fl.
27, tudo consoante as linhas abaixo explicitadas.  
                                                      
1 – OMISSÃO
AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO NO DECISÓRIO GUERREADO
 
                                               A Embargante solicitara, com a exordial, fosse
concedido efeito suspensivo à Ação de Embargos do Devedor, ora em vertente.
A Agravante, na ocasião, fizera longos comentários acerca da propriedade do
referido pleito. Todavia, esse fora negado.
 
                                               O pedido em liça fora rechaçado, porém, concessa
venia, sem a devida e necessária motivação, pois assim decidiu este julgador:
 
“Quanto ao pedido de recebimento no efeito suspensivo, tenho que a regra
disposta no art. 919 do CPC prioriza o recebimento tão só no efeito devolutivo,
salvo excepcional exceção. Ademais, não foi demonstrada pelo embargante à
ocorrência de quaisquer das hipóteses do § 1º, do art. 919, do CPC.”
 
                                               O Agravante, como se denota do item 2.7 da peça
vestibular, fizera aludido pedido e, para tanto, em obediência aos ditames do
art. 919, § 1º, da Legislação Adjetiva Civil, trouxera elementos suficientes para
se concluir da imprescindibilidade da atribuição do efeito suspensivo.
 
                                               Entre inúmeros outros argumentos e elementos
comprobatórios, o arrazoado trouxera as seguintes justificativas, para que assim
fosse possível tal desiderato almejado:
 
“Seguramente o Embargante demonstrou o requisito da “fundamentação
relevante”, porquanto cristalinamente ficou comprovado que, sobretudo
alicerçado em decisão proferida em sede de Recurso Repetitivo em matéria
bancária no Superior Tribunal de Justiça (REsp nº. 1.061.530/RS): a) existiu
que a cobrança ilegal de juros capitalizados diariamente; b) que a cobrança de
encargos contratuais indevidos, no período de normalidade contratual, afasta a
mora do devedor; c) a cláusula 17ª da Cédula de Crédito Bancário anuncia,
expressamente, a possibilidade da cobrança de comissão de permanência, juros
moratórios e multa contratual, ofuscando à diretriz da Súmula do 472 do STJ .
 
                        Ademais, além da “fundamentação relevante”, devidamente fixada
anteriormente, a peça recursal preenche o requisito do “risco de lesão grave e
difícil reparação”, uma vez que, tratando-se de título executivo extrajudicial, a
execução terá seu seguimento normal. (CPC, art, 919, caput)
 
                        O bloqueio dos ativos financeiros bancários da Embargante, o qual
alcançou a cifra elevadíssima de R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ), qualifica-se como
perigoso gravame à saúde financeira da empresa executada. Verdade seja dita, a
simples penhora de 20%(vinte por cento) sobre o faturamento bruto de uma
sociedade empresária já o suficiente para provocar desmesurados danos
financeiros. Na realidade, pouquíssimas são as empresas brasileiras que
suportariam isso, vez que, no caso, inexiste sequer a dedução dos custos
operacionais. É que a margem de lucro das empresas, como consabido, é
diminuta, chegando quase a esse patamar de percentual acima destacado.
 
                        A constrição judicial ocorrida, como se percebe, voltou-se
exclusivamente aos ativos financeiros da Embargante. Com isso, máxime em
função do expressivo montante, certamente trará consequências nefastas e
abruptas, como o não pagamento das suas obrigações sociais, sobretudo folha
de pagamento, fornecedores, encargos tributários, consumo de energia e água
etc.
 
                        E essas circunstâncias se encontram devidamente instruídas com a
exordial destes Embargos. É dizer, a Embargante colaciona documentos que
comprovam a projeção de receita da empresa; totalidade dos funcionários e a
respectiva soma necessária para pagamento desses; as despesas fiscais mensais;
as despesas operacionais permanentes; despesas mensais com fornecedores nos
últimos 3 meses; contrato social da empresa em que se evidencia um capital
social diminuto; além de outros documentos diversos que sustentam a
dificuldade financeira que passa a empresa Embargante.   
 
                        De outro turno, é inconteste (CPC, art. 374, inc. I) que o cenário
atual das finanças do País é um dos piores de todos os tempos.
 
                        Nesse passo, urge evidenciar o teor substancial inserto na
Legislação Adjetiva Civil:
 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
 
Art. 1º - O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os
valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
 
Art. 8º - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às
exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência.
 
                        Em abono ao exposto acima, urge transcrever o magistério de José
Miguel Garcia Medina:
 
“No contexto democrático, o modo como se manifestam e relacionam os sujeitos
do processo deve observar as garantias mínimas decorrentes do due process of
law. Assim, interessam, evidentemente, as regras dispostas no Código de
Processo Civil em outras leis, MS, sobretudo, a norma constitucional.
Entendemos que os princípios e valores dispostos na Constituição Federal
constituem o ponto de partida do trabalho do processualista. A atuação das
partes e a função jurisdicional devem ser estudadas a partir da compreensão de
que o processo é um espaço em que devem ser estudas a partir da compreensão
de que o processo é um estado em que se devem se materializar os princípios
inerentes a um Estado que se intitula ‘Democrático de Direito [ ... ]
 
                        E isso, igualmente, nos remete aos preceitos legais que preservam
a função social dos contratos (CC, art. 421).
 
                        No plano constitucional observemos que:
 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
 
Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III - a dignidade da pessoa humana;
(...)
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
 
                        E ainda no mesmo importe:
 
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
 
Art. 5º -  Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e
às exigências do bem comum.
 
                        Destarte, a prova documental ora colacionada comprova, sem
qualquer dúvida, que a decisão que determinou o bloqueio dos ativos
financeiros da Embargante e certamente inviabilizará suas atividades. E isso
poderá concorrer também para a quebra da mesma, o que, como se viu, não é o
propósito da Lei.
 
                        E foi justamente com esse salutar propósito, a evitar quebras de
empresas, que o Egrégio Tribunal Superior do Trabalho acolheu o entendimento
salutar de que é aconselhável a constrição de uma pequena parcela do
faturamento da empresa. E isso para atender, mesmo que parcialmente, o
direito a crédito alimentar do trabalhador.
 
                        Com efeito, cabe ao magistrado, inexistindo suporte sumular nesse
tocante, tomar por analogia a seguinte Orientação Jurisprudencial:
 
OJ nº 93 -SDI-2: É admissível a penhora sobre a renda mensal ou faturamento
da empresa, limitada a determinado percentual, desde que não comprometa o
desenvolvimento regular de suas atividades.
 
                        Há, assim, fortes possibilidades dos pedidos formulados nesta ação
serem julgados procedentes, razão qual merecida a concessão de efeito
suspensivo ao mesmo.” 
 
                                               Entrementes, a despeito de tamanha fundamentação,
o pleito fora obstado por meio da decisão antes mencionada.
 
                                               Seguramente essa deliberação merece reparo.
 
                                               Com esse enfoque, dispõe o Código de Processo Civil,
verbis:
 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
 
Art. 489.  São elementos essenciais da sentença:
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
(...)
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em
tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; 
 
                                               Sem sombra de dúvidas a regra supra-aludida se
encaixa à decisão hostilizada. Essa passa longe de invocar argumentos capazes
de motivar a rejeição ao pedido buscado.
 
                                               A ratificar o exposto acima, é de todo oportuno gizar o
magistério de José Miguel Garcia Medina, o qual leciona, verbo ad verbum:

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