Um Estudo Sobre o Consumo Energético e A Eficiência de Autorrádios

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Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática

Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014

UM ESTUDO SOBRE O CONSUMO ENERGÉTICO E A EFICIÊNCIA DE AUTORRÁDIOS

CHRISTIAN G. HERRERA, PEDRO F. DONOSO-GARCIA, PABLO R. V. ANDRADE, EDUARDO B. MEDEIROS, RAFAEL


S. N. VALADÃO

Coordenação de Eletromecânica, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, 35503-822,


Divinópolis, MG, Brasil

Departamento de Engenharia Eletrônica, Universidade Federal de Minas Gerais, 31270-901, Belo Horizonte,
MG, Brasil

Gerência de Manutenção de Locomotivas, Ferrovia Centro-Atlântica, 35501-000, Divinópolis, MG, Brasil

Departamento de Engenharia Mecânica, UFMG, 31270-910, Belo Horizonte, MG, Brasil

Electrical & Electronic Validation, Fiat Chrysler América Latina, 32530-000, Betim, MG, Brasil

E-mails: herrera@div.cefetmg.br, pedro@cpdee.ufmg.br, pablo.andrade@vale.com,


bauzer@demec.ufmg.br, rafael.valadao@fiat.com.br

Abstract  This work presents a study of car audio systems, focused on the energy consumption of the car radio. After an intro-
duction on the architecture and on the functionalities of the automotive sound system, the experimental results of the power con-
sumption of internal circuits of the car radio is presented. This leads to the audio power amplifier as one of its main consumers. A
subsequent study focused on the class AB bridge-tied-load amplifiers, which is the most used topology in automotive applica-
tions, also reveals its bad efficiency (about 25 % at 2 W output audio signal). In this sense, the class D amplifier is presented as
an alternate topology, as its efficiency can reach 80 % at the same conditions. A novel architecture for the car audio system is
proposed, based on the active transducer concept, that is, the integration of the loudspeaker with the class D power amplifier. It
brings out several advantages, related to energy consumption, efficiency, costs reduction with elimination of harness, and, finally,
reduced electromagnetic interference that could be emitted by the class D amplifier.

 automotive electronics, energy consumption, efficiency, audio amplifiers.


Keywords

Resumo  Esse trabalho trata de um estudo sobre o consumo energético de autorrádios. Após uma introdução à arquitetura e às
funcionalidades do sistema de sonorização veicular, do qual o autorrádio faz parte, são apresentados resultados da medição do
consumo de seus circuitos internos. Assim é possível identificar o amplificador de potência como um dos principais blocos con-
sumidores do autorrádio. Um subsequente estudo focado nos amplificadores classe AB em ponte, que é a classe mais utilizada
em aplicações automotivas, revela também sua baixa eficiência (pouco maior que 25 % para a potência de saída de áudio igual a
2 W). Assim, o amplificador classe D é apresentado como uma alternativa ao amplificador classe AB, pois a sua eficiência supe-
ra 80 % nas mesmas condições. Uma nova arquitetura para o sistema de áudio veicular é proposta, baseada no conceito do trans-
dutor ativo, isto é, o alto-falante integrado ao amplificador de potência classe D. Essa proposta traz vantagens relativas ao con-
sumo energético, à eficiência, à redução de custos com cabeamento e, finalmente, às interferências eletromagnéticas que um am-
plificador classe D pode emitir.

 eletrônica automotiva, consumo energético, eficiência, amplificadores de áudio.


Palavras-chave

1 Introdução tivos sob o ponto de vista da qualidade sonora


(Clark, 1990 e Shively, 2000). Contudo, não são
encontrados estudos no sentido de diminuir o consu-
Todo componente eletrônico embarcado num veículo mo e também melhorar a eficiência do sistema de
é alimentado pelo sistema elétrico de potência auto-
áudio veicular. Ao contrário, o que se vê são fabri-
motivo (SEP-A). A energia utilizada por tais compo-
cantes de automóveis lançando no mercado sistemas
nentes é fornecida pela bateria do automóvel ou pelo
de som com um número cada vez maior de alto-
alternador, que é conectado mecanicamente ao motor
falantes (até 16) e consumo de potência superior a
térmico. Assim, é importante minimizar o consumo
600 W.
energético dos componentes eletrônicos a fim de
O objetivo deste trabalho é identificar e classifi-
concentrar toda a energia disponível no automóvel
car os principais elementos consumidores de energia
para a tração e também para os sistemas que promo-
do sistema de áudio veicular e as etapas onde ocor-
vem a segurança dos passageiros.
rem perdas. Não serão abordados os alto-falantes e
Nesse trabalho é abordado o consumo de energia
nem a conversão eletroacústica, que serão objeto de
do sistema de sonorização veicular, que é composto
outro trabalho futuro. Assim, o foco cai sobre o au-
por circuitos eletrônicos, cabos e alto-falantes. torrádio, que é o principal componente eletrônico do
Os trabalhos encontrados na literatura científica sistema de som.
normalmente abordam os sistemas de áudio automo-

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A fim de obter uma visão sistêmica do tema em torna-se passiva e consome energia a fim de recarre-
discussão, é apresentado primeiramente um modelo gar-se. A tensão nominal do gerador é 13,5 V e a da
simplificado do SEP-A do qual o sistema de áudio bateria é 12 V.
faz parte juntamente com os outros componentes No lado direito da Figura 1 estão representadas
embarcados. as demais cargas típicas de um SEP-A. Elas são
agrupadas em quatro principais categorias: motores,
centrais e sensores eletrônicos, componentes da ilu-
1.1 Modelo do sistema elétrico de potência automo- minação interna e externa e, finalmente, resistências
tivo utilizadas para aquecimento.
Uma representação simplificada do SEP-A é apre- O autorrádio pertence à classe dos componentes
sentada na Figura 1 (Kassakian, 1996). Nela é possí- eletrônicos e é normalmente o único componente do
vel identificar à esquerda os dois componentes ativos sistema de sonorização que é conectado ao sistema
do sistema elétrico: o gerador (ou alternador) e a elétrico do veículo.
bateria. Quando o gerador está funcionando, a bateria

Figura 1: Modelo simplificado de um sistema de potência automotivo típico (Kassakian, 1996).

2 Caracterização dos sistemas de áudio automo- tos dentro do veículo. Uma das arquiteturas mais
tivos encontradas em muitas categorias de veículos é com-
posta essencialmente por três componentes: o autor-
Os sistemas de sonorização automotiva se distin- rádio, os quatro alto-falantes e os cabos (Figura 3).
guem dos demais sistemas eletrônicos embarcados Nessa figura não são mostradas as linhas de alimen-
num veículo tanto pela complexidade quanto pelo tação, que são conectadas ao autorrádio.
seu desempenho, que é a qualidade sonora percebida Os sinais de áudio oriundos de diversas fontes
pelo usuário. são condicionados, decodificados, processados e
Assim, caracterizar e entender o funcionamento amplificados pelo autorrádio e enviados aos alto-
de um sistema de som veicular demanda métodos falantes para a conversão eletroacústica. A Figura 4
sofisticados e a capacidade de abordar cada compo- apresenta as etapas percorridas pelo sinal de áudio
nente de forma individual, mas não em detrimento de num sistema automotivo desde a sua fonte até o usu-
uma visão sistêmica, que é considerar o ambiente ário. As etapas podem ser vistas como elos de uma
onde o sistema está embarcado. corrente, onde o desempenho global do sistema é
determinado pelo desempenho do elo mais fraco.

2.1 Funcionalidades e arquitetura do sistema de


áudio automotivo
Escutar músicas ou notícias, assistir a filmes, comu-
nicar-se pelo telefone ou com o próprio veículo:
essas são algumas das principais atividades de um
usuário relacionadas a áudio dentro de um automó-
vel. A sonorização no veículo evoluiu desde os anti-
gos receptores AM até os modernos sistemas multi-
mídia com diversos monitores de vídeo e fones de
ouvido sem fio em configurações de múltiplos ca- Figura 2: Funcionalidades numa plataforma de infotainment.
nais. É comum denominar tais plataformas como
“infotainment”, termo que associa informação e en-
tretenimento, como representado na Figura 2.
A arquitetura de um sistema de sonorização refe-
re-se às características individuais de seus compo-
nentes e também à maneira como esses estão dispos-

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encoders do painel frontal do autorrádio. Além dele,


aparecem os blocos referentes ao display e às memó-
rias que armazenam as informações de configuração.
O último bloco, no canto inferior esquerdo, é o cir-
cuito regulador de tensão, que tem como função
converter a tensão de alimentação do barramento
automotivo (nominalmente igual a 13,5 V) a níveis
mais baixos para alimentar os circuitos eletrônicos
citados.

Figura 3: Sistema de sonorização composto pelo autorrádio, alto-


3 Consumo do autorrádio
falantes e os cabos de sinais.
Parte da energia consumida pelo autorrádio é
Ao longo de todos os componentes da cadeia do enviada aos alto-falantes para ser convertida em som.
áudio os sinais podem se deteriorar devido às perdas Desconsiderando essa parcela, a potência consumida
de potência, ou podem ser corrompidos pela ação das é dividida entre os seguintes circuitos eletrônicos que
não linearidades particulares de cada componente, ou compõem o autorrádio:
ainda sofrer interferência de ruídos (elétricos ou a) Interface de usuário: o painel frontal do au-
acústicos). torrádio, com displays, interruptores, potenciômetros
ou rotary encoders, é a interface pela qual o usuário
opera e configura o componente. A energia nesse
bloco é consumida principalmente pelos displays e
pelas lâmpadas utilizadas para iluminar o painel.
b) Mecanismo de leitura de discos óticos: a lei-
tura dos dados contidos num disco ótico (CD ou
DVD) demanda potência que é consumida pelos
circuitos de acionamento e controle dos servomoto-
res que movimentam o disco e o canhão de raios
LASER. Em alguns casos, os circuitos de decodifica-
Figura 4: Etapas de um sinal de áudio num sistema automotivo. ção do sinal de áudio digital (formato MP3 ou
WMA) lido nos discos também são incorporados ao
mecanismo de leitura, o que ocasiona consumo extra.
2.2 O autorrádio
c) Circuitos de sinais e microprocessadores:
Sendo o autorrádio o único componente ativo, cabe a nesse grupo estão incluídos os circuitos de processa-
ele implementar a maioria das funcionalidades ine- mento do sinal de áudio, circuitos de demodulação de
rentes ao sistema de sonorização. O diagrama de sinais de rádio frequência (RF) e os microprocessa-
blocos da Figura 5 mostra a estrutura típica de um dores com seus periféricos (memórias, portas lógi-
autorrádio e as direções dos fluxos de sinais. cas) que tratam da interface do usuário e da comuni-
cação com as mídias de armazenamento de sinais de
áudio, além de outros comandos.
d) Amplificador de potência: os circuitos de
amplificação em potência dos sinais de áudio (classe
AB) consomem certa quantidade de corrente quies-
cente a fim de manter os transistores polarizados,
conforme é discutido adiante nesse trabalho.
A Figura 6 apresenta os resultados de um expe-
rimento realizado a fim de caracterizar o consumo de
um conjunto de seis autorrádios de diferentes marcas
e categorias.
É possível perceber que cada amostra apresenta
um padrão de consumo para cada funcionalidade,
Figura 5: Diagrama de blocos de um autorrádio típico. exceto pelo amplificador de potência, cujo consumo
é praticamente igual entre as amostras. Nesse caso, a
Os blocos à direita na figura são circuitos que amostra A apresentou menor consumo quiescente
trabalham com os sinais de áudio, desde a leitura dos porque só possui dois canais de amplificação, dife-
programas a partir de diversas mídias de armazena- rentemente de todas as outras amostras, que possuem
mento, até o processamento no bloco DSP (digital quatro canais.
signal processor) e a amplificação em potência. À
esquerda é mostrado o bloco microcontrolador, que é
responsável por implementar a interface homem
máquina juntamente com os interruptores e rotary

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Assim, é necessário injetar um sinal com potên-


cia relativamente alta no lado elétrico do alto-falante
para atingir a intensidade sonora desejada. A potên-
cia de saída (Pout) de um amplificador de potência
pode ser calculada pela Equação 1:

2
Vrms
Pout = (1)
RL

onde Vrms é a tensão eficaz do sinal de áudio e RL é o


valor da impedância nominal do alto-falante, que no
Figura 6: Consumo energético de seis autorrádios (A a F) dividido caso de sistemas automotivos é igual a 4 Ω.
por funcionalidades.
A máxima potência que um amplificador auto-
A Figura 7 mostra o consumo total de cada uma motivo pode entregar ao alto-falante depende do
das amostras. A amostra E se destaca pelo baixo valor da tensão de alimentação (Vcc) que, por con-
consumo, que se explica pela ausência do leitor de venção, é igual a 13,5 V em automóveis de passeio.
discos óticos. Outra característica interessante desta A potência máxima (Pmax) para um sinal senoidal é:
amostra é a alocação do microprocessador de sinais
(DSP) no painel frontal, junto com os circuitos da
interface de usuário. Pmax =
(V pp 2 2 ) = (V
2
cc 2 2 )
2

=
RL RL
(2)
=
(13,5 2 2 ) 2

= 5,7W
4

onde Vpp é a tensão pico a pico do sinal de áudio.


Nesse caso a tensão Vpp é igual à tensão de alimenta-
ção (Vpp = Vcc) o que representa um caso ideal. Na
prática, os transistores entram no estado de saturação
antes que o pico do sinal de áudio atinja o valor da
alimentação, ou seja, a potência máxima é um pouco
Figura 7: Consumo total de cada amostra. menor do que a ideal.
A Figura 9 ilustra a configuração mais simples
A Figura 8 apresenta a média calculada entre as
de amplificação denominada meia ponte (ou single
seis amostras em função das quatro funcionalidades.
ended – SE). O sinal amplificado contém um compo-
Juntos, os circuitos de sinais e o leitor ótico respon-
nente contínuo igual à metade da tensão de alimenta-
dem por quase dois terços da potência consumida
ção, o que demanda um capacitor em série com o
pelo autorrádio. É possível perceber também que, em
alto-falante a fim de barrar esse componente.
média, o amplificador de potência consome mais de
um quinto de toda corrente enviada ao autorrádio
(21%).

Figura 9: Configuração meia ponte (single ended – SE).

É possível obter maior potência de saída com a


Figura 8: Consumo médio de cada funcionalidade. configuração em ponte completa (ou bridge tied load
– BTL) a partir da mesma tensão de alimentação,
como mostrado na Figura 10. Nessa configuração são
4 Amplificadores de potência automotivos utilizados dois circuitos amplificadores SE iguais ao
da Figura 9. Porém, como a polaridade do sinal de
A transdução eletroacústica realizada pelo alto- áudio é invertida na entrada de um dos amplificado-
falante é de baixa eficiência (entre 1 % e 10 %) prin- res, a tensão de saída é duas vezes maior (Vpp = 2Vcc)
cipalmente por causa do acoplamento acústico (Kins- e a potência de saída nesse caso é quatro vezes mai-
ler, 2000). Além disso, há perdas de natureza elétri- or:
ca, magnética e mecânica no alto-falante que também
limitam a sua eficiência.

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Pmax =
Vrms
2
=
(
V pp 2 2 ) = (V
2
cc 2 )
2

=
por canal (PO). A dissipação é definida na própria
figura como sendo a diferença entre a potência de
RL RL RL entrada (Vcc x Icc) e a potência de saída dos quatro
(3)
=
(13,5 2 ) 2

= 22,8W
amplificadores (4PO) integrados no chip. De acordo
com o gráfico, se cada amplificador enviar um sinal
4 de áudio com potência igual a 2 W ao seu respectivo
alto-falante, a potência total dissipada na forma de
Um amplificador para autorrádios típico incor- calor por eles é de aproximadamente 30 W (com Vcc
pora no mesmo circuito integrado quatro amplifica- = 14,4 V). Ou seja, uma eficiência pouco maior que
dores classe AB em ponte completa, além de circui- 21 %.
tos periféricos para comando e proteção do amplifi-
cador. Ou seja, ao todo são oito circuitos classe AB
idênticos para acionar os quatro alto-falantes do
veículo.

Figura 10: Configuração ponte completa (bridge tied load – BTL). Figura 12: Dissipação de potência do LA47202P (Sanyo, 2006).

5 Eficiência do amplificador de áudio 5.2 O amplificador classe D


Uma técnica para minimizar as perdas por condução
No caso ideal um amplificador de áudio não deveria consiste em operar os transistores apenas nos estados
dissipar potência e seu consumo quiescente também de saturação, onde a resistência entre os terminais é
deveria ser mantido a patamares mínimos. Na práti- pequena (da ordem de poucos miliohms), e de corte,
ca, contudo, esse não é o caso e os transistores do onde não há dissipação de potência (Erickson, 2004).
amplificador classe AB precisam operar na região O amplificador aplica pulsos de tensão em alta
ativa (polarizados) e, além disso, apresentam perdas frequência no alto-falante com a mesma amplitude da
que prejudicam a sua eficiência. A seguir são apre- fonte de alimentação. Esses pulsos são modulados
sentados os princípios de funcionamento do amplifi- pelo sinal de áudio (de baixa frequência) que é então
cador classe AB e também da classe D, que é uma reconstruído após passar por um filtro passa-baixas.
topologia alternativa com menor consumo e maior Esse é o princípio de funcionamento dos amplifica-
eficiência. dores classe D, mostrado na Figura 13. Nesse caso é
utilizado um modulador em largura de pulsos (pulse
width modulation – PWM) que normalmente opera
5.1 O amplificador classe AB numa frequência pelo menos dez vezes maior que a
Num amplificador, as perdas por condução são largura de banda do sinal de áudio. Os amplificado-
mais significativas quando um transistor opera na res classe D tem sido muito estudados nos últimos
região linear (Sedra, 2010). É o caso dos amplifica- anos graças, principalmente, à significativa redução
dores classe B e AB, cujo circuito simplificado é nas perdas que podem ser atingidas, em comparação
mostrado na Figura 11. à classe AB (Kaku, 1976, Nielsen, 1997 e Rumsey,
2009).

Figura 11: Circuito simplificado do amplificador classe B. Figura 13: Circuito simplificado do amplificador classe D.

A Figura 12 apresenta um gráfico retirado da fo- Os circuitos de polarização e acionamento dos


lha de dados do amplificador comercial LA47202P transistores de potência em amplificadores lineares
(Sanyo, 2006) com informação sobre a sua dissipa- (classe AB) consomem potência para que a polariza-
ção de potência (Pd) em função da potência de saída ção seja mantida estável. Conforme mostrado na

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Figura 6 cada bloco amplificador consome 25 mA da em comparação ao classe AB, foram realizados en-
corrente de entrada do autorrádio. Nos amplificado- saios com o esquema de instrumentação virtual mos-
res chaveados (classe D) os circuitos de acionamento trado na Figura 15. Uma das placas de aquisição de
consomem energia apenas durante o chaveamento dados (A/D) recebe os sinais de tensão e corrente da
dos transistores, o que significa uma redução no alimentação do amplificador e a outra placa de aqui-
consumo quiescente do amplificador. sição recebe os sinais de áudio à entrada e à saída do
Para reduzir o volume do filtro passa-baixas de amplificador. A partir das séries temporais digitali-
reconstrução, deve-se aumentar a frequência de cha- zadas é possível calcular os valores médios dos sinais
veamento e isto eleva o valor das perdas por chave- da alimentação e o valor eficaz da saída de áudio do
amento. A Figura 14 mostra a curva de dissipação de amplificador e determinar a eficiência (η):
potência do amplificador TAS5424 (Texas, 2007),
classe D em ponte. A frequência de chaveamento é 2
Pout vout RL
η= =
igual a 417 kHz.
A dissipação de potência do amplificador classe Pin (
VCC ⋅ I CC − I Q ) (4)

AB mostrada na Figura 12 é aproximadamente dez


vezes maior que a dissipação desse amplificador onde IQ é a corrente quiescente do amplificador, ou
classe D, se a potência média de saída for igual a um seja, a corrente elétrica consumida na ausência do
watt por canal. Isso é consequência da redução das sinal de áudio.
perdas por condução, como discutido. O sinal de excitação é sintetizado também no
domínio digital e é aplicado ao amplificador após a
sua conversão em analógico (D/A). A fim de se tra-
balhar com uma razoável razão sinal-ruído foi esco-
lhida a forma de onda senoidal com frequência igual
a 1 kHz para o levantamento da eficiência.
A Figura 16 mostra as curvas de eficiência em
função da potência de saída de dois amplificadores
para aplicação automotiva: a) TAS5012, classe D em
ponte (Texas, 2001); b) LA47202P, classe AB em
ponte (Sanyo, 2006) que já foi analisado anterior-
mente. A alimentação foi fixada em 13,5 V.
Nessa figura é possível verificar o comporta-
mento da dissipação de potência em ambos amplifi-
cadores. No caso do amplificador classe D, a eficiên-
cia ultrapassa 80 % antes de a potência de saída al-
cançar 2 W. O amplificador classe AB nessa mesma
Figura 14: Dissipação de potência do TAS5424 (Texas, 2007).
potência de saída apresenta eficiência de 25 % e,
mesmo no melhor caso (potência de saída igual a 16
5.3 Caracterização experimental da eficiência de W), é pouco maior que 60 %.
amplificadores de potência
A fim de observar o funcionamento de um am-
plificador classe D e de caracterizar a sua eficiência

Figura 15: Esquema de instrumentação para caracterização da eficiência do amplificador em bancada.

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Figura 17: Nova arquitetura proposta para o sistema de sonoriza-


Figura 16: Eficiência dos amplificadores classe AB e classe D. ção automotivo.

6 Proposta de nova arquitetura 6.1 O transdutor ativo para aplicação automotiva


Na Figura 18 é apresentado o diagrama de blocos do
A arquitetura mais comumente encontrada em siste-
transdutor ativo onde é possível identificar o amplifi-
mas de áudio em diversas aplicações consiste em
cador classe D, o alto-falante, o processador de sinais
implementar separadamente o amplificador de potên-
de áudio digital (DSP – digital signal processor) e o
cia e o alto-falante, como dois componentes distintos.
bloco denominado interface responsável por receber
Uma desvantagem evidente é a necessidade de utili-
os sinais de áudio transmitidos pela central de infota-
zar um cabeamento (que pode ser longo) para a
inment.
transmissão dos sinais de áudio entre estes dois com-
O transdutor é conectado eletricamente ao siste-
ponentes. Nos sistemas automotivos esse cabeamento
ma elétrico automotivo, de onde obtém a potência
representa custo elevado de produção e de monta-
necessária ao seu funcionamento (V é a tensão e I é a
gem, além de introduzir perdas no sinal.
corrente). A saída do transdutor é um sinal acústico
Uma abordagem mais eficiente é baseada no
irradiado dentro do habitáculo (p é a pressão sonora e
conceito de transdutores ativos, ou seja, o amplifica-
u é a velocidade de volume de ar). Na mesma figura
dor integrado ao alto-falante (Poulsen, 2004). Em
também são representadas a impedância elétrica vista
sistemas automotivos essa solução se mostra vantajo-
pelo amplificador de potência (Zout) e a impedância
sa, embora pouco utilizada.
de radiação acústica vista pelo alto-falante (Zr).
Na Figura 17 é apresentada a ilustração da nova
Uma das vantagens da integração é a possibili-
arquitetura para o sistema de sonorização automoti-
dade de se escolher a impedância nominal do alto-
va. As diferenças mais evidentes com relação à Figu-
falante de acordo com a topologia do amplificador e
ra 3 são a ausência do cabeamento e a substituição
também com o nível da tensão de alimentação. Além
dos alto-falantes por transdutores ativos.
disso, o alto-falante pode ser projetado para que a sua
O cabeamento pode ser eliminado no caso do si- impedância complexa atue como o filtro reconstrutor
nal de áudio ser transmitido ao transdutor ativo via necessário à implementação do amplificador classe D
aérea, através de algum protocolo de comunicação (Poulsen, 2004). Isso resulta em significativa redução
digital sem fios (por exemplo, WLAN ou bluetooth). de custo, volume e massa com a eliminação dos
Um outro conceito importante mostrado na Figu- capacitores e indutores de saída.
ra 17 é a eliminação do autorrádio. Isso porque as Outra vantagem de ter um amplificador dedicado
funcionalidades implementadas pelo autorrádio (ex- ao alto-falante diz respeito ao dimensionamento da
ceto a amplificação em potência) podem se tornar potência e da banda de frequências de atuação do
componentes de software se todas as fontes de sinal amplificador. No caso da classe D, por exemplo, a
de áudio forem digitais. Isso já é comum hoje em dia, frequência de amostragem no modulador digital pode
exceto pelos sinais de rádio AM e FM. Assim, de ser menor num transdutor para baixas frequências
acordo com a proposta do transdutor ativo, na qual o (sub woofer) do que num transdutor de altas frequên-
amplificador é integrado ao alto-falante, o hardware cias (tweeters). Ainda na mesma linha, os tweeters
do autorrádio pode ser dispensado e as suas funcio- geralmente são mais eficientes que os woofers e,
nalidades incorporadas noutra central eletrônica de portanto, necessitam de um amplificador com menor
processamento (central de infotainment). Essa nova potência nominal e, consequentemente, menores
central pode também implementar outros serviços perdas.
ligados a, por exemplo, conforto, informação e entre-
No caso de o amplificador de potência demandar
tenimento. Como não faz parte da arquitetura do
um radiador de calor, essa função pode ser realizada
sistema de sonorização, essa nova central de infota-
pelo circuito magnético do alto-falante. Os materiais
inment aparece na Figura 17 com o traço em cor mais
podem ser especificados de forma a contribuir com a
clara.
dissipação de calor.

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Figura 18: Diagrama de blocos do transdutor ativo.

Os amplificadores classe D particularmente se posta em frequência, rejeição a ruídos oriundos da


beneficiam da integração com o alto-falante nas fonte de alimentação, entre outras (Cabot, 1997).
questões ligadas a compatibilidade eletromagnética
(EMC) em sistemas automotivos. Os sinais pulsados Agradecimentos
à saída do amplificador classe D podem interferir em
circuitos que operam na região de 1 MHz, como por
exemplo, num receptor de rádio frequências em am- Os autores agradecem às empresas H.Buster e Clari-
plitude modulada (AM), ou mesmo serem captados on do Brasil pela cessão das amostras de autorrádios
pela antena do veículo. Isso torna complexa a tarefa para os experimentos realizados nesse trabalho.
de implementar um amplificador classe D dentro de
um autorrádio convencional. Contudo, num amplifi- Referências Bibliográficas
cador integrado ao alto-falante os sinais pulsados
podem ser confinados dentro do transdutor através de Cabot, R. C. (1997). Fundamentals of Modern Audio
blindagem ou filtragem. Measurement. AES 12th UK Conference.
Clark , D. (1990), Stereo in Automobiles. AES 8th
International Conference.
7 Conclusão
Erickson, R. W., Maksimovic, D. (2004).
Fundamentals of Power Electronics. Kluwer
As investigações sobre os sistemas de áudio automo- Academic Publishers.
tivos apresentadas nesse artigo indicam a possibili- Kaku, S. (1976). Switching-mode absolute-value
dade de se implementar inovações que conduzam a amplifier and its applications. IEEE Trans. Inst.
melhorias no consumo e na eficiência do sistema. Meas., vol. 25, pp. 79–83.
Assim, uma nova arquitetura baseada em trans- Kassakian, J. G., Wolf, H. C., Miller, J. M. and
dutores ativos com amplificadores classe D integra- Hurton, C. J. (1996). Automotive Electrical
dos aos alto-falantes é proposta. Systems circa 2005. IEEE Spectrum, Aug. Ed.,
O transdutor ativo apresenta outras vantagens pp. 22-27.
em relação à atual arquitetura, tais como: representa- Kinsler , L. et al. (2000) Fundamentals of Acoustics.
ção do sinal de áudio no domínio digital em todas as John Wiley & Sons, Inc.
etapas da cadeia, até a conversão numa tensão analó- Nielsen, K. (1997). High-Fidelity PWM-Based
gica diretamente nos bornes do alto-falante; elimina- Amplifier Concept for Active Loudspeaker
ção do cabo de transmissão dos sinais entre o ampli- Systems with Very Low Energy Consumption.
ficador e o alto-falante, reduzindo as perdas e a sus- Journal of the Audio Engineering Society, vol.
cetibilidade a interferências eletromagnéticas induzi- 45, pp. 554–570.
das; eliminação do filtro reconstrutor do amplificador Poulsen, S. (2004). Towards Active Transducers.
classe D, pois a própria impedância do alto-falante PhD thesis, Technical University of Denmark.
pode ser utilizada como filtro. Rumsey, F. (2009). Class D Power Amplification.
Contudo, a implementação do transdutor ativo Journal of the Audio Engineering Society, vol.
depende da qualificação do amplificador classe D 57, pp.:1087–1093.
para operar em automóveis de forma compatível do Sanyo Semiconductors (2006). Datasheet: LA47202P
ponto de vista eletromagnético. Isso significa que ele – Four channel BTL power amplifier for car
deve ser imune às interferências existentes no siste- audio systems.
ma elétrico automotivo e, da mesma forma, não deve Sedra, A. and Smith, K. (2010). Microelectronics
emitir distúrbios que venham a causar interferência Circuits. Oxford University Press.
em outros componentes eletro-eletrônicos embarca- Shively, R. (2000), Automotive Audio Design (A
dos. Tutorial). AES 109th International Convention.
A qualificação do transdutor ativo para aplicação Texas Instruments Inc. (2001). Datasheet: TAS5012
automotiva ainda passa pela avaliação da qualidade – True Digital Audio Amplifier.
de áudio, onde são caracterizadas figuras de mérito Texas Instruments Inc. (2007) Datasheet: TAS5424 –
como: distorção harmônica, razão sinal-ruído, res- Four channel automotive digital amplifier.

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