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casos de sucesso
2009
© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
ISBN: 978-85-7638-776-3
CDD 302.14
Autores:
Ana Paula Johann Ivelir Neiverth
Bertha de Borja Reis do Valle Laiz Beerends
Cláudia Guitierrez Santana Maria de Fátima Minetto Caldeira
Cláudio Cesar Pimentel Texeira Mário Sérgio Vasconcelos
Daniela Haetinger Marli Kaczmarek
Dinéia Urbanek Max Günther Haetinger
Elair Hasselman de Bastos Orley Boçon
Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Patrícia Braun
Fátima e Silva de Freitas Paulo Henrique Pienta
Fernando B. Monte-Serrat Ruth Eugênia Cidade
Gisele Gonçalves Melles de Oliveira Vânia Maria da Silva Andrade
Ida Beatriz Costa Velho Mazzillo
Idoso e inclusão.....................................................................................................................25
De volta para escola..................................................................................................................................27
Considerações acerca do envelhecimento com campo de conhecimento.................................................30
Inclusão social dos catadores de materiais recicláveis: criança no lixo, nunca mais!..........125
Introdução.................................................................................................................................................125
Fórum Estadual Lixo & Cidadania do Paraná..........................................................................................125
Instituto Lixo e Cidadania........................................................................................................................130
Problemática.............................................................................................................................................131
Justificativa...............................................................................................................................................132
Objetivos...................................................................................................................................................133
Metodologia..............................................................................................................................................134
Indicadores de monitoramento.................................................................................................................136
Metas.........................................................................................................................................................137
Abrangência e população-alvo.................................................................................................................137
Referências............................................................................................................................209
A inclusão de pessoas
com paralisia cerebral: uma
história de vida bem-sucedida
Bertha de Borja Reis do Valle
Eloiza da Silva Gomes de Oliveira
Ida Beatriz Costa Velho Mazzillo
Introdução
N
esta aula, vamos conversar um pouco sobre paralisia cerebral, suas manifestações mais fre-
qüentes e formas de prevenção. Nosso objetivo principal, porém, é apresentar a história de in-
clusão de uma portadora de paralisia cerebral que tem conseguido superar suas limitações.
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A inclusão de pessoas com paralisia cerebral: uma história de vida bem-sucedida
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
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A inclusão de pessoas com paralisia cerebral: uma história de vida bem-sucedida
Embora haja essa dificuldade de mensuração, é bastante claro que nem sem-
pre paralisia cerebral e deficiência mental andam juntas. Dessa maneira, a edu-
cação das pessoas que têm paralisia cerebral deve acontecer, de preferência, em
escolas regulares. A deficiência mental não está obrigatoriamente presente nos
quadros de paralisia cerebral, o que permite a essas crianças freqüentarem a esco-
la regular, em classe compatível com sua faixa etária.
Os melhores meios de avaliação das capacidades cognitivas de crianças com
paralisias cerebrais são os processos pedagógicos desenvolvidos em atividades
grupais com outras crianças (com e sem deficiências), tanto na escola como fora
dela. Nestas ocasiões, poderão ser revelados potenciais de aprendizagem muitas
vezes sequer imaginados.
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
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A inclusão de pessoas com paralisia cerebral: uma história de vida bem-sucedida
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Sua vida como estudante do ensino fundamental deu-se nos anos 80. Expe-
rimentou um pouco do ensino em classes especiais, dentro do Instituto Brasileiro
de Reeducação Motora (IBRM), que se localiza no bairro do Andaraí, no Rio de
Janeiro. O IBRM é uma associação beneficente, criada em 1955. É considerado um
centro de excelência para pessoas portadoras de deficiências. Lá estão disponíveis
serviços de Medicina de Reabilitação, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia,
Serviço Social, atividades desportivas adaptadas, oficina de arte, psicopedagogia
e outros. A vida escolar e social de Bia está muito ligada a esta instituição.
A vontade de Bia de ir para uma escola de ensino regular era tão grande
que um dia chegou para a sua professora, Rute Pereira, do IBRM, que também
era uma das diretoras desta instituição, e falou que queria ir para a escola regular
como todas as crianças. Ela gostaria que fosse a escola pública municipal, ao lado
do IBRM, pois já havia um colega , o Anderson, até hoje seu grande amigo, que
tinha ido estudar lá. Anderson também tinha seqüelas de paralisia cerebral.
No ano seguinte, foi para a 4.ª série desta escola pública. Devido à dificul-
dade de escrita, realizava provas orais, que eram aplicadas pelos professores. A
escola recebia alguma orientação dos profissionais do IBRM, de como aproveitar
a potencialidade dela. No final do ano letivo, concluída a 4.ª série, os professores
recomendaram a seus pais que a colocassem em uma escola particular, que tivesse
poucos alunos por turma, na qual os professores pudessem lhe dar mais atenção.
Foi estudar em um colégio pequeno da rede particular, onde passou toda a
sua adolescência, época que foi de grande crescimento e de descobertas. Nessa
época, havia no colégio uma outra menina com paralisia cerebral, a Renata, que
já estava na 6ª série, mas que logo depois saiu, porque sua família mudou-se para
outro Estado. Junto com Bia, entrou para o mesmo colégio, na mesma turma, uma
outra aluna – a Luciana – também portadora de necessidades educativas especiais.
As duas eram suas companheiras do IBRM, instituição que ainda freqüentavam
na época, realizando atividades para fins de reabilitação.
Ela sempre tentava auxiliar a amiga, pois esta usava cadeira de rodas e
assim como ela, também tinha dificuldades motoras para escrever. Bia acreditava
que ambas poderiam ir adiante. Infelizmente, a amiga Luciana não completou o
Ensino Fundamental.
Quando eu fui para o ginásio, tive vários professores e cada professor dava aula de um jei-
to. Eu sempre tive muita dificuldade para escrever. Só conseguia fazer prova de questões
de múltipla escolha que os professores faziam para mim. Mas eu era muito questionadora
e me perguntava: por que eu faço prova de múltipla escolha? Eu ainda tenho dificuldade
de escrever, mas hoje eu digito todos os meus trabalhos, eu quero guardar tudo no meu
computador. Antigamente, como o computador não existia, eu comecei a pensar que de-
veria estar só numa escola especial. Mas meus professores e meus amigos diziam: – Você
sabe escrever... Foi muito importante!
escrita, precisava que alguém a ajudasse nas provas semestrais, registrando por
escrito o desenvolvimento das questões. Algumas vezes levou pessoas de fora da
escola para ajudá-la, pessoas amigas com quem podia contar. Dentre elas, Bia res-
salta pelo menos duas: a professora Gloria Schapper, que já lhe havia atendido no
IBRM e, mais tarde foi sua professora na UERJ, e Gilson Teixeira, que, segundo
seu relato, foi a alegria de sua juventude, seu ex-namorado, e que sempre lhe dava
muito apoio nas suas aspirações acadêmicas.
O diretor deste colégio particular está bem presente na memória de Bia.
Segundo ela, ele era uma pessoa muito aberta e sensível às questões relacionadas
aos alunos com dificuldades. Nessa escola, além de portadores de paralisia cere-
bral, havia um aluno autista. Lá, a inclusão já estava começando, como relata a
própria Bia, referindo-se a este professor: “Ele tinha uma cabeça muito além da
época em que vivia. Tinha uma visão muito ampla de educação. Era um verda-
deiro mestre!”
Foi nesse colégio, em um ambiente muito amistoso, onde amigos lhe em-
prestavam cadernos e ela tirava cópias em xerox das anotações que os colegas
faziam, que terminou o ensino médio. Vale destacar que, durante esse processo
todo, contou também com o apoio da família que sempre fez com que se sentisse
uma pessoa capaz, acolhendo-a nos momentos de dificuldades e fornecendo-lhe
todos os recursos necessários para a superação dos obstáculos que, muitas vezes,
faziam com que duvidasse de suas reais possibilidades.
Eu cursei o ensino médio no Colégio Amaral Fontoura, mas só saí do IBRM quando tinha
18 anos. Foi lá que me iniciei na Informática. Foi uma coisa informal, tem uma história.
O IBRM tinha um projeto que visava socializar portadores de deficiência, que tinham PC.
Ele fez vários convênios e conseguiu profissionais de informática para ministrarem cursos
para os portadores de PC. Eu tinha vontade de aprender a usar o computador e aprendi.
Mais tarde, passei para um estágio de monitoria, para ajudar os outros deficientes.
Quando concluiu o Ensino Básico, ela cursou, durante seis meses, um curso
preparatório para prestar exame para o ensino superior. Fez dois vestibulares. Um
deles para o curso de Pedagogia da UERJ e outro para a Universidade Cândido
Mendes (UCAM), para o curso de Administração. Fez meio período do curso de
Administração, mas, na reclassificação da UERJ, foi chamada para matrícula e
passou a cursar Pedagogia.
Fiz do jeito que você sabe. Você foi minha professora na graduação. Fiz na graduação
as habilitações de Magistério das Matérias Pedagógicas e Educação Especial e, depois,
na UFF, eu fiz uma pós em Educação Especial. Muito boa! Muito legal! Tive disciplinas
sobre várias formas de deficiências!
Depois que terminou o curso de Pedagogia, Bia fez um estágio de dois me-
ses como voluntária na Funlar – Fundação Municipal Lar Escola Francisco de
Paula – órgão da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, vinculado à Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Social voltado para pessoas portadoras de defici-
ência, ao qual cabe a formulação da política pública de atendimento ao portador
de deficiência da cidade e a execução de ações nesse sentido.
A atuação de Bia na Funlar levou-a a participar do Conselho Municipal de
Defesa dos Direitos dos Portadores de Necessidades Especiais, tendo sido inclu-
sive sua presidente durante a gestão da secretária municipal de desenvolvimento
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
social, Profª Wanda Engel, que fora professora da UERJ, quando ela era aluna e
conhecia o seu potencial.
Eu estudava em Niterói, na UFF e fazia estágio na Funlar. Eu ando sozinha, de ônibus,
desde o 2.º grau. Comecei a andar sozinha, sair... Fiquei um período morando lá em Nite-
rói, estou mais segura, desinibida. Eu sei as coisas que eu quero, o que eu penso em cada
momento. A gente tem que acreditar em si mesmo. Não pode fugir a isso. Tem uma hora
em que você vê que é responsável por tudo o que você faz, tudo o que você quer, ninguém
vai fazer nada por mim, tudo vai ser mérito meu. Eu acho que as coisas são conquistadas.
É preciso você dizer: estou aqui, eu sou capaz. As pessoas acham os PC frágeis, incom-
petentes...
Palavras finais
A educação inclusiva, embora de concepção recente no Brasil, vem crescen-
do a cada ano em todos os Estados. Segundo censo do MEC, o quantitativo de alu-
nos portadores de necessidades educativas especiais em escolas regulares cresceu
229% desde 1998. Entretanto, ainda há a necessidade de maior sensibilização dos
sistemas escolares e de orientação para os professores. Histórias bem-sucedidas
de inclusão social, como a que relatamos, deverão tornar-se rotina e não casos
pouco numerosos como ainda ocorre.
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Educação de
crianças hospitalizadas
Cláudio Cesar Pimentel Teixeira
A
companhamos, atualmente, a criação de ações de atenção educacional a crianças e adoles-
centes internadas em hospitais e alas pediátricas de todo o país, em atendimento ao que exige
o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069), aprovado em 1990. Essa lei reconhece
e regulamenta o direito à educação a todas as crianças e jovens que se encontrem em tratamento de
saúde hospitalar ou domiciliar.
O Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, mantém, desde 1988, um pioneiro programa de esco-
larização das crianças ali atendidas. Naquele ano, foram firmados os primeiros convênios com as Se-
cretarias Municipal e Estadual de Educação para que professoras da rede pública atuassem no hospital,
garantindo a continuidade dos estudos das crianças internadas. Em 2002, em outra ação inovadora,
a coordenação do Pequeno Príncipe criou um setor de Educação e Cultura para atender o desafio de
realizar um atendimento educacional eficiente e adequado às condições das crianças hospitalizadas.
Em março daquele ano foi criado o setor de Educação e Cultura, com a con-
tratação de quatro educadores para estruturar e implantar um programa de ações
educacionais e culturais na instituição. Esse programa deveria garantir não apenas
o direito legal das crianças internadas à educação, mas envolver os familiares das
crianças e os funcionários do hospital em suas ações.
De imediato, conseguiu-se com a Secretaria Municipal de Educação de Curi-
tiba uma ampliação do convênio firmado, incorporando mais duas professoras da
Rede Municipal ao projeto. Além disso, e mais importante: as cinco professoras
passaram a atuar de maneira articulada, coordenadas pela equipe do setor, com
programação compartilhada de atividades, grupos de leituras e estudos, discussão
e avaliação sistemática sobre o trabalho realizado.
Ao mesmo tempo, uma série de ações educacionais e culturais complemen-
tares foram implantadas, dando suporte para o trabalho central de escolarização
formal das crianças internadas. Assim, nos meses seguintes iniciaram-se ativi-
dades de leitura/literatura, de práticas de jogos de culturas de todo o mundo, de
iniciação à informática e oficinas de artes plásticas. Um campo de estágios foi
criado, envolvendo estudantes de Pedagogia de várias universidades curitibanas
(UFPR, Unicep, Uniandrade, Facinter). Esses estagiários, após capacitação, pas-
sam a atuar nesses programas, estendendo as atividades simultaneamente aos vá-
rios setores do hospital e multiplicando o alcance das ações.
O programa educacional então desenvolvido foi orientado por correntes te-
óricas psicopedagógicas que explicam o desenvolvimento da criança enfatizando
as interações sociais e a gênese da construção dos conhecimentos. Dentro dessas
concepções, a criança e/ou adolescente é entendida como um ser ativo, que cons-
trói o conhecimento por meio da interação com as pessoas e com o meio. Assim,
o trabalho busca otimizar as oportunidades de contatos e trocas, entre a equipe do
setor, as crianças e/ou adolescentes, seus familiares e os funcionários do hospital,
com ênfase no compartilhamento de atividades de leitura, prática de jogos, ativi-
dades de artes plásticas e informática, entre outras. Nessas ações, a equipe atua
no sentido de valorizar a autonomia de todos os envolvidos na atividade, incenti-
vando-os a se expressar e a construir coletivamente o saber, ao mesmo tempo em
que se reforça sua auto-estima e a confiança em sua capacidade de aprendizagem
e de realização.
Nesse sentido, o programa de Educação e Cultura tem uma proposta clara
de atuar a partir do ponto de vista da manutenção e ampliação da saúde, con-
trastando com as ações de cunho médico/terapêutico, naturalmente hegemônicas
num hospital de alta complexidade. Em outras palavras: as crianças hospitalizadas
são cercadas de cuidados terapêuticos, sendo atendidas por médicos, enfermeiras,
psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos. Esse atendimento é necessário e bem-
vindo, mas resulta num olhar excessivamente terapêutico sobre a criança. Até
seus familiares passam a encará-la como um caso clínico. Ao abordar a criança
com propostas de atividades envolventes e motivadoras, ao engajá-la em ativi-
dades que mobilizam seus recursos preservados, ao colocá-la em interação com
seus pais nas atividades, o programa de Educação e Cultura rompe com esse olhar
exclusivo sobre a doença e promove, efetivamente, saúde.
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Educação de crianças hospitalizadas
Acompanhamento escolar
É o programa que atende às demandas de escolarização formal das crianças
por meio de aulas, estudos conjuntos, pesquisas e atividades similares. Essa ação
é reconhecida pela Secretaria Estadual de Educação, o que garante a incorpora-
ção ao histórico escolar do aluno das atividades e avaliações realizadas durante o
internamento, assegurando a continuidade dos estudos e a possibilidade de pro-
gressão escolar.
Cinco professoras da rede municipal de ensino de Curitiba atuam no pro-
grama, sob a coordenação da equipe do setor. Diariamente elas checam a chegada
de crianças com previsão de médio/longo internamento (a partir de duas semanas
de permanência) ou submetidas a tratamento continuado. Entram em contato com
a criança e com seus familiares e propõem um contrato informal para realização
do atendimento. Após coleta de dados da vida escolar da criança, a professora
comunica-se com a escola onde ela estuda, informando à coordenação sobre o
atendimento educacional que esta terá no hospital, solicita envio dos materiais de
estudo da criança, toma conhecimento das principais pautas de estudo da turma
no período, articula contato do(s) professor(es) e da turma com a criança, entre
outras providências.
O plano de trabalho com a criança é elaborado em conjunto com a coor-
denação do setor e com a equipe; é revisto em contatos de supervisão diários e
em reuniões periódicas com a equipe. Dado o pouco tempo possível de trabalho
com cada criança, é fundamental o cuidado na eleição de prioridades a serem
trabalhadas com ela nas atividades. Nesse aspecto, vale uma atenção especial
para as atividades que propiciem o desenvolvimento de habilidades expressivas, o
domínio de códigos de linguagem (orais/escritos, gráficos), o desenvolvimento do
raciocínio lógico e do senso crítico.
Cabe às professoras atender, na medida do possível e de acordo com as con-
dições da criança, às demandas das escolas quanto à execução de exercícios, tra-
balho e avaliações. Cabe ainda, a elas, informar periodicamente a escola sobre o
desempenho da criança e sobre os trabalhos realizados durante o internamento.
Mas o professor desenvolve, principalmente, uma linha de ações própria,
que atende a criança de acordo com seu quadro clínico e suas possibilidades,
aproveitando ao máximo os recursos disponibilizados pelo setor de Educação e
Cultura: o programa Biblioteca Viva, o programa de jogos, as oficinas de informá-
tica e de artes plásticas. Dessa forma, além do atendimento direto que recebe da
professora, a criança é encaminhada às atividades realizadas pelos demais mem-
bros da equipe, ampliando sua participação e tempo de atividades educacionais/
culturais durante o internamento.
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Educação de crianças hospitalizadas
Biblioteca Viva
Programa criado pelo Ministério da Educação e Fundação Abrinq, por meio
do qual funcionários, estagiários e voluntários do hospital lêem para as crianças/
adolescentes, mobilizam seus familiares a ler para eles, bem como incentivam as
próprias crianças/adolescentes a ler para os demais. As atividades envolvem in-
tensamente todos os participantes no universo dos livros e das leituras, ajudando
a disseminar essa prática para além da situação de internamento e a criar leitores
interessados e curiosos.
Na prática, os mediadores de leitura selecionam entre 10 a 15 livros por
sessão e dirigem-se às crianças/adolescentes, convidando-os à leitura. Esta ocor-
re basicamente de duas maneiras: coletivamente, quando colocam-se tapetes nos
saguões e corredores do hospital, espalham-se os livros sobre eles e chamam-se
as crianças e familiares para a leitura; ou individualmente, quando oferece-se a
leitura junto ao leito para aquelas que não podem se locomover.
As leituras acontecem em todos os setores do hospital: ambulatórios, en-
fermarias, UTIs, isolamento, emergência, saguões e corredores. Funcionários de
todos os setores do Pequeno Príncipe tomam parte desse programa: enfermagem,
corpo médico, segurança, cozinha, administração.
Informática
Dois minilaboratórios de informática foram montados no hospital, com
apoio de empresas que doaram computadores e mobiliário para o projeto. Com o
apoio inicial da CDI, uma ONG que atua na implantação de oficinas de informá-
tica em organizações sociais, foi criado um programa piloto de atuação, que foi
desenvolvido e ampliado nos meses seguintes pela equipe do setor.
As atividades de informática centram-se em duas linhas principais de atu-
ação:
aproximar as crianças/adolescentes da tecnologia da informática, prepa-
rando-as para o uso cada vez mais exigido de computadores e de seus
recursos. Como a quase totalidade da população atendida (cerca de 95%)
não tem qualquer contato com computadores, as atividades centram-se
em aspectos bastantes básicos desse aprendizado, como o uso do teclado
e do mouse, e a prática com programas de desenho, leitura e escrita;
utilizar os programas e recursos de informática disponíveis para desen-
volver atividades de leitura/escrita, de pesquisa e de construção do saber,
a partir de temas ligados ao currículo escolar e/ou aos interesses da crian-
ça/adolescente.
Os resultados dessa ação têm surpreendido a equipe. O encantamento e a
curiosidade que o universo da informática normalmente desperta nas crianças e
jovens colabora para que rápidos progressos sejam feitos. As primeiras explora-
ções, quase sempre ligadas à escrita de textos simples, à elaboração de desenhos
ou à singela prática de jogos interativos, são seguidas por um uso cada vez mais
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Artes plásticas
As oficinas de artes plásticas partem de variados temas para trabalhar uma
ampla gama de técnicas e uma diversidade de referências estéticas. Assim, a apre-
sentação de diferentes tipos de máscaras, além de fotos e ilustrações, motiva as
crianças à construção de suas próprias máscaras, com técnicas de recorte, pintura
e colagem. Caricaturas, arte rupestre, arquitetura, móbiles, bonecos, gravuras e
suas técnicas – muitos são os temas que desencadeiam as atividades, numa múlti-
pla e contínua exploração por parte das crianças/adolescentes.
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Educação de crianças hospitalizadas
Apresentações artístico-culturais
Uma programação permanente de eventos artístico-culturais e mantida pelo
setor de Educação e Cultura em parceria com o voluntariado do hospital, incluindo
apresentações de corais, grupos instrumentais, de teatro, circenses, entre outras.
Uma parceria com o Sesc da Esquina tem ampliado o leque de apresentações, in-
cluindo a vinda de artistas de renome ao hospital, como o saxofonista Leo Gandel-
man e o violonista Guinga, que deram emocionantes “canjas” musicais às crianças
e seus familiares. Já a escritora Eva Furnari, em sua visita, contou histórias en-
quanto as desenhava em grandes painéis, para encanto das crianças que assistiam.
Professores Variada 5
Estagiários Pedagogia/Magnésio 31
Voluntários Variada 12
Total 52
Perspectivas
O planejamento do setor, para esse ano, inclui a retomada de contato com
a Secretaria Estadual de Educação para renovação do convênio de parceria com
o hospital, engajando novas forças, idéias e talentos ao projeto. Inclui também a
ampliação das atividades de estudos teóricos da equipe, com a implantação de um
sistema permanente de reciclagem, grupos de estudos temáticos, participação em
eventos ligados à educação, em especial aqueles promovidos pelas Secretarias de
Educação do Estado e de Curitiba. O contato e articulação com outros hospitais
que mantêm atendimento educacional é também prioritário para esse ano.
As atividades de arte também estão sendo ampliadas, com implantação de
programas de música e teatro, e incremento nas atividades de artes visuais, por
meio das quais as crianças vivenciam a arte como espectadoras, assistindo a reci-
tais, balés, peças de teatro, tanto quanto como criadoras, em oficinas práticas de
sensibilização para a arte.
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
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Idoso e inclusão
Fátima e Silva de Freitas
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
Trouxeste a chave?
Repara:
Inclusão Exclusão
1. Compreender, abranger 1. Afastar, desviar, eliminar
2. Estar incluído 2. Pôr de lado, abandonar, recusar
3. Fazer parte 3. Não admitir, omitir
4. Pertencer, juntamente com outros 4. Pôr fora, expulsar
5. Ato ou efeito de incluir 5. Privar, despojar
A
s palavras em estado de dicionário podem aparentar frieza e distanciamento do nosso coti-
diano, da vida que pulsa nas ruas da cidade e nos campos. Contudo, quando as situamos num
determinado contexto ganham significados e contornos inesperados, às vezes dramáticos e
denunciadores de uma realidade que nem sempre percebemos.
Ao processo que exclui mulheres e homens idosos do acesso à educação, cultura, lazer, merca-
do de trabalho e aos demais setores da vida social, chamamos de exclusão social, ou etária, quando
a idade é o fator determinante. Mesmo considerando que nas últimas décadas intensificaram-se as
ações no sentido de mudar este quadro, ainda há muito o que fazer. A Política Nacional do Idoso, a
recente publicação do Estatuto do Idoso, as constantes denúncias sobre maus tratos em casas de re-
pouso, asilos e hospitais, os trabalhos de instituições assistenciais, religiosas e sociais são iniciativas
que trazem para a ordem do dia a discussão sobre o processo de envelhecimento populacional pelo
qual a sociedade brasileira vem passando nas últimas décadas.
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos
conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso,
de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria. (Estatuto
do Idoso, fev. 2004)
Dalva
Voltar a estudar depois de 15, 20, ou 30 anos longe do ambiente escolar re-
quer ousadia, coragem e determinação. Os casos relatados a seguir nos mostram
que é sempre tempo de recomeçar ou retomar os sonhos, sejam eles quais forem.
O vestibular para experientes das Faculdades Integradas do Brasil isenta
pessoas acima dos 35 anos da taxa de vestibular. O objetivo é possibilitar a inclu-
são de pessoas mais “experientes” no ambiente acadêmico. A instituição já conta
com sistemas de cotas no vestibular para afrodescendentes e bolsas de estudos
parciais para os aprovados. Nesse caso, conta com a ajuda de setores organizados
do movimento negro.
A iniciativa é considerada política de ação afirmativa, que não é novidade
para algumas Universidades Públicas Brasileiras, mas que no caso da Unibrasil,
uma instituição particular, trata-se de uma experiência inovadora:
Ações afirmativas são estratégias destinadas a estabelecer igualdade de oportunidades,
por meio de medidas que compensem ou corrijam as discriminações resultantes de prá-
ticas ou sistemas sociais. Têm caráter temporário, são justificadas pela existência da dis-
27
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Ana (a única das entrevistadas que pediu anonimato, logo, o nome é fictício)
65 anos, 2.º período de Jornalismo. Fez o vestibular e não esperava passar, chegou
até a ficar triste, sem saber o que fazer, sente dificuldades com relação aos tra-
balhos solicitados pelos professores. Acha que a faculdade deveria proporcionar
algum curso de atualização em algumas matérias. No restante, a volta à escola
trouxe um novo rumo para sua vida.
... eu estou com 65 anos, e acho que a gente tem mais dificuldade para assimilar as coisas.
Eu me considero assim, em forma. Mas eu vejo que a gente fica mais lenta, sabe. Então, eu
às vezes fico pensando... será que eu não tô fazendo besteira, eu tenho uma outra colega
que está lá no Direito. E ela tem me dito, que não sabe se ela tá fazendo um bom negócio,
ou não. Por causa dos trabalhos, é muita coisa para a gente assimilar. Daí a gente fica pen-
sando... mas eu já fiz tanta coisa na minha vida. Será que não era hora de estar viajando,
aproveitando. Mas se ficar naquela coisa de não ter uma ocupação, isso deprime a gente.
Isso dá uma sensação de um abandono, de um final de linha. De que a vida passou, dá uma
tristeza. (Ana, entrevista 30/03)
28
Idoso e inclusão
tão aqui, porque querem estar, ninguém vai ficar se incomodando se eu estou copiando ou
não. Depois me conscientizei, as primeiras provas foram bastante... tive até um problema
de pressão, eu me descontrolei, fiquei muito preocupada com as provas, mas depois tirei
de letra. ( Dalva, entrevista 30/03)
Tereza: “É uma participação por igual, é você poder conversar, criticar, con-
cordar, discordar. O que não acontecia antes, os nossos temas de conversação
eram bastante limitados. Pelo menos para nós, é um mundo mais amplo.”
Eliana: “Meus familiares falam que eu estou mais crítica, eu cresci enquan-
to pessoa. O meu vocabulário ficou mais rico.”
Tereza: “E fazem as gozações, aí está a senhora pedagoga, agora a senhora
sabe tudo (risos), na base da brincadeira. Houve uma mudança bem significativa.”
A última entrevistada é Sirlei Aparecida Fernandes (51 anos); ela é aposen-
tada do Banestado (Banco do Estado do Paraná), conta que não via a hora de se
aposentar para voltar a estudar, o que ela sempre gostou de fazer. Ela já é formada
em outro curso superior, em 2001 voltou a estudar Jornalismo.
“... Jornalismo é um curso que eu tinha muita vontade de fazer, eu tinha in-
terrompido esse curso há trinta anos. Eu tinha começado a fazer na Federal. Falei,
agora eu vou realizar meu sonho. Tô superfeliz, falta só um ano para terminar.”
Sobre a relação com os colegas de turma, Sirlei diz que às vezes tem al-
gumas dúvidas, em função da sua experiência de vida. Afinal, seus colegas são
quase todos da mesma idade dos seus filhos.
... é muito gratificante. De um lado, eu fico um pouco receosa de dar uma opinião. Eu me
pergunto até que ponto, eu não vou parecer às vezes ousada, porque eu tenho mais expe-
riência. Poderia parecer meio que pernóstico, eu parecer que tenho mais conhecimento
que eles. Então eu prefiro ficar calada, e penso que eu aprendo muito com eles. E o fato de
conviver com eles, também ajuda a entender os meus filhos. Hoje, o diálogo que eu tenho
com os filhos é sobre faculdade, eu aprendo aqui na faculdade a fazer esta relação com
eles. É muito legal.
Eu penso que toda pessoa que se aposenta, e que se lamenta... ai, que eu não tenho o que
fazer! Vai estudar, é a melhor forma de você não envelhecer e de estar vivendo em um
ambiente sadio, gostoso e alegre. (Sirlei, entrevista 30/03)
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Páscoa
Adélia Prado
Velhice
é um modo de sentir frio que me assalta
é uma certa acidez.
O modo de um cachorro enrodilhar-se
quando a casa se apaga e as pessoas se deitam
Divido o dia em três partes:
a primeira pra olhar retratos,
a segunda pra olhar espelhos,
a última e maior delas, pra chorar.
Eu, que fui loura e lírica,
não estou pictural...
Peço a Deus,
em socorro da minha fraqueza,
abrevie esses dias e me conceda um rosto
de velha mãe cansada, de avó boa,
não me importo. Aspiro mesmo
com impaciência e dor.
Porque sempre há quem diga
no meio da minha alegria:
‘põe o agasalho’
‘tens coragem?’
‘por que não vais de óculos?’
30
Idoso e inclusão
Temos, nesse sentido, várias categorias que podem definir a pessoa a partir
dos sessenta anos, velho(a), idoso(a), ancião(ã) e, por fim, terceira idade.
Considero que apesar do envelhecimento não se dar de forma homogênea,
de não haver um modelo de idoso universal que possa servir como parâmetro para
pensar o processo de envelhecimento, este campo ligado às estratégias de vida, de
prazer, de lazer e relacionamentos sociais está cada vez mais submetido ao geren
ciamento social, sejam as iniciativas públicas ou privadas. Constituindo no que
já podemos chamar de uma cultura da, ou para a, terceira idade, alardeada pelos 1 Ver, por exemplo, os
trabalhos de: BOSI,
Ecléa. Memória e Socieda-
meios de comunicação, como uma fase da vida que se abre para as mais diversas de: lembranças de velho.
São Paulo. T. A. Queiróz,
possibilidades de realização pessoal. 1983. DEBERT, Guita. As
representações da velhice.
Terceira idade transformou-se no termo mais usual para referir-se à popula- Revista Ciência Hoje, 1988.
ção idosa. Velho é também uma designação utilizada, às vezes, mas a maneira pe-
HADDAD, E. A ideologia da
Velhice. Sâo Paulo: Cortez,
jorativa que o termo assume, mais se distancia do que se aproxima da forma como 1986.
31
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
por exemplo, ninguém diz que asilos são para a terceira idade, mas para velhos.
Fala-se também nas Universidades para a terceira idade, nos grupos de convi-
vência e nos programas de Postos de Saúde que, em geral, são denominados da
terceira idade.
Quando ouve-se falar na terceira idade, quase sempre o termo refere-se à
velhice bem-sucedida, festiva e no controle de suas atividades. Há também que se
considerar que se falamos em termos numéricos poderá haver uma quarta idade
ou quinta idade, dado que as expectativas de vida vêm aumentando a cada dia.
Nesse sentido, trata-se de uma forma classificatória que supõe outros recortes, ou
de uma maneira confortável de se referir ou se auto-identificar em determinada
fase cronológica da vida.
Esse termo foi utilizado pela primeira vez na França, na década de sessen-
ta do século XX, como um conceito para identificar um tipo de envelhecimento
bem-sucedido, que se diferenciava daquele associado à velhice desamparada e
abandonada à própria sorte. No contexto francês, tratava-se da universalização
de um sistema de aposentadorias, que, bem ou mal, garantia alguma renda para a
população idosa. Somado a isso, o aumento da expectativa de vida contribuiu para
que a terceira idade formasse também um novo público consumidor de todo tipo
de bens e serviços (DEBERT; SIMÕES, 1994).
Segundo Motta:
[...] o que a categoria terceira idade vem representando é positivo – daí a sua rápida acei-
tação e difusão no cotidiano e até entre pesquisadores – mas por trás dessa nova e boa
imagem de idoso dinâmico e saudável que ela vem também representando, estão coloca-
dos o eufemismo – escapismo negador da velhice e uma indústria de produção de bens e
serviços, como um novo e envolvente mercado. (MOTTA, 1997)
A forma como Bosi passeia pelas memórias de seus entrevistados faz da pes-
quisa um caminho de descobertas sobre as múltiplas faces que a velhice possui.
33
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
34
Idoso e inclusão
aos idosos; há leis municipais, estaduais e federais que visam não só garantir o
atendimento à saúde, mas, também gerenciar as formas com que a sociedade vem
lidando com as questões suscitadas a partir das próprias expectativas da popula-
ção em questão.
Nesse contexto, aquelas pessoas consideradas da terceira idade, que conse-
guem manter o “corpo em forma” são transformadas em verdadeiros campeões da
resistência física, servindo de parâmetros para discriminar e penalizar os que não
acompanham esse movimento. Assim, os antigos estereótipos da velhice, vista
como fardo para as gerações que a sucedem, podem ser substituídos por outro não
menos preconceituoso: o da velhice responsabilizada pela sua própria manutenção
corporal, livrando as gerações futuras e o Estado da responsabilidade perante a
velhice, que não consegue responder a essas expectativas de autoconservação.
O sucesso dos programas da terceira idade mostram que eles, sem dúvida, merecem ser
ampliados e divulgados. Mas o envelhecimento bem-sucedido e inovador não pode fechar
o espaço para a velhice abandonada e dependente, em transformá-la em conseqüência do
descuido pessoal. (DEBERT, 1996, p. 44)
35
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
O velho do espelho
Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto... é cada vez menos estranho...
Meu Deus, meu Deus... Parece
Meu velho pai – que já morreu!
Como pude ficar assim?
Nosso olhar – duro – interroga:
“O que fizeste de mim?!”
Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga... Que importa?! Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra! –
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste...
Mario Quintana
36
Inclusão digital: o desafio da
inclusão social por meio da
inclusão digital
Max Günther Haetinger
Daniela Haetinger
Falando de inclusão
U
m dos maiores desafios dos últimos anos é a inclusão digital ou tecnológica dos cidadãos.
Essa inclusão tem sido determinada pela nova economia e pelos modernos métodos de pro-
dução e prestação de serviços. Por isso, a atual sociedade da informação requer novos com-
portamentos dos indivíduos de todas as camadas sociais, e apresenta necessidades que antes estavam
muito longe de nossos problemas cotidianos.
Para ilustrarmos algumas mudanças nesse sentido, podemos citar a transformação dos parques
industriais, que antes eram formados por máquinas mecânicas e hoje adotam máquinas eletrônicas
ou sistemas computacionais. Outro exemplo é a transformação dos meios de comunicação, que estão
cada vez mais rápidos e eficazes.
Sendo assim, percebemos que a democratização da informação e a inclusão digital são premis-
sas urgentes, tornando-se temas importantes nos últimos anos, uma verdadeira “febre” em muitos
países. Essa realidade atinge cada um de nós de maneira diferente. No entanto, enfrentamos dificul-
dades e barreiras comuns.
Em todo o mundo, as discussões das comunidades educacionais giram em torno das seguin-
tes questões: como podemos democratizar o acesso à informática e seu uso? Como levar as ferra-
mentas informatizadas às pessoas mais pobres? Como promover interações nesses meios para que
auxiliem na aprendizagem? Como o processo de Educação a Distância (EAD) pode colaborar com
a inclusão digital?
Nesse sentido, muitas iniciativas têm proporcionado experiências inovadoras em nosso país. En-
tre elas, destacamos a inclusão digital como base de inclusão social, utilizando-se para isso a educação
presencial e a distância. Esses projetos desenvolvem programas de aprendizagem que oferecem a inclu-
são digital, indo além dos problemas mais rotineiros como o conhecimento de softwares de textos ou
planilhas eletrônicas, aprofundando o desenvolvimento das habilidades e competências dos usuários e,
fundamentalmente, baseando-se em teorias de aprendizagem consagradas no ambiente presencial que
são transpostas aos processos de ensino-aprendizagem mediados pelas novas tecnologias.
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
39
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Fases da inclusão
Como planejamos e desenvolvemos nossas ações de inclusão digital?
Devemos sempre pensar de maneira ampla, relacionando nossos conheci-
mentos, pois o processo de inclusão digital não é apenas como tratar um novo
conteúdo curricular. A inclusão digital inclui mudanças culturais e sociais e esses
fenômenos são bastante difíceis de serem trabalhados em salas de aula.
O primeiro passo, nesse sentido, é ler ou reler alguns autores importan-
tes que podem fundamentar nossas ações. Entre eles, destacamos Freinet, Piaget,
Maturana, Lévy, e outros estudiosos que abordam relações entre sujeitos e entre
sujeito/objeto, aprendizagem em universos digitais e o uso da informática na edu-
cação. No final desse livro, você encontrará algumas referências bibliográficas
fundamentais para o entendimento da importância da tecnologia como mediadora
dos processos de ensino-aprendizagem.
A partir das idéias desses teóricos, relacionamos alguns procedimentos para
o início de um trabalho de inclusão digital no ambiente escolar e em nossa comu-
nidade:
o início do processo de inclusão é um processo de adaptação motora.
Sabemos que para trabalhar com computadores, as pessoas precisam ter
uma boa coordenação viso-motora. Isso cria condições para que elas se
relacionem melhor com o mouse e o teclado (lembrando que esses recur-
sos são a “porta de entrada” para o computador);
devemos começar seduzindo nossos alunos no uso do computador.
É importante percebermos que a motivação é o aspecto mais importante
40
Inclusão digital: o desafio da inclusão social por meio da inclusão digital
Pensamento final
“É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas, em meio a ar-
quipélagos de certezas” (Edgar Morin).
41
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
42
Inclusão digital: o desafio da inclusão social por meio da inclusão digital
43
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Embora esses passos não esgotem a definição do problema, pode ser que comecem a abrir um
caminho de entendimento.
O segundo texto que indicamos é um documento oficial referente aos trabalhos que foram
realizados na Oficina para a Inclusão Digital, evento que reuniu o Governo e a comunidade vol-
tada à inclusão digital, e produziu algumas premissas em relação a esse tema. Você também pode
acessar esse material no site www.inclusaodigital.org.br. Esse mesmo site oferece, ainda, espaço
para você contribuir ou propor alguma iniciativa de inclusão digital.
Considerações gerais
Encabeçando a lista de premissas gerais do documento oficial desenvolvido pela oficina, está
a afirmação de que “a exclusão digital aprofunda a exclusão socioeconômica” e que “a toda a
população deve ser garantido o direito de acesso ao mundo digital, tanto no âmbito técnico/físico
(sensibilização, contato e uso básico) quanto intelectual (educação, formação, geração de conheci-
mento, participação e criação)”.
Como conseqüência da influente participação da área da deficiência, segue entre as premissas
gerais que regem todo o documento, a seguinte recomendação:
44
Inclusão digital: o desafio da inclusão social por meio da inclusão digital
As ações de Inclusão Digital devem promover a inclusão e equiparação de oportunidades para a população
brasileira, respeitando os conceitos de Diversidade e Desenho Universal. Cabe especificar que o todo social
inclui populações com necessidades especiais muitas vezes invisíveis como é o caso de pessoas idosas, de
baixa escolaridade, com impedimentos ou limitações intelectuais e mentais, físicas, sensoriais, motoras e/ou
com mobilidade reduzida, pessoas com limitações temporárias etc.
Premissas
A inclusão digital, em função das possibilidades que oferece às pessoas portadoras de defici-
ência, tem uma importância maior para elas do que para as demais.
Acesso deve ser compreendido não apenas como o acesso à rede de informações, mas tam-
bém como a eliminação de barreiras arquitetônicas, de comunicação e de acesso físico, equipa-
mentos e programas adequados, bem como conteúdo e apresentação da informação em formatos
alternativos.
Todas as normas técnicas e documentos regulamentadores na área de criação e desenvol-
vimento de equipamentos e programas, sejam eles específicos ou não às pessoas portadoras
de deficiências, deverão contar com a participação de representantes de usuários das diversas
áreas de deficiência. O acesso físico dessas pessoas deverá ser garantido pelo órgão regula-
mentador competente.
Diretrizes
Equiparação de oportunidades de acesso ao mercado de trabalho por meio da adequação dos
recursos físicos, tecnológicos e humanos.
Implementação e manutenção de páginas governamentais que atendam às necessidades es-
peciais dos usuários dentro do conceito de desenho universal e acessibilidade, previstos no W3C
(Consórcio para a web) e WAI (Iniciativa para Acessibilidade na Rede).
Disponibilização de conteúdo informativo em formatos alternativos como disquete, fitas de
áudio, Braille e outros.
Desenvolvimento de conteúdos de interesse específico para a área de deficiência nos setores
de serviços e promoção da cidadania.
Propostas
Fomentar a criação de linhas de produtos especializados que atendam aos portadores de ne-
cessidades especiais.
Estimular projetos de adaptação de equipamentos de informática e desenvolvimento de pro-
gramas para o uso das pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais, garantindo a demo-
cratização da informação.
Estimular o desenvolvimento de projetos em tecnologia de assistência com alto ou baixo
custo, tais como: adaptadores de teclados e mouse, cadeiras ergonômicas, adaptação de estação
de trabalho etc.
45
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Articular os três setores (Estado, iniciativa privada e sociedade civil) em torno da inclusão
econômica e social por meio da criação de uma rede de informações sobre o mercado de trabalho,
capacitação e oferta de mão-de-obra para pessoas portadoras de deficiência.
Colocar à disposição do público, em todas as escolas, após a capacitação dos educadores,
recursos tecnológicos para pessoas com necessidades especiais.
Criar, dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia, um Centro Nacional de Ajudas Técnicas
- CNAT para Inclusão Digital. O CNAT será responsável pela promoção e o financiamento de pes-
quisa e desenvolvimento de programa, equipamento e dispositivos de ajudas técnicas necessárias
à inclusão digital de pessoas com necessidades especiais. Entre suas ações, o CNAT deverá:
criar, manter e disponibilizar à sociedade um banco de dados em ajudas técnicas;
apoiar e viabilizar a participação de representantes brasileiros em organismos internacio-
nais que tratam de normas técnicas para a construção de equipamento e elaboração de
programas acessíveis;
criar um “Selo de Acessibilidade”. Todo produto deverá ser submetido à aprovação para
sua utilização pública;
traduzir para o português e para Libras e disponibilizar na rede, inclusive em formatos
alternativos (Braille, áudio, tipos ampliados, formato txt etc.), as normas técnicas inter-
nacionais e documentos relevantes na área de acessibilidade digital;
garantir nos equipamentos das ações de inclusão digital a possibilidade de conexão de
periféricos especiais, bem como recursos de som, vídeo e imagem utilizados pelas ações
de inclusão digital.
Telecentros & Desenho Universal. Os grupos de trabalho que participaram da oficina para a
inclusão digital dividiram-se por várias áreas de interesse e o segmento da deficiência procurou
estar representado na maioria destes grupos, de forma a garantir a adoção do conceito de desenho
universal em todos os itens do documento final. Além do capítulo específico acima mencionado,
muitos outros pontos do documento mencionam esse conceito.
Este é o caso do capítulo que trata dos telecentros ou infocentros. Os telecentros são “lojas”
que oferecem acesso a computadores e outros equipamentos e destina-se prioritariamente a um
público que não tem contato com as tecnologias da informação no trabalho ou na escola. Dentro
desse capítulo, incluiu-se a seguinte recomendação:
“os telecentros devem atender aos princípios de desenho e Acesso Universal, ou seja,
garantir o acesso de toda a população às suas instalações, ambientes, equipamentos e
programas”. O conceito de desenho universal tem como p ressupostos;
equiparação nas possibilidades de uso;
Design é útil e comercializável às pessoas com habilidades diferenciadas.
flexibilidade no uso;
Design atende a uma ampla gama de indivíduos, preferências e habilidades.
uso simples e intuitivo;
Uso do design é facilmente compreendido, independentemente da experiência do usuário,
do nível de formação, conhecimento do idioma ou de sua capacidade de concentração.
46
Inclusão digital: o desafio da inclusão social por meio da inclusão digital
captação da informação;
Design comunica eficazmente ao usuário as informações necessárias, independentes das
condições ambientais ou da capacidade sensorial do usuário.
tolerância para o erro;
Design minimiza o risco e as conseqüências adversas de ações involuntárias ou imprevis-
tas.
mínimo esforço físico;
Design pode ser utilizado de forma eficiente e confortável, com um mínimo de esforço.
dimensão e espaço para uso e interação;
Design oferece espaços e dimensões apropriados para interação, alcance, manipulação e
uso, independente do tamanho, postura ou mobilidade do usuário.
no conceito de acessibilidade para todos, incluem-se como beneficiários as pessoas com
equipamentos lentos e antiquados ou muito modernos.
Estudo de caso
Agora vamos estudar um caso de inclusão digital desenvolvido no Brasil,
com o objetivo de promover a relação entre homens e tecnologia. A fundamenta-
ção teórica desse projeto baseia-se nas idéias de Jean Piaget e Humberto Matura-
na, entre outros autores voltados às questões da interação entre sujeitos e objetos
de aprendizagem.
O projeto Aprender Digital começou a ser executado em 2002, na cidade
de Curitiba, buscando oportunizar às pessoas vivências com o computador e as
novas ferramentas tecnológicas, e desenvolver habilidades e competências para a
vida e para o trabalho. Este projeto foi desenvolvido pela Universidade do Texas,
IBQP-PR, Secretaria de Educação de Curitiba, e teve a coordenação e designer
instrucional desse professor que escreve para vocês.
Aprender Digital
Inclusão Digital sob a Luz do Construtivismo
Introdução
Muitas iniciativas vêm proporcionando experiências inovadoras em nosso país.
Uma das experiências de inclusão digital como base de inclusão social com proces-
sos de educação presencial e EAD, é o projeto chamado Aprender Digital, realizado
em Curitiba, capital do Paraná, com alunos das escolas públicas municipais.
47
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
O programa tem como base as interações propostas por Piaget. Assim, con-
sidera as relações entre sujeito e objeto, desenvolvendo atividades que favoreçam
a construção do conhecimento tanto por parte do aluno quanto por parte do pro-
fessor, a partir do seguinte pressuposto:
O conhecimento não pode ser uma cópia, visto que é sempre um relacionamento entre
o objeto e o sujeito [...] o objeto só existe para o conhecimento nas suas relações com o
sujeito e, se o espírito avança sempre e cada vez mais à conquista das coisas, é porque
organiza a experiência de um modo cada vez mais ativo, em vez de imitar de fora uma
realidade toda feita: o objeto não é um ‘dado’, mas o resultado de uma construção. (PIA-
GET, 1975, p.31)
Desenvolvimento
Nossa análise do projeto Aprender Digital será dividida em duas partes: a
primeira, apresentará o projeto em si, seus dados e objetivos. A segunda, mostrará
uma análise desses dados sob a luz do Construtivismo protagonizado por Piaget,
incluindo exemplos de jogos e atividades que revelam a importância da presença
pedagógica no processo de ensino-aprendizagem.
O projeto Aprender Digital propõe uma integração entre diferentes linhas
de pensamento e realizações pedagógicas, uma aprendizagem que realmente
ofereça ao ser humano a possibilidade de crescimento, considerando que somos
pessoas diferentes em termos de conceitos, origens, crenças e valores. Partindo
da perspectiva de verdades múltiplas e da necessidade de respeito ao diferente,
pautaremos nossa análise.
48
Inclusão digital: o desafio da inclusão social por meio da inclusão digital
biente metafórico criado pelo método “uma empresa virtual, imaginária, onde as
pessoas são funcionários e não alunos”, faz com que o indivíduo rompa muitas
de suas barreiras emocionais, sedimentadas quando ele esteve na escola formal
(em média, os jovens e adultos beneficiados por este método não completaram o
Ensino Fundamental).
Para demonstrar alguns pontos comuns existentes entre as atividades do
projeto Aprender Digital e as principais idéias de Jean Piaget, apresentaremos
abaixo um quadro comparativo, relacionando as fases do desenvolvimento da in-
teligência da criança, descritas por Piaget, com as atividades previstas no projeto,
as quais permitem que os alunos construam e se apropriem do conhecimento,
respeitando o ritmo de aprendizado e desenvolvimento dos alunos frente às novas
tecnologias.
A descrição desse quadro foi elaborada a partir de depoimentos dos reali-
zadores do projeto. As idéias que nortearam essa comparação partem da seguin-
te premissa: os alunos que têm contato pela primeira vez com as ferramentas
tecnológicas, ingressam numa nova realidade estrutural e cultural. Dessa forma,
suas interações proporcionam gradualmente descobertas e construção de conhe-
cimentos, assim como ocorre quando uma criança atinge cada uma das fases do
desenvolvimento de sua inteligência, conforme conceituou Piaget.
Os jovens ou adultos que ingressam num curso de inclusão digital não dei-
xam de agir como uma criança em relação a suas descobertas e ações. Claro que
as etapas propostas pelo projeto efetivam-se mais rapidamente do que as fases
superadas ao longo do desenvolvimento da inteligência. O projeto prevê que os
alunos superem etapas a partir das atividades modulares, propostas durante três
meses. A analogia aqui descrita nos parece muito coerente quando observamos
esses jovens e adultos interagindo com o computador.
Características das Características das ações
fases de Piaget do projeto Aprender Digital
Inteligência sensória-motora. Atividades do 1.º módulo do projeto.
Interação por meio dos Exercícios nos livros com exmplos discriminados e de fácil
execícios propostos. entendimento.
51
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Domínio da comunicação. Atividades de grupo que usem e-mail e chat, valorizando as novas
ferramentas de comunicação descoabertas.
Formação das funções Jogos digitais que exploram a representação simbólica e auxiliam a
simbólicas. resolução de questões e a performace dos usuários.
Criação discussão dos pré- Atividades comportamentais, baseadas nos livros e em jogos de
conceitos. tomada de decisão.
Valorização da descoberta Nos jogos técnicos e ações dos livros, o aluno pode sempre aprender
por ensaio e erro. por meio do erro.
Considerações finais
Observamos que o projeto Aprender Digital conta com uma equipe multi-
disciplinar, que visa o desenvolvimento transversal do conhecimento por meio de
ações práticas, reflexivas e integradoras de diversos conteúdos. É um projeto de
52
Inclusão digital: o desafio da inclusão social por meio da inclusão digital
aprendizagem com base na inclusão digital e social que adota as idéias constru-
tivistas e interacionistas (no sentido mais amplo desta palavra), em suas ações.
Ilustramos esses conceitos com a seguinte citação de Piaget:
O ponto essencial de nossa teoria é o de que o conhecimento resulta de interações en-
tre sujeito e objeto que são mais ricas do que aquilo que os objetos podem fornecer por
eles mesmos. Teorias de aprendizagem [...] reduzem o conhecimento a ‘cópias funcionais’
imediatas que não enriquecem a realidade. O problema que é necessário resolver para
explicar o desenvolvimento cognitivo é o da invenção e não o da mera cópia. (PIAGET,
1977, p. 87)
Consideramos que o projeto Aprender Digital vai além dos projetos anterio-
res de inclusão digital e social propostos no Brasil, oferecendo para jovens e adul-
tos da rede municipal de ensino, a oportunidade de se apropriarem das tecnologias
digitais e terem uma experiência de EAD. Também possibilita o ingresso num
novo mundo digital e globalizado, melhorando a vida de pessoas de baixa renda.
A inclusão social e o desenvolvimento pessoal são grandes desafios num
país como o nosso, em que grande parte da população não possui as qualificações
necessárias para ingressar no novo contexto social e tecnológico. O projeto Apren-
der Digital é uma iniciativa que reforça a consciência cidadã, assim como a auto-
estima dos usuários, associando suas habilidades à utilização de tecnologias.
Lista de links
http://www.maxcriar.com – site do professor Max Günther Haetinger sobre
criatividade com jogos e vídeos.
http://www.habbo.com – chat virtual em shockwave, em que você conversa
no saguão de um hotel e pode ser um dos personagens.
http:// www.institutocriar.com – site do Instituto Criar (desenvolve pro-
jetos que relacionam educação e novas tecnologias, assim como capacitações e
cursos).
http://www.flashcan.com – tem uma forma inovadora de interação, disponi-
bilizando para o usuário um cenário e uma caixa com elementos que podem ser
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
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Inclusão digital: o desafio da inclusão social por meio da inclusão digital
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
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A inclusão de pessoas
com Síndrome de Down
na Educação: um caso
de sucesso
Maria de Fátima Minetto Caldeira
Embora ninguém possa voltar atrás e fazer
um novo começo, qualquer um pode
começar agora e fazer um novo fim.
Autor desconhecido
C
ontar a história de alguém é algo muito fascinante, principalmente quando os fatos que vamos
relatar revelam a superação de dificuldades. Gostaria de apresentar a vocês a Mariana, uma
adolescente alegre, hoje com dezesseis anos, cursando a sexta série do ensino fundamental.
Ela tem duas irmãs, a Flávia de 14 anos e a Júlia de 12.
Mariana nasceu dia 17/03/1988, em Curitiba. Seus pais, Nanci e Paulo, médicos pediatras, per-
ceberam logo nos primeiros momentos que sua primeira filha apresentava características da Síndrome
de Down. Procuram saber a opinião dos demais médicos responsáveis pelo acompanhamento do par-
to (ginecologista e pediatra) e como procedimento padrão pediram um cariótipo, exame que confirma
a síndrome.
Durante os dias que se seguiram, os pais e a família passaram por momentos difíceis, de
angústia, medo e ansiedade. Reações normais a qualquer um diante de uma situação inesperada.
Quando houve a confirmação do diagnóstico de Síndrome de Down, acometida no cromossomo 21,
os pais conversaram muito. A mãe relata que chegaram a conclusões como: — É nossa filha, não
podemos devolver...
— O que temos que fazer por ela para que seja feliz?
A partir daí, uniram forças para superar as dificuldades que se seguiram. Mariana, apesar de
nascer forte, com 3,100kg, Apgar normal, teve muitos problemas de saúde. Além de um problema
cardíaco significativo (uma das características mais freqüentes na síndrome), ela também apresentou
sérios problemas urinários, diarréia de repetição e vários quadros de pneumonia. Com 11 meses,
pesando apenas 4kg e muito debilitada, fez cirurgia cardíaca. Seu primeiro ano de vida foi bastante
delicado e exigiu dos pais muita dedicação.
Mesmo com essas complicações a mãe investiu muito na estimulação precoce. Fez atendimen-
tos de fonoaudiologia e fisioterapia desde os primeiros meses, sempre que suas condições de saúde
permitiam. Mariana apresentou bom desenvolvimento motor e da linguagem. Com um ano e dez
meses iniciou em uma escola de ensino regular particular. Lá permaneceu até o Jardim III. Duran-
te esses primeiros anos escolares sempre houve participação ativa da família acompanhando o seu
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
58
A inclusão de pessoas com Síndrome de Down na Educação: um caso de sucesso
sensibilizados por ver sua filha chegar em casa chorando. Conversaram com ela
para que aprendesse a lidar com essas situações. Também procuraram a escola,
que sugeriu que a retirassem antes do horário do término das aulas, para evitar
que ficasse exposta. Também se comprometeram a trabalhar com todos os alunos
essas situações. Mas os pais foram contra essa estratégia de retirar a filha antes,
pois o preconceito é algo para ser trabalhado e superado.
Ainda nesse mesmo ano, Mariana teve dificuldades com a professora e com
o conteúdo programático. A família acompanhou de perto procurando incentivar
e apoiar as decisões da escola, que fez adaptações curriculares significativas em
disciplinas como Português e Matemática. Solicitou um professor particular que
acompanhasse e reforçasse as atividades escolares. Uma psicopedagoga ia até a
escola trabalhar com a Mariana e auxiliar nas adaptações curriculares. Mariana
está nessa escola até hoje.
Nos anos que se seguiram apresentou bom desenvolvimento. Hoje, está bas-
tante integrada ao seu grupo e realiza as tarefas que lhe são determinadas pela
escola com a ajuda dos pais e da professora particular. Cursando a sexta série,
segunda etapa do Ensino Fundamental, apresenta adaptações mais significativas
em Português e Matemática. Produz pequenos textos com certa autonomia e é
autora de poesias. Nas demais disciplinas, as adaptações são menos significativas
mantendo-se a maioria dos conteúdos e alterando-se objetivos, atividades e ava-
liação. A língua estrangeira escolhida é o espanhol, pois não demonstrou grande
interesse pelo inglês. Para as tarefas de espanhol tem o apoio do pai que também
tem gosto pela língua. A situação de inclusão escolar exigiu muito empenho de
todos: da escola como um todo (professores, orientadores, diretores etc.), dos pais,
e da própria Mariana.
Mariana é uma adolescente como outra qualquer. Tem uma relação bastante
afetiva com suas irmãs, também adolescentes, regada, às vezes, por discussões
e disputas. Tem opinião própria e é bastante independente. Escolhe suas roupas,
seus penteados, faz sua higiene pessoal sem nenhum auxílio, inclusive no período
menstrual. Adora músicas, dançar, festas e TV... É calma, tranqüila e organizada,
às vezes tímida. A mãe relata que as tarefas são divididas igualmente em casa,
cada uma das filhas deve cuidar dos seus pertences, arrumar sua cama e suas
coisas, sem exceção. Algumas vezes é teimosa, comporta-se como uma típica
adolescente quando recebe um “não” dos pais: sai brava, bate a porta do quarto.
Logo se acalma. Passa por uma crise típica de adolescência; conflitos de identida-
de pessoal, sexual, preocupa-se com o que pensam dela, com sua aparência física,
em ser bonita...
Mariana pinta quadros com bastante sensibilidade. Além disso, hoje em
dia faz atividade física duas vezes na semana, tem aulas de alfabetização e aten-
dimento psicopedagógico. A pedido da escola, a mãe está procurando aulas no
método Kumon.
No ano passado, quando fez quinze anos, ganhou uma grande festa. Com
tudo que ela tinha direito. Muitos convidados, bolo vivo, com a participação dos
seus colegas de sala, DJ e um vestido que ela mesma escolheu. Seus pais fizeram
59
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
um discurso para falar das alegrias que ela havia lhes trazido. Mas, a Mariana não
ficou para trás, pegou o microfone e também falou a todos que estavam presentes.
Foi um momento muito especial.
Quando perguntamos para os pais quais as dificuldades encontradas hoje,
percebemos que suas preocupações estão relacionadas com a consciência que a
filha tem sobre si e suas dificuldades. Percebem que ela tem consciência de que
é diferente e que, às vezes, sofre por isso. Hoje têm enfrentado alguns proble-
mas na escola porque ela gosta de um ou outro menino, colega de sala, e espera
namorá-lo. Às vezes, isso tem perturbado suas atividades escolares, como a de
qualquer adolescente.
Quando perguntamos sobre o futuro, os pais disseram que pensam em al-
guma atividade profissionalizante. Ela manifesta o desejo de ter uma loja, a mãe
pensa que isso é algo possível.
Comentários
Ao relatar um caso de sucesso, nossa intenção não é mostrar perfeição, mas,
relatar que apesar das dificuldades podemos acreditar no potencial da pessoa com
alguma deficiência. A sua evolução pode não corresponder ao nosso desejo, mas
isso não significa que não poderá se desenvolver. Estar no ensino regular não deve
significar negar a deficiência e nem se paralisar diante dela. A inclusão exige mui-
to de todos. Quando dizemos que hoje Mariana está na sexta série não dizemos
que não temos problemas, mas que as pessoas envolvidas estão dispostas a pensar,
flexibilizar, reorganizar. Isso não é fácil. Os pais devem lidar com suas expectati-
vas. Os professores e a escola precisam de organização e persistência.
A inclusão escolar é precursora de uma melhor qualidade de vida para o
deficiente adulto, dando-lhe autonomia e cidadania. A convivência com as crian-
ças no ensino regular que a Mariana teve favoreceu seu desenvolvimento social e
cognitivo. No futuro, poderá ainda beneficiar sua vida profissional, independente
da atividade que seja capaz de realizar com autonomia.
Os problemas devem ser vencidos a cada dia. No caso da Mariana, primeiro
os pais tiveram que superar as dificuldades relacionadas ao impacto da notícia de
ter um filho com Síndrome de Down. Depois, os problemas de saúde e a iminência
de perdê-la. Na seqüência foram capazes de enfrentar as dificuldades da escola-
rização e da constatação da deficiência mental. Ainda as situações preconceitu-
osas... Hoje, têm que procurar entender sua filha adolescente, suas limitações,
valorizando suas conquistas.
É fundamental que os pais superem as suas angústias e aceitem seu filho
como ele é, respeitando suas dificuldades e seu tempo de desenvolvimento. Sai-
bam ponderar entre o ideal e o real. Os pais de Mariana são enfáticos ao colocar
que o desejo deles é que ela seja feliz. E hoje escutamos isso dela mesma. As ex-
pectativas dos pais não devem sufocar o filho. Os pais não podem sonhar por seus
filhos. O sonho dos pais pode não ser possível nem desejado pelos filhos.
60
A inclusão de pessoas com Síndrome de Down na Educação: um caso de sucesso
Conhecendo um pouco a
Síndrome de Down
A Síndrome de Down (SD) é a síndrome genética de maior incidência e
tem como principal conseqüência a deficiência mental. A incidência da SD em
nascidos vivos é de 1 para cada 600/800 nascimentos, tendo uma média de 8 000
novos casos por ano no Brasil. A grande incidência dessa patologia dentre as
demais fortalece a necessidade de um atendimento específico e bem estruturado
(SCHWARTZMAN, 1999).
Foi John Langdon Down, médico inglês, que descreveu, em 1866, pela pri-
meira vez, as características de uma criança com essa síndrome, também chama-
da de trissomia do 21. Esses nomes começaram a ser utilizados depois que Jerome
Lejèune, um médico francês, identificou um pequeno cromossomo extra nas célu-
las dessas pessoas.Todavia, esses termos são totalmente inadequados e carregam
uma série de preconceitos criados a partir de descrições incorretas realizadas no
passado e, por isso, devem ser evitados.
A seguir faremos um apanhado das principais conclusões de pesquisadores
e estudiosos da síndrome, como: Schwartzman (1999), Monteiro (1998), Mustac-
chi; Rozone et al. (1990), dentre outros.
Acidente genético
Os cromossomos são estruturas que se encontram no núcleo de cada célula
e que contêm as características hereditárias de cada pessoa. Em cada célula existe
um total de 46 cromossomos, dos quais 23 são de origem paterna e 23 de origem
materna. As pessoas com Síndrome de Down apresentam 47 cromossomos em
cada célula, ao invés de 46 como as demais. Esse cromossomo extra localiza-se
no par 21.
Geralmente, a identificação do indivíduo com essa síndrome é feita na oca-
sião do nascimento ou, logo após, pela presença da combinação de várias carac-
terísticas físicas:
os olhos apresentam-se com pálpebras estreitas e levemente oblíquas,
com prega de pele no canto interno (prega epicântica);
a íris freqüentemente apresenta pequenas manchas brancas (manchas de
Brushfield);
a cabeça geralmente é menor e a parte posterior levemente achatada. A
moleira pode ser maior e demorar mais para se fechar;
61
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
62
A inclusão de pessoas com Síndrome de Down na Educação: um caso de sucesso
Desenvolvimento da Criança
com Síndrome de Down
Consideramos importante salientar que cada criança é única e possui ca-
racterísticas próprias. A seqüência de desenvolvimento da criança com Síndrome
de Down geralmente é bastante semelhante à de crianças sem a síndrome e as
etapas e os grandes marcos são atingidos, embora em um ritmo mais lento. Essa
demora para adquirir determinadas habilidades pode prejudicar as expectativas
que a família e a sociedade têm da pessoa com Síndrome de Down. Durante muito
tempo essas pessoas foram privadas de experiências fundamentais para o seu de-
senvolvimento, porque não se acreditava que eram capazes. Todavia, atualmente
já é comprovado que crianças e jovens com Síndrome de Down podem alcançar
estágios muito mais avançados de raciocínio e de desenvolvimento.
Uma das principais características da Síndrome de Down, e que afeta dire-
tamente o desenvolvimento psicomotor, é a hipotonia muscular, presente desde
o nascimento.
Essa hipotonia afeta toda a musculatura e a parte ligamentar da criança.
Com o passar do tempo, a hipotonia tende a diminuir espontaneamente, mas per-
manecerá presente por toda a vida, em graus diferentes. O tônus é uma caracterís-
tica individual, por isso há uma variação entre as crianças com esta síndrome. A
criança que nasceu com Síndrome de Down vai controlar a cabeça, rolar, sentar,
arrastar, engatinhar, andar e correr, exceto se houver algum comprometimento
além da síndrome.
Acontece freqüentemente da criança ter alta da fisioterapia por ocasião
dos primeiros passos. Na verdade, quando ela começa a andar, ainda há neces-
sidade de um trabalho específico para o equilíbrio, a postura e a coordenação
de movimentos.
É essencial que, nessa fase, na qual há maior independência motora, a crian-
ça tenha espaço para correr e brincar e possa exercitar sua motricidade global. A
brincadeira deve estar presente em qualquer proposta de trabalho infantil, pois é
a partir dela que a criança explora e internaliza conceitos, sempre aliados inicial-
mente à movimentação do corpo.
63
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
64
A inclusão de pessoas com Síndrome de Down na Educação: um caso de sucesso
Proposta diferenciada
A proposta do ambulatório está alicerçada no atendimento humanizado e
na experiência de cada membro da equipe nessa patologia. Esses são os pilares
fundamentais que podem fazer toda a diferença.
A equipe atua de forma interdisciplinar, num mesmo espaço físico e ao
mesmo tempo. A clientela-alvo são crianças com SD, no entanto, muitas vezes
adultos com a mesma síndrome e seus familiares procuram o ambulatório em
busca de orientações. A sensibilidade, o respeito à dor, o apoio, o incentivo, a
informação atualizada e o acompanhamento longitudinal das crianças têm sido,
para essas famílias, um fio de esperança.
Ao chegar ao ambulatório busca-se as necessidades mais imediatas da crian-
ça, procurando observá-la como um todo, um ser bio-psico-social, agindo de for-
ma preventiva e curativa. Muitas vezes, um problema clínico ou nutricional pode
ter um conjunto multifacetado de causas; como uma dificuldades na relação mãe-
65
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
bebê etc. É nesse momento que a equipe mostra sua eficiência, pois na presença da
família, procura checar as possíveis causas e fazer as intervenções necessárias, o
que seria impossível para um profissional sozinho. Algumas vezes, os familiares
estão mais necessitados do atendimento do que a própria criança. A equipe, essen-
cialmente, procura que cada família não vá embora sem um redimensionamento
para suas dificuldades.
Inicialmente, o ambulatório realizava seu trabalho uma vez por semana.
Mas a resposta da comunidade foi inesperada. Em pouco tempo, o fluxo de pesso-
as interessadas nesse atendimento tomou proporções muito maiores do que o es-
perado. Começaram a vir famílias não só da nossa cidade, mas de todo o Estado.
Mais tarde de outros Estados e até já recebemos crianças de outros países. Hoje,
atendemos duas vezes por semana, com uma média de oitenta atendimentos por
mês e um total de mais de 1.500 crianças cadastradas e em acompanhamento.
Contudo, a experiência revelou a necessidade de promover mudanças num
âmbito maior. Pelo relato dos pais foi possível perceber muitas queixas quanto à
forma como são atendidos por profissionais das mais diversas áreas. Uma visão
limitada sobre a síndrome pode afetar de forma determinante a qualidade do aten-
dimento oferecido. Assim, redimensionar o olhar de pessoas e de profissionais,
que por insensibilidade ou por desinformação oferecem um atendimento inade-
quado, é uma meta a ser atingida.
Procurando conscientizar os futuros profissionais, a equipe do ambulatório
da SD realiza, em conjunto com a universidade, palestras informativas para cursos
variados. Também possui estagiários e residentes de todas as áreas compartilhan-
do de sua realidade, mostrando que somente a união, o respeito, a sensibilidade e
a informação atualizada são capazes de dar qualidade ao serviço oferecido.
O serviço de Psicologia desse ambulatório tem como objetivos principais
oferecer atendimento em forma de terapia de apoio. O tempo de duração de cada
atendimento é variado, não há regra pre-estabelecida. Procura-se atender todos
que nos visitam mesmo que não estejam necessitando de atendimento no momen-
to, pois estabelecer um vínculo com as mães tem facilitado a busca das mesmas
pelo atendimento quando estão enfrentando alguma dificuldade.
Dentro dessa perspectiva, analisa-se cuidadosamente o momento que a fa-
mília se encontra, valorizando as conquistas já alcançadas. Busca-se ouvir com
respeito e solidariedade as angústias ou sofrimentos dando uma redefinição para
cada situação, levando sempre em consideração o que a família quer e precisa ou-
vir. As necessidades da clientela são sempre muito variadas, uma vez que atende-
se desde os recém-natos até adultos.
Dentro da rotina dos atendimentos faz-se tanto o acompanhamento das fa-
mílias que estão recebendo o resultado do cariótipos (exames que confirmam a
66
A inclusão de pessoas com Síndrome de Down na Educação: um caso de sucesso
síndrome), como aquelas que ainda não têm a confirmação do diagnóstico. Ambas
as situações são muito angustiantes e requerem um apoio efetivo que atenda a esse
momento difícil.
Ainda realizam-se avaliações, orientações, acompanhamentos da vida es-
colar da criança, além do incentivo e apoio à inclusão no ensino regular dentro de
uma perspectiva realista e ponderada, considerando cada caso individualmente.
Respaldando-se nos estudos de muitos autores como os de Mantoan (1991) que
acredita que as trocas deficitárias entre o sujeito e o meio, desde os primeiros
tempos de vida, retardam ou impossibilitam o acesso de deficientes a formas de
pensamento mais complexas.
Junto com o Serviço Social, são feitas visitas a crianças internadas, mães
em presídios, casa de crianças que apanham, creches que não aceitam as crianças
por causa da síndrome, escolas de ensino regular e especial que estão com difi-
culdades... O trabalho ultrapassa as barreiras... Como vemos, é muito dinâmico e
exigente!
Dentro dessa vivência pode-se perceber quão influentes são as relações fa-
miliares no desenvolvimento da criança com SD Sabemos que a criança nasce
com um equipamento inato, mas esse só é ativado por meio de uma relação recí-
proca mãe-bebê (SPITZ, 1979). Todo o seu potencial psíquico (auto-imagem, au-
toconfiança, capacidade de enfrentar as dificuldades) desenvolve-se impulsionado
pelo “motor afetivo”.
Por isso, acreditamos que o apoio psicológico aos pais desde os primei-
ros dias de vida da criança torna-se determinante. As considerações de Mathelin
(1997) respaldam-nos dizendo que se o olhar da mãe, por algum motivo, se desvia
do bebê, e esse, muito frágil, ainda não retribui esse olhar para a mãe, o inves-
timento de amor entre eles pode tornar-se problemático. Considerando todas as
dificuldades que envolvem o nascimento de um filho com deficiência, podemos
afirmar que a grande maioria dos pais reage de forma muito positiva! Passando a
lutar pelo seu filho e amá-lo por todas as suas qualidades.
A partir desse momento, o serviço de Psicologia procura orientar a família,
tendo como base as considerações do pediatra e psicanalista inglês Winnicott
(1996) que nos diz que o bem-estar do indivíduo advém de um ambiente facilita-
dor, que lhe ofereça oportunidades de se lançar no mundo de forma criativa para
poder desfrutar do que o mundo lhe oferece. Entendemos que durante o percurso
de desenvolvimento dos filhos, os pais devem ser orientados a procurar oportu-
nizar a independência da criança, acreditando que eles podem, mesmo que em
passos menores, alcançar seus objetivos.
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
68
A inclusão de pessoas
com necessidades especiais
no mercado de trabalho
Patrícia Braun
Introdução
P
rezados educadores. O tema sobre o qual refletiremos nesse encontro trata de um assunto que há
pouco, podemos assim dizer, começou a vigorar nas discussões acadêmicas e sociais. Porém, não
por se tratar de um aspecto que antes não permeava espaço algum, mas porque só recentemente
vislumbrou-se que a possibilidade de inserção no mercado de trabalho, de pessoas com necessidades
especiais, vai além da obrigatoriedade prevista em lei, também recente, em nosso país.
A inclusão social de pessoas com necessidades especiais no mercado de trabalho, atualmente,
é um dos temas mais pertinentes no que se refere à educação inclusiva e seus organismos: pesquisas,
documentos federais, estabelecimentos de ensino especiais e regulares, mercado de trabalho.
Em linhas gerais, o mercado de trabalho tem passado por transformações decorrentes de con-
textualizações sociais e valores vigentes nas sociedades organizadas, de acordo com seu tempo e
cultura. O trabalho, como atividade de produção, passa a cada período de tempo, anos ou décadas, por
modificações advindas das variações sobre conceitos sociais e econômicos. Tentando ilustrar essas
transformações, temos o marco da Revolução Industrial e, na atualidade, o avanço tecnológico que,
assim como o marco anterior, sugere a readaptação da mão-de-obra do trabalhador, face às tarefas
prescritas.
Segundo o professor-pesquisador Celso Goyos (1995), o respaldo para a profissionalização de
pessoas com necessidades especiais deu-se a partir da preocupação com a recuperação de soldados
veteranos da Primeira Grande Guerra e de funcionários das fábricas, operadores de equipamentos,
que tivessem sofrido algum tipo de acidente ocasionando amputação de membros. Porém, essa foi
uma preocupação limitada aos países industrializados e participantes da Guerra Mundial. Mais tarde,
com a reincidência de uma Segunda Grande Guerra, a preocupação com a recuperação de pessoas
com necessidades especiais (físicas, principalmente) que tinha o cunho de treinamento vocacional,
passou a abranger, também, as pessoas que apresentavam algum tipo de deficiência mental. Tais ser-
viços ofereciam avaliação, treinamento vocacional, colocação em empregos, aconselhamento voca-
cional e acompanhamento, e se tornaram a raiz das denominadas oficinas abrigadas.
Outra referência no campo da origem da profissionalização da pessoa com necessidades espe-
ciais foi a influência da professora russa Helena Antipoff. O movimento, idealizado por ela visando à
profissionalização, surge em nosso país a partir das décadas de 60 e 70, tendo, nessa última, impresso
ações mais prioritárias e definidas dentro da educação especial.
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
71
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
previstas que efetivam a inserção, de fato, nesse espaço social. Em nosso país, há
um considerável número de legislações, mas a ausência de ações eficazes que, de
fato, possibilitem a qualificação, reabilitação e inserção no mercado de trabalho,
ainda deixam a desejar.
Em muitas situações, o que parece uma proteção legitimada por lei, acaba
por ter sua finalidade desperdiçada, tendo um fim contrário, pois em vez de am-
parar a pessoa com necessidade especial, a base legal transforma-se em motivo de
discriminação, deixando-os à mercê das idéias de tempos atrás, quando a cidada-
nia ainda era um atributo a ser adquirido.
Algumas pesquisas revelam que quando os empregadores ganham experi-
ência na vivência de empregar pessoas com necessidades especiais, eles acabam
valorizando o desempenho delas. Ao mesmo tempo, as pessoas com necessidades
especiais que melhor se beneficiarão desse sistema serão aquelas que apresenta-
rem indícios de que sua produtividade compensa os custos iniciais de adaptação,
quando estes existem.
Por isso, é importante termos prudência e segurança no momento da inser-
ção. Não há vantagem alguma quando o processo é obrigatório, forçado. A frus-
tração de ambos os lados acaba sendo o argumento para futuras negações de con-
tratação. Portanto, é fundamental que sejam estudadas, analisadas as situações, a
qualificação necessária ao empregado e ao empregador, bem como as condições
físicas e organizacionais (competências e habilidades necessárias para a função)
em que serão desenvolvidas as atividades.
72
A inclusão de pessoas com necessidades especiais no mercado de trabalho
73
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Caso 1
As habilidades sociais de pessoas portadoras de deficiência mental
inseridas no mercado de trabalho competitivo: um estudo exploratório
Segundo as autoras da pesquisa, há a necessidade de pesquisas e interven-
ções sobre as interações sociais e profissionalização para a efetivação da inserção
da pessoa com necessidades especiais no mercado de trabalho formal. Trata-se de
um estudo preliminar para uma tese de doutorado, realizado com três indivíduos
sem necessidades especiais que foram entrevistados por trabalharem em locais
que empregam pessoas com necessidades especiais. A pesquisa foi realizada na
cidade de Sertãozinho, localizada a 20km da cidade de Ribeirão Preto. Nos resul-
tados obtidos, nesse estudo preliminar, as pesquisadoras constataram que:
em relação aos dados pessoais dos trabalhadores portadores de deficiên-
cia mental, todos eram do sexo masculino, ocupavam cargos de auxiliar
de serviços, e apresentavam tempo de serviço que variava de três a quin-
ze anos;
74
A inclusão de pessoas com necessidades especiais no mercado de trabalho
Caso 2
Empresa e profissionalização de portadores de deficiência:
um trabalho de consultoria.
Esse estudo teve como objetivo identificar os possíveis cargos e funções dis-
poníveis para colocação de pessoas portadoras de deficiência, e as necessidades de
adaptações estruturais e físicas no ambiente de trabalho. O trabalho foi desenvol-
vido junto a uma empresa do setor sucroalcooleiro (agroindústria e destilaria), lo-
calizada na região urbana da cidade de Ribeirão Preto e com, aproximadamente,
3 500 funcionários. Em seus resultados constata-se que dos 29 cargos oferecidos,
12 eram para deficientes auditivos, 9 para deficientes mentais leves a moderados
e 8 para pessoas com deficiência física. Diante da realização do estudo, as autoras
fizeram algumas considerações:
Acessibilidade: observando toda a estrutura das empresas visitadas cons-
tatamos a necessidade de adaptações arquitetônicas, como um dos pré-
requisitos à contratação de pessoas portadoras de deficiências, bem como
75
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Caso 3
Emprego com apoio: alternativa viável para a profissionalização
de pessoas com deficiência no mercado de trabalho
Para esse estudo foram selecionados 4 jovens, sendo 3 rapazes e 1 moça,
com idades variando entre 17 e 26 anos, todos matriculados em uma escola es-
pecial. A pesquisa foi realizada em quatro locais comerciais de trabalho, onde
os jovens exerciam suas funções. O objetivo do estudo era descrever e avaliar
os efeitos de um programa de capacitação profissional em ambientes naturais de
trabalho, para pessoas com diagnóstico de deficiência mental, tendo como base a
modalidade emprego com apoio. Nos resultados do estudo, as autoras constata-
ram que o programa foi eficaz, uma vez que a moça, como a pesquisa demonstrou,
foi capaz de apresentar, segundo as tabelas de avaliação, um rendimento máximo
em 7 de 9 tarefas desempenhadas. Em suas conclusões afirmam:
Com a pesquisa, pode-se verificar que os participantes desempenham as atividades com
êxito, mostrando que algumas dessas pessoas ainda necessitam de apoio na locomoção
para os seus devidos empregos. Finalmente, contrapondo a idéia de que a organização de
nossa cidade ainda se baseia no conceito de que o indivíduo é avaliado de acordo com sua
capacidade de produzir, o emprego com apoio procura mostrar que a capacitação do tra-
76
A inclusão de pessoas com necessidades especiais no mercado de trabalho
balhador com deficiência mental no ambiente natural de trabalho possibilita sua inserção
na sociedade produtiva, mostrando, assim, que a ação do homem pode ser modificada em
prol das pessoas que apresentam necessidades especiais, como afirma Manzini (1999).
(Ragazzi; Almeida, 2004)
Finalizando
Percebe-se que é imprescindível que, primeiro, os espaços para a forma-
ção profissional da pessoa com necessidades especiais seja real, em locus onde
realmente irá desenvolver sua carreira profissional; para tanto, é necessário um
empenho das escolas especiais na reformulação das propostas que ainda não te-
nham sido modificadas para esse contexto. Segundo, que sejam viabilizadas estra-
tégias de inserção no mercado de trabalho, baseadas em respaldos práticos como
mostram as pesquisas, com a finalidade de prover os recursos técnicos, sociais e
humanos para a efetivação da proposta. Terceiro, que os espaços oferecidos se-
jam contextos que possibilitem a autonomia e a cidadania do indivíduo, para que
aqueles que ocupam esse espaço de trabalho se formem eticamente a partir da
possibilidade de posicionamento, de ter opinião própria, de exercer seus direitos e
cumprir seus deveres. Quarto, que as leis sirvam como respaldo e não como fonte
de obrigatoriedade e discriminação, e, por último, mas não menos importante,
que o mercado de trabalho, as empresas, procurem respaldar suas dúvidas para
poder apostar em uma nova força de trabalho, contribuindo para um meio social
mais humano e igualitário.
77
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
78
Os meninos de
Quatro Pinheiros:
construindo o futuro
Ana Paula Johann
N
esta aula, vamos conversar sobre crianças, adolescentes e a Inclusão – um tema que vem des-
pertando cada vez mais a discussão de especialistas, educadores e sociedade. A pertinência
se deve ao fato de que a criança de hoje é o adulto do amanhã. Você vai conhecer um pouco
da vida de meninos que viveram na rua e conseguiram superar os problemas com a ajuda de um pro-
jeto inédito no Brasil e que está servindo de exemplo também no exterior.
O poeta Fernando Pessoa disse uma vez que “A literatura é uma prova de que a vida por si só
não se basta”. Por isso, para iniciarmos a trajetória por este assunto tão instigante, vamos ler um tre-
cho do conto Pequeno Pedinte, do escritor Graciliano Ramos. A história é de uma criança de oito anos
sem pai nem mãe, e que vivia transitando pelas ruas pedindo esmola. Esta criança, muitas vezes, ficou
sem dormir, exposta ao frio e à chuva.
Quantas vergonhas não passara quando ao estender a pequenina mão, só recebia a indiferença e o motejo! [...]
É domingo. O pequeno está à porta da igreja, pedindo, com o coração amargurado, que lhe dêem uma esmola
pelo amor de Deus. Diversos indivíduos demoram-se para depositar uma pequena moeda na mão que se lhes está
estendida. Terminada a missa, volta quase alegre, porque sabe que naquele dia não passará fome. Depois vêem os
dias, os meses, os anos, cresce e passa a vida, enfim, sem tragar outro pão a não ser o negro pão amassado com o
fel da caridade fingida. (RAMOS, 2005)
Nascimento do projeto
Crianças como essa do conto do Graciliano Ramos são comuns nas ruas das grandes cidades.
As causas são diversas: brigas com a família, alcoolismo, drogas, abandono. Elas vão para as ruas,
porque apesar de a rua se apresentar como um lugar perigoso é ainda o lugar em que se sentem livres.
Uma liberdade, é claro, ilusória que aos poucos vai pesando na vida de cada criança que deixou o
lugar que morava. Mas todas concordam que naquele momento não havia opção.
Na rua elas aprendem a se drogar para não passar fome e, principalmente, ter coragem para
roubar. Dormem em qualquer canto, comem sobras de comidas deixadas pelos outros e vagueiam pela
cidade em busca do quê? Talvez nem elas saibam, pois ainda são tão pequenas e a visão que têm do
mundo é apenas a realidade crua que as cerca.
E depois, os tipos de drogas vão aumentando, deixam de cheirar cola, esmalte, para usar cocaí-
na e craque. Os assaltos começam a ser armados e a violência, humilhação e preconceito que sentem
diariamente vão refletindo em seus atos.
Que futuro é possível vislumbrar para uma criança de rua nesse estágio? Muitos de nós, com
certeza, imaginamos que isso é uma Universidade de bandidos, que os problemas e as revoltas só
tendem a aumentar.
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Em alguns casos essa é a triste verdade. Mas não podemos esquecer que
estas crianças e adolescentes que vemos todos os dias nos semáforos, praças e lu-
gares da cidade pedindo e roubando são iguais a qualquer outras, com a diferença
de que estão vivendo de forma desumana. Elas têm sonhos, desejos e pensam em
formar uma família e fazer diferente do que os seus pais fizeram.
Vez ou outra essas crianças são resgatadas e vão para projetos assistenciais,
mas para quem vive na rua igual a um pássaro, apesar de saber que há predadores,
geralmente não se adapta ao encontrar estruturas rígidas, de paredes de concreto e
pouco carinho. Era preciso criar um modelo de projeto mais ajustável à realidade
desses meninos.
Tudo começou quando Fernando Francisco de Gois, de família sergipana,
nascido em Santo Anastácio, em São Paulo, e criado em Paranavaí, no norte do
Paraná, mudou-se em 1981, como seminarista carmelita, para a Vila Lindóia,
em Curitiba.
Nesta época, estavam acampadas na região várias famílias retirantes do
campo que montaram suas casas em terrenos da prefeitura. Alguns conflitos eram
comuns, principalmente porque não possuíam saneamento básico e luz elétrica,
além dos conflitos intra-familiares. Aos poucos, os seminaristas começaram a
visitar a comunidade e, tomando conhecimento desses problemas, trabalharam
em torno de uma organização. Fernando, junto com outros dois seminaristas, vão
morar na comunidade, que passa então a se chamar Comunidade Profeta Elias.
O que acontece é que enquanto os jovens e pais buscam trabalho para dar
sustento às famílias, as crianças ficam sem atividades, além da escola formal,
passando a maior parte do dia sozinhas. Em função disso, surgem conflitos e
grupos rivais. Fernando e Osni, outro seminarista Carmelita, percebendo a falta
de atividades formadoras, desenvolvem um trabalho voltado para o apoio e desen-
volvimento escolar, além da estimulação das manifestações culturais.
Nesse trabalho com os meninos, pautado pela filosofia de Paulo Freire, Gois
percebe que pode ir além. Apresentações de teatro ultrapassam os limites da co-
munidade, chegando às comunidades eclesiais de base e outras organizações. O
grupo da comunidade Profeta Elias é procurado pelo Movimento Nacional de
Meninos e Meninas de Rua do Brasil e por entidades internacionais. Discussões
sobre a problemática do menor são iniciadas.
Fernando, por algum tempo, mora na rua para entender mais a fundo os
problemas dos menores. A Fundação nasceu a partir deste trabalho preventivo.
Com o passar dos anos e com o envolvimento de muitos voluntários, o trabalho se
estendeu para as ruas de Curitiba, abordando meninos e meninas. O trabalho de
abordagem de rua se originou por meio da parceria de vários grupos e entidades
como o Grupo de Meninos da Comunidade Profeta Elias, Movimento Nacional de
Meninos e Meninas de Rua, Fundação Fé e Alegria e Pastoral do Menor.
Nas abordagens eram realizadas diversas atividades como capoeira, músi-
cas, teatros, passeatas, missas, entre outras, sempre com o objetivo de organizar
os meninos e meninas de rua dentro do seu próprio espaço e buscar seus direitos
de cidadania.
80
Os meninos de Quatro Pinheiros: construindo o futuro
Surgiu, então, dos próprios meninos de rua a cobrança por um trabalho mais
concreto e, por meio de pesquisa desenvolvida pelos educadores nas ruas de Curi-
tiba, surgiu a proposta da aquisição de uma chácara, devido a três fatores:
Resgate das raízes familiares – A maioria dos meninos é oriundo de fa-
mílias vindas da zona rural e sente falta do contato com a terra.
Convivência com a natureza e com os animais – Os meninos afirmavam
que se sentiam mais seguros entre as árvores e os animais, porque esses,
ao contrário da sociedade, não lhes machucavam.
Distância das drogas – Os meninos queriam ficar longe das drogas para
ter mais chances de superar o vício.
Nessa pesquisa, no ano de 1991, constatou-se que havia 518 crianças e ado-
lescentes nas ruas, sendo que 323 moravam nas ruas.
A partir do resultado desse estudo, os educadores se empenharam em reali-
zar o Projeto, buscaram parcerias e no ano de 1991, por meio de doação da Con-
gregação das Irmãs da Divina Providência e da sra. Rosi Pinheiro, foi comprada
uma chácara de seis alqueires.
Proposta
Há dez anos surgia a Fundação Educacional Meninos de Rua Profeta Elias,
em Quatro Pinheiros, na região de Mandirituba, Paraná. A Fundação é uma ONG,
sem fins lucrativos, inédita no Brasil e hoje referência no país e no exterior, fa-
zendo parte do banco de dados da UNESCO, por meio de um relatório que revela
trabalhos inovadores com jovens em situação de exclusão social e pobreza.
O projeto trabalha com 45 meninos, de 07 a 18 anos, ex-meninos de rua de
Curitiba e Região Metropolitana. A estrutura está distribuída hoje em dez alquei-
res, com quatro casas, sendo três para os meninos e uma para os voluntários. Além
de um barracão que abriga salas de cursos e alojamentos para novos meninos.
A proposta pedagógica é pautada em um período de adaptação, para que
seja da vontade do educando participar de todo o processo, seguida por várias ati-
vidades que visam o resgate da sua auto-estima, encaminhamento para o ensino
formal, formação profissional e atividades pedagógicas de formação. Tendo em
vista todas estas questões pesquisadas anteriormente ao projeto e de acordo com
um dos assessores, Olympio de Sá Sotto Maior Neto:
Na opção do modelo de moradia para os meninos na Chácara buscou-se a conformação de
uma estrutura leve, entendendo-se esse termo como a concepção que supere o modelo em
que as relações de família se instituam com regras autoritárias. Buscava-se a construção
de um modelo com a participação dos meninos, com a possibilidade de rediscussão das
regras e normais instituídas coletivamente, respeitando aspectos específicos da vida coti-
diana dos meninos na Chácara. Portanto, seria necessário superar também o modelo con-
vencional de casas-lares, onde se procura integrar os pais sociais e seus filhos biológicos
com os filhos sociais. No momento em que se discutiu a construção da proposta, levou-se
em conta o grande impacto negativo do modelo de casas-lares com pais sociais na história
de vida dos meninos [...] Buscou-se, portanto, outra visão de casa-lar, outra concepção em
81
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
que as relações de família se dão pela forma de amizade, solidariedade e, não, pela con-
seqüência da relação biológica. Isso implica em confronto de idéias, quando necessário,
porém, preservando-se a convivência democrática. A idéia nunca foi substituir a família,
pois a família para os meninos é insubstituível; e nem impor um pai adotivo, mas sim
viver como uma grande família, onde os meninos têm liberdade de ver o educador como
um pai, um amigo, um irmão. (1999, p. 35 e 36)
82
Os meninos de Quatro Pinheiros: construindo o futuro
Pedagógicas
Os educadores promovem atividades lúdicas, educativas e esportivas com
os meninos, visando a um melhor rendimento escolar, formação para a construção
83
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Chácara
Além dessas atividades pedagógicas, há algumas atividades cotidianas na
chácara, com o objetivo de uma “educação pelo trabalho”, em harmonia com a
natureza e respeito pela vida. Entre as atividades está o cuidado com a granja,
que tem capacidade de criação de nove mil frangos por um período de 45 dias,
cultivo de grãos, além do cuidado com os outros animais, pomar, jardim, horta,
apiário, aviário e também construção de alguma obra necessária para a melhoria
da chácara. Em algumas atividades, só trabalham os educadores e maiores de 18
anos conforme a portaria SIT/TEM n.º 6.
Lazer
Dentro da proposta da Fundação, o lazer é parte fundamental no combate às
drogas, ocupando os meninos fisicamente e mentalmente, com diversas atividades
esportivas, lúdicas e culturais. Entre as atividades de lazer, as atividades lúdicas
são peças fundamentais no desenvolvimento da proposta pedagógica da chácara e
acontecem de forma programada ou espontânea, que o próprio grupo cria e recria.
São realizados, também, passeios pela comunidade com o intuito de lazer e apro-
ximação. Há atividades de esporte e comemoração de aniversários.
Comunidade
Para que esses meninos estejam inseridos na comunidade, os membros da
chácara nunca deixaram de participar das atividades da vida religiosa, social e
política da comunidade, assim como convidam as pessoas da comunidade para
participar de atividades do Projeto. Inclusive muitas delas são voluntárias.
Formação
Os educadores e voluntários têm a preocupação de realizar atividades de
lazer e formação separadamente para que tenham uma melhor visualização de sua
prática no dia-a-dia da chácara, podendo assim se avaliar, capacitar e programar
as atividades. Grande parte das atividades são destinadas à formação de consci-
ência, para que tenham noção da realidade a qual estão inseridos e o que preci-
sam fazer para transformá-la, e também com acompanhamento psicológico, para
melhorar o aprendizado e a convivência em grupo dos meninos. No processo de
formação, a Fundação conta com o apoio de parceiros como a Universidade Fe-
deral do Paraná (UFPR) e a Universidade Católica do Paraná (PUC). Mais uma
maneira encontrada de aproximar a Universidade da comunidade. A formação
84
Os meninos de Quatro Pinheiros: construindo o futuro
Na rua
“Na rua, começaram a morrer muitos amigos meus, com policiais e ma-
tadores de aluguel também. A gente não podia mais dormir em paz, tinha
muitos sonhos com morte, com os policiais batendo, atirando na gente. Não
dava para dormir bem, a gente ficava pensando: que tal que eles pegassem a
85
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
gente nos mocós? Eles acordavam a gente na base da porrada, depois levavam
no camburão pra delegacia.”
“Minha vó bebia, meu pai bebia também, eu ficava sozinho em casa. Aí
eu comecei ir pra rua, comecei a ficar um dia, dois dias na rua. Fiquei uma
semana e tive medo de voltar pra casa, medo de apanhar do meu pai. Aí fiquei
na rua, me juntei com os piás na rua e comecei a cheirar cola, e comecei a
conhecer muitos meninos de rua.”
“Na rua, os piás me batiam e me roubavam, me chamavam pra roubar. Se
eu não fosse, me obrigavam a pedir as coisas pra eles. Só roubei uma vez, por-
que se os policiais pegassem, pensavam que a gente era de maior e atiravam.”
Convivência
“Gosto das pessoas que nos ajudam, Tia Lu e as pessoas que trazem comida
para nós. As pessoas que trazem roupas e carne para nós. Gosto daquele homem
que vai nos levar para a praia, tomara que dê certo, para a gente ir para praia e
para o Rio de Janeiro.”
“Na convivência, existem alguns palavrões, mas são normais, nós resolvemos
entre nós mesmos. Mas nós também não fazemos só coisas ruins, como fazemos
coisas boas. Nós colaboramos nas brincadeiras, nas atividades, nas gincanas etc.”
“Somos em 20 meninos nas casas, temos 3 casas, duas para meninos e uma
para visitas que vem dormir aqui. Não mora nem uma menina aqui, mas quem
sabe no futuro.”
86
Os meninos de Quatro Pinheiros: construindo o futuro
lugar’. O que quero dizer, e que as histórias nos mostram, que é preciso direcionar nossas
atenções para o que é essencial, para a felicidade de todos nós, ou seja, nós mesmos, todos
nós [...] O trabalho desenvolvido na Fundação Educacional Meninos e Meninas de Rua
Profeta Elias demonstra a crença no ser humano. (1999, p. 11)
Relatos
Júlio Cezar de Oliveira
“Primeiramente, meu nome é Júlio Cezar Oliveira. Minha história foi
como a de muitas crianças de hoje em dia. Família pobre, pai alcoólatra, entre
outros problemas. Então vou contar um pouco da história da minha vida. Mi-
nha infância poderia ser igual a de muitas crianças, que brincam, estudam e
recebem carinho e amor da família, porém não tive nada disso.
Comecei a trabalhar muito cedo. Com cinco anos de idade eu já estava
nas ruas vendendo doces para ajudar a minha família. Meu pai bebia muito e
quando chegava em casa batia em todo mundo. Na época eu tinha dois irmãos
mais velhos que de tanto apanharem de fio de luz e varas de marmelo, acaba-
ram fugindo de casa e indo morar nas ruas.
Eu nunca recebi um presente do meu pai, aliás ganhei sim uma caixa para
vender doces, trabalhando todos os dias. Às vezes eu estava no centro ven-
dendo doces e acabava gastando um pouco do dinheiro em jogos eletrônicos e
quando eu chegava em casa e meu pai percebia que estava faltando dinheiro,
ele já pegava o fio de luz e me batia. Depois ele mandava eu tomar banho no
tanque e ir dormir.
Certo dia eu estava vendendo doces no centro e já era tarde da noite. Eu
estava no centro já fazia dois dias porque eu tinha gastado o dinheiro de venda
e eu estava tentando recuperar o dinheiro pedindo, quando um menino que me
conhecia por causa dos meus irmãos que moram na rua, me deu uma notícia.
Ele me disse que um dos meus irmãos que era conhecido na rua por “Kiki”
tinha levado um tiro no Parolin e havia morrido. Eu fiquei meio sem saber o
que fazer, mas fui embora para avisar minha mãe do que tinha acontecido.
Quando eu estava chegando em casa, eu vi que tinha alguns carros em frente
de casa e muitas pessoas. Eu sem saber o que estava acontecendo entrei em
casa e quando olhei no centro da sala, vi meu irmão que tinha apenas 11 anos,
morto em um caixão.
Ele havia levado um tiro de outro adolescente e acabou não agüentando e
morrendo. Na verdade quando o menino me deu a notícia já fazia um dia que
ele havia morrido. Eu tinha sete anos quando isso aconteceu.
Depois de alguns dias, minha rotina voltou ao normal, eu já estava no
centro vendendo doces. Certo dia eu e meu primo fomos para o centro jun-
tos com o objetivo de ficar morando nas ruas. Na rua nós não conhecíamos
nenhum tipo de drogas e não tínhamos nenhum tipo de amigo, mas isso não
durou muito tempo e em poucos dias nós já estávamos usando drogas e rou-
bando. No começo só drogas mais leves como esmalte e cola. Depois de um
87
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
certo tempo, isso não era mais o suficiente e passamos a usar outros tipos.
Na rua, a nossa rotina era roubar para comprar drogas e comida. Na rua
havia várias coisas boas e ruins. As boas eram que eu tinha liberdade e podia
conseguir as coisas que eu não tive quando morava com a minha família. Mas
por outro lado, a rua também tinha seus perigos e eu tinha que conviver com
as duas coisas, a liberdade e o medo da violência os meninos maiores e, prin-
cipalmente, pela polícia que usava de muita violência.
Na rua, eu não tinha horário para dormir, nem para acordar. Às vezes,
eu não conseguia dormir de frio ou de fome. Às vezes, passava a noite inteira
acordado, por medo de dormir e não acordar mais.
Foram três anos perambulando pelas ruas de Curitiba, comendo restos de
comida encontradas no lixo, correndo de policiais. Um dia, eu estava no centro
com outros amigos e chegou uma mulher, conhecida por tia ‘Lú’. Ela começou
a conversar com nós e nos contou sobre uma chácara onde moravam crianças
de rua. Ela nos convidou para conhecer o lugar e nós aceitamos.
Passamos um final de semana e, no final, nós queríamos ficar, mas não
havia vagas no momento porque eles estavam construindo uma outra casa que
seria para nós ficarmos.
Voltamos para a rua de novo e depois de algum tempo voltamos para a
chácara. Ajudamos a terminar a construção da casa nova e passamos a morar
nela.
Quando eu vim para a Chácara para morar, eu estava com 11 anos, e foi a
partir daí que a minha vida começou a mudar. Eu comecei a estudar e voltei a
ter contato com a minha família também, por que quando eu cheguei na chá-
cara eu não sabia ler, nem escrever o meu próprio nome.
Comecei a estudar em uma escola que tinha aqui mesmo na comunidade,
entrei na primeira série e no começo foi um pouco difícil porque eu era um dos
maiores da sala e eu ficava com vergonha, mas depois acabei me acostumando
e terminei as séries iniciais com 15 anos.
Depois, por causa da minha idade, fiz supletivo de 5.ª a 8.ª série e en-
tão entrei no Colégio para terminar as três últimas séries do segundo grau.
Quando terminei o segundo grau, o Fernando meu orientou para eu prestar
vestibular.
No começo eu não sabia exatamente o que fazer e acabei fazendo ves-
tibular para o curso de Letras. Fiz vestibular em quatro instituições e passei
em três. Cursei por um ano Letras na PUC. Quando eu estava estudando Le-
tras, eu consegui um estágio na Fazenda Experimental da PUC. Fiz o estágio
na área administrativa por dez meses. Este estágio foi muito importante para
mim porque eu acabei vendo que Letras não era realmente o que eu queria
fazer e o estágio me ajudou para a escolha do novo curso. Prestei vestibular
novamente na mesma instituição e passei para o curso de Administração, o
qual estou cursando hoje.
Todas essas coisas que acabaram acontecendo na minha vida, eu devo às
pessoas que apostaram em mim e me ajudaram a chegar onde cheguei. Hoje
88
Os meninos de Quatro Pinheiros: construindo o futuro
estou com 20 anos, trabalho como educador na Chácara e sou muito feliz e
grato a todas as pessoas que me ajudaram e me ajudam até hoje.
Na Chácara eu superei o passado e estou construindo o meu futuro com a
ajuda das pessoas da Chácara e da minha família.”
89
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
que cheirar cola. Eu e o Ozélio só voltamos para casa porque o seu pai havia
falecido.
Chegando em casa, minha mãe estava trabalhando e só encontrei o meu
pai que me bateu bastante. Só esperei ele sair e fugi de casa, mas desta vez não
voltei durante vários dias e então meu pai começou a me procurar pela cidade,
mas quando eu o vi, eu me escondia ou corria dele. Durante várias vezes meu
pai e minha mãe, me encontraram e me levaram para casa, só que eu fugia no
dia seguinte. Após passar um ano que já estava fora, eu já tinha aprendido a
fumar e roubar.
Durante dois anos e meio que fiquei na rua, roubei e cheirei cola, fumei
maconha, cheirei branca, apanhei dos policiais, fui discriminado, passei fome.
Os policiais já fizeram eu roubar para eles dizendo que se eu não roubasse, eles
me bateriam e me levariam preso. Em 1995, eu conheci a Luciani, educadora
de rua, e ela comentou que havia uma chácara onde eu e os meus amigos de
rua poderíamos morar. Nós ficamos muito felizes.
Mas eu e os meus amigos ficamos durante um ano indo passear no sábado
e domingo e após passar os dois dias tínhamos que voltar à rua porque não
tinha vaga para nós ficarmos.
Neste ano, surgiu a idéia dos meninos que já moravam na chácara, em
construir mais uma casa. Quando a casa começou a ser construída nós, me-
ninos de rua, vínhamos para ajudar durante alguns dias, mas nós tínhamos
que voltar para a rua e não sabíamos se até a casa ser terminada, estaríamos
vivos.
No mês de dezembro, quando vimos para visitar a chácara, estávamos em
um número grande e estava muito frio. Não queríamos mais morar na rua, e
então ficamos na chácara sem a casa estar terminada.
Durante todo esse tempo que eu estou na chácara, eu agradeço muito ao
Fernando e à chácara por ter-me dado a oportunidade de mudar de vida. Hoje
muitos dos meus amigos que passaram pela chácara e que estavam na rua já
estão mortos. Eu poderia estar morto também, mas quando fui para a chácara,
fui para mudar de vida.
Quando cheguei na chácara comecei a estudar e treinar futebol no Paraná
Clube. Antes de eu chegar na chácara e começar a treinar neste Clube, eu já
tinha jogado durante seis meses no Paraná Clube, onde tentei jogar futebol,
que é o meu sonho.
Depois de voltar a treinar, tentei realizar novamente o meu sonho. Treinei
um ano no Paraná e fui para o Coritiba, onde disputei o campeonato metropo-
litano juvenil. Um professor então me convidou para jogar no Sub-Urbana.
Quando eu tinha 17 anos, foi até a chácara uma voluntária da Espanha e
um amigo do Fernando chamado Giovane, que estava fazendo doutorado na
Espanha. Eles conheciam um diretor do Barcelona chamada Basque que falou
que tinha uma possibilidade de eu e o Anderson irmos para a Espanha fazer
um teste em alguns clubes de futebol, o Catalunha e o Barcelona.
Eu e o Anderson chegamos a ir a São Paulo assistir um jogo da seleção da
Polônia para conversar mais com o Basque sobre a nossa ida para a Espanha,
90
Os meninos de Quatro Pinheiros: construindo o futuro
mas nós dois tínhamos que esperar o Barcelona fazer um centro de treinamen-
to para garotos que iam fazer testes no Clube. Como estava demorando, eu
tinha um amigo que seu pai era empresário e eu fiz contrato com ele de dois
anos e fui jogar futebol em Blumenau no Clube Real Blumenau, onde fiquei
quatro meses e meio jogando futebol.
Mas como o empresário prometeu me pagar R$ 350,00 por mês e não pa-
gou e o Clube estava falido, eu estava passando até fome e já tinha emagrecido
3,5 Kg, voltei para a Chácara estudar e fazer o ensino médio. Fiz vestibular de
Ciências Contábeis na PUC e passei. Hoje, estou estudando na PUC e traba-
lhando em uma empresa de Engenharia Elétrica chamada Elco Engenharia de
Obras Elétricas Ltda. Com o meu trabalho já comprei um terreno e pretendo
começar a fazer minha casa no final do ano. Depois, quero ter uma família,
me formar em Ciências Contábeis para ter tudo o que eu não tive na minha
infância e até, se puder, ajudar os meus pais e a chácara e as pessoas que pre-
cisam.
Ainda não perdi as esperanças de ser jogador de futebol, porque ainda eu
jogo futebol de salão e campo e quem sabe pode aparecer uma oportunidade.
Posso tentar realizar um sonho que tenho desde quando eu morava na rua e até
agora não tive chance de realizar.
Histórias como as do Júlio Cezar e do Adriano só tiveram um outro final porque existem pessoas
inconformadas com a situação desses meninos, interessadas capazes de transformar a realidade. Percebe-
mos, com este projeto, que é possível sim mudar alguns finais e evitar outros começos, mas esse trabalho
precisa ser feito em grupo, pois nas palavras do próprio Fernando e da jornalista Teresa Urban:
A principal lição que a experiência dos meninos nos dá é de que a luta para mudar esta situação tem de ser em
grupo, em mutirão e o grito da organização, justiça, igualdade e solidariedade tem de ser em conjunto para al-
cançar os vários setores da sociedade e acordar quem continua dormindo, simplesmente assistindo o sofrimento
dos meninos de rua [...] Os meninos que Quatro Pinheiros querem mostrar para o mundo é que a vida é bela, que
devemos continuar sonhando e lutando por justiça. Que enquanto existir uma criança na rua, nossa sociedade é
podre e injusta, e ninguém tem o direito de ficar sossegado. (1999, p. 15 e 17)
De acordo com Olympio, o êxito deste projeto surge em três grandes eixos.
O primeiro diz respeito à observância das reais necessidades de crianças e adolescentes, as quais envolvem ne-
cessidades que as unem em uma mesma realidade e necessidades específicas de cada criança, surgidas a partir de
sua trajetória de vida. O segundo, ao fazer conjunto a partir dessas necessidades, e o terceiro, ao conhecimento
possibilitado pela comunicação. (1999, p. 124)
A Chácara dos Quatro Pinheiros nos faz lembrar daquela história do homem que estava devolven-
do todas as estrelas que encontrava na praia para o mar. Um outro homem viu o seu ato e disse a ele:
– O que você está fazendo? Você acha mesmo que salvará todas as estrelas? Isso é bobagem.
O homem que ajuntava as estrelas parou, olhou para ele e disse calmamente:
– Com certeza, eu não vou conseguir salvar todas as estrelas, mas para aquela que eu devolver
vai fazer diferença.
91
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
São iniciativas como essas, que partem não apenas de soluções para proble-
mas, mas gestos de humanidade é que fazem diferença na vida de alguém, e como
dizia John Lennon “você não muda o mundo, mas é um a menos que erra”.
Nas palavras de Fernando Francisco de Gois e Teresa Urban: “Na Chácara,
os meninos demonstram, todos os dias, que criança nunca foi problema. Criança
é sempre solução para a Humanidade” (1999, p. 17).
Para finalizar a nossa aula, deixamos um trecho do poema Mãos Dadas, de
Carlos Drummond de Andrade, que com palavras sábias reflete o pensamento do
trabalho que vem sendo feito pelo Projeto.
Mãos Dadas
[...]
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
[...]
O tempo presente é a minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes, a vida presente.
(DRUMMOND, 2002)
92
Programa Educacional de
Apoio à Inclusão no
Mundo do Trabalho
Elair Hasselman de Bastos
Ivelir Neiverth
Marli Kaczmarek
Contextualização
D
ados os limites de espaço/tempo necessários a que estamos permanentemente condicionados
nas diversas situações da vida humana, apresentaremos alguns recortes históricos, compilan-
do, socializando informações e procurando estabelecer as relações necessárias com aspectos
considerados em sua dimensão mais ampla, a fim de compreendermos o processo de Inclusão de Pes-
soas com Necessidades Especiais no Mundo do Trabalho que vem continuamente sendo construído e
re-construído no Município de Araucária, Região Metropolitana de Curitiba.
Mantida pela Prefeitura Municipal de Araucária, por meio da Secretaria Municipal de Educação
(SMED) – Departamento de Educação Especial, a Inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais
no Mundo do Trabalho, em sua concretização, vem expressando uma história de inúmeras ações que
podem ser desenvolvidas no conjunto da sociedade e que colaboram efetivamente para a construção
da autonomia dos sujeitos com necessidades especiais, bem como, apontando continuamente para a
necessidade de uma apreensão cada vez mais aprofundada no que se refere à Inclusão no Trabalho.
Diante disso vale lembrar que:
Os Centros de Reabilitação Vocacional Americanos, especialmente da Califórnia, contam com a Engenharia da
Reabilitação, um campo específico da Engenharia responsável pelos grandes e sofisticados avanços tecnológicos
voltados para a adaptação ergonômica (ramo da engenharia que se dedica à adaptação do meio ambiente ao ho-
mem) da Pessoa com Necessidades Especiais ao trabalho. (ALOISI, 2000, p. 169)
No Brasil, sob o ponto de vista sociológico, as pessoas com necessidades especiais permane-
ceram por muito tempo à margem da participação no sistema econômico, político e social, sendo
que somente a partir da década de 70 é que algumas iniciativas começaram a ter a noção de inclusão
social. No entanto, faz-se necessário avançar no sentido de se direcionar uma nova abordagem orga-
nizacional que proponha mais amplamente a adequação do trabalho às condições físicas, mentais e
outras, no que se refere às condições das pessoas e não o inverso disso, como ainda é comum e que,
por vezes, apresenta mais relação com o processo de integração (Conquista) do que com o processo
de inclusão (Direito-Cidadania).
No Paraná, a iniciativa de alguns setores, dos serviços de Educação Especial e outros, vem gra-
dativa e paulatinamente promovendo a inclusão das pessoas com necessidades especiais no mundo
do trabalho, embora percebamos que, em alguns casos, a tônica central refere-se exclusivamente a
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
94
Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
96
Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
Sabemos, todos, que para dar conta de quaisquer atividades, qualquer que
seja sua dimensão, vários são os limites, os desafios, as contradições e os aspectos
diretos e indiretos que estão envolvidos no processo. Nesse sentido, o que pode fa-
zer diferença diz respeito, entre outros, ao grau de consciência social que cada so-
ciedade assume, bem como ao potencial existente para superação e enfrentamento
desses aspectos em torno das possibilidades que se revelam no cotidiano das ativi-
dades e que, como um dos resultados, revertem-se em melhorias da qualidade de
vida (humanização) para todos: pessoas, empresas, comunidade de modo geral.
Evidentemente que, para cumprir com sua função social, o Programa Edu-
cacional de Apoio à Inclusão no Trabalho constitui suas bases de respaldo em dois
princípios essenciais, que dizem respeito aos fundamentos teórico-práticos e aos
dispositivos legais, que encontram-se, prioritariamente, num processo de interde-
pendência, a Educação e o trabalho.
Educação e trabalho:
uma discussão necessária
Partindo da premissa de que a inclusão de pessoas com necessidades espe-
ciais no mundo do trabalho pressupõe, a princípio, inclusão em todos os espaços
e, principalmente no mundo da escola, convém que façamos uma breve retomada
sobre a especificidade dessa, bem como limitando-se ao contexto específico a que
se direciona o presente trabalho.
Considerando, portanto, o momento histórico atual ainda registrado pelas
desigualdades que agravam, cada vez mais, as condições sociais, culturais, polí-
ticas, entre outras, e, enfatizando a função primeira e universal da escola, que é a
apropriação dos conhecimentos construídos no decorrer da história e que promo-
vem a humanização do ser humano, vale enfatizar que o ato de conhecer implica
também num processo que, para além dos direitos, todos deveriam ter acesso
às condições básicas para educar-se/humanizar-se, resultando progressivamente
num compromisso cada vez mais dinâmico e ético com o processo de democrati-
zação das relações.
Nesse contexto, faz-se necessário repensarmos contínua e permanentemen-
te o processo educativo enquanto construção do humano e que também se proces-
sa por meio do trabalho em todas as suas dimensões.
Tomando, então, o surgimento do trabalho e a formação da sociedade tipi-
camente humana, com base no trabalho, torna-se primordial mencionarmos a uti-
lização e diferenciação de instrumentos e símbolos entre a atividade intencional
do homem e a atividade instintiva do animal:
Não estamos tratando agora aquelas primitivas formas instintivas de trabalho que nos
lembram o mero mundo animal. Pressupomos o trabalho de um modo que assinala como
exclusivamente humano. Uma aranha desempenha operações que se parecem com as de
um tecelão e envergonha muito arquiteto na construção de seu cortiço. Mas o que dis-
97
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
tingue o pior dos arquitetos da melhor das aranhas é que o arquiteto figura na mente sua
construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece
um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não trans-
forma apenas o material sobre o qual opera, ele imprime ao material o projeto que tinha
conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante de seu modo de operar e ao
qual tem de subordinar sua vontade. (MARX, 1973)
98
Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
isto é, aplicação efetiva do querer abstrato ou do impulso vital aos meios concretos que
realizam essa vontade. (OLIVEIRA, 1996)
Diante disso, tudo que fazemos reflete uma forma de pensar, sentir, agir
sobre o mundo e, nesse sentido, uma das abordagens que podemos encontrar nos
dias de hoje, mesmo sabendo-se que foi criada há mais de 30 anos pelo eminente
educador francês André Lapierre, diz respeito ao trabalho de Psicomotricidade
Relacional; abordagem e formação essa que nos revela uma concepção dialética e
sistêmica do sujeito com o mundo, tendo como especificidade a abordagem cor-
poral (diálogo tônico-afetivo) valorizando, sobretudo, o aspecto relacional não-
verbal, sendo, portanto, uma práxis que procura dar um espaço de liberdade na
qual o sujeito (criança, jovem, adulto...) possa aparecer de forma inteira, com seu
corpo, podendo expressar, sem julgamentos e de modo simbólico, a forma como
100
Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
reflete, ordena, desorganiza, reconstrói, bem como pode expressar suas fantasias,
ambivalências, desejos, necessidades, sentimentos e conhecimentos.
Nessa relação mediada com o mundo e no que concerne a repensarmos con-
tinuamente a função social da Educação, André Lapierre diz:
O ensino não pode mais ser o que era há trinta ou quarenta anos: o saber mínimo garantido
pelo certificado de estudos primários de um lado, e de outro a formação de uma elite (?)
intelectual tão restrita quanto conformista, destinada a gerar uma sociedade estática.
A continuação desse elitismo, malcamuflado por um ensino dito “de massa”, termina
numa sociedade cada vez mais complexa e instável, numa estrutura hiper-hierarquizada
por uma cascata de poderes tecnocráticos (dos quais os próprios tecnocratas são prisio-
neiros). Essa estrutura tende ao mesmo tempo à diluição de toda responsabilidade e à
negação de toda autonomia e de toda iniciativa, portanto, à negação da pessoa.
A Qualidade da vida é a qualidade do ser, não do ter. Ser, existir, é exercer livremente seu
poder de agir sobre seu meio, conservar a autonomia de suas decisões. (LAPIERRE, 1988)
101
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
A Lei 8.112 impõe que a União reserve, em seus concursos, até 20% das
vagas a pessoas com deficiências, havendo iniciativas semelhantes nos Estatutos
Estaduais e Municipais, para o regime dos servidores públicos.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96:
Parágrafo 2.º do artigo 1.º:
Art. 1.º [...]
§ 2.º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
Constatou-se que foram incorporadas preocupações a respeito da garantia de que a edu-
cação escolar se construísse de forma contextualizada, levando-se em conta o princípio
educativo do trabalho. Um cuidado, porém, deve ser tomado na efetivação do que reza este
artigo, para que não se fortaleça a ótica do “mercado” que visa atrelar mecanicamente a
escola ao mundo do trabalho, buscando a formação de “mão-de-obra” flexível e adequada
às leis do próprio “mercado”. Cabe, portanto, a defesa do princípio educativo do trabalho,
identificando-se as responsabilidades da escola para com a formação do homem trabalha-
dor e cidadão. (LDB, 1997, p. 8).
102
Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
Avaliação
Compreendendo que só o homem, como ser histórico, é um ser dotado de
vontade, um ser que se posiciona, toma partido e, por isso mesmo, cria valores,
transcende a natureza e traça objetivos imprimindo marcas tipicamente humanas
é que poderemos considerar a dimensão da avaliação na especificidade do Progra-
ma Educacional de Apoio à Inclusão no Trabalho.
Com a intenção de que as atividades se desenvolvam de modo satisfatório e
coerente com os objetivos que se pretendem, faz-se necessário um processo con-
tínuo de informação/formação/construção/reconstrução. É nisso que configura a
avaliação.
Partindo, então, do pressuposto de que a avaliação é um processo inerente
à própria prática humana (deslocar-se para uma direção, por exemplo) e que apre-
senta um caráter nitidamente diagnóstico (correção e superação dos problemas),
podemos concordar com Vitor Paro quando afirma que:
Se se atenta para a natureza do processo de realização dos objetivos, considerando os
recursos e o tempo empregados, percebe-se a importância de procedimentos avaliativos
cada vez mais constantes, com vistas a evitar desperdícios ou ações que não levem aos fins
desejados. Quando se deixa para avaliar apenas o final de determinado processo, corre-
se o risco de, em não se alcançando os resultados desejados, perderem-se os recursos
e desperdiçar-se o tempo despendido no decurso da ação. Prevendo-se avaliações mais
freqüentes, têm-se a oportunidade de corrigir os rumos e aperfeiçoar os procedimentos
104
Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
com um custo de tempo e de recursos cada vez menor. É por isso que, no limite, os pro-
cessos produtivos eficientes, ou os processos bem-sucedidos de realização de objetivos,
apresentam alta inclusão da avaliação no próprio curso da ação, de modo que a avaliação
se faz continuamente, alimentando permanentemente as decisões e ações orientadas para
a correção dos rumos e superação dos problemas detectados. (PARO, 2001)
105
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
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Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
108
Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
109
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Casos de sucesso
sendo construídos: Divonei e Luciana
Uma das 35 pessoas com necessidades especiais incluída no contexto da
Risotolândia é o Divonei. Nasceu em 14/10/81 e, pelo período de quinze dias,
necessitou de incubadora. Aos 4 anos teve meningite tendo o acompanhamento
médico necessário.
Iniciou sua vida escolar em uma escola de ensino fundamental aos 6 anos
de idade quando, por solicitação da escola, foi encaminhado para realizar algumas
avaliações médicas. Após avaliações, foi encaminhado para uma Escola Especial,
na qual permaneceu por, aproximadamente, cinco anos. No contexto da Escola
Especial foram desenvolvidos, além do trabalho pedagógico, atendimentos como
Fonoaudiologia, Psicologia, entre outros.
Revelando progresso no processo de aprendizagem, foi encaminhado para
uma turma de Classe Especial da Escola Municipal Ibraim Antonio Mansur e,
paralelamente, ensino profissionalizante na Escola Municipal de Ensino Especial
Prof.ª Joana Belniak da Silva.
Em novembro de 1997, realizou Exame Classificatório e passou a freqüentar
a 2.ª série do ensino fundamental e, na seqüência, cursou até a 5.ª série.
A partir de então, Divonei começou a preocupar-se com uma questão que
preocupa milhões de brasileiros, o trabalho. Sentia-se incapaz, chorava em função
disso e pensava que não iria poder trabalhar.
Considerando o processo de construção de inclusão social que já vinha sen-
do realizado junto à Risotolândia, por meio do Programa Educacional de Apoio
à Inclusão no Trabalho, em 2001, Divonei foi encaminhado para participar dos
procedimentos comuns de admissão, ou seja, processo seletivo envolvendo entre-
vistas e outros.
Dessa forma, em março de 2001, Divonei iniciou suas atividades no con-
texto da Risotolândia e, desde então, sente-se útil, capaz e feliz, gosta do que
faz. Participa de todas as reuniões lá organizadas e ressalta que tem vez e voz
para falar.
Fazendo parte desse processo, convém salientar que a família exerceu influ-
ência nesse processo de construção, participando ativamente da vida de Divonei.
110
Programa Educacional de Apoio à Inclusão no Mundo do Trabalho
Luciana ressalta que, por meio do estágio e da bolsa-auxílio, tem mais autono-
mia financeira, ajuda nas despesas da casa e exerce sua cidadania. Salienta, ainda,
que tem potencialidades, perspectivas de uma vida cada vez melhor e que o mais
importante é que não precisa depender do benefício de prestação continuada.
Contato: PAULO ROSS
Outros contatos envolvendo a participação em algumas ações:
SENAC
End: Rua André de Barros, 750 – Centro CEP: 80010-080 – Curitiba/
PR – Tel: 219-4832 Núcleo de Negócios de Curitiba.
Vanessa Christófoli de Castro – Secretaria de Estado, Emprego, Trabalho
e Promoção Social.
Agência do Trabalhador – Programa da Pessoa com Deficiência -PPD
– End: Rua Pedro Ivo, 750 – Centro – CEP: 800010-020 – Curitiba/PR –
Tel: 309-2602.
Coordenador do PPD – José Simão Stczaukoski.
Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE/PR.
End: Rua Ivo Leão, 421 – Bacacheri – Curitiba/PR
Gerente Regional na Região Metropolitana de Curitiba: Wilson Luiz So-
bânia
Centro Internacional de Análise Relacional – CIAR
End: Av. Sete de Setembro, 4476 – sobreloja – Batel
Tel: 343-6964
Diretor: José Leopoldo Vieira
112
Pequeno Cotolengo:
casas-lares para pessoas
em situação de abandono
Orley Boçon
C
uritiba é mundialmente conhecida como “Capital de Primeiro Mundo”, pela sua beleza, cultu-
ra, arquitetura e pelas dimensões sociais e econômicas que possibilita. E é nesta bela capital
do Paraná que está construída uma das diversas obras de Dom Orione: o Pequeno Cotolengo
do Paraná.
O processo histórico da construção do Pequeno Cotolengo iniciou-se em 1959 quando Dom
Manuel da Silveira D’Eboux, na ocasião Arcebispo de Curitiba, visitando a Pequena Obra da Divi-
na Providência, monumento deixado por São José Benedito Cotolengo e as Obras que Dom Orione
expandiu nesse estilo, na Itália, ficou encantado. Despertando o interesse e a eterna admiração pela
filosofia dessa Obra, Dom Manuel dialogou com os padres superiores da Itália e, posteriormente, com
os padres superiores do Brasil, para ver a possibilidade dela ser instalada na cidade de Curitiba.
Após inúmeras conversas, e estudos, decidiu-se, então, que seria criada uma obra chamada
Pequeno Cotolengo do Paraná. Mas onde? Qual seria o lugar?
Tomando conhecimento do problema por meio dos religiosos instalados na Paróquia Santa Qui-
téria, o casal Antônio e Maria Tokarski, dispondo de uma área de terra, resolveram doar para a Pe-
quena Obra da Divina Providência, para ser construído o Pequeno Cotolengo do Paraná, pois até o
momento não havia recursos financeiros para a aquisição de um terreno. A área já existia, era real e
situava-se no Bairro Fazendinha, local sem muito acesso, distante do Centro da Cidade.
Por meio e divulgações junto à Paróquia, começaram as desbravações, a abertura da estrada,
com a ajuda de empresas contratadas, mas também com o apoio de muitos voluntários, colaboradores
que tinham um único sonho: construir a Vila da Caridade.
Com o encaminhamento de religiosos (padres) e religiosas (irmãs), para dirigirem a casa, inicia-
ram-se os trabalhos, sempre direcionados. A instituição foi fundada em 25 de março de 1965.
Os recursos eram limitados, porém, o desprendimento de muitos moradores da região, ajudou a
construir uma capela de madeira, na qual buscavam forças na espiritualidade para dar continuidade
aos muitos trabalhos a serem feitos.
Começaram, então, as quermesses, festas animadas organizadas pela comunidade, com o obje-
tivo de arrecadar fundos para iniciar a construção definitiva.
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Realizações
Com o apoio da comunidade, campanhas, eventos, e o tradicional churrasco
mensal, foram sendo contruídos outros pavilhões para melhor acomodar as pes-
soas que chegavam constantemente, abandonadas pelas famílias, desprovidas de
sorte e que necessitam da sensibilidade de outras pessoas.
A confiança da comunidade nos incentivou a dar continuidade aos nossos
trabalhos.
114
Pequeno Cotolengo: casas-lares para pessoas em situação de abandono
Recursos atuais
As principais fontes de recursos são os eventos promocionais que se desta-
cam com 10% da arrecadação mensal, convênios com órgãos públicos represen-
tando 46%, e as doações de pessoas físicas e jurídicas como complemento.
Eventos: eventos promocionais de grande repercussão na cidade de Curitiba
constituem o grande suporte financeiro da instituição.
Captação de recursos: buscando dinamizar o seu banco de contribuintes,
a Instituição tem um trabalho contínuo de telemarketing que busca, por meio de
divulgação de campanhas e contatos com pessoas físicas e jurídicas, diversas for-
mas de colaboração.
Parcerias
Ao longo dos seus trinta e nove anos de existência, a entidade adquiriu
confiança e credibilidade junto à comunidade. A conquista foi efetivada por meio
115
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Resultados
São significativos e expressivos os resultados alcançados:
aprimoramento crescente na qualidade dos serviços prestados;
pleno reconhecimento pela sociedade civil, órgãos públicos e empresá-
rios, como centro de referência no atendimento a pessoas portadoras de
necessidades especiais com comprometimentos neurológicos graves;
implantação da Unidade de Saúde Amigo Especial, em convênio com
a Secretaria Municipal de Saúde, oportunizando atendimento médico-
odontológico aos moradores e comunidade;
manutenção de Equipe Interdisciplinar em convênio com a Pontifícia
Universidade Católica do Paraná – PUC-PR, Universidade Tuiuti do Pa-
116
Pequeno Cotolengo: casas-lares para pessoas em situação de abandono
Diretoria atual
Pe. Olívio Rosso - Diretor Geral
Pe. Pedro Bortolini - Diretor Financeiro
Pe. Gilberto Ferreira - Secretário Geral
117
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Projeto Casas-lares
O Pequeno Cotolengo do Paraná atende crianças, adolescentes e adultos ór-
fãos com vários tipos de necessidades especiais. A demanda de pessoas que necessi-
tam de atendimento especializado hoje é significativa. O Pequeno Cotolengo, sendo
uma instituição de referência no Estado do Paraná, teve necessidade de reestrutu-
ração na sua forma de atendimento e estabeleceu novos critérios de recebimento
de moradores. Como nossos moradores são permanentes, vimos a necessidade de
criar outras formas de atendimento. Os moradores que possuem um pouco mais de
independência estão sendo capacitados para uma maior autonomia e convidados
para uma etapa nova do seu processo existencial: morar em residências.
O Projeto Casas-lares proporciona condições para que as pessoas com ne-
cessidades especiais possam estar distante do seu habitat de origem sem necessa-
riamente perder o vínculo ou a noção do convívio em família, visto que nas casas-
lares estarão recebendo proteção, amor, atendimento de reabilitação e pedagógico,
considerando cada morador individualmente. Enfim, uma alternativa de moradia
com suas necessidades satisfeitas, com uma casa que oferece uma “mãe”, irmãos,
escola, tratamento, lazer, saúde nos aspectos bio-psico-sociais, o que garante uma
melhor qualidade de vida para a pessoa portadora de necessidades especiais.
O Projeto tem como objetivo repassar valores essenciais existentes em uma
família, a vida social e afetiva, proporcionando autonomia, quase que completa,
entre os moradores e as atividades cotidianas. Os valores humanos também são
resgatados com esse projeto, permitindo uma reintegração à sociedade, garantin-
do a dignidade e os direitos de serem felizes como qualquer cidadão comum.
Objetivos
Geral
Oferecer atendimento alternativo à pessoa portadora de necessidades es-
peciais, órfão e em situação de abandono, oportunizando a integração
social em ambiente assemelhado ao ambiente familiar.
Específicos
Proporcionar ao portador de necessidades especiais, órfão ou em situa-
ção de risco, a possibilidade de convivência familiar, assegurando-lhe o
direito de participação em atividades e acontecimentos cotidianos, inclu-
sive em contato com a comunidade;
Garantir atendimento integral à saúde e escolaridade por meio de re-
cursos disponíveis na instituição e comunidade, proporcionando a parti-
cipação em atividades de lazer, recreação, profissionalização, escolar e
reabilitação, conforme necessidades e aptidões para futuras inserções em
outras e sferas da sociedade.
118
Pequeno Cotolengo: casas-lares para pessoas em situação de abandono
Estrutura e funcionamento
As casas foram projetadas com todo o cuidado para suprir todas as dificul-
dades que seus moradores possivelmente poderão encontrar. A casa tem 120m 2,
possui 4 quartos, 2 banheiros, uma sala de estar, cozinha, lavanderia, jardim e
quintal. Possuem, também, utensílios domésticos, como móveis, eletrodomésticos
e demais objetos necessários.
Cada residência é composta por seis moradores e uma “mãe social”.
Para a estruturação do Projeto Casas Lares foi necessário realizar os trei-
namento das pessoas aqui denominadas “mães sociais” com vistas aos esclare-
cimentos fundamentais sobre excepcionalidade, necessidades especiais de cada
interno, distribuição de residentes de forma a heterogeneizar a clientela de futuros
moradores e que torna necessário que a “mãe social” esgote todas as dúvidas,
priorizando a questão de que o novo residente é um “novo filho” e que as atenções
são inerentes às atenções que um filho natural requer.
Durante o treinamento, efetiva-se paralelamente o treinamento de uma “mãe
social coringa” considerando-se que, para efeitos legais, no contrato de trabalho
das “mães sociais” efetivas há a exigência de uma folga semanal e o compromisso
para com os residentes exige acompanhamento permanente, no qual entra a figura
da “mãe social coringa” ou seja, substituta.
Para normatizar os procedimentos das “casas-lares” de maneira uniforme,
foi elaborado um regimento interno e um programa de atividades das “mães so-
ciais” e dos moradores, estes redigidos dentro da linguagem das mães sociais, vi-
sando não permitir dúvidas nem para elas nem para a equipe supervisora do pro-
grama, o que facilita a operacionalização das atividades das partes envolvidas.
No treinamento há orientações para as “mães sociais” acerca da utilização
de medicamentos, horários, acompanhamento médico, atividades de lazer, de vida
diária e pedagógica, pois a preocupação da Instituição não é apenas a mudança de
endereço do morador, mas o oferecimento de uma estrutura consciente e respon-
sável pelo bem-estar nos aspectos: pessoal, escolar, familiar e social.
119
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Sustentabilidade do projeto
De acordo com o levantamento efetuado, o custo per capta/mês é de, apro-
ximadamente, quatro salários mínimos por morador, previstos em decorrência da
estimativa de custos conforme descrição abaixo:
salário das “mães sociais”;
água, luz e telefone;
atendimento médico e odontológico;
atendimento multidisciplinar e ocupacional;
alimentação;
medicação;
vestuário.
Os recursos para a manutenção do Projeto Casas-lares, advêm:
convênios com Órgãos Governamentais: Secretaria Municipal de Educa-
ção, Secretaria Estadual de Educação, FAS, IASP e Secretaria Municipal
de Saúde;
captação de doações da comunidade de Curitiba (pessoas físicas e jurídi-
cas), além de sucessivos eventos tradicionais de grande repercussão com
vistas à sustentação dos programas.
120
Pequeno Cotolengo: casas-lares para pessoas em situação de abandono
Atividades desenvolvidas
Todos os moradores das casas-lares estão inseridos nos programas desen-
volvidos pela instituição, onde recebem atendimentos diversificados, ou seja, psi-
copedagógico, de reabilitação (fisioterapia, fonoaudiologia, hidroterapia), aten-
dimento médico e odontológico, de lazer, e outros, dentro das necessidades e
potencialidades dos moradores, visando à sua absoluta inserção dos programas
internos e externos da instituição.
Avaliações
Os moradores ingressos no programa das casas-lares são avaliados por uma
equipe multidisciplinar da instituição, com o objetivo de levantar informações
relevantes sobre ele, com vistas a facilitar a sua adaptação nas casas-lares e ade-
quação de atividades de acordo com a sua capacidade.
As avaliações são periódicas e a detenção de casos alheios ao programa são
discutidas para a prevenção de problemas e riscos, por meio da adoção de medidas
alternativas quando necessárias.
121
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Adaptação na instituição:
De acordo com registros da instituição (Serviço Social, Psicologia e Terapia
Ocupacional), o problema ocorreu gradativamente, necessitando de atendimentos
especializados em Psicologia e Terapia Ocupacional.
122
Pequeno Cotolengo: casas-lares para pessoas em situação de abandono
Personalidade:
Dentro da casa-lar, apresenta comportamentos de liderança, porém não se
percebe como líder.
Durante as atividades diárias demonstra cuidado consigo, com as outras
meninas e com a casa.
No relacionamento com as “mães sociais” demonstra capacidade de acatar
ordens.
123
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
124
Inclusão social dos catadores
de materiais recicláveis:
criança no lixo, nunca mais!
Idealização: Fórum Lixo e Cidadania do Paraná
Autor: Instituto Lixo e Cidadania
Introdução
O
presente projeto, idealizado e proposto pelo Fórum Lixo e Cidadania do Paraná, elaborado
pelo Instituto Lixo e Cidadania, visa à erradicação do trabalho de crianças e adolescentes
com idade inferior a 18 anos de idade, na coleta do lixo. Segundo previsto na Convenção
182 da Organização Internacional do Trabalho, a coleta de lixo é considerada como uma das piores
formas de trabalho infantil e, sendo o Brasil um dos países membros que ratificou tal convênio, a so-
ciedade brasileira, incluindo os órgãos públicos, está obrigada a adotar medidas imediatas e urgentes,
tendentes a solucionar o problema.
Sendo diretriz consagrada no Estatuto da Criança e do Adolescente, o atendimento não só
à criança e ao adolescente em situação de risco, no caso gravíssimo, mas também à família, rees-
truturando-a para garantir a eficácia da política adotada, a presente proposta de trabalho prevê o
desenvolvimento de tecnologia social por meio da experimentação não-lucrativa de um novo modelo
socioprodutivo para as famílias que sobrevivem, eventual ou rotineiramente, da coleta de materiais
recicláveis em Curitiba e Região Metropolitana.
128
Inclusão social dos catadores de materiais recicláveis: criança no lixo, nunca mais!
Petrobras S.A.
Projeto Cristão Fazendo a Diferença
Provopar – Programa do Voluntariado do Paraná
PUC-PR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Robert Bosch Ltda.
Sanepar – Companhia de Saneamento do Paraná
Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente da Lapa
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Secretaria de Estado da Educação
Secretaria de Estado da Justiça – CODIC
Secretaria de Estado de Relações com a Comunidade
Secretaria de Estado do Meio Ambiente
Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social
Secretaria Municipal de Assistência Social de Ponta Grossa
Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Paraná
Senai – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Paraná
Senat – Serviço Nacinal de Aprendizagem no Transporte – Paraná
Serviço de Assessoria Jurídica Universitária Popular da UFPR
Sesc – Serviço Social do Comércio
Sindicato dos Auditores Fiscais da Previdência
Sociedade Paranaense de Pediatria
Spaipa S.A.
Tecpar – Instituto de Tecnologia do Paraná
União das Associações de Moradores do Portão
União Geral de Bairros
Universidade Federal do Paraná
Universidade Tuiuti do Paraná
Viação Castelo Branco
O Fórum Estadual Lixo & Cidadania tem como lema de trabalho Criança
no lixo, nunca mais e atua para que sejam alcançados os seguintes objetivos:
retirada das crianças do trabalho no lixo, garantindo vagas nas escolas,
atividades de complementação escolar e bolsa-escola para substituir a
renda cessante da criança;
ampliação da renda para as famílias que vivem do lixo, com capacitação
e apoio à organização dos catadores dos lixões e das ruas, buscando sua
129
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Problemática
Lixo e meio ambiente
Cada pessoa gera, durante toda a vida, em média 30 toneladas de lixo. Uma
montanha de resto de comida, papel, plástico e vidro. Apesar de produzir essa
quantidade de resíduos, a maioria das pessoas acha que basta colocar o lixo na
porta de casa e os problemas se acabam. Apesar de se afastarem do alcance da
vista estão só começando. No Brasil, poucos municípios possuem tratamento ade-
quado para o lixo. Em muitos, o lixo urbano coletado é depositado em lixões a céu
aberto. Nestes locais, o líquido gerado na decomposição do lixo – o chorume –
penetra no solo, contaminando as águas subterrâneas e os rios; os gases provocam
explosões e fogo, em alguns casos com vítimas fatais. O mau cheiro é sentido de
longe e o lixo atrai ratos, moscas, baratas e gente... gente pobre, que não tem outra
forma de sobreviver. Essas pessoas – adultos e crianças – catam materiais para
vender e alimentam-se de resto de comida estragada ou contaminada, lidam com
cacos de vidro, ferros retorcidos, resíduos químicos e tóxicos, ficando expostas a
acidentes e doenças.
Do ponto de vista de degradação ambiental, o lixo representa mais que po-
luição. Significa, também, muito desperdício de recursos naturais e energéticos.
As embalagens, que servem de proteção, segurança e higiene dos produtos, au-
mentam o consumo dos recursos naturais. O resultado é um planeta com menos
recursos ambientais e com mais lixo, que além da quantidade, aumenta em varie-
dade, contendo materiais cada vez mais estranhos ao ambiente natural.
A catação de alimentos e de materiais para a comercialização também acon-
tece nas calçadas das cidades brasileiras por carrinheiros – homens, mulheres,
crianças e adolescentes – que interferem, diariamente, no ciclo da limpeza urbana,
interceptando materiais que seriam levados aos lixões ou aos aterros. Eles con-
tribuem, assim, para amenizar os efeitos negativos do nosso desperdício e para
reduzir a poluição ambiental que o lixo provoca.
As crianças
Elas jogam bolas de papel de um lado para outro. Empilham latinhas e gar-
rafas coloridas. Mas não estão brincando. São cerca de 45 mil crianças e adoles-
centes vivendo e trabalhando nos lixões espalhados no país (UNICEF, 1998 e
131
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Fórum Nacional Lixo & Cidadania, 1999). Ajudam seus pais a catar embalagens
velhas, a separar jornais e papelões, a carregar pesados fardos. Muitos desses
meninos e meninas estão desnutridos e doentes. Sofrem de pneumonia, doenças
de pele, diarréia, dengue, leptospirose, febre tifóide... Muitas vezes ficam sujeitos
ainda a acidentes e a outros problemas como abuso sexual, gravidez precoce e uso
de drogas. Grande parte das crianças em idade escolar nunca foi à escola. Vivem
em condições de pobreza absoluta. Realizam um trabalho cruel. São crianças no
lixo. Uma situação dramática e comum no Brasil.
Justificativa
A atual crise, em que trabalhadores assalariados são excluídos dos seus em-
pregos, amplia o trabalho precário (sem garantia de direito) e aumenta, cada vez
mais, a quantidade de pessoas envolvidas com a coleta e comercialização do lixo
nos centros urbanos. Nesse cenário, a economia solidária apresenta-se como um
desafio cuja superação só pode ser conseguida por ações que conjuguem a so-
brevivência das relações socioambientais e a melhoria da qualidade de vida das
pessoas. Ações que devam ser guiadas por práticas de colaboração solidária, de
busca de interação respeitosa com a natureza e, principalmente, da valorização
social do trabalho humano.
Fatores como:
situações em que parte da população é induzida a consumir e acumular
bens, deixando para a outra parte apenas o lixo gerado como fonte de
sobrevivência;
a exploração do trabalho humano;
o envolvimento de crianças e adolescentes em atividade de risco e alta-
mente insalubre;
as relações sociais dos seres humanos ente si e deste com a natureza.
Norteiam a urgência de transformação da sociedade na busca de novas di-
nâmicas que valorizam atividades econômicas de cooperação e solidariedade,
132
Inclusão social dos catadores de materiais recicláveis: criança no lixo, nunca mais!
Objetivos
Objetivo geral
Desenvolvimento de tecnologia social por meio da experimentação não-lu-
crativa de um novo modelo socioprodutivo para atendimento de famílias de baixa
renda, que sobrevivem da coleta de material reciclável, com o afastamento da
atividade de coleta de lixo dos filhos destes, crianças e adolescentes, com idade
inferior a 18 anos de idade.
Objetivos específicos
Orientar a organização dos catadores adultos, em associações e coopera-
tivas, superando a fome e a exclusão por meio de iniciativas que gerem
trabalho e renda, com a conseqüente melhoria das condições de vida,
especialmente para as crianças e os adolescentes, atualmente em crítica
situação de risco. Nesse tópico está compreendido um galpão de arma
zenamento em cada local de concentração dos catadores, divididos em
bairros e municípios, bem como um centro de atendimento comunitário
para crianças e adolescentes;
Constituir e orientar a organização do Centro de Evolução Humana para
atendimento de crianças e adolescentes em sistema de contra-turno esco-
lar, garantindo a profissionalização dos adolescentes mediante parcerias
com instituições s ociais;
Intensificar o intercâmbio e a articulação entre as iniciativas de organiza-
ções de catadores de recicláveis, visando à construção de redes associa-
tivas e de empresas comunitárias;
Favorecer maior integração entre as comunidades locais por meio de
programas de educação ambiental, melhorando a cooperação na separa-
ção e entrega dos recicláveis e na valorização do trabalho dos catadores
e de suas famílias;
Constituir e orientar a organização da Central de Transformação e Co-
mercialização;
Conquistar, junto à Administração Pública, o reconhecimento do traba-
lho dos catadores na limpeza pública, com a regulamentação da profissão
e pagamento pelo relevante serviço público prestado por meio do depó-
sito em um Fundo Específico de montante adequado à importância da
atividade;
133
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Metodologia
O Projeto, a ser executado em 24 meses, será desenvolvido nas seguintes
etapas:
implantação e execução;
avaliação intermediária;
avaliação final.
134
Inclusão social dos catadores de materiais recicláveis: criança no lixo, nunca mais!
Avaliação intermediária
Decorridos 12 meses da implantação do projeto, as atividades, resultados e
impactos atingidos serão submetidos a uma avaliação intermediária visando con-
solidar ações efetivas, promovendo a auto-sustentabilidade e detectando eventuais
ações desnecessárias ao andamento do processo tecnológico social. Os indicado-
res serão analisados por uma comissão do projeto.
Avaliação final
No decorrer dos 24 meses, as associações e cooperativas deverão estar aptas
à autogestão econômica e social. A Central de Transformação e Comercialização
deverá apresentar uma dinâmica capaz de atender às associadas.
O processamento dos dados monitorados e uma análise especializada são
previstos focalizando, principalmente, os resultados obtidos em relação às crian-
ças e adolescentes retirados do trabalho, bem como a participação dos catadores e
famílias associadas, de forma solidária e colaborativa, na melhoria de suas condi-
ções econômicas e socioambientais.
135
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Indicadores de monitoramento
Os indicadores escolhidos permitirão avaliar as condições econômicas,
sanitárias, socioambientais e de participação. Buscou-se indicadores universais,
confiáveis, essenciais, simples e representativos que serviram, antes de tudo, para
informar aos associados o estado da qualidade de vida do lugar onde residem.
Dos aspectos identificados a serem melhorados no decorrer do projeto, os
associados, uma vez capacitados, serão capazes de tomar providências cabíveis
à melhoria do processo. Serão observadas a importância, a fonte segura de da-
dos, a metodologia e a periodicidade dos dados escolhidos. Deverão, também, ser
aplicados às famílias dos associados, tendo abrangência na comunidade local. Os
indicadores analisados serão:
coeficiente de mortalidade infantil;
coeficiente de mortalidade materna;
coeficiente de mortalidade por doenças infecciosas e p arasitárias;
coeficiente de mortalidade por câncer ginecológico;
índice de saúde bucal;
indicador de qualidade das creches;
taxa de reprovação do ensino fundamental;
taxa de Abandono do ensino fundamental;
taxa de escolarização do ensino médio;
taxa de alfabetização;
taxa de favelamento;
índice da qualidade de água do rio local;
percentual de coleta de reciclável;
percentual de fornecimento de água tratada;
percentual de coleta de esgoto;
coeficiente de criminalidade;
indicador de vandalismo;
taxa de participação dos adolescentes aos recursos comunitários visando
a profissionalização;
diferença do valor agregado ao produto beneficiado do lixo;
participação nas atividades formadoras e de capacitação.
136
Inclusão social dos catadores de materiais recicláveis: criança no lixo, nunca mais!
Metas
A Central de Transformação e Comercialização, o Centro de Evolução Hu-
mana das unidades associativas, no final do projeto deverão contemplar:
uma dinâmica de auto-gestão econômica e de desenvolvimento;
desempenho participativo, solidário e colaborativo na organização e evo-
lução nas unidades de associação e da comunidade;
melhoria na qualidade de vida a ser comprovada nos índices monitora-
dos;
inclusão e acesso à informação e a processos educativos;
inclusão aos direitos previdenciários;
maior produção e acréscimo de tecnologias de absorção da matéria reci-
clável.
Abrangência e população-alvo
As famílias em situação de risco social e pessoal, que sobrevivem eventual
e rotineiramente da coleta de materiais recicláveis serão diretamente beneficiadas
pelas metas propostas pelo projeto, que será desenvolvido no município de Curiti-
ba, Região Metropolitana e Litoral.
Para contato:
Fórum Estadual Lixo & Cidadania
Av. Jaime Reis, 331. São Francisco, Curitiba – Paraná – CEP: 80510-010
Fone: (041) 304-9000 / Fax: (041) 304-9052
margaret@prt9.mpt.gov.br
Instituto Lixo e Cidadania
Alameda Cabral, 289
Fone (041) 3029-9389 / Fax: (041) 226-1688
lixoecidadania@pop.com.br
137
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
138
A Arte e a Educação Inclusiva:
uma possibilidade real
Cláudia Gutierrez Santana
Dinéia Urbanek
Paulo Henrique Pienta
Vânia Maria da Silva Andrade
Introdução
A
reflexão sobre a Arte, enquanto facilitadora do processo inclusivo, surge das vivências ocor-
ridas na Escola de Educação Especial Ecumênica ao longo de sua história. Foi por meio das
observações das práticas pedagógicas que se percebeu o quanto o corpo docente desta insti-
tuição recorria à Arte educação como metodologia de trabalho. Logo, este fato, que até então estava
posto no currículo oculto da escola, tomou proporções grandiosas. Houve uma construção coletiva
sobre o conceito da Arte e sua importância para a Educação Especial.
Concomitantemente, ocorre no Brasil uma sensata mudança no paradigma educacional, um
desafio para a Educação Especial: a inclusão. Esta faz com que os profissionais ressignifiquem sua
prática, ultrapassando os muros das escolas especializadas, oferecendo um serviço de parceria junto
com o ensino regular, trilhando uma estrada cujos objetivos se entrelaçam.
Este estudo visa a possibilitar uma reflexão teórico-prática sobre a tríade aqui problematiza-
da: Educação Especial, Inclusão e Arte Educação. Entendendo que independente da modalidade de
ensino, o que se pretende é proporcionar uma aprendizagem que garanta o desenvolvimento global
do educando.
A inclusão
Atualmente, a inclusão escolar e social está em voga em todos os departamentos da Educação,
tornando-se um tema intrigante a todos os profissionais que estão de maneira direta ou indireta traba-
lhando com as pessoas que apresentam deficiências.
Já se afirmou inúmeras vezes que a Educação Especial, na maioria dos países, tem seguido um
padrão semelhante de evolução. Num primeiro momento, ela é caracterizada pela segregação e exclu-
são. Posteriormente, há uma modificação no olhar sobre as pessoas com deficiência, passando a serem
percebidas como possuidoras de certas capacidades, ainda que limitadas como, por exemplo, a de
aprendizagem. Em função desta modificação ocorre o que poderíamos chamar de velha integração,
ou seja, os excluídos começam a ser integrados a determinados setores sociais e escolares, sendo ain-
da predominante o aspecto protecionista. Surgem, nessa fase, as escolas especiais, os asilos e abrigos,
nos quais o indivíduo era submetido a práticas de tratamento que tinham por objetivo a reabilitação.
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
140
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
141
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
142
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
Essa abordagem apresenta-se como uma forma eficaz de levar a pessoa com
deficiência a apoderar-se de sua vida, tornando-se apta a pensar e agir de forma
independente, uma vez que a Arte incentiva o aluno a uma produção que não pre-
cisa de modelos. Na fase adulta, esse indivíduo deverá assumir, com responsabili-
dade, suas ações, escolhas e conseqüências, de forma justa e coerente. Pensar que
qualquer pessoa com deficiência tem condições de chegar a este nível é acreditar
que este sujeito tem desejos próprios e é um ser capaz de aprender e transformar
o meio em que vive.
A auto-avaliação de sua criação ajuda os educandos a estabelecerem crité-
rios para avaliar seu próprio processo, estimulando-se a tomada de decisões con-
siderando a qualidade do trabalho e as conseqüências das decisões tomadas.
Outro ponto de entrelaçamento dos objetivos da Arte com os da Educação
Inclusiva está na possibilidade desses alunos, profissionais e famílias tornarem-se
mais sensíveis, acolhedores, solidários e afetivos, pois a Arte possibilitará a vivên-
cia concreta, contextualizada e real de tais sentimentos.
A ponderação sobre o ensino de forma concreta e contextualizada é um
aspecto de indiscutível importância para os alunos com deficiência, pois será por
meio de vivências reais que estes terão a possibilidade de simbolizar e abstrair
determinados conteúdos. As pessoas que não apresentam nenhuma deficiência ou
dificuldades específicas de aprendizagem podem ter maior facilidade em aprender
conteúdos abstratos, embora isso não seja uma regra.
Contextualizar significa, ainda, apresentar de forma crítica a história do seu
povo e a sua própria história, dando sentido ao que se aprende. A Arte vincula-se
a este processo, instrumentalizando o indivíduo a estabelecer estas relações com
a cultura.
Segundo Almeida (2001), ao conhecer a história do passado, é possível ela-
borar pensamentos do presente e do futuro com relação à identidade pessoal, per-
cepção de si e do outro .... ensinar faz parte de um processo que nos remete ao
passado e ao futuro, à eternidade.
Compreendendo que a aprendizagem não é um produto pronto e acabado e
sim fruto das relações das diversas culturas, não é cabível valorizar apenas uma
cultura ou classe econômica, mas possibilitar que os alunos tenham contato com
as diversas culturas e diversas linguagens artísticas, rompendo os preconceitos
com classes sociais e étnicas. Socializar os bens culturais e possibilitar o conhe-
cimento das diversas produções artísticas são, portanto, aspectos considerados
em um currículo na qual a Arte está posta como facilitadora da inclusão social e
escolar. Perceber o mundo com culturas diferentes e importantes para o homem
é compreender que na escola pode-se conviver em harmonia com as diferenças
combatendo atitudes de discriminação, racismo e intolerância.
Ainda segundo Almeida, ao possibilitar aos educandos o contato com as
mais variadas formas de expressão artística (dança de rua, popular, grafitagem,
funk, dança do ventre, fandango, teatro de bonecos, de rua, óperas etc.), as Artes
143
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
144
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
145
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
mente, do deficiente) produzir algo que será apreciado pelos outros, colaborando
para elevar sua auto-estima e participar da vida em sociedade.
A Arte permite o desenvolvimento das capacidades dos indivíduos, tais
como coordenação visomotora, organização pessoal, cooperação e comunicação,
além de exteriorizar emoções significando um ganho para o autoconhecimento
(ATACK, 1995).
O conhecimento da Arte
Falar de Arte, aparentemente, parece ser um assunto simples, mas devido à
sua complexidade e transformação evolutiva, não é tão simples assim.
É necessária uma reflexão sobre a maneira peculiar que nós vivemos e de
como nos colocamos no mundo que nos rodeia. Desde a montagem de um am-
biente, com móveis, cores e objetos, até a roupa, a maquiagem que usamos e a
música que ouvimos, tudo isso constitui um conjunto de símbolos estéticos que
trazem expressões e mensagens, possibilitando a comunicação entre o artista e o
observador, entre o artista e o consumidor ou, ainda, entre o artista e o ouvinte.
É por meio da Arte que o nosso mundo interior, tão pessoal, encontra razão para
partilhar e colocar em comum, os pensamentos e sentimentos, por exemplo, como
explicar o prazer que sentimos quando observamos ou ouvimos a produção de
outra pessoa?
Existem dois conceitos bastante utilizados em Arte, mas nem sempre bem-
definidos. São eles: comunicação e expressão. A comunicação diz respeito à trans-
missão de idéias e significados conceituais com a menor ambigüidade possível. A
comunicação tem a ver, basicamente, com a construção e transmissão de signifi-
cados discursivos e conceituais racionais. A expressão tem ligação com os senti-
mentos. Há determinados sinais que mostram o que o emissor estava sentindo no
momento da produção. Portanto, a expressão solicita um esforço interpretativo de
quem a percebe. A comunicação e a expressão, quando articuladas harmoniosa-
mente, ou seja, quando o pensar e o sentir trabalham juntos, conseqüentemente
surge um novo elemento que é a linguagem. A linguagem é conceitual, linear e
discursiva. Conceitual porque organiza nossa percepção de mundo, fragmentan-
do-o e classificando as coisas em classes gerais, que são os conceitos.
A Arte é percebida, por nós, pelos olhos da sensibilidade. Toda experiência
estética causa em nós uma renovação dos sentidos, ou seja, a nossa capacidade
de captar a beleza fica cada vez mais apurada, a cada nova experiência estética.
Por isso, podemos dizer que nos tornamos cada vez mais humanos à medida que
usufruímos da Arte.
Andrade, em sua pesquisa de especialização, cita alguns comentários im-
portantes sobre a Arte:
Para Erasmo Pilloto “a Arte é um caminho excelente para levar o futuro professor a parti-
cipar da grandeza do mundo, para formação de sua personalidade de educador”. Segundo
ele, “a mais potente força educadora do mundo já foi um dia a Arte e deve retornar a ser”.
Já DeBona considera a Arte como um poder criador, é sensibilidade, é cultura, é humani-
146
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
dade. Merleau Ponty destaca a importância da Arte sempre cumprir um papel social. Pau-
line Tilley, em seu livro “El Arte em la educación especial” (1991), diz que Arte é prazer, é
a satisfação do nosso instinto criador. Quando aprendemos com Arte, nos tornamos mais
confiantes e o aprendizado ocorre mais facilmente. Segundo Sally Atack em “Atividades
Artísticas para Deficientes” (1995), a Arte é o meio de expressão, de desenvolvimento de
habilidades e capacidades e pode ser realizada por puro prazer, sem competição. Por meio
da Arte, o indivíduo é livre para descobrir e explorar, num processo de aprendizado de si
mesmo e do mundo. (ANDRADE, 2004)
Confúcio
148
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
Artes visuais
As Artes visuais envolvem a pintura, escultura, desenho, gravura, fotogra-
fia, cinema e imagens tecnológicas. É a articulação entre o fazer, o conhecer, o
exprimir e o criar que dá a produção deste conhecimento estético-visual.
Quando a pessoa produz qualquer Arte visual ela exercita o seu sentir e
o seu pensar, sendo que neste processo está presente a leitura dos elementos vi-
suais. É preciso organização e ordenação dos pensamentos para a construção e
fixação da imagem. Explorar instrumentos de trabalho, experimentar diferentes
possibilidades de uso, descobrir novos resultados faz com que os sentidos sejam
estimulados, ampliando as possibilidades de escolha do educando, que adquire
autocontrole nas suas ações.
Dança
A Dança é o canal cinestésico-corporal por excelência. Permite que as im-
pressões sobre o mundo traduzam-se em movimentos, porque toda expressão pela
dança requer do participante a criação de signos corporais e significados, propor-
cionando ao portador de deficiência a possibilidade de reorganizar sua relação
com o próprio corpo, com o ambiente e com o outro. É na dança que o ser humano
encontra-se mais íntegro, ou seja, corpo, mente e espírito.
Essa linguagem proporciona uma gama de experiências bastante rica e atua
no sentido de disponibilizar um instrumento de comunicação e expressão peculiar
a todos: o corpo. Além de permitir o diálogo com as outras linguagens.
Na perspectiva da técnica da Dança Moderna estruturada por Laban, o tra-
balho pode organizar-se do nível mais simples para o mais complexo, utilizando-
se dos diferentes fatores do movimento (peso, fluência, espaço e tempo/ritmo) de-
senvolvendo as habilidades motoras, a capacidade expressiva e o reconhecimento
e consciência do próprio corpo.
Música
A Música é constituída de ritmo, melodia e harmonia, porém é necessária
uma junção entre corpo e mente para que ela exista. Apenas a partitura não pode
se caracterizar como música.
A Música é uma linguagem sonora que utiliza elementos verbais e não-ver-
bais. Por meio de diferentes sonoridades mobilizamos sentimentos, afetividades,
imaginações e expressividades. Por meio de releituras e criações musicais pode-
mos trabalhar com as palavras, das mais simples às mais complexas, tendo como
objetivo maior a verbalização. O mais importante é o respeito pela singularidade
e diferenças de cada um.
149
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
O tempo
Uma das características das oficinas de Artes que propomos é a modificação
do tempo escolar. Sabemos que a pessoa portadora de deficiência mental é capaz
de adquirir aprendizagens. Contudo, requer um tempo maior, pautado por uma
metodologia diferenciada.
A organização de um ambiente rico em experiências vai desde o planeja-
mento das ações até a disponibilização de materiais para a atividade, que pode ser
aproveitada e explorada pelos educandos, requerendo um período maior que do
atendimento normal para exploração, utilização no desenvolvimento da proposta
e síntese do conhecimento com avaliação junto aos alunos.
Espaço
A adequação do espaço físico e dos espaços interiores para cada indivíduo
é fundamental para o trabalho com a proposta das oficinas.
É necessário organizar materiais e/ou dinâmicas que envolvam a ocupação
espacial e proporcionem ao aluno, perceber, absorver e criar a partir da temática e
conteúdos selecionados. Não é possível pensar numa nova abordagem metodoló-
gica sem repensar as relações que temos com o espaço da escola e disponibilizar
nossos espaços interiores para novas vivências e formas de interagir com a vida,
pois está nesse ponto um dos fatores principais do sucesso das oficinas.
Saber
Os objetivos do saber escolar devem ser repensados no contexto escolar
como um todo, mas especialmente na educação escolar da pessoa com deficiência
mental, pois o conhecimento formal, como já foi dito, necessita muitas vezes ter
um caráter funcional para a vida do educando, favorecendo sua prática social.
150
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
Caso de Sucesso:
pintores com a boca e os pés
A Associação dos Pintores com a Boca e os Pés foi fundada em 1956, em
Liechtenstein, por Erich Stegmann, com o objetivo principal de proporcionar uma
vida independente para artistas que não têm o uso de suas mãos.
Tudo começou quando um artista, portador de necessidades especiais, cha-
mado Erik Stigmam, da Alemanha, que pintava com a boca, começou a expor
seus trabalhos na rua e praças e a reproduzir suas obras em forma de cartões e
calendários depois da Segunda Guerra Mundial.
Seu projeto começou a expandir-se para países vizinhos e outros continen-
tes e hoje a associação conta com mais de 500 membros em mais de 60 países,
e não faz distinção alguma entre nacionalidade, raça e crença. Atualmente, há
22 pintores no Brasil, e a associação procura ativamente por novos estudantes
e membros.
No Brasil, começou em meados de 1963 reproduzindo obras dos artistas de
outros países e, em 1966, os artistas Fernando dos Reis e Gonçalo Borges come-
çaram a fazer parte do projeto.
Todos os integrantes dessa sociedade internacional são incapacitados para
pintar usando suas mãos, e todos são beneficiados com a satisfação em poder ga-
nhar seu próprio sustento, independente de caridade. Uma vez que se tornam mem-
bros (sócios), seu trabalho deve ser de um padrão que possa competir em estética e
base comercial com os trabalhos de artistas convencionais. Uma vez aceitos como
membros, é garantida a eles uma renda substancial por toda a vida, mesmo se fo-
rem incapacitados de continuar a pintar. Isso é providenciado por meio da renda
derivada da venda de seus trabalhos como: cartões, calendários e outros.
A renda das vendas também provê bolsas para pintores com a boca ou
com os pés, que primeiramente não podem atingir os padrões exigidos de um
membro, assim suas habilidades podem ser desenvolvidas e encorajadas. Além
disso, subvenções são feitas para equipamentos especiais e tratamento em algu-
mas circunstâncias.
Essa cooperativa mundial única é gerenciada e administrada pelos seus
membros, todos artistas sem o uso de suas mãos.
Todos os artistas recusam caridade, preferindo competir em termos iguais com
artistas normais. Fazem de tudo para assegurar que sua associação seja entendida
como um trabalho, um negócio, e não confundida com entidades filantrópicas.
Vários artistas-membros têm tido seus trabalhos aceitos em exposições in-
ternacionais e ganham medalhas e outras honras por realizações artísticas e aca-
dêmicas.
O sucesso das vendas de seus produtos, num mercado altamente competi-
tivo, ajuda a assegurar aos artistas um estilo de vida independente que realça a
atividade do seu trabalho criativo, livre de preocupações financeiras. Para esse
151
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
fim, os artistas possuem sua própria empresa de edição, ou indicam editores para
produzir, distribuir e vender os produtos característicos de seu trabalho.
Eles também têm especialistas financeiros e legais para cuidar de seus as-
suntos, e têm sido bem-sucedidos em manter os custos de administração abaixo
de 7% da renda das vendas.
Para serem reproduzidos, os trabalhos são inteiramente selecionados com
base no potencial de venda artístico, e não nas necessidades dos artistas, a fim de
contribuir com a renda da sociedade em qualquer ano.
Dr. Richard Hiepe, um eminente historiador da Arte, disse uma vez:
Essa associação classifica-se entre uma das mais audaciosas aventuras sociais do nosso
tempo. Não há muito tempo, tais pintores eram meramente ditos como maravilhas raras
ou como exemplos singulares de suas próprias conquistas heróicas. Só recentemente, e
com as atividades da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés e seu trabalho, é que
isso se tornou um conceito geral.
Têm que suportar o caminho que conduz para suas criações – a aflição física e emocio-
nal pela qual eles se levantam. Geralmente, a perda das mãos não é o único infortúnio:
doenças e sofrimentos freqüentes pelos quais o mundo saudável tem apenas um conceito,
constantemente acompanham sua existência. O trabalho artístico é uma liberação para
aqueles que são tão aflitos. Pela virtude do seu trabalho, os artistas tornam-se seres novos
e integrados.
A associação faz com que os artistas sejam independentes de toda a miséria da caridade
publicamente conduzida. Mas, mais significante que isso, os inspira com a consciência de
uma vida construtiva adquirida pelo esforço pessoal e da construção de uma existência
independente. Eles realizam isso por meio da sua Arte – mais uma vez com sua vida em
suas próprias mãos.
152
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
153
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
José Marcos dos Santos, nascido em 29/12/71 em São José dos Campos/
SP, perdeu a coordenação motora dos membros superiores e teve a fala
parcialmente afetada pela falta de oxigênio no cérebro, no momento
do seu nascimento. Com 8 anos de idade, Marquinhos aprendeu a
utilizar os pés para realizar suas atividades básicas, quando surgiram
os primeiros rabiscos e o interesse pelas formas e cores, o que acabou
levando-o a se dedicar às aulas de pintura.
154
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
155
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Relatos
Gonçalo Borges
Nasci em uma cidade do interior de São Paulo chamada Novo Horizonte. O
parto foi feito pela minha avó, pois nasci na fazenda, em casa de barro. Meus pais
foram aconselhados a virem para São Paulo, na capital, onde houve uma avaliação
médica e psicológica e sofri algumas cirurgias nos braços, pois os dois eram retos.
Nestas cirurgias colocaram um cotovelo e hoje tenho um pouco de movimento
no braço esquerdo. Os médicos queriam fazer mais experiências, mas a mãe não
deixou. Bem, meus pais decidiram mudar para a capital.
Minha vida, quando bebê, era ir com meus pais para a roça onde trabalha-
vam. Já era arteiro, pois tentava beber água da moringa e acabava por tombá-la
com os pés e aí eles ficavam sem água para fazer o café.
Minha deficiência nos membros superiores é congênita, mas não me impede
de executar muitas tarefas.
Eu era um garoto que tinha (e tenho) muitos amigos, brincava na rua todos
os dias, com bolinhas de gude, pipas e balão. Tinha amizades com pessoas de
mais idade, às vezes minha mãe me procurava e não me encontrava, pois eu esta-
va passeando de caminhão ou em outra casa jogando bolinha de gude, quem me
levava havia apostado, e eu jogava com os pés, com uma excelente pontaria. Até
com estilingue eu era bom, quebrei várias vidraças.
Bem, a idade escolar havia chegado e minha mãe foi procurar uma escola
pública e aí veio o primeiro preconceito da sociedade. A própria diretoria alegava
que eu, escrevendo com os pés, poderia desviar a atenção dos outros alunos e foi
assim também nas escolas particulares. Mas a mãe não desistiu, até que indicaram
a Associação de Assistência à Criança Defeituosa AACD e lá fiquei interno até
os 13 anos.
Foi uma excelente escola para mim, pois aprendi, além da escola, muitos
trabalhos manuais como tecer tapetes e trançados, e foi lá que comecei a usar a
boca, como escrever e desenhar, pois desenhava e escrevia com os pés. Também
aprendi natação. Participei de várias campanhas educativas com meus desenhos,
tendo ganho alguns prêmios, inclusive da ONU. Eu estava lá não para me reabi-
litar, pois não tinha o que reabilitar e sim para ter educação. E lá fiquei até os 13
anos. Saindo de AACD, voltei a morar com meus pais. Meus irmãos mais novos
não me reconheciam como irmão. Foi muito engraçado. Mas com o tempo tudo
se resolveu. Começou novamente a luta de minha mãe para que eu continuasse os
estudos. Outra vez o preconceito e a rejeição começaram.
Mas minha mãe foi muito persistente. Conseguiu em uma escola perto de
casa e aí foi muito bom, pois obtinha ótimos resultados, porque sempre fui muito
disciplinado. Daí para a frente comecei a estudar em outras escolas e a brincar na
rua, jogando bola, bolinha de gude, malha, soltar pipas e balões, coisa proibida.
Um de meus amigos começou a trabalhar em uma empresa e seu patrão lhe pediu
para que ele comprasse uns cartões de Natal, e ele perguntou como eram e lhe
156
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
responderam que eram pintados com a boca ou com os pés. Nesse momento, ele
lembrou de mim. Foi marcada uma visita minha à empresa, e qual não foi minha
a surpresa, a Associação dos Artistas Pintores que Pintam com os Pés e com a
Boca, já estava me procurando. Fiz alguns trabalhos que foram mandados para
nossa sede em Liechtenstein, um país que fica entre a Áustria e os Alpes Suíços.
Com 18 anos fui aceito e até hoje sou artista desta associação e em março de 2000
passei a ser membro, o que significa fazer parte do conselho.
Quando entrei para a associação precisava ter mais conhecimento de pintu-
ra, mais técnicas, e a associação procurou várias escolas para me matricular e al-
gumas me rejeitaram pelo preconceito alegando que chamaria atenção dos alunos
e estes pagavam muito caro. Realmente, não precisei dessa escola, pois conheci
outras muito melhores e que me deram cursos gratuitos, pois como sou desinibido
pedia bolsa de estudo e ganhei algumas.
Quando tomei conhecimento do preconceito, isto foi fazendo com que eu
tivesse muito mais ousadia e quando fico sabendo de algum vou até o fim, pois
temos que ser respeitados, e, hoje, eu sou respeitados pela sociedade. Após esses
cursos, prestei vestibular para a área de propaganda, e entrei na Escola Superior
de Propaganda e Marketing. Foram 4 anos de dureza e luta. Digo isso, porque não
tinha dinheiro suficiente para pagar a escola, tomar ônibus e comer, pois estava
estagiando em um estúdio de Arte. Minha decisão foi pedir a um político uma
ajuda para continuar, e este me deu uma carta de apresentação à direção, e esta
me respondeu que ali aquele documento não tinha valor. Decidi pedir à direção
da faculdade na qual já estudava a bolsa para continuar e consegui. Fiz o mesmo
na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Pegar ônibus é uma luta muito grande,
pois não posso segurar com as mãos. O jeito é me apoiar nos outros, o melhor era
pegar o ônibus lotado, pois me apoiava nas pessoas.
Pintando bem melhor, obtive um aumento em meu salário-bolsa na asso-
ciação, e o meu sonho de ter meu primeiro carro estava chegando, já havia rascu-
nhado o desenho da peça, aí perguntei à mãe quanto tinha na poupança e decidi
comprar o carro. Minha mãe achou que era um loucura, pois como iria dirigir,
e eu disse com os pés, aí todos disseram: como? E provei, pedi a uma tornearia
que fizesse a peça e instalasse, toparam. A minha vontade de dirigir era tanta que
fiz um teste e consegui, ninguém queria andar comigo, pois tinham medo e me
achavam louco.
Preparei-me bem para a prova escrita e passei, o psicotécnico foi tranqüilo,
só no prático os médicos colocaram empecilhos, alegando que dava coceira nos
pés, que eles suavam e que não era seguro, e eu perguntei se a mão deles não sua-
va e se eles eram seguros de si. Bem, essa briga durou três anos. Aleguei que iria
dirigir mesmo sem habilitação e consegui depois de muita luta.
Fui rejeitado nas agências de propaganda, nunca tive um emprego.
Conheci uma pessoa muito profissional que resolveu me dar uma oportuni-
dade. Usei e abusei, conheci tudo sobre propaganda impressa e mídia.
Comecei a aprender serigrafia, mexer com acrílico e hoje tenho uma empre-
sa especializada em comunicação visual.
157
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Hoje, com 65 anos, Claudete leva uma vida normal, sempre com muitos
compromissos, porque participa de exposições, dá palestras e canta. Para ela, a
pintura representa um momento de terapia e alegria. “Para as pessoas que se quei-
xam muito da vida, que valorizem os seus corpos perfeitos, com todos os movi-
mentos. Assim poderão ver o mundo de forma diferente”.
Há uns quatro anos ela começou a participar da Associação de Pintores
com a Boca e os Pés. “Estou muito feliz em participar de uma associação tão
idônea”, comenta.
Claudete também fez aulas de canto aos 14 anos, é soprano ligeiro e já
gravou um CD chamado Amigos para Sempre. Ela conta que faz muitas apre-
sentações filantrópicas em creches, escolas e já cantou até em uma penitenci-
ária feminina.
Com o passar dos anos, fui melhorando cada vez mais. Foi quando apareceu
uma professora de Artes Plásticas para ser voluntária no Hospital das Clínicas
de São Paulo, seu nome é Úrsula. Demonstrei interesse em aprender a pintar em
tela.
Para nós duas, tudo era novidade, pois ela nunca havia dado aulas para defi-
cientes. Dessa forma, o ensinamento foi mútuo, pois ela me ensinava suas técnicas
de luz, sombras, pinceladas e eu a ensinava como prender os pincéis nas espátulas
de madeira, como posicionar o quadro da melhor forma. Descobrimos juntas ou-
tras posições para o quadro e assim fomos caminhando lado a lado.
Interessante é eu mesma ver o álbum onde tenho fotos desde a primeira tela,
até a última, pois a mudança é extrema. Porém, devo essa evolução na pintura à
professora Úrsula, voluntária do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Depois de um certo tempo pintando telas, apareceram duas moças encami-
nhadas pela voluntária Eleny, da capela evangélica do Hospital das Clínicas. Uma
dessas moças, chama-se Paola, e é representante da Associação dos Pintores com
a Boca e os Pés aqui no Brasil e estava acompanhada pela sua mãe.
Elas vieram numa tarde me visitar e, por sorte, nesse dia, a professora Úrsula
estava presente. Foram apresentando-se para nós e explicando o motivo da visita.
Paola explicou e mostrou os trabalhos dos Pintores com a Boca e os Pés e eu
pedi para a professora Úrsula pegar alguns quadros e o álbum que tenho com as
fotos de todos os quadros pintados com a boca.
Depois de mostrar todos os trabalhos de ambos os lados, Paola deixou
um formulário para que eu pudesse preencher com todos os meus dados e depois
eu teria que escolher seis quadros, que seriam enviados, junto com fotos minhas
em atividades e o formulário, para a Suíça, pois lá tem a sede da Associação dos
Pintores com a Boca e os Pés.
Jamais imaginei que, um dia, meus quadros sairiam do Brasil para serem
avaliados e aprovados, para serem mostrados ao mundo inteiro, pois foi aí que eu
descobri que realmente tinha o potencial para pintura. Percebi que isso era minha
verdadeira profissão, atividade para seguir em frente na vida.
Ao receber a resposta de que fui aprovada pela Associação dos Pintores com
a Boca e os Pés, fiquei muito contente e realizada, pois tive mais uma prova de que
Deus estava ao meu lado. Hoje, o dinheiro que recebo da associação é usado para
comprar materiais de pintura como: tintas, pincéis etc.
Apesar de trabalhar muito, também tenho meus amigos que vêm me visitar
sempre que podem. Mas tenho um amigo, que é mais do que um amigo, é um
verdadeiro irmão, seu nome é Paulo Henrique Machado.
Paulo tem 36 anos de idade, também teve paralisia infantil quando criança.
Vive 24 horas num aparelho respiratório, mas a doença foi menos radical com ele,
pois consegue mexer seus braços, o que é importante para fazer seus trabalhos
160
A Arte e a Educação Inclusiva: uma possibilidade real
Considerações finais
Ao analisar profundamente a importância da Arte para a Educação, pode-se
concluir que esta, além de atuar como facilitadora do processo de aprendizagem
e formadora de personalidades, mostra-se como geradora de opiniões, formando
indivíduos críticos e transformadores de sua realidade social.
Pensar que pessoas com deficiência possam atingir este objetivo é supor
que existe um sujeito de desejos e opiniões próprias, não mais sujeitos que pre-
cisam reabilitar-se para poder não só usufruir como produzir os benefícios que
sua comunidade oferece, pois lhe foi dado o direito de participar desta sociedade
sem precisar preparar-se para ela como supõe o paradigma antigo da Educação
Especial.
Os objetivos da Arte Educação vêm sendo alcançados na Escola Ecumê-
nica, à medida que todos (equipe e alunos) sentem-se envolvidos com projetos e
atividades propostas, somando resultados no desenvolvimento pessoal e profissio-
nal, com um ambiente artístico cada vez mais favorável.
Nestes 30 anos, a Escola Ecumênica destaca-se no cenário da Educação
Especial pela trajetória percorrida em busca de uma identidade que hoje se apre-
senta por meio de uma proposta educacional criativa e comprometida com o de-
senvolvimento global da pessoa com deficiência mental, sua clientela específica,
buscando o aperfeiçoamento constante e tendo a Arte como base norteadora nesse
processo.
161
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
162
A atividade
motora adaptada
Ruth Eugênia Cidade
A
tualmente, a atividade física e esportiva para pessoas com deficiência1 tem
sido conduzida em três perspectivas: a primeira encara a prática da ativi-
dade motora na perspectiva educacional e acontece (quando acontece) no
âmbito da escola; a segunda encara a atividade motora na perspectiva do lazer; e
a terceira na perspectiva do esporte de alto rendimento.
Estaremos abordando neste texto a Educação Física Adaptada (ou atividade
motora adaptada) de forma geral e, posteriormente, abordaremos o paradesporto
(ou esporte adaptado) buscando divulgar e enfatizar as possibilidades motoras das
pessoas com alguma deficiência.
Conteúdo e metodologia da
Educação Física Adaptada
Segundo Pedrinelli (1994, p. 69), “todo o programa deve conter desafios a
todos os alunos, permitir a participação de todos, respeitar suas limitações, pro-
mover autonomia e enfatizar o potencial no domínio motor”. A autora coloca que
o educador pode selecionar a atividade em função do comprometimento motor,
idade cronológica e desenvolvimento intelectual.
Bueno e Resa (1995) propõem um programa baseado nos seguintes conteúdos:
1. esquema corporal e lateralidade;
2. coordenação;
3. equilíbrio;
4. organização espaço-temporal;
5. qualidades físicas básicas;
6. socialização.
Todas as atividades devem considerar as potencialidades e limitações do
portador de deficiência bem como devem ser realizadas de maneira constante,
progressiva e regular.
164
A atividade motora adaptada
166
A atividade motora adaptada
espasmos, virar gentilmente a cabeça para um lado, para que a saliva caia da
boca e não seja levada para os pulmões quando respirar. Quando a crise aca-
bar, a pessoa poderá ficar sonolenta e confusa. Deixar que durma (WERNER,
1994). Nos casos de ausência há uma parada das atividades, o olhar fica vago
e não responde se lhe falamos, pode pestanejar. Poucos minutos depois retoma
a atividade sem se dar conta.
Conhecendo o educando, o professor poderá adequar a metodologia a ser
adotada, levando em consideração:
em que grupo de educandos haverá maior facilidade para a aprendiza-
gem e o desenvolvimento de todos;
por quanto tempo o aluno pode permanecer atento às tarefas solicitadas,
para que se possa adequar as atividades às suas possibilidades;
os interesses e necessidades do educando em relação às atividades pro-
postas;
a avaliação constante do programa de atividades possibilitará as adequa-
ções necessárias, considerando as possibilidades e capacidades dos alu-
nos, sempre em relação aos conteúdos e objetivos da Educação Física.
Segundo Bueno e Resa (1995), tais adequações envolvem:
adaptação de material e sua organização na aula: tempo disponível, espa-
ço e recursos materiais;
adaptação no programa: planejamento, atividades e avaliação;
aplicar uma metodologia adequada à compreensão dos educandos, usan-
do estratégias e recursos que despertem neles o interesse e a motivação,
por meio de exemplos concretos, incentivando a expressão e a criativi-
dade;
adaptações de objetivos e conteúdos: adequação de objetivos e conteú-
dos quando for necessário, em função das necessidades educativas, dar
prioridade a conteúdos e objetivos próprios, definindo mínimos e intro-
duzindo novos quando for preciso.
As considerações acima levam em conta a remoção das barreiras para a
aprendizagem (CARVALHO, 1998), colocando o educando como o centro das
preocupações e interesses do professor.
Conhecendo o paradesporto
(ou desporto adaptado)
O esporte para deficientes foi lançado no início do século XX e pode ser
identificado, inicialmente, por meio de eventos isolados. Em 1918, na Alemanha,
durante a Primeira Grande Guerra, um grupo de sobreviventes lesionados reuniu-
se para praticar esporte. Há registros de que em 1932, surgiu, na Inglaterra, a As-
167
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
168
A atividade motora adaptada
pação de atletas com outros tipos de deficiência que não só a de lesão medular
e, em 1976, no Canadá, os jogos ficaram conhecidos como The Olympiad for
the Physical Disable (A Olimpíada dos Deficientes Físicos). Esse termo, porém,
nunca foi aceito pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Nos Jogos de 1984,
oito anos mais tarde, o COI concordou e aprovou a proposta de Robert Jackson,
então presidente do ISMG (International Stoke Mandeville Games), de que a
denominação fosse Paralympics.
O termo Paraolimpíadas foi originalmente utilizado por uma paraplégica,
Alice Hunter, paciente do hospital de Stoke Mandeville, que escreveu para a
revista The Cord Journal of the Paraplegics um artigo intitulado Alice at the
Paralympiad (Alice nas Paraolimpíadas), descrevendo sua história no esporte.
De acordo com Paralympic Spirit(1996), o termo para refere-se à paraplegia.
Em fevereiro de 1985, o Comitê Coordenador Internacional (ICC) aceitou os
termos do COI e concordou em substituir o termo Olympics Games for the
Disabled – Jogos Olímpicos para Deficientes – por Paralympics Games – Jogos
Paraolímpicos. (Guttmann, 1976).
Desde 1960, em Roma, acontecem oficialmente os Jogos Paraolímpicos de
verão na mesma época e na mesma cidade que os Jogos Olímpicos. Em 1964,
eles aconteceram em Tóquio (Japão); em 1968, em Tel Aviv (Israel); em 1972, em
Heidelberg (Alemanha); em 1976, em Toronto (Canadá); em 1980, em Arnhem
(Holanda); em 1984, em Stoke Mandeville (Inglaterra) – para deficientes físicos –
e no município de Nassau – NY (Estados Unidos); em 1988, em Seul (Coréia); em
1992, em Barcelona (Espanha). Foi escolhida para sediar, em 1996, a 10.ª edição
dos Jogos Paraolímpicos a cidade de Atlanta – GA (Estados Unidos) e as Parao-
limpíadas do ano de 2000 foram na cidade de Sydney (Austrália). Os Jogos Para-
olímpicos de 2004 foram realizados em Atenas (Grécia) (DePauw; Gavron,
1995; de 45 aos..., 1988; Toque a Toque, 1988; Cidade; Freitas, 2002).
Quanto às modalidades esportivas das Paraolimpíadas, o Comitê Paraolím-
pico Internacional atualmente oferece 20 esportes de verão e 6 de inverno. A
maioria dos esportes e eventos paraolímpicos são modificações, adaptações dos
esportes e eventos olímpicos, com normas de classificação que permitem o de-
senvolvimento das capacidades funcionais de cada atleta. Entretanto, na maioria
dos esportes, participam atletas de todos os tipos de deficiência (competindo entre
seu grupo). Alguns esportes, como o judô e goalball, são oferecidos apenas para
deficientes visuais (Cidade; Freitas, 2002).
As modalidades esportivas de verão, praticadas pelos atletas deficientes (em
Paraolimpíadas), são: arco e flecha, atletismo, basquetebol ID (intelectual disa-
ble), basquetebol sobre rodas, bocha, ciclismo, hipismo, esgrima, halterofilismo,
futebol, goalball, judô, rugby em cadeira de rodas, iatismo, natação, tiro, tênis de
mesa, tênis em cadeira de rodas e voleibol.
Estão enumeradas, a seguir, as modalidades esportivas de verão, praticadas
pelos deficientes:
Arco e flecha: tem sido praticado desde 1948. A competição é aberta a
atletas com paralisia cerebral, amputados e usuários de cadeira de rodas,
169
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
170
A atividade motora adaptada
171
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
O paradesporto no Brasil
No final dos anos 50, chegou ao Brasil a prática desportiva entre portadores
de deficiência, pelas mãos de Robson Sampaio de Almeida e de Sérgio Del Grande,
portadores de paraplegia. Ao retornarem dos EUA após reabilitação, em 1958, tendo
tomado contato com o esporte para deficientes nos hospitais em que se reabilitaram,
trouxeram a idéia para o Brasil. Em São Paulo, Del Grande fundou o clube dos
Paraplégicos, em 23 de julho de 1958, enquanto Robson Sampaio fundou, em 1.º
de abril de 1958, o Clube do Otimismo, no Rio de Janeiro. Formaram-se, assim, as
duas equipes esportivas pioneiras de basquetebol sobre rodas do Brasil (Mattos,
1990).
O primeiro jogo de basquetebol em cadeira de rodas foi realizado no Ma-
racanãzinho, Rio de Janeiro, entre as equipes paulista e carioca. A partir de en-
172
A atividade motora adaptada
173
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
A organização do paradesporto
O esporte para deficientes não é apenas uma atividade realizada por volun-
tários sem um objetivo específico. Existem, hoje, estudos, pesquisas e, principal-
mente, profissionais competentes para atuarem nessa nova área. Ao observarmos
as Paraolimpíadas de Sydney, vemos que o desporto para deficientes cresceu no
mundo, inspirando as pesquisas sobre fisiologia do exercício, doping, órteses e
próteses esportivas, regras, técnicas, sistemas de treinamento e muitos outros te-
mas correlatos.
Entretanto, apesar dessa evolução internacional, no âmbito nacional, ain-
da carecemos de informações, bibliografia, capacitação de recursos humanos,
estudos e pesquisas. Além de atletas, precisamos de pesquisas objetivas, infor-
mações concisas e disseminação do conhecimento entre as entidades esportivas
de deficientes, universidades, pesquisadores, técnicos e atletas. Uma verdadeira
rede de relações.
A configuração internacional se compõe a partir das Organizações Interna-
cionais de Esporte para Pessoas Deficientes (International Organization of Sport
for People with Disabilities – IOSDs), que estão filiadas ao Comitê Paraolímpico
Internacional (International Paraolympic Committee – IPC).
As organizações internacionais estão estruturadas por grupos de deficiên-
cia com características semelhantes e não por modalidades esportivas, como no
desporto em geral.
Comité International Segundo VARELA (1991), a CISS foi fundada no dia 15 de
Des Sports Des Sourds agosto de 1924, em Paris. É a associação desportiva internacional
– CISS mais antiga no desporto para deficientes. Os primeiros jogos
internacionais aconteceram em Paris, em 1924, e os últimos em
1994, em Sofia (Bulgária). A CISS é membro do IPC e é filiada
Comitê Paraolímpico Internacional
174
A atividade motora adaptada
175
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
176
A atividade motora adaptada
Considerações finais
Foi possível, ao longo desse texto, traçar um panorama geral da Educação
Física Adaptada (ou Atividade Motora Adaptada) e conhecermos uma de suas
manifestações mais expressivas, o paradesporto.
Finalmente, é preciso incentivar a prática de atividade física e do esporte
para pessoas com deficiência, seja qual for o seu objetivo. Seja para o lazer ou para
seguir no esporte de alto rendimento, sendo necessário divulgação e incentivo
quanto aos reais benefícios que podem trazer.
As perguntas a seguir referem-se aos principais tópicos vistos no texto. Podem ajudá-lo a estudar e
rever o conteúdo apresentado. Ao respondê-las, você estará analisando e sintetizando as idéias ex-
postas.
177
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
2. Quais cuidados (implicações pedagógicas) devem ser considerados na prática da atividade mo-
tora adaptada para deficientes?
178
Inclusão no escotismo
Fernando B. Monte-Serrat
N
esta aula, vamos considerar uma possibilidade educacional importante para as crianças e
jovens portadores de necessidades especiais. Trata-se do Movimento Escoteiro, o maior mo-
vimento de educação não-formal para crianças e jovens de todo o mundo – atualmente com
mais de 28 milhões de membros ativos. Por se tratar de um programa amplo de inclusão, que envolve
grande número de necessidades especiais, não falaremos especificamente de etiologia, prevenção e
tratamento, mas do processo de inclusão propriamente dito. Como testemunho dos benefícios dessa
ação, vamos ver o caso do Márcio, portador de síndrome de Down, que foi membro juvenil no esco-
tismo e agora trabalha com os jovens como adulto voluntário.
Integração ou inclusão?
Tanto a integração quanto a inclusão constituem formas de inserção social das pessoas com
deficiência. Mas a prática da integração – definida mais claramente nas décadas de 1960 e 70 – era ba-
seada no “modelo médico”, cuja proposta visa a modificar (habilitar, reabilitar, educar) a pessoa com
deficiência, para torná-la apta a satisfazer os padrões aceitos no meio social (familiar, escolar, profis-
sional, recreativo, ambiental). Já a prática da inclusão, que iniciou na década de 80 e se consolidou nos
anos 90, vem seguindo o “modelo social”, segundo o qual a nossa tarefa é modificar a sociedade para
torná-la capaz de acolher todas as pessoas que, uma vez incluídas nessa sociedade em modificação,
poderão ser atendidas em suas necessidades comuns e/ou especiais.
Integrar significa adaptar-se, acomodar-se, incorporar-se. Não é a melhor palavra porque se
presume sempre que se trata da reunião de grupos diferentes. Reflete sempre uma ação do portador
de deficiência para tentar adaptar-se, incorporar-se, acomodar-se. O mesmo não ocorre com a in-
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
clusão. Incluir significa envolver, fazer parte, pertencer. Representa uma ação da
sociedade que vem envolver parte dessa mesma sociedade que está excluída por
falta de condições adequadas. Significa trazer para dentro de um conjunto alguém
que já faz parte dele.
Não se trata de uma mera troca de verbos, mas de um novo olhar sobre
o portador de necessidades especiais como sendo alguém que cabe no “nós”,
no “todos”. No momento em que alcançarmos esse progresso, esse grau de de-
senvolvimento humano, a naturalidade diante da diversidade, do preconceito e
da segregação será uma realidade. No momento ainda em que alcançarmos a
verdadeira inclusão, o fato de uma pessoa sofrer um acidente e transformar-se
num portador de necessidades especiais significará apenas que suas aptidões
mudaram e que ela deve adequar-se a uma nova condição de vida, também re-
pleta de oportunidades.
Podemos resumir da seguinte maneira:
Integração = inserção do portador de necessidades especiais devidamente
preparado para conviver na sociedade;
Inclusão = modificação da sociedade como pré-requisito para o portador de
necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania.
Escotismo e educação
O Escotismo é um movimento de educação não-formal para jovens, iniciado
em 1907 na Inglaterra, contando atualmente com mais de 28 milhões de mem-
bros ativos em mais de 150 países. Apesar de ter quase um século de existência,
o método escoteiro tem provado sua eficácia na formação de jovens de ambos os
sexos, ajudando-os a desenvolver um caráter reto e com elevados valores morais e
espirituais. No Brasil, atualmente, são aproximadamente 60 mil crianças e jovens
de ambos os sexos, acompanhados por, aproximadamente, 10 mil adultos voluntá-
rios, capacitados em cursos de formação para a função que exercem.
O Escotismo é representado no Brasil pela União dos Escoteiros do Brasil
(UEB), entidade filiada à Organização Mundial do Movimento Escoteiro, com
sede na Suíça.
O propósito do Movimento Escoteiro é contribuir para que os jovens assu-
mam seu próprio desenvolvimento, especialmente do caráter, ajudando-os a reali-
zar suas plenas potencialidades físicas, intelectuais, sociais, afetivas e espirituais,
como cidadãos responsáveis, participantes em suas comunidades, podendo, as-
sim, contribuir para o desenvolvimento de um mundo melhor.
Os membros do escotismo estão comprometidos com os princípios do Mo-
vimento Escoteiro – com seus valores – que formam a base do código de ética que
governa o movimento como um todo e um código de honra pessoal ao qual cada
membro adere – Promessa e Lei escoteiras.
O método educativo do Movimento Escoteiro é um sistema de auto-edu-
cação progressiva, com o objetivo de que os jovens assumam seu próprio de-
180
Inclusão no escotismo
Sistema Marcos
de Equipes simbólicos
Apoio
Natureza
dos adultos
Método Escoteiro.
181
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Um paralelo entre o
Método Educacional Escoteiro
e a visão pedagógica de Vygotsky
Os fundamentos do escotismo encontram consonância na teoria histórico-cultural de
Vygotsky. De fato, o interesse de Vygotsky pela psicologia acadêmica começou a se de-
linear a partir de seu contato, no trabalho de formação de professores, com os problemas
de crianças com defeitos congênitos, tais como: cegueira, retardo mental severo, afasia
etc. Essa experiência, que o estimulou a encontrar alternativas que pudessem ajudar o de-
senvolvimento de crianças portadoras dessas deficiências (tema a que se dedicou durante
vários anos), tinha não somente o objetivo de contribuir na reabilitação das crianças, mas
também significava uma excelente oportunidade de compreensão dos processos mentais
humanos, assunto que viria a ser o centro de seu projeto de pesquisa. É importante lem-
brar que Vygotsky criou, na Rússia, o Instituto da Deficiência (entidade de excelência até
hoje existente na cidade de Moscou), com o objetivo de estudar o desenvolvimento de
crianças deficientes e também escreveu um trabalho intitulado: Problemas da Educação
de Crianças Cegas, Surdo-mudas e Retardadas. (REGO, 2000)
182
Inclusão no escotismo
das aquisições do seu desenvolvimento individual. Por isso, Vygotsky afirma que
“aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvi-
mento real amanhã – ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência
hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã”.
A conquista de objetivos educacionais por faixa etária, também encontra
eco na perspectiva pedagógica vygotskiana, quando ele afirma que
Cada sistema educacional tem seus próprios fins, inclusive cada período da educação
pode ter os seus, e independentemente da expressão que possam ter sempre irão formar
certos aspectos e o caráter do comportamento que a educação quer desencadear para a
vida. Só esses fins da educação podem ter significado real na escolha e na orientação
do processo educacional, pois só eles podem oferecer regras para a seleção dos efeitos
educacionais necessários e sua correta combinação em sistema pedagógico harmonioso.
(VYGOTSKY, 2001, p. 63-65)
Escotismo e inclusão
Os jovens devem ser os principais agentes de seu próprio desenvolvimento,
mesmo aqueles com incapacidades, e o Movimento Escoteiro deve oferecer-lhes
– assim como faz aos demais jovens – plenas oportunidades para o envolvimento
e a participação.
Embora o conceito e a prática universal da inclusão sejam muito recentes,
os mesmos já eram preconizados pelo Movimento Escoteiro praticamente desde
sua fundação. Em 1920, o fundador do Escotismo afirmava que a intenção era es-
pecialmente ajudar o mais fraco a não sentir suas fraquezas e a ganhar esperança
e força. Já em 1919, em seu livro Aids to Scoutmastership, Baden-Powell afirma:
“Por toda parte, no Escotismo, há inúmeros meninos aleijados, surdos-mudos e
cegos que agora estão ganhando mais saúde, alegria e esperança do que tinham
antes” (1919, p. 54). Ele percebeu que algumas adaptações se faziam necessárias
para receber os jovens especiais, mas advertia que se deve evitar a superproteção
ou paternalismo, e enfatizava a regra geral da educação: ajudá-los a tornarem-se
autônomos o máximo possível e a adquirirem auto-estima. “O Escotismo os aju-
da unindo-os a uma fraternidade mundial, dando-lhes algo que fazer e pelo que
esperar, oferecendo-lhes uma oportunidade de provar a si mesmos e aos outros que
eles podem fazer coisas por si mesmos – e coisas difíceis também” (1919, p. 54).
Alguns Grupos Escoteiros, em diversos Estados do país, têm recebido isola-
damente crianças ou jovens portadores de necessidades especiais, principalmente
parentes de membros do Movimento Escoteiro. Contando com a boa vontade dos
adultos voluntários, e dos membros juvenis, esses meninos e meninas são recebi-
dos com entusiasmo, mas logo tanto os adultos como os jovens sentem o peso da
falta de conhecimento para lidar com essas pessoas especiais. Em parcela desses
casos, a falta de conhecimento das deficiências – sua etiologia, manifestações,
limitações e possibilidades de tratamento – assim como a falta de preparo e apoio
institucional resultam em desânimo de ambas as partes e a conseqüente cessação
das ações.
Para suprir essa carência, a União dos Escoteiros do Brasil (UEB) está im-
plantando o Programa Escotismo para Todos, o qual reconhece que o Programa de
183
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Considerações adicionais
A participação dos pais é mais que bem-vinda, pois estes, além de conhecer
a fundo o problema do filho, têm enfrentado, vencido ou desenvolvido estratégias
que funcionam no âmbito familiar no que se refere às necessidades especiais de
seu filho. Sem dúvida, os pais têm muito a acrescentar em experiência, sendo sua
presença mais um fator de segurança emocional para a criança.
Acolhimento por parte dos jovens – Não importando quão entusiasmados
estejam os pais e os escotistas, o sucesso ou fracasso da inclusão de uma criança
com necessidades especiais dependerá muito da atitude dos jovens que já per-
tencem ao grupo. É importante envolvê-los ativamente no planejamento e nas
tomadas de decisão.
Parcerias – Os Grupos Escoteiros também são encorajados a desenvolver
parcerias com entidades de assistência a crianças portadoras de necessidades
especiais. Muitas dessas organizações podem ajudar no desenvolvimento e pu-
blicação de material de apoio aos escoteiros portadores de necessidades espe-
ciais e aos escotistas que os acompanham, como literatura, peças audiovisuais e
guias em Braile. Nessas organizações também encontram-se pessoas dispostas
a ingressar no Movimento Escoteiro, como voluntários, com o fim de ajudar no
trabalho de inclusão.
184
Inclusão no escotismo
185
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Caso de sucesso
Como confirmação da possibilidade e dos benefícios da inclusão no Movi-
mento Escoteiro, veremos o caso do Márcio. Márcio nasceu em 1963, na cidade
de Espírito Santo do Pinhal, estado de São Paulo, com Síndrome de Down. Tem
um irmão quatro anos mais velho sem qualquer disfunção orgânica. Dois meses
depois que Márcio nasceu, sua família mudou-se para os Estados Unidos por mo-
tivos de estudos. Lá, os pais de Márcio foram muito ajudados quanto aos cuidados
que deveriam ter com a criança, que foi adequadamente atendida em uma escola
maternal. Para desenvolver todo seu potencial, a pessoa com Síndrome de Down
necessita de um trabalho de estimulação desde seu nascimento, sendo parte do
universo da diversidade humana e tendo muito a contribuir com sua forma de ser
e sentir para o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva.
A família voltou para o Brasil quando Márcio tinha quatro anos e meio de
idade e estabeleceu residência na cidade de São Paulo, onde ele freqüentou uma
escola maternal durante seis meses, sendo admitido no Centro Ocupacional Ava-
nhandava – centro de habilitação para crianças e jovens portadores de deficiência
mental, que atuou na área, com reconhecida competência, por mais de trinta anos.
No Avanhandava, Márcio iniciou sua alfabetização, mais lenta, mas seguindo as
mesmas etapas que o das outras crianças.
Aos quinze anos, Márcio começa a desenvolver atividades de trabalho ocu-
pacional no Centro Ocupacional Avanhandava, sendo depois admitido na Asso-
ciação para Desenvolvimento, Educação e Recuperação do Excepcional – Adere
(entidade filantrópica que, desde 1972, atende pessoas portadoras de deficiência
mental jovens, adultas e idosas) na cidade de São Paulo, onde continuou a ser esti-
mulado na área ocupacional. Com o objetivo de capacitar essas pessoas especiais
– aprendizes –, permitindo sua integração tanto no meio institucional quanto no
meio social, a Adere desenvolve programas de capacitação para o trabalho e ativi-
dades de caráter sócio-esportivo-cultural. Os aprendizes se envolvem em oficinas
de tecelagem, papelaria, reciclagem de papel, cipó, prestação de serviços de mão-
de-obra para terceiros e, também, em atividades terapêuticas, constituídas por
teatro, artes, música, atualização cultural, informática, condicionamento físico e
treinamento esportivo.
O pai de Márcio falece em 1984 e, três anos depois, Dona Gudi, mãe de Már-
cio, volta com seus dois filhos para sua cidade natal, Espírito Santo do Pinhal. Nes-
sa cidade, Márcio freqüenta a Apae pelo período de dois anos, aproximadamente.
Em 1990, Márcio é convidado a visitar o Grupo Escoteiro Romualdo de
Souza Brito, que funcionava naquela cidade, e recebe uma acolhida carinhosa
por parte de todos os integrantes. A despeito da sua idade cronológica, Márcio
é recebido na Tropa Escoteira, que reúne jovens de 11 a 14 anos. Os escoteiros
aprendem a conviver com as diferenças e a vencer os preconceitos. Márcio sente-
se acolhido e fortalecido emocionalmente, tendo a oportunidade de desenvolver
habilidades manuais com o aprendizado de nós e amarras, entre outros. O Esco-
tismo desempenhou um papel importante na socialização e no desenvolvimento
psico-social de Márcio.
186
Inclusão no escotismo
187
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Símbolo Oficial.
O autor.
188
Brincar, diversidade
e inclusão
Mário Sérgio Vasconcelos
Gisele Gonçalves Melles de Oliveira
E
m 1987, o poeta paranaense Paulo Leminski ao participar, em Brasília, de um
seminário sobre Os sentidos da paixão, detectou uma epidemia de “paixão”
no Brasil. Descobriu que livros tinham paixão no nome, o filme brasileiro
mais badalado do momento tinha o título Além da Paixão1, a Fundação Nacional
de Arte (Funart) promovia eventos culturais sobre paixão, canais de televisões
educativas faziam debates sobre paixão, enfim, a paixão estava na moda. Porém,
ao escrever sobre o assunto disse que não era a paixão que estava na moda, mas
sim a palavra paixão, porque, em seu olhar, estávamos vivendo uma época desa-
paixonada. Dizia que andávamos à procura da paixão, mas que quando procura-
mos demasiadamente algo é porque está em falta ou está do avesso.
Penso que com a inclusão social está se passando algo semelhante. Começa-
mos a falar de inclusão, porque a inclusão andava e anda meio sumida. Mas o seu
avesso está muito presente. Por isso, pensar em inclusão social necessariamente
nos remete ao seu avesso: a exclusão.
A exclusão, em sua mais variada forma, muitas vezes aparece camuflada e se
traduz em sentimentos e ações de pessoas sobre outras que, sob o argumento de de-
fender a liberdade e direitos iguais, produzem atos que vão do preconceito à indife-
rença. Com certeza, todos nós já ouvimos falar de situações históricas injustas que
marcaram a exclusão de índios, negros, mulheres, velhos, homossexuais, crianças,
pobres e andarilhos etc. Quem não se lembra dos massacres indígenas festejados
nos filmes norte-americanos de bang-bang nos quais, inevitavelmente, o “moci-
nho” era branco e o “bandido”, índio? E no Brasil, quantas crianças perambulam
miseravelmente pelas ruas das cidades, observados por olhares desconfiados, sob o
estigma da delinqüência do pobre, como se tivessem nascido trombadinhas?
Sabemos que a exclusão é uma produção social e que, atualmente, a maioria
das sociedades passa por um momento singular, na qual, em vários setores, as
mudanças são muitas e muito rápidas e que novas formas de exclusão continu-
am se configurando. Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos têm produ-
zido progressos espetaculares mas, contraditoriamente, promovem a exclusão de
milhares de pessoas do mercado de trabalho por não terem acesso, por exemplo,
ao mundo da informática. As mudanças são tantas que hoje vivemos, não uma
época de mudanças, mas uma mudança de época2. Estamos no terceiro milênio,
globalizados e vivemos numa sociedade de mercado em frenética busca da mo- 1 Filme de Bruno Barreto.
A exclusão na escola
No âmbito escolar, a exclusão tem suas configurações históricas bem deline-
adas. Praticamente em quase toda a história da civilização, a educação traçou um
perfil voltado para a elite. Tal tendência se traduz em práticas institucionais que
têm provocado dificuldades de acesso dos mais pobres às escolas e/ou produzido
o fracasso escolar para um grande número de crianças. Em 2002, as estatísticas da
Unesco apontavam que, em todo o mundo, 125 milhões de crianças estavam fora
da escola e 150 milhões abandonavam a escola antes de aprender a ler e a escrever.
Como efeito do desprezo às minorias, nos países em desenvolvimento apenas 1%
dos deficientes físicos freqüentam algum tipo de escola.
No Brasil, somos 170 milhões de pessoas dos quais 32 milhões não dominam
a leitura e a escrita e milhares vivem longe dos pré-requisitos básicos para uma
vida digna. Seguindo a tendência de outras áreas, no campo educacional, pessoas
e instituições também têm se empenhado em denunciar e agir contra as discrimi-
nações e injustiças. Nesse sentido, criamos, em 1990, o Estatuto dos Direitos da
Criança e do Adolescente. Alguns programas anunciam que o lugar da criança é
na escola e novas vertentes de análise e intervenção surgem a cada dia. Reflexões
sobre a produção do fracasso escolar estão dirigidas para a superação das teorias
que afirmam que as crianças não aprendem porque são deficitárias ou porque vêm
de populações culturalmente carentes (PATTO, 1990). Desse modo, desvelam-se
mecanismos escolares que alimentam preconceitos, dificultam a aprendizagem
das crianças e “expulsam” os alunos das escolas. Enfim, para muitos, a exclusão
tem aparecido como algo a ser erradicado e a diversidade e a diferença começam
a se constituírem em motivos de organização de uma realidade escolar inclusiva.
Desse modo, o trabalho em sala passa a considerar as diferenças como aspecto
positivo para a construção coletiva do conhecimento. Os diferentes se auxiliam
190
Brincar, diversidade e inclusão
para produzir o saber. Como afirma Robert Barth, temos que inaugurar um novo
momento no qual “as diferenças representem grandes oportunidades de aprendi-
zado. O que é mais importante nas pessoas – e nas escolas – é o que é diferente,
não o que é igual” (BARTH, 1990, p. 514-515).
As formas de exclusão
Existem várias formas de exclusão presentes nas escolas. Algumas de im-
pacto imediato, outras de ação “sorrateira”. Sem dúvida, os efeitos mais visíveis
dos mecanismos de exclusão são a presença de grande número de alunos com
dificuldades de aprendizagem e o abandono da escola. Porém, nem sempre, tais
mecanismos são manifestos e assumidos como produções da instituição escolar.
Em nossas pesquisas com professores do Ensino Fundamental (VASCONCELOS,
2003), pudemos observar que o preconceito quanto a crianças pobres e negras,
o desconhecimento dos conteúdos escolares, o desprezo a princípios básicos do
desenvolvimento humano, a consideração da criança como passiva no processo de
construção do conhecimento e a presença sistemática de programas com conteú-
dos totalmente desvinculados das experiências e interesse dos alunos são fatores
que, direta ou indiretamente, fazem com que as crianças construam valores nega-
tivos em relação à escola. Portanto, são também fatores de exclusão escolar.
Por outro lado, quando entrevistamos os alunos, os dados indicam que al-
gumas modalidades de ações e comportamentos sempre são consideradas valores
positivos. Entre elas, se destacam as brincadeiras e os jogos. Há muito tempo
sabemos que o brincar promove a construção de conhecimentos. Assim, cabem
aqui indagações: por que o brincar não é valorizado pela instituição escolar? O
brincar não é gerador de conhecimento? Se o brincar, em suas várias dimensões,
é produtor de conhecimentos, não é também fator de inclusão escolar? Enquanto
educadores, que relevância devemos dar ao brincar no plano pedagógico?
A valorização do brincar
O brincar é quase sempre considerado pela escola apenas como lazer e pas-
satempo. Mas brincadeira é coisa séria, pois é um espaço privilegiado de de-
senvolvimento e aprendizagem; isso a torna inclusiva em sua constituição. Além
disso, produz conhecimento; tornando-a fator de inclusão. Por esses motivos é
preciso resgatá-la.
Segundo Ariès (1975), apesar do brincar ter sofrido alterações históricas
em sua forma e conteúdo e de ocupar mais ou menos tempo na vida das crianças
conforme a cultura em que vivem, houve, a partir do século XIX, o reconheci-
mento por parte de pesquisadores e educadores, de que as brincadeiras ocupa-
vam um papel importante na vida das crianças. Desse modo, algumas investi-
gações passaram a valorizar o caráter espontâneo do brincar (HUIZINGA,1939;
GROOS,1976). Outras preocuparam-se em demonstrar que o brincar é muito mais
que um simples passatempo e que os aspectos que compõem o brincar são consti-
tuintes do processo de desenvolvimento humano e da aprendizagem.
191
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
192
Brincar, diversidade e inclusão
tentará agir com a segunda bicicleta da mesma maneira como fazia com a primeira e não
obterá sucesso. Procurando se adaptar tentará solucionar a situação nova com base nas
estruturas antigas. Este processo será ineficiente, pois estas estruturas são inadequadas
e insuficientes para essa nova situação. A garota tentará, então, novas maneiras de agir,
levando agora em consideração as propriedades específicas da nova bicicleta. Isto é, a ga-
rota com sua ação irá modificar suas estruturas e seu conhecimento para poder dominar a
novidade. (RAPPAPORT, 1981, p.81)
195
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
197
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
198
Brincar, diversidade e inclusão
um universo de fantasia. Afinal, o que importa não é o objeto em si, mas o que a
criança cria a partir dos objetos.
Prosseguimos. Disponibilizamos uma variedade de sucatas no centro da
sala. Apresentamos o “sucatário” e as classificamos como sugere Weiss (1999):
Sucata natural, ou realia, que, como o próprio nome indica, constituí-se
de sementes, pedras, conchas, folhas, penas, galhos, pedaços de madeira,
areia, terra etc.
Sucata industrializada, que inclui todos os tipos de embalagens, copos
plásticos, chapas metálicas, tecidos, papéis, papelão, isopor, caixa de
ovos etc.
Sugerimos que o material fosse explorado pelos professores e professoras.
Convidamos os professores para brincar utilizando a sucata, criando brinquedos,
inventando, imaginando. Além da sucata, oferecemos alguns recursos como: cola,
fita crepe e tinta guache para auxiliar a elaboração dos brinquedos. Cada um es-
colhe o que vai usar, acha “seu canto”. Buscam espaço e tempo necessários para
brincar. Assim, caminhamos para diferentes e originais resultados.
Marlene, professora do Jardim II, comenta: “Estou me sentindo uma cata-
dora! Isto é lixo!”
Realmente é. A sucata “é qualquer coisa que perdeu seu uso original, que
se quebrou, que não serve mais ou que não tem mais significado” (MACHADO,
2001, p. 67). É preciso incluí-la, em novo significado.
Marília, professora da Pré-escola, faz de uma caixa de pasta de dente e al-
gumas tampinhas de garrafas, uma camionete.
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Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
200
Brincar, diversidade e inclusão
201
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
202
A Cinoterapia
na inclusão social
Laiz Beerends
A
Cinoterapia é uma terapia inovadora que tem como diferencial a utilização de cães como
facilitadores do processo terapêutico. Com a inclusão escolar cada dia mais em voga, é im-
portante destacarmos que a Cinoterapia abre espaço para a socialização e inclusão da criança
com necessidades educativas especiais. Os cães que fazem parte desse processo são especialmente
treinados e recebem todos os cuidados para garantir a segurança do terapeuta e dos pacientes.
204
A Cinoterapia na inclusão social
Autismo
Autismo é um distúrbio que afeta a capacidade da pessoa de estabelecer O que é
relacionamentos e responder apropriadamente ao ambiente. Algumas crianças,
autismo?
apesar de ter a integração comprometida, apresentam inteligência e fala intactas.
Outras podem apresentar retardo mental, mutismo ou importantes retardos no
desenvolvimento da linguagem. Normalmente, apresentam dificuldade de comu-
nicação, mostrando-se fechados e distantes. É bastante comum mostrarem-se pre-
sos a comportamentos restritos e rígidos padrões de comportamento.
Manifestações sociais
O autismo pode se manifestar logo cedo, fazendo com que reações comuns
aos bebês, como estabelecer um contato visual, agarrar um dedo, olhar na direção
de onde vem uma voz, copiar expressões, não aconteça. Olhar nos olhos, uma das
primeiras formas de estabelecimento de contato para uma integração afetiva, em
se tratando de autista é algo que precisa de muito trabalho e dedicação dos envol-
vidos, pois a mais simples troca de afeto é muito rara.
Acredita-se que as crianças com autismo levam mais tempo para aprender
as relações sociais, o que os outros sentem ou pensam, coisas simples como, por
exemplo, saber se uma pessoa com a qual convive está satisfeita através de um
sorriso ou pela sua expressão ou gesticulação. Normalmente, o autista é levado a
corresponder socialmente por condicionamento.
As manifestações de afeto são ignoradas e um simples abraço é somente
permitido, podendo até ser correspondido, mas somente de forma reflexa. O au-
205
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Casos de sucesso
Falar sobre um caso de inclusão, isolando uma criança, um método ou mes-
mo exemplificar pela visão unidirecional do “incluso”, é esquecer que quando
falamos em inclusão estamos tratando de uma rua de duas vias: a criança a ser
incluída e as crianças envolvidas no processo. Porém, não se pode ignorar que es-
tamos falando de uma sociedade em que todos os que têm contato com o processo
devem estar abertos a essa integração.
Todos estamos em processo de inclusão, uma vez que somos todos diferen-
tes e precisamos aprender a respeitar essas diferenças. Mais do que simplesmente
respeitar, é preciso valorizar qualidades e integrar-se efetivamente.
206
A Cinoterapia na inclusão social
O caso de Leonardo
Vamos descrever o caso de uma criança autista (síndrome de Asperger1),
inserida numa escola regular na qual a diretora Selma Camargo Foggiato assumiu
o desafio de incluí-lo ao grupo escolar, pois ele nunca havia freqüentado esse
ambiente.
Foi bastante difícil, uma vez que os movimentos estereotipados eram bem
fortes e a socialização quase nula. Porém, foi possível socializá-lo e estabelecer o
processo de alfabetização. Para Leonardo, a leitura foi bastante significativa, uma
vez que começou a ler as histórias que sempre o fascinaram. Já a escrita, era muito
difícil e a motivação quase nula.
Os cachorros da Cinoterapia favoreceram bastante a socialização de Leo-
nardo, uma vez que, na presença deles, as outras crianças podiam vivenciar as his-
tórias que ele lia, sendo possível – através de uma transferência para os cachorros
e com os alunos envolvidos na atividade – estabelecer uma vivência das histórias,
contribuindo, assim, para a socialização.
As outras crianças não sentiam, na presença do cachorro, nenhuma diferen-
ça entre elas e Leonardo, além disso como era ele quem determinava as histórias,
1 A Síndrome de Asperger
é um distúrbio do psiquis-
mo que afeta, principalmente,
a área do relacionamento in-
as crianças ficavam bastante atentas às sugestões que ele dava, fazendo com que terpessoal e da socialização,
se integrasse com facilidade ao grupo. porém o portador apresenta
linguagem relativamente
normal.
207
Projetos de Inclusão Social: casos de sucesso
Conclusão
A partir de tudo o que foi exposto, é possível concluir que a Cinoterapia
pode e deve ser usada como processo de inclusão e socialização da criança, seja
no ambiente escolar, doméstico ou social.
Com a utilização de cães, especialmente treinados, é possível fortalecer as
relações interpessoais da criança, ou ainda, abrir espaço para que o terapeuta
possa atuar. É comum vermos casos de crianças que apresentavam uma certa
resistência à terapia, e com a presença do cão deixaram o terapeuta agir. Isso está
relacionado principalmente ao carisma que o cão tem, fazendo com que a criança
se renda a seus encantos e esqueça que se encontra sob análise e observação.
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Hino Nacional
Poema de Joaquim Osório Duque Estrada
Música de Francisco Manoel da Silva
Parte I Parte II
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – “Paz no futuro e glória no passado.”
Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!
Atualizado ortograficamente em conformidade com a Lei 5.765, de 1971, e com o artigo 3.º da Convenção Ortográfica
celebrada entre Brasil e Portugal em 29/12/1943.