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ISBN 978-65-992865-0-6

A CASA DO AGENTE FERROVIÁRIO DE ESTAÇÃO COCAL:


PATRIMÔNIO LOCAL, ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO PARA O
PATRIMÔNIO
ACORDI, Daniela Karine dos Santos 1

Grupo de Reflexão Docente n. 12 – Ensino de História e Patrimônio Cultural:


possibilidades didáticas
Resumo:
Esse trabalho faz parte da pesquisa de mestrado em Ensino de História em andamento e tem como
objetivo estudar a Casa do Agente Ferroviário de Estação Cocal, identificando-a como patrimônio
cultural do distrito de Estação Cocal, em Morro da Fumaça- SC e propor um projeto de educação para o
patrimônio na Escola de Educação Básica Vitório Búrigo. Diante da proximidade entre a Casa e a E. E. B
Vitório Búrigo onde leciono, percebi que mesmo com a proximidade física entre a escola e a Casa, há um
desconhecimento da história local e, portanto a invisibilidade da Casa como patrimônio “da” comunidade.
A proposta desse trabalho é apresentar a Casa e como é vista essa construção pelos estudantes e pela
comunidade escolar, discutir e apresentar uma proposta de educação para o patrimônio para uma turma da
E.E. B Vitório Búrigo com uso de fontes orais produzidas a partir de entrevistas com moradores antigos
de Estação Cocal. Metodologicamente, esse estudo se desenvolveu a partir de pesquisa de campo, fontes
bibliográficas e documentais. Conclui-se a relevância de projetos com patrimônio cultural, história local e
fontes orais para um ensino de História mais significativo.

Palavras-chave: Casa do Agente Ferroviário; Educação para o Patrimônio; Ensino de História;


Memórias; História Local.

1. Introdução
Os estudos aqui apresentados iniciaram- se dentro do programa do Mestrado
Profissional em Ensino de História/PROFHISTÓRIA da UFSC e teve início com a necessidade,
no primeiro semestre de 2019, da escolha de um tema para a dissertação/projeto de pesquisa. A
escolha desse tema está ligada ao reconhecimento por nossa parte desse patrimônio cultural e de
sua invisibilidade entre os estudantes, provocados a partir da minha experiência e vivência como
professora efetiva de História da E. E. B Vitório Búrigo a partir de 2016, escola pertencente à
1
rede estadual catarinense, localizada no distrito de Estação Cocal na cidade de Morro da Fumaça,
no sul de Santa Catarina.

1
Mestranda em Ensino de História pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC. Professora da Educação
Básica da Secretária de Educação de Santa Catarina. E-mail: danikarini@hotmail.com.
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Consolidada a escolha do tema, inicie a pesquisa de campo. Uma grande contribuição


para a pesquisa inicial foi cursar, no segundo semestre de 2019, a disciplina de Educação
Patrimonial onde pude aprofundar os estudos patrimoniais, antes estudados bem superficialmente
na graduação. Foi também dentro dessa disciplina que conheci os teóricos desse campo e o papel
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, responsável por preservar o
Patrimônio Cultural Brasileiro.

2. Patrimônio cultural, história local e o ensino de História


2.1 A Casa do Agente Ferroviário de Estação Cocal: um patrimônio esquecido
A Casa do Agente Ferroviário de Estação Cocal, distrito da cidade de Morro da Fumaça-
SC foi inaugurada em 1922, junto ao trecho da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, ligando
Urussanga à Tubarão, no sul de Santa Catarina. O motivo da construção da ferrovia foi a
descoberta do carvão mineral na região. A casa era para moradia do agente ferroviário,
funcionário que cuidava da estação ferroviária.
Figura 1: Mapa da localização de Morro da Fumaça- SC

Fonte: Wikipédia. Disponível em: https: //cutt.ly/Ld3icPa

No final da década de 1960, a Casa do Agente Ferroviário e a estação ferroviária foram


desativadas juntamente com o trem de passageiros. Entretanto, esse trecho da ferrovia nunca foi
totalmente desativado, pois continuou sendo a via de transporte do carvão mineral, principal 2
motivo de sua construção. Atualmente, várias vezes por dia o trem passa por Estação Cocal,
levando o carvão para o complexo termelétrico, Jorge Lacerda, na cidade de Capivari de Baixo,
de onde se produz a energia para a região sul de Santa Catarina.
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A Casa do Agente Ferroviário encontra-se fechada e sem manutenção há mais de 15 anos


quando foi restaurada somente a parte externa, em comemoração aos 100 anos de Estação Cocal
e está sob a responsabilidade da Ferrovia Tereza Cristina, empresa privada que tem a concessão
da ferrovia desde 1997. A estação ferroviária foi derrubada e não há nenhum registro da data que
foi demolida e nem o motivo; restou apenas a plataforma da construção.
Toda a estrutura ferroviária localiza-se bem próximo à unidade escolar estadual “Escola
de Educação Básica Vitório Búrigo”, onde atuo como professora de História desde 2016. O
barulho do trem se faz ouvir por todas as salas de aula da escola, mas é raro estudantes fazerem
referência à ferrovia, ao trem, à estação ferroviária que ali havia ou à Casa do Agente
Ferroviário. Foi a partir desse som diário vindo da ferrovia que comecei a me interessar por essa
temática.

Figura 2: A Casa do Agente Ferroviário de Estação Cocal

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora, setembro de 2019. 3


Na procura por um mapa de Estação Cocal no Google Maps, que mostrasse a localização
da escola e da Casa do Agente Ferroviário para termos uma visão dessa proximidade, acabei não
tendo êxito, pois não tem a localização da Casa, somente da escola. Eu e meu companheiro
inserimos a Casa no Google Maps. Então abaixo, trouxe a localização da Casa dentro do mapa
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de Estação Cocal e que também mostra a localização da escola Vitório Búrigo. Assim é possível
visualizar essa proximidade a qual me refiro da escola com a Casa do Agente Ferroviário e a
ferrovia.
Figura 3: Mapa de Estação Cocal com a inserção da localização da Casa do Agente Ferroviário

Fonte: Google Maps: Disponível em: https://bit.ly/3kIFIcY


Como fiquei fascinada por um patrimônio cultural local, sempre me perguntei por que, na
comunidade escolar, nada era falado, trabalhado sobre o tema. Então, no final de 2018, descobri
que havia um livro do centenário da comunidade de Estação Cocal, publicado em 2004:
“Estação Cocal: 100 anos de Estação Cocal”. Segundo consta no livro “Estação Cocal: 100 anos
de história”, essa localidade era conhecida como Segunda Linha, depois Cocalzinho e então,
Estação Cocal, nome que se originou após a construção da estação ferroviária.
A escola possui dois exemplares do livro, e em 2019 comecei a abordá-lo em sala de aula
com o intuito de instigar nos estudantes o interesse pela história local e aquele patrimônio
cultural ali existente. Muitos quiseram folhear o livro, reconheciam nomes e sobrenomes como
de Otávio Sorato, um morador da comunidade que completou a idade de 100 anos em 2019 e, é
considerado o morador mais antigo da comunidade.
Para aumentar meu interesse, descobri a existência um passeio de trem (a “Maria
Fumaça”) que acontece uma vez por mês saindo de Tubarão até Laguna e retornando. Nos meses
de julho e agosto, o itinerário do passeio é especial, saindo de Tubarão à Urussanga, ou seja, 4
passando por Estação Cocal. Comentei com algumas turmas do passeio e a reação foi de grande
entusiasmo. O passeio é promovido pelo Museu Ferroviário de Tubarão-SC, instituição
localizada na cidade de Tubarão (cidade vizinha) e que atua como instituição museológica desde
1997 com o propósito de salvaguardar, preservar e difundir o patrimônio cultural ferroviário do
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sul de Santa Catarina. Existem no acervo, locomotivas da década de 1910, 1920, sendo que a
maioria funcionou na Ferrovia Dona Tereza Cristina e foram restauradas, mas só uma está em
funcionamento, aquela que é a usada para realizar o passeio turístico. Muitas peças da ferrovia e
dos trens, chaves para manutenção formam o acervo do museu. A instituição tem um programa
educativo realizado com as escolas que visitam o museu através da museóloga da instituição.

2.2 A relação entre a comunidade escolar da E.E. B Vitório Búrigo e a Casa do


Agente Ferroviário
Inicie a pesquisa de campo dentro da escola no primeiro semestre de 2019.
Primeiramente com os estudantes. Em todas as turmas fiz questionamentos. Depois as conversas
com os professores e funcionários do quadro administrativo (nenhum deles reside em Estação
Cocal) e também com os três zeladores e a cozinheira da escola (dois senhores e duas senhoras
com a faixa etária entre 50 e 60 anos). Eles trabalham há mais tempo na escola e residem em
Estação Cocal. Foram poucas as informações sobre a história da ferrovia, a Casa do Agente
Ferroviário e da estação que ali havia. Como faz muito tempo que está desativada a Casa do
Agente Ferroviário, não sabiam nada sobre os agentes ferroviários.
Com os estudantes, tive informações sobre moradores da comunidade, pertencentes às
famílias mais antigas. Estes geralmente são donos de comércio, políticos, pessoas pertencentes à
diretoria da associação de moradores, e líderes de eventos festivos de Estação Cocal. Porém,
quando comecei a questionar o que sabiam sobre “a casa” que se encontrava fechada a margem
da ferrovia, muitos devolviam a pergunta: “A casinha ali de baixo, sora?”. Eles não faziam a
menor ideia que a “casinha” era uma casa de moradia de agente ferroviário, a função desse cargo
e que se, existia aquela casa é porque existiu uma estação ferroviária. Então a ligação do nome
“Estação Cocal” com a estação ferroviária que ali foi construída, nem passava pelo pensamento
deles. Quando questionei sobre a ferrovia, sobre quando foi construída, se o trem parava em
Estação Cocal, nada souberam responder. Sobre o barulho do trem, todos os dias ser ouvido nas
5
salas de aula, a maioria disse não ter prestado muita atenção no barulho e praticamente todos
desconheciam que o trem transportava carvão para o complexo termelétrico para a produção de
energia para a região.
Nas conversas com professores, com a equipe diretiva e os zeladores da escola, soube da
existência do livro: “Estação Cocal: 100 anos de História” e que a escola possuía dois
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exemplares do livro. Um dos zeladores me falou que as pessoas mais antigas contaram para ele,
que alguns agricultores transportavam no trem, mandioca para vender em Tubarão – SC.
Essa pesquisa inicial me deixou mais intrigada. A Casa do Agente Ferroviário é
patrimônio cultural de Estação Cocal, faz parte da história local, do desenvolvimento da
comunidade, mas cabe questionar se os estudantes e a comunidade reconhecem-na como
patrimônio. E ainda: qual a importância desse patrimônio para a formação e desenvolvimento de
Estação Cocal? Quais as relações construídas entre a escola Vitório Búrigo e a Casa do Agente
Ferroviário e a dinâmica da ferrovia? Qual o significado para os estudantes da Casa do Agente
Ferroviário, da ferrovia e de o trem passar todos os dias, tão próximo à escola? Não existe
atualmente nenhuma relação da escola com esse patrimônio cultural. No caso de Estação Cocal,
por que houve um apagamento da história da ferrovia? Restou apenas a Casa do Agente
Ferroviário, mas por que ela também não foi derrubada? O que se quis preservar com a sua
manutenção?

2.3 O Ensino de História, o patrimônio cultural: educação para o patrimônio


Diante da invisibilidade da Casa do Agente Ferroviário pelos estudantes da E. E. B
Vitório Búrigo e, portanto do desconhecimento da história local, avaliamos a importância da
viabilização de um projeto de educação para o patrimônio na escola. Partindo de um conceito de
educação para o patrimônio trazido por Átila Tolentino numa perspectiva que considero crítica,
democrática e dialógica:
O patrimônio cultural, concebido como um elemento social inserido nos espaços de vida
dos sujeitos, que dele se apropriam, deve ser tratado, nas práticas educativas, levando
em conta a sua dimensão social, política e simbólica. Isso implica dizer, que, nas ações
educativas, o patrimônio cultural não pode ser tratado como pré-concebido, em que seu
valor é dado a priori, cabendo ao individuo aceitar essa valoração e reconhecê-lo como
parte de sua herança cultural. Nas práticas educativas que se pretendem dialógicas e
democráticas, o patrimônio cultural concebido como um elemento social implica
reconhecer o jogo de forças existentes no seu processo seletivo e até mesmo de sua
apropriação, em que estão imbricados os conflitos e as divergências na permanente luta
entre memória e o esquecimento” (TOLENTINO, 2016, p.47)
Para Tolentino (2013) a educação patrimonial, realizada de maneira dinâmica, seria a 6
metodologia apropriada de a escola se relacionar com o patrimônio local. Portanto, a partir de
uma perspectiva que considero decolonial, escolhi uma proposta que entrelaça “patrimônio e
memória” para realizar com estudantes da escola E.E. B Vitório Búrigo.
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Segundo, Paim (2010), memória e patrimônio são conceitos que estão interligados,
quando se trata de experiências vividas em diferentes épocas e lugares. Percebemos então a
contribuição que a história oral pode trazer num projeto centrado na história local, através das
memórias de moradores antigos de Estação Cocal que conviveram com o trem de passageiros,
com a estação e a Casa em funcionamento, com os agentes ferroviários e suas famílias. Pessoas
que presenciaram o trabalho do agente na estação ferroviária, o cotidiano do trem (embarques,
destinos, desembarques).
Na busca de sensibilização dos estudantes da E.E. B Vitório Búrigo, pensando na
proximidade que eles e a escola têm com o patrimônio local e ao mesmo tempo sua
invisibilidade e dos sujeitos relacionados, escolhemos a história oral, pensando na contribuição
que caberia às lembranças de “velhos”, pois, como nos afirma Ecléa Bosi (1987):
Sem os velhos, a educação dos adultos não alcançaria plenamente: o reviver do que se
perdeu de história, tradições, o reviver dos que já partiram e participam então de nossas
conversas e esperanças; enfim, o poder que os velhos têm de tornar presentes nas
famílias os que se ausentaram[...]Não se deixa essas coisas para trás, como
desnecessárias. (p.32)

Essas pessoas concentram o passado no presente através de suas memórias, fazendo com
que a criação humana esteja num processo continuo de reavivamento e reconstrução do passado.
Consideramos a história oral, inovadora, pois ela analisa as narrativas, aproxima-as de outras,
relaciona-as, confronta-as, compreendo que os sujeitos narram a partir de uma subjetividade que
não é a verdade, mas expressão do vivido, sentido e que parte da própria experiência. A história
oral também evidência grupos geralmente marginalizados na História, como os “velhos”:
Verena Alberti (2004) traz o “fascínio do vivido” como peculiaridade da história oral,
pois mesmo operando por descontinuidades, ou seja, selecionando acontecimentos para explicar
o passado, há na história oral:
Uma vivacidade, um tom especial, característico de documentos pessoais. É da
experiência de um sujeito que se trata; sua narrativa acaba colorindo o passado com um
valor que nos é caro: aquele que faz do homem um indivíduo único e singular em nossa
história, um sujeito que efetivamente viveu_ e por isso dá vida a _ as conjunturas e
estruturas que de outro modo parecem tão distantes. (p.14). 7
Essa vivacidade que a história oral traz, é um dos motivos para o seu sucesso nos últimos
anos, percebível pelo crescente número de trabalhos de pesquisadores e professores com essa
metodologia.
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Desde o final do século XX estamos vivenciando um movimento de se repensar o ensino


de História, as metodologias e a própria História em si. Selva Guimarães Fonseca (2006) ao
refletir sobre esse “repensar” do ensino de História, aponta vários problemas, dúvidas que ainda
permanecem quando se trata da história local e das relações entre história local e a globalização.
Ela levanta questões pertinentes em relação ao conceito de identidade local em decorrência da
globalização e que talvez explique a relação distante entre os estudantes da escola Vitório Búrigo
e o patrimônio e a história local. Segundo a autora:
Em tempos de globalização, por exemplo, o que significa falar em identidades locais,
regionais e mesmo da identidade nacional? O que é ser mineiro gaúcho ou nordestino
no nosso País uno, diverso e plural? Como focalizar as questões locais por meio das
fontes orais? Como o ensino de História na educação básica tem tratado esta
problemática? (FONSECA, 2006, p.126)

A globalização faz com que muitas características locais se percam e muitas vezes a
identidade local, também. No entanto, o meio no qual vivemos traz muitas marcas do passado e
do presente, como “vestígios, monumentos, objetos, imagens de grande valor para a
compreensão do imediato, do próximo e do distante. O local e o cotidiano como locais de
memória são constitutivos, ricos de possibilidades educativas, formativas”. (FONSECA, 2006, p.
127). Para que os estudantes sejam alcançados e reconheçam esses lugares, como a Casa do
Agente Ferroviário, como lugares de memória, nós professores, precisamos ter uma relação ativa
com o tempo e com o espaço, neste caso, com o passado e o presente e com a comunidade onde
eles estão inseridos.
Consideramos que o currículo escolar de História é marcado por manifestações
colonialistas e as aulas por um ensino tradicional da História, influenciadas pela matriz europeia.
Uma abordagem de história local, por meio do patrimônio e dos depoimentos desses moradores
que vivenciaram da comunidade de Estação Cocal, tem um potencial de desestruturar a História
tradicional. Elison Antonio Paim (2017) nos adverte que:
No ensino da História tradicional brasileira, é nítido o primado de um recorte que se
limita aos grandes centros, urbanos ou econômicos, com a tendência de posicionar a
História local como adendo a uma pretensa História universal. Isso não se deve apenas 8
ao colonialismo institucionalizado pelo currículo escolar e universitário, como guarda
relação com a economia do tempo e sobrecarga do trabalho docente. (PAIM, 2017,
p.271).

Muitos de nós, professores de História, agimos com descaso em relação à História local,
e, muitas vezes, só vamos nos lembrar dela quando nos deparamos com a necessidade de
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produção de uma monografia de graduação ou dissertação de mestrado. Nessa problemática,


consideramos a importância da aproximação da escola com a universidade (como por exemplo,
no Programa Profhistória), o que pode produzir benefícios recíprocos a partir da relação entre a
lógica de produção de conhecimento histórico escolar e de produção de conhecimento
acadêmico.
Partindo dessa discussão, trouxe um esboço do projeto de educação para o patrimônio
para ser desenvolvido com uma turma de 9º ano da E.E. B Vitório Búrigo. As etapas:
1) Diagnóstico dos conhecimentos prévios dos estudantes a cerca da Casa e da ferrovia com
visita guiada à Casa;
2) Análise do livro “Estação Cocal: 100 anos de História” através de trabalho em grupo;
3)Pesquisa individual com parentes e vizinhos (moradores antigos) por meio de um questionário;
4) Análise em grupo das narrativas orais resultado das entrevistas orais realizadas pela professora
com moradores de Estação Cocal (realizei em outubro de 2020);
5) Visita guiada ao Museu Ferroviário de Tubarão- SC;
6) Produção de pesquisa bibliográfica sobre o transporte ferroviário no Brasil;
7) Passeio de Trem com o itinerário que passa por Estação Cocal promovido pelo Museu
Ferroviário de Tubarão- SC
8) Exposição a ser realizada na escola para a comunidade escolar (e aberta ao público) das
narrativas orais produzidas a partir das entrevistas com moradores antigos e possíveis fotos
coletadas. A exposição contará com participação dos entrevistados.

3. Considerações Finais
Trabalhar com patrimônio cultural, história local e memória é enriquecedor, porque os
sujeitos que antes estavam à sombra do patrimônio emergem para mostrar que o patrimônio não
é pré-concebido, mas uma construção social. Por isso, considero de grande valia, o uso das
narrativas orais num projeto com o patrimônio local, pois as memórias e esquecimentos que
9
podem emergir de desse patrimônio, são de pessoas que na maioria das vezes, não são lembradas
pela História tradicional.
A aproximação dos estudantes da escola Vitório Búrigo com a história local, o contexto
em que foi construída a ferrovia e a Casa do Agente Ferroviário e o significado desse patrimônio
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na formação da comunidade de Estação Cocal pode contribuir para a construção da cidadania


desses estudantes.
Concluo que o trabalho com o patrimônio cultural e a história local com estudantes
história oral e as atividades com patrimônio cultural pode proporcionar o desenvolvimento da
criatividade e mostrar como a diversificação do uso de fontes históricas em sala de aula tem um
grande potencial no processo de ensino e aprendizagem, quando bem aproveitado.

Referências
ALBERTI, Verena. O lugar da história oral: o fascínio do vivido e as possibilidades de pesquisa.
In:____. Ouvir Contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 2ed_São Paulo: T.A. Queiroz:
Editora da Universidade de São Paulo, 1987.
FONSECA, Selva Guimarães. História local e fontes orais: uma reflexão sore saberes e práticas
de ensino de História. Revista História Oral. V.9, nº1, 2006.
PAIM, E. A. Lembrando, eu existo. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (org.). História:
ensino fundamental - Coleção Explorando o Ensino. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2010, v. 2. p. 83-104.
PAIM, Elison Paim (org.). Patrimônio Cultural e Escola: entretecendo saberes._1. ed_
Florianópolis: NUP/CED/UFSC,2017.
TOLENTINO, Átila. Educação, memórias e identidades. In: TOLENTINO, Átila Bezerra (org.).
Educação patrimonial: educação, memórias e identidades / Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Superintendência do Iphan na Paraíba. João Pessoa:
Iphan, 2013.
TOLENTINO, Átila Bezerra e OLIVEIRA. Emanuel. Educação patrimonial: políticas, relações
de poder e ações afirmativas, João Pessoa: IPHAN-PB, Casa do Patrimônio da Paraíba, 2016.
Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/caderno_tematico_educacao_patrimonial_05.pdf

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