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Estimado Leitor,
Letícia Zafred Paiva e Flávia Cristina Bandeca Biazetto analisam a relação litera-
tura-sociedade na construção das imagens e estereótipos femininos no contexto brasi-
leiro e, também, o papel da produção lírica de literatura marginal periférica no trabalho
A construção das identidades femininas negras e periféricas nos poemas de Dinha. Para tanto,
selecionaram os textos: Poema Pouco Poema e Zero a Zero da escritora com o intuito de
verificar como se dá a construção da identidade da mulher negra e periférica. Segundo
as autoras, é necessário compreender a literatura marginal periférica não somente como
um gênero ou estilo de escrita, mas como um movimento político que visa à quebra de
paradigmas sobre as concepções de arte, literatura e imaginário coletivo na sociedade.
No artigo Estudo de caso: percurso histórico – investigativo sobre o DNA físico – terri-
torial de algumas cidades brasileiras, Rafaela Bianchi investiga e analisa momentos espe-
cíficos de relevância da história do urbanismo no Brasil, partindo da seguinte questão:
Quais contribuições para a prática e estudo do ordenamento e planejamento territorial
a experiência brasileira pode oferecer? A autora constrói uma linha cronológica que ex-
põe, de maneira pragmática, algumas das mais variadas experiências brasileiras no cam-
po do Urbanismo, sendo analisados os municípios de Paraty, Aracaju, Goiânia, Curitiba
e Brasília. E conclui que as questões socioeconômicas, físicas e políticas interferem no
processo de construção do cenário urbano que se dá ao longo de grandes períodos.
analisam as estratégias de comunicação empresarial que vêm sendo utilizadas nas redes
sociais, em especial ao que se refere à Doritos Rainbow, por meio do Projeto #1KISS-
1DONATION. Também verificam se tais estratégias consolidaram seu valor de mercado
junto ao seu público externo, principalmente os ligados à comunidade LGBTQIAP+, se
houve enfraquecimento do valor de mercado ou se a Doritos não foi afetada, de forma
positiva ou negativa, ao explicitar apoio à causa da diversidade sexual e de gênero.
Finalizando a edição, temos três resenhas, a primeira é de João Vitor Olímpio que
apresenta a obra No centro da etnia: etnias, tribalismo e Estado na África, organizado por
Jean-Loup Amselle e Elikia M’Bokolo, faz parte de uma coletânea intitulada “Coleção
África e Africanos”, formada por três livros. O objetivo principal dessa trilogia é trazer
ao mercado brasileiro uma produção atualizada sobre a temática, visando atender aos
interesses do público em geral, que tem se mostrado ávido por conhecer o continente
africano, repleto de histórias, povos e culturas. Esta obra é recomendada para estudan-
tes de História e para todos aqueles interessados em uma abordagem crítica e renovada
da história da África.
A terceira e última resenha, realizada por Gelson Teodoro de Souza Junior e Thia-
go Casavechia de Assis, do livro intitulado Um maravilhoso imaginário: cartografia e lite-
ratura na baixa Idade Média e no Renascimento, do historiador Leonardo Meliani Vello-
so, nos faz embarcar numa viagem para conhecer o imaginário dos povos que viveram no
medievo.
RESUMO
O estudo na área de medieval sempre apresentou grandes obstáculos para aque-
les pesquisadores que não tinham acesso físico aos principais centros de pesquisa ame-
ricanos e europeus, cujos arquivos, bibliotecas e eventos têm sido muito importantes
para os medievalistas. Contudo, o grande trabalho de digitalização de documentos e li-
vros, desde os anos 90, vem possibilitando a um público mais amplo o acesso remoto a
manuscritos e bibliografias. Além disso, novas interfaces de aplicativos surgiram na úl-
tima década, trazendo o medievo cada vez mais para o mundo digital. O presente artigo
se propõe a demonstrar como a tecnologia digital vem contribuindo com a pesquisa de
medievalistas, por meio de fundos digitais, bibliotecas on-line, aplicativos e, ainda mais
recentemente, de eventos on-line.
ABSTRACT
Medieval studies have always posed major obstacles for those researchers who
did not have physical access to the principal American and European research centers,
whose archives, libraries, and events have been essential for medievalists. However, sin-
ce the 1990s, the great work of digitizing documents and books has enabled a large au-
dience to have remote access to manuscripts and bibliographies. Moreover, new apps
have emerged in the past decade, bringing the medieval area to the digital world. This
article aims to demonstrate how digital technology has contributed to the research of
medievalists through digital databases, online libraries, apps, and, more recently, online
events.
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BOMBINI, Raíssa Rocha. O Medievo No Mundo Digital:
Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 1-13, 2021.
INTRODUÇÃO
Presenciou-se na última década um importante movimento mundial que busca
disponibilizar na World Wide Web e em aplicativos – para notebooks, tablets e smartphones
– uma grande quantidade de livros, artigos, documentos, videoaulas e conferências de
diversas áreas do conhecimento. Apesar de essa iniciativa se propor a alcançar a todos
indistintamente, o acesso beneficia, principalmente, estudiosos e pesquisadores que não
teriam acesso a tamanho conteúdo de outra forma.
Desse modo, na última década, a pesquisa na área medieval passou a ser cada vez
mais mediada pela tecnologia provinda do digital. Com o acesso (principalmente aquele
que se propõe a ser amplo e gratuito) a centenas de documentos, dos mais diversos te-
mas, as tecnologias digitais ligadas às Humanidades abrem caminho para muitos avan-
ços na comunidade acadêmica, como a realização de mais pesquisas e estudos, além de
maior divulgação científica. Na área voltada à História Medieval, isso significa mostrar
uma Idade Média rica em conhecimentos e distante do obscurantismo, uma errônea ca-
racterística que vêm sendo atribuída ao período.
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Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 1-13, 2021.
O primeiro objetivo baseia-se no fato de que grande parte dos manuscritos mui-
tas vezes não estão bem preservados, nem completamente legíveis. Sabe-se que casos
1
O projeto “Bridging the Digital Gap project secures funding” pode ser visitado em: https://www.nationalar-
chives.gov.uk/about/news/bridging-the-digital-gap-project-secures-funding/(Acesso em: 16 jul. 2020).
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Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 1-13, 2021.
O segundo objetivo seria de que a digitalização das páginas permita que vejamos
com mais clareza detalhes nestas. O processamento de imagens digitais pode contribuir,
por meio de diversos programas, como o de reconhecimento de padrões, a otimização de
contrastes ou a fotografia espacial emprestada pela NASA no século passado (BENTON;
GILLESPIE; SOHA, 1979, p. 40-55), a verificar a escrita, as imagens, os rascunhos, as
marginalia, os ex-libris e outras nuances escondidas em um manuscrito. Pode contribuir,
também, com o estudo de algumas das passagens mais ilegíveis de fólios, fornecendo
fac-símiles em alta resolução e ainda passíveis de download (KIERNAN, 1990, p. 20-21).
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Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
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Mais antiga que a British Library online, a Bibliothèque nationale de France (BnF)
contém uma plataforma de fundos digitais que teve seu início ainda em 1992. Com as
primeiras digitalizações, abriu em 1997 um primeiro modelo de website: a Gallica4, cuja
coleção também é muito importante para a pesquisa de manuscritos medievais.
2
http://www.bl.uk/manuscripts/.
3
https://www.bl.uk/catalogues/illuminatedmanuscripts/welcome.htm.
4
https://gallica.bnf.fr/html/und/manuscrits/manuscrits?mode=desktop.
5
Informações encontradas no website da Gallica, “A propos de Manuscrits”, disponível em: https://gallica.
bnf.fr/html/und/manuscrits/manuscrits?mode=desktop. (Acesso em: 16 jul. 2020).
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BOMBINI, Raíssa Rocha. O Medievo No Mundo Digital:
Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 1-13, 2021.
Fonte: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b550056550/f1.item.zoom
Ainda outras bases de manuscritos digitalizados que podemos citar aqui são a Bi-
blioteca Digital Hispánica6, a Biblioteca Apostolica Vaticana7, a Digital Scriptorium8, a E-CO-
DICES - Virtual Manuscript Library of Switzerland9 e a Biblioteca Digital Mundial10. Há, por
fim, outras bases de iluminuras além daquela mencionada na British Library11, que tam-
bém são de grande utilidade aos pesquisadores que trabalham com imagens medievais,
tal como a Enluminures12 e a The Warburg Institute Iconographic Database13.
6
http://www.bne.es/es/Catalogos/BibliotecaDigitalHispanica/Inicio/index.html.
7
https://www.vaticanlibrary.va/.
8
A base Digital Scriptorium é um consórcio de bibliotecas e museus americanos que buscam fornecer aces-
so online gratuito às suas coleções de manuscritos antigos e medievais. Compreende uma variedade de
instituições, de grandes universidades a pequenas bibliotecas públicas e museus privados com coleções
de diversos tamanhos e temas. Vide https://digital-scriptorium.org/.
9
A E-CODICES fornece acesso gratuito a todos os manuscritos medievais e modernos da Suíça por meio
de uma biblioteca virtual. Até o momento em que este artigo foi escrito, a biblioteca virtual continha 2539
manuscritos de 97 coleções diferentes, mas continua sendo atualizada e ampliada. Vide https://www.eco-
dices.ch/en.
10
A World Digital Library, ou Biblioteca Digital Mundial, em sua versão em português, é uma biblioteca digital
projetada pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e pela UNESCO em parceria com mais 31 ou-
tras instituições de vários países. https://www.wdl.org/pt/.
11
https://www.bl.uk/catalogues/illuminatedmanuscripts/welcome.htm.
12
http://www.enluminures.culture.fr/documentation/enlumine/fr/.
13
https://iconographic.warburg.sas.ac.uk/vpc/VPC_search/main_page.php.
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BOMBINI, Raíssa Rocha. O Medievo No Mundo Digital:
Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 1-13, 2021.
a obras medievais em língua latina (“Medieval Latin”)14 e outra seção destinada a obras
latinas cristãs (“Christian Latin”)15. Ao contrário dos fundos digitais de manuscritos, as
obras aqui são apresentadas transcritas, em texto corrente, não havendo imagens dos
manuscritos originais de onde foram tiradas.
Apesar de ser uma fonte útil de pesquisa, a The Latin library contém limitações.
Conforme explicado pelo próprio site:
As fontes primárias não são, contudo, as únicas obras disponíveis na World Wide
Web. Seja pela digitalização de grandes coleções pertencentes a bibliotecas ou por inicia-
tivas individuais, que compreendem algumas poucas obras, os medievalistas atualmente
conseguem ter acesso a milhares de livros e artigos que compõem as fontes secundárias
para as pesquisas nessa área.
Algumas databases mais gerais que contêm livros, artigos e referências bibliográ-
ficas com temáticas medievais, podendo ser consultadas por alunos e pesquisadores, são
o Internet Archive17 e o Jstor18, em inglês, e a Scielo19 e o Portal de Periódicos CAPES/MEC20,
em português. No entanto, deve-se atentar ao fato de que parte do material fornecido
nessas bases deve ser comprado para ser acessado.
14
http://www.thelatinlibrary.com/medieval.html.
15
http://www.thelatinlibrary.com/christian.html.
16
Informação retirada da seção “Sobre os textos” da plataforma The Latin Library, disponível em: https://
www.thelatinlibrary.com/about.html (acessado em 01 de novembro de 2020).
17
https://archive.org/.
18
https://www.jstor.org/.
19
https://scielo.org/.
20
https://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php?.
21
https://wellcomecollection.org/works.
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Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
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22
http://www.hist.msu.ru/Departments/Medieval/Cappelli/.
23
http://www.abrem.org.br/revistas/index.php/signum.
24
https://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/index.
25
https://www.revistarodadafortuna.com/.
26
http://medievalis.nielim.com/ojs/index.php/medievalis.
27
https://revistas.pucsp.br/index.php/circumhc/index.
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BOMBINI, Raíssa Rocha. O Medievo No Mundo Digital:
Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 1-13, 2021.
Biblioteca online Cesima Digital28, sendo de grande importância para muitos pesquisadores.
O Cesima Digital foi uma das primeiras bibliotecas online do país e conta hoje com
milhares de obras digitalizadas, formando um grande repositório de documentos essen-
ciais para pesquisas sobre a história da ciência e da tecnologia. Essa base contém mate-
riais raros, antigos e, muitas vezes, de exemplar único. Dentre esses, estão manuscritos
medievais árabes e latinos, em alta resolução. Vale ressaltar, igualmente, que a Biblio-
teca Cesima Digital também fornece a possibilidade de download gratuito de suas obras,
com a necessidade apenas de um pequeno cadastro. Além disso, está em expansão para
acolher todo o riquíssimo acervo que permanece guardado no próprio CESIMA (ALFON-
SO-GOLDFARB; WAISSE; FERRAZ, 2018).
A CRIAÇÃO DE APLICATIVOS
Os estudiosos também podem contar, atualmente, com aplicativos para smartpho-
nes e tablets que contribuem com o ensino e a pesquisa na área da Idade Média. É o caso,
por exemplo, do Medieval Handwriting App31, disponível para iOS, desenvolvido pela Uni-
28
http://cesimadigital.pucsp.br/.
29
Informações encontradas no website da Biblioteca Cesima Digital, disponível em: http://cesimadigital.
pucsp.br/ (Acesso em: 16 jul. 2020).
30
Vide, por exemplo, o Projeto Research Coordination Network (RCN), desenvolvido com vários centros ao
redor do mundo, entre eles o CESIMA/PUC-SP, disponível em: https://digitalhps.org/node/184
31
A explicação sobre o aplicativo pode ser encontrada em https://ims.leeds.ac.uk/online-resources/tea-
ching-resources/.
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BOMBINI, Raíssa Rocha. O Medievo No Mundo Digital:
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Ainda que o aplicativo não seja um tutorial sobre a paleografia na Europa Oci-
dental medieval, torna-se muito útil para a aprendizagem das escritas latinas por ensi-
nar com a prática. Os usuários podem examinar 26 manuscritos selecionados, ampliar
palavras individuais, tentar a transcrição e receber feedback imediato. Opcionalmente,
eles podem ainda comparar sua transcrição com uma transcrição completa já oferecida
pelo próprio aplicativo. As transcrições do usuário podem ser salvas e reabertas, além de
acessadas por outros aplicativos.
CONGRESSOS DIGITAIS
Antes da pandemia de Covid-19, esse tópico era uma novidade que estava timida-
mente aparecendo em pouquíssimos grupos ao redor do mundo. Contudo, com o cenário
de isolamento, os eventos digitais (congressos, palestras, webnários, ciclos de estudos
etc) tiveram um aumento significante em todas as áreas do conhecimento. Ao que nos in-
teressa aqui, esses eventos ajudaram os medievalistas a se encontrarem e deram a opor-
tunidade para muitos participarem das redes de troca de conhecimento.
Ainda que fossem raros antes de 2020, esses eventos – que acontecem totalmen-
te on-line, sem qualquer necessidade de presença física – já permitiam que pesquisado-
res e professores de todo o mundo pudessem participar de algumas das discussões que
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BOMBINI, Raíssa Rocha. O Medievo No Mundo Digital:
Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
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acontecem nos centros europeus e americanos, sendo necessário apenas o acesso à in-
ternet.
Foi o caso, por exemplo, do primeiro Digital Medieval Congress 2019 (DMC 2019)32,
organizado pelo NUME - Gruppo di Ricerca sul Medioevo Latino. Esse congresso, que acon-
teceu em 31 de Outubro de 2019 em uma plataforma digital chamada Numet33, foi um
dos pioneiros com essa proposta, até então, de vanguarda.
O tema escolhido para a primeira edição do DMC 2019 foi o Meio Ambiente, em
seu sentido mais amplo. Foram consideradas contribuições que investigassem o proble-
ma da relação entre o homem medieval e o ambiente em que ele viveu, a maneira como
esse foi percebido, imaginado e transformado, com especial atenção ao problema de sua
representação mental e ao impacto que essa representação teve sobre aspectos especí-
ficos da cultura europeia medieval.34 O congresso ainda buscou ampliar para mais áreas
as possíveis contribuições de temas. Para além da história, eram aceitas contribuições
em filosofia, política, literatura, arte, arqueologia, cultura material e novas tecnologias
aplicadas aos estudos medievais.
Na ocasião, ainda havia alguns fatores que dificultavam um maior acesso, ou ain-
da, um acesso mais democrático ao evento. No caso do DMC 2019, aos palestrantes se-
lecionados era requisitada uma taxa de inscrição de 30 euros. Além disso, os palestran-
tes que ainda não fossem membros do NUME teriam que se registrar na Associação, com
uma taxa extra de 20 euros.
Dessa forma, além da questão da língua, as taxas de inscrição com valores altos
(dada a conversão da moeda estrangeira) dificultariam ainda mais o acesso aos eventos
internacionais. Ainda assim, a proposta já era inovadora e muito importante com sua tí-
mida abertura para o mundo.
Contudo, após a chegada da pandemia do Covid-19, esse tipo de evento passou
de uma novidade pouco conhecida para a “nova realidade”, ou seja, era a única forma de
se fazer um congresso. A partir daí, vivenciamos uma explosão de eventos online.
32
https://www.nuovomedioevo.it/2019/06/17/digital-medieval-congress-2019/.
33
https://www.numet.it/.
34
Essas diretrizes estão presentes na página do congresso: https://www.nuovomedioevo.it/2019/06/17/
digital-medieval-congress-2019/
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BOMBINI, Raíssa Rocha. O Medievo No Mundo Digital:
Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
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IMC costuma atrair mais de 2.700 medievalistas de todo o mundo. Também abriga uma
grande variedade de shows, exposições e excursões, abertos a delegados e ao público.
O Virtual IMC 2020 foi a primeira incursão no mundo da conferência virtual desse
evento. Ele contou com mais de 500 palestrantes em 5 dias, além de exposições virtuais,
feiras de livros e artesanato, entre outras possibilidades virtuais. Vale ressaltar que não
apenas as mesas de congressos passaram a ocorrer na WEB, mas também a venda de
livros, que geralmente acompanha tais eventos, passou, igualmente, a ser feita on-line.
Por exemplo, os muitos editores que normalmente exibem em Leeds durante o Interna-
tional Medieval Congress 2020 realizaram as vendas pelo website https://arc-humanities.
org/products/.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa e o ensino nas Ciências Humanas vêm agregando, progressivamente,
mudanças que ocorrem desde o século passado no âmbito digital. Com isso, importantes
transformações foram vistas na última década com a adesão de processos tecnológicos
ao estudo das humanidades, criando novas possibilidades de acesso e incluindo mais
pesquisadores. Todas as possibilidades levantadas nesse artigo são claros exemplos de
como novas linguagens e novas tecnologias vêm possibilitando o estudo e a pesquisa na
área medieval.
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BOMBINI, Raíssa Rocha. O Medievo No Mundo Digital:
Novas Interfaces E Possibilidades. MIMESIS, Bauru, v. 42,
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AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da CAPES (Cód. de Financiamento 001).
REFERÊNCIAS
ALFONSO-GOLDFARB, Ana M.; WAISSE, Silvia; H.M. FERRAZ, Márcia. New proposals
for organization of knowledge and their role in the development of databases for his-
tory of science. Circumscribere, v. 21, p. 1-12, 2018.
BENTON, John F.; GILLESPIE, Alan R.; SOHA, James M. Digital image-processing
applied to the photography of manuscripts: With Examples drawn from the Pincus MS
of Arnald of Villanova. Scriptorium, v. 33, n. 1, p. 40-55, 1979.
KIERNAN, Kevin S. Digital Image Processing and the Beowulf Manuscript. Literary and
Linguistic Computing: Special Issue on Computers and Medieval Studies, v. 6, p. 20-
27, 1991.
SCHREIBMAN, Susan; SIEMENS, Ray; UNSWORTH, John. The Digital Humanities and
Humanities Computing: An Introduction. In: SCHREIBMAN, Susan; SIEMENS, Ray;
UNSWORTH, John. A Companion to Digital Humanities. Malden, Oxford e Carlton:
Blackwell, 2004.
13
A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES FEMININAS NEGRAS E
PERIFÉRICAS NOS POEMAS DE DINHA
THE CONSTRUCTION OF BLACK AND PERIPHERAL FEMALE IDENTITIES IN
DINHA’S POEMS
Letícia Zafred Paiva1; Flávia Cristina Bandeca Biazetto2
Graduanda em Letras – Português e Inglês pelo Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado)
1
2
Doutora em Letras. Professora do curso de Letras – Português e Inglês do Centro Universitário
Sagrado (Unisagrado)
Data de envio: 30/04/2021
Data de aceite: 26/05/2021
RESUMO
O presente artigo analisa a relação literatura-sociedade na construção das ima-
gens e estereótipos femininos no contexto brasileiro e, também, o papel da produção líri-
ca de literatura marginal periférica. Para isso, foi selecionado um corpus composto pelos
textos Poema Pouco Poema e Zero a Zero da escritora Dinha, a qual nasceu no Ceará em
1978 e reside em São Paulo desde 1979. A escolha da autora se dá pela sua importân-
cia não só no cenário da literatura marginal periférica, mas também por sua trajetória e
atuação política por meio da arte. Tendo isso em vista, o estudo considerou tanto dados
bibliográficos sobre literatura de autoria feminina e teorias feministas quanto a obra li-
terária, com o intuito de verificar como se dá a construção da identidade da mulher negra
e periférica nas obras da autora. Tal metodologia não atrela obra e biografia, mas não
descarta pontos de contato entre ambas e o trabalho de efabular da Literatura. A partir
desse percurso interpretativo, foi possível verificar que ao negar a concepção branca e
elitista de uma feminilidade frágil e passiva, Dinha expõe outras facetas do que é o ser
mulher. Assim, por meio de diálogos com outras escritoras negras e produções que ul-
trapassam a esfera da literatura, a autora utiliza da oralidade para tratar das questões
coletivas que assombram as mulheres negras e a população periférica.
ABSTRACT
This article analyzes the literature-society relationship in the construction of fe-
male images and stereotypes in the Brazilian context and, also, the role of the lyrical pro-
duction of peripheral marginal literature. For this, a corpus was composed of the selec-
ted texts Poema Pouco Poema and Zero a Zero by the writer Dinha, she was born in Ceará
in 1978 and has been living in São Paulo since 1979. The choice of the author is due to
her importance in the peripheral marginal literature scene and her trajectory and poli-
tical performance through art. With this in mind, the study considered both bibliogra-
phic data on female authored literature, feminist theories and the literary work to verify
how black and peripheral women’s identity used constructed in the author’s works. Such
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PAIVA, Letícia Zafred e BIAZETTO, Flávia C. Bandeca . A CONSTRUÇÃO
DAS IDENTIDADES FEMININAS NEGRAS E PERIFÉRICAS NOS
POEMAS DE DINHA. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 14-21. 2021.
methodology does not link work and biography, but it does not rule out contact points
between both and the work of literature. From this interpretative path, it was possible
to verify that by denying the white and elitist conception of fragile and passive femini-
nity, Dinha exposes other facets of what it is to be a woman. Thus, through dialogues
with other black writers and productions beyond the sphere of literature, the author
uses orality to address the collective issues that haunt black women and the peripheral
population.
INTRODUÇÃO
A literatura pode ser entendida não só como plurissignificativa, confluindo ima-
gem e linguagem literária, mas também a partir de uma prática discursiva que apresenta,
em diferentes níveis e perspectivas, representações da sociedade tanto pela concisão
dos poemas, quanto pelas diferentes formas de narrar. Nesse sentido, é possível pensar
no papel dessa arte no processo de construção de identidade dos seres humanos, já que
possui o poder de reforçar ou romper com as imagens de controle socialmente delimita-
das.
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PAIVA, Letícia Zafred e BIAZETTO, Flávia C. Bandeca . A CONSTRUÇÃO
DAS IDENTIDADES FEMININAS NEGRAS E PERIFÉRICAS NOS
POEMAS DE DINHA. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 14-21. 2021.
É importante ressaltar que embora Naomi pontue alguns dos rótulos destinados
às donas de casa de classe média na sociedade estadunidense, ainda há em seu discurso
e nas próprias fases do movimento feminista uma narrativa única em torno dos estereó-
tipos de feminilidade. Nesse contexto, Angela Davis traz uma crítica à essa universaliza-
ção e situa a condição da mulher negra escravizada:
[...] Na propaganda vigente, “mulher” se tornou sinônimo de “mãe” e
“dona de casa”, termos que carregavam a marca fatal da inferioridade.
Mas, entra as mulheres negras escravas, esse vocabulário não se fazia
presente. Os arranjos econômicos da escravidão contradiziam os papéis
sexuais hierárquicos incorporados na nova ideologia. Em consequência
disso, as relações homem-mulher no interior da comunidade escrava
não podiam corresponder aos padrões da ideologia dominante. (DAVIS,
2016, p.25)
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PAIVA, Letícia Zafred e BIAZETTO, Flávia C. Bandeca . A CONSTRUÇÃO
DAS IDENTIDADES FEMININAS NEGRAS E PERIFÉRICAS NOS
POEMAS DE DINHA. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 14-21. 2021.
Para exemplificar as diferenças entre essas mulheres não só nas agendas políti-
cas, como na imagem construída socialmente, Lélia Gonzalez (1983, p.224) discute as
experiências de mulheres e homens negros na diáspora no continente americano para
denunciar o pensamento hegemônico. Para isso, a autora expõe três estereótipos sobre
a figura da mulher negra na sociedade brasileira. A mulata e a doméstica são duas faces
da mesma herança escravocrata, mas enquanto a primeira é animalizada, fetichizada, hi-
persexualizada e vendida como o ideal carnavalesco, a segunda representa a servidão
imposta da época colonial. Já a mãe preta surge como forma de apagar a resistência e
a insubmissão das mulheres negras, transformando-as em acolhedoras e condescen-
dentes. Desse modo, Lélia contrapõe, por exemplo, a figura da fragilidade marcada até
mesmo pela expressão popular “sexo frágil”, que no âmbito da análise do discurso é dire-
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PAIVA, Letícia Zafred e BIAZETTO, Flávia C. Bandeca . A CONSTRUÇÃO
DAS IDENTIDADES FEMININAS NEGRAS E PERIFÉRICAS NOS
POEMAS DE DINHA. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 14-21. 2021.
cionada a todas as mulheres, mas na prática está falando apenas de um grupo específico.
Em diálogo com a obra da intelectual brasileira, Angela Davis continua sua análise
demonstrando como as particularidades do racismo, do capitalismo e do sexismo mol-
dam a construção da mulher negra enquanto sujeito, pois “As mulheres não eram “femi-
ninas” demais para o trabalho nas minas de carvão e nas fundições de ferro, tampouco
para o corte de lenha e a abertura de valas.” (DAVIS, 2016, p.22-23). A autora cita ain-
da as diversas formas de resistência protagonizadas por elas, dando ênfase no papel da
educação, da leitura e da escrita no processo de luta pela liberdade.
Esta breve explanação sobre teorias que exploram a representação das mulheres
negras nos permite levantar alguns questionamentos acerca do corpus estudado, pois
Dinha também aborda a interseccionalidade de raça, classe e gênero que age sobre o
papel social das mulheres negras brasileiras. É possível pensar ainda sobre a motivação
de Dinha ao optar por evidenciar a condição marginalizada imposta às mulheres negras
trabalhadoras em nossa sociedade e o porquê de escolher retratar a família periférica e
negra. Tais reflexões serão abordadas a seguir, dialogando as análises dos poemas com a
teoria apresentada.
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PAIVA, Letícia Zafred e BIAZETTO, Flávia C. Bandeca . A CONSTRUÇÃO
DAS IDENTIDADES FEMININAS NEGRAS E PERIFÉRICAS NOS
POEMAS DE DINHA. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 14-21. 2021.
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PAIVA, Letícia Zafred e BIAZETTO, Flávia C. Bandeca . A CONSTRUÇÃO
DAS IDENTIDADES FEMININAS NEGRAS E PERIFÉRICAS NOS
POEMAS DE DINHA. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 14-21. 2021.
de luta e a importância das mulheres e pessoas negras para a sociedade e para a defesa
das periferias. Logo, pode-se inferir que ao optar em estabelecer diálogos com a tradi-
ção oral, a poeta valoriza sua origem negra, visto que a cultura afro-brasileira valoriza as
marcas de oralidade.
Assim, ao contrário da autoria feminina do final do século XIX, Dinha expõe o co-
tidiano por meio de um olhar feminino e periférico, que não só experiencia a narrativa na
pele, mas também utiliza dela como ferramenta para criar uma estrutura literária dife-
renciada. A autora também evidencia a atuação social e a subjetividade da mulher negra,
a qual é representada como sujeito agente na sociedade e em sua família, sendo respon-
sável pelo trabalho, criação dos filhos e resistência política. Além disso, ao mesmo tempo
em que denuncia o descaso com as trabalhadoras, Dinha exalta a importância delas para
toda a sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as análises realizadas sobre a representação das mulheres na tra-
dição brasileira em diferentes períodos, percebe-se que a literatura é permeada pelo
contexto político e pelos debates que regem a sociedade na qual está inserida. Nesse
sentido, conforme o movimento feminista solidifica suas bases e aperfeiçoa seus méto-
dos de análise e referenciais teóricos, surgem as críticas de cunho racial, econômico e
mais adiante, de sexualidade, as quais resultam na transformação dos indivíduos e de
suas produções artísticas.
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DAS IDENTIDADES FEMININAS NEGRAS E PERIFÉRICAS NOS
POEMAS DE DINHA. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 14-21. 2021.
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WOLF, Naomi. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mu-
lheres. 15ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020.
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ROTINAS DE PENSAMENTO VISÍVEL POR MEIO DOS MEMES NAS
AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: PARTICIPAÇÃO E ENGAJAMENTO
NA SALA DE AULA1
ROUTINES OF VISIBLE THINKING THROUGH MEMES IN PORTUGUESE
LANGUAGE CLASSES: PARTICIPATION AND ENGAGEMENT IN THE
CLASSROOM
Isabela Scarelli Domingues1; Patricia Aparecida Gonçalves de Faria2
1
Graduanda em Letras – Português e Inglês pelo Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado) -
Bauru – São Paulo – Brasil – email: belascarelli@gmail.com.
2
Doutora em Letras e Professora da graduação em Letras - Português e Inglês pelo Centro Universitário
Sagrado Coração (Unisagrado) - Bauru – São Paulo – Brasil – email: patricia_faria09@yahoo.com.br
RESUMO
A utilização de tecnologias tem gerado transformações no âmbito educacional.
Embora seu uso tenha aumentado em sala de aula com os slides e pesquisas na internet,
as práticas pedagógicas continuam seguindo o modelo tradicional. Essa situação se in-
tensifica nas aulas de Língua Portuguesa, sendo necessárias medidas para que haja mais
atividades que explorem as novas práticas sociais do uso da linguagem. Nesse sentido, a
presente discussão aborda os memes, de forma a relacionar teoria e prática, tornando as
aulas de Língua Portuguesa mais dinâmicas e interativas. Para isto, as rotinas de pensa-
mento visível, defendidas pelo Project Zero da Universidade de Harvard, funcionam como
metodologia do professor, de maneira que possa engajar e encorajar os alunos a exerce-
rem o pensamento crítico, desenvolverem habilidades de interpretação, leitura, escrita,
reflexão e apresentarem autonomia em sala de aula, por meio dos memes.
ABSTRACT
The use of technologies has caused changes in the educational field. Although their use
has increased in the classroom with slides and searches on the internet, pedagogical
practices continue to follow the traditional model. This situation is intensified in
Portuguese language classes, and actions are needed to provide more activities to
explore the new social practices of language use. In this sense, the present discussion
addresses memes, associating theory with practice, making Portuguese language classes
more dynamic and interactive. Visible thinking routines, advocated by Project Zero at
1
Pesquisa de Iniciação Científica financiada pelo CNPQ.
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DOMINGUES, Isabela Scarelli; FARIA, Patrícia A. Gonçalves. Rotinas
de Pensamento Visível por Meio dos Memes nas Aulas de Língua
Portuguesa: Participação e Engajamento na Sala de Aula. MIMESIS,
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Harvard University, work as a methodology for teachers, allowing them, through memes,
to engage and encourage students to exercise critical thinking; develop interpretation,
reading, writing, and reflection skills; and have autonomy in the classroom.
INTRODUÇÃO
O ensino de Língua Portuguesa é tão complexo e abrangente, que é comum sur-
girem desafios em sala de aula que deixam professores perdidos e sem saber por onde
começarem seu trabalho. Por conta disso, muitas vezes, a perspectiva de estudo de pala-
vras e frases descontextualizadas, aulas mecanizadas e focadas em memorização, além
dos monólogos do professor, infelizmente ainda são características da educação brasilei-
ra nas aulas de língua materna.
Com base neste cenário, faz-se necessária uma mudança nas metodologias dos
professores do ensino de línguas das escolas, promovendo um maior engajamento e in-
teresse por parte dos alunos e a valorização da criatividade do docente em propor ativi-
dades de aprendizagem ativa que fazem parte da realidade do estudante, incentivando a
recriação de atividades didáticas e a organização de ambientes diversos.
A partir desta concepção, surge nos Estados Unidos, o Project Zero, fundado pelo
filósofo Nelson Goodman na Harvard Graduate School of Education em 1967, que visa a
compreensão da aprendizagem nas artes e por meio delas. Fundindo teoria e prática, há
a investigação sobre a complexidade dos potenciais humanos - inteligência, compreen-
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tas e biológicas. Daí revela-se o caráter interdisciplinar da língua, podendo ser explorada
em todas as disciplinas, abrangendo várias habilidades e competências.
O ensino das aulas de português, como defende Avelar (2017), deve priorizar ati-
vidades em que o aluno tenha contato com práticas que incentive e desperte curiosidade
em formular hipóteses, estabelecer generalizações, desenvolver testes de verificação e
pôr à prova visões tradicionais e conservadoras por meio da abordagem gramatical.
Além disso, os gêneros textuais estão presentes em nosso cotidiano e são o prin-
cipal meio de informações que chegam até nós. Ainda mais com a internet, que virou o
principal meio de informações e até formador de opiniões da atualidade. Com ela, outros
gêneros textuais surgiram, como é o caso do meme.
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zoólogo, em seu livro “The Selfish Gene”, que explica a teoria de Charles Darwin sobre
a molécula replicadora, que segundo ele, possibilitou a origem de todas as espécies por
meio dela. Para Dawkins (1979), o sintagma “meme” também é como um replicador, pois
contribui com a transmissão cultural ao propagar ideias.
Embora o uso das redes sociais seja intenso, os trabalhos acadêmicos discutem
que o potencial dos memes enquanto objetos de aprendizagem seja pouco. Porém, por
ser um gênero de linguagem simples e interativo, que interliga diversas áreas do conheci-
mento e promove a interdisciplinaridade, como destacam Ferreira (2019), Neder (2019)
e Coe (2019), os memes são uma boa proposta de metodologia ativa no ensino de Língua
Portuguesa pela possibilidade de exploração dos recursos semióticos. Em sua produção,
é necessário que os autores detenham um conhecimento prévio e a percepção de rela-
ções de intertextualidade, promovendo aos leitores, o exercício da análise interpretativa
do discurso.
Como salientam Oliveira, Porto e Alves (2019, p. 6), “os memes representam um
artefato discursivo, ideológico e semiótico complexo”, por isso, ao utilizar o meme como
objeto de aprendizagem, exige-se um olhar crítico permanente e focado na interpreta-
ção de suas diversas leituras possíveis dependentes de seu contexto.
Assim, ao considerar o meme como um recurso para a prática pedagógica nas au-
las de Língua Portuguesa, é possível trabalhar quatro habilidades que constam na Matriz
de Referência de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias do ENEM, que são:
H1 - Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos
como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação; H2 -
Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comu-
nicação e informação para resolver problemas sociais; H3 - Relacionar
informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, con-
siderando a função social desses sistemas; H4 - Reconhecer posições
críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de
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Dessa forma, os professores podem tanto trabalhar memes que já existem com
os alunos a fim de contextualizar os conteúdos, promover atividades de interpretação e
reconhecimento de figuras de linguagem, classe de palavras, orações subordinadas, den-
tre outros, como também oportunizar oficinas de criação de memes baseados nos con-
teúdos estudados em sala, ancorados nas metodologias ativas e rotinas de pensamento
propostas pelo Project Zero (RICHHART et al, 2011).
Dessa forma, o aluno sente-se o centro de sua aprendizagem, já que seus conhe-
cimentos são valorizados e a sua participação no processo é ativa. Com base nesse pres-
suposto, nas aulas de Língua Portuguesa, é de extrema importância que os professores
incentivem seus alunos a participarem das aulas, de maneira ativa, a partir de projetos,
dinâmicas, participação em seminários e outras formas de aprendizagem. Em síntese, de-
ve-se fugir das metodologias tradicionais, com foco na lousa e nas carteiras enfileiradas.
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Sendo assim, os memes são ótimas ferramentas para que se adaptem atividades
em que sejam valorizados os interesses de cada discente, podendo promover em sala
de aula, um ambiente que seja acolhedor e engajador. Paulo Freire (2011, p. 67) critica o
sistema educacional, alegando que o aluno é pressionado a pensar de forma automática,
sem flexibilidade e de modo limitado. Tal posicionamento implica em diversos malefícios
para uma aprendizagem significativa, uma vez que o aluno é visto apenas como um re-
ceptor e seu direito de fala é silenciado. Logo, para o estudioso:
A memorização mecânica do perfil do objeto não é aprendizado verda-
deiro do objeto ou do conteúdo. Neste caso, o aprendiz funciona muito
mais como paciente da transferência do objeto ou do conteúdo do que
como sujeito crítico, epistemologicamente curioso, que constrói o co-
nhecimento do objeto ou participa de sua construção (FREIRE, 2011, p.
67).
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vias e pesquisas por meio de leitura) sobre um determinado assunto que seja re-
presentado por um meme, como Mapas Conceituais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese, é notória a necessidade de redefinição do papel do professor como
incentivador e engajador dos alunos, no sentido de valorizar seus interesses pessoais,
bem como contextualizar suas práticas de ensino. No caso do professor de Língua Portu-
guesa, os memes são um recurso dessa prática, com o intuito de promover espaços para
oficinas/atividades de criação de memes a partir do assunto da aula. Para isso, as Rotinas
de Pensamento são ferramentas de auxílio no planejamento das aulas, bem como das
metodologias para que fiquem de acordo com os objetivos do professor.
Nesse segmento, os memes exercem uma função social ao trazerem temas do co-
tidiano para o debate, promovendo o pensamento crítico e reflexivo. Além disso, por ser
um gênero textual característico do meio digital, há também o aproveitamento de tais
ambientes virtuais, que deixam de ser concorrentes e viram aliados no processo de ensi-
no e aprendizagem, contribuindo na exploração dos recursos semióticos.
Isso posto, diante de tal perspectiva, conclui-se que a prática do professor de Lín-
gua Portuguesa deve ser pautada na construção de pontes entre o uso acadêmico e o
social da linguagem. Nesse sentido, justifica-se a utilização dos memes como tal recurso
como forma de trazer o ambiente digital, bem como os interesses dos alunos para a sala
de aula, provando que o processo de ensino e aprendizagem pode ser prazeroso, diver-
tido e significativo.
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Portuguesa: Participação e Engajamento na Sala de Aula. MIMESIS,
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AGRADECIMENTOS
Ao CNPQ, pelo financiamento do projeto de pesquisa intitulado: Metodologias
ativas por meio dos memes: a influência nos estudos de Língua Portuguesa, que contri-
buiu para o desenvolvimento deste artigo.
REFERÊNCIAS
AVELAR, J. O. Saberes Gramaticais: formas, normas e sentidos no espaço escolar. São
Paulo: Parábola Editorial, 2017.
ANTUNES, I. C. Muito além da gramática: por ensino sem pedras no caminho. 1ª ed.
Belo Horizonte: Ed. Parábola, 2007.
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G1, 26 de março de 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noti-
cia/2019/03/26/estudantes-saem-do-ensino-medio-com-defasagem-em-portugues-
-e-matematica.ghtml>. Acesso em: 17/11/2020.
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view/42469/751375138651>. Acesso em: 18/11/2020.
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DOMINGUES, Isabela Scarelli; FARIA, Patrícia A. Gonçalves. Rotinas
de Pensamento Visível por Meio dos Memes nas Aulas de Língua
Portuguesa: Participação e Engajamento na Sala de Aula. MIMESIS,
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A DISCIPLINA POSITIVA NA INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: INTERPRETANDO
ASPECTOS VERBAIS E NÃO VERBAIS DOS ALUNOS
POSITIVE DISCIPLINE IN TEACHER-STUDENT INTERACTION: INTERPRETING
VERBAL AND NON-VERBAL ASPECTS OF STUDENTS
ABSTRACT
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INTRODUÇÃO
Dado o impacto destas “pistas” não verbais que também são uma das formas de
comunicação, a literatura que discorre e estuda a disciplina positiva recomenda a abor-
dagem centrada na criança, isto é, enfatizando a forma de abordagem em relação a crian-
ça nas mais diversas situações, de modo a compreender, através da comunicação verbal
ou não-verbal, o que está por trás de um comportamento, de uma fala ou sua ausência,
quando a criança fica em silêncio, mas que, na verdade, se bem observado, pode estar
dizendo muito.
A partir do que traz a BNCC, pode-se dizer que a visão e a interpretação do pro-
fessor para com os seus alunos são de tamanha importância, pois se o professor apurar
com maior observação as ações e os comportamentos de seus alunos, é possível que for-
mará uma nova visão a ponto de ver além do comportamento em si, mas qual o motivo
dele, seja verbal ou não.
Ademais, alguns autores afirmam que a empatia é melhor entendida como uma
capacidade composta por vários lados diferentes que trabalham juntos. Porém, foi ado-
tado para este estudo, a definição do psicólogo Daniel Goleman (2014). Segundo ele, a
empatia é uma habilidade que se divide em três categorias:
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CREMA, João Vitor Zanini e GOLFIERE, Maria Laura. A Disciplina
Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
Verbais e Não Verbais Dos Alunos. MIMESIS, Bauru, v. 42,
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Diante do exposto acima, a habilidade empática pode ser considerada como a jun-
ção de uma série de fatores que podem alcançar o nível cognitivo, emocional e até mes-
mo levar a compaixão.
Neste sentido, o professor que é capaz de uma aceitação mais empática de seus
alunos, quais podem estar com medo, desanimados, ansiosos, fatores esse que estão
presentes quando se está em um ambiente diferente (ao entrar em uma nova escola
por exemplo), com pessoas diferentes e ainda mais sendo a situação de início formal do
aprender- o efeito do estabelecimento tanto de um ambiente que permita que a aprendi-
zagem aconteça quanto na conexão criada entre professor-aluno, é de suma importância
para que os alunos sintam-se capazes e em um ambiente seguro para a aprendizagem.
(ROGERS, 1978 apud GONÇALVES, 2008, p.11).
Ainda para Rogers (1978), qual acredita ser essencial, para além da compreensão
empática, outras duas atitudes que possibilitam uma facilitação da aprendizagem, quais
sejam elas: a consideração positiva incondicional (percepção que o aluno é uma pessoa
capaz de fazer o melhor possível para aprender) e a congruência do facilitador (auto per-
cepção do professor de como se sente num determinado momento da aula).
Por fim e não obstante, vale ressaltar que a “compreensão empática” é definida
por Rogers como a forma de se perceber de uma forma mais profunda o quadro interno
de referência da outra pessoa como se fosse o próprio, com os seus significados e com-
ponentes emocionais. Ou seja, quando o professor tem a capacidade de compreender as
reações e/ou comportamentos verbais ou não- verbais dos seus alunos, passa a ter uma
consciência mais sensível da maneira pela qual o processo de educação e aprendizagem
se apresenta a estes alunos e a sua realidade e então, mais uma vez, aumentam as possi-
bilidades de uma aprendizagem significativa. (ROGERS, 1985 apud GONÇALVES, 2008,
p.14)
Com isso, o presente estudo tem por objetivo discutir a respeito dos conceitos
da disciplina positiva e sua importância para a interação professor-aluno, bem como in-
troduzir possíveis estratégias e suas contribuições para a prática desta em sala de aula
frente a comportamentos verbais e não verbais que os alunos comumente apresentam.
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DESENVOLVIMENTO
DISCIPLINA POSITIVA E SUA IMPORTÂNCIA PARA A PRÁTICA EM SALA DE AULA
Segundo Fernandes (2018), estamos imersos em métodos sobre a disciplina que
vem sendo uma herança dos séculos passados, porém, muita coisa mudou, inclusive a
forma de ver as crianças e como elas estão crescendo precocemente, fazendo com que
elas não tenham medo da punição e de seus responsáveis.
Portanto, o autor destaca que a forma de disciplinar as crianças está sendo deba-
tida para a melhoria diária e cita a Disciplina Positiva como sendo uma nova prática que
vem ganhando força nesse assunto.
Porém, se pararmos para pensar, hoje em dia, as famílias têm uma forma mais
igualitária, onde homens e mulheres saem para trabalhar, os jovens estão trabalhando
em ideias inovadoras, crianças têm acessos a diversas fontes de informações. Como se
pode esperar que as crianças tenham esse exemplo grandioso de avanço dentro de sala e
não podem se sentir parte da sua própria educação?
É neste contexto que se insere a Disciplina Positiva, por ser uma filosofia pensada
de maneira a fugir da punição e da recompensa. Seu objetivo central é a formação de ci-
dadãos responsáveis, capazes de atuar em sua comunidade, cooperando uns com os ou-
tros. Educados de maneira democrática, com base em princípios, como respeito mútuo,
igualdade, responsabilidades, etc.
Ainda, segundo diferentes estudos, além de ser filosófica é um quanto prática, isto
é, trata-se de um modelo educativo composto por firmeza, afeto e empatia, que educa-
dores e pais utilizam-se com as crianças, ou seja, uma prática de educar e conduzir na
criação em seu desenvolvimento, colocando limites necessários e estabelecendo diálo-
gos e cooperação com as crianças.
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melhor a partir de opções que são oferecidas, partindo do pressuposto que não existe
apenas uma verdade, que os adultos não estão sempre corretos, mas as crianças também
são capazes de decidir o que é melhor para elas.
Por este motivo, ainda segundo o autor, a corporeidade constitui-se nas seguintes
dimensões educativas: física (estrutura orgânico-biofísica e motora); emocional-afetiva
(instinto, pulsão, afeto); mental-espiritual (cognição, razão, pensamento, consciência); e
sociocultural e histórica (valores, hábitos, sentidos, etc.). Parece, assim, definir-se como
uma complexa dinâmica de auto-organização de uma corporeidade viva, baseada no co-
nhecimento ‘do’ e ‘sobre’ o corpo.
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Segundo Goellner (2007), o corpo é também construído pela linguagem que ape-
nas reflete o que existe. O autor considera, ainda, que filmes, músicas, revistas, livros e
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imagens, são também locais pedagógicos que estão, o tempo todo, a dizer de nós, seja
pelo o que exibem o que ocultam.
É preciso destacar que as emoções das crianças raramente são postas em pala-
vras; com muito mais frequência, são expressas sob outras formas. A chave para que pos-
samos entender seus sentimentos e assim buscarmos compreender o complexo proces-
so de aprendizagem está em nossa capacidade de interpretar canais não verbais, isto é, o
tom da voz, gestos, expressão facial e outros canais.
Assim, ao unirmos essas práticas, qual seja a Disciplina Positiva com a percepção
corporal das crianças, estamos estimulando-as para interagir e buscar compreender o
universo na qual elas estão inseridas. O que favorece o aprimoramento das práticas de
aprendizagem utilizadas em sala de aula e contribui para uma maior percepção da reali-
dade a qual estão inseridos e numa relação mais empática e solidária no ambiente esco-
lar.
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Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
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A prática da disciplina no ambiente escolar nos faz pensar sobre nossa própria
personalidade, em como foi nossa infância e, como consequência, isso nos ajuda a enten-
der o que está por trás das suas reações sobre os comportamentos das crianças. Essas
reflexões são fundamentais para que aprendamos a lidar com as diferentes gerações e
hábitos ao longo das últimas décadas.
Alguns educadores e pais, não sabem ou não imaginam de que seus comporta-
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Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
Verbais e Não Verbais Dos Alunos. MIMESIS, Bauru, v. 42,
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mentos são reflexos de seus ensinamentos que tiveram nos seus primeiros anos de vida,
o que compromete diretamente na relação corporal e na educação de crianças, que é ou
foi criada a partir da lógica da imposição e obediência, gerando medo e não respeito.
A partir do século XIX, à educação cortesã, caça, música, dança e letras somam- se
os cuidados com o corpo e uma nova dimensão da educação, viabilizada pelas escolas de
ginástica e pelo esporte. Logo, sabe-se, por vários meios, que essa forma de lidar com as
crianças no que diz respeito a sua relação de corporeidade, traz efeitos extremamente
positivos nas relações de aprendizagem e familiares.
Precisa ser trazido à luz que essa filosofia busca, sobretudo de incentivar a coo-
peração, estreitar vínculo com a criança e trabalhar habilidades corporais, intrapessoais
e sociais.
■ De que maneira podemos contribuir para que as crianças se tornem humanos con-
fiantes, seguros, responsáveis, amorosos, independentes, etc.
A vantagem de aplicar essas estratégias é em longo prazo, uma vez que, temos
que buscar apontar outros caminhos de compreensão na relação corporeidade e educa-
ção, segundo uma atitude que busca superar o instrumentalismo e ampliar as referências
educativas, ao considerarmos a fenomenologia do corpo e sua relação com o conheci-
mento, para que então se possa ocorrer uma transformação mais profunda na educação
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Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
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Fernandes (2018) cita que quando se trata de crianças, podemos considerá-las in-
gênuas e dependentes. Isso pode acontecer por estarem conhecendo o mundo aos pou-
cos, o que requer ajuda e apoio dos mais experientes, porém isso não quer dizer que as
crianças não tenham uma opinião e não queiram opinar no que julgam o melhor para elas.
Ainda segundo o autor, é importante compreender que a criança é um ser que vai
se basear suas atitudes no que o adulto mais próximo fizer, ou seja, os pais e/os educa-
dores. Por exemplo, se os pais são pessoas extremamente violentas, isso vai refletir na
criança tornando-o violento e qualquer problema que tiver na vida, inicialmente na es-
cola, será resolvido com violência. Não podemos cobrar uma atitude da criança que nem
os adultos em sua volta, fazem.
No cotidiano das escolas, pode-se observar que, quando os educadores não dei-
xam as crianças se expressar, assumindo o lugar da fala, muitas vezes é porque também
foram criados assim e não tivemos essa opção. Quando gritam com as crianças (o que
gera um bloqueio na criança), pode ser que estejam repetindo esse padrão da sua infân-
cia.
Logo, não se pode contar com o imediatismo sendo preciso lembrar de que esse é
um processo extremamente novo para todos. Sabe-se, por vários meios, que essa forma
de lidar com as crianças traz efeitos extremamente positivos nas relações familiares e,
especialmente, no futuro delas.
Assim, para que a disciplina positiva realmente aconteça, é necessária uma mu-
dança de postura, sabendo que a criança possui personalidade e vontades próprias e, por
isso, alguns dias serão mais desafiadores, pois, nem sempre as técnicas funcionarão, nem
mesmo uma mesma estratégia abrangerá as necessidades de cada criança. Nem sempre
nossos alunos/filhos responderão como gostaríamos, mas são nestas situações que será
preciso colocar a intervenção em prática.
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CREMA, João Vitor Zanini e GOLFIERE, Maria Laura. A Disciplina
Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
Verbais e Não Verbais Dos Alunos. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 35-49. 2021.
Logo, quando nos deparamos com alguns comportamentos por parte dos alunos,
é preciso que saibamos de que maneira lidar com as crenças desencorajadoras que ali-
mentam um comportamento anterior.
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Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
Verbais e Não Verbais Dos Alunos. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 35-49. 2021.
Se, por exemplo, a atenção é indevida, a criança pode estar pedindo por atenção
ou até mesmo para que nós, enquanto professores, a envolvamos em algo útil. Desta for-
ma, algumas das frases a dizer diante dessa situação e comportamento são:
■ Vamos fazer um acordo? Que tal se você se sentar e fazer sua atividade e então
podemos conversar com calma por alguns minutos depois? Na hora do intervalo é
uma boa ideia, certo?
■ Você estaria disposto a organizar estes papéis ou aqueles lápis que estão sobre a
mesa?
■ Vamos fazer um combinado/negociar. Por que você não me diz o que está pensan-
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CREMA, João Vitor Zanini e GOLFIERE, Maria Laura. A Disciplina
Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
Verbais e Não Verbais Dos Alunos. MIMESIS, Bauru, v. 42,
n. 1, p. 35-49. 2021.
do e eu lhe digo o que penso e poderemos achar uma ótima solução para nós dois.
■ Bem, esta é uma maneira de ver as coisas. Eu vejo um pouco diferente. Quer que
eu te conte?
CONCLUSÃO
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Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
Verbais e Não Verbais Dos Alunos. MIMESIS, Bauru, v. 42,
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vezes acontece a partir de nós mesmos, temos a obrigação de aprender sobre o nosso
estilo de liderança e o impacto que geramos em nossos alunos, para que assim, possamos
contribuir na construção de um ambiente de aprendizagem favorável no desenvolvimen-
to das habilidades corporais, sociais e emocionais, para que as crianças sejam protago-
nistas para entender e gerenciar seus conflitos e emoções.
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CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ima-
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NELSEN, J. Disciplina Positiva em sala de aula. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2017.
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CREMA, João Vitor Zanini e GOLFIERE, Maria Laura. A Disciplina
Positiva na Interação Professor-Aluno: Interpretando Aspectos
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ROGERS, C. R. (1985). Liberdade de Aprender: Em nossa década. Porto Alegre: Artes
Médicas.
49
A SOBERANIA POPULAR, ENTRE HABERMAS E ROUSSEAU
RESUMO
O princípio republicano de soberania popular, revolucionário no século XVIII de
Rousseau, e que persiste contemporaneamente, nas obras de Habermas, é o objeto de
pesquisa deste artigo. Em detrimento das noções hobbesianas de soberania no absolu-
tismo dos reis, esta pesquisa explora o fundamento da democracia moderna, pautada no
ideal de igualdade entre todos os cidadãos. Delimita-se, pois, especialistas como Repa
(2013), Heck (2008), Dutra (2012), Monteagudo (2007; 2013) e Oliveria (2012; 2018;
2019), principalmente, para uma aproximação desta relação entre Rousseau e Haber-
mas. Diretamente de Rousseau, o seu livro Contrato social, no capítulo VII, da parte I,
intitulado “Do soberano”, e de Habermas, a sua obra Direito e democracia, no capítulo II,
complementar, do livro II, “Da soberania do povo como processo”, constituem a base des-
ta pesquisa iniciada nos citados pesquisadores. Assim, o objetivo deste trabalho, é pro-
curar as origens éticas e filosóficas da democracia, a partir dos valores modernos e pro-
gressistas de “liberdade, igualdade e fraternidade”, sob a justificativa de que tais noções
não se restringem à Revolução Francesa, de 1789, mas que ainda legitimam os Direitos
Humanos, pós-1948, até hoje. O artigo apresentado aqui é parte integrante da disserta-
ção de mestrado em filosofia do seu autor, concluída em 2021. Trata-se, por isso, de um
trecho de um projeto de pesquisa mais amplo, que enfrenta o problema que é entender
qual a recepção de Rousseau por Habermas, a partir da hipótese de uma recepção favo-
rável, apesar das ressalvas habermasianas.
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MARTINS, Wellington Anselmo. A Soberania Popular,
Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
p. 52-64, 2021.
ABSTRACT
Rousseau’s republican principle of popular sovereignty, revolutionary in the 18th
century, persists contemporary in Habermas’ works and is the research object in this ar-
ticle. To the detriment of Hobbesian’s notions of sovereignty in the absolutism of kings,
this research explores the foundation of modern democracy based on the ideal of equa-
lity among all citizens. Therefore, specialists such as Repa (2013), Heck (2008), Dutra
(2012), Monteagudo (2007; 2013), and Oliveria (2012; 2018; 2019) are delimited, main-
ly to approximate this relationship between Rousseau and Habermas. Rousseau’s book
Social contract, chapter VII, part I, entitled “Of the sovereign”, and Habermas’ work Law
and democracy, chapter II, complementary to book II “Of the sovereignty of the people
as a process”, form the basis of this research, according to the authors mentioned above.
The general objective of this work is to look for the ethical and philosophical origins of
democracy, based on the modern and progressive values of “freedom, equality, and fra-
ternity”. We believe such values are not restricted to the French Revolution, from 1789;
they still legitimize Human Rights, post-1948 to today. This study is part of our master’s
thesis in Philosophy, completed in 2021, i.e., part of broader research that faces the pro-
blem of understanding Rousseau’s reception by Habermas, based on the hypothesis of a
favorable reception, despite Habermas’ reservations.
INTRODUÇÃO
O texto que segue está inserido na área de história da filosofia, ética e filosofia
política. A sua linha específica é a filosofia política. Trata-se de um recorte do início do
trabalho de mestrado em filosofia do seu autor, produzido sob orientação do Professor
Doutor Ricardo Monteagudo – este também citado diretamente no texto que segue. O
projeto completo e sua respectiva dissertação foram concluídos no ano de 2021, pela
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Unesp, com o título “O Contrato
social, de Rousseau, e sua recepção no Direito e democracia, de Habermas”.
Para iniciar uma resposta a este problema filosófico, propõe-se aqui analisar cen-
tralmente o conceito de soberania do povo, isto é, o valor republicano fundamental da
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MARTINS, Wellington Anselmo. A Soberania Popular,
Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
p. 52-64, 2021.
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Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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Por outro lado, a soberania popular, do contratualista das luzes, é lida por Haber-
mas já a partir da sua ética discursiva, ou seja, na relação entre pensadores trata-se, na
verdade, para Delamar Dutra, da “recepção habermasiana do pensamento político de
Rousseau, especialmente no que diz respeito à problemática da compatibilização entre
direitos humanos e soberania popular” (DUTRA, 2012, p. 55).
Repa (2013, p. 103) não apenas fala de uma ‘leitura’ de Rousseau por Habermas,
mas diretamente de influência, das “influências das filosofias políticas de Rousseau [e
Kant] no pensamento habermasiano”. Todavia, além das citadas mudanças internas na
própria leitura de Rousseau por Habermas, como trabalhado por Monteagudo, ainda a
dita influência do genebrino sobre a filosofia de Habermas não se dá sem críticas e res-
salvas: “a crítica habermasiana a Rousseau [e a Kant] se deve ao projeto de radicalização
da democracia, para o qual as contribuições dos dois filósofos apresentam ainda alguns
obstáculos” (REPA, idem, ibdem).
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MARTINS, Wellington Anselmo. A Soberania Popular,
Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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já por si uma estrutura racional” (HECK, 2008, p. 7). Neste particular, Heck ressalta que
isso distingue os contratualistas Rousseau e Locke, uma vez que no pensador inglês uma
certa “razão legitimadora” se anteciparia inclusive à própria vontade geral, isto é, à von-
tade unida do povo: os interesses essenciais e universalizáveis (deste povo) por meio da
lei.
Rousseau, como Locke, também imagina o indivíduo antes do contrato social mais
elementar, como a um ser independente, mas de modo algum sem a interdependência
da convivência, ainda que em algum “estado natural”. Mas é somente na origem e ma-
nutenção legítima do “estado social” que Rousseau – e este é o ponto que interessa a
Habermas – pode compreender razão e legitimidade enquanto construtoras de institu-
cionalidades necessárias à preservação e promoção da vida e seus valores individuais e
sociais decorrentes.
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Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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Ora, e ainda não somente no contratualismo, mas ainda ao fazer opções em meio
ao século XIX, nota-se os alicerces habermasianos em Rousseau – apesar das diferenças:
Realmente, a relação entre ambos é difícil [entre Habermas e Rousseau], pois
trata-se de uma relação crítica e de aceitação. Apesar de o prefácio a Direito e
democracia declarar que Kant, e não Hegel, é o apoio do seu estudo, o nome que
realmente estrutura a obra é o de Rousseau (DUTRA, 2021, p. 56).
Na linha do que fora ressaltado por Dutra (2012, p. 56), acerca do reconhecimen-
to de Habermas a Kant, Monteagudo frisa que “Rousseau e Kant são mencionados como
teóricos da autonomia do indivíduo e, em ambos, Habermas vê uma intuição comum de
intersubjetividade” (2013, p. 196). Ainda que obrigatoriamente diferencie ambos, Kant
e Rousseau, ao reavaliar o legado iluminista – nisto Dutra afirmou que, entre ambos, no
Direito e democracia, a estruturação novamente vem mais de Rousseau –, Habermas nota
nos dois autores a intuição ou premissa da intersubjetividade. Aqui é que a “ética políti-
ca” habermasiana bebe para reidratar a teoria do agir comunicativo do estágio de 1992.
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Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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Ora, “de certa maneira”, neste ínterim Rousseau e Kant, “a tentativa haberma-
siana consiste em mostrar a parcialidade de cada uma dessas abordagens, enfatizando
sua possível complementaridade e reciprocidade” (REPA, 2013, p. 104). Assim, a possí-
vel intuição da intersubjetividade compartilhada em Rousseau e Kant leva, enfim, a uma
compreensão própria, possível, que Habermas almeja fazer avançar, acerca da coorigi-
nalidade “entre os direitos humanos e a soberania popular” (Idem, ibidem). E nessa linha,
afirmando a relação Rousseau-Habermas – passando, necessariamente, por Kant –, con-
forme apontado por Repa, também segue Oliveira (2012; 2018; 2019).
Fica evidente, pois, que “Habermas tenha em alta estima o contratualismo rous-
seauniano, que considere exemplar a interação entre direito e democracia [no Contrato
social] e veja na institucionalização popular do contrato social uma antecipação da ética
discursiva” (HECK, 2008, p. 15); e em detrimento dos outros dois clássicos contratualis-
tas, “Rousseau seja visto como o fundador de um metódico procedimento de justificação,
por ser o único contratualista que faz do contrato enquanto tal o princípio da organiza-
ção política, da legislação e da justiça” (Idem, ibidem).
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MARTINS, Wellington Anselmo. A Soberania Popular,
Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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Isso une Rousseau a Habermas – ainda que tanta distância histórica e filosófica
os distanciem –, o prenúncio na obra do genebrino, e não nos britânicos Hobbes e Lo-
cke, da cara relação direito-democracia, da justificação e legitimação do bem público em
razão da própria convenção popular: a vontade geral, nos termos de Rousseau; o con-
senso, no vocábulo dado por Habermas. Como salientado, há evidentemente distância
conceitual entre ambos, mas tal compreensão de que a legitimação da lei e dos governos,
justos, carece do discurso convencional dos cidadãos diretamente interessados, isto é,
um procedimento republicano, democrático, leva Rousseau e Habermas a uma unidade
doutrinária quando de suas premissas. Em outros termos, “o problema que Habermas
considera relevante de ser tratado a partir de Rousseau é a tentativa de compatibilizar
direitos humanos e soberania popular” (DUTRA, 2012, p. 57).
O direito e a democracia ou, ainda, lei e moral, validade e facticidade... Estas são
determinações do legado moderno. Isto é, a revolução contratualista, no plano filosó-
fico – mas que encontra, igualmente, o plano histórico: na Revolução Gloriosa inglesa, na
Declaração de Independência dos EUA, na Revolução Francesa etc. – leva à dissolução
das formas de vida pré-modernas ou medievais. É para usufruir dessa herança do pensa-
mento iluminista que Habermas elege Rousseau – e depois, do século XIX, ainda Kant.
Neste intento,
Rousseau é visto [por Habermas] como um dos pais dos direitos humanos e da
soberania popular. Uma das críticas a Hobbes e Grotius é que esses filósofos
modernos tomaram o fato como direito e confundiram a força física com o de-
ver moral, ficando assim incapazes de contribuir para a formação da noção con-
temporânea de legitimidade enquanto mediação entre facticidade e validade. O
que separa o fato e o direito é propriamente o tema de Direito e democracia, de
modo que o pensamento do autor do Contrato social permite refletir. (MONTE-
AGUDO, 2013, p. 196).
Destarte, o frankfurtiano de segunda geração propõe a sua contribuição original
consonante ao subsídio prévio advindo de Rousseau: Contrato social e Direito e democra-
cia, por isso, podem ser lidos juntos. Ora, pois já foram analisados, na primeira parte des-
te trabalho, os capítulos iniciais da magnum opus do genebrino, para acentuar que, desde
os seus fundamentos, a complexidade entre fato e direito é incontornável para o contra-
tualismo de uma vontade geral – tal como, igualmente, para a democracia deliberativa
embasada em um consenso necessário.
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Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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Ora, dois comentadores aqui analisados, Heck e Dutra, ressaltam a falta de de-
bate público no Contrato social, inclusive apontam para uma tradição que vê um perigo
jacobido em Rousseau ou mesmo ditatorial – nessa linha revolucionária, atentou-se nes-
te trabalho por ressaltar especificamente o caso marxista de Althusser quando da sua
interpretação dos axiomas iniciais do Contrato; ainda que tais críticas e interpretações
possíveis de Rousseau não sejam o foco desta pesquisa –, todavia, ante a Heck e a Dutra,
Repa afirma que “Habermas contraria fortemente toda a crítica dirigida a Rousseau [...]”,
uma vez que na afirmação dos direitos humanos não caberia, em si mesma, alguma exata
afirmação oposta de ditadura: “[...] Rousseau pôde estabelecer um nexo interno entre os
direitos humanos e a soberania popular” (REPA, 2013, p. 106).
Esse nexo rousseauniano entre direito e democracia, com o qual Habermas res-
ponde às críticas ao genebrino, está baseada em uma interpretação específica:
A princípio, ele [Habermas] parece ter em mente a seguinte linha de interpre-
tação. A soberania, sendo o exercício da vontade geral, não pode ser colocada
além dela. Como a vontade geral é a vontade do corpo político, e este se cons-
titui de todos os associados reunidos em um povo, o soberano nada é senão um
ser coletivo constituído por todos. Disso resulta que ninguém está fora da du-
pla relação súdito/cidadão, portanto, que ninguém está desobrigado das deci-
sões do soberano enquanto súdito. Além disso, tanto a obediência à lei como
a participação em sua autoria é feita em total igualdade, de modo que, para a
deliberação política, todos têm as mesmas condições de participação e, para a
obediência civil, a mesma igualdade de direitos e deveres. (REPA, 2013, p. 106).
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Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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Uma vez tomada essa base interpretativa, Rousseau então não é senão o autor da
liberdade, que semeou no iluminismo os ideais de república e autolegislação incontorná-
veis para a compreensão atual de direitos humanos, tal como insubstituíveis igualmente
para a conceituação habermasiana de legítima deliberação pública.
Fica, então, nestes termos, a “vida pública”, apontada por Monteagudo, expressa
em Rousseau. Resta, pois, perguntar acerca daquela kantiana “vida subjetiva”, que fecha-
ria as escolhas teóricas elementares de Habermas.
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Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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Assim, o frankfurtiano expressa a sua originalidade, dado que não somente elege
o republicanismo de Rousseau e o normativismo de Kant, salvando tanto a “vida públi-
ca” das leis quanto a “vida subjetiva” do universo da consciência de cada indivíduo, mas
avança. Habermas quer abarcar ambos os argumentos em um único raciocínio, isto é,
propõe um debate permanente, que pode reformular leis, que quer acompanhar as mu-
danças que podem ocorrer nos indivíduos.
Destarte, com o espaço dado a movimentos discursivos consensuais, não há inér-
cia nas vontades gerais ou nos imperativos categóricos, pois tudo precisa ser afirmado,
argumentado, posto a juízo público, ante a outras afirmações, a outros argumentos con-
trários. Enfim, a tese habermasiana vê entre Rousseau e Kant o alicerce da sua noção
de soberania popular e governo legítimo.
Enfim, Habermas é um autor enciclopédico, que procura dar conta dos melhores
princípios democráticos do contratualismo, em especial de Rousseau, junto aos acrésci-
mos já avançados por Kant – por isso, também, outros autores do século XIX, como Marx,
são revisados pelo frankfurtiano, apesar de estes já não serem objeto deste trabalho.
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MARTINS, Wellington Anselmo. A Soberania Popular,
Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica, assim, apresentada uma aproximação ao tema, ainda novo no meio acadêmi-
co, da relação possível entre Rousseau e Habermas. Porém, tais passos iniciais já indicam
uma recepção favorável do frankfurtiano especialmente em relação à obra Contrato so-
cial. Não sem as ressalvas apontadas, o princípio revolucionário de soberania popular em
Rousseau se mantém útil e pertinente mesmo nesta virada de milênio.
Como dito e argumentado, Habermas opta, aqui no final do século XX, pela noção
de soberania que inspirou a Revolução Francesa, de 1789, em detrimento daquela opção
hobbesiana, britânica, da soberania no absolutismo dos reis. Também o inglês John Lo-
cke, dentre os contratualistas, é secundário na estruturação da obra Direito e democracia,
se comparado ao papel exercido pelo genebrino.
Ora, toda essa análise de ética e filosofia política contemporânea tem sido expres-
sada, traduzida e desenvolvida pelos citados especialistas: Repa, Monteagudo, Heck,
Oliveira e Volpato Dutra, principalmente.
Esse caminho escolhido, pela exegese destes autores, se mostrou necessário para
se iniciar o teste da hipótese desta pesquisa, qual seja, a de que Habermas, apesar da
apropriação crítica, ainda mantem vivo o alicerce rousseauniano da soberania do povo.
Enfim, mesmo em suas propostas originais, a exemplo de a democracia deliberativa,
Habermas não descarta a energia utópica e filosófica do republicanismo do século XVIII,
este que alicerça a criação do Estado democrático de Direito.
A partir destes primeiros passos dados, pelos citados especialistas deste traba-
lho, importa agora avançar na análise da obra completa de Habermas, registrando, além
de no Direito e democracia, também em seus diversos outros livros, a forma como tem re-
cepcionado e alimentado a importância incontornável de Rousseau mesmo para o pen-
samento atual.
REFERÊNCIAS
DUTRA, Delamar José Volpato Dutra. Rousseau e Habermas. Argumentos, Ano 4, Nº. 8.
2012.
63
MARTINS, Wellington Anselmo. A Soberania Popular,
Entre Habermas e Rousseau. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1,
p. 52-64, 2021.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Volume II. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992.
HECK, José. Habermas e Rousseau: Uma relação difícil. Intuitio. Porto Alegre V. 1; No.
2, Novembro. Pp. 11-32. 2008.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010.
64
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRIMÁRIOS NO CURSO DE
PEDAGOGIA DA FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DO
SAGRADO CORAÇÃO (FAFIL) DE BAURU-SP (1954-1968)
RESUMO
A pesquisa, cujos resultados são apresentados neste artigo, enfocou a formação de pro-
fessores primários na região Noroeste paulista. Dialogando com o crescente investimen-
to no âmbito da história regional na pesquisa em educação, o artigo tem como objetivo
geral analisar a história da formação de professores primários a partir do curso de Peda-
gogia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL), de Bau-
ru, entre 1954 e 1968. O recorte cronológico compreende o período de implantação do
curso e da abertura da primeira turma – 1954 – até o ano de formação da décima turma,
que corresponde ao ano de 1968. Para o desenvolvimento da pesquisa, foram utilizados
procedimentos de localização, reunião e seleção de documentos, a partir dos quais fo-
ram elaboradas as referências bibliográficas, as quais estão organizadas, classificadas e
ordenadas a partir de categorias. Por meio da pesquisa, foi possível compreender que a
FAFIL contribuiu de forma intensa para a formação de professores na região Noroeste
paulista, tendo não somente destinado docentes para o ensino primário, mas, também,
para outros níveis de ensino e para cargos de gestão educacional. Promovendo discus-
sões teóricas e metodológicas bastante convergentes com o que circulava no debate
nacional e até mesmo mundial quanto a questões educacionais, o curso de Pedagogia
permitiu a formação de um grupo de professores muito articulado com essas discussões.
65
ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
ABSTRACT
The research, whose results are in this paper, focused on the training of primary teachers
in the Northwest region of São Paulo. In dialogue with the growing investment in the
scope of regional history in research in education, the article aims to analyze the history
of the training of primary teachers from the Pedagogy undergraduate course at the Fa-
culdade de Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL), from Bauru, between
1954 and 1968. The chronological cut comprises the period of implementation of the
course and opening of the first class - 1954 - until graduation of the tenth class, which
corresponds to 1968. To conduct the research, we located and selected documents from
which we prepared bibliographical references, which were organized, classified, and or-
dered according to categories. Our findings showed that it was possible to understand
that FAFIL contributed intensively to the training of teachers in the Northwest region of
São Paulo, having not only destined teachers for primary education, but also for other
levels of education and management positions. Promoting theoretical and methodolo-
gical discussions quite convergent with what was circulating in the national and even
worldwide debate on educational issues, the Pedagogy course allowed the training of a
group of teachers very articulated with such discussions.
Keywords: History of teaching training. Bauru. Faculty of Philosophy and Sciences. His-
tory of education.
INTRODUÇÃO
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ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
MÉTODO
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ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
A partir do que se apresentou e tomando como fio condutor o objetivo geral e como
instrumentos de análise os pressupostos teóricos acima delineados, foi desenvolvida
pesquisa bibliográfica e documental. As etapas da pesquisa bibliográfica contaram com
a consulta a base de dados da biblioteca do Unisagrado e de outras universidades, assim
como em outras bases de dados, a saber: Scielo, bancos de teses e portal de periódicos da
CAPES.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Sobre a investigação é preciso destacar que durante o processo de desenvolvimento da pesquisa docu-
1
mental, as ações de consulta presencial no NUPHIS tiveram de ser suspensas devido à pandemia de CO-
VID-19, a qual impediu que fossem levadas à frente atividades fundamentais para a coleta e recupera-
ção de documentos. Desse modo, foi possível desenvolver tais etapas apenas entre os meses de janeiro e
março de 2020, pois entre março e julho de 2020 não havia atendimento ao público no NUPHIS. Para não
impactar mais ainda o andamento da pesquisa, optamos por utilizar a documentação recuperada nesses
dois meses de pesquisa documental no NUPHIS e intensificamos a pesquisa bibliográfica visando tecer
uma análise mais sólida do que foi possível recuperar.
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ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
tica pouco explorada nas pesquisas históricas em educação. Os resultados das pesquisas
já desenvolvidas acerca da questão demonstram a fecundidade das investigações que,
de modo articulado e cotejado, problematizam as nuances variadas que compõem o fe-
nômeno educativo em suas proposições e concretizações (ORIANI, 2015; 2018; SOUZA,
2015).
69
ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
modelo das Escolas Normais Livres, as quais eram as organizadas a partir de iniciativa
municipal ou particular e não gozavam de reconhecimento estadual no que se refere
aos seus diplomados. Desse modo, aqueles que se formassem por essas instituições
poderiam exercer a profissão docente apenas em escolas primárias particulares ou como
professores leigos3 nas escolas estaduais.
70
ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
Fonte: NUPHIS
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ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
Fonte: NUPHIS
Além disso, a autora destaca que a década de 1960 foi marcada na história da
FAFIL pelo fato de que foi inaugurado o curso de matemática, o que mostraria o interes-
se pelas licenciaturas na instituição de ensino. Após descrever a história do município e
da instituição, a autora relata as dificuldades que o curso de matemática – que ela inves-
tiga – passou com as escassas aulas práticas e a relação estreita entre professor e aluno
decorrente do número pequeno de alunos. Apresenta em suas conclusões que
72
ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
Desse modo, apesar de não serem informações que permitem identificar as cida-
des atendidas pela FAFIL, foi possível compreender que após terem sido formados, mui-
tos dos graduados em Pedagogia passaram a atuar em Marília, Garça e em Bauru, tam-
bém. A inserção na rede pública de ensino também se destaca, assim como a ocupação
de cargos de direção de escolas primárias, secundárias e profissionais e de orientadores
educacionais.
73
ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
Apesar de a análise de Furtado (2015) incidir sobre um colégio e a que foi reali-
zada na pesquisa de iniciação científica que subsidia este artigo sobre uma Faculdade
é possível problematizar se há pontos de convergência a respeito da disseminação dos
ideais católicos de formação humana, religiosidade. Todavia, não foram localizados do-
cumentos que permitam afirmar questões dessa natureza e, tampouco, esse era o propó-
sito da pesquisa. Porém, há um aspecto que converge entre a análise de Furtado (2015)
e a que vem sendo desenvolvida: a importância das instituições confessionais para a dis-
seminação da educação seja ela de qual nível for.
Nesse ponto, há que se ressaltar a contribuição que a FAFIL, assim como outras
instituições confessionais na disseminação da educação via criação de estabelecimentos
de ensino em cidades do interior do estado, como atesta Furtado (2015).
74
ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
Disciplina Duração
Introdução à Filosofia 3 anos
Introdução à Teologia 3 anos
Complementação Matemática 1 ano
História da Filosofia 3 anos
Biologia 1 ano
Sociologia 2 anos
Psicologia Educacional 2 anos
História da Educação 2 anos
Filosofia da Educação 2 anos
Estatística 1 anos
Psicologia 1 ano
Psicologia Social 1 ano
Educação Comparada 1 ano
Administração Escolar 2 anos
Testes e Métodos Educacionais 1 ano
Didática Geral 1 ano
Didática Especial 1 ano
Orientação Educacional 1 ano
Psicopatologia 1 ano
Fonte: Boletim escolar de aluno (1954-1957)
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ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
Orientação Educacional
Fonte: Anais 1954-1964, p. 263.
Vale destacar que houve nova alteração de matriz a partir dos anos de 1970 de-
vido à publicação do Parecer n. 252, de 1969 do Conselho Federal de Educação (BRASIL,
1969), o qual implicou em mudanças importantes, já que a partir de então, o curso de
Pedagogia passaria a formar, além do docente, os “especialistas em educação”, incluindo
habilitações específicas, tais como: Orientação Educacional, Supervisão Escolar, Admi-
nistração Escolar e Inspeção Escolar. A partir de Catálogo Geral de 1973, produzido pela
Coordenadoria de Assuntos Acadêmicos da FAFIL, foi possível constatar a inclusão des-
sas habilitações. Assim, em 1973, a matriz do curso, incluía as “disciplinas e atividades
práticas” para o Ensino Normal e as habilitações específicas para “Administração Escolar
de 1º e 2º grau”, para “Orientação Educacional de 1º e 2º grau”, para “Inspeção Escolar de
1º e 2º grau” e para “Supervisão de 1º e 2º grau” (CATÁLOGO GERAL, 1973, p. 38-43).
Do modo com que essa matriz curricular se configurava, ela ficou conhecida como
«modelo 3+1», que foi utilizado de forma intensa na formação de professores em nível
superior. De acordo com Saviani (2008), essas matrizes tinham as seguintes disciplinas
obrigatórias:
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ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
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Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma Brasileira de
Referências (NBR 6023). Rio de Janeiro, 2018.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A escola e a república e outros ensaios. Bragança
Paulista: EDUSF, 2003.
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ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
INOUE, Leila Maria. Escolas Normais em São Paulo (1927-1946): reflexões sobre
sua expansão pelo interior. In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO, 10, Anais..., Curitiba, 2014, p. 1-14.
______. Entre Livres e Oficiais: a expansão do ensino Normal em São Paulo (1927-
1933). Tese (Doutorado em Educação), Universidade Estadual Paulista, Marília, SP,
Brasil, 2015.
NERY, Ana Clara Bortoleto. A Sociedade de Educação de São Paulo: embates no campo
educacional (1922-1931). São Paulo: Editora UNESP, 2009.
ORIANI, Angélica Pall. “A cellula viva do bom apparelho escolar”: expansão das escolas
isoladas pelo estado de São Paulo (1917-1945). 277f. Tese (Doutorado em Educação) –
Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2015.
SAVIANI, Dermeval. A pedagogia no Brasil: história e teoria. Campinas, SP: Autores As-
sociados, 2008.
80
ORIANI, Angélica Pall e GRILLO, Mirella Muniz. A Formação de
Professores Primários no Curso de Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração (FAFIL) de Bauru-Sp
(1954-1968). MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 65-81. 2021.
SOUZA, Rosa Fátima de. Educação e civilização nas zonas pioneiras do estado de São
Paulo (1933-1945). Cadernos de História da Educação, Uberlândia, v. 14, n. 2, maio/ago.
2015. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/32548/17825.
Acesso em: 15 jan. 2016
______. O ensino normal no estado de São Paulo: 1890-1930. São Paulo: Faculdade de
Educação da USP, 1979.
81
A ESCOLARIZAÇÃO DO ESTUDANTE COM TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA: REGISTROS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
THE SCHOOLARIZATION OF STUDENTS WITH AUTISTIC SPECTRUM
DISORDER: SCIENTIFIC PRODUCTION RECORDS
Julia Dantas Martins Baunilia1; Maria Luisa Marques da Silva Amorim2; Juliana
Vechetti Mantovani Cavalante3
1
Egressa do curso de Pedagogia do Centro Universitário Sagrado Coração- Bauru- São Paulo-
julia.baunilia@gmail.com
2
Egressa do curso de Pedagogia do Centro Universitário Sagrado Coração- Bauru- São Paulo-
jaluamorim72@gmail.com
3
Terapeuta Ocupacional CREFITO 3/5985 – TO,especialização em Educação Especial PUC de
Campinas,Mestrado em Educação PUC de Campinas. Doutorado em Educação Especial - UFSCar, São Carlos-
Bauru-São Paulo e docente da Area de Ciências Humanas e Sociais do Unisagrado -
tojulianamantovani@gmail.com
RESUMO
ABSTRACT
82
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
INTRODUÇÃO
83
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo Ulliane (2016), os autistas são classificados conforme o grau de ne-
cessidade de apoio, sendo nomeados como: autista severo, autista moderado e autista
leve. O grau três, considerado, autista severo, apresenta problemas motores chamados
de movimentos estereotipados, sensoriais, sensibilidade exagerada, dificuldade com as
mesmices do dia a dia, são dependentes e apresentam complicações graves para se co-
municar e não expressam com frequências suas emoções, o que dificulta a compreensão
entre o autista e seu apoio. Autista moderado, grau dois, contém essas mesmas dificul-
dades, porém não são tão intensas quanto o grau três. Autista leve, grau um, tem proble-
mas com suas próprias organizações, dificuldade em comunicação, porém conseguem
84
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
ter uma interação social, o que dificulta na sua total independência (ULLIANE, 2016).
85
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
Para que o docente tenha condições de ensino é fundamental que ele tenha
uma formação adequada, contemplando a educação especial. É necessário com que ele
reconheça as características do aluno portador do transtorno do espectro autista, para
assim, providenciar práticas eficientes e individualizadas, em vista do desenvolvimento
do seu aluno nas relações, envolvendo a aprendizagem no âmbito escolar, como relata o
Estatuto da Pessoa com Deficiência, Capítulo IV, art. 28
X- adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de for-
mação inicial e continuada de professores e oferta de formação conti-
nuada para o atendimento educacional especializado. (BRASIL,2015).
MAPEAMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
86
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
Moraes
Octavio, Ana
Julia; Alves
A inclusão do Compreender a
Evaristo, Ana Pesquisa
aluno com Universidade importância do
Luísa; Marques bibliográfica
transtorno do 2019 Federal de aluno com TEA
de Carvalho, (revisão de
espectro autista Itajubá, Brasil na Educação
Bianca; literatura)
na educação Infantil.
Fernandes
infantil Fantacini,
Renata Andrea
Identificar Estudo de
a realidade campo
O autista e Brunna das escolas
sua inclusão Universidade (realizadas as
Stella da Silva particulares de
nas escolas Federal de entrevistas
Carvalho Lilian 2015 Teresina – PI
particulares da Santa Maria- semi-
Ferreira do e a inclusão
cidade de Teresina Brasil estruturadas,
Nascimento de crianças
– PI compostas
autistas dentro
de tal ambiente. por 19
Refletir sobre
Pesquisa bi-
A inclusão de as possibilida-
Graziele Cris- bliográfica, por
alunos com Trans- Universidade des de inclusão
tina Teodoro; meio de livros,
torno do Espectro 2016 Federal de do aluno com
Maíra Cássia políticas de edu-
Autista no Ensino Itajubá, Brasil Transtorno
Santos Godinho cação inclusiva e
Fundamental de Espectro
artigos.
Autista
87
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
Ressaltar
Resenha do
diante de
Univer- livro Práticas
Jessica de uma resenha
sidade pedagógicas
Práticas peda- Brito de um livro a
Federal para inclusão
gógicas para importância
Rosimeire 2015 de Santa e a diversida-
a inclusão e a das práticas
Maria Orlan- Maria San- de, organiza-
diversidade pedagógi-
do ta Maria, do pelo autor
cas para a
Brasil Eugênio
inclusão e a
Cunha
diversidade
Estudar as
Análise
experiências
Associação qualitativa
A inclusão educativas
Brasileira à questão
escolar nas Marina de autistas
2015 de da inclusão
autobiografias Bialer falantes e
Psicologia escolar no
de autistas não falantes
Escolar e campo do
e de baixo
autismo.
e alto
Dentre os trabalhos selecionados foi possível verificar, que o tema central, gira
88
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
em torno da inclusão dos alunos com transtorno do espectro autista no âmbito escolar.
Já os objetivos, são variados, desde a reflexão relacionada à inclusão do aluno especial,
no ambiente escolar até mesmo analisar o desenvolvimento e a escolarização dos alunos
com transtorno do espectro autista
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das discussões, fica evidente o quanto há uma defasagem do ensino
brasileiro para as pessoas portadoras do transtorno do espectro autista, cujo ensino é
baseado em uma aprendizagem homogênea, a qual busca um ensino igualitário para to-
dos e que ambos aprendam da mesma maneira. A inclusão desses alunos ocorre de forma
lenta, prejudicando o seu desenvolvimento e a sua plena participação na sociedade.
O ambiente escolar é indispensável para os alunos com TEA, pois é na escola que
ele irá socializar com outros indivíduos, estimulando a interação com novos grupos so-
ciais, possibilitando assim um desenvolvimento favorável e significativo.
89
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI
Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).Brasília,DF, 2015.Disponível em
:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm> Acesso
em: 12 maio 2018. Publicado no Diário no Diário Oficial da União em: 7 set. 2015.
90
BAUNILIA, Julia D. Martins et al. A Escolarização do Estudante
com Transtorno do Espectro Autista: Registros da Produção
Científica. MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 82-91, 2021.
UNO. Declaração de Salamanca sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Ne-
cessidades Educativas Especiais. Conferência Mundial de Educação Especial. Espanha.
P. 8-9, 1994. Disponível em :<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.
pdf>. Acesso em:16 maio 2018.
91
ESTUDO DE CASO: PERCURSO HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE
O DNA FÍSICO – TERRITORIAL DE ALGUMAS CIDADES BRASILEIRAS
Rafaela Bianchi1
1
Aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo do Unisagrado. Artigo resultado da pesquisa
de Iniciação Científica - “Estudo de Caso: Investigação sobre o percurso Histórico do DNA
Urbano do Brasil”, desenvolvida sob a orientação da Prof.ª Ma. Tatiana Ribeiro de Carvalho.
rafabianchi7@gmail.com
RESUMO
Desde que os primeiros portugueses chegaram ao Brasil, nosso território tem
sido palco de experimentos com relação ao ordenamento territorial. Pode-se assumir
que dadas as proporções continentais que o Brasil apresenta e a forma das nossas pai-
sagens urbanas, a experiência brasileira reúne um vasto arcabouço teórico-prático refe-
rente ao seu ordenamento territorial. No intuito de reunir, refletir, analisar e contribuir
como exemplo da experimentação adotada no Brasil, a presente pesquisa se debruça
sobre a seguinte questão: Quais contribuições para a prática e estudo do ordenamento
e planejamento territorial a experiência brasileira pode oferecer? Objetiva-se com esta
pesquisa inspirar, instigar e expor a experiência do urbanismo no Brasil de maneira a con-
tribuir com outras realidades, localidades e investigações. Por meio de pesquisa biblio-
gráfica, pesquisa em artigos, teses online e estudos de caso de algumas cidades brasilei-
ras, esta pesquisa investiga e analisa momentos específicos de relevância da história do
urbanismo no Brasil e constrói uma linha cronológica, que expõe, de maneira pragmática,
algumas das mais variadas experiências brasileiras que poderão ser acessadas e servir de
inspiração para estudos e exemplos práticos aplicados.
ABSTRACT
Since the first Portuguese people arrived in Brazil, our territory has been scenery
of experiments in relation to territorial ordering plans. It can be assumed that, given the
continental proportions that Brazil presents and the shape of our urban landscapes - be-
92
BIANCHI, Rafaela. ESTUDO DE CASO: PERCURSO
HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 92-123, 2021.
cause of the action of Europeans in our territory -, the Brazilian experience gathers seve-
ral theoretical and practical frameworks of one of the aspects that involve the science of
urbanism: territorial planning. To gather, reflect, analyze, and contribute as an example
of the experimentation adopted in Brazil, the issue is: What are the contributions offe-
red by the Brazilian experience to the practice and study of territorial ordering planning?
The goal of this research is to inspire, instigate and expose the experience of urbanism
in Brazil to contribute with other realities, locations, and investigations. Through biblio-
graphic research in articles, online theses, and case studies of some Brazilian cities, this
research investigates and analyzes specific moments of relevance in the history of urba-
nism in Brazil and builds a chronological line, which exposes, in a pragmatic way, some of
the most varied Brazilian experiences that can be accessed and serve as inspiration for
the study and practical examples.
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da ocupação territorial pelos europeus, o Brasil experienciou
e experiencia uma série de diretrizes e tomadas de decisões no campo do ordenamento
territorial que foram moldando nossas cidades tais quais as conhecemos na atualidade.
Entretanto, antes de dar início ao assunto, se faz necessário explorar alguns con-
ceitos relevantes sobre os termos planejamento urbano, ordenamento territorial e ur-
banismo, uma vez que há uma incerteza terminológica dos termos, como salienta Rovati
(2013). O mesmo autor explica que o impasse se dá devido ao fato de que urbanistas/
planejadores desempenham múltiplas atividades que dificultam o enquadramento teó-
rico-conceitual dos termos. Sobre um desses termos, Agache (1930) define:
Urbanismo é uma ciência e uma arte e, sobretudo, uma filosofia social. Enten-
93
BIANCHI, Rafaela. ESTUDO DE CASO: PERCURSO
HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 92-123, 2021.
Diante do exposto vale ainda ressaltar a definição de Souza (2010), que explica
que o urbanismo, ou desenho urbano, está incluído no planejamento urbano.
Sobre esses termos, Lima (2002) afirma que as nomenclaturas atribuídas, “urba-
nismo” e “urbanização”, foram utilizadas pela primeira vez em torno da segunda metade
do século XIX, por Ildelfonso Cerdá, conforme citado em sua obra Teoria Geral da Urba-
nização1, que trata a cidade como um organismo complexo.
94
BIANCHI, Rafaela. ESTUDO DE CASO: PERCURSO
HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 92-123, 2021.
nejamento urbano se referem ao estudo das cidades e ambos objetivam o mesmo fim: o
bem-estar dos seus citadinos, contemplando vários aspectos que culminam numa quali-
dade de vida adequada à vivência humana nas cidades. Neste sentido, vale salientar que
o conceito do urbanismo/planejamento surgiu juntamente com a Revolução Industrial, a
partir da alta demanda de trabalhadores rumo às cidades e dos problemas advindos da
precária condição de vida das pessoas nas cidades naquele momento.
Observa-se, assim, que na busca por uma definição do termo, Agache (1930, apud
MOREIRA, 2008) se remete ao desenho urbano, enquanto Baratto (2020) se concentra
no planejamento como estratégia, objetivo bem definido.
Neste sentido, Chaves (1998 apud LACERDA, 2013), de forma pragmática, eluci-
da, através da figura 1, algumas dimensões do planejamento urbano e regional.
95
BIANCHI, Rafaela. ESTUDO DE CASO: PERCURSO
HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 92-123, 2021.
origens diferentes conflui para um único objetivo: projetar o futuro da cidade tomando
como premissa os seus problemas em suas mais variadas esferas e contextos.
MÉTODO
Para esta pesquisa se fez necessário um amplo estudo bibliográfico-documental,
que envolve análise em artigos, teses, dentre outras fontes de pesquisa, no intuito de
buscar uma definição para conceitos concernentes ao tema da pesquisa.
O critério de seleção das cidades analisadas como estudos de caso se deu pelas
singularidades físico-espaciais e socioeconômicas que as cidades contemplam.
Desde o início da colonização no Brasil as cidades foram se desenvolvendo de
acordo com a economia de cada época e, frente às suas condições físico-espaciais, o or-
denamento territorial refletiu tais conformações.
Para a presente pesquisa optou-se por analisar o arco temporal condicionado pe-
96
BIANCHI, Rafaela. ESTUDO DE CASO: PERCURSO
HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 92-123, 2021.
las questões econômicas e políticas do país, como serão explicados nos estudos de caso.
Com isso em mente, se faz necessário analisar os territórios das cidades escolhi-
das para entender as primeiras decisões que organizaram e definiram os povoamentos
iniciais. Neste sentido, vale salientar que o critério de seleção das cidades se deu no sen-
tido de pontuar algumas das mais diversas formas de intervenções ocorridas no vasto
território brasileiro.
O arco temporal adotado nesta pesquisa foi condicionado pelas questões econô-
micas e políticas do país e serviu somente como norteador, estabelecendo uma relação
com os saberes e práticas de ordenamento aplicadas em cada momento específico da
história das cidades brasileiras, como segue:
97
BIANCHI, Rafaela. ESTUDO DE CASO: PERCURSO
HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 92-123, 2021.
2
REIS FILHO, N. Evolução Urbana do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1968.
3
SILVA, C. H. Espaços Públicos Políticos e Urbanidade: o caso do centro da cidade de Aracaju. Tese de Doutorado.
Salvador, 2009.
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HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
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A partir desta explanação sobre as escolhas das cidades – e de uma breve descri-
ção de seus respectivos territórios – se faz necessário entender a composição do Cená-
rio Urbano.
Pode-se assumir assim que o desenho urbano constitui o local onde a vida da so-
ciedade se dá, ou seja, os espaços construídos, que permitem a interação do meio urbano
e o homem. Essa estrutura é composta por edificações, ruas, áreas verdes, mobiliários
urbanos etc. Ao longo dos tempos, o desenho urbano, ou seja, a composição do cená-
rio da cidade, se altera de maneira dinâmica e Gouvêa (2008) explica que vários fatores,
como o econômico, influenciam na formação de um desenho urbano, além do relevo, do
solo, da hidrografia e do clima, fatores intrinsecamente ligados à configuração do local.
Para exemplificar esta questão, será realizado um breve estudo das cidades acima elen-
cadas no sentido de evidenciar a evolução das mesmas e entender seu desenho urbano.
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BIANCHI, Rafaela. ESTUDO DE CASO: PERCURSO
HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 92-123, 2021.
dendo ter inúmeros desenhos conforme sua topografia, clima e outros fatores naturais.
Em consequência do espaço físico, a escolha da malha pode assumir diversas formas:
ortogonal, radial, quadriculada etc., que constituirá o desenho das quadras, dos lotes e,
como consequência, a implantação das edificações e a infraestrutura.
Diante do exposto, foi criado um padrão de análise que será utilizado para os es-
tudos de caso investigados, como explicita a figura 3. É importante salientar que os pla-
nos de teto, vertical e de piso serão analisados no tópico B.
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expandir seus territórios. Neste sentido, Holanda (1963) salienta que a habitação de ci-
dades é essencialmente antinatural e que, para os colonizadores, a construção destas foi
um instrumento de dominação. Sendo assim, em seus territórios subordinados, os colo-
nizadores europeus recriaram o desenho urbano de suas nações no novo espaço. Dessa
forma, em 1494 o Tratado de Tordesilhas dividiu de forma desigual as terras que hoje
compõem o Brasil. No acordo, Portugal ficou com o domínio sobre a área litorânea, que
incluía o Brasil, e a Espanha, com a parte central da América do Sul.
No Brasil, Motta (2004) nos diz que a princípio Portugal desenvolveu um sistema
de sesmarias para a costa brasileira, visando solucionar os problemas de abastecimento
do país. Para isso, a costa brasileira foi dividida em 14 partes e seus donatários ficaram
encarregados pela sua porção territorial demarcada.
Até então a Coroa não via necessidade de intervir nas sesmarias, uma vez que
eram “comandadas” por seus donatários. Todavia, segundo Cury (2008), devido à queda
do preço do açúcar no Brasil e à derrocada dos negócios em outras colônias portuguesas,
o interesse dos donatários e da Coroa entraram em desacordo. Desta forma, a Metrópo-
le, Portugal, viu a necessidade de ter um controle mais direto da Colônia.
A primeira vila oficial brasileira foi Salvador, sediada pelo Governo Geral, refletia
o ordenamento português que, diferentemente dos espanhóis, não constituía um pla-
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nejamento linear e regular, seguindo assim a silhueta litorânea. Holanda (1963, p. 105)
descreve este ordenamento com precisão ao salientar:
Holanda (1963) acrescenta, ainda, que não foi apenas por essa política de segu-
rança que o ordenamento territorial se deu de forma irregular, mas também pelo desen-
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volvimento liberal que Portugal tinha. Eles não usavam da razão, conforme os espanhóis,
mas sim da rotina e da fantasia de se criar cidades conforme às situações topográficas.
Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, foi preciso criar percursos para o
escoamento do ouro, que o transportasse para o litoral brasileiro e posteriormente para
Portugal.
Lopes (2016) nos diz que para isso foi utilizada a chamada Estrada Velha, que co-
nectava São Paulo ao Rio de Janeiro. Devido à extensão deste caminho e por questões
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estratégicas, foi desenvolvido um outro percurso, descendo até Paraty. Assim, explora-
-se Paraty como exemplo das vilas neste período.
Fundação: 16604
Localização: extremo oeste do estado do Rio de Janeiro, próximo à divisa com o
estado de São Paulo, em uma planície sedimentar no trecho da Serra do Mar.
Segundo Lima (2010), Paraty nasceu a partir dos engenhos de açúcar. Priester
(2015) atribui a Paraty três períodos econômicos importantes: o açúcar, o ouro e o café,
que, em virtude de sua localização privilegiada, permitia ligações marítimas e térreas,
dando escoamento a esses produtos.
4
REIS FILHO, N. Evolução Urbana do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1968.
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A partir dessa formação das ruas, pode-se notar os planos verticais, ou seja, as
fachadas, que são desenhadas conforme os padrões coloniais e se apresentam com no
máximo dois pavimentos e skyline5 predominantemente contínua, como identificado na
figura 5. O plano de teto da cidade é de certa forma padronizado, uma vez que há pouca
interferência na vista do céu – vegetação esparsa em pontos específicos e edificações
com gabarito até 2 pavimentos no máximo.
Nota-se, diante do exposto, que, apesar da cidade não possuir ainda uma estrutu-
ração formal e planejada das estratégias de desenvolvimento urbano, havia nitidamente
a intenção dos portugueses em tratar as condições de esgotamento sanitário de Paraty,
como atesta Costa, et al (2003): “Paraty foi concebida como plataforma de engrenagem
entre os caminhos do mar e os caminhos da terra. Era importante que a água não fosse
5
“Os skyline ou as linhas do horizonte são como assinaturas urbanas, são a abreviatura da identidade de cada localida-
de e a possibilidade para o crescimento urbano.” (KOSTOF, 1991, apud GREGOLETTO, REIS, p. 1)
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barrada e entrasse pela cidade adentro” (COSTA et al., 2003, apud PRIESTER, 2015, p.
22). Por esta razão, as casas também ficavam dispostas e elevadas acima do nível da rua
para evitar alagamentos.
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bora não houvesse muitas alternativas para dimensionamento e ordenamento dos tra-
çados e edificações, alternativas foram adotadas para surtir o mesmo efeito.
Fundação: 18556.
Localização: Costa nordestina do Brasil.
Segundo França (2014), uma vez que a antiga capital, São Cristóvão, não compor-
tava mais o cenário econômico e político do país, era preciso transferir a capital. Santos
(2016) afirma que forças políticas pressionaram a transferência da capital para uma ci-
dade com melhores condições territoriais, assim o escoamento do açúcar – economia do
período – seria facilitado. Segundo o mesmo autor, apesar de todos os fatores positivos
que impulsionaram a transferência da capital, foi necessária uma intervenção em Araca-
ju, uma vez que, antes de 1855, esta era apenas uma vila colonial com vielas tortuosas,
pouca infraestrutura urbana e um pequeno comércio local. A partir da transferência de
capital, Aracaju sofreu várias transformações e começou a formação de um desenho ur-
6
SILVA, C. H. Espaços Públicos Políticos e Urbanidade: o caso do centro da cidade de Aracaju. Tese de Doutorado.
Salvador, 2009.
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bano definitivo.
Nogueira (2004) salienta que um fator que auxiliou a implantação do novo assen-
tamento foi sua estrutura geográfica, situada em uma planície, com áreas ventiladas, fér-
teis e salubres. Porém, esta situação geográfica atrapalhou na questão do assentamento,
uma vez que as terras eram alagadiças, pantanosas, de areais e mangues. Seus níveis to-
pográficos eram muito baixos, o que acarretou essas condições físicas. Para vencer essas
questões, segundo Santos (2016), foram precisos inúmeros aterros para tornar a planí-
cie urbanisticamente construtiva.
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De acordo com Maricato (2000), no final do séc. XIX e no início do séc. XX come-
çaram várias reformas nas cidades brasileiras, pensando em condições de saneamento
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BIANCHI, Rafaela. ESTUDO DE CASO: PERCURSO
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básico e embelezamento. Essas reformas não vieram apenas para se opor à feiura, mas
também para satisfazer uma elite, lançando a base de uma fase modernista no Brasil.
Fundação: 1933.
Segundo Mathieu e Mello (2008), nos anos de 1930 foi iniciado no Brasil a “Mar-
cha para Oeste”, uma “campanha” para incentivar o processo de interiorização do país, e
a criação de Goiânia foi o ponto central deste projeto, para tirá-la da insignificância.
Ferreira (2003) afirma que a antiga capital de Goiás, Vila Boa de Goiás, não pos-
suía localização nem terreno ideal, além da topografia desfavorável e a economia decli-
nando. Visto isso, a partir de discussões políticas notou-se que o ideal era transferir a
capital para um local que se opunha a tudo isso e trouxesse um símbolo de desenvolvi-
mento, infraestrutura, centro econômico, político e geográfico.
O projeto de Atílio Côrrea Lima foi inspirado nas 4 funções da cidade (habitar,
trabalhar, recriar e circular), os postulados do modernismo definidos por Le Corbusier na
Carta de Atenas7. (FERREIRA, 2003). Porém, o projeto sofreu várias alterações.
7
Segundo Galbieri (2008), a Carta de Atenas faz ponderações sobre as habitações, o trabalho, o lazer, a circulação e o
patrimônio histórico, considerando também a divisão de área da cidade, como áreas residenciais, industriais, traba-
lhistas e de lazer, propondo uma setorização e planejamento do uso e ocupação do solo.
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Segundo Manso (2001, apud Costa et al, 2012), seguindo o novo modelo urbanís-
tico, a cidade foi dividida em setores de atividade (comercial, residencial, institucional,
industrial) e o plano urbanístico dividido em especificamente 5 partes: o Centro Cívico
(abrigando os edifícios públicos); o Centro Comercial (com vias e quadras de larguras
ideais para suportar o alto fluxo); áreas Urbanas e Suburbanas; Zonas Residencias (des-
tacando a segregação em subáreas mais abastadas e menos favorecidas – visto que as
classes de menor aquisição ficavam próximas às zonas industriais); e, por fim, a Zona In-
dustrial, próxima à construção de estradas de ferro. No plano urbanístico de Goiânia as
áreas verdes são bem demarcadas. A Praça Cívica, como exemplo, foi projetada acomo-
dando jardins, valorizando a circulação de carros e criando corredores de árvores que,
unidas, criam uma grande massa caracterizando, assim, o plano de teto (superfícies que
encobrem o céu) da cidade.
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O autor salienta que Godói inspirou-se nas cidades jardins de Howard (1898)
para a concepção da nova capital ao alargar avenidas e expandir espaços verdes e espa-
ços livres. O projeto continha também divisão de setores: Centro, Norte, Sul, Setor Leste
e Setor Oeste.
Alves e Chaves (2007) argumentam que a segregação social da cidade apenas au-
mentou com o passar dos anos. As aglomerações urbanas acabaram tomando conta do
território e, a partir disso, vários loteamentos irregulares no entorno da cidade, contra-
pondo-se ao desenho original e acentuando cada vez mais a desigualdade social.
Apesar de Goiânia ser uma cidade planejada, de acordo com Santos e Oliveira,
2013, a mesma convive com diversos problemas mediante ao seu crescimento. A cidade
convive com espaços periféricos que não seguem o mesmo desenho do centro, além dis-
so, esses novos espaços carecem de infraestrutura básica, de asfalto, saúde, educação,
transporte público, entre outros diversos serviços que são necessários para o desenvol-
vimento da vida humana da cidade.
Fundação: 1940
Em meados de 1650, uma expedição foi formada pela Corte Portuguesa na região
de Curitiba para encontrar ouro e metais. De acordo com Peterlini (2012), a futura cida-
de se consolidava com alguns habitantes e um pequeno comércio local.
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Apesar de Curitiba ter sido construída no período colonial e, por essa razão, ter
nascido em torno de uma igreja matriz e apresentar uma organização a partir de uma
malha urbana orgânica – seguindo os traçados topográficos, característicos do domínio
português (CAROLLO, 2002) – seu planejamento e ordenamento urbano foi concebido
em torno de 1940, pelas mãos do arquiteto francês Alfred Agache.
Carmo (2012) salienta que Curitiba, assim como muitas outras cidades brasilei-
ras, possuía uma segregação social, deixando algumas zonas sem recursos básicos. Para
melhor desenvolvimento e crescimento, a cidade demandava um plano urbanístico que
ordenasse as ruas e caminhos que, em sua maioria, apresentavam descontinuidade além
das esquinas tortuosas.
Agache, segundo Carmo (2012), elaborou um coerente traçado urbano para que
não houvesse problemas de congestionamentos e desordem das construções, além de
projetar praças e lugares onde ficariam os serviços e lazer. O sistema viário previa ave-
nidas desenhadas de modo radial, apontando sempre para o centro da cidade, sempre
arborizado, definindo seu plano de teto.
De Acordo com Del Rei e Siembieda (2015), o Plano Diretor desenvolveu “cin-
co eixos estruturais” de transporte que se irradiava do centro da cidade, direcionou a
população para as “periferias”, canalizando o crescimento populacional. As áreas verdes
eram bem planejadas, conforme o projeto urbanístico e sua execução, uma vez que cada
49m² de espaços verdes correspondia a um habitante na cidade. Segundo os mesmos
autores, o Plano Diretor foi desenvolvido juntamente ao projeto urbanístico da cidade,
porém acabou se diferenciando em alguns pontos do que era previsto no projeto de Aga-
che, no que concerne ao desenvolvimento do desenho urbano. O Plano Diretor visava o
crescimento populacional de forma radial na cidade, saindo do centro da cidade – e não
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entrando, conforme projeto – e indo para suas extremidades. O Plano Diretor visava o
gerenciamento e acompanhamento do progresso da cidade, uma vez que esta teve um
crescimento populacional muito rápido em um curto período.
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Fundação: 1960.
Como Goiânia, Brasília também surgiu meio a uma antiga ideia de interiorização
do país, trazendo a capital do litoral brasileiro para o Planalto Central. Brasília é também
uma cidade referência por sediar o urbanismo modernista aplicado fidedignamente em
solo brasileiro.
Inaugurada em 1960, Brasília foi, segundo Mata (2014), uma etapa do processo
histórico do Planalto Central. É importante ressaltar que na região atual onde Brasília
está localizada já havia uma aglomeração desordenada e insipiente, o conjunto do solo
foi a junção de núcleos urbanos chamados Planaltina e Brasilândia (que foram utilizadas
como cidades satélites) com várias fazendas que já existiam ao seu redor, criando assim
um “mosaico morfológico” (KOHLSDORF, et al, 1985, apud DEL RIO, SIEMBIEDA, 2015,
p. 39).
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A esplanada prossegue até o cruzamento dos dois eixos urbanísticos, Eixo Monu-
mental e Eixo Rodoviário, onde localiza-se a plataforma rodoviária, funcionando como
coração da cidade.
Na parte inferior a plataforma segue uma via de mão única, seguindo de forma
espraiada até se nivelar com a rodovia, que fornece acesso a setores distintos, como co-
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Posto isso, constata-se que desde o início Brasília é organizada de maneira lógica,
objetiva e clara. Porém, de acordo com Mata (2014), apesar de Brasília ter sido planeja-
da, seu desenvolvimento também apresentou problemas, como, por exemplo, a não pre-
visão de que seus primeiros moradores seriam os construtores que ajudaram a levantar
seu Plano Piloto: os candangos.
A cidade era um “projeto para todos”. Porém, como todo planejamento, a segre-
gação de classes foi inevitável. As cidades satélites testemunham isso, através dos seus
grandes aglomerados ao redor de Brasília. Segundo Fonseca e Neto (2001, apud Mata,
2014), as cidades satélites nasceram de um projeto urbanístico, mas não de um planeja-
mento, ou seja, estavam previstas, porém não haviam sido projetadas no Plano Piloto.
Diante do exposto, pode-se notar que Brasília, como salientado por Ghel (2015), é
para ser vista do alto e de fora, ou seja, o espaço urbano é grande demais, nada convida-
tivo e está concentrado exclusivamente na maior escala.
De acordo com Menezes (2008), a cidade de Brasília sofreu várias críticas, como
a “cidade sem rua” ou rotulando-a como “feira de automóveis”. Entretanto, com o passar
dos anos, a cidade foi se desenvolvendo e sua vegetação arbórea preencheu todo o espa-
ço urbano, sombreando seus caminhos e fechando os horizontes que antigamente eram
taxados como áreas vazias, possibilitando, assim, o usufruto dos espaços livres. A cidade
é denominada como “feira de automóveis” devido à sua falta de delimitação dos espa-
ços destinados aos pedestres, prevalecendo, desta forma, as críticas, definindo a Brasília
como uma cidade para carros.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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uma readequação não apenas voltada às lógicas territoriais, mas preocupações no âmbi-
to social, cultural, político e econômico, que foram fatores incorporados ao desenho ur-
bano e ao planejamento territorial das cidades. O fator econômico apresentou-se como
um dos pontos mais relevantes neste contexto de atração para criação das cidades e de
sua organização.
Neste sentido, de acordo com Lang (2005, apud Vicente Del Rio e William Siem-
bieda, 2015), o desenho urbano das cidades brasileiras se afastava de seu perímetro ori-
ginal, tendo sempre que recorrer a espaços criados posteriormente a um planejamento
que era preciso ser “encaixado” nesse contexto. Como exemplo, podemos citar as cida-
des satélites de Brasília.
Observou-se, também através das análises dos Estudos de Caso, que apesar dos
diversos modelos e objetivos que lideraram as tomadas de decisões no campo do orde-
namento territorial no Brasil, as cidades brasileiras aqui analisadas foram se desenvol-
vendo de acordo com os saberes de cada época através de uma relação estreita com a
conformação do local. Observa-se, assim, que o campo do urbanismo, enquanto campo
do saber e prática, é vasto, complexo e que, em seu processo de atualização, demanda
revisão constante.
Outro fator observado é que as decisões sobre o território são também resultado
de expectativas que motivam e nutrem, almejando uma realidade inalcançada e comple-
xa. Isso acontece porque a cidade é um organismo vivo que se atualiza a todo momento
e, por essa razão, as mudanças no desenho da cidade sempre irão ocorrer e novos planos
e diretrizes deverão ser criados para organizar a cidade novamente diante das novas de-
mandas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se, portanto, que por se tratar de uma ciência humana por natureza,
o Urbanismo – aqui entendido como todos os estudos que contemplam cidade em sua
totalidade - tal qual seu criador, o homem, tem em sua raiz mais profunda contradições,
complexidades e dinâmicas que lhe atribuem um caráter dinâmico, uma natureza vibran-
te, que se atualiza constantemente, impossibilitando, portanto, o cerceamento e defini-
ção pré-estabelecida, de qualquer forma ou natureza.
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O estudo do Urbanismo se mostrou volátil, rico e dinâmico, tal qual a cidade e seu
criador, o homem, em especial o arquiteto e urbanista que atua diretamente nesta área
trabalhando com equipes multidisciplinares. Notou-se, primordialmente, que a constru-
ção da realidade humana demanda e aponta para a necessidade de atualização contínua,
tanto deste campo do saber quanto do profissional que atual nesta área.
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HISTÓRICO – INVESTIGATIVO SOBRE O DNA.
MIMESIS, Bauru, v. 42, n. 1, p. 92-123, 2021.
123
CAMPANHA #1KISS1DONATION: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO
EMPRESARIAL NAS REDES SOCIAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA
#1KISS1DONATION CAMPAIGN:CORPORATE SOCIAL MEDIA
COMMUNICATION STRATEGIES IN TIMES OF PANDEMIC
Data de envio: 22/02/2021
Data de aceite: 14/04/2021
RESUMO
ABSTRACT
This paper aims to present a research model that shows the communication stra-
tegies used in social networks, especially concerning the Doritos Rainbow through the
124
SOUZA, Ednan G.; RODRIGUES, Ana P. Campanha
#1kiss1donation: Estratégias de Comunicação Empresarial
nas Redes Sociais em Tempos de Pandemia. MIMESIS,
Bauru, v. 42, n. 1, p. 124-135, 2021.
#1KISS1DONATION Project. So, we will discuss marketing strategies and what led Dori-
tos to use this idea again, and the meaning for the LGBTQIAP+ public, especially with pre-
judice sometimes overriding people’s needs. An aspect that makes the Doritos Rainbow
project very significant and will lead this work to problematize and investigate, consi-
dering the difficulties presented in society, whether companies manage to keep fidelity
or hinder potential customers. Thus, we analyzed aspects that show the importance of
corporate advertising and how such a concept can be beneficial to companies that work
internally and externally to build their image and develop their values and social values.
1. INTRODUÇÃO
125
SOUZA, Ednan G.; RODRIGUES, Ana P. Campanha
#1kiss1donation: Estratégias de Comunicação Empresarial
nas Redes Sociais em Tempos de Pandemia. MIMESIS,
Bauru, v. 42, n. 1, p. 124-135, 2021.
Em uma sociedade onde os elementos tecnológicos cada vez mais são utilizados,
é difícil que o desenvolvimento de ações empresariais prosperem sem que tais elemen-
tos sejam utilizados. Saber utilizar esse meio em favor do negócio, é a diferença entre o
sucesso e o fracasso em um ramo ao qual a competição é constante e não beneficia quem
não está pronto a se atualizar no que diz respeito ao que de melhor a tecnologia tem a
oferecer.
A ideia principal contida nessa campanha, lançada para celebrar o mês do Or-
gulho LGBT+, é proporcionar uma ação diferente do que vinha sendo desenvolvida em
uma circunstância normal, sem a existência da pandemia ocasionada pelo Coronavírus
(COVID-19). É importante observar e considerar a importância do trabalho. Sobre isso,
Kunsch (2018, pág. 14)1 mostra, que: “Pensar em comunicação estratégica remete ine-
xoravelmente ao exercício do poder presente nos processos e no exercício das negocia-
ções por parte dos atores envolvidos”. É importante que uma série de fatores sejam con-
siderados, dentre os quais, a própria dinâmica social e o quanto aquela sociedade reage
aos modelos de comunicação existentes. A problematização se apresenta ante ao que foi
observado durante o desenvolvimento da ideia: As estratégias de comunicação empre-
sarial no Instagram para a campanha #1KISS1DONATION , durante a pandemia, fortale-
ceram o valor da marca Doritos Rainbow junto ao seu público externo?
KUNSCH, M. A comunicação estratégica nas organizações contemporâneas. Lisboa: Média & Jornalismo, 2018.
1
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É muito importante que as Redes Sociais sejam utilizadas, uma vez que possuem
um imenso alcance a variados públicos. Sobre isso, Kunsch (2018, pág. 14)2 vai mostrar
que: “O poder que a comunicação, em suas mais variadas vertentes e tipologias, bem
como os meios massivos tradicionais e as mídias sociais da era digital exercem na socie-
dade contemporânea é uma realidade incontestável”. Se a ideia da Doritos Rainbow for
analisada de maneira superficial, é possível que as pessoas baseadas em um senso co-
mum, associem a campanha a valores que atualmente são difundidos na sociedade e que
muitas das que julgam não possuem. Ou seja, é mais comum do que se possa imaginar
que em um primeiro momento, a ação possa ser vista sob um caráter equivocado, que
está distante da verdadeira essência da ideia. Bueno (2005, pág. 12)3 vai apontar ainda
que: “De imediato, é necessário considerar que a comunicação empresarial não flui no
vazio, não se realiza à margem das organizações […]”. É necessário que se entenda que
as estratégias de comunicação empresarial não se desenvolvem à margem da empresa,
em um ato discricionário de alguém, todas as ações estão diretamente vinculadas aos
interesses empresariais.
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2.2 Sobre as Redes Sociais
É possível ver no trabalho de Oliveira e Marchiori (2019, pág. 255)6 que: “Da mes-
ma maneira que a sociedade tem sido influenciada pelos padrões midiáticos, as organi-
zações, que são movidas principalmente por regras de consumo, tem sucumbido a lógica
da mídia […]”. Essa lógica aponta para um processo de visibilidade que não é possível se
obter em um meio tradicional de divulgação de marcas, tais como, panfletos ou outdoors.
Para que essa ideia funcione, é necessário o adequado conhecimento sobre a es-
trutura das redes sociais. De acordo com o trabalho de Imme (2020), no ano de 2019,
foram registrados os seguintes resultados referentes a redes sociais, aos quais, serão
considerados apenas os principais, tendo em vista, o proposto para o trabalho:
Fica evidente que para o adequado funcionamento da ideia desenvolvida pela Do-
ritos Rainbow, é ideal que seja utilizado o que se apresenta como mais eficiente, que é
o Facebook e o Youtube, imaginar o Instagram como elemento para desenvolvimento
desrial.
OLIVEIRA, I.; MARCHIORI, M. Redes Sociais, Comunicação, Organizações.. São Caetano do Sul: Difusão Edi-
6
tora, 2019.
7
OLIVEIRA, I.; MARCHIORI, M. Redes Sociais, Comunicação, Organizações.. São Caetano do Sul: Difusão
Editora, 2019.
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É importante ainda, que tal como Bueno (2005, pág. 16)8 demonstra: “Para respal-
dar, com competência, um processo de tomada de decisões, é necessário muito mais do
que experiência profissional, intuição ou criatividade”. Ou seja, ainda que a ideia aponte
para o que funcione ou não funcione, devem ser considerados os contextos. Em 2019,
não havia pandemia enquanto que em 2020, sim. O que pode manter ao final do ano os
mesmos números de 2019, ou proporcionar uma reclassificação que torne o Instagram
eficiente, a depender do contexto.
Se no subtópico anterior foi apresentada uma ideia geral sobre as Redes Sociais
e sua classificação, é o momento de ser trabalhado de maneira mais específica esse con-
ceito, em especial, no que se refere ao Instagram. Oliveira e Henrique (2016)9, apontam
que: “[…] o Instagram se destaca pelo aumento no número de engajamento dos usuá-
rios, o qual os permite curtir e comentar publicações, enviar posts, seguir e ser seguido
[…]”. Ainda que tenha sido classificada em 6o lugar no Brasil em 2019, o Instagram possui
potencial para crescimento, isso explica o fato da Doritos Rainbow ter apostado nessa
Rede Social em sua campanha #1KISS1DONATION. O fato é, que mesmo com a campa-
nha sendo desenvolvida também no Instagram, observou-se que a meta estabelecida
foi batida, mas, foi sentida a falta de um maior engajamento nessa Rede Social, capaz
de ampliar ainda mais o resultado. Na página oficial da Doritos Brasil10, observam-se
poucas publicações a respeito e quando o mecanismo de busca é acionado com chave
de pesquisa #1KISS1DONATION ou Doritos Rainbow, aparecem como resultados 347 e
5.543 publicações por parte dos usuários do Instagram. Ou seja, pouco mais de 5% de
um universo de 1.000,000 de usuários dessa rede, que revela o quanto o processo de di-
vulgação da marca ainda precisa ser expandido, em especial, dentro de uma Rede Social
que tem se destacado como atraente ao público LGBTQIAP+, o que denota que resulta-
dos ainda mais positivos podem ser alcançados, dependendo para isso de uma estratégia
mais ampla nessa rede.
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que nem sempre pode ser atingido pelos modelos tradicionais de propaganda. Muitas
empresas possuem setores específicos que cuidam do contato com o público e do aten-
dimento de suas demandas apresentadas. Dentro desse processo, os responsáveis pelas
relações-públicas possuem importante papel, tendo em vista, que auxiliam no desenvol-
vimento de estratégias que aproximam a empresa da sociedade, num todo.
É importante ainda observar, que não basta apenas olhar a Comunicação Empre-
sarial sob um olhar simplista, é necessário que seja levado em consideração, tal como
Bueno (2005, pág. 12)12 demonstra, que: “Para que a comunicação empresarial seja
assumida como estratégica, haverá, pois, necessidade, de que essa condição lhe seja
favorecida pela gestão […]”. Ou seja, é necessário que todos os meios necessários ao
desenvolvimento dessa atividade sejam disponibilizados para que o trabalho seja de-
senvolvido com excelência. Muito além de apenas divulgar uma ação em alguma rede, é
necessário que o planejamento contemple estratégias adequadas e que garantam o su-
cesso da ação. Essas observações se fazem necessárias, e também, pertinentes, pelo fato
de que Bueno (2005, pág. 12)13 realiza ainda um novo alerta, uma vez que: “A intenção
ou o desejo apenas não produz a realidade”. Onde fica claro, que é necessário muito mais
do que apenas “boa vontade” não é o suficiente para que uma ideia funcione, pois, sem
o adequado planejamento, por mais impressionante que possa parecer, a ideia não vai
surtir os efeitos necessários.
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dade. Atitudes como essas, são comuns em um meio social que não sabe lidar com pes-
soas com diferentes características e objetivos.
De acordo com Kunsch (2018, pág. 22)14 vai mostrar que: “Na contemporaneida-
de as relações-públicas devem desenvolver nas organizações, sua função estratégica, o
que significa ajudar as organizações a se posicionarem perante a sociedade […]”. Nesse
sentido, observa-se que a Comunicação Empresarial possui um papel cada vez mais re-
levante nesse processo, uma vez que a necessidade das empresas se aproximarem das
questões sociais, se tornou um elemento primordial na própria relação entre empresas
e clientes.
Construir uma imagem que seja positiva junto ao público é fundamental. Nesse
sentido, as empresas devem estar cientes da importância desse elemento. Observa-se
ainda dentro do trabalho de Kunsch (2013, pág. 100-117)15, que:
14
KUNSCH, M. A comunicação estratégica nas organizações contemporâneas. Lisboa: Média & Jorna-
lismo, 2018.
15
KUNSCH, M. Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada. 4. ed. rev. e ampl. São
Paulo: Summus, 2003.
SHIMP, T.; ANDREWS, J. Advertising promotion and other aspects of integrated marketing communications. Cen-
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tos que se inter-relacionam a propaganda, observa-se que as Redes Sociais se tornaram
uma realidade nesse processo e que precisam ser explorada em todo o seu potencial.
Frio (2019, pág. 182)17 vai apontar ainda que: “De modo geral, a literatura demonstra a
importância do investimento em propaganda, devido aos efeitos positivos sobre vendas,
valor da marca e do efeito positivo dessa ferramenta gerado sobre acionistas”.
Saber quando e onde investir é uma noção que precisa ser comum a todos dentro
do ramo empresarial, e somar isso às tecnologias existentes é fundamental para o suces-
so ou fracasso de um modelo de negócio ou estratégia.
FRIO, R. A relação entre investimento em propaganda e o valor da firma: uma revisão sistemática e uma agenda
17
19
SILVA, E.; MEIRELES, D.; BEZERRA, J. Comunidade LGBT como protagonista publicitária: uma
Análise de Discurso da Campanha Doritos Rainbow. João Pessoa: UFPB, 2019.
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é trazer de volta antigos elementos que tanto ajudaram no crescimento da comunidade.
Sobre esse ponto, é possível observar nesse contexto que: “A ação da empresa desenvol-
vida pela agência de publicidade AlmapBBDO, resgata a bandeira iniciada por volta de
1970 com o movimento LGBT internacional, trazendo de volta as oito cores iniciais que
compõem o símbolo original […]”. Uma busca pelo passado para explicar o presente e que
muito tem contribuído para o desenvolvimento de ações em prol do público LGBTQIAP+.
O fato é, que com tudo o que ocorreu no ano de 2020 por conta da pandemia oca-
sionada pelo Coronavírus, houve a necessidade de uma mudança de estratégia, onde em
vez do modelo tradicional de doações, a Doritos opta por realizar a #1KISS1DONATION,
onde a cada beijo virtual dado, o valor de R$ 1,00 é contabilizado, objetivando que ao
final, se tenha um milhão de beijos, que serão convertidos em dinheiro a ser distribuído
em 10 instituições escolhidas e que apoiam a causa LGBTQIAP+.
5. CAMPANHA #1KISS1DONATION
É uma campanha que busca resgatar antigos valores existentes dentro da comu-
nidade LGBTQIAP+. Muito além do que uma ação publicitária, trata-se de uma ação de
resgate a própria cidadania dessa comunidade. Nesse sentido, busca-se por meio de ofe-
recer apoio a comunidade LGBT+ em um período de distanciamento social, o que acaba
por prejudicar as ações presenciais. Assim, busca-se que um engajamento do público na
campanha, que é desenvolvida por meios digitais, onde, a cada beijo virtual enviado pe-
los participantes, a Doritos Rainbow se compromete a doar R$ 1,00, Tendo como meta a
ser atingida arrecadar 1 milhão de beijos virtuais, que serão convertidos em R$ 1 milhão
a serem doados para 10 instituições LGBT+, escolhidas para serem apoiadas durante o
curso dessa campanha no ano de 2020. Sobre isso, Silva, Meireles e Medeiros (2019,
pág. 93)20 apontam em seu trabalho que: “[…] identidade de consumo, hoje, é cidadania.
É nesse contexto que vão acontecer a construção, a desconstrução ou a supressão do
valor na ação e na mensagem publicitária”. Muito além do que uma ideia existente na
Constituição Federal21, trata-se de uma realidade que faz parte e é muito importante em
nossa sociedade.
Esperar que o Estado auxilie a essas pessoas em suas necessidades, pode ser algo
que não vá acontecer e essas pessoas precisam ver que verdadeiramente a sua realidade
social pode ser alterada por meio de empresas e pessoas que as veem de maneira huma-
nizada e como importantes na sociedade, não como pessoas que nada tem a acrescentar.
Nesse sentido o valor da marca sai fortalecido, em especial, pelo seu compromisso com
20
SILVA, E.; MEIRELES, D.; BEZERRA, J. Comunidade LGBT como protagonista publicitária: uma
Análise de Discurso da Campanha Doritos Rainbow. João Pessoa: UFPB, 2019.
21
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília, STF, 2019.
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os antigos valores que ajudaram no crescimento e também no desenvolvimento da co-
munidade LGBTQIAP+ e também da Doritos.
6. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
FERREIRA, A. Mini Aurélio: o dicionário da Língua Portuguesa. 8. ed. rev. e ampl. Rio de
Janeiro: Editora Positivo, 2010.
IMME, A. Ranking das redes sociais: as mais usadas no Brasil e no mundo, insights e
materiais gratuitos. Florianópolis: Resultados Digitais, 2020.
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SOUZA, Ednan G.; RODRIGUES, Ana P. Campanha
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Bauru, v. 42, n. 1, p. 124-135, 2021.
SILVA, E.; MEIRELES, D.; BEZERRA, J. Comunidade LGBT como protagonista publicitá-
ria: uma Análise de Discurso da Campanha Doritos Rainbow. João Pessoa: UFPB, 2019.
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PERFIL DE VISITANTES E CONSCIENTIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL EM
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
VISITORS PROFILE AND SOCIO-ENVIRONMENTAL AWARENESS IN
CONSERVATION UNITS
RESUMO
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Perfil de Visitantes e Conscientização Socioambiental em
Unidades de Conservação. MIMESIS, V.42, n.2, p. 136-156,
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ABSTRACT
INTRODUÇÃO
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que deve estar articulado em todos as instâncias e setores da sociedade, promovendo a
formação humana no sentido da preservação da vida por meio da manutenção do equilí-
brio ecológico conquistado pela natureza em milhões de anos.
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Unidades de Conservação. MIMESIS, V.42, n.2, p. 136-156,
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processo acelerado e globalizado, tem repercutido nas análises de cientistas do campo
sócioecológico, severas consequências para as condições de suporte do planeta, em es-
pecial, a viabilidade de sobrevivência da espécie humana. Nesse sentido, o autor ressal-
ta:
Alinhada a estas ideias, o autor citado acima destaca o papel das mídias dominan-
tes, ao veicular com destaque a cultura americanizada para o país. Esta influência estran-
geira tem como propósito promover mudanças nas consciências padrões de consumo,
em que o ‘ter’ por meio do sucesso das condições econômicas se sobrepõe ao ´ser´ que,
em geral, é resultado dos valores e lugares sociais, políticos, culturais e ecológicos que
insere os humanos no mundo.
Este está atrelado à lógica do aumento da produção (em que os recursos natu-
rais são utilizados sem nenhum critério; em que o ambiente é visto como um
grande supermercado gratuito, com reposição infinita do estoque; em que se
privatiza o benefício e socializa o custo) (DIAS, 2004, p. 96).
Assim, muito longe de ser uma relação de equilíbrio e saudável, as ações huma-
nas têm se deixado predominar pela exploração dos recursos naturais e pela
intensificação de domínio nas relações entre os humanos. Esses elementos nos
levam a identificar uma crise de valores, já que o primeiro plano das atenções
deixa de ser o bem-estar e a asseguração dos direitos humanos básicos para
uma vida sadia e ao bem comum. São valores e atitudes guiados por interesses
capitalistas que, como vimos, priva os lucros e benefícios, mas socializa os de-
sastres e as catástrofes (FRANZI; SPAZZIANI, 2015, p. 252).
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Retomando Dias (2004), essa construção desastrosa das sociedades modernas
com a natureza viva e abiótica faz parte das análises do autor, em vista das condições
atuais que envolvem o aumento da fome no mundo contrariando os avanços tecnológi-
cos e científicos que garantiram o aumento da oferta de alimentos. Esta situação expõe
as condições injustas que rondam a distribuição dos bens produzidos entre os diversos
grupos humanos.
Há alimentos para todos, mas estes não são distribuídos, apodrecem nos gran-
des armazéns. Morre mais gente por excesso de comida (obesidade e seus pro-
blemas correlatos) do que por falta (DIAS, 2004, p. 247).
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valores capazes de orientar outro modelo de sociedade. Que seria uma sociedade basea-
da na justiça social e ambiental, com garantias de respeito e valorização das diversidades
e regida pela igualdade e transparência de oportunidades (SPAZZIANI, 2017).
No entanto, esse processo educativo vai se manifestar de fato, nos anos 2000,
nas diversas reformulações do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA). O
campo da Educação Ambiental vai se configurando por meio de diversas atividades edu-
cacionais que podem ser realizadas em ambientes naturais como é o caso da “interpre-
tação ambiental”, que segundo Rodrigues (2009) procura revelar significados por meio
de experiências vividas na natureza, dependendo das circunstâncias que as utilizamos.
Assim, o objetivo da interpretação ambiental não é a instrução, mas a provocação (TIL-
DEN, 2007).
Esse tipo de turismo no Brasil é muito comum, por ser um país exuberante com
diversos tipos de biomas e com uma enorme biodiversidade. Além disso, ele visa contri-
buir para a conservação dos ecossistemas nos moldes promissores da sustentabilidade.
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Além de sua potencial contribuição à preservação e conservação dos ecossiste-
mas naturais, o ecoturismo tem sido proposto como aliado do desenvolvimento das co-
munidades locais, como o chamado Turismo de Base Comunitária (TBC).
Para tanto, é importante que os sujeitos que realizam tal tipo de turismo estejam
conscientes das causas e consequências dos atos realizados e que sejam feitos sustenta-
velmente. Relativo a isto existe o conceito de capacidade de suporte, que representa o
calculo de um limite do número de visitantes por certo período, para não impactar o local
de forma negativa. Esse limite é importante em diversos casos nas Unidades de Conser-
vação (UC) e no entorno dela.
Louv (2018), destaca ainda a inter-relação que existe entre a saúde do ambiente e
a saúde das pessoas, citando a importância do contato com a natureza para o desenvolvi-
mento físico e cognitivo humano e ainda para o próprio desenvolvimento e conservação
do ambiente natural. O autor relata ainda a importância das informações de primeira
mão que podem ser obtidas no livre explorar do ambiente natural, essas informações
merecem destaque porque não sofrem o filtro da cultura, podendo levar a cada ser um
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conhecimento profundo e direto sobre as verdades e leis básicas da natureza.
Para Araújo e Isayama (2009), o turismo pode ser definido como um fenômeno
cultural, social e espacial que incentiva as pessoas por diferentes motivos a saírem de
seu entorno habitual e visitarem outros lugares (ARAÚJO; ISAYAMA, 2009).
Da mesma forma que o “Lazer”, o termo “Turismo” tem sido definido por muitos
pesquisadores da área de forma diferente. Para dar uma ideia de conceituações mais
abrangentes de turismo, autores como Oscar De La Torre, Fuster e Wahab, ampliaram
a conceituação de turismo ao buscar definir o que seriam os fenômenos produzidos em
consequência das viagens (SOUZA, 2010).
Souza (2010) e Barreto (2003) fazem uma crítica a essa visão do turismo com o
foco no resultado econômico, assim eles consideram que é preciso, superar essa visão e
trazer algo novo buscando os elementos essenciais.
Com base nesta premissa, esta pesquisa – de cunho qualitativo - investigou o per-
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fil, os motivos e as perspectivas de visitantes em um PN situado no estado do Rio de
Janeiro e as possíveis limitações e contribuições das estruturas físicas e turísticas da uni-
dade de conservação para a formação da consciência ambiental dos visitantes do parque.
METODOLOGIA
Foi realizada uma pesquisa de campo por meio de entrevistas estruturadas com
62 visitantes de um PN situado no estado do Rio de Janeiro, no mês de janeiro de 2019.
Os dados coletados por meio de entrevistas referem-se a: cidade de residência, profis-
são, tempo de permanência na região (para morador de outra cidade ou estado), motivo
da visita, número de acompanhantes, custo da visita, preferências sobre o parque, suges-
tão de melhorias, frequência a áreas naturais. Os sujeitos foram abordados no interior
no PN, nas áreas de vivência (centro de vivência, piscina, lanchonete), em trilhas centrais
e locais próximos a cachoeiras de fácil acesso. Os entrevistadores eram oriundos do cur-
so de Ecoturismo de Base Comunitária que se realizava no referido parque nacional, na
época da pesquisa. foi realizado entre os dias 21 a 25 de janeiro de 2019, como parte do
Projeto de Pesquisa “Implantação, teste e aperfeiçoamento da ciência-cidadã para ma-
nejo e conservação nos parques nacionais serras da Bocaina e Serras dos Órgãos” finan-
ciado pelo ICMBio/CNPq e Fapesp. Esta atividade de entrevista fez parte do processo
formativo dos cursistas para atuarem em projetos de intervenção que envolvam a arti-
culação das comunidades do entorno de UCs no sentido de valorização e conservação
dos recursos naturais.
A análise dos dados foi realizada com base nos procedimentos da “Análise de Con-
teúdo” proposta por Bardin (2004) possibilitando a análise e organização dos dados e
apresentando, sempre que necessário, gráficos e tabelas.
RESULTADOS
Das análises dos dados obteve-se o perfil dos visitantes do parque, sendo que dos
62 entrevistados, 39 (63%) eram do sexo feminino e 23 (37%) do sexo masculino.
Quanto à faixa etária dos entrevistados, conforme nos mostram os dados da Fi-
gura 1, a maioria estava entre 31 a 40 anos. Quando totaliza os acima dos 30 anos temos
mais 70% compreendendo a fase adulta e idosa.
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Figura 1 – Gráfico referente à faixa etária dos visitantes participantes da pesquisa.
Quanto ao local de residência, pouco mais de 50% são moradores da cidade que
abriga o PN e 40% residem em cidades que pertencem ao estado do Rio de Janeiro -
RJ. 15% vieram de outros estados do país, (Amazonas, São Paulo e Minas Gerais). Desta
forma, observa-se que a maioria das pessoas são da localidade em busca de lazer, em
especial, por se tratar de período de verão e férias, possibilitando maior número de vi-
sitas das comunidades locais, conforme dados presentes na Figura 2. O que nos leva a
refletir sobre a importância da promoção de atividades educativas de engajamento dos
frequentadores, que na busca pelo lazer tem a oportunidade de participarem de projetos
que ampliem sua formação e compromisso com qualidade socioambiental do parque e
seu entorno, tal qual o proposto pelo Ecoturismo de Base Comunitária (EcoTbc).
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a expressiva presença de professores e estudantes (34%) visitando o parque (ver Figura
3). Reitera-se assim que ao se propor em UC o turismo de base comunitária, precisa-se
priorizar um
modelo de gestão da visitação protagonizado pela comunidade, gerando be-
nefícios coletivos, promovendo a vivência intercultural, a qualidade de vida, a
valorização da história e da cultura dessas populações, bem como a utilização
sustentável para fins recreativos e educativos, dos recursos da Unidade de Con-
servação (MMA, 2018).
Outra pergunta realizada aos visitantes foi quanto eles gastam no parque. Pode-
-se observar na Figura 4, a seguir, que 44% preferiram não responder a questão, talvez
porque não sabiam ou não tinham calculado um valor exato. Dos entrevistados que res-
ponderam à questão 32% gastaram até R$30,00 no parque.
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Figura 4 – Valor gasto em dinheiro pelos visitantes do parque
Estes dados evidenciam que mesmo com um certo custo para realizar a visita,
existe procura das comunidades do entorno para a vivência de lazer e de turismo em
áreas naturais. Ou seja, a busca por estes equipamentos ou espaços socioambientais são
atrativos e indicam possiblidade de fortalecimento do turismo de base comunitária arre-
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gimentado em reservas ou áreas de proteção ambiental, favorecendo diferentes formas
de interação dos humanos com o ambiente que o cerca, inclusive buscando a superação
de sentimentos tão arraigados como os de exploração baseado na mais valia.
Em relação ao tempo que permanecem na região, 53% dos entrevistados são mo-
radores da cidade sede no PN. Daqueles que vieram de outras localidades, grande parte
alegou ficar no local de 2 a 5 dias (29%), conforme Figura 7.
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Esta vertente do turismo nacional foi defendida por signatários do movimento ambien-
talista, com destaque para finais da década de 1970, indicando que uma das formas de
conservação do meio ambiente pode ser alcançada pelas atividades turísticas que pro-
piciam o lazer (MMA, 2018).
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SPAZZIANI, Maria de Lourdes; RUMENOS, Nijima Novello.
Perfil de Visitantes e Conscientização Socioambiental em
Unidades de Conservação. MIMESIS, V.42, n.2, p. 136-156,
2021.
A predominância de citações de elementos oriundos da natureza reforçam a cons-
tatação da necessidade dos seres humanos neste contato. Sendo assim, como nos apon-
ta Louv (2018) que as gerações atuais ao serem afastadas do convívio cotidiano com a
natureza podem demonstrar transtorno de déficit da natureza (TDN) rejeitando total-
mente o contato ou reiteradamente buscando restaurar este desequilíbrio oportunizan-
do momentos de desfrute em espaços naturais, como os citados pelos entrevistados. Isto
pode ser comprovado na resposta tabulada na Figura 11, quando 76% dos entrevistados
afirmaram que buscam com frequência visitas em áreas naturais.
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SPAZZIANI, Maria de Lourdes; RUMENOS, Nijima Novello.
Perfil de Visitantes e Conscientização Socioambiental em
Unidades de Conservação. MIMESIS, V.42, n.2, p. 136-156,
2021.
Figura 12 – Gráfico referente à frequência dos entrevistados sobre visitas em áreas naturais.
Importante também lembrar que este PN é um dos mais antigos do país e possui
uma das melhores infraestruturas para recepção e acolhimento do turismo ecológico.
Entretanto, a perspectiva do promover um programa de visitação fundamentado nos
princípios do EcoTbc nos parece bem distante.
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SPAZZIANI, Maria de Lourdes; RUMENOS, Nijima Novello.
Perfil de Visitantes e Conscientização Socioambiental em
Unidades de Conservação. MIMESIS, V.42, n.2, p. 136-156,
2021.
neficiando, sempre que possível, a comunidade como um todo. e) Bem comum; f) Trans-
parência sobre as informações ambientais, sociais e financeiras; g) Partilha cultural com
trocas de experiências, saberes e conhecimentos entre diferentes culturas e modos de
vida, sempre que essas oportunidades forem de interesse da comunidade; h) Ser espaço
de formação complementar, proporcionando experiências que estimulem os sentidos e a
reflexão, contribuindo para o aprendizado e para o conhecimento do patrimônio natural
e histórico-cultural existente nas UC e influenciando positivamente experiências futu-
ras; i) Dinamismo cultural e sustentabilidade favorecendo o constante retorno e conti-
nuidade de atividades ali promovidas em consonância com a realidade e as necessidades
das comunidades e da UC.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se também que, devido à localização do parque, uma outra parte sig-
nificativa dos entrevistados (40%) eram de cidades próximas ou pertencentes ao estado
do Rio de Janeiro. Com relação à ocupação, 40% eram profissionais do nível superior, em
especial professores e 16% eram estudantes.
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Perfil de Visitantes e Conscientização Socioambiental em
Unidades de Conservação. MIMESIS, V.42, n.2, p. 136-156,
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O gasto financeiro mediano dentro do PN é de USD1 7,6, principalmente com in-
gresso, alimentação e estacionamento. Os visitantes em sua grande maioria (56%) esta-
vam em duplas ou trios. Aqueles que vieram de outras cidades ou estado, informaram
um predomínio de permanência na região de 2 a 5 dias. 76% informaram que gostam e
costumam frequentar lugares com áreas naturais. O lazer foi citado por 80% dos entre-
vistados quanto ao motivo da visita à cidade que se localiza o PN e apenas 14% citaram
turismo. Entretanto, quanto ao motivo da visita ao PN, turismo e ecoturismo totaliza
quase 60%.
O contato com os “recursos naturais” é o que mais se destaca nas respostas dos
entrevistados. Entretanto, a presença da estrutura de acolhimento da sede do PN, como
a piscina natural, restaurante, trilhas, estacionamento, entre outros, também foi ressal-
tado nas respostas como elemento de visitação.
Os dados indicam que embora o perfil dos visitantes do parque era busca pelo
lazer e aproveitamento de descanso nas férias escolares, evidencia-se a importância
atribuída pelos sujeitos a este espaço, em especial pelas comunidades do entorno. No-
tam-se indícios da carência de estrutura para acolhimento, em especial para ampliar o
trabalho de conscientização proposto pelo ecoturismo de base comunitária que poderia
contribuir enormemente para a formação e engajamento social e para a promoção da
educação ambiental crítica.
Assim como enfatizam Araújo e Isayama (2009), o turismo ao ser definido com
um fenômeno cultural, social e espacial incentiva as pessoas a saírem de seu entorno
habitual e visitarem outros lugares. Desta forma, os Parques Nacionais, podem se consti-
tuírem em redutos de aproximação da convivência das diferentes gerações com os ecos-
sistemas naturais. Neste sentido, os PN vêm assumindo importante papel tanto para a
conservação das espécies e ambientes naturais, quanto para promover a reaproxima-
ção das populações atuais no contato com a natureza. O ecoturismo entendido como
“viagem responsável a áreas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover
o bem-estar da população local” tem sido uma das formas de viabilizar esta importante
tarefa dos PN. Assim como, promover por meio de suas estruturas naturais e de acolhi-
mento Educação Ambiental das populações do entorno e visitantes.
1
Dólar americano
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SPAZZIANI, Maria de Lourdes; RUMENOS, Nijima Novello.
Perfil de Visitantes e Conscientização Socioambiental em
Unidades de Conservação. MIMESIS, V.42, n.2, p. 136-156,
2021.
A Educação Ambiental pode contribuir para a formação de educadores ambien-
tais que promovam o diálogo de saberes entre os conhecimentos científicos existentes
e necessários à conservação dos ambientes naturais às realidades culturais, cognitivas e
econômicas dos contextos sociais do entorno, tal como propõe os programas de volun-
tariado no modelo da Ciência-Cidadã. Este propõe o desenvolvimento de pessoas para
realizar ações e atividades voltadas para a preservação e conservação do patrimônio na-
cional e inclui, entre eles, temas relacionados ao ecoturismo, possibilitando a adesão ao
voluntariado dos parques nacionais.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
AB’SABER, A. (Re) Conceituando Educação Ambiental. Rio de Janeiro: Museu de As-
tronomia e Ciências Afins – CNPQ, 1991.
DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.
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SPAZZIANI, Maria de Lourdes; RUMENOS, Nijima Novello.
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Unidades de Conservação. MIMESIS, V.42, n.2, p. 136-156,
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FRANZI, S.; SPAZZIANI, M.L. Cortadores de cana e suas compreensões acerca da for-
mação socioambiental. Revista Comunicações. Piracicaba, Ano 22, n. 2, p. 241-262 •
Ed. Especial. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.15600
HARARI, Y. N. Sapiens: uma breve história da humanidade. 28ed. Porto Alegre: L&PM,
2017.
SOUZA, T. R. Lazer e Turismo: Reflexões sobre suas interfaces. In: SEMINÁRIOS DE PES-
QUISA EM TURISMO DO MERCOSUL. Anais... Rio Grande do Sul: UCS, 2010, p. 1-14.
TILDEN, F. Interpreting our Heritage. 4a ed., ex ed. Chapel Hill, EUA: Editora da Univer-
sidade da Carolina do Norte, 2007. p. 212.
156
COMPREENSÃO DO CONCEITO DE CADEIA ALIMENTAR A PARTIR DE UMA
PROBLEMÁTICA ATUAL DO ALTO RIO BATALHA: ATAQUES DE ONÇA-PARDA
(Puma concolor)
UNDERSTANDING THE CONCEPT OF THE FOOD CHAIN FROM A CURRENT PROBLEM OF
THE HIGH RIVER BATALHA: ATTACKS BY PUMA (Puma concolor)
RESUMO
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LUPINO, Lívia Martins et al. Compreensão do Conceito de
Cadeia Alimentar a Partir de Uma Problemática Atual do
Alto Rio Batalha: Ataques de Onça-Parda.
MIMESIS, V.42, n.2, p. 157-170, 2021.
ABSTRACT
The teaching of the food chain is an important component of the Brazilian Ele-
mentary School curriculum since it provides an understanding of how organisms relate
to each other and how the flow of energy changes. The puma (Puma concolor) is one of
the 11 species present in the native fauna of the Protection Area of the Batalha River, a
river that belongs to the Upper and Middle Tietê River Basin. Recently, this feline ani-
mal has been seen in rural areas near the Batalha River, especially in the rural area of
Piratininga, changing its natural diet to one that involves domestic animals. To clarify the
importance of the harmony in the food chain and wild animals’ conservation, this study
aimed to raise awareness among 5th-grade students at the school EMEF Professora Ja-
cyra Motta Mendes by the study of food chains in their natural and anthropized cycle,
demonstrating ways to prevent the attack against domestic animals, but making it clear
that the elimination of the puma is not the solution. Students’ prior knowledge on the
subject was observed through a first questionnaire, applied before the theoretical les-
son. An information banner about the puma was created and used in an exhibition acti-
vity with 28 students at the Coffee Museum in Piratininga. After the development of the
study and the application of a second evaluative questionnaire, we observed a decrease
in the error rate concerning the students’ understanding of the food chain assembly, the
function of the arrows, and the passage of the energy flow.
1. INTRODUÇÃO
Pertencente à Bacia Hidrográfica do Médio Tietê Superior, o Rio Batalha tem
sua nascente na Serra da Jacutinga (Município de Agudos, SP), uma formação geológica
(morros com cristas de quase 900 metros de altitude) importante como divisor de águas
do Estado de duas bacias hidrográficas; abrangendo, total ou parcialmente, os municí-
pios de Agudos, Bauru, Piratininga, Avaí, Duartina, Gália, Presidente Alves, Reginópolis
e Uru, tendo em sua extensão 167 km e desaguando no Rio Tietê (CARNEIRO, 2016;
TALAMONI, 2001).
158
LUPINO, Lívia Martins et al. Compreensão do Conceito de
Cadeia Alimentar a Partir de Uma Problemática Atual do
Alto Rio Batalha: Ataques de Onça-Parda.
MIMESIS, V.42, n.2, p. 157-170, 2021.
Também conhecida como Suçuarana, Puma, Onça-vermelha, Leão-da-montanha
e Bodera, esse animal possui uma alta variedade de habitats e ocorre em todos os biomas
brasileiros. Com características que variam quando adultos em comprimento de 1,5 a
2,75 m, peso de 22 a 70 kg e coloração passando de marrom-acinzentado claro a mar-
rom-avermelhado escuro e com manchas mais claras na parte de baixo do corpo (Su-
mário Executivo do Plano de Ação Nacional para Conservação da Onça-Parda ICMBio,
2018).
Por fazer parte da fauna da região e ter uma área de forrageamento de aproxima-
damente 160 km², relatos sobre ataques de onças a animais domésticos nos municípios
de Piratininga e Iacanga vem se tornando mais comuns, conforme a reportagem feita por
Lígia Ligabue para o Jornal da Cidade de Bauru (https://www.jcnet.com.br/) em 2008. Já
em 2013, o município que notificou a morte de 40 animais domésticos em decorrência
dos ataques predatórios foi Marília, segundo o G1 (https://g1.globo.com/sp/bauru-ma-
rilia/). Em 2017, a reportagem de Vitor Azevedo para o Repórter Unesp (02/fev/2017)
mostrou o projeto “Quintal de Casa” que faz o monitoramento de animais selvagens na
região do Museu do Café de Piratininga , e entre diversas espécies, a periodicidade de
onças-pardas vem aumentando. Os avistamentos e incidência do animal continuam sen-
do registrados no entorno dos municípios, segundo reportagem de Bernadete Druzian
da Folha de São Paulo (27/mai/2018).
Animais como as onças-pardas que são, na maioria das vezes, o topo de uma ca-
deia alimentar, controlam as populações das espécies das quais se alimentam, impedin-
do o excesso populacional das mesmas, mantendo o equilíbrio daquela população e eli-
minando os indivíduos velhos e doentes, evitando até mesmo a propagação de doenças
que podem afetar os animais domésticos e o homem (TERBORGH, 1988; MILLER; RABI-
NOWITZ apud HOOGESTEIJN, 2010).
De acordo com Amabis e Martho (2006), o componente inicial de toda cadeia ali-
mentar, denominado produtor, é no geral um organismo fotossintetizante autotrófico,
159
LUPINO, Lívia Martins et al. Compreensão do Conceito de
Cadeia Alimentar a Partir de Uma Problemática Atual do
Alto Rio Batalha: Ataques de Onça-Parda.
MIMESIS, V.42, n.2, p. 157-170, 2021.
como algas e plantas, que utilizam fontes de carbono inorgânicas para a produção do seu
alimento, a matéria orgânica.
Nos ambientes formais de educação, que segundo Jacobucci (2008) são aqueles
locais que estão formalizados, possuem uma padronização nacional e que sejam rela-
cionados às instituições de educação básica ou de ensino superior, definidas e garanti-
das pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ou seja, o ambiente escolar e
seus anexos, como laboratórios e bibliotecas, o tema de cadeia alimentar normalmente é
abordado através de figuras e modelos.
Portanto, nas escolas, o tema é introduzido com imagens de situações reais que
possuem uma sequência unidirecional de transmissão de energia, classificando os níveis
tróficos e seus consumidores, formando um modelo de ensino definido como uma repre-
sentação conceitual esquemática. Essa representação contém primeiramente os vege-
tais, que são a base da cadeia terrestre, visto que estes produzem seu próprio alimento
através da energia luminosa absorvida e servem de alimento para outros animais que
não produzem seu próprio alimento, que nesse modelo aparecem seguidos de setas, as
quais indicam o fluxo de energia da cadeia alimentar (ABEGG et al., 2003).
Outra maneira de apresentar o conteúdo é com a saída dos alunos dos espaços
formais para os não formais, com visitas a centros educacionais. Para Jacobucci (2008) o
espaço não-formal pode ser dividido em duas categorias: instituições, que possuem es-
paço regulamentado e equipes técnicas que realizam as atividades locais, como museus,
e locais que não são instituições, definidos como ambientes naturais sem estruturação
institucional, como praças.
160
LUPINO, Lívia Martins et al. Compreensão do Conceito de
Cadeia Alimentar a Partir de Uma Problemática Atual do
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interações do meio em que vivemos (JACOBI, 2003 apud PEREIRA et al., 2013), o que
fortalece a relação entre a escola e a ciência (JACOBUCCI, 2008).
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 DESCRIÇÃO
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Cadeia Alimentar a Partir de Uma Problemática Atual do
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para a elaboração do projeto, segundo o último censo (IBGE 2010), tem uma população
de 12.072 habitantes sendo 1.720 moradores da zona rural. Acomodando completa-
mente a necessidade da população, a escola participante atende 662 alunos do ensino
fundamental I e anos iniciais do Ensino Fundamental EJA, com um ensino regular e com
indispensabilidade de melhora de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB, 2019).
Para a análise inicial do conhecimento dos alunos sobre cadeia alimentar e ata-
ques de onça-parda, foi aplicado um questionário com o total de 5 perguntas abertas,
que de acordo com Chaer, Diniz e Ribeiro (2012), são aquelas que possibilitam que os
alunos tenham liberdade para responder, sem influência de alguma resposta pré-estabe-
lecida, podendo utilizar a linguagem informal.
Utilizando os textos e recursos da apostila didática, a professora fez uma aula ex-
positiva demonstrativa para os alunos apontando os principais tópicos sobre o assunto
de cadeia alimentar, explicando seus componentes, níveis e também sobre como fun-
ciona o fluxo de energia, sempre buscando uma linguagem adequada com referências
cotidianas para melhor compreensão dos alunos. Como um dos exemplos para consu-
midores secundários e/ou terciários, ela falou sobre a onça-parda, qual seu ciclo natural
162
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de alimentação, depois como a interferência do homem está afetando o comportamento
desse animal em vários aspectos, tornando o ciclo antropizado cada vez mais frequente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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ouvido pessoas narrando ataques a algum animal doméstico, 53,5% dos alunos responde-
ram que já viram a onça-parda ou já ouviram pessoas relatando sobre ataques a animais
domésticos e 46,4% responderam que nunca viram e nunca ouviram relatos de ataques,
possivelmente devido a fragmentação do hábitat ou a sua diminuição, como resultado da
expansão das áreas urbanas e rurais, força os animais silvestres, como as onças, a ir em
busca de recursos alternativos à sua sobrevivência, como alimentação, reprodução ou
mesmo a dominância de outros territórios (HOOGESTEIJN, 2010).
A quarta questão buscava saber se o tema “cadeia alimentar” já havia sido estuda-
do por eles, 89,2% das crianças responderam que estavam iniciando os estudos, 7,14%
responderam que já haviam estudado e 3,57% que não haviam estudado, resultado que
confere com os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997, no qual o tema “Ciências
Naturais”, dividido em blocos temáticos, são estudados durante o segundo ciclo ensino
fundamental, do 4º ao 5º ano.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), todos os esta-
dos e municípios deveriam criar seus próprios currículos, sendo criado então, o Currículo
Paulista, no qual o tema de cadeia alimentar já está inserido no 4º ano do Ensino Fun-
damental, apresentado na temática “Vida e Evolução”. O Currículo Paulista passou por
avaliações durante o ano de 2019 e será efetivamente implantado em 2020 em todas as
escolas do Estado de São Paulo.
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presas naturais.
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Figura 2 – Resultado para a questão sobre fluxo de energia da cadeia alimentar
proposta no questionário 2.
Pensando nisso, vários fatores que podem ter influenciado as respostas das ati-
vidades, como a seleção das informações que tem significado ou não para si, falta de
atenção dos alunos durante a aula ou até mesmo durante a atividade prática, questões
sociais, a não apreciação do aluno em relação ao tipo de atividade, também se conside-
ra que, segundo Da Silva, Ferreira e Vieira (2017), professores com formação específica
contribuem para que o tema seja trabalhado e entendido de uma maneira mais profunda.
De acordo com os dados do Censo Escolar de 2018, dos professores atuantes nos
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anos iniciais do ensino fundamental, 77,3% possuem grau acadêmico de licenciatura, o
percentual de professores com formação superior de licenciatura que ministram disci-
plinas na mesma área de formação é equivalente a 51,7% nos anos finais do ensino fun-
damental, o que pode limitar o ensino de diversas disciplinas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho foi possível analisar o conhecimento prévio dos alunos com
relação à temática de cadeia alimentar, tendo como exemplo a problemática de ataques
a animais domésticos feitos pela onça-parda. Após as aulas lecionadas pela professora
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em sala de aula e as atividades práticas realizadas fora do ambiente escolar, foi possível
constatar a compreensão dos alunos sobre a diferença entre a cadeia alimentar natural
e a antropizada, houve uma diminuição na taxa de erro para o fluxo de energia entre os
animais e também o aprendizado sobre as ameaças, formas de evitar os ataques, conser-
vação e importância da onça-parda em seu ambiente natural.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Edi-
tora moderna, 2006.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília: MEC/
CONSED/UNDIME, 2018.
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cional. Revista Evidência, v. 7, n. 7, 2012.
LOPES, S. Bio: Volume único. 1. ed. 4. tiragem, São Paulo: Editora Saraiva, 2006.
LOPES, S.; ROSSO, S. Biologia: Volume único. 1. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.
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ONÇAS pardas matam 40 carneiros em 20 dias em fazenda de Marília. G1 Bauru e Marí-
lia, Marília., 13 nov 2013. Caderno Notícia. Disponível em: http://g1.globo.com/sp/bau-
ru-marilia/noticia/2013/11/oncas-pardas-matam-40-carneiros-em-20-dias-em-fazen-
da-de-marilia.html. Acesso em: 10 mai 2021.
SÃO PAULO (Bauru). Secretaria do Meio Ambiente. Conselho Estadual do Meio Am-
biente – CONSEMA. Relatório Final do Plano de Manejo da APA RIO BATALHA 2018.
170
AMSELLE, J. L; M’BOKOLO, E. (Orgs.). No centro da etnia: Etnias, tribalismo e Estado
na África. RJ, Brasil, 2017.
João Vitor Olímpio[1]
A obra “No centro da etnia: etnias, tribalismo e Estado na África” faz parte de uma
coletânea intitulada “Coleção África e Africanos”, formada por três livros. O objetivo
principal dessa trilogia é trazer ao mercado brasileiro uma produção atualizada sobre a
temática, visando atender aos interesses do público em geral, que tem se mostrado ávido
por conhecer o continente africano, repleto de histórias, povos e culturas.
171
AMSELLE, J. M’bokolo, E. (Orgs.), No Centro das Etnias. RJ,
BRASIL, 2017 - João Vitor Olímpio
(políticos), linguísticos, religiosos e culturais. É por isso que cada comunidade local era
concebida com o efeito de uma rede de relações.
O quarto capítulo escrito pelo historiador Jean Pierre Chrétien retrata a existên-
cia das etnias hutu e tutsi, em Ruanda e no Burundi, interligadas em um estranho feixe
de evidências. Essas etnias não se distinguiam pelo espaço geográfico ocupado, nem pela
língua, cultura, história. O escritor segue tratando das diferentes formas estereotipadas
construídas sobre as histórias desses dois povos. Outra parte citada por ele diz respeito
à permanência de uma “herança raciológica”, termo do século XIX deixado pelos euro-
peus no continente. Essa teoria estabelece retratos contrastados dos negros da “África
das trevas” e do misterioso Oriental que ali teria ido se aventurar. São nestas circunstân-
cias que se forjaram, naquele momento, reflexões antropológicas.
É em virtude dessa visão considerada à época como “científica” que alguns auto-
res propuseram uma reescrita de sua história contada não apenas pelos africanos, mas
também por aqueles que detinham a essência de reescrever uma verdade sobre eles. As
análises étnicas em Ruanda e Burundi vincularam-se claramente a uma interpretação
do poder dito como “tradicional”, assim concebido a partir de conceitos europeus como
raças inferiores e superiores. O autor adentra à discussão étnica dos povos, na localidade
de Ruanda e Burundi, no intento de traçar uma nova epistemologia dos fatos.
172
AMSELLE, J. M’bokolo, E. (Orgs.), No Centro das Etnias. RJ,
BRASIL, 2017 - João Vitor Olímpio
Claudine Vidal, no quinto capítulo, trata da “metafísica das etnias”, teoria que dis-
cute fatos que ocorreram em Ruanda. “É significativo que algumas formas racistas de
ódio tenham sido desenvolvidas nos meios mais capazes, em princípio, de objetivar a he-
rança do passado, e de analisar os componentes sociológicos e históricos das desigual-
dades anteriores” (p. 217).
Esta obra é recomendada para estudantes de História e para todos aqueles inte-
ressados em uma abordagem crítica e renovada da história da África. Os textos reunidos
nesta obra, que se tornou um clássico desde sua publicação em 1985, evidenciam análi-
ses de alcance geral com estudos de casos e procuram questionar significados de concei-
tos considerados controversos a partir da situação africana. Com efeito, foi importante
repensar as noções de etnia e de tribo, cada vez mais associadas a outras noções como a
de Estado e de nação. Foi necessário repensar formas de classificação por demais esque-
máticas e reducionistas.
[1]
Graduando em História no Centro Universitário Sagrado Coração – Unisagrado/Bauru-SP. RESENHA
Realizada para a disciplina de História da África II sob a orientação da Prof. Dra. Lourdes M G C Feitosa.
173
VELLOSO, Leonardo Meliani. Um Maravilhoso Imaginário: Cartografia e literatura na
baixa Idade Média e no Renascimento. 1 ed. Jundiaí, São Paulo, Paco editorial, 2017.
174
VELLOSO, Leonardo Meliani. Um Maravilhoso Imaginário:
Cartografia e literatura na baixa idade média e no renascimento.
1 ed. Jundiaí, São Paulo, Paco editorial, 2017 - Gelson Teodoro
De Souza Junior e Thiago Casavechia De Assis
assim como os problemas e graças dessa arte. O mapa não é idêntico ao mundo, ele é o
reflexo de cada época e de cada sociedade; o mapa é um símbolo receptáculo do imagi-
nário. O autor enfatiza que os mapas medievais eram apresentados com representações
bíblicas e limitavam-se ao ecúmeno. Ainda ressalta a importância da cartografia para a
questão do poder, visto que conhecer o terreno, a geografia do lugar, significava ter van-
tagem sobre outras nações. Portanto, a cartografia é abordada como indispensável ao
longo da história.
175
VELLOSO, Leonardo Meliani. Um Maravilhoso Imaginário:
Cartografia e literatura na baixa idade média e no renascimento.
1 ed. Jundiaí, São Paulo, Paco editorial, 2017 - Gelson Teodoro
De Souza Junior e Thiago Casavechia De Assis
mares, ao ponto de, como dito no texto, chegar na América antes mesmos que os espa-
nhóis. Já os germânicos conservavam um sentimento maior de similaridade com a ter-
ra. A Galego-Bretã, envolvendo os celtas e os gauleses, possuíam uma cultura voltada
para o fantástico e contribuía com as histórias sobre fadas e monstros, mas também com
exemplos de fábulas sobre batalhas, como nos casos de Carlos Magno e suas batalhas
contra os Mouros, que eram representados como figuras monstruosas (VELLOSO,2017)
na região compreendida pela atual França. Isso é demonstrado nas canções francesas
escritas no decorrer da idade média como, por exemplo, a Gesto du roy, que gira em torno
de Carlos Magno e seus cavaleiros (VELLOSO, 2017, p.80).
176
VELLOSO, Leonardo Meliani. Um Maravilhoso Imaginário:
Cartografia e literatura na baixa idade média e no renascimento.
1 ed. Jundiaí, São Paulo, Paco editorial, 2017 - Gelson Teodoro
De Souza Junior e Thiago Casavechia De Assis
Cita as árvores com frutos maravilhosos, que podiam ser plantas que serviam de
fonte infinita de alimento, ou o caso da árvore do fruto proibido da Bíblia. Também é
tratado dos próprios contos europeus que tiveram influência no continente, sem a in-
fluência do exterior. O autor ainda discorre sobre os lugares fantásticos, como o rei-
no das amazonas, mulheres guerreiras que eram mercenárias e possuíam um governo
totalmente feminino, assim como Atlântida, uma cidade consumida pela fúria do deus
dos mares, Poseidon. Destaca o reino de Preste João, que foi buscado até o século XVI,
principalmente por Portugal. Esse reino era utópico, com boas terras, inúmeras riquezas
e um exército grandioso. Por fim, são apresentadas as ilhas fantásticas, como a de São
Brandão, onde os rebanhos prosperavam e as terras eram boas. Essas ilhas ficariam no
extremo oriente, ou talvez nas partes “novas”, como a América.
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VELLOSO, Leonardo Meliani. Um Maravilhoso Imaginário:
Cartografia e literatura na baixa idade média e no renascimento.
1 ed. Jundiaí, São Paulo, Paco editorial, 2017 - Gelson Teodoro
De Souza Junior e Thiago Casavechia De Assis
com suas particularidades, e a Índia que, embora não seguisse o cristianismo, foi muito
bem falada, pois seguia corretamente os ensinamentos de sua religião. Também disserta
sobre os povos, realçando a importância do Reino de Cã, que era o maior e o mais rico
reino conhecido.
Na segunda parte, Velloso fala sobre os animais e as plantas presentes nos livros.
Deixa claro o costume dos escritores medievais de realizar comparações com os animais,
já comuns em suas vidas cotidianas quando desenvolvem descrições para os animais fan-
tásticos. Em relação às plantas, menciona árvores que davam tudo menos fruto. Eram
pés de galinha assada ou do mais puro mel.
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COSTA, Marcos R. N.; COSTA, Rafael F. Mulheres Intelectuais na Idade Média. 1ª edi-
ção. Porto Alegre, editora Fi, 2019.
Mariana Martinez1
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Graduanda em História pela Unisagrado, 4º ano. Resenha realizada sob orientação da
prof.ª Draª Lourdes M. G. C. Feitosa.
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COSTA, Marcos R. N.; COSTA, Rafael F. Mulheres
Intelectuais na Idade Média. 1ª edição. Porto Alegre,
editora Fi, 2019. - Mariana Martinez
coletadas sobre elas: datas, local de origem, nomes, e até mesmo sua existência torna-se
duvidosa. Especialmente na segunda parte do livro, na qual temos curandeiras, médicas
independentes, poetisas polêmicas, entre outras personalidades apresentadas como não
adequadas ao pensamento e modelo tradicional cristão do período, observa-se a tenta-
tiva, por parte dos historiadores e estudiosos deste tempo, de suprimir essas mulheres
da história, bem como seu legado. Muitas, graças aos desvios discursivos eclesiásticos,
foram consideradas, por muito tempo, personagens fictíciass.
Não à toa, os autores fazem uma forte crítica à falta de interesse aos estudos eru-
ditos e filosóficos femininos. É mencionada a autora Caroline Walker Bynum, professora
na Universidade de Columbia e professora no Instituto de Estudos Avançados de Prince-
ton, autora fundamental na introdução do conceito de gênero no estudo do cristianismo
medieval. Em seu prefácio da tradução da obra Scivias, de Hildegarda von Bengin, afirma:
“Se eu tivesse escrito esse prefácio em 1950, eu poderia ter demonstrado que a única
coisa em que as diversas escritoras da Idade Média tinham em comum era o total despre-
zo por parte dos estudos eruditos modernos” (2015, p. 10). Na introdução deste livro, os
autores mencionam uma interessante pesquisa relacionada aos estudos feitos em âmbi-
to nacional: o Banco de Dissertações e Teses do Ibcit – Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia - não possui uma sequer dissertação ou tese desenvolvida por
um Programa de Pós-graduação em filosofia no Brasil sobre uma pensadora medieval.
2
Possui doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (1999), mestrado em História pela
Universidade Federal Fluminense (1994), graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Ja-
neiro (1993), graduação em Música (Composição Musical) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1989). Professor Associado da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
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COSTA, Marcos R. N.; COSTA, Rafael F. Mulheres
Intelectuais na Idade Média. 1ª edição. Porto Alegre,
editora Fi, 2019. - Mariana Martinez
da estilística da História Nova e analisam a classe social a que pertenciam essas mulhe-
res, onde estudaram, sua relação com a família, entre outros aspectos válidos para com-
preender o modo de vida de cada uma delas. Entretanto, levaram em conta o estudo das
mentalidades na construção do pensamento ocidental para validar a afirmação de que
suas obras e feitos de fato influenciaram nas construções de diversas áreas de estudo
até os dias atuais.
Vale destacar que a alemã é também autora de uma língua ignota, com mais de
mil termos – trazendo tradução latina e alemã – criados para falar de assuntos científi-
cos com palavras populares. Também foi autora de concertos musicais, oratórias e pere-
grinações. Por conta de tamanha mobilidade, foi atacada e hostilizada durante toda sua
vida, chegando a ser banida de participar de missas e da rotina no mosteiro.
Em suma, é indiscutível sua relevância no período em que viveu. Suas obras falam
sobre a articulação entre espírito, corpo, cosmo e natureza. Inovou o pensamento acer-
ca da sexualidade, defendendo o prazer no ato sexual, bem como reprovava as formas
abusivas de controle do corpo e do sexo, principalmente em relação ao feminino. Ainda
assim, é valido salientar o argumento dos autores de que Bingen não era, de modo algum,
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COSTA, Marcos R. N.; COSTA, Rafael F. Mulheres
Intelectuais na Idade Média. 1ª edição. Porto Alegre,
editora Fi, 2019. - Mariana Martinez
Apesar de toda a hostilidade que recebeu ao longo de sua trajetória, seu reco-
nhecimento póstumo é inegável. Ela é patrona do Prêmio Hildegard von Bingen, criado em
1995, para destacar jornalistas e publicitários que deram contribuições humanitárias em
sua área de atuação. Também carrega seu nome, uma escola em Rudesheim – Alemanha.
É patrona da Medalha Hildegard von Bingen para personalidades de destaque no campo da
educação sanitária mundial. Sua vida foi inspiração para o filme Vision, de 2009. Além da
existência de duas sociedades dedicadas ao estudo de sua vida e obras.
Quanto às mulheres laicas ligadas às artes liberais, seria uma difícil tarefa apro-
fundar-se sobre uma em específico, no que se deve ao fato de que suas biografias e obras
sofrerem uma brusca tentativa de apagar as suas trajetórias. Contudo, há diversos pon-
tos acerca dessas biografias que dialogam com o período medieval e podem ser levados
em conta durante o estudo do tema.
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COSTA, Marcos R. N.; COSTA, Rafael F. Mulheres
Intelectuais na Idade Média. 1ª edição. Porto Alegre,
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REFERÊNCIAS
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