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PODERES ADMINISTRATIVOS

Introdução

A Administração Pública deve atuar na busca do interesse coletivo. Quando o interesse


público exige, o Estado não pode deixar de atuar. Logo, são, na verdade, “poderes-deveres”.

“As prerrogativas públicas, ao mesmo tempo em que constituem poderes para o


administrador público, impõem-lhe o seu exercício e lhe vedam a inércia, porque o
reflexo desta atinge, em última instância, a coletividade, esta a real destinatária de tais
poderes.” (CARVALHO FILHO)

Assim, os poderes administrativos podem ser conceituados como “as prerrogativas


instrumentais conferidas aos agentes públicos para a concretização dos interesses da
coletividade”, ou seja, são meios para se atingir a eficiência e o interesse público. Desta forma,
inserem-se na noção de poder funcional, uma vez que dizem respeito ao modo de exercer a
função administrativa, não se confundindo com os poderes estruturais, representados pelos
poderes políticos (Executivo, Legislativo e Judiciário).

Abuso de Poder:

Antes de estudarmos os poderes administrativos, vejamos o importante conceito de


ABUSO DE PODER, muito trabalhado pela doutrina.

De acordo com Carvalho Filho, o abuso de poder é a conduta ilegítima do administrador,


quando atua fora dos objetivos expressa ou implicitamente traçados na lei.

Existem duas formas de abuso de poder: o EXCESSO DE PODER e o DESVIO DE PODER.


No primeiro caso, o agente atua fora dos limites de sua competência, invadindo a competência
de outro agente ou desempenhando atividades que a lei não lhe atribuiu. Já no segundo caso, o
agente, embora atue dentro de sua competência, acaba se desviando do interesse público;
também é chamado de desvio de FINALIDADE.

EXCESSO DE COMPETÊNCIA
PODER
ABUSO DE
PODER DESVIO DE
PODER FINALIDADE

No caso de abuso de poder, em qualquer de suas formas, é possível a revisão da conduta


do agente, seja pela via judicial (através de mandado de segurança, por exemplo), seja pela
administrativa (princípio da autotutela). Isto porque o abuso de poder não se compatibiliza com
o princípio da legalidade, de modo que a conduta deve ser coibida e revista através de
instrumentos de controle administrativo.
Feita esta introdução, vamos estudar agora cada um dos diferentes tipos de poderes
administrativos.

1 - Poder Regulamentar/Normativo

É a prerrogativa reconhecida à Administração Pública para editar atos administrativos


normativos, caracterizados por sua generalidade e abstração (dessa forma, envolve a edição de
atos GENÉRICOS E ABSTRATOS pela Administração Pública).

O exercício do poder regulamentar comumente se materializa por meio da edição de


decretos de execução ou decretos regulamentares, que são atos normativos secundários que
têm por objetivo definir procedimentos para a fiel execução das leis, na forma do art. 84, IV, da
CR/88. Essa regulamentação, portanto, não pode inovar na ordem jurídica, criando direitos ou
obrigações, nem contrariar, ampliar ou restringir as disposições da lei regulamentada.

Tal competência é atribuída com exclusividade ao Chefe do Executivo e não pode ser
delegada. Contudo, isso não impede a edição de atos administrativos normativos por outros
órgãos e entidades da Administração, dentro de suas respectivas atribuições.

Qual a diferença entre “decreto” e “regulamento”?

O Decreto seria a forma, o ato administrativo que instrumentaliza a vontade


administrativa. Ademais, só pode ser editado pelo Chefe do Poder Executivo.

Esse decreto pode ter 2 conteúdos diversos:


a) Individual ou concreto: quando se refere a uma relação ou a um grupo específico (Ex:
decreto expropriatório). Não envolve poder normativo, pois não tem caráter genérico.
b) Normativo ou genérico: é o “regulamento”, que traz normas gerais e abstratas, para fiel
execução da lei.

Assim, temos que o Decreto é a forma e o Regulamento é um dos seus possíveis


conteúdos.

No que consiste o “decreto autônomo”?

O decreto autônomo tem seu fundamento de validade diretamente na Constituição.


Não há lei e, mesmo assim, o administrador público baixa normas. Não há a chamada
“intermediação legislativa”.

Deve-se observar, porém, que o Congresso Nacional pode sustar os atos normativos do
Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar (art. 49, V, CF).

Por conta de algumas alterações legislativas, a doutrina passou a admitir 3 hipóteses


excepcionais de regulamento autônomo, que decorrem diretamente da Constituição:
a) Art. 84, VI, “a”: alterado pela EC32/01, que remete a organização da administração
pública à decreto, e não mais à lei. É um decreto que possui fundamento de validade
expressamente na Constituição, sendo uma hipótese excepcional de decreto autônomo,
para a maioria da doutrina.
b) Art. 103-B, §4º, I;
c) Art. 130-A, §2º, I.

Quanto as últimas duas hipóteses, esses 2 artigos foram alterados pela EC45, que
criaram o CNJ e o CNMP.

A esses dois conselhos foi atribuído o poder normativo. Assim, eles podem baixar
resoluções no âmbito de suas competências, não se exigindo intermediações legislativas. OBS:
aqui não falamos em “decreto”, que é instrumento típico do chefe do executivo, mas sim em
“resolução”.

Vale ressaltar que a doutrina e o STF admitem expressamente o poder normativo do


CNJ. Existe até uma clássica resolução do CNJ, a nº 7, que vedou o nepotismo no âmbito do
poder judiciário. Foi ajuizada uma ADC, em que o STF reconheceu esse poder normativo
autônomo do CNJ, confirmando a constitucionalidade da Resolução nº 7. Assim, o CNJ poderia
sim baixar normas, mesmo sem a existência de lei prévia.

2 - Poder de Polícia

Consiste na prerrogativa conferida à Administração Pública para restringir e


condicionar, com fundamento na lei, o exercício de direitos e a prática de atividades privadas,
com vistas à proteção dos interesses gerais da coletividade. O art. 78 do CTN fornece o conceito
legal de poder de polícia, nos seguintes termos:

Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando
ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato,
em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes,
à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes
de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

O Poder de polícia possui quatro fases: LEGISLAÇÃO, que são comandos da


Administração Pública para definir condutas; CONSENTIMENTO, que ocorre quando a
Administração permite previamente a prática de determinadas atividades, por meio de licença
ou autorização; FISCALIZAÇÃO, que fiscaliza se as ordens emanadas estão sendo cumpridas; e
SANÇÃO, que é a aplicação da pena prevista legalmente a quem agiu em desacordo com as
normas.

Segundo Rafael Oliveira, o poder de polícia pode ser concebido em dois sentidos: amplo
e restrito. No sentido amplo, o poder de polícia compreende toda e qualquer atuação estatal
restritiva à liberdade do indivíduo em benefício da coletividade, oriunda tanto da atividade
legislativa quanto da atividade administrativa.

Em sentido restrito, o poder de polícia corresponde às limitações estatais oriundas da


atividade administrativa, que restringe e condiciona o exercício de direitos e atividades privadas,
conformando-os ao interesse público.
Qual a diferença entre a polícia administrativa e a polícia judiciária?

Cabe destacar três principais diferenças:

POLICIA ADMINISTRATIVA POLICIA JUDICIÁRIA


É um fim em si mesmo, tendo um cunho Possui um caráter instrumental, tendo em
satisfativo. vista ser preparatória para o exercício da
função jurisdicional penal.
Possui um objeto mais amplo, pois incide Incide geralmente sobre pessoas.
sobre bens, direitos ou pessoas.
Tem um cunho mais preventivo, de modo a Tem um cunho mais repressivo, geralmente
evitar um prejuízo ao interesse público. atuando após a consumação de alguma
infração penal.

Quais as características do poder polícia?

Inicialmente, a doutrina tradicional costuma dizer que uma das características do poder
de polícia, como regra, é a discricionariedade. Atualmente já se admite também o poder de
polícia sendo exercido de forma vinculada, como, por exemplo, por meio da licença para
construção. Nesse sentido, se você cumpre os requisitos previstos em lei, você terá direito a
licença, sendo este um ato vinculado. Desse modo, podemos concluir que o poder de polícia
NEM SEMPRE é discricionário, já que ele pode se manifestar por atos vinculados.

Além da discricionariedade, o poder de polícia possui outras 3 características (chamados


“atributos”). São eles:

a) Imperatividade: significa dizer que os atos de polícia impõem obrigações ao particular


independentemente de sua concordância. É uma imposição unilateral do Estado,
contudo dentro dos limites da lei.
b) Coercibilidade ou exigibilidade: traduz o poder que o Estado tem de exigir o
cumprimento das obrigações impostas pelo ato de forma coercitiva.
Obs.: a multa nada mais é do que o Estado se valendo de meios indiretos de coerção, para
que o particular se sinta coagido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

c) Autoexecutoriedade ou executoriedade: é o Estado se valendo de meios diretos de


execução. Exemplo: rebocar um carro que estava em frente a uma saída de ambulância
de um hospital.

Vale ressaltar que a autoexecutoriedade não está presente em todos os atos administrativos.
A multa, por exemplo, não é dotada deste atributo, uma vez que a Administração depende do
Poder Judiciário para exigir o seu valor. Isto é, se o particular recusar-se a pagar, o poder público
poderá se utilizar de meios indiretos de coação (exigibilidade), porém não poderá coagir por
meios diretos (executoriedade), dependendo então do Judiciário.
A doutrina costuma dizer que essa autoexecutoriedade decorre de previsão em lei ou
decorre de uma situação de emergência.

A executoriedade, quando presente, afasta o controle jurisdicional PRÉVIO, mas NÃO afasta
o controle jurisdicional, já que este controle no Brasil é inafastável, por força do art. 5º, XXXV,
CRFB.
Macete dos atributos: DICA (Discricionariedade, Imperatividade, Coercibilidade e
Autoexecutoriedade)

Competência no poder de polícia

A competência para exercer o poder de polícia é, em regra, da pessoa federativa à qual


a Constituição Federal atribuiu o poder de regular a matéria. Diante de dúvidas quanto ao ente
competente para a execução e o exercício do poder de polícia em relação à determinada
atividade, segue-se a lógica da predominância do interesse, de modo que os assuntos de
interesse nacional ficam sujeitos à regulamentação e policiamento da União; as matérias de
interesse regional ficam a cargo da polícia estadual; e, por fim, os assuntos de interesse local
subordinam-se aos regulamentos e ao policiamento administrativo municipal.

Exemplos:

Súmula nº 19, STJ: “A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da


competência da União”;

Súmula vinculante nº 38: “É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de


estabelecimento comercial”.

Frise-se, ainda, que os entes federativos podem exercer o poder de polícia em sistema
de cooperação, por intermédio de convênios administrativos ou consórcios públicos (conforme
modelo de gestão associada previsto no art. 241 da CF), quando isto se revelar conveniente para
evitar a sobreposição de competências dos entes políticos no que toca ao exercício da polícia
administrativa.

Pode haver a delegação do poder de polícia a particulares?

O poder de polícia pode ser classificado em originário e delegado. O poder de polícia


originário é exercido diretamente por um dos entes políticos (administração direta), enquanto
o poder de polícia delegado é exercido por delegação do titular originário, por uma das
entidades integrantes da administração indireta.

É pacífica a possibilidade de delegação do exercício do poder de polícia para as pessoas


jurídicas de direito público integrantes da administração indireta (autarquias e fundações
públicas de direito público). Estas entidades só não poderão editar leis (ordem de polícia), mas
podem exercer todas as demais atividades inerentes ao poder de polícia.

No entanto, existe polêmica quanto à possibilidade de delegação a entidades de direito


privado, ainda que integrantes da administração indireta (empresas públicas, sociedades de
economia mista e fundações públicas de direito privado).

A tese majoritária e encampada pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (ADI


1.717-6/DF) sustenta a indelegabilidade do poder de polícia a pessoas jurídicas de direito
privado integrantes da administração pública indireta, na medida em que o poder de polícia tem
fundamento no poder de império do Estado, que só pode ser exercido por pessoas jurídicas de
direito público1. Desta feita, seria inviável a um particular exercer autoridade sobre pessoas
indeterminadas.

No julgamento da ADIn 1717, o STF aduziu que os conselhos profissionais são


particulares que prestam serviço público por delegação. Decidiu-se que eles não atuam na
prestação de serviços públicos, e sim exercem poder de polícia do Estado, já que restringem e
limitam a liberdade do exercício profissional, evitando que se cause um prejuízo maior a
sociedade, ou seja, atuam na busca do interesse público.

Nesse contexto, o STF chegou à conclusão de que os conselhos profissionais exercem


poder de polícia, mas disse que o poder de polícia não pode ser delegado a particulares, sendo
atividade típica de Estado. Por isso os conselhos profissionais hoje possuem natureza jurídica de
autarquias.

E quanto ao exercício de atividade auxiliar do poder de polícia por particulares? É possível?

Sim. O Poder Público pode atribuir a pessoas privadas, mediante contrato, a


operacionalização de máquinas e equipamentos em atividades de fiscalização, SEM QUE isso
represente delegação do poder de polícia. Nesse caso, trata-se de mera atribuição operacional
de atividades materiais acessórias, prévias ou posteriores ao exercício do poder de polícia. Ex.:
Fiscalização de trânsito por equipamentos eletrônicos (pardais).

Na verdade, o que se proíbe é que o particular exerça o próprio poder de polícia em sua
essência. Contudo, nada impede que o particular colabore com o Estado no exercício do poder
de polícia, desde que isso não viole os princípios inerentes à Administração Pública, como a
impessoalidade e a legalidade.

Para o STJ, somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis,


pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder Público.
Nesse contexto, no Recurso Especial 759.7592, o STJ referendou a legalidade dos equipamentos
eletrônicos chamados, vulgarmente, de “pardais eletrônicos”. Afinal o equipamento, utilizado
no procedimento fiscalizatório, é apenas um instrumento para a captura das informações. A
lavratura do auto de infração, em todo caso, é de competência do agente de trânsito
competente.

1
No julgamento da ADI 1.717-6/DF, a Corte concluiu que a Constituição de 1988 impede a delegação de atividades típicas de Estado
para entidades privadas, de modo que os conselhos profissionais não poderiam assumir a forma de associações de caráter privado,
por exercerem funções típicas de Estado no âmbito da fiscalização do exercício de atividades profissionais. Eventuais leis que assim
prevejam são inconstitucionais ou, se anteriores à Constituição de 1998, devem ser consideradas como não recepcionadas.
2
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – INFRAÇÃO DE TRÂNSITO – DETECTORES DE VELOCIDADE – FINALIDADE DE
COMPROVAÇÃO DA INFRAÇÃO – ANÁLISE DE MATÉRIA PROBATÓRIA – INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 1 – Os
equipamentos eletrônicos, comumente chamados de "pardais eletrônicos", são utilizados para se registrar a
ocorrência da infração de trânsito, sendo certo que o auto de infração deve ser lavrado pelo agente de trânsito
competente, devidamente identificado, conforme disposição dos §§ 2º e 4º do art. 280 da da Lei n. 9.503/97 (Código
Brasileiro de Trânsito). Precedentes. 2 - A informação constante do acórdão recorrido, no sentido de que os aparelhos
eletrônicos apenas aferiram a existência da infração, tendo o respectivo auto sido lavrado pela autoridade
competente, baseia-se no conjunto probatório dos autos, sendo que o seu reexame é vedado na via estreita do
recurso especial, consoante o determinado no enunciado sumular n. 07/STJ. Recurso especial improvido.
DELEGAÇÃO DE PODER DE POLÍCIA

 Entidades administrativas de direito público: Pode delegar.

 Entidades administrativas de direito privado (Atenção: divergência!):


• STF: Não pode delegar
• STJ: Pode delegar apenas consentimento e fiscalização, mas não legislação
e sanção.

 Entidades privadas: Não pode delegar.

Atenção com a questão da atribuição de poder de polícia de trânsito às guardas


municipais: em recente julgado submetido a sistemática de repercussão geral, o STF decidiu que
as guardas municipais têm sim competência para fiscalizar o trânsito, lavrar auto de infração de
trânsito e impor multas (RE 658570).

Para o STF, é constitucional a lei local que confira à guarda municipal a atribuição de
fiscalizar e controlar o trânsito, com a possibilidade de imposição de multas, desde que
observada a finalidade constitucional da instituição de proteger bens, serviços e equipamentos
públicos (artigo 144, § 8º, da Carta de 1988) e limites da competência municipal em matéria de
trânsito, estabelecidos pela legislação federal (artigo 22, inciso XI, da Constituição Federal).

DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PODER DE POLÍCIA.


IMPOSIÇÃO DE MULTA DE TRÂNSITO. GUARDA MUNICIPAL. CONSTITUCIONALIDADE. 1.
Poder de polícia não se confunde com segurança pública. O exercício do primeiro não é
prerrogativa exclusiva das entidades policiais, a quem a Constituição outorgou, com
exclusividade, no art. 144, apenas as funções de promoção da segurança pública. 2. A
fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas legalmente
previstas, embora possa se dar ostensivamente, constitui mero exercício de poder de
polícia, não havendo, portanto, óbice ao seu exercício por entidades não policiais. 3. O
Código de Trânsito Brasileiro, observando os parâmetros constitucionais, estabeleceu a
competência comum dos entes da federação para o exercício da fiscalização de trânsito.
4. Dentro de sua esfera de atuação, delimitada pelo CTB, os Municípios podem
determinar que o poder de polícia que lhe compete seja exercido pela guarda municipal.
5. O art. 144, §8º, da CF, não impede que a guarda municipal exerça funções adicionais
à de proteção dos bens, serviços e instalações do Município. Até mesmo instituições
policiais podem cumular funções típicas de segurança pública com exercício de poder de
polícia. Entendimento que não foi alterado pelo advento da EC nº 82/2014. 6.
Desprovimento do recurso extraordinário e fixação, em repercussão geral, da seguinte
tese: é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício de poder de
polícia de trânsito, inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente
previstas.

3 - Poder hierárquico:

O poder hierárquico consiste no conjunto de prerrogativas detidas pelos agentes


públicos hierarquicamente superiores em relação aos seus subordinados, o que compreende o
poder de dar ordens, fiscalizar, controlar, aplicar sanções, rever os atos praticados pelos
subordinados, resolver conflitos de atribuições, bem como delegar e avocar competências.
Neste ponto, é importante notar que o poder hierárquico se desenvolve sempre no
âmbito de uma mesma pessoa jurídica. Em outras palavras, não há hierarquia entre pessoas
jurídicas diversas, de modo que o controle finalístico exercido pela Administração direta em
relação às entidades da Administração indireta não é um exemplo de poder hierárquico, mas
sim de poder de tutela.

Ademais, cumpre frisar que a hierarquia é uma característica associada ao desempenho


da função administrativa, de modo que não existe hierarquia no exercício das funções típicas do
Executivo e do Legislativo. Também não existe hierarquia entre os Poderes da República e a
Administração e os administrados.

A hierarquia se manifesta por atos de coordenação e por atos de subordinação. Os atos


de subordinação ocorrem de forma vertical. Exemplo: ministério da saúde e SUS. Por sua vez,
os atos por coordenação ocorrem horizontalmente, ou seja, há uma divisão horizontal de
atividades. Exemplo: ministério da saúde, ministério da educação, já que são órgãos de mesmo
escalonamento hierárquico.

Além disso, a hierarquia justifica a possibilidade de o agente público anular ou revogar


atos de alguém que lhe é subordinado. Justifica também as hipóteses de delegação e avocação
de competência.

Qual a diferença entre “delegação” e “avocação” de competências?

Embora ambas sejam atos discricionários, distinguem-se. Delegar significa uma


ampliação de competência do outro e independe de hierarquia. Dessa forma, quem não tinha
competência passa a ter, em virtude da delegação. Exemplo: A delega para B; quem pratica o
ato é B. Logo, quem responde é B. Sobre o tema, ver a Súmula 150 do STF:

Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra


ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.

Já a avocação é uma tomada de competência do outro, ou seja, quem não é competente


toma para si a competência. Aqui temos um requisito: só se admite avocação de competência
por quem tem relação de hierarquia.

OBS: vale lembrar que a Lei 9784 expressamente proíbe a delegação de competência (e,
consequentemente, a avocação) nas três situações a seguir:

a. No caso de competência exclusiva, definida em lei;


b. Para decisão de recurso administrativo;
c. Para edição de atos normativos.

MACETE: CENORA (Competência exclusiva, atos normativos e recurso administrativo)

4 - Poder Disciplinar

Em função do poder hierárquico da Administração, decorre o poder de direção, de


fiscalização, de revisão e também, em regra, o PODER DISCIPLINAR. A autoridade superior pode
investigar e eventualmente punir pessoas que têm uma relação jurídica específica com a
Administração Pública.

Deve-se observar, porém, que a aplicação de sanções administrativas nem sempre está
relacionada ao poder hierárquico. Somente derivam do poder hierárquico as sanções
disciplinares aplicadas aos servidores públicos que pratiquem infrações funcionais. Outras
sanções administrativas, tais quais as aplicadas a um particular que tenha celebrado um contrato
administrativo com o poder público e incorra em alguma irregularidade na execução desse
contrato, têm fundamento no poder disciplinar, mas não no poder hierárquico.

Diante disto podemos conceituar o poder disciplinar como uma prerrogativa conferida
à Administração Pública para aplicar sanções às pessoas que com ela possuam algum vínculo
jurídico específico, seja ele funcional (ex.: relações travadas com agentes públicos) ou negocial
(ex.: concessionárias de serviço público).

Qual seria a diferença entre poder disciplinar e poder de polícia?

O poder de polícia se impõe à coletividade como um todo, em uma relação de sujeição


geral, ao passo que o poder disciplinar se aplica apenas às pessoas submetidas à ordem
administrativa interna por um vínculo jurídico específico.

O poder disciplinar é um dever vinculado ou discricionário?

Constatada a infração, a Administração é obrigada a punir seu agente. É um dever


vinculado. No entanto, a escolha da punição é discricionária. Assim, o poder disciplinar é
vinculado quanto ao dever de punir e discricionário quanto à seleção da pena aplicável.

QUESTÕES
1) 2016 - AOCP - Prefeitura de Juiz de Fora – MG - Auditor Fiscal

O exercício do poder de polícia administrativa, por meio de sua modalidade repressiva,


caracteriza- se através da:

a) emissão de alvará de construção.

b) emissão de carteira de motorista.

c) autorização de uso de bem público.

d) expedição do alvará do corpo de bombeiros.

e) imposição de multa.

Comentário: O poder de polícia administrativa pode ser exercido preventiva ou


repressivamente. No exercício preventivo do poder de polícia, o poder público estabelece
normas que limitam ou condicionam a utilização de bens ou o exercício de atividades privadas
que possam afetar a coletividade, exigindo que o particular obtenha anuência previamente da
administração pública. Ex: emissão de alvará de construção (A), emissão de carteira de
motorista (B), autorização de uso de bem público (C), expedição do alvará do corpo de
bombeiros (D).

Já na atividade repressiva de polícia administrativa- é consubstanciada na aplicação de


sanções administrativas como consequência da prática de infrações a normas de polícia pelos
particulares a elas sujeitos. Ex: imposição de multa (E).

GABARITO: E.

2) 2012 – AOCP - TCE-PA - Assessor Técnico de Procuradoria

Acerca dos Poderes da Administração, pode-se dizer que o fechamento de estabelecimento


comercial que descumpre regras sanitárias caracteriza manifestação:

a) do Poder Hierárquico.

b) do Poder Discricionário.

c) do Poder Disciplinar.

d) de Abuso de Poder.

e) do Poder de Polícia.

Comentário: O poder de polícia administrativo pode ser conceituado como o instrumento que
a administração pública dispõe para, na forma da lei, condicionar ou restringir direitos, uso de
bens, prática de atividades privadas, etc., visando a proteger o interesse público.

GABARITO: E.

3) 2012 – AOCP - TCE-PA - Auditor

No que se refere aos Poderes da Administração, analise as assertivas e assinale a alternativa que
aponta a(s) correta(s).

I. É possível no Brasil decreto regulamentar autônomo, em caráter excepcional e quando


expressamente autorizado pela Constituição Federal.

II. O poder de polícia retira um direito pessoal do administrado em nome do interesse público.

III. O poder de polícia não pode ser delegado ao particular, no entanto, admite-se a delegação
de atos materiais ou instrumentais.

IV. O Poder Disciplinar decorre do Poder Hierárquico.

a) Apenas I.

b) Apenas II e III.

c) Apenas I e IV.
d) Apenas I, III e IV.

e) I, II, III e IV.

Comentário:

I - CERTO: Decreto autônomo é aquele que tem fundamento na constituição e pode ser
delegado da competência privativa do PR (Art. 84 VI).

II –ERRADO: O poder de polícia não retira, mas disciplina, condiciona, restringe, a forma de se
exercer esses direitos, por esse motivo que não há dever de indenizar.

III - CERTO: Embora o Poder de polícia seja uma expressão marcante da supremacia do
interesse público sobre o particular, o STJ entendeu que esse poder pode ser delegado
somente se for em relação aos atos materiais, de Consentimento e de Fiscalização, ficando a
Legislação e a Sanção em poder do estado.

IV - CERTO: Poder Disciplinar decorre do Poder Hierárquico, pois ambos advêm da hierarquia
administrativa, mas com ele não se confunde, já que o poder disciplinar tem a finalidade de
apuração de infrações e aplicação de penalidades a servidores públicos e demais pessoas que
estejam sob a disciplina administrativa.

GABARITO: D.

4) 2017 – FCC - TRT - 21ª Região (RN) - Analista Judiciário - Área Judiciária

Em relação aos servidores públicos que ocupam cargo ou emprego público e ao exercício dos
poderes inerentes à Administração pública,

a) o poder disciplinar aplica-se exclusivamente aos servidores ocupantes de cargos públicos,


estando os empregados públicos, no exercício de suas funções, sujeitos ao poder de polícia pelo
Estado.

b) o vínculo efetivo dos servidores públicos autoriza que os ocupantes de cargo exerçam o
poder normativo e regulamentar com a edição de decretos autônomos de organização
administrativa.

c) o poder hierárquico distingue-se do poder disciplinar, com este não se confundindo,


aplicando-se o primeiro para as relações funcionais com o Poder Público, sendo o disciplinar
para qualquer relação contratual entre poder público e terceiros não servidores.

d) em que pese o poder de polícia se aplique a todos os servidores públicos, no exercício de


suas funções, titulares de cargos efetivos, ocupantes de empregos públicos ou aqueles que
ocupam cargo em comissão, seu exercício é exclusivo do Chefe do Executivo, em razão de sua
indelegabilidade.
e) não obstante a diversidade de regime jurídico a que estão sujeitos, há normas comuns,
aplicáveis às duas categorias, como a exigência de concurso público para ingresso no serviço
público, excetuadas as nomeações para cargos comissionados, nos termos da lei.

Comentário:

a) ERRADA. O poder disciplinar aplica-se aos ocupantes de cargos públicos, empregados


públicos e particulares com vínculo jurídico com a administração pública;

b) ERRADA. A edição de decretos autônomos é competência do chefe do poder executivo.

c) ERRADA. O poder disciplinar não se aplica a qualquer relação. Ele trata da atribuição pública
de aplicação de sanções àqueles que estejam sujeitos à disciplina do ente estatal. É o poder
de aplicar sanções e penalidades, apurando infrações dos servidores ou outros que são
submetidos à disciplina da Administração, ou seja, a todos aqueles que tenham vínculo de
natureza especial com o Estado.

d) ERRADA. O poder de polícia se aplica aos particulares/pessoas SEM vínculo específico com
a Administração Pública. Além disso, ele é função típica do Estado e só pode ser exercido por
Pessoas de direito Público.

e) CORRETA. Art, 37, II, CF: II – “a investidura em cargo ou emprego público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”

GABARITO: E.

5) 2017 – FCC - TRT - 21ª Região (RN) - Técnico Judiciário - Área Administrativa

Durante inspeção a um laboratório e fábrica de produtos veterinários, os agentes da


Administração pública competente constataram em um exemplar, a utilização de determinado
insumo não mais autorizado. Em razão disso, lavraram auto de infração e de apreensão de todos
os produtos da mesma categoria. Os donos do laboratório insurgiram-se contra a medida que

a) excedeu os limites do poder de polícia que compete à Administração pública em razão da


apreensão das mercadorias, o que demandaria autorização judicial.

b) não poderia ter sido realizada sem prévia submissão a processo judicial, salvo se houvesse
expressa previsão em decreto autônomo da Administração pública.

c) configurou regular exercício de poder disciplinar, que se estende não só em relação aos
servidores públicos, mas também em direção daqueles que travarem relações jurídicas com o
poder público.

d) constitui regular exercício de poder de polícia pela Administração pública, cuja atuação pode
prever medidas preventivas e repressivas de urgência, a fim de garantir a segurança e a saúde
dos administrados.
e) deveria estar integral e expressamente prevista na legislação que trata da competência de
fiscalização da Administração pública em matéria de vigilância sanitária, não se admitindo
adoção de medidas acautelatórias e de urgência.

Comentário: O poder de polícia é o que permite à Administração restringir o exercício de


atividades privadas em prol do interesse público. Ele pode ser preventivo ou repressivo. O
preventivo se manifesta nos atos de consentimento (ex: alvarás e licenças); já o repressivo
está presente nos atos punitivos, a exemplo da apreensão de mercadorias.

GABARITO: D.

6) 2017 – FCC - TRF - 5ª REGIÃO - Analista Judiciário - Área Judiciária

O chefe do departamento pessoal de uma determinada autarquia federal, para o bom


funcionamento dos serviços afetos à sua unidade, editou ato normativo interno estabelecendo
horários de saída para o almoço, respeitando, para tanto, as especificidades das jornadas de
trabalho de cada subordinado. Justificou o ato na necessidade de a unidade contar, sempre, com
pelo menos um servidor. A edição do ato encontra fundamento no poder

a) de polícia, que é próprio da função administrativa, e assim denominado por cuidar-se, na


hipótese, de pessoa jurídica integrante da Administração pública indireta.

b) hierárquico, que é próprio da função administrativa, e por meio do qual a Administração


pública mantém a disciplina e impõe o cumprimento de deveres funcionais.

c) disciplinar, que obriga o cumprimento, pelos subordinados, das ordens dos superiores, sob
pena de punição.

d) hierárquico, que, no entanto, deixou de ser próprio da função administrativa, em razão do


princípio da eficiência, que exclui a ingerência dos superiores.

e) disciplinar, que se sobrepõe e se confunde com o poder hierárquico, pois atribui


competência ao administrador para aplicar penalidade aos seus subordinados.

Comentário: Poder Hierárquico é o que goza a Administração Pública para distribuir e


escalonar seus órgãos e agentes, distribuindo-os em uma relação verticalizada de
subordinação, assim como para dar ordens, fiscalizar o seu cumprimento e rever os atos dos
subordinados.

GABARITO: B.

7) 2017 – FCC - TRF - 5ª REGIÃO - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal

O Poder Público, após obter autorização legislativa específica, pretende implementar política
pública de segurança alimentar destinada à primeira infância. Para tanto, e nos termos da lei,
distribuirá leite às famílias de baixa renda que tiverem filhos menores de sete anos de idade,
abaixo do peso recomendável pela literatura médica para a faixa etária. Visando instituir o
programa, atribuir competência a um de seus órgãos (Ministérios) e estabelecer os critérios
técnicos de seleção dos beneficiários, o Chefe do Executivo

a) poderá editar, com fundamento no Poder de Polícia, decreto, em razão de produzir efeitos
externos.

b) deverá editar regimento, ato administrativo unilateral, com efeitos externos e sujeito à
aprovação do Poder Legislativo.

c) poderá expedir decreto, que tem fundamento no Poder Regulamentar, efeito externo e está
sujeito à controle externo.

d) poderá expedir regimento, que se fundamenta no Poder Regulamentar, produz efeitos


internos apenas, uma vez que não se admite regulamento autônomo ou independente no Brasil.

e) poderá editar deliberação, ato administrativo bilateral, com efeitos internos, fundamentado
no Poder Normativo.

Comentário: O decreto expedido pelo Chefe do Executivo tem fundamento no Poder


Regulamentar (CF, Art. 84, VI, "a"), possui efeitos externos (atinge os administrados e a
própria Administração Pública) e está sujeito a controle externo (pode ser anulado pelo Poder
Judiciário, por exemplo, em caso de ilegalidade).

GABARITO: C.

8) 2017 – FCC – TST - Técnico Judiciário – Área Administrativa

O poder normativo da Administração pública

a) pode ter aplicação preventiva ou repressiva, tal qual o poder de polícia exercido pela
Administração pública, sendo, no primeiro caso, restrito às matérias de organização
administrativa e de competência suplementar, ou seja, para disciplinar situações sobre as quais
inexista lei pertinente.

b) permite à Administração pública a edição de atos normativos para fixação de parâmetros e


diretrizes de gradação de penas disciplinares, quando relacionado ao poder disciplinar, bem
como para instituição de novas penas mais adequadas para situações atuais.

c) fica restrito às situações em que estejam presentes relações hierarquizadas, em que a


competência para definição de normas tenha caráter originário.

d) pode ter natureza originária nas situações expressamente previstas constitucionalmente,


fora das quais fica restrito a hipóteses de prévia existência de leis que demandem a disciplina e
explicitação da forma de aplicação das mesmas às situações concretas.

e) consubstancia-se, quando aplicado a situações concretas, em exercício de poder de polícia,


diretamente incidente sobre a esfera de direitos dos administrados, devendo estar previamente
previsto na legislação vigente.
Comentário:

a) ERRADA. O poder normativo não pode ser utilizado para disciplinar situações sobre as quais
inexista lei pertinente, pois ele não pode inovar o ordenamento jurídico.

b) ERRADA. A instituição de novas penas não pode ser feita por meio do poder normativo da
Administração, mas mediante a edição de leis pelo Poder Legislativo.

c) ERRADA. O poder normativo não permite a edição de normas em caráter originário, mas
secundário, devendo sempre respeitar os limites da lei.

d) CERTA. A Constituição, em algumas situações específicas, prevê a edição dos chamados


decretos autônomos, que são atos normativos de natureza originária, vez que não dependem
de uma lei prévia. Fora das hipóteses em que a CF permite a edição dos decretos autônomos,
o poder normativo fica restrito a regulamentar leis preexistentes, com o objetivo de explicitar
a aplicação delas aos casos concretos.

e) ERRADA. O poder normativo possui relação não só com o poder de polícia, mas também
como o poder hierárquico e com o poder regulamentar

GABARITO: D.

9) 2017 – FCC – TST - Juiz do Trabalho Substituto

A respeito dos poderes da Administração pública, é correto afirmar:

a) O poder de rever atos e decisões e de decidir conflitos de competência entre subordinados


são desdobramentos ou decorrências do poder disciplinar.

b) As multas decorrentes do poder de polícia devem ser executadas na via administrativa.

c) Compete privativamente ao Presidente da República dispor, mediante decreto, sobre (i)


organização e funcionamento da Administração federal, quando não implicar aumento de
despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; e (ii) extinção de funções ou cargos
públicos, quando vagos.

d) Em matéria de poder de polícia, suspende-se a prescrição da ação punitiva por qualquer ato
inequívoco que importe em manifestação expressa de tentativa de solução conciliatória no
âmbito interno da Administração pública federal.

e) É da competência exclusiva da Câmara dos Deputados sustar os atos normativos do Poder


Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa.

Comentário:

a) ERRADA. O poder disposto na assertiva é o poder hierárquico.


b) ERRADA. Em que pese os atos administrativos sejam dotados de autoexecutoriedade, esta
característica não está presente no caso das multas administrativas, que não podem ser
executadas diretamente pelo Poder Público na via administrativa.

c) CORRETA. Art. 84, CF/88,VI, CF.

d) ERRADA. O erro é falar que se suspende a prescrição, sendo que o correto é a interrupção.
Trata-se de previsão da Lei 9.873/99, que estabelece o prazo de prescrição para o exercício da
ação punitiva pela Adm. Pública federal, direta e indireta:

e) ERRADA. Trata-se de competência do Congresso Nacional, nos termos do art. 49, V, CF

GABARITO: C.

10) 2017 – FGV - Prefeitura de Salvador – BA - Técnico de Nível Superior II - Direito

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, autarquia federal, determinou a apreensão


do suplemento alimentar "Força Power Mega Ultra", que, segundo a autarquia, não
apresentaria garantias de eficácia, segurança e qualidade, colocando em risco a saúde dos
eventuais usuários. Além disso, determinou a imposição de multa ao fabricante do produto.

Considerando o exposto, assinale a afirmativa correta.

a) A autarquia federal, no exercício regular do poder de polícia, pode apreender o suplemento


alimentar em condição irregular, independentemente de autorização judicial prévia.

b) A autarquia que não integra a administração direta da União, dos Estados ou do Município
não pode exercer o poder de polícia, como a apreensão do referido suplemento.

c) No exercício do poder de polícia, a autarquia federal pode aplicar multa ao fabricante do


produto que não apresenta as garantias de eficácia e segurança, mas não determinar a sua
apreensão.

d) Para permitir atuação eficaz em todo o país, é lícita a delegação, por parte da autarquia, das
atividades de controle e fiscalização a pessoas de direito privado contratadas após a licitação.

e) A autarquia pode apreender o suplemento alimentar irregular, mas somente após o exercício
do contraditório e da ampla defesa pelo fabricante do produto.

Comentário:

a) CORRETA. A autarquia pode exercer a atividade mencionada na questão com base na


autoexecutoriedade do poder de polícia, a qual consiste na possibilidade de imediata e direta
execução de certos atos pela própria administração, independentemente de ordem judicial.

b) ERRADA. A Autarquia (pessoa jurídica de direito público) pode exercer o poder de polícia,
por ser uma entidade da Administração Indireta, mas ela exerce o poder de polícia delegado.
c) ERRADA. A autarquia pode realizar a apreensão do produto com base na
autoexecutoriedade do poder de polícia que permite a imediata execução do ato, sem
necessidade de prévia manifestação judicial.

d) ERRADA. De acordo com entendimento do STJ, as fases de “consentimento de polícia” e


“fiscalização de polícia” podem ser delegadas a entidades com personalidade jurídica de
direito privado pertencentes a estrutura da administração pública indireta, até mesmo pelo
fato dessas fases não possuírem natureza coercitiva. No entanto, concessionárias e
permissionárias não integram a administração pública indireta.

e) ERRADA. A autarquia pode realizar apreensão sem precisar esperar o contraditório e a


ampla defesa. Caso haja alguma dúvida sobre a legalidade do ato, então o particular lesado
pelo ato poderá procurar formas para impugná-lo e exercer o contraditório e ampla defesa.

GABARITO: A.

11) 2017 – FGV - TRT - 12ª Região (SC) - Analista Judiciário – Área Judiciária

A Resolução Administrativa nº 12/2016 do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região


regulamenta, no âmbito daquele Tribunal, a aplicação da resolução conjunta nº 04/2014, dos
presidentes do CNJ e CNMP, que autoriza o porte de arma de fogo para os servidores que
efetivamente estejam no exercício de funções de segurança, conforme permissivo legal do
Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03).

Em tema de poderes administrativos, é correto afirmar que a citada resolução foi editada com
base no poder:

a) de polícia do Judiciário, que tem competência legal para estabelecer os parâmetros internos
para reger o porte de arma e demais questões afetas à segurança pública dos cidadãos e de seus
servidores e magistrados;

b) discricionário, uma vez que cabe ao Presidente do respectivo Tribunal, no regular exercício
da autonomia organizacional e administrativa de cada Tribunal, estabelecer regras internas
sobre segurança pública;

c) normativo, que é aquele conferido à Administração Pública para expedição de normas gerais,
abstratas e com efeitos erga omnes, para, no caso concreto, complementar a Lei nº 10.826/03,
observados seus limites e visando à sua efetiva aplicação;

d) hierárquico, que é aquele exercido verticalmente, no topo da pirâmide administrativa do


Tribunal por seu Presidente, que possui a competência legal para regulamentar atividades de
segurança previstas na Lei nº 10.826/03;

e) disciplinar, que é a prerrogativa de direito público, para regulamentar e condicionar


direitos e liberdades individuais, tendo por fundamento a supremacia do interesse público e,
no caso concreto, ampliar as normas da Lei nº 10.826/03.
Comentário: A regulamentação, no âmbito administrativo, de matéria prevista em lei, ocorre
por meio do poder normativo. Este permite que as autoridades administrativas elaborem atos
normativos secundários, isto é, atos infralegais, de caráter geral e abstrato, aplicáveis a todos
aqueles que se enquadrarem na situação “em abstrato” ali descrita (eficácia erga omnes).

GABARITO: C.

12) 2017 – FGV – ALERJ - Procurador

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro recebeu dezenas de reclamações de


consumidores a respeito da precariedade no serviço público de fornecimento de energia elétrica
em determinado bairro da Zona Oeste, consistente em constantes interrupções e quedas de
energia. Tais denúncias foram encaminhadas ao PROCON Estadual que, após processo
administrativo, aplicou multa à concessionária do serviço público. Em tema de poderes da
Administração Pública, de acordo com a doutrina e a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, a providência adotada pelo PROCON está:

a) errada, eis que a sanção de multa decorre do poder normativo do órgão superior do Sistema
Nacional de Defesa do Consumidor e da ANEEL;

b) errada, eis que a sanção de multa decorre do poder regulamentar da ANEEL em relação à
transgressão dos preceitos do Código de Defesa do Consumidor;

c) correta, eis que a sanção de multa decorre do poder de polícia do órgão que integra o
Sistema Nacional de Defesa do Consumidor;

d) correta, eis que a sanção de multa decorre do poder hierárquico do órgão que integra o
Sistema Nacional de Defesa do Consumidor;

e) correta, eis que a sanção de multa decorre do poder disciplinar do PROCON em relação à
transgressão dos preceitos do Código de Defesa do Consumidor.

Comentário: O Procon estadual tem natureza jurídica de órgão do Poder Executivo estadual,
atuando, precipuamente, na fiscalização dos bens e serviços prestados aos consumidores de
sua área de abrangência territorial.

Se a multa em tela tivesse sido aplicada pelo próprio Estado do Rio de Janeiro, na condição de
poder concedente, referida sanção pecuniária estaria fundada no poder disciplinar da
Administração Pública, o qual se caracteriza por exigir que haja vínculo jurídico específico
entre a Administração e o particular. Na hipótese, o vínculo seria de índole contratual
(contrato de concessão de serviços públicos).

Ocorre que, como acima pontuado, a multa derivou de órgão estadual, e não do Estado do RJ,
como poder concedente. Em assim sendo, é de se concluir que tal penalidade teve por
fundamento o poder de polícia a cargo do aludido órgão estadual. Com efeito, desde que haja,
portanto, expressa base legal para a imposição da pena de multa, pode-se afirmar que a
conduta do Procon estadual seria escorreita.

GABARITO: C.

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