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Quando Aristóteles diz que "o homem é um animal social" não diz apenas que ele nasceu para
fazer parte de uma sociedade, como a abelha (que necessariamente integra sua colmeia e dela
participa) nem apenas no sentido de que "precisa" da sociedade, sem a qual não teria
condições de expandir-se como indivíduo ou pessoa, mas indica também que o homem é um
animal cívico - é um cidadão - isto é, um ser que constrói sua sociedade e a integra como
participante de seu governo. A colmeia tem nas leis imutáveis do instinto de cada membro um
modo de ser invariável, repetido milenarmente, sem qualquer nota de originalidade e
inovação. O homem, ao contrário, é um ser inteligente e livre. Se traz em sua natureza uma
postulação que o incapacita de viver só, é ele que dá a figura própria da sua sociedade e
participa criativamente de seu governo, não só no comando executivo da sua busca do bem
comum, mas na elaboração das leis - Constituição - que especificam e colocam em altura
impessoal de compromisso de reciprocidade a feição própria da sua convivência.
Essas leis são radicadas na lei natural, isto é, na natureza das coisas (sem o que não seriam
leis, mas exorbitância ou injustiça). Ou serão explicitações ou aplicações dessa lei natural,
definindo especificações concretas e particulares, que estabelecem "a união moral de muitos"
(causa formal da sociedade) em vista da ação unida para o bem comum (fim ou causa final da
sociedade).
Assim, o conjunto desses animais cívicos, antes (se não no tempo, mas na ordem lógica) de
ser sociedade, será uma nação (habitantes de uma região) ou uma comunidade (gente da
mesma língua e dos mesmos hábitos tradicionais). Somente será uma sociedade quando os
membros se entenderem entre si, isto é, introduzirem, por uma iniciativa de inteligência e
criação, determinações jurídicas que precisem a reciprocidade de direitos e deveres para
trabalharem para um bem comum.
Constituição é uma palavra adequadamente escolhida para nome de Lei Maior de uma
nação ou país, pois é ela que transforma um agrupamento humano, dando-lhe forma (isto é,
sendo sua causa formal) em sociedade civil. Ela constitui esse agrupamento como sociedade
civil, definindo direitos e deveres fundamentais, estabelecendo a unio moralis plurium, pelo
vínculo da reciprocidade que relaciona os membros entre si. Por isso, a Constituição - Lei
Maior - deve ser suficientemente estável e, quanto possível, generosa, para dar espaço à
criatividade e à variedade, que serão objeto de leis menores e regulamentos.
É o grande risco da democracia. Risco já temido por Platão, mas quase incontornável. O
risco se agrava nos dias de hoje, por dois outros ingredientes que se instalam em nossa vida
social. O primeiro é a televisão que deu à propaganda uma penetração traiçoeira, cujo limite é
o dinheiro e cujo charme é a imagem, cujo risco de baixar o nível intelectual e humano pode
ser exemplificado pela escola do professor Raimundo. Esse risco se intercruza ultimamente
com a atividade política vista como emprego de pequeno trabalho e grande salário. E isso se
alargando pelas câmaras de vereadores de pequenas cidades, que não só consomem suas
receitas como poluem a atividade política. Em terceiro lugar, o populismo, no seu lado mau,
que não só conduz às câmaras o cantor e o bom de bola, mas chega ao bicheiro e ao
contrabandista, que são exímios na arte de fraudar.
Há dias, um de nossos grandes juízes escreveu um artigo, postulando uma formação
acadêmica para a atividade política. Ninguém exerce medicina ou engenharia, dizia ele, sem
uma titulação obtida em universidade. O cidadão é eleito para legislar sem qualquer formação
que o torne idôneo para o mister. Não penso que esse seja o caminho. O político não é um
profissional com formação universitária específica. Não é isso, mas é mais que isso. É o homem
de cultura menos específica e mais ampla, movido pelo interesse público e pelo gosto de
servir. É o homem suficientemente culto (não necessariamente doutor, com diploma superior)
e sensato, que conheça os seus limites, como acontecia, até há pouco tempo, antes da
nivelação igualitária. Um deputado tirava de sua experiência e sensatez a idéia de um projeto
de lei. Sabia que não conhecia a técnica para redigi-la. Ia a colega jurista, para solicitar ajuda: -
"tive essa idéia, penso num projeto com tal objetivo, como se pode formular isso? Quais as
suas contrapartidas?" E o jurista, depois de avaliar a idéia, discutiria com o colega as suas
ressonâncias e implicações e, finalmente, verificado o seu valor positivo, dar-lhe-ia a
indispensável linguagem e a formulação jurídicas, sem esquecer as possíveis cautelas que o
próprio texto do projeto não poderia omitir.
Richard Tarnas
" A mais lúcida e concisa apresentação que já li acerca dos principais escritos que todo
estudiosa deveria saber sobre a história do pensamento ocidental. O texto é elegante e
conduz o leitor com o ímpeto de um romance... De fato, um resultado nobre."
Joseph Campbell
"Uma aventura intelectual, esta síntese fascinante lança uma luz intensa sobre idéias
fundamentais para a perspectiva humana."
Publishers Weekly
"Nenhuma outra visão geral oferece, na mesma escala, uma análise tão lúcida e
relevante. A erudição é impecável."
Huston Smith, Universidade da Califórnia, Berkley
Sinopse
Por que o mundo moderno é como é? Como o pensamento contemporâneo chegou às
idéias fundamentais e aos princípios funcionais que influenciam tão profundamente as
nossas sociedades? Neste livro, Richard Tarnas apresenta uma narrativa concisa da
história do mundo ocidental, da Grécia Antiga ao pós-modernismo, fornecendo um relato
coerente da evolução do pensamento e de suas mudanças através dos tempos.
Num fascinante mergulho na história, Tarnas discute as idéias mais importantes que
moldaram a nossa civilização, de Platão a Hegel, de Agostinho a Nietzsche, de Copérnico
a Freud, num tour de force intelectual que vem sendo apontado pela crítica como a mais
criativa e abrangente análise da história do pensamento ocidental.
Segundo o autor, além da necessidade de tornar esta história mais acessível ao público,
A Epopéia do Pensamento Ocidental narra uma história que merece ser contada ?por
possuir a dinâmica, a escala de ação e a beleza de um grande épico: a Grécia Antiga e
Clássica, a Era Helênica e a Roma Imperial, o Judaísmo e o surgimento do Cristianismo,
a Igreja Católica e a Idade Média (...) há uma grande tragédia aqui. E algo que
ultrapassa a tragédia?.
Segundo David Steindl-Rast, co-autor, ao lado de Tarnas, de Belonging to the Universe,
o autor acumulou uma quantidade impressionante de dados, mas poupou o leitor da
confusão que esse conhecimento poderia gerar em sua mente, criando uma história que
enfoca, acima de tudo, o êxtase do pensamento e o relacionamento do pensamento com
o mistério da vida, combinando uma visão profunda e persistente com impecável
erudição.
“...a mente humana jamais poderá reivindicar acesso a qualquer realidade a não
ser a determinada por sua forma local de vida. A linguagem é uma gaiola”
(Wittgenstein). Além do mais, o próprio significado lingüístico pode mostra-se
instável em essência, porque os contextos que determinam esse significado jamais
são fixos.... p 426
Mais precisamente, esse projeto tem sido condenado como algo inerentemente
alienador e opressivamente hierárquico – um procedimento intelectualmente
arrogante, que produziu um empobrecimento existencial e cultural e que
basicamente levou ao domínio tecnocrático da Natureza e ao domínio sócio-
político de outros. A compulsão tirânica do espírito ocidental em impor alguma
for,a de razão totalizadora – teológica, científica, econômica – a cada aspecto da
vida é acusada de não ser apenas auto-ilusória, mas destrutiva. P 427
O choque com essa experiência perinatal sempre trazia aos sujeitos uma sensação
de que a própria Natureza, inclusive o corpo humano, era o repositório e
receptáculo do arquetípico, de que os processos da Natureza eram processos
arquetípicos. P 454
Se a mente humana não tem acesso a uma certa verdade axiomática, e se todas
as observações estão sempre já saturadas por pressupostos não comprovados
sobre o mundo, como poderia essa mente conceber uma legítima teoria bem-
sucedida? Popper respondeu essa questão dizendo que, no final das contas, é
“sorte”.
RESENHA 3
“Gênese do Pensamento Político”, do filósofo francês François
Châtelet, faz uma retomada ao passado para explicar a origem das
idéias políticas na civilização ocidental. Para Châtelet, uma das
principais fontes do pensamento político moderno é a civilização
grega; a outra fonte principal são os textos sagrados do povo
judaico (Velho Testamento), retomados pelos cristãos e pelo Islã.
Esse texto faz parte do livro “História das Idéias Políticas” e traz
uma reflexão sobre o desenvolvimento do pensamento político, e se
esforça para sistematizar de modo claro as principais doutrinas que
marcaram esse desenvolvimento.
Conceitos Fundamentais
François Châtelet faz uma abordagem sobre o surgimento do Estado e sua soberania transcorrendo a
história desde a Cidade Grega até o Estado laico e a ética profana, passando pela democracia, pelo
cidadão na Cidade, Império Romano, República, a doutrina agostiniana a respeito da Cidade de Deus e
a Cidade dos homens e pelo conflito entre o poder espiritual e temporal.
O Império Romano
O Império Romano soube pegar as idéias gregas e produzir instituições eficazes. O pragmatismo do
pensamento romano e a prática política romana
“não aceita o compromisso e a oportunidade a não ser na medida em que concordem com a tradição de
grandeza e potência da cidade de Rômulo. Os enunciados jurídicos e as legitimações filosóficas intervêm
como quadro, como marca e como perpetuação da ação fundadora da comunidade cívica. Assim, o direito,
a república e o imperium atuam enquanto instituem a ordem militar e administrativa estabelecida de fato
pelo Povo e pelo Senado”.
Mesmo sob poder absoluto e autoritário Roma se refutava republicana. Quando se livra da realeza a
república se torna uma realidade e Roma define o direito em 450 a.C. quando fez gravar as leis das
Doze Tábuas. Enquanto isto as Instituições Republicanas iam se consolidando.
“O mérito das instituições romanas, contudo, consiste em ter definido a comunidade por elas regida com
base num vínculo jurídico e numa ordem política estritamente determinada”.
Roma é marcada indelevelmente pelo “Império”, forma política através da qual irá difundir
universalmente a sua civilização. É com César Augusto, o onipotente, que se equilibram, segundo a
hierarquia, as três forças construtivas da comunidade: os sacerdotes-reis, encarregados de administrar
a república, os guerreiros que a defendem e Quirino os agricultores e artesãos que provêem suas
necessidades materiais. E nele, o Imperador, se encontram reunidos estes atributos: a potestas
(senhoria política) e a auctoritas (senhoria espiritual), a chefia suprema das legiões e, por fim, o
princeps (empreendedor).