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Conteúdo

1. Introdução................................................................................................................................2
2. 802.11b e 802.11a....................................................................................................................2
3. 802.11g.....................................................................................................................................3

4. 802.11n ................................................................................................................................7
1. Introdução

O 802.11 é um conjunto de padrões criados pelo IEEE para o uso em redes


wireless. O padrão 802.11 original, hoje chamado de 802.11-1997 ou 802.11
legacy foi publicado em 1997 e previa taxas de transmissão de 1 e 2 megabits,
usando a faixa dos 2.4 GHz, escolhida por ser uma das poucas faixas de
freqüência não licenciadas, de uso livre.
Este padrão levou à criação de um pequeno número de produtos, apenas
parcialmente compatíveis entre si, mas lançou as bases para o
desenvolvimento dos padrões atuais. Estas primeiras placas 802.11
conviveram com placas baseadas em padrões proprietários, incompatíveis
entre sí, como o Arlan da Aironet e o WaveLAN, da NCR, que trabalhavam na
faixa dos 900 MHz e transmitiam a, respectivamente, 860 kbits e 2 megabits.

Além dos padrões do IEEE, temos também o Wi-Fi (Wireless Fidelity, que


pronunciamos como "uai-fái"), uma certificação (opcional) para produtos
compatíveis com os padrões, que assegura que eles sejam intercompatíveis.

Apenas os produtos certificados (um processo relativamente caro e demorado)


podem ostentar o logo "Wi-Fi Certified", de forma que muitos produtos,
sobretudo os produtos mais baratos não passam pela certificação e não são
vendidos como produtos Wi-Fi, embora isso não signifique necessariamente
que eles sejam incompatíveis ou de qualidade inferior.

É comum que usemos o termo "Wi-Fi" em referência aos produtos baseado nos
padrões 802.11 de uma forma geral mas, tecnicamente falando, apenas os
produtos que passam pela certificação podem ser chamados de "Wi-Fi",
embora na prática isso não faça muita diferença.
2. 802.11b e 802.11a
Publicado em outubro de 1999, o 802.11b foi o primeiro padrão wireless usado
em grande escala. Ele marcou a popularização da tecnologia, permitindo que
placas de diferentes fabricantes se tornassem compatíveis e os custos
caíssem, graças ao aumento na demanda e à concorrência. Assim como o
802.11 legacy, o 801.11b opera na faixa dos 2.4 GHz.

O padrão seguinte foi o 802.11a (que na verdade começou a ser desenvolvido


antes do 802.11b, mas foi finalizado poucos dias depois), que utiliza uma faixa
de freqüência mais alta, 5 GHz, e oferece uma velocidade teórica de 54
megabits, porém a distâncias menores, cerca de metade da distância atingida
por uma placa 802.11b usando o mesmo tipo de antena.
A faixa de freqüência dos 5 GHz é muito mais "limpa", pois é utilizada por um
volume muito menor de dispositivos do que os 2.4 GHz. Além disso, existem
muito menos redes 802.11a em uso, o que faz com que as redes 802.11a
sejam em geral mais estáveis e menos suscetíveis a interferências. Para redes
pequenas, onde você possa se dar ao luxo de escolher quais placas wireless
usar e puder se limitar ao uso de placas que suportem o padrão, usar uma rede
802.11a pode ser uma boa opção.

Muitos pontos de acesso de fabricação recente são capazes de operar


simultaneamente nas duas faixas de frequência, atendendo tanto clientes com
placas 801.11b ou 802.11g quanto clientes 802.11a. Este recurso é
interessante, pois permite que você crie uma rede mista, que permita o uso da
faixa dos 5 GHz (mais limpa) sem, entretanto, deixar de fora clientes que
suportam apenas os padrões B e G.

Para oferecer este recurso, o ponto de acesso precisa incluir dois


transmissores independentes, o que encarece o produto. Um exemplo de AP
compatível é o Linksys WRT600N, onde você encontra a opção "Network
Mode" dentro da seção "Wireless". Usando o valor "Mixed" para as duas
seções, você faz com que ele opere simultaneamente nas duas faixas de
frequência:
3. 802.11g
Em seguida temos o 802.11g que, apesar do crescimento do 802.11n, ainda é
utilizado na maioria das instalações. Ele utiliza a mesma faixa de freqüência do
802.11b: 2.4 GHz. Isso permite que os dois padrões sejam intercompatíveis. A
idéia é que você possa adicionar placas e pontos de acesso 802.11g a uma
rede 802.11b já existente, mantendo os componentes antigos, do mesmo modo
como hoje em dia temos liberdade para adicionar placas e switches Gigabit
Ethernet a uma rede já existente de 100 megabits.

Apesar disso, a velocidade de transmissão no 802.11g é de 54 megabits, como


nas redes 802.11a. Isso foi possível porque o padrão 802.11g é mais recente e
por isso incorpora novas tecnologias de modulação de sinal. Uma analogia
poderia ser feita com relação às placas de rede Gigabit Ethernet, que são
capazes de trabalhar utilizando os mesmos cabos cat 5e utilizados pelas
placas de 100 megabits.

Na prática, é possível atingir taxas de transmissão reais em torno de 3.4 MB/s,


tanto nas redes 802.11g quanto nas 802.11a, ao contrário do que os 54
megabits teóricos sugerem. Isso acontece porque as redes wireless utilizam o
ar como meio de transmissão, o que as torna muito mais propensas a
problemas e interferência do que as redes cabeadas, que utilizam cabos de
cobre ou de fibra óptica. Para que os dados sejam transmitidos de forma
confiável, é necessário incluir um pesado protocolo de transmissão e correção
de erros, o que faz com que a percentagem de bits "úteis" transmitidos seja
relativamente baixa.

Além da perda causada pelo protocolo de controle (que se enquadra na


camada 2 do modelo OSI), temos mais uma pequena perda causada pelo
protocolo TCP/IP (camadas 3 e 4), sem falar do overhead introduzido pelos
aplicativos (camada 7). Juntando tudo isso, a velocidade real da rede wireless
acaba sendo quase metade da taxa teórica, ou seja, para cada byte de dados
úteis, a placa acaba precisando transmitir dois. Nas redes cabeadas também
existe overhead, mas ele é proporcionalmente muito menor.

Conforme aumenta a distância, as placas lançam mão de outro artifício para


manter a estabilidade do sinal: reduzem a taxa de transmissão, como alguém
que passa a falar mais devagar quando a ligação telefônica está ruim. No caso
das redes 802.11g, a taxa cai, sucessivamente, de 54 megabits para 48, 36,
24, 18, 12, 11, 9, 6, 5.5, 2 ou 1 megabit, até que o sinal finalmente se perde
completamente. Com a rede operando a 11 megabits (a mesma taxa de
transmissão das redes 802.11b), por exemplo, a taxa de transferência real fica
abaixo dos 750 KB/s.

Na maioria dos pontos de acesso, é possível definir uma taxa fixa de


transmissão (no lugar do valor "Auto", que é o default), o que permite que a
taxa seja ajustada conforme necessário. Com isso, você pode forçar a rede a
operar sempre a 54 megabits, por exemplo, sem permitir que os clientes
chaveiem para as taxas mais lentas. Entretanto, fazendo isso você vai perceber
que o alcance da rede será drasticamente reduzido.

No outro extremo, em situações onde o sinal é ruim devido à distância ou a


fontes diversas de interferência, reduzir voluntariamente a taxa de transmissão
pode tornar a rede mais estável, evitando que os clientes percam tempo
tentando chavear para os modos mais rápidos.

Configuração da taxa de transmissão na configuração do ponto de acesso


Outro problema é que, como citei anteriormente, a taxa de transmissão é
compartilhada entre todos os micros, diferente de uma rede cabeada baseada
em um switch, onde várias transmissões podem ocorrer simultaneamente, cada
uma na velocidade máxima permitida pela rede. Isso ocorre devido ao
compartilhamento da mídia de transmissão (o ar), que é compartilhado por
todas as estações, similar ao que temos em uma rede 10BASE-2 antiga, com
cabos coaxiais.
Nas redes 802.11b e 802.11g estão disponíveis 11 canais de transmissão
(originalmente são 14, mas três deles não podem ser usados devido à questão
da legislação), que englobam as freqüências de 2.412 GHz (canal 1) a 2.462
GHz (canal 11), com intervalos de apenas 5 MHz entre eles.

Como os canais utilizam uma banda total de 22 MHz (em muitas citações, o
valor é arredondado para 20 MHz), as freqüências acabam sendo
compartilhadas, fazendo com que redes operando em canais próximos
interfiram entre si. O canal 6, cuja freqüência nominal é 2.437 GHz, opera na
verdade entre 2.426 e 2.448 GHz, invadindo as freqüências dos canais 2 até o
10. Veja só:

Canal Freqüência nominal Freqüência prática


1 2.412 GHz 2.401 a 2.423 GHz
2 2.417 GHz 2.405 a 2.428 GHz
3 2.422 GHz 2.411 a 2.433 GHz
4 2.427 GHz 2.416 a 2.438 GHz
5 2.432 GHz 2.421 a 2.443 GHz
6 2.437 GHz 2.426 a 2.448 GHz
7 2.442 GHz 2.431 a 2.453 GHz
8 2.447 GHz 2.436 a 2.458 GHz
9 2.452 GHz 2.441 a 2.463 GHz
10 2.457 GHz 2.446 a 2.468 GHz
11 2.462 GHz 2.451 a 2.473 GHz

Como pode ver na tabela, os canais 1, 6 e 11 são os únicos que podem ser
utilizados simultaneamente sem que exista nenhuma interferência considerável
entre as redes (em inglês, os três são chamados de "non-overlapping
channels" ou seja, canais que não se sobrepõem). Ao configurar uma rede com
três pontos de acesso, você obteria (presumindo que não existissem outras
redes próximas) um melhor desempenho configurando cada um deles para
usar um dos três canais, em vez de usar canais próximos, como 3, 5 e 7, por
exemplo.

Em situações onde é necessário usar 4 canais simultaneamente, a melhor


opção é usar os canais 1, 4, 8 e 11. Neste caso você se sujeita a uma certa
dose de interferência, mas ela é muito menor do que ao escolher canais mais
próximos.

Como você deve ter imaginado quando disse "nenhuma interferência


considerável" a dois parágrafos atrás, existe sim uma certa interferência entre
os canais, mesmo ao utilizar os canais 1, 6 e 11. Como você pode ver no
gráfico abaixo (gerado através de analisador de espectro), fornecido pela
Atheros, a potência do sinal cai rapidamente ao sair da faixa de 22 MHz usada,
mas não desaparece completamente, invadindo a faixa dos demais canais. O
gráfico mostra placas com chipsets da Broadcom (a idéia do gráfico da Atheros
parece ser justamente atacar a concorrente), mas teríamos gráficos muito
similares usando placas de outros fabricantes:
Gráfico que mostra o "vazamento" do sinal wireless, que invade os outros
canais do espectro, gerando interferência
Apesar disso, a interferência não é considerável, pois existe uma diferença de
cerca de 30 dB entre a potência do sinal dentro da faixa de freqüência e a
parcela que vaza para as freqüências próximas. Se fosse uma percentagem,
"30" seria uma diferença relativamente pequena, mas como estamos falando
em decibéis, temos na verdade uma proporção de 1 para 1000.

Note que quando falo em "interferir", não significa que as redes param de
funcionar, mas sim que a taxa de transmissão é reduzida. Se temos duas redes
próximas, operando no mesmo canal, ambas com clientes transmitindo
simultaneamente teremos, na melhor das hipóteses, a taxa de transmissão
dividida pela metade (1.7 MB/s ou menos para cada rede), sem contar os
pacotes corrompidos ou perdidos, que precisam ser retransmitidos. Devido a
isso a taxa efetiva de transferência acaba sendo dividida não apenas entre os
clientes da sua própria rede, mas também de redes próximas, o que acaba se
tornando um problema em áreas densamente povoadas.

No Brasil é permitido também o uso dos canais 12 (2.467 GHz) e 13 (2.472


GHz), assim como na maior parte dos países da Europa. Entretanto, a maioria
dos equipamentos que chegam ao nosso mercado operam dentro dos 11
canais permitidos nos EUA, que é, afinal o principal mercado consumidor. Em
alguns casos é possível "destravar" o uso dos canais adicionais através de
uma opção na configuração, ou através de um upgrade de firmware, mas nem
sempre, de forma que acaba sendo mais fácil se conformar em utilizar um dos
11 canais do que ter que se preocupar em usar apenas equipamentos que
permitam o uso dos canais adicionais.

Devido à questão do compartilhamento da banda e da interferência, as redes


wireless acabam sendo mais adequadas para compartilhar a conexão com a
web e outros recursos que envolvam baixo de uso de banda. Não seria a
melhor opção para um grande escritório onde os usuários precisam transferir
grandes quantidades de arquivos, por exemplo. Nesse caso, uma rede mista,
onde a maioria dos clientes utilizam a rede cabeada e apenas quem precisa de
mobilidade utiliza a rede wireless, seria uma melhor opção.
Continuando, a grande maioria das placas wireless 802.11g são também
compatíveis com o padrão 802.11b, o que mantém a compatibilidade com
pontos de acesso do padrão anterior. Apesar de estar caindo em desuso, o
802.11b ainda é usado em muitas instalações, sobretudo em redes para
acesso público.

Muitas placas são compatíveis também com o 802.11a, o que fecha a


compatibilidade com os três padrões. Em alguns casos, os padrões suportados
são indicados de forma bem óbvia, como no caso das placas "Intel
PRO/Wireless 2200BG", que suportam os padrões B e G, mas na maioria dos
casos você precisa recorrer às especificações da placa. As placas que
suportam mais de um padrão são chamadas de placas multimodo.

4. 802.11n
Com o 802.11g, os fabricantes chegaram muito próximos do que é fisicamente
possível transmitir usando um único transmissor e uma faixa de freqüência de
apenas 22 MHz (equivalente a um único canal). Apesar disso, como foi
demonstrado pelo Super G e pelo Afterburner, ainda existiam melhorias a
serem feitas.

Em 2004 o IEEE formou uma força tarefa destinada a desenvolver um novo


padrão 802.11, com o objetivo de oferecer velocidades reais de transmissão
superiores às das redes cabeadas de 100 megabits, além de melhorias com
relação à latência, ao alcance e à confiabilidade de transmissão. Considerando
que uma rede 802.11g transmite pouco mais de 27 megabits de dados reais
(descontando todo o overhead do sistema de transmissão), a meta de chegar
aos 100 megabits parecia bastante ambiciosa.

A solução para o problema foi combinar melhorias nos algoritmos de


transmissão e do uso do MIMO (multiple-input multiple-output). O MIMO
permite que a placa utilize diversos fluxos de transmissão, utilizando vários
conjuntos transmissores, receptores e antenas, transmitindo os dados de forma
paralela.
Existe a possibilidade de criar pontos de acesso e placas 802.11n com dois
emissores e dois receptores (2x2), dois emissores e três receptores (2x3), três
emissores e três receptores (3x3) ou quatro emissores e quatro receptores
(4x4). Os pontos de acesso 2x2 podem utilizar apenas duas antenas, os 2x3 ou
3x3 precisam de três antenas, enquanto os 4x4 precisam de 4 antenas:
Ponto de acesso da Asus e placa 802.11n da Linksys, ambos com três antenas
Inicialmente, o mais comum era o uso das configurações 2x3 e 3x3, com o uso
de três antenas. Entretanto, conforme os preços foram caindo e os fabricantes
se viram obrigados a cortar custos, os pontos de acesso 2x2 (com apenas duas
antenas) passaram a ser mais comuns. Da mesma forma, produtos high-end,
com 4 antenas (4x4) podem vir a se popularizar no futuro, conforme o custo
dos componentes for caindo.

D-Link DIR-615, exemplo de WAP 802.11n de 2x2 de baixo custo, com duas
antenas
Somando todas as melhorias, foi possível aumentar tanto a velocidade de
transmissão quanto o alcance. A velocidade nominal subiu de 54 para 300
megabits (600 megabits nos APs 4x4, capazes de transmitir 4 fluxos
simultâneos) e o uso de múltiplos fluxos de transmissão torna o alcance do
sinal quase duas vezes maior.

Para atingir taxas de transmissão tão altas, o 802.11n combina uma série de
melhorias. A primeira é a redução do guard interval (o intervalo entre as
transmissões) de 800 ns para 400 ns, o que resulta em um ganho de cerca de
11% na taxa de transmissão. A ele se soma o aumento no número de
subcarriers para a transmissão de dados de 48 para 52.

Os subcarriers são faixas de transmissão com 312.5 kHz cada, que


combinadas resultam na banda total usada pela rede. Nas redes 802.11g, 4
dos 52 subcarriers são usados para transmitir informações sobre a modulação
do sinal, deixando apenas 48 para a transmissão dos dados. No 802.11n foi
possível realocar estes 4 subcarriers para a transmissão de dados, resultando
em um ganho proporcional na taxa de transmissão.

Somando os dois com uma melhoria no algoritmo de transmissão de erros, foi


possível chegar a uma taxa de transmissão de 72.2 megabits por transmissor
(usando um único canal).

Se as melhorias parassem por aí, o 802.11n ofereceria um ganho de apenas


33% sobre o 802.11g, o que ofereceria poucos ganhos na prática. Daí em
diante, os ganhos se baseiam no uso de "força bruta", combinando o uso de
vários rádios e de dois canais simultâneos. É aí que entra o MIMO.
Graças ao uso do MIMO, os pontos de acesso 802.11n podem utilizar dois ou
quatro fluxos simultâneos, o que dobra ou quadruplica a taxa de transmissão,
atingindo respectivamente 144.4 e 288.8 megabits.

A princípio, o uso de diversos transmissores, transmitindo simultaneamente na


mesma faixa de freqüência parece contra produtivo, já que geraria interferência
(como ao ter várias redes operando no mesmo espaço físico), fazendo com
que os sinais se cancelassem mutuamente. O MIMO trouxe uma resposta
criativa para o problema, tirando proveito da reflexão do sinal.

A idéia é que, por serem transmitidos por antenas diferentes, os sinais fazem
percursos diferentes até o receptor, ricocheteando em paredes e outros
obstáculos, o que faz com que não cheguem exatamente ao mesmo tempo. O
ponto de acesso e o cliente utilizam um conjunto de algoritmos sofisticados
para calcular a reflexão do sinal e, assim, tirar proveito do que originalmente
era um obstáculo:

Reflexão dos sinais no MIMO


Este recurso é chamado de Spatial Multiplexing. Você pode imaginar que o
sistema funciona de forma similar ao que teríamos utilizando três (ou quatro)
antenas direcionais apontadas diretamente para o mesmo número de antenas
instaladas no cliente. A "mágica" do MIMO é permitir que um resultado similar
seja obtido mesmo utilizando antenas ominidirecionais, que irradiam o sinal em
todas as direções.

Naturalmente, o sistema torna necessário o uso de uma boa dose de poder de


processamento, o que demanda o uso de controladores mais complexos nos
dispositivos, o que além de aumentar o custo, também aumenta o consumo
elétrico (um problema no caso dos portáteis).

Pontos de acesso capazes de transmitir 4 fluxos simultâneos são muito raros,


já que eles precisam de 4 emissores, 4 receptores e 4 antenas, além de um
processador de sinais extremamente poderoso para lidar com o grande volume
de possibilidades de reflexão. A complexidade do trabalho cresce
exponencialmente conforme aumenta o número de fluxos simultâneos, de
forma que usar 4 fluxos demanda 4 vezes mais processamento do que apenas
dois.

As soluções atuais (início de 2008) utilizam apenas dois fluxos simultâneos, o


que simplifica muito o projeto. Mesmo no caso dos pontos de acesso 2x3 ou
3x3, os transmissores extra são usados para melhorar a diversidade,
permitindo que o ponto de acesso transmita ou receba usando as duas antenas
que ofereçam o melhor sinal em relação a cada cliente.

Para conseguir atingir 288.8 megabits utilizando apenas dois fluxos, é utilizado
o sistema HT40, onde são utilizados dois canais simultaneamente (assim como
no Super G da Atheros), ocupando uma faixa de freqüência de 40 MHz.
Somando tudo isso a um pequeno arredondamento, chegamos aos 300
megabits divulgados pelos fabricantes. Um ponto de acesso que combine o uso
do HT40 com 4 rádios dobraria a taxa teórica, chegando a 600 megabits.

Devido a normas regulatórias, o uso de uma faixa de 40 MHz não é permitida


em muitos países, como no caso da França, onde é permitido apenas o uso
dos canais 10, 11, 12 e 13 (o que resulta em uma faixa de freqüência de
apenas 20 MHz) por isso existe a opção de usar o sistema HT20, onde o ponto
de acesso se limita a usar uma faixa mais estreita, de apenas 20 MHz. A opção
fica disponível dentro das configurações do ponto de acesso, como neste
screenshot da configuração de um AP Belkin N1:

Este gráfico da Intel mostra uma projeção da taxa de transferência bruta


usando diferentes combinações, de acordo com a qualidade do sinal. Veja que
um ponto de acesso que utilize dois fluxos simultâneos, usando o sistema
HT40, oferece, na prática, um throroughput superior ao de um com que utilize 4
fluxos, mas utilize o HT20:
Na prática, depois de descontado todo o overhead, os melhores pontos de
acesso 802.11n conseguem transmitir em torno de 85 megabits usando a faixa
dos 2.5 GHz com o HT40, o que chega bem perto do oferecido por uma rede
cabeada de 100 megabits. Para efeito de comparação, a taxa de transferência
real no 802.11g é de cerca de 27 megabits.

O grande problema é que uma faixa de 40 MHz corresponde a quase toda a


faixa de freqüência usada pelas redes 802.11g, o que acentua o já crônico
problema de interferência entre redes próximas. Prevendo isso, o padrão
802.11n prevê também o uso da faixa dos 5 GHz, que pode ser usada para
reduzir o problema.

Entretanto, nem todos os produtos oferecem suporte à faixa dos 5 GHz, já que
incluir suporte a ela encarece um pouco os produtos. Em geral, os produtos
oferecem suporte à faixa dos 2.4 GHz, ou oferecem suporte simultâneo aos 2.4
e 5 GHz (produtos que oferecem suporte apenas aos 5 GHz são muito raros).
Existem também pontos de acesso "dual-band", que utilizam as duas faixas de
freqüência simultaneamente (usando automaticamente o que for suportado por
cada cliente) de forma a minimizar o problema de interferência.

Outra observação importante é que o padrão 802.11n ainda está em


desenvolvimento e a previsão é que seja finalizado apenas em 2009. Os
produtos que existem atualmente no mercado são chamados de "draft-n", pois
são na verdade baseados em rascunhos do padrão.

Os primeiros produtos, lançados durante a primeira metade de 2006, eram


ainda baseados no primeiro rascunho do padrão (draft 1.0). Eles ofereciam
taxas de transferência muito abaixo do esperado e muitos problemas de
compatibilidade. No início de 2007 foi finalizado o segundo rascunho (draft 2.0)
do padrão, o que permitiu o desenvolvimento de produtos mais adequados e,
em novembro de 2007 foi finalizado o terceiro rascunho (draft 3.0), que
solucionou problemas adicionais.

Com isso criou-se um certo consenso de que não devem ser incluídas
mudanças radicais até a finalização do padrão, o que tem levado todos os
principais fabricantes a lançarem produtos draft-n, incluindo a Intel, que adotou
o 802.11n na plataforma Santa Rosa, usada nos notebooks com o selo Intel
Centrino.

Embora sejam um pouco mais caros de se produzir, os produtos 802.11n


tendem a cair rapidamente de preço e substituírem tanto os 802.11g quanto os
802.11a, já que oferecem vantagens em relação a ambos. O ganho de
velocidade pode variar de acordo com o produto e com o fabricante, mas (com
exceção de alguns produtos baseados no draft 1.0) sempre existem um ganho
expressivo em relação a uma rede 802.11g.

Com exceção dos poucos pontos de acesso 802.11n que são capazes de
operar apenas na faixa dos 5 GHz, a compatibilidade com os clientes 802.11g
e 802.11b é mantida, de forma que é possível fazer a migração de forma
gradual. A principal observação nesse caso é que combinar clientes 802.11n
com clientes 802.11g ou 802.11b reduz o desempenho da rede, embora o
percentual varie bastante de acordo com o modelo usado.

Se você está atualizando sua rede, uma boa opção pode ser manter o ponto de
acesso 802.11g atual e apenas adicionar o 802.11n, ficando com dois APs.
Nesse caso, configure os dois pontos de acesso com SSIDs diferentes (de
forma que o cliente possa realmente escolher qual utilizar na hora de de
conectar à rede), com ambos ligados diretamente ao switch da rede.
Mantenha-os a uma certa distância (se possível em cômodos diferentes) para
minimizar a interação entre eles (e, consequentemente, a perda de
desempenho em ambas as redes) e não se esqueça de usar canais diferentes
na configuração de ambos.

Se possível, configure o ponto de acesso 802.11n para utilizar a faixa dos 5


GHz, já que além de mais limpa, ela não interfere com os 2.4 GHz usados pelo
AP 802.11g. Caso isso não seja possível (se o AP ou alguns dos clientes
802.11n forem limitados à faixa dos 2.4 GHz) então prefira utilizar o modo
HT20, que apesar de oferecer uma taxa de transferência mais baixa, interferirá
menos com o AP 802.11g.

Caso você esteja utilizando pontos de acesso com funções de roteador, não se
esqueça de desativar o servidor DHCP de um deles, caso contrário eles
passarão a oferecer os mesmos endereços aos clientes, criando conflitos.

Com essa configuração, você terá essencialmente duas redes distintas,


permitindo que os clientes 802.11n e 802.11g disponham de toda a velocidade
de suas respectivas redes, sem perdas. Os dois APs podem então conviver até
que o último cliente 802.11g seja substituído.

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