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Segunda Aula Virtual - Introdução à Sociologia

Com base nas últimas aulas presenciais e nos textos indicados dos três autores
clássicos da Sociologia, Marx, Durkheim e Weber, responda às seguintes questões:

1) Com base nas reflexões de Marx sobre a “mercadoria”, explique: por que, dentre
as mercadorias existentes na produção capitalista, a mais importante é a força de
trabalho que o trabalhador vende ao dono dos meios de produção em troca de
salário?

2) Na busca de se reconhecer a especificidade do racionalismo ocidental e sua


origem, Weber considera importante a análise das condições econômicas do
capitalismo para a sua emergência e consolidação, mas se volta para o
entendimento da disposição religiosa das pessoas em adotar certos tipos de
conduta nos primórdios da Modernidade. Qual é a “chave explicativa” que Weber
propõe para esse fenômeno?

3) A partir das considerações de Durkheim sobre a solidariedade social e os fatos


sociais como objeto de estudo da Sociologia, identifique as partes dos dois artigos
abaixo que se articulam mais fortemente a elas.

EDUCAÇÃO DE LUTO - 07/04/2011

http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=4874

Doente, ignorado, só
Especialistas da Psicologia analisam os perfis que levam pessoas com distúrbios a cometerem atos de
violência

José Negreiros e Leonardo Echeverria - Da Secretaria de Comunicação da UnB

Morreu com Wellington Menezes de Oliveira a possibilidade de diagnóstico sobre sua saúde mental.
Restou uma pista, a carta sem nexo do atirador de Realengo. E meia dúzia de hipóteses. A mais
provável é que, vítima de distúrbio, tenha usado a escola como cenário de resgate de algo de sua
identidade, por meio de um “ato heróico”.

Ele pode ter sido vítima de bullying (violência gratuita e sistemática entre estudantes), por exemplo, e
foi ali se vingar – o que não parece provável por se tratar de crime premeditado, muito bem planejado.
“Ele aprendeu a atirar, comprou munição, foi razoável ao falar com a professora, o porteiro”, diz a
psicanalista Maria Ida Fontenelle, que trabalhou na Clínica do Departamento de Psicologia da
Universidade de Brasília.

A história tem vários componentes de violência impessoal, pública, não direcionada a uma pessoa ou
grupos. Segundo o professor Francisco Martins, do Instituto de Psicologia, esses casos em geral

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acontecem com quem está em profundo isolamento. "A pessoa não tem com quem compartilhar seus
sentimentos, dividir suas angústias. Acaba perdendo a paciência consigo mesma. Quando isso
acontece, ela estoura", afirma.

Especialistas ouvidos pela UnB Agência aconselham uma pesquisa sobre o histórico do
comportamento de Wellington: fez tratamento, tinha precedente violento, envolveu-se em alguma
atividade criminosa? É isso que pode ajudar a descobrir se se tratava de um paranóico (com mania de
perseguição), psicótico (fora da realidade) ou psicopata (sem culpa, sentimentos, filtros morais etc).
Aparentemente, matar 12 crianças e jovens nas circunstâncias conhecidas é caso de sociopatia.

"Nas grandes cidades, é mais fácil ficar só. Se aumenta a coesão social, o risco pode diminuir", diz o
professor Martins sobre aquele tipo de doença mental. A presença de uma pessoa próxima pode
"desligar a fervura" numa situação como a do assassino da escola do Rio, explica. A carta deixada por
Wellington reforça esse ponto.

Também existe um componente narcisístico. Em casos assim, a pessoa tem raiva porque supõe que
não tem tudo o que merece. O ato de violência é uma maneira de ser ouvido e uma ação programada
com tempo. "Existe um cálculo. O ato é montado durante semanas, meses. Vai-se atrás de
referências", completa o professor da Psicologia da UnB. “Não é um filme ou um caso anterior que
motiva o crime. A ideia é da própria pessoa”. Concorda a psicanalista Maria Ida: “Não acredito em
cópia do que acontece, às vezes, nos Estados Unidos. A carta tem cunho místico, religioso, fala em
puro e impuro, virgindade, não tocar no corpo. Mistura muita coisa”.

Insondável, cruel mesmo, é um rapaz passar anos dando demonstrações de que estava doente a
verdadeiros especialistas em seres humanos, como são educadores, psicólogos, gestores em
educação, e devem ser pais, amigos, colegas e vizinhos, sem jamais ter sido percebido.

UnB Agência

ARTIGO - 08/04/2011
HTTP://WWW.UNB.BR/NOTICIAS/UNBAGENCIA/ARTIGO.PHP?ID=384

Nota do Gipsi sobre a tragédia do Realengo


Ileno Izídio da Costa

Absolutamente consternados com evento tão violento e chocante, assim como toda a população
brasileira, o GIPSI vem a público, na qualidade de estudantes, professores, pesquisadores e
profissionais, especialistas na área (sofrimento psíquico grave) - considerando estar sendo demandado
para se posicionar -, socializar sua primeira leitura de episódio tão trágico como forma de contribuir
para uma compreensão mínima possível e a necessária discussão acadêmica, profissional e social
sobre o ocorrido.

De pronto enfatizamos a complexidade do episódio, descabendo qualquer explicação de ordem


meramente linear e/ou causalista. Fenômenos como este são multicausais e autopoiéticos, ou seja,
implicam causas e dimensões diversas, que se interpenetram e se retroalimentam. Desta feita,
qualquer atribuição de causalidade, no formato de culpabilizações ou responsabilizações únicas, não

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contribuem para se ter uma leitura mais complexa e ética possível da realidade. Assim,
psicologizações, psicopatologizações, psiquiatrições, criminalizações ou julgamentos morais
apressados e baseados em dados minimalistas não darão conta da compreensão complexa do fato
nem nos ajudarão a aprofundar o necessário debate do fenômeno.

Deixando em suspenso o inevitável e forte apelo emocional e afetivo - porém sem desconsiderá-lo, por
certo -, cremos ser necessário ter alguns cuidados com nossas opiniões, julgamentos e propostas de
compreensão e ação conseqüentes.

Para além do aspecto midiático - que até entendemos ser legítimo e necessário para que possamos
fazer tantos lutos ao mesmo tempo e para tentarmos canalizar nossa dores (pessoais, familiares e
sociais) implicadas - temos que apontar algumas questões cruciais para o cuidado possível de
abordagem.

Na dimensão individual, posto que todos estejam à procura de uma explicação individualizada,
repudiamos todo e qualquer processo diagnóstico de uma pessoa que não tivemos acesso de forma
longitudinal e que agora apenas avaliamos com base em dados minimalistas, muitos dos quais
possivelmente imprecisos, enviesados, subjetivados e alvo fácil de generalizações e afirmações
narcisistas e projetivas desnecessárias. Neste sentido, não reputamos o rapaz autor do fato como
esquizofrênico, psicopata, “mass murderer”, assassino, fascínora, psicótico etc, posto que a posteriori
não se pode mais fazer tais ilações. Socialmente cabe denunciar esta fácil psicopatologização e
psiquiatrização de um evento que vai além de uma “suposta doença mental, psicose, loucura ou
transtorno mental”. Até para que não caiamos na postura, também fácil e muitas vezes desejada por
muitos, de não olharmos nossa contribuição social no evento, de tudo atribuirmos,
preconceituosamente, à “doença mental” e isto signifique a adoção de posturas, procedimentos e até
mesmo políticas sociais discriminatórias, excludentes e repressivas.

As dores envolvidas são muitas, em especial nas perdas de pais, crianças e adolescentes de forma tão
trágica e inesperada, e sem desconsiderá-las (pelo contrário, nos solidarizando com elas), gostaríamos
de enfatizar, como nos cabe como especialistas da área, o sofrimento que o rapaz (um ser humano,
produto legítimo nosso, no sentido de ter sido construído em nossas relações humanas e sociais de
nosso meio, de nossa cultura) vivenciou em seu também curto período de existência. “Filho adotivo”,
“mãe esquizofrênica”, “adolescente rejeitado” (eventuais bullyings no formato das gozações, das
rejeições de modo de ser diferente, taxado de “gay”, rejeitado e ridicularizado por meninas e meninos
etc), “esquizotípico”, ensimesmado, solitário, religioso evangélico, sexualmente virgem e sem rede de
amigos e apoio afetivo-social: estes qualificativos - e não diagnósticos - são apenas indicadores de um
sofrimento. Psicótico? Não necessariamente... O máximo que podemos afirmar neste momento,
cremos, é que estava construindo seu mundo próprio, com os sofrimentos inerentes (pessoais, sexuais,
familiares, sociais) e para tanto seu sofrimento estava sendo estruturado de forma grave... Não
sabemos, em especial a posteriori, se do tipo psicótico.

Quantos de nós, “outros” (“normais”, “engajados”, “estudiosos”, “sãos” etc), não estamos assim
fazendo? Quantos de nós, em nossa sociedade, assim não está, desamparado, à mercê de sua própria
sorte ou da sorte construída socialmente? Vários, diversos... Assim, rejeitamos formalmente os

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diagnósticos fáceis de esquizofrenia e psicopatia, em especial a irresponsabilidade de ditos
especialistas que, com veemência, contribuem para o obscurecimento da complexidade envolvida e
lançam na sociedade preconceitos e visões ultrapassadas e estereotipadas de um sofrimento
essencialmente humano... Este rapaz não foi construído por uma doença, mas por uma existência de
sofrimentos que a estavam estruturando...

As dimensões familiares, sexuais, relacionais, sociais e, por conseqüência, de isolamento (morava


sozinho, com seu gato e seu cachorro, por exemplo), autoreflexão com conclusões próprias, fechadas
em si próprias, incluindo as religiosas, o estavam conduzindo a um mundo próprio, particular, o único
possível para dar conta de tantos sofrimentos... Construção delirante? Pode até ser, mas plenamente
calcado na realidade e derivado dela, até porque suas ações demonstraram pleno contato com ela...
Desta feita, não vamos apenas “individualizar a sua doença”...

Assim, entendemos que os sistemas familiar (o dos pais biológicos e da mãe adotiva), escolar,
religioso, relacional e, enfim, social não deram conta de dar continência ao sofrimento construído nos
seus 23 anos de idade... Sem culpabilizações de quaisquer ordens, todos estes sistemas não
estiveram - e muitos não estão - de detectar, dar a atenção devida ou fazer a abordagem possível de
um processo em construção. Neste sentido, cabe apontar deficiências dos sistemas envolvidos, sem,
no entanto, responsabilizá-los individual, causal e linearmente, como alertamos no início de nossa nota.

A rigor e ao cabo, a família, a escola, a religião, os professores, os profissionais, o estado não estão
preparados para perceber e lidar com a detecção precoce de tais sinais, que na nossa abordagem
chamamos de pródromos... Mas isto não se resolve meramente criticando, rotulando ou afirmando
verdades absolutas de qualquer sorte... É preciso pensar, no nível da saúde mental de nossa
população, em termos de política global, por exemplo, em promoção de saúde, intervenções precoces,
capacitações e efetivamente um aumento de mecanismos e dispositivos de acolhimento e escutas de
tantas dores e tantos sofrimentos, muitas vezes desconsiderados, rejeitados ou mesmo ignorados,
como cremos, ocorreu no caso deste rapaz...

Neste sentido é que nosso grupo tem trabalhado, pesquisado (financiamento do CNPq) e há 9 anos
vem construindo uma possibilidade de abordagem possível de eventos prévios a fatos como este
(crises psíquica graves) e, neste particular, que o Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos
(CAEP) e a atual Direção do Instituto de Psicologia está investida na construção de um Centro de
Serviços Psicológicos cada vez mais inclusivo de nossa comunidade interna (UnB), DF e entorno,
incluindo a instalação de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), docente-assistencial, dentro da
política pública do Ministério da Saúde de Reforma Psiquiátrica, no novo prédio do CAEP, com o apoio
da atual administração do Instituto de Psicologia e central da UnB.

Solidarizamo-nos com os pais e as vítimas, incluindo os do próprio agente principal de tamanha


tragédia. Que o fato, absolutamente doloroso para todos nós, sirva de exemplo para que tenhamos
discussões e tomemos ações complexas e conseqüentes, abrindo mão de explicações e soluções
fáceis e meramente paliativas...

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Informamos que estaremos organizando, o mais rápido que pudermos, um debate com especialistas na
área (Psicologia, Antropologia, Direito, entre outros) para contribuirmos com o debate acadêmico,
profissional e luto social em nossa comunidade.

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