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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE HUMANIDADES
CURSO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA (SÉCULO XX)
PROF. DR. ANTONIO DE RUGGIERO
GABRIELLA KNEVITZ
15/04/2021

PROVA 1 (História Contemporânea: Sec. XX – 1-2021)

1) Analise a grande questão do imperialismo que, de 1870 até a


eclosão da Primeira Guerra Mundial, marcou a história do Ocidente.
Refletir sobre as molas propulsoras e as principais interpretações do
fenômeno.
2) Quais as ideias principais de Joseph Nye, relativamente às causas da
Primeira Guerra Mundial?
3) Reflita a respeito da decisão dos Estados Unidos de ingressar na
Primeira Guerra Mundial, e sobre o seu papel no Tratado de Versalhes.
1)
O imperialismo foi o contexto que antecedeu a Grande Guerra e
dentro disso, envolveu diferentes acontecimentos que caracterizaram o
âmbito violento que deu início ao conflito mundial. O primeiro quadro que
se desenvolveu foi a corrida imperialista. O imperialismo, iniciado em
1870, era relativo à conquista de regiões por meio da intervenção direta
de governos do Ocidente sobre muitas terras emersas. Foram as potências
europeias que iniciaram, as primeiras seriam França e Inglaterra, mas logo
a Alemanha, a Itália, a Rússia e a Bélgica tentam enriquecer também por
meio do neocolonialismo, outrossim, as razões são econômicas, políticas,
sociais e ideológicas. No campo da economia se deu a busca por mercado
e matéria-prima para desenvolver a indústria crescente; dentro das
questões políticas, que envolve a busca por poder, há por exemplo a
busca por crescimento do país ou por uma hegemonia internacional, que
acarretou, por exemplo; na questão social, podemos entender que o
imperialismo significou o encobrimento de problemas internos, sendo
uma forma de mostrar a população interna que a conquista de outros
territórios era essencial para o crescimento do país e para a melhoria de
condições internas; as razões ideológicas estão ligadas às ideias
nacionalistas agressivas, ao darwinismo social, ao racismo, à exclusão
social e ao antissemitismo francês do fim do século XX.
A Alemanha é um ponto interessante de se analisar, pois em 1870 ela
se torna uma grande potência europeia, com um crescimento abundante
da indústria, o que certamente preocupou a Inglaterra, e com sede de
novas conquistas e riquezas. A Alemanha teve, de 1870 a 1890, como
chanceler Otto Von Bismarck, que foi um homem que manteve por muitos
anos o equilíbrio europeu, com o objetivo de proteger a Alsácia-Lorena da
França, que ainda não aceitava ter perdido o território para a Alemanha e
de evitar maiores conflitos. Bismarck foi uma peça importante para
manter a paz (mesmo que temporária), tal que fez por meios diplomáticos
na Europa, e a prova disso é que seu sucessor Leo Von Caprivi, que tinha
uma postura bem mais agressiva, acaba definindo os próximos anos,
defendendo uma política de expansionismo e guerra. Outra questão
importante foi a Questão Oriental, que iniciou em 1875, mas mudou os
rumos da história em 1914. Ocorre que a Rússia se posiciona contra a
Autria-Hungria, pois essa apoiava a Sérvia em seu movimento de pan-
eslavismo, que buscava a unidade territorial, com a devolução da Bósnia e
Herzegovina. Com a assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando,
herdeiro do trono austro-húngaro, a Áustria-Hungria declara guerra a
Servia, assim, a Rússia declara guerra a Áustria-Hungria, a Alemanha entra
no conflito em favor da Áustria e a França e a Inglaterra entram ajudando
a Rússia. Assim, começa o grande conflito mundial.
Em relação às interpretações do imperialismo pode haver diversas,
mas destaco aqui três estudadas. Eduard Berbstein defendeu que o
intercâmbio entre os países ricos seria mais importante do que a expansão
relativa à conquista de mercados. O intelectual acredita que as disputas
coloniais desapareceriam fossem direcionadas as atenções para as
relações econômicas, a disputa colonial desapareceria. Já Lenin entende
que o imperialismo é o capitalismo que parte de ações que buscam poder
e o alto desenvolvimento econômico. Já Joseph Schumpeter via o
neocolonialismo como resíduo feudal, e que ele nada tinha a ver com a
indústria moderna, que poderia desaparecer com a consolidação da
democracia. Acho válido comentar sobre o ponto de vista de Schumpeter.
Hoje, é possível perceber que a Alemanha, assim como outros países, se
promoveu em cima da sua indústria, o que a capacitou para desafiar
outras potências. Outra questão, no meu ponto de vista, seria impossível
falar em democracia em meio ao contexto imperialista, já que estamos
falando de uma mentalidade que busca a supremacia nacional sobre
outras. Por isso, a mentalidade de competição supremacista, que estava
gerando ações violentas, e que tinha como justificativa da neocolonização,
o darwinismo social, não poderia dar sequência a ações e pensamentos
democráticos. Portanto, o imperialismo pode ter resquícios feudais,
contudo, a visão de Schumpeter em relação ao desaparecimento do
imperialismo, com o início de uma democracia, me parece no mínimo
utópica.
2)
O que podemos compreender a partir do texto de Joseph Nye
sobre as causas da primeira guerra mundial é que ela ocorre
principalmente em torno de um grande contexto histórico. Tal
quadro começa em 1870, e dentro disso há uma sequência de
acontecimentos que se desenvolvem até 1914, dando origem às
causas do conflito. De fato, é impossível desenvolver aqui todos os
pontos que envolvem as causas da Grande Guerra, por isso,
desenvolverei sobre as principais causas que deram base a ela.
O autor explica que de 1815 a 1870 há um equilíbrio de poder
multipolar, na qual um conjunto de países respeitam regras em
comum e que, assim, conseguem chegar a acordos entre si quando
tem interesses comuns. A Alemanha nesse quadro é
importantíssima, e também delineou os rumos para a guerra, pois o
chanceler Otto Von Bismarck orientou a Alemanha a evitar que a
França se empenhasse em maiores conflitos, limitando, por
exemplo, capacidade de armamento alemão, enquanto a o
contexto era de corrida armamentista, de grande crescimento
industrial e tecnológico na região. O que, a meu ver, foi um
posicionamento muito inteligente e calculista.
Os acontecimentos que quebram o equilíbrio, ocorrido entre
1890 e 1914, é a queda do Império Otomano, que tinha poder
sobre territórios pelos quais a Rússia e a Áustria-Hungria tinham
interesse; outra questão é o interesse por territórios africanos, por
parte de outros países, como a Alemanha, gerando uma série de
desentendimentos e conflitos entre países. Também, o sucessor de
Bismarck, Leo Von Caprivi, teve uma postura política mais agressiva
juntamente com o novo governo Kaiser, com vontade de buscar
maior poder e supremacia, e ser uma nova potência. A Alemanha
se torna, então, imperialista, busca territórios no continente
Africano, não renova o pacto com a Rússia, França e com a
Inglaterra e se desentende com a França e com a Inglaterra. A
Inglaterra e a França, então, se aliam uma à outra, contra o
crescimento e avanço alemão.
Nesse contexto, dado a falta de flexibilidade política e a política de
alianças, se dá um clima instável na Europa e a bipolaridade se
torna uma tendência na época. Diante disso, podemos perceber
que o assassinato de Francisco Ferdinando é uma das motivações,
realmente se trata de um estopim, pois é o que dá início a uma
política de alianças mais rígida e à uma violência generalizada, que
na verdade já estava prestes a acontecer por conta da série de
desentendimentos que aconteciam até o momento.
3)
No início da guerra, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow
Wilson, se colocou em uma posição de neutralidade. De fato, Wilson era
um idealista e via o Estados Unidos como guia para a paz e a democracia,
e chegou a fazer negociações para o fim do conflito sem vencedores.
Contudo, acho importante ressaltar, apesar de os EUA não ter uma
participação direta na guerra, o país lucrava muito com ela, pois era feita a
venda de alimentos para os exércitos europeus, acabando por corroborar
com o sustento do conflito.
Os EUA crescia fortemente econômica e politicamente em âmbito
mundial, e a intenção, do presidente e do povo é que se continuasse a
apostar no crescimento e não em uma guerra europeia. Até que um navio
inglês, Lusitania, na qual estavam a bordo muitos americanos, foi atingido
pelos alemães, em 1915. A ação dos alemães provocou uma paranoia, e o
partido republicano dos Estado Unidos passou a criticar a política de
neutralidade do presidente democrata, mas o povo continuou a apoiar a
política de neutralidade, pois acreditava que o país estava crescendo até
aquele momento e a guerra poderia trazer malefícios econômicos e
individuais. Wilson decidiu então pedir para que os alemães não
atacassem mais os navios americanos, mas a resposta a isso foi que eles
afundariam qualquer navio que navegasse pela zona de guerra. Então, em
1917, Wilson confirmou a entrada do país na guerra, ademais, ele teve de
investir fortemente em propaganda de massa para convencer a população
de que entrar na guerra era necessário, de que era um sacrifício que
fariam para fazer a paz regressar ao mundo. Outrossim, os Estados Unidos
estavam em condições muito favoráveis para lutar, pois estava forte
economicamente, tinham uma produção forte de alimentos e armas,
apesar de não ter tantos soldados quanto os alemães, mas, de fato, a
entrada dos americanos foi decisória, e deu fim à guerra.
Neste parágrafo ressalto principalmente a questão da Alemanha
como culpada e as medidas que foram tomadas contra ela, pois, acredito
que esse é um ponto crucial para entender o cenário que transcorre após
a o conflito. Em 1918, dentre os 14 pontos de Wilson, os mais importantes
eram: a necessidade de haver mais transparência na opinião pública, a
liberdade de navegação pelos mares, a redução mundial dos armamentos.
Todavia, o mais importante foi a ideia de criar a Liga das Nações, esta
última, estava ligada a tentativa de evitar futuros conflitos. Nos diálogos
sobre a paz estavam presentes D. Lloyd George, do Reino Unido, G.
Clemenceau, da França, V. E. Orlando, da Itália e W. Wilson. De fato,
houve discordância entre eles. Wilson não considerava os nacionalismos
crescentes e o isolacionismo dos americanos pois, pensando na
construção da Liga das Nações, queria colocar o EUA como promotor da
paz geral. Clemenceu era o mais pragmático, e pedia a alta punição à
Alemanha, buscando desarmá-la para acabar com o seu potencial de
agressividade. Já Lloyd George queria incentivar o livre comercio mundial
e não buscava enfraquecer a Alemanha. Com o Tratado de Versalhes, a
Alemanha saiu como a principal culpada e causadora do primeiro conflito
mundial, tal que fica muito claro no Artigo 231 do tratado. As cláusulas
que prejudicaram muito a Alemanha foram as financeiras, dentro delas
estavam, por exemplo, o pagamento totalizado em 132 bilhões de
Marcos-ouro; essa, com certeza, acabou com as chances de a Alemanha se
reerguer de alguma maneira. Nas cláusulas militares estava o
desarmamento da Alemanha; nas territoriais, a devolução da Alsácia-
Lorena à França, juntamente com o território de Saar.

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