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COMANDO GERAL DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

RESENHA CRÍTICA

TÍTULO: A GUERRA DA CONFERÊNCIA PARA GERAR A PAZ DE VERSALLES

SO-FN-CT 87.2382.33 ROSINALDO ARAUJO LIMA

1. Referências bibliográfica.

Nicolson, Harold. O Tratado de Versalhes, A paz depois da Primeira Guerra Mundial. 1.


Ed – São Paulo: Globo livros, 2014.

2. Credencial do Autor.

Sir Harold Nicolson nasceu em Teerã, em 1886, filho de Sir Arthur Nicolson, Barão de
Carnock. Formou-se no Balliol College, Oxford, e entrou para o Serviço Diplomático logo após
sua graduação. Serviu em vários postos e, ao término da Conferência de Paz em 1919, era
Primeiro-Secretário. Em 1927 foi designado para servir em Berlim e, em 1929, pediu demissão
para dedicar-se à política, ao jornalismo e a escrever. Era casado com a escritora Vita Sackville-
West. De 1933 a 1945 foi Membro do Parlamento e, durante a Segunda Guerra Mundial, serviu
na direção da BBC. Entre seus trabalhos publicados estão: O Congresso de Viena (1946), O Rei
George V (1953), A Evolução do Método Diplomático (1954) e Diplomacia (1950).

3. Conhecimento - Resumo da obra.

O Tratado de Versalhes – A Paz Depois da Primeira Guerra Mundial – é uma obra


constituída de dois livros: o livro I – Memórias da Paz de Versalhes, diluídas em oito capítulos
e Livro II – Diário da Conferência de Paris, formado de datas e conteúdos importantes do diário
do autor.

Começando no livro I, o primeiro capítulo denominado “Armistício”, o autor apresenta,


nos bastidores confusos envolvidos na elaboração do Tratado logo após o cessar fogo da
Primeira Guerra Mundial, certas circunstâncias inesperadas, como, por exemplo, o despreparo
dos representantes das democracias para lidar com o repentino tempo de paz e estarem prontos
para a produção dos termos do tratado. Assim, para o autor que viveu tais momentos, esses
fatores foram marcantes a ponto de fazê-lo destacar o serviço diplomático como o mais versátil
dentre as outras áreas da atividade humana. Dessa maneira, o autor demonstra a importância
desses fatores que não fazem parte do concreto e conhecido em relação ao Tratado, mas aqueles
talvez jamais pensados quando expressa o seguinte:

“Creio que li a maioria dos muitos livros que, desde 1919, foram publicados sobre a
Conferência de Paz, alguns deles admiráveis, outros pelo contrário. Todavia, de todos
extraí a impressão de que faltava algo essencial e estou convencido de que esta
omissão crucial é a do elemento de confusão. É esse ingrediente – e somente este –
que pretendi deixar bem patente neste volume” (O Tratado de Versalhes – A Paz
Depois da Primeira Guerra Mundial, pág. 22).
Essa confusão, que é o tema principal de seu volume, apresenta variáveis interessantes:
a dúvida se a correspondência entre Washington, Berlim e as capitais das Potências Associadas
constituiu um contrato de sentido legal do termo; a “interpretação” dos Quatorze Pontos, os
Quatro Princípios e os Cinco Detalhamentos que eram os fundamentos do eventual Tratado de
Paz do Presidente Wilson, feito pelo Coronel House – que era o representante dos Estados
Unidos no Conselho de Guerra em Versalhes – e que as potências inimigas não tiveram
conhecimento dessa interpretação. O autor trás esse cenário obscuro, no momento desse pré-
armistício, percebida na declaração abaixo:

“De qualquer modo, nós, a equipe técnica, os servidores civis, não tivemos
conhecimento da ‘Interpretação’ do coronel House. [...] A finalidade deste livro é dar
uma indicação, alguma tênue pista das razões daquela traição, ou melhor, da atmosfera
daquela traição.” (O Tratado de Versalhes – A Paz Depois da Primeira Guerra
Mundial, pág. 26).

No capítulo 2, seguindo esse conjunto de varáveis no pré-armistício, segue-se um novo


tema: o atraso. Nessa parte, o autor apresenta o seu estado de espírito quando na preparação de
partir para a França; a sua atenção voltada à doutrina política de Woodrow Wilson; o resumo
dos Quatorze Pontos, os Cinco Princípios e os Quatro Detalhamentos do Presidente Wilson; e
o argumentos histórico, ético e prático responsáveis pelo atraso de nove semanas para a
assinatura do Armistício.

No capítulo 3, intitulado de “Infelicidades”, o autor apresenta algumas desvantagens


que se desenrolaram na conferência que poderiam ou não serem evitadas, como a opinião
democrática dos Estados Unidos e da Inglaterra – esta incendiada por seus jornais; os
plenipotenciários que eram personagens políticos; o desgaste mental que era produzido pela
luta argumentativa; o trauma causado pela presença do Presidente Wilson na Conferência; e,
por último, a escolha errônea de Paris para sediar o Tratado.

No capítulo 4, com o título de “Erros”, apresenta-se a inexistência de uma prévia


concordância dos objetivos em vista e um programa definido e inflexível à Conferência; marca
os 14 pontos do Presidente Wilson como essa possível prévia, mas sem sucesso pelos vários
argumentos duvidosos dos estadistas e, como causa dessa inexistência, o descanso dos
estadistas no Artigo XIX das Ligas das Nações.

No capítulo 5 – intitulado com “Desorganização” – o autor critica a não existência de


um programa rígido para o desenrolar da conferência e que foi, também, a causa para a
inatividade de vários membros competentes da delegação nos períodos iniciais da conferência.

No 6 capítulo, o autor destaca como os membros do Conselho Supremo eram


exageradamente sensíveis a considerações de ordem pessoal e ele, também, examina as
dificuldades produzidas pelos tratados secretos celebrados durante a guerra e os atrasos
relacionados à outras divergências surgidas entre as Potências Aliadas e Associadas reunidas
na Conferência, demonstrando, nesse intuito, referências desses tratados em ordem crescente
de importância, como o Tratado Romeno de 17 de agosto de 1916 e outros.

O capítulo 7 – Meio Termo – o autor propõe a questão italiana como um todo isolado
que mostra a rudimentar confusão da Conferência de Paz através de três formas de abordagem
escolhidas pelos escritores: a cronológica, a fragmentada e o método de choque de vontades.
Essa questão assinala a influência corrosiva que houve sobre a base moral e diplomática da
Conferência, oferecendo, também, um exemplo apropriado e simples do tipo de complexidade
que existiu nesse Tratado de Paz.

No capítulo 8, intitulado de “Fracasso”, o autor resume alguns fatores psicológicos da


dualidade de fracasso ou sintomas da conferência, comenta a progressiva deterioração dos
estados de espírito dos estadistas e assinala uma mudança de ânimo e atribui esse declínio
mental e efetivo a causas concretas durante a Conferência.

O livro II começa – um compêndio das anotações do autor – começa com explicações


do próprio sobre suas anotações, intitulado “Nota sobre o Diário”. Ele explica: as suas entradas
não são uma transcrição exata do diário; o diário não foi escrito para publicação; as notas
mostradas no libro são uma versão absolutamente precisa das notas abreviadas que aparecem
no diário; o diário de forma nenhuma é um documento histórico; e que esse diário só é publicado
para uso de jovens integrantes do Foreign Office.

Suas anotações decorrentes dos momentos vividos na Conferência estão divididas por
períodos entre os meses de janeiro a maio de 1919. Essas anotações, sobre o que presenciou
desde a pré-conferência, nos preparativos, encontros, visitas particulares e em grupos até a
assinatura final do Tratado, estão ligadas diretamente às suas análises mostradas nos capítulos
do Livro I.

O primeiro período de anotações – intitulado “Contatos” – vai de 1º à 12 de janeiro; o


segundo – “Primeiras Reuniões” – de 13 à 20 de janeiro; o terceiro – “O Conselho dos Dez” –
de 21 à 5 de fevereiro; o quarto – “Comitês” – de 6 à 9 de março; o quinto – “Coordenação” –
de 10 à 31 de março; o sexto – “Interlúdio comunista” – de 1º à 9 de abril; o sétimo – “A Disputa
com a Itália” – de 10 à 5 de maio; o oitavo – “Compensações” – de 6 à 19 de maio; e o nono –
“O Tratado de Versalhes” – de 20 à 28 de junho.

Essas anotações tornaram-se fundamentais para a construção desse livro, pois elas
contêm não somente as causas, mas as explicações do porquê desse desastre que foi essa
importantíssima conferência. Na verdade, muitas das vezes, são mini histórias, interessantes,
vividas pelo o autor.

4. Conclusão do Resenhista.

O Tratado de Versalhes, A paz depois da Primeira Guerra Mundial é um livro


interessante, inteligente e bem dinâmico, mas que requer um nicho de leitores que já possuam
um base sobre o assunto. Sabe-se, também, que esse tipo de conhecimento não é casual, mas
bem sigiloso. Além disso, os que participam desses eventos e que compartilham suas
experiências pertencem a uma seleta camada de pessoas de destaque entre o povo e que, por
incrível que pareça – segundo esse livro – são responsáveis pelos passos que guiam os interesses
da nação que representam.

A leitura é interessante por que o leitor entra num mundo totalmente desconhecido,
principalmente pelas características pertencentes à abordagem Diplomática: os interesses da
nação; as questões socioeconômicas envolvidas em cada área litigiosa, no caso quando a
fronteira é envolvida; o preparo dos representantes e a variada gama de conhecimentos que
cada um deve possuir para o sucesso desse papel. Nessa leitura, o leitor participa desse
imaginário que, à primeira vista, surpreende a crença que esses tipos de eventos são
determinados numa verdadeira confusão e despreparo. E se tomarmos esse tratado como um
exemplo dos outros, certamente, podemos imaginar a guerra que foi cada período para a
construção de documentos que separaram terras, raças, credos, culturas, famílias durante a
história da humanidade. Verdadeiramente, o leitor enxergará uma realidade que não é vista nos
documentos finais assinados pelos envolvidos nos mais variados tratados já realizados desde
que essa possibilidade tem sido imposta ou conquistadas pelas nações.

É inteligente, pois o autor prepara o livro para ser analisado por outros estudantes ou
pesquisadores da área para que os mesmos erros elencados não sejam repetitivos nos eventos
futuros.

Harold Nicolson preparou um livro bem dinâmico, pois suas análises descritas na
primeira parte de sua obra estão completamente ligadas as anotações narradoras do segundo
livro, ou do livro II. Essa dinâmica será percebida quando o leito juntar essa correspondência.

Um ponto bem interessante e que pode se tornar num desafio para o leitor é a presença
de muitos personagens que passam rapidamente e, muitas das vezes, não apresentam grande
importância no contexto geral do livro, mas que seu papel é fundamental para entender
pequenos eventos. Esse tratado compreendeu muitas nações que possuíam muitas delegações
que possuíam muitas equipes – imagina-se a variedade de personagens e seus papéis.

A indicação da leitura desse livro aos militares do Corpo de Fuzileiros Navais pode
somar-se à gama de conhecimento da Força, principalmente quando se percebe que há uma
grande participação dos nossos militares em similares eventos, tanto no Brasil como no
Exterior. A leitura alerta e afirma que o preparo e o conhecimento são fundamentais às
conquistas dos objetivos, não somente nos ambientes de guerra físicos – área de domínio dos
Fuzileiros Navais – mas, também, nas guerras psicológicas, quando eles participam de eventos,
no cenário internacional, cujos interesses são importantes a nossa nação.

SO-FN-CT 87.2382.33 ROSINALDO ARAUJO LIMA

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