Você está na página 1de 6

SOCIOLOGIA

E POLÍTICA

Émile Durkheim e o fato social

Conforme vimos estudando, Durkheim foi um dos primeiros


pensadores da Sociologia, tendo vivido em Paris no final do
século XIX e início do XX e acompanhando a transformação da
sociedade industrial.

Para ele, a divisão do trabalho deveria, em geral, provocar uma


relação de cooperação e de solidariedade entre as pessoas,
mas, como as mudanças na sociedade aconteceram muito
rapidamente, ainda não havia um modelo moral que guiasse o
novo comportamento dos indivíduos (MARTINS, 2007). Por isso,
Durkheim se dedicou a pesquisar a ordem social.

Vamos retomar alguns pontos que já vimos, aprofundando-os,


e conhecer outros principais conceitos de Durkheim? Siga com
atenção!

Fato social
Começaremos falando sobre o fato social, que é o conceito mais
importante de Durkheim. A partir dessa ideia, Durkheim separou
o senso comum, as emoções, as questões humanas e individuais
em geral do objeto de estudo da Sociologia.

E o que é esse tal de fato social?

Durkheim entende que o fato social representa maneiras de agir,


de sentir e de pensar que, de certa maneira, se impõem aos
indivíduos e obriga-os a se adaptarem às regras da sociedade
onde estão. Esse é o caso das leis, que existem antes de nós
nascermos e continuarão existindo, sendo que somos obrigados
a cumpri-las e valem para todo mundo.

Mas se a Sociologia estuda a vida em sociedade, as pessoas em


sociedade, como podemos separar o que é pessoal do que é
coletivo? De que forma é possível separar um fato pessoal de um
fato social? Durkheim identificou três fatores que caracterizam o
fato social, os quais você pode acompanhar no quadro a seguir.

License-436668-27008-0-5
SOCIOLOGIA
E POLÍTICA

Poder de impor padrões sociais e culturais de uma sociedade aos indivíduos


que vivem nela. Exemplo: a lei que proíbe as pessoas de andarem sem roupas
Coercitividade
em locais públicos. Em outras sociedades, isso pode ser permitido. Dessa
forma, essa lei é um fato social, pois impõe um padrão social e cultural.

As leis, os padrões, a moral e a ética de uma sociedade existem antes do


indivíduo nascer e continuarão existindo depois. São externas e independentes
Exterioridade
dele. Em outras palavras, essas leis já existiam antes de nós nascermos e
continuarão existindo depois, não dependendo da nossa existência.

Os fatos sociais são sempre coletivos. Não se aplicam a um único individuo,


Generalidade e, sim, para toda a sociedade. Essa lei se aplica a todos os indivíduos da
sociedade brasileira.
Fonte: Adaptado de DURKHEIM, 1999.

Os fatos sociais podem ser tanto


“maneiras de fazer” (seguir as leis)
quanto “maneiras de ser” (ser ético)
que são compartilhadas socialmente.

Instituições sociais
Agora que conhecemos o fato social, está na hora de estudarmos
outra contribuição importante de Durkheim para o estudo das
sociedades: o conceito de instituição social.

Que tal entendermos o contexto que possibilitou a criação desse


conceito?

Pense na sociedade industrial que ainda estava se organizando


após o feudalismo e na qual foram criados muitos espaços para
as pessoas se organizarem nas cidades. Cada espaço tinha um
objetivo definido e era destinado a uma parte da população. A
esses espaços foi dado o nome de instituições sociais.

Mas o que fazem essas tais de instituições sociais?

As instituições sociais organizam a sociedade moderna através


de regras e procedimentos que são padronizados, reconhecidos
e aceitos pela sociedade.

Que tal pensarmos em alguns exemplos?

License-436668-27008-0-5
SOCIOLOGIA
E POLÍTICA

Perceba que o governo, a escola, a polícia, a religião, a família,


as prisões e os hospitais são exemplos de instituições sociais. A
sua principal função é manter a ordem e a estrutura vigentes
na sociedade, portanto, são instituições conservadoras, pois, ao
contrário das mudanças sociais (como, por exemplo, a Reforma
Protestante, que mudou a forma da sociedade e do Estado se
relacionarem com suas crenças), servem para conservar o Estado.
Na figura a seguir, mostra-se um exemplo de instituição social.

Fonte: reZachka, Shutterstock, 2017.

Mas será que esse conservadorismo pode ser considerado


positivo?

Sim, pois as regras e sua conservação são importantes para as


pessoas se sentirem seguras e protegidas. É o caso, por exemplo,
da maioria dos países democráticos, como a Alemanha, em
que as pessoas vivem de acordo com as regras estabelecidas e
aceitam segui-las para se sentirem protegidas.

License-436668-27008-0-5
SOCIOLOGIA
E POLÍTICA

Por outro lado, quando uma sociedade não está em harmonia


com suas instituições sociais e suas regras, Durkheim diz que está
em estado de “anomia social”. Isso acontece hoje na Líbia, em
que há conflitos relativos a discórdias sobre a forma de governar,
e as instituições sociais, assim como as regras da sociedade, não
estão sendo seguidas, pois o país está em guerra.

Os fatos sociais, portanto, impactam em toda a sociedade,


levando-a à coesão social ou à anomia social. Tudo isso fez com
que Durkheim entendesse a sociedade como um organismo,
em que todos os órgãos estão interligados e precisam estar em
harmonia para o todo funcionar. Aliás, você sabia que é desses
conceitos que vem o termo “órgãos públicos”? Interessante, não
é mesmo?

Quando todos concordam com as


regras impostas pelo governo, temos
um estado de harmonia, mas, quando
um país está em guerra, o estado é de
anomia social.

Solidariedade mecânica e orgânica


Conforme temos estudado, para Durkheim, o ser social é uma
combinação da consciência individual e da consciência coletiva,
que é aquela que regula nossos valores morais e nos pressiona
ao fazermos nossas escolhas. Pense, por exemplo, em um jovem
que gostaria de cursar a faculdade de Filosofia (sua consciência
individual), porém acaba cursando a faculdade de Direito por
pressão da família (consciência coletiva). Nesse caso, a família
entende que há mais oportunidades de trabalho nessa área,
e, assim, esse jovem terá um lugar na sociedade, uma função.
Nesse sentido, para Durkheim, é importante que todos tenham
uma função na sociedade.

Porém, ainda que façamos algumas escolhas por pressão, isso


nem sempre é negativo: perceba que, para que uma sociedade
funcione, a consciência individual precisa estar de acordo com a
consciência coletiva. Esse consenso social pode se manifestar de
duas formas: a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica.

Vamos conhecer melhor cada uma delas?

License-436668-27008-0-5
SOCIOLOGIA
E POLÍTICA

Para isso, comecemos falando de solidariedade, palavra usada,


na Sociologia, de forma diferente daquela a que estamos
habituados. Para Durkheim, a solidariedade é esse consenso
social necessário para que a sociedade funcione.

Agora que falamos do conceito geral, vamos estudar as duas


formas pelas quais a solidariedade se manifesta. Acompanhe!

A solidariedade mecânica acontece em sociedades mais antigas


e em comunidades que se formam a partir de semelhanças
entre os indivíduos. Ou seja, as pessoas dessa sociedade tinham
os mesmos valores sociais, crenças religiosas, forma de trabalho,
como no Egito antigo ou em comunidades indígenas hoje em
dia. O compartilhamento de valores era o suficiente para manter
a coesão social. Acompanhe, na figura a seguir, um exemplo de
sociedade mecânica.

Fonte: Joa Souza, Shuterstock, 2017.

License-436668-27008-0-5
SOCIOLOGIA
E POLÍTICA

E a solidariedade orgânica, do que se trata?

A solidariedade orgânica é característica das sociedades


modernas, que foram criadas a partir de acordos políticos
arbitrários, associadas aos ideais do humanismo e individualismo,
sendo compostas de indivíduos de diferentes crenças, valores
e visões de mundo. Um exemplo disso é a formação do Brasil,
que reuniu diversas comunidades distintas, como os indígenas
do Norte, do Nordeste, e Sul, além de portugueses, italianos,
alemães e orientais. Podemos dizer que nossa organização não
se deu em função de nossas semelhanças, e, sim, por acordos
entre governos de Portugal, Espanha, Inglaterra, entre outros
países, durante a colonização das Américas.

Mas de que forma é possível manter a coesão de pessoas tão


diferentes?

Para responder a essa pergunta, vamos retomar a ideia de


organismo: na solidariedade orgânica, os indivíduos dependem
uns dos outros para sobreviver. Cada um é responsável por uma
função na sociedade, mantendo sua individualidade (escolhendo
a sua profissão, por exemplo). Ainda assim, ele depende dos
outros, o que faz com que ha ja um sentimento de fazer parte de
um todo (como um órgão em um organismo).

Quer um exemplo?

Suponha que você seja professor (a) de Português e que precisa


de roupas e calçados. Porém, você não sabe costurar. Então, você
precisa de costureiras e sapateiros para viver. Da mesma forma,
a costureira e o sapateiro precisam de aulas de Português para
aprender a escrever e a ler. Dessa forma, ninguém consegue
sobreviver sozinho em uma solidariedade orgânica, por isso
todos se toleram, pois precisam uns dos outros.

License-436668-27008-0-5

Você também pode gostar