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Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ

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Geração de Modelo de Altura de Árvore Usando Imagens Aéreas


Históricas para o Monitoramento da Regeneração em Floresta Tropical de Mata Atlântica
Canopy Height Model Generation from Historical
Images for Monitoring of Regeneration in Atlantic Rain Forest

Adilson Berveglieri1; Nilton Nobuhiro Imai2;


Antonio Maria Garcia Tommaselli3 & Beatriz Fabretti Martinez4
1
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Departamento de Estatística,
Rua Roberto Simonsen, 305, 19060-900, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil
2, 3
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Departamento de Cartografia,
Rua Roberto Simonsen, 305, 19060-900, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil
4
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Departamento de Planejamento, Arquitetura e Ambiente,
Rua Roberto Simonsen, 305, 19060-900, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil
E-mail: a.berveglieri@unesp.br; nilton.imai@unesp.br; a.tommaselli@unesp.br; beafmartinez@gmail.com
Recebido em: 07/05/2019 Aprovado em: 30/08/2019
DOI: http://dx.doi.org/10.11137/2019_4_206_218

Resumo

A reconstrução 3D do dossel de florestas para estudos retrospectivos em longas datas é possível a partir de foto-
grafias aéreas históricas, usando modernos algoritmos fotogramétricos. Isto permite a análise de mudanças estruturais
em florestas e o monitoramento do status de conservação ou de regeneração em áreas degradadas ao longo do tempo.
Nesse contexto, este artigo realiza a aplicação de técnicas fotogramétricas, combinadas com um modelo de terreno,
obtido pelo processamento de uma nuvem LASER, para a geração de modelos de alturas de árvores. Dois modelos, um
datado de 1978 e outro de 2017, foram produzidos para avaliar a regeneração de uma floresta tropical de Mata Atlântica.
Em seguida, uma segmentação em superpixels foi feita em ambos os modelos de alturas para formar sub-regiões homo-
gêneas no dossel, coincidentes entre as duas datas, e permitir análises estatísticas locais, viabilizando uma classificação
em três níveis de altura, a qual foi validada com dados de campo. Como resultado, verificou-se que as áreas desmatadas
estão se regenerando, porém apresentam dificuldades para atingir o dossel mais alto. O erro estimado em altura no mo-
delo de superfície histórico foi de 0,55 m, o que é aceitável para os estudos em floresta e é comparável aos resultados
obtidos em floresta boreal.
Palavras-chave: Fotogrametria histórica; Reconstrução 3D; Modelo de altura absoluta

Abstract

3D reconstruction of forest canopy for retrospective studies over time is possible from historical aerial photo-
graphs using modern photogrammetric algorithms. This enables the structural change analysis in forested areas and
the conservation or regeneration monitoring in degraded areas. In this context, the article presents an application of
photogrammetric techniques (combined with a terrain model derived from a LASER point cloud) to generate tree height
models. Two height models, one dating from 1978 and another from 2017, were produced to evaluate the regeneration of
an Atlantic Rainforest forest. A segmentation based on superpixels was made in both heights models to subdivide the
canopy into homogeneous regions (coincident between the two dates). A local statistical analysis was conducted based
on a classification in three levels of heights, which was validated with data of field. As a result, it was found that defor-
ested areas are regenerating; however, such areas present difficulties to grow to the highest canopy. The error in height,
estimated in the historical surface model, was 0.55 m, which is acceptable for forest studies and is comparable to results
obtained in boreal forests.
Keywords: Historical photogrammetry; 3D reconstruction; Absolute height model

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Geração de Modelo de Altura de Árvore Usando Imagens Aéreas
Históricas para o Monitoramento da Regeneração em Floresta Tropical de Mata Atlântica
Adilson Berveglieri; Nilton Nobuhiro Imai; Antonio Maria Garcia Tommaselli & Beatriz Fabretti Martinez

1 Introdução também produziram modelos de alturas de árvores a


partir da combinação de dados LASER aerotranspor-
As mudanças do dossel florestal ao longo do tado e fotografias aéreas de séries temporais (1945-
tempo são um importante indicador sobre o estado 2003), neste caso, para reconstruir o dossel de uma
de conservação e a dinâmica da estrutura vertical das floresta boreal. Ni et al. (2015) desenvolveram uma
árvores (Kadmon & Harari-Kremer, 1999). Fotogra- abordagem para investigar a geração de modelos di-
fias aéreas proporcionam a extração de informações gitais de terreno para calcular altura de floresta com
detalhadas da cobertura vegetal, bem como medidas base em dados LIDAR e imagens estéreo. Os autores
tridimensionais, no caso de imagens em estéreo. examinaram a distribuição vertical de pontos de cor-
Para mapeamentos retrospectivos em longos perío- respondência das imagens estéreo em povoamentos
dos de tempo (até 100 anos), a única fonte de dados de uma floresta decídua. Geraram doze índices de
possível é o aerolevantamento com imagens ópticas, elevação (entre eles, média, mínimo, máximo e per-
as quais foram adquiridas em levantamentos aéreos centis) a partir dos pontos de correspondência para
com câmaras de filme e possibilitam estudos multi- medir a elevação da superfície do terreno. Nurminen
temporais com alta resolução. Além disso, a aquisi- et al. (2015) geraram os MDS em áreas de florestas
ção das imagens em estéreo possibilita a geração de a partir de séries temporais de imagens aéreas e con-
modelos de superfície do dossel florestal, permitindo cluíram que a reconstrução 3D foi possível devido
que medições possam ser feitas para avaliar o desen- às técnicas de correspondência densa em imagens
volvimento da cobertura vegetal. ópticas. Os erros resultantes em altura foram entre
Vários estudos usando séries longas de ima- 0,3 m e 2 m.
gens aéreas históricas para a geração de modelos di- Estudos para medir e monitorar propriedades
gitais de superfície (MDS) em florestas têm sido rea- estruturais de floresta usando técnicas de sensoria-
lizados (Korpela, 2006; Korpela et al., 2007; Véga mento remoto baseadas em dados LIDAR e fotogra-
& St-Onge, 2008; Nurminen et al., 2015; Vastaranta métricos também foram desenvolvidos por Wallace
et al., 2016) para extrair diversos tipos de atributos et al. (2016). Seus estudos indicaram que ambas as
associados à geometria da floresta. Estruturas flo- técnicas foram capazes de fornecer informações para
restais podem ser caracterizadas pelas posições das descrever a superfície do terreno e as propriedades
árvores, dimensão vertical e mistura entre tipos de do dossel florestal. As alturas das árvores foram ob-
espécies arbóreas. Dados ópticos vêm crescendo em tidas com um erro aproximado de 1,30 m. Vastaranta
importância para estudos em floresta e, com a com- et al. (2016) propuseram uma abordagem para esti-
binação com dados de varredura a LASER, podem mar idades em florestas usando uma série temporal
apresentar mais vantagens, devido ao alto detalha- de 68 anos, em que MDSs foram gerados para extrair
mento espacial (Lang et al., 2006). Korpela (2006) modelos de alturas de árvores a partir de um modelo
realizou um estudo sobre séries temporais com ima- digital de terreno obtido por varredura a LASER.
gens históricas, considerando vários tipos de dados
geométricos e técnicas de orientação de imagem. Em Em geral, os vários trabalhos apresentados an-
florestas boreais, Korpela et al. (2007) conduziram teriormente demonstram que atributos estruturais de
experimentos sobre orientação de imagens em séries florestas são importantes e auxiliam no entendimen-
históricas, usando pontos de controle determinados a to e monitoramento da dinâmica do dossel florestal.
partir de pedras e telhados de construções. Entretanto, nesses trabalhos, os procedimentos têm
sido testados em florestas boreais, onde a vegetação
Hyde et al. (2006) combinaram estatistica- dominante é composta de espécies de pinus, sen-
mente a informação estrutural obtida por sensores de do florestas mais homogêneas e com árvores mais
varredura a LASER, RADAR e ópticos para gerar esparsas, em que o terreno natural (chão) pode ser
dados de altura de dossel e biomassa. Concluíram visível mais facilmente a partir de uma vista aérea.
que o LIDAR (varredura a LASER) foi o melhor Diferentemente, as florestas tropicais de mata atlân-
sensor para tais estimativas. Véga & St-Onge (2008) tica têm características de vegetação densa e alta di-

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versidade arbórea, o que torna o dossel heterogêneo, balho, realiza-se a reconstrução tridimensional de
ou seja, a copa das árvores tem muita variação entre um fragmento de floresta tropical de mata atlânti-
as árvores vizinhas e o chão raramente é visível. ca a partir de dados fotogramétricos históricos, em
que áreas desmatadas são mapeadas e analisadas
A abordagem proposta também objetiva o es- para avaliar seu status de regeneração, como será
tudo de técnicas para a determinação da orientação apresentado nas próximas seções.
de imagens históricas e a geração de CHM (Canopy
Height Model – Modelo de altura do dossel) denso
para estudos retrospectivos em floresta. Neste traba- 2 Metodologia
lho, foi analisada uma floresta tropical de mata atlân-
O procedimento para orientação de imagens
tica cujas características geométricas são muito dife-
está esquematizado na Figura 1, em que imagens
rentes daquelas encontradas em florestas boreais. O
georreferenciadas mais recentes são usadas para
propósito é realizar um estudo sobre a regeneração
fornecer pontos de controle às imagens históricas.
de uma floresta nativa, em que algumas partes foram
Atualmente, as imagens aéreas são adquiridas com
drasticamente desmatadas para extração de madeira.
informações fornecidas por receptor GPS ou por
Para atingir este objetivo, uma técnica fotogramétri-
GPS/inercial integrados, no caso do georreferencia-
ca para a orientação das imagens históricas é apre-
mento direto. O uso dos dados de posição GPS (e
sentada, o que possibilita a reconstrução do dossel
orientação, se disponível) juntamente com pontos de
da floresta tropical. Uma combinação do MDS foto-
controle possibilitam realizar uma orientação inte-
gramétrico com dados LIDAR também é feita para
grada das imagens, produzindo resultados acurados.
produzir um modelo de altura do dossel (CHM). A
partir disso, o modelo é subdividido em pequenas A partir disso, se os mesmos pontos de contro-
regiões, conforme as características locais, para que le puderem ser localizados em imagens mais antigas,
o estudo da evolução do dossel seja feito em um pe- então também podem ser usados para a orientação
ríodo de 39 anos. Alguns estudos nessa floresta tro- dessas imagens. Contudo, isso raramente acontece
pical têm sido desenvolvidos por Berveglieri et al. no caso de séries temporais longas, principalmente
(2018, 2016) para classificar os estádios de sucessão em áreas não urbanas, onde a mudança da cobertu-
florestal e, adicionalmente, uma análise sobre a rege- ra da superfície é mais frequente. Embora não seja
neração da floresta é realizada neste trabalho. tão simples, a solução é identificar, pelo menos, três
pontos de controle comuns entre os conjuntos de
Nos últimos anos, os avanços tecnológicos
imagens. Para isso, pontos fotogramétricos, extra-
têm proporcionado significativas melhorias no pro-
ídos, por exemplo, em cruzamentos de vias ou ro-
cessamento fotogramétrico para a geração de mode-
chas permanentes podem ser identificados entre os
los 3D com alta densidade usando técnicas de dense
conjuntos multitemporais. Desse modo, tais pontos
image matching (Hirschmüller, 2008) e structure
fotogramétricos podem ter suas coordenadas 3D es-
from motion (SfM) (Furukawa & Ponce, 2010). Isto
timadas por ajustamento de feixe de raios em ima-
viabiliza que aquisições multitemporais de imagens gens mais recentes e servir como pontos de controle
possam ser usadas em procedimentos fotogramétri- para a orientação indireta de blocos de imagens em
cos para uma análise da cobertura de floresta, con- épocas anteriores. É importante destacar que este
siderando sua variação espaço-temporal. A constru- procedimento também envolve a determinação dos
ção de modelos 3D usando arquivos de fotografias parâmetros internos da câmara, os quais são estima-
aéreas históricas também tem sido investigada por dos de acordo com as características de cada bloco
Feurer & Vinatier (2018), que propuseram um mé- de imagens.
todo para juntar diferentes blocos de imagens histó-
ricas em um único bloco usando o algoritmo SfM. Normalmente, as câmaras mais recentes pos-
Os autores geraram um MDS temporal com base nas suem certificados que fornecem os parâmetros inter-
propriedades invariantes das feições. Porém, neste nos nominais para um procedimento de calibração.
caso, a área de estudo não foi em floresta. Neste tra- Porém, há o problema de estabelecer parâmetros de

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Figura 1 Fluxo foto-


gramétrico para orien-
tar imagens históricas.
orientação interior para as câmaras antigas que são te em medir as coordenadas das marcas fiduciais nas
analógicas e cujos certificados de calibração não imagens digitalizadas (Figura 2) e aplicar uma trans-
estão disponíveis. Neste caso, uma solução é sele- formação de corpo rígido para o centro fiducial. Des-
cionar alguma das imagens de filme do bloco foto- se modo, as outras imagens digitalizadas do bloco
gramétrico e usar as coordenadas de suas marcas também devem ter suas marcas fiduciais medidas e
fiduciais como referência para o ajustamento das de- transformadas e, então, ajustadas em relação à ima-
mais imagens. Mesmo com esta estratégia, continua gem de referência. A redução ao ponto principal, as
sendo necessário o conhecimento da distância focal correções das distorções das lentes e da deformação
da câmara. As coordenadas do ponto principal, em do filme não são possíveis de serem realizadas devi-
relação ao centro fiducial, podem ser consideradas do à falta de dados de calibração. Entretanto, mes-
nulas, pois são valores normalmente muito pequenos mo se corrigidos, os efeitos dessas correções seriam
(menores que 0,02 mm) para câmaras métricas. menores que um pixel, o que não afetaria significa-
tivamente o georreferenciamento das imagens para
Uma vez que as imagens analógicas devem ser aplicações em florestas, em que erros em torno de 1
primeiramente digitalizadas, o procedimento consis- m são aceitáveis.

Figura 2
Fotografia
analógica
com destaque
para uma das
quatro marcas
fiduciais.

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Por último, após o procedimento de orienta- 3 Experimentos e Resultados


ção de imagens digitais ou analógicas, pode ser gera-
da uma representação 3D do dossel da floresta como A metodologia foi aplicada em uma área de
um MDS, a qual pode ser usada para estudos, por floresta que dispõe de conjuntos de imagens foto-
gramétricas multitemporais e nuvens de pontos ad-
exemplo, sobre a evolução florestal, monitoramento,
quiridas por sistemas de varredura a LASER aero-
cálculo de altura de árvores, impacto ambiental etc.
transportado, como se apresenta a seguir.
Mesmo nos casos das imagens de filme, um MDS
denso pode ser gerado, devido às escalas (1:25.000
– 1:60.000) usuais nos mapeamentos realizados em 3.1 Área de Estudo
décadas passadas, as quais podem produzir modelos
A área de estudo (22°24′51″S e 52°30′50″W)
com resolução espacial entre 0,50 m e 1,2 m. Essas
localiza-se em Euclides da Cunha Paulista, São Pau-
resoluções possibilitam reconstruir uma superfície lo (Brasil) e consiste de um fragmento remanescen-
3D do dossel florestal com nível de detalhamento su- te de Mata Atlântica. Este fragmento é formado por
ficiente para obter as variações de alturas das árvores. uma vegetação tropical densa (13 km2), contém di-
Dessa maneira, um MDS denso pode ser ge- versidade de espécies de vegetação nativas e apre-
rado e, se um modelo digital de terreno (MDT) esti- senta o dossel em diferentes estádios de sucessão
ver disponível, a subtração entre ambos os modelos florestal. Atualmente, é protegido por leis ambientais
e faz parte da Estação Ecológica Mico-Leão-Preto,
(MDS - MDT) pode produzir um modelo repre-
estando, portanto, sua evolução sujeita somente às
sentando somente as alturas absolutas das árvores,
ações naturais e aos fatores antrópicos circundantes.
isto é, o CHM. A partir desse CHM, a variação em
altura é classificada e uma análise do crescimen- 3.2 Dados LASER
to vertical pode ser feita para o monitoramento da
evolução florestal, incluindo as áreas de regenera- Um levantamento aéreo foi realizado com um
ção e áreas preservadas. sistema de varredura a laser aerotransportado (LA-

Figura 3
Localização
da área de
estudo.

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SER Riegl LMS-Q 680i, GNSS/Inertial Applanix Modelo Altura Sobreposição Sobreposição N. GSD Ano
POS-AV 510) para coletar nuvens de pontos a uma de Câmara voo longitudinal lateral imagens (m)
altura de voo de 800 m. O equipamento utilizado (km)
tem frequência do pulso LASER de até 400 kHz, Phase One
0,9 60% 40% 280 0.09 2017
realiza até 266 mil medidas por segundo no terreno, IQ180
possui alta velocidade de escaneamento de até 200 UltraCam
7,5 60% 30% 4 0.45 2010
linhas/segundo, acurácia de até 20 mm na distância, Xp - Vexcel
apresenta um campo de visada de até 60°, utiliza Wild RC8 3,5 60% 25% 8 0.50 1978
o método de medição por tempo de percurso do Tabela 2 Características dos blocos de imagens.
sinal, e realiza um processamento Mult-time-arou-
nd, permitindo realizar levantamentos topográficos
em terrenos complexos, como é o caso da área de 3.4 Procedimento de Orientação
estudo, composta de vegetação densa. Este equipa- de Imagens e Geração de MDS
mento grava dados dos diferentes retornos do pulso A orientação das imagens do bloco de 2017
LASER e da forma da onda, mas para este estudo, foi realizada no software Agisoft Metashape (Agi-
somente foi utilizado o último retorno do pulso para soft LLC, 2019). Este bloco foi adquirido com dados
extrair os dados do terreno, os quais são obtidos após
de orientação direta (GNSS/inercial) e somente cin-
filtragem de ruídos para definir o terreno ou MDT
(RIEGL, 2019). co pontos de controle (circundantes à floresta) foram
levantados com receptor GPS para serem utilizados
no procedimento de fototriangulação com ajusta-
3.3 Blocos de Imagens Aéreas Multitemporais mento por feixe de raios. Os POIs da câmara foram
previamente determinados em procedimento de cali-
Para aplicar a metodologia, três blocos fo-
bração. A Figura 4 mostra o ortomosaico fotogramé-
togramétricos foram utilizados, os quais são refe-
trico, que é o obtido a partir do MDS gerado.
rentes a levantamentos aéreos realizados em 1978,
2010 e 2017. O bloco de 1978 indica o estado de
degradação da floresta naquela época (antes de ser
protegida por lei), e o bloco de 2017 mostra o esta-
do de conservação e regeneração nos anos recentes.
O bloco de 2010, por ser o bloco disponível com
data mais próxima ao bloco histórico, foi utilizado
para georreferenciar as imagens de 1978. A Tabela
1 mostra os principais detalhes das câmaras utiliza-
das em cada levantamento, ao passo que a Tabela 2
fornece as configurações dos voos em cada época,
indicando altura de voo, sobreposição de imagens e
Ground Sample Distance (GSD, dimensão do pixel
no terreno).
Distância
Modelo de Formato da N. marcas
Focal Tipo de Sensor Ano
Câmara Imagem Fiduciais
(mm)
Phase One 10328 × 7760 Digital
55,00 - 2017
IQ180 pixels (pixel de 5,2 μm)
UltraCam 17310 × 11310 Digital Figura 4 Ortomosaico gerado com o bloco de 2017.
100,50 - 2010
Xp - Vexcel pixels (pixel de 6 μm)
Filme
(tipo não Em relação ao bloco de 2010, este foi coleta-
Wild RC8 152,45 23 × 23 cm 4 disponível), 1978
digitalizada com do com georreferenciamento direto e POIs calibra-
pixel de 20 μm dos. O bloco de imagens históricas (pancromáticas),
Tabela 1 Detalhes técnicos das câmaras fotogramétricas. coletado com câmaras de filme, foi fornecido sem

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os POIs da câmara (conhecido somente a distância Nesta etapa, o bloco georreferenciado de 2010
focal das lentes) e sem os parâmetros de orientação da Figura 5A foi usado como uma referência para
exterior (POEs) (posição e atitude das imagens). extrair pontos fotogramétricos que foram usados
Os negativos dessas imagens analógicas de 1978 como pontos de controle na orientação do bloco de
(fornecidos pela empresa Base Aerolevantamentos) imagens históricas. Pontos comuns, como interseção
foram digitalizados por um scanner fotogramétrico de estradas e centroides de rochas, foram identifica-
(UltraScan 5000 - Vexcel) com tamanho de pixel
dos entre as datas (1978 e 2010) e suas coordenadas
20 μm, resultando em imagens digitais com GSD
de 50 cm. Uma correção do efeito vinhete também foram estimadas pelo ajustamento em bloco por fei-
foi necessária para melhorar a saturação periférica xes de raios com o bloco 2010, para entrarem como
em relação ao centro da imagem. Então, os POIs fo- pontos de controle no bloco de 1978.
ram definidos como apresentado na seção 2, usando
Para pequenos blocos de imagens, um mínimo
as marcas fiduciais, medidas em uma das imagens
como referência em relação ao seu centro fiducial. de três ou quatro pontos de controle, juntamente com
Posteriormente, um processamento fotogramétrico, alguns pontos fotogramétricos, podem ser suficien-
apresentado a seguir, foi realizado no software Ima- tes para realizar a orientação de imagens. O bloco
gine Photogrammetry (Hexagon Geospatial, 2018) histórico, como mostrado na Figura 5B, foi indireta-
para produzir a orientação indireta das imagens his- mente orientado com a seguinte configuração: POIs
tóricas e a geração densa dos MDSs. fixos (distância focal nominal, coordenadas do pon-

Figura 5 Blo-
cos fotogra-
métricos; A.
De 2010; B.
De 1978; C.
Geometria do
bloco de 1978
triangulado;
D. Ortomosai-
co do bloco de
1978.

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to principal e coeficientes de distorção considerados 3.5 Segmentação por Superpixels


como nulos), POEs aproximados; desvio-padrão de Uma vez gerada a ortoimagem, realizou-se
0,5 m no espaço objeto e 0,5 pixel no espaço ima- uma segmentação com a técnica superpixel, cha-
gem. Três pontos medidos nas imagens foram usa- mada simple linear iterative clustering (SLIC), para
dos como pontos de controle (vertical e horizontal) subdividir o dossel em pequenas regiões, conforme
e outros três pontos como controle vertical, os quais as características locais. Esta técnica possibilita que
foram estimados como pontos fotogramétricos no as bordas possam ser definidas de acordo com a si-
bloco de 2010. Os pontos de passagem dos blocos milaridade dos pixels vizinhos. Esta segmentação foi
(pontos fotogramétricos) foram gerados automati- realizada para permitir classificar as regiões segun-
camente usando uma distribuição de 25 pontos por do a variação da altura, o que permite encontrar as
regiões de regeneração, pois áreas mais degradadas
modelo (Figura 5C). Desse modo, o procedimento
têm alturas de árvores menores em relação às áreas
foi realizado com seis pontos de controle, resultando onde as árvores maduras ainda estão preservadas.
em uma precisão de aproximadamente 1 m no ajus- Como se observa na Figura 6A, as áreas degradadas
tamento por feixes de raios. A raiz do erro quadrático são visíveis e, logo, um procedimento de segmenta-
médio (REQM) para os pontos de controle no espaço ção pode ser aplicado diretamente na ortoimagem,
objeto foi calculada e resultou em 0,56 cm em X; usando os níveis de cinza dos pixels. O resultado da
1,51 cm em Y e 15,6 cm em Z. No espaço imagem segmentação na Figura 6B mostra a geração de 1168
os resíduos foram aproximadamente 0,7 pixel. Tais superpixels, os quais tiveram seus tamanhos varia-
resultados são suficientes para a aplicação técnica da dos devido às características locais.
abordagem. A partir da orientação do bloco de 1978, A segmentação em superpixels somente divi-
o MDS denso foi produzido no software Imagine de a imagem em pequenas regiões, porém, ainda é
Photogrammetry usando a técnica “Automatic Ter- necessário associar um atributo a cada superpixel.
rain Extraction Technique” com estratégia de cor- Neste caso, o valor associado representa a média das
respondência para áreas de florestas. A configuração alturas das árvores dentro da região do superpixel.
foi feita com janela de busca de 17 × 3 pixels para As alturas locais foram obtidas a partir do CHM, o
diferenciar e correlacionar características similares. qual foi produzido pela subtração entre o MDS foto-
gramétrico da época e o MDT de referência, que foi
Para o espaçamento de grade, adotou-se o tamanho
obtido por um sistema de varredura a LASER devi-
de 1 GSD, uma vez que os blocos tinham uma reso- do à capacidade de penetração em áreas de floresta,
lução espacial com pouca diferença entre si (45 cm atingindo o solo para gerar modelos de terreno. Os
e 50 cm). A Figura 5D mostra o ortomosaico gerado CHMs foram gerados tanto para o bloco 1978 quan-
a partir das técnicas automáticas de correspondência to para o bloco 2017, e médias de alturas locais fo-
densa (dense image matching) produzidas no LPS. ram atribuídas a cada superpixel de ambos os blocos.

Figura 6 Seg-
mentação por
superpixels; A.
Ortoimagem em
1978; B. Super-
pixels gerados
(1168 unidades).

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3.6 Classificação do Dossel resta em relação às espécies secundárias (ou clímax),


que são as espécies nobres da floresta.
As formas dos contornos dos superpixels pro-
duzidos na ortoimagem de 1978 foram usadas como Para realizar a classificação do dossel nos
moldes para o bloco de 2017, o que permitiu uma blocos 1978 e 2017, as alturas nos superpixels fo-
avaliação da evolução de cada região com base na ram normalizadas para um mesmo intervalo de re-
mesma quantidade de pontos dentro de cada área. ferência e, então, a definição dos limites das três
Desse modo, a altura do dossel nas regiões pôde ser classes foi baseada em análise de histograma des-
comparada entre as épocas 1978 e 2017. sas alturas normalizadas. A Figura 7A mostra o re-
sultado da classificação do bloco 1978, e a Figura
Três classes de altura foram determinadas 7B, do bloco 2017.
para avaliar a evolução do crescimento vertical do
dossel: baixa, média e alta, as quais têm a seguinte
relação com a floresta, segundo validações realiza- 4 Resultados e Discussão
das em campo por Berveglieri et al. (2018): A orientação das imagens históricas necessi-
Baixa: representa as áreas em que a maioria tou de pontos de controle fornecidos por fototrian-
gulação multitemporal. Esses pontos de controle
das árvores tem altura baixa, devido às ações de des-
foram determinados por interpretação visual nas
matamento para extração de madeira. A dominância
imagens aéreas, procurando-se pontos similares en-
é de árvores de espécies pioneiras, típicas de áreas
tre as épocas. Embora seja uma região de floresta,
de regeneração. Arbustos também aparecem como
com grande dificuldade de encontrar pontos, como
na cobertura vegetal;
comentado por Korpela (2006), pontos comuns entre
Média: representa as áreas onde o dossel está as duas épocas foram localizados em áreas de vias
em nível intermediário entre as áreas de regeneração e rochas. Erros nos POIs, como na distância focal,
e as áreas de conservação. foram absorvidos pelos POE no ajustamento por fei-
xe de raios. As deformações do filme foram tratadas
Alta: representa as áreas com a maior parte pela transformação geométrica nas marcas fiduciais,
das árvores no dossel mais alto, estando em idade e as distorções das lentes, desprezadas. No ajusta-
madura. Isto indica o estado de conservação da flo- mento do bloco fotogramétrico de 1978, três pontos

Figura 7 Classificação em três níveis de altura; A. Em 1978; B. Em 2017.

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fotogramétricos foram inseridos para uma avalia- N. de Média da Altura (m) Desvio-Padrão Médio (m)
ção como pontos de verificação e resultaram em um Classe
Superpixels Valor Mín Máx Valor Mín Máx
REMQ altimétrico de 0,55 m, o que está dentro do Baixa 275 3,42 0,44 14,33 1,73 0,32 2,35
intervalo de erro também obtido por Nurminen et al.
Média 280 6,43 2,92 18,44 3,21 2,35 4,00
(2015) em seus experimentos com floresta boreal.
Alta 613 10,36 4,71 18,89 5,49 4,01 7,86
A geração do CHM usou como referência de Tabela 3 Média e desvio-padrão das alturas nos superpixels em
terreno um MDT extraído de um aerolevantamento cada classe do bloco de 1978.
por varredura a LASER. Isto foi possível porque a
floresta é uma unidade em conservação permanente, dos superpixels apresentou as seguintes proporções:
onde não houve intervenções ou alterações significa- 32,6% na classe baixa; 36,1% na classe média e
tivas em relação ao relevo durante o período. Assim, 31,3% na classe alta. Observa-se que, após 39 anos,
assumiu-se que o terreno permaneceu constante e, a classe baixa tem apresentado um crescimento da
portanto, foi usado para o cálculo das alturas absolu- altura média (6,13 m) com variação entre 0,97 m e
tas das árvores para os dois blocos. Neste caso, rea- 10,2 m, e o pequeno desvio-padrão médio indica que
lizou-se a integração entre as nuvens de pontos foto- as regiões têm pouca variação, sendo aproximada-
gramétricos e LASER, viabilizando a análise sobre o mente homogêneas. A classe média também apresen-
desenvolvimento do crescimento vertical da floresta, tou um crescimento na média das alturas, atingindo
principalmente nas áreas de regeneração. 8,80 m e um desvio-padrão de 2,39 m. No entanto,
a classe alta obteve uma altura média de 9,34 m, o
A Tabela 3 apresenta uma análise baseada em que é aproximadamente 1 m menor do que era em
média e desvio-padrão nas três classes de alturas 1978. O desvio-padrão nesta classe também resultou
(baixa, média e alta), considerando o bloco de 1978. em valores menores. Isto é um reflexo da redução
Os cálculos foram realizados segundo o número de das áreas com árvores maduras, que vêm sofrendo
superpixels em cada classe, em que 275 (23,5%) fo- impactos ao longo do tempo por causas naturais. Ob-
ram referentes à classe baixa, 280 (24,0%) à classe serva-se, ainda, que as classes baixa e média aumen-
média e 613 (52,5%) à classe alta. Estatisticamen- taram sua proporção na floresta em comparação com
te, a classe baixa apresentou uma média de 3,42 m, a classificação de 1978.
com alturas variando de 0,44 m a 4,33 m. O peque-
Média da Altura (m) Desvio-Padrão Médio (m)
no valor do desvio-padrão de 1,73 m, variando en- Classe
N. de
Superpixels Valor Mín Máx
tre 0,32 m e 2,35 m, indicou que as árvores baixas Valor Mín Máx

foram predominantes e as árvores acima de 14 m Baixa 381 6,13 0,97 10,21 1,57 0,52 2,04

foram ocorrências pontuais de pouca frequência, Média 422 8,80 2,52 11,56 2,39 2,04 2,69
devido ao desmatamento. Na classe média, a altura Alta 365 9,34 2,39 13,47 3,10 2,69 4,72
média foi de 6,43 m com mínimo e máximo maiores Tabela 4 Média e desvio-padrão das alturas nos superpixels em
que a classe baixa, assim como o desvio-padrão, que cada classe do bloco de 2017.
também foi maior, evidenciando uma região de tran-
sição. Como esperado, os maiores valores foram ob- Os valores mostrados na Tabela 5 foram cal-
tidos na classe alta, a qual apresentou uma média de culados considerando o status em 2017 dos superpi-
10,36 m e altura atribuída aos superpixels variando xels definidos em 1978, ou seja, fez-se um cálculo
de 4,71 m a 18,89 m. Por conseguinte, o desvio-pa- de média e desvio-padrão em 2017 sobre os mes-
drão também foi maior e com variações maiores em mos grupos definidos na Tabela 3 (275, 280 e 613
relação às outras classes, o que reflete a dominância superpixels). O propósito foi examinar a evolução
das árvores maduras. nos 39 anos, usando a configuração de 1978. Desse
modo, as regiões classificadas como degradadas em
Similarmente, fez-se uma análise estatística 1978 foram analisadas quanto a sua regeneração ao
para a classificação do bloco de 2017, cujos resul- longo do tempo. Nota-se que os 275 superpixels, re-
tados estão na Tabela 4. Neste bloco, a classificação presentando as regiões de acentuado desmatamento

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em 1978, tiveram um aumento para 6,84 m na altura A Figura 8 exibe uma comparação entre os
média, com desvio-padrão de 2,04 m, o que compro- CHMs de 1978 e 2017. Três perfis superpostos fo-
va a regeneração dessas regiões. Os 280 superpixels ram extraídos para exemplificar o dossel em cada
da classe média em 1978 também demonstraram um classe: em 8(a), tem-se um perfil da classe alta; em
aumento na altura média, atingindo 7,60 m com um 8(b), perfil da classe intermediária e, em 8(c), perfil
desvio-padrão de 2,05 m, o que confirma a evolu-
da classe baixa, em que o dossel mais baixo de 1978
ção nas regiões com alturas intermediárias. Por outro
lado, os 613 superpixels da classe alta tiveram uma indica uma área desmatada e, em 2017, mostra-se
diminuição na altura média para 8,68 m com des- que a área está em regeneração, devido à elevação
vio-padrão de 2,62 m, o que pode ser explicado pela do dossel.
redução das áreas de floresta madura.
De modo geral, a combinação de segmentação
Classe
Média da Altura (m) Desvio-Padrão Médio (m) por superpixels e modelos de altura foi possível de
Valor Mín Máx Valor Mín Máx ser realizada e permitiu medir a alteração do dossel
Baixa 6,84 0,97 12,18 2,04 0,56 3,54 da floresta em um período de 39 anos, analisando-se
Média 7,60 1,15 12,62 2,05 0,52 3,88 as transformações com base em regiões. Esta análi-
Alta 8,68 2,16 13,47 2,62 0,81 4,72 se por regiões traz o benefício de não requerer um
registro entre nuvens de pontos para avaliar as dife-
Tabela 5 Análise de evolução: pelo cálculo de média e desvio-
-padrão das alturas em 2017, a partir dos superpixels classifica- renças ao longo do tempo, o que seria necessário se
dos em 1978. uma abordagem pixel a pixel fosse utilizada. Quan-

Figura 8 Comparação entre as nuvens fotogramétricas dos blocos de 1978 e 2017; A. Perfil em uma área madura; B. Perfil em uma área
intermediária; C. Perfil em uma área de regeneração.

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do se trabalha com conjuntos históricos, referências de propriedades, expansão urbana etc. No entanto,
multitemporais acuradas não estão disponíveis para vale ressaltar que, para viabilizar os estudos retros-
produzir um registro acurado. Logo, a abordagem pectivos, os conjuntos de fotografias aéreas históri-
desenvolvida oferece uma alternativa para se traba- cas, as quais foram adquiridas em filme, precisam ser
lhar com estudos retrospectivos em áreas de florestas digitalizadas com certa urgência, pois com o passar
tropicais e avaliar a dinâmica das mudanças na co- do tempo, os filmes sofrem degradação e perdem a
bertura vegetal. informação. As fotografias aéreas consistem em um
valioso registro detalhado que se tem para os estudos
em longas séries temporais de décadas passadas.
5 Conclusão
Este trabalho demonstrou a possibilidade de 6 Agradecimentos
reconstrução estrutural de uma área de floresta tro-
pical densa para estudo retrospectivo, usando como Os autores agradecem às empresas de aero-
fonte de informação imagens analógicas históricas. levantamentos Base Aerofotogrametria e Engemap
Uma técnica fotogramétrica para a orientação das pela aquisição dos blocos de imagens. Os autores
imagens históricas foi apresentada e permitiu a gera- também agradecem à Fundação de Amparo à Pesqui-
ção de um modelo de altura em 3D para as árvores. sa do Estado de São Paulo – FAPESP (2013/50426-4
Uma segmentação baseada em superpixels também e 2014/05033-7) e ao Conselho Nacional de Pesqui-
foi usada sobre a ortoimagem histórica e permitiu sa e Desenvolvimento – (CNPq) (150306/2018-0)
formar pequenas regiões com similaridade de pixels pelo apoio financeiro.
locais. A combinação dos superpixels com o modelo
de superfície 3D possibilitou uma análise da altura
7 Referências
local, separando-se o dossel da floresta em três clas-
ses, para fazer um estudo sobre a variação e regene- Agisoft LLC, 2019. Disponível em: <https://www.agisoft.
ração ao longo de 39 anos. com/>. Acesso em: 5 set. 2019).
Berveglieri, A.; Imai, N.N.; Tommaselli, A.M.G.; Casagrande,
Atualmente as técnicas automáticas com algo- B. & Honkavaara, E. 2018. Successional Stages and
their Evolution in Tropical Forests Using Multi-Tempo-
ritmos de correspondência densa (dense image mat- ral Photogrammetric Surface Models and Superpixels.
ching) têm tornado possível a reconstrução do dossel ISPRS Journal of Photogrammetry and Remote Sensing,
florestal a partir de fotografias analógicas. Assim, 146: 548–558.
como demonstrado em florestas boreais, a reconstru- Berveglieri, A.; Tommaselli, A.M.G.; Imai, N.N.; Ribeiro,
E.A.W.; Guimarães, R.B. & Honkavaara, E. 2016. Iden-
ção em floresta tropical com vegetação densa tam- tification of Successional Stages and Cover Changes of
bém foi possível, estando os erros resultantes dentro Tropical Forest Based on Digital Surface Model Analy-
dos níveis aceitáveis e comparáveis aos obtidos em sis. IEEE Journal of Selected Topics in Applied Earth
Observations and Remote Sensing, 9(12): 5385–5397.
florestas boreais, como descritos pela literatura. A Feurer, D. & Vinatier, F. 2018. Joining Multi-epoch Archival Ae-
integração entre dados LASER e dados fotogramé- rial Images in a Single SfM Block Allows 3-D Change
tricos históricos também foi realizada com sucesso Detection with Almost Exclusively Image Information.
nesta abordagem, de tal modo que outras possibili- ISPRS Journal of Photogrammetry and Remote Sensing,
146: 495–506.
dades de aplicações ainda podem ser desenvolvidas, Furukawa, Y. & Ponce, J. 2010. Accurate, Dense, and Robust
como medições de copas e de topo de árvores, mo- Multi-View Stereopsis. IEEE Transactions on Pat-
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trabalho foi aplicada em um contexto de floresta, po- Hirschmüller, H. 2008. Stereo Processing by Semiglobal Ma-
rém a mesma técnica pode ser utilizada em outros tching and Mutual Information. IEEE Transactions
on Pattern Analysis and Machine Intelligence, 30:
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