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Turma e Ano: Flex A (2014)

Matéria / Aula: Processo Penal / Aula 08

Professor: Elisa Pittaro

Conteúdo: Ação Penal nos Crimes contra a Honra: Pedido de explicações, audiência
de conciliação, exceção da verdade. Jurisdição: Conceito, Princípios.

- AÇÃO PENAL -

 Ação Penal nos Crimes contra a Honra:

Em regra, a ação penal é privada com as seguintes exceções:

1. Crimes contra honra de Presidente da República ou Chefe de Governo


estrangeiro (art. 145 CP)  Ação Penal Pública condicionada à requisição do
Ministro da Justiça

2. Injúria Real praticada com emprego de lesão corporal  Ação Penal Pública
condicionada à representação

3. Injúria preconceituosa (art. 140, §3º CP)  Ação Penal Pública condicionada
à representação

4. Crime contra a honra de funcionário público relacionado ao exercício da


função  Pelo Código Penal, a ação penal é pública condicionada à
representação. Porém, o STF editou a Súmula 714 dando legitimidade
concorrente ao ofendido mediante o ajuizamento de queixa.

A maioria dos crimes contra a honra é considerado delito de menor potencial


ofensivo, razão pela qual o procedimento adotado será aquele previsto na Lei 9.099 -
Juizado Especial. Porém, existem alguns crimes contra a honra cuja pena supera o limite
de 2 anos, razão pela qual, nessas hipóteses, o rito será o dos art. 519 e seguintes do
CPP.

 Pedido de Explicações:

Antes do oferecimento da queixa, é possível que o ofendido formule o pedido de


explicações previsto no art. 144 do CP.
O pedido de explicações consiste em uma medida facultativa de caráter
preparatório, que tem por objetivo esclarecer as ofensas, dando ao querelante justa causa
para o oferecimento da queixa. Esse pedido não interrompe o prazo decadencial, tendo
como única consequência processual a prevenção.

Obs: Alguns denominam o pedido de explicações como interpelação


judicial.

 Os crimes contra a honra em que a ação penal é pública cabe pedido de


explicações?

Não, pois o art. 144 só conferiu legitimidade ao querelante.

 Audiência de conciliação (art. 520 CPP) - Condição de prosseguibilidade:

O querelante oferecerá queixa, com ou sem pedido de explicações, porém, antes do


juiz decidir sobre o recebimento, ele deverá designar a audiência de conciliação prevista
no art. 520 do CPP. Essa audiência possui natureza de condição de procedibilidade
imprópria ou condição de prosseguibilidade, cuja inobservância é causa de nulidade
absoluta.

 Nos crimes contra a honra em que a ação penal é pública cabe audiência de
conciliação?

Não cabe em razão do Princípio da Indisponibilidade que norteia a ação penal


pública.

 A ausência do querelante na audiência de conciliação é causa de


perempção?

Existem duas orientações no âmbito do STJ:

1. Não há perempção, pois a ação penal ainda não foi formalizada, uma
vez que a queixa ainda não foi recebida. Ademais, a ausência do
querelante significa apenas que ele não quer qualquer acordo.

2. Há perempção, pois demonstra o seu desinteresse na relação


processual.

 O juiz pode rejeitar liminarmente a queixa antes da audiência de


conciliação?

1. O juiz deve rejeitar quando a queixa for manifestamente inepta, sob pena
dessa audiência caracterizar um constrangimento ilegal (posição mais
razoável).
2. Não é possível a rejeição liminar, pois o juiz deverá sempre designar a
audiência tentando pacificar o conflito de interesses.

 Exceção da Verdade:

É possível que o querelado, como forma de defesa, ajuíze a exceção da verdade na


tentativa de demonstrar que o que foi dito por ele é verdadeiro.

Obs: Natureza jurídica da exceção da verdade = incidente processual como


forma de defesa.

Em regra, não há julgamento prévio da exceção da verdade, ou seja, ação e


exceção são julgadas pelo juiz na sentença, salvo quando o querelante tiver foro por
prerrogativa de função.

 Um magistrado propôs queixa crime em face de B pela prática do crime de


calúnia, pois B teria dito "esse juiz vende sentenças". B resolve ajuizar a
exceção da verdade, na tentativa de demonstrar que o juiz realmente vende
sentenças.

O que estará sendo discutido na exceção da verdade é se o


magistrado cometeu ou não um delito, razão pela qual ela deverá ser
remetida ao tribunal para julgamento prévio.

O tribunal poderá chegar as seguintes conclusões:

1) Ele julga procedente a exceção da verdade, ou seja, reconhece


que o fato imputado era verdadeiro. Nesse caso, resta ao juiz
singular a absolvição (fato criminoso não é falso).
2) O tribunal julga improcedente a exceção da verdade. Nesse
caso, o juiz poderá condenar ou absolver pela calúnia de acordo
com as provas constantes nos autos.

E se na hipótese anterior o fato imputado fosse uma contravenção penal, como


ficariam ação e exceção?

O processamento da exceção dependerá do conteúdo da difamação.

Se o fato imputado era ofensivo, porém atípico, não há razão para


remetermos a exceção ao tribunal, ou seja, o próprio juiz singular julgará ação
e exceção.

Porém, se o fato imputado caracterizava uma contravenção penal, o


que estará sendo discutido na exceção é se o magistrado cometeu ou não um
delito. Logo, a exceção deverá ser remetida ao tribunal para julgamento
prévio.

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- JURISDIÇÃO -

1. Conceito:

Jurisdição é ao mesmo tempo um poder, uma função e uma atividade:

 Poder - demonstra a soberania do Estado, que decide imperativamente,


impondo as suas decisões.

 Função - expressa o encargo do Poder Judiciário de promover a pacificação


dos conflitos de interesses.

 Atividade - é desenvolvida através de um complexo de atos judiciais ao longo


do processo.

 Existe jurisdição voluntária no processo penal?

1) Tourinho - A possibilidade do juiz nomear curador especial é uma das poucas


hipóteses de jurisdição voluntária.

2) Pacelli - A hipótese de jurisdição voluntária no processo penal seria a da ação


de revisão criminal, pois não há lide, não existindo uma pretensão que será
resistida pela parte contrária, sendo a posição do MP apenas de custus legis.
2. Princípios da Jurisdição:

a. Inércia:

Toda a atividade jurisdicional deve ser provocada, ou seja, só há jurisdição


quando houver ação.

 Os juízes podem conceder HC de ofício?

Para Ada Pellegrini, a necessidade de proteção da liberdade individual


justifica o exercício espontâneo da jurisdição.

Obs: De acordo com o art. 310, II do CPP ao receber o APF, o juiz poderá converter
a prisão em flagrante em preventiva de ofício, o que viola a inércia e o próprio
sistema acusatório, uma vez que o juiz não deve ter qualquer ingerência durante o
inquérito. Já o art. 311 do CPP nega a possibilidade de decretar preventiva de ofício
durante o inquérito.

Desta forma, a melhor maneira de interpretarmos os dispositivos é fazendo de


forma conjunta com o art. 306 do CPP. Quando o MP receber a sua cópia do APF,
ele deverá solicitar ao juiz a conversão, viabilizando a decisão judicial sem qualquer
ofensa ao sistema acusatório.

b. Indelegabilidade:

O juiz não pode delegar a outro órgão o exercício da atividade jurisdicional.

 A expedição de carta precatória é uma exceção ao Princípio da


Indelegabilidade?

Ada Pellegrini e Paulo Rangel - Não é exceção, pois o juiz não pode
delegar o que ele não possui. Como ele não pode realizar qualquer ato
fora da sua comarca ele conta com cooperação judicial. Ademais, ele
não está delegando a prática de qualquer ato decisório, mas tão
somente um ato instrutório.

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