Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/263973996
CITATIONS READS
3 984
4 authors:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Jose Luiz Vieira on 17 July 2014.
Resumo Não havia regulamentação na a área de Qualidade passou por uma grande reestruturação. Os principais passos
da Energia Elétrica no Brasil, porém, finalmente a área recebeu foram: introdução da competição, “desverticalização” (divi-
uma norma. Este artigo apresenta uma visão geral sobre a são do sistema em segmentos de geração, transmissão e dis-
Norma e o desenvolvimento de um medidor de baixo custo, apto tribuição), regulação e criação de um sistema para compra e
a monitorar os principais indicadores de qualidade do forneci-
venda de energia (atacado) [4].
mento da tensão. Devido às enormes dimensões e complexidades
do sistema elétrico nacional, uma campanha nacional de medi-
O programa de privatização poderia ser considerado um dos
ção fará o levantamento dos índices de qualidade do sistema mais significativos do mundo, devido à sua complexidade.
elétrico. Em um mercado muito sensível ao custo, medidores de Para ilustrá-lo, em 1995 só 3% das distribuidoras não eram
baixo custo são necessários, pois permitirão um monitoramento estatais. Apenas 4 anos depois mais de 70% já haviam sido
amplo a um custo reduzido. privatizadas [3]. Por outro lado, a regulamentação e estrutura
legal que seriam a base para o novo sistema não estavam
Palavras-chaves Qualidade da Energia Elétrica, Medidor, prontas. Alguns anos foram necessários para concluí-las.
Norma, Sistema de Monitoramento. Criada em 1996, a ANEEL tem o objetivo de regular o SE.
Em 1998 a ANEEL criou o Operador Nacional do Sistema
I. INTRODUÇÃO Elétrico (ONS) para coordenar e controlar a geração e trans-
missão de energia elétrica. Com a publicação do PRODIST, a
No final de 2008 a Agência de Energia Elétrica (ANEEL) ANEEL passou a regulamentar as redes de distribuição (até
publicou os Procedimentos de Distribuição (PRODIST), que 230kV), enquanto o ONS regulamenta a geração e as redes de
disciplina o relacionamento entre distribuidoras de energia transmissão (acima de 230kV) através dos “Procedimentos de
elétrica e os demais agentes. O Módulo 8 do PRODIST [1] Redes” [5]. A relação entre os agentes no sistema pode ser
regulamenta a área de Qualidade da Energia Elétrica (QEE). entendida com a ajuda do diagrama da Fig. 1.
Esta Norma define as metodologias de medição, indicadores,
limites e valores de referência – inexistentes até então. Devi-
do à carência de informações sobre as características do sis- Coordenação e regulação
tema, uma campanha de medição será realizada. O objetivo é Alta
Regulação Procedimen- Tensão
fazer um levantamento das características do sistema. tos de Rede ≥230kV
ONS
Como o mercado nacional é muito sensível ao custo, medi-
Concessionárias
dores de baixo custo para uso em larga escala são imprescin- Média e
díveis. Visando contribuir neste novo cenário, foi desenvol- ANEEL PRODIST Baixa
vido e implementado um medidor de QEE de baixo custo [2] Tensão
Regulação <230kV
– descrito neste trabalho.
II. REESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO NACIONAL Fig. 1. Relação (simplificada) entre os agentes e o sistema.
Até a década de 90, praticamente todo o Sistema Elétrico III. A NORMA DE QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA
nacional (SE) era estatal. O monopólio representava grandes
dificuldades, inclusive: “Nesse cenário, consumidores, espe- A área de QEE começou a crescer e se consolidar mundi-
cialmente aqueles fora dos grandes centros, dependiam da almente a partir da década de 90. Embora no Brasil já possu-
‘boa vontade’ das distribuidoras para obter um serviço elétri- ísse grupos pesquisando a área, não havia regulação para o
co apropriado” [3]. setor. Ela só seria criada com a publicação do PRODIST.
Em 1995 foi iniciado o programa de privatização e o SE A Norma de QEE é dividida em Qualidade do Produto (QP)
e Qualidade do Serviço (QS) [1]. A QS relaciona-se com
G. P. Colnago, gpcolnago@ifes.edu.br, Tel. +55-27-3331-2190; J. L. F. Interrupção de energia (Continuidade) e avalia o desempenho
Vieira, joseluiz@ele.ufes.br, G. C. D. Sousa, g.sousa@ele.ufes.br, Tel. +55-
27-4009-2644; J. R. Macedo Jr., jrubens.macedo@gmail.com, Tel. +55-34- da rede. A QP aborda fenômenos estacionários e transitórios
3239-4246. e é dividida em:
Este trabalho foi integralmente financiado pela EDP ESCELSA, através do Tensão em Regime Permanente;
Projeto P&D ANEEL No. 0380-008/2006.
Fator de Potência; apresenta as faixas para tensão nominal igual a 127V. Limites
Harmônicos; para outras tensões são definidos em [1].
Desequilíbrio de Tensão;
Flutuação de Tensão;
Variação de Tensão de Curta Duração; Crítica
140V
Variação de Frequência. Precária
133V
Adequada
IV. METODOLOGIA DE MEDIÇÃO Tensão Nominal = 127V
Adequada
Os indicadores de regime permanente são registrados a ca- 116V
Precária
da intervalo de 10 minutos O período de medição é de 1.008 109V
intervalos (168h ou 1 semana). Entretanto, o período pode ser Crítica
estendido na ocorrência de eventos transitórios. Ocorrências
de Interrupção ou Variação de Tensão durante um ou mais Fig. 3. Faixas de conformidade de tensão elétrica (127V).
intervalos os invalidam. Intervalos inválidos são substituídos
por número igual de intervalos válidos subsequentes, de for- O número de intervalos classificados nas faixas precárias e
ma que o número total no final da medição seja 1.008. Desta críticas resultam, respectivamente, nos índices de Duração
forma, distúrbios transitórios não interferem na análise dos Relativa da transgressão para tensão Precária DRP (1) e Crí-
indicadores de regime permanente. tica DRC (2).
O processo de medição é ilustrado na Fig. 2. No exemplo
ocorre uma interrupção durante os intervalos 3 e 4 e ambos DRP = (nlp / 1.008) · 100 [%] (1)
são substituídos. A medição só é finalizada quando o número
válido de intervalos completa 1.008. Logo, devido aos inter- DRC = (nlc / 1.008) · 100 [%] (2)
valos inválidos, o total de intervalos medidos é 1010. No fim sendo nlp e nlc os números de intervalos precários e críticos.
desse período os índices de qualidade são calculados.
B. Fator de Potência
Início Interrupção 10 minutos Fim
O fator de potência FP relaciona o consumo de potência
1 2 3 4 5 … 1007 1008 1009 1010 ativa P com reativa Q (3). O método de cálculo do FP para as
… janelas é definido, mas o processamento do indicador não é.
1 2 x x 3 … 1005 1006 1007 1008
P
FP (3)
Intervalos válidos
x = intervalos inválidos. P Q2
2
Total de intervalos
Cada intervalo é formado por um conjunto de “janelas” de A medição é feita entre fase-neutro e se deve monitorar os
tempo, que é o período base de processamento. Os indicado- componentes harmônicos maiores ou iguais ao 25º [1]. São
res têm formas específicas de processar as janelas definidas, processadas a Distorção harmônica Total de Tensão DTT (4)
porém vários deles não têm uma metodologia de processa- e Distorção Individual de Tensão de ordem “h” DITh (5).
mento final, i.e., processamento das janelas para obtenção do
25
indicador final de cada intervalo. O período de uma janela
pode ser definido como 12 ciclos da rede (0,2s). Portanto, V
h2
h
2
E. Flutuação de Tensão
TABELA II. NÍVEIS DE FLUTUAÇÃO DE REFERÊNCIA (PU) TABELA IV. LIMITES DE DESVIOS DE FREQUÊNCIA
Referência PstD95% PltS95%
Faixa Duração (s)
Adequada Pst < 1/TF Plt < 0,8/TF
Precária 1/TF < Pst ≤ 2/TF 0,8/TF < Plt ≤ 1,6/TF f < 56,5Hz ou f > 66Hz Não permitido
Crítica Pst > 2/TF Plt > 1,6/TF f < 57,5Hz 5s
f < 58,5Hz ou f > 63,5Hz 10s
F. Variação de Tensão de Curta Duração f > 62Hz 30s
diversas frequência de modulação. As barras apresentam os [5] Procedimentos de Rede - Submódulo 25.6 - Indicadores de qualidade
de energia elétrica - freqüência e tensão, Ver. 1.1, ONS, Brasil, 2010.
resultados dos medidores (conforme legenda). O erro relativo
[6] IEC Testing and measurement techniques: Flickermeter, IEC Standard
entre o valor medido pelo MD e o aferidor é grafado com 61000-4-15, Ed. 1.1, 2003.
uma linha. O Eixo esquerdo apresenta os valores de Sf, em [7] IEC Testing and measurement techniques - Power quality measurement
pu. O eixo direito o erro, em %. Os erros não ultrapassam methods, IEC Standard 61000-4-30, Ed. 2.0, 2008.
[8] IEC Testing and measurement techniques - General guide on harmon-
±5%, o que significa um bom desempenho.
ics and interharmonics measurements and instrumentation, for power
supply systems and equipment connected thereto, IEC Standard 61000-
VII. CONCLUSÕES 4-7, Ed. 2.0, 2002.
[9] IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic Con-
trol in Electric Power Systems, IEEE Standard 519 (unapproved) Draft
Neste artigo abordou-se o desenvolvimento de um medidor
Version 3, 2008.
de QEE de baixo custo e vários aspectos da Norma brasileira. [10] IEEE Recommended Practices for Monitoring Electric Power Quality,
Com desempenho adequado e excelente relação custo- IEEE Standard 1159, 2009.
benefício, o MD atende às necessidades da concessionária [11] Electricity Supply - Quality of Supply - Part 1: Minimum standards,
NRS 048-2, Ed. 1, South Africa, 1996.
perante a Norma e permite um monitoramento amplo a custos
[12] R. G. Koch, P. Balgobind, and E. Tshwele, “New developments in the
reduzidos, propiciando uma contribuição significativa no management of power quality performance in a regulated environ-
levantamento dos índices de qualidade da rede elétrica e, ment,” in 6th IEEE Africon Conference in Africa, 2002, vol. 2, pp.
consequentemente, na melhoria dos mesmos. 835-840.
[13] Electricity Supply - Quality of Supply - Part 2: Voltage characteristics,
Um conjunto de 30 medidores foi fabricado para avaliação.
compatibility leves, limits and assessment methods, NRS 048-2, Ed. 2,
Para pesquisas futuras são propostos: otimização do fir- South Africa, 2003.
mware, ampliação da capacidade de processamento e simpli- [14] M. H. J. Bollen and I. Y. H. Gu, Signal Processing Of Power Quality
ficações do hardware, visando redução dos custos. Disturbances. New York: John Wiley & Sons., 2006.
[15] A. V. Oppenheim, A. S. Willsky, and S. H. Nawab, Signals and Sys-
tems, Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1996.
VIII. AGRADECIMENTOS [16] G. P. Colnago, J. L. F. Vieira, G. C. D. Sousa, E. Trarbach, J. R. Mace-
do, and L. B. B. Macieira, “Development and Implementation of a
Os autores agradecem à ANEEL e à EDP ESCELSA, que Voltage Real-Time Monitor System of Electrical Network with Remote
Access,” in ICREPQ’10 - International Conference on Renewable En-
financiou integralmente o projeto.
ergies and Power Quality, Spain, 2010, paper 299.
[17] CBEMA, “ITI (CBEMA) Curve Application Note,” CBEMA, Tech.
REFERÊNCIAS Committee 3 (TC3) of the ITI Council, 2000.
[18] M. Piekarz, M. Szlosek, Z. Hanzelka, A. Bien, A. Stankiewicz, and M.
[1] PRODIST - Módulo 8 - Qualidade da Energia Elétrica, Revisão 2, Hartman, “Comparative Tests of Flickermeters,” in 10 th International
ANEEL, Brasil, 2011. Conference on Harmonics and Quality of Power, 2002, vol. 1, pp. 220-
[2] G. P. Colnago, “Desenvolvimento e Implementação de um Sistema de 227, Rio de Janeiro, Brazil.
Monitoramento em Tempo Real da Tensão da Rede com Acesso Re- [19] J. Ruiz, A. Lazkano, E. Aramendi, and L. A. Leturiondo, “Analysis of
moto,” Dissertação de Mestrado, Dept. Eng. Elétrica, UFES, Vitória, Sensitivity to the main parameters involved in the digital implementa-
2009. tion of the UIE Flickermeter,” in 10th Mediterranean Electrotechnical
[3] M. Oliveira, I. Camargo, F. Figueiredo, and J. E. Tanure, “Power quali- Conference, 2000, vol. II, pp. 823-826.
ty standards in Brazil during electricity industry restructuring pro- [20] G. P. Colnago, J. L. F. Vieira, G. C. D. Sousa, and J. R. Macedo Jr.,
gram,” in Power Engineering Society Summer Meeting, 1999, vol. 1, “Real Time Power Quality Monitoring System according to New Bra-
pp. 124-128. zilian Regulation Policies,” in 14th International Conference on Har-
[4] J.E. Tanure and J.W.M. Lima, “Quality of electrical energy: incentives monics and Quality of Power, Italy, 2010, pp 1-8.
and penalties,” in International Conference on Electric Power Engi-
neering, 1999, pp. 50.