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CURSO DE DIREITO
VILA VELHA
2009
MARIANA SARMENTO DUARTE
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Profa. Esp. Denise Galvêas Terra
Centro Universitário Vila Velha
Orientadora
___________________________________
Prof. Ms. Lindolivo Soares Moura
Centro Universitário Vila Velha
Examinador
Este trabalho é dedicado a toda e
qualquer pessoa que nele pousar os
olhos e dedicar um pouco de
atenção às inquietações que o
originaram.
AGRADECIMENTOS
Ao meu pai Dário, por segurar forte em minhas mãos no decorrer deste curso,
a despeito da distância geográfica; e a minha mãe Édina, por ter secado as
lágrimas que teimavam em brotar dos meus olhos e turvar minha visão do
futuro.
Ao Renan, meu namorado e amigo, por entender que nem sempre consigo
conciliar todas as coisas ao mesmo tempo, mas principalmente por
compreender meus inúmeros momentos de ausência e ainda assim estar ao
meu lado.
Enfim, a toda pessoa que de alguma forma haja colaborado para a formação
da minha personalidade como ser pensante e consciente de seu papel social,
meu muito obrigada!
Hannah Arendt
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................08
O presente trabalho monográfico tem por objetivo apontar, com base nos
estudos realizados, possíveis soluções para se evitar o dano secundário
causado pela despreocupada atuação da Justiça em interrogatórios de
crianças sexualmente abusadas.
Para tanto, parte-se dos conceitos gerais de violência e abuso sexual para se
chegar a uma exposição dos dois tipos de abusos sexuais existentes:
intrafamiliar e extrafamiliar.
1
Previamente, devem ser definidos os termos “criança” e “adolescente”. Para a Convenção dos Direitos
da Criança de 1989, criança é todo ser humano com idade inferior a dezoito anos. Entretanto, para o
regimento jurídico pátrio, o Estatuto da Criança e do Adolescente definiu, em seu artigo 2º, “criança” como
sendo a pessoa de até 12 anos incompletos, e o “adolescente” entre 12 e 18 anos de idade.
2
PAIR (Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto
juvenil no Território Brasileiro). Disponível em: <http://www.caminhos.ufms.br>. Acesso em 05 out. 2009.
Os números, a despeito de não condizerem fidedignamente com a real
demanda de casos de abusos sexuais, são alarmantes: segundo o Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), no Brasil,
anualmente, 6,5 milhões de crianças sofrem algum tipo de violência
intrafamiliar; 18 mil crianças e adolescentes são espancados diariamente e 300
mil menores são vítimas de atos sexuais incestuosos 3.
Foi instituído no país, através da Lei Federal nº. 9.970/00, o dia 18 de maio
como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças
e Adolescentes.
3
Criado em 12 de outubro de 1991 pela Lei nº. 8.242, o CONANDA é um órgão deliberativo e controlador
das políticas de promoção, garantia e defesa dos direitos da criança e do adolescente. In CONANDA.
Gestão 2001-2005. Disponível em: <www.senado.gov.br>. Acesso em 06 out. 2009.
4
ROSA, Regina. Não ao abuso sexual infantil. Disponível em: <http://sexxxchurch.com/?page_id=180>.
Acesso em: 16 set. 2009.
5
CHAUÍ, Marilena. Ética e Violência. Revista Teoria e Debate, São Paulo: Fundação Perseu Abramo, n.
39, 1998. Disponível em: <http://www.fpa.org.br>. Acesso em 08 set. 2009.
Tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser
[...]; todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a
liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar) [...].
O abuso sexual figura, então, como uma das diversas e, por vezes, ocultas
facetas da violência infantil, e nem sempre o ato abusivo per si é de fácil
definição, eis que:
7
GAUDERER, Christian. Crianças, adolescentes e nós – guia prático para pais, adolescentes e
profissionais. 2 ed. RJ: Revinter, 1998, p. 159.
2.3.1 Abuso sexual intrafamiliar
Dobke (2001) reportando-se aos estudos realizados por Barudy (1998), afirmou
que há três fases de desenvolvimento do processo abusivo doméstico, quais
sejam fase da sedução, fase da interação sexual abusiva e fase do segredo.
8
Cogente pontuar que “é necessário separar abuso sexual de incesto. O incesto é qualquer tipo de
contato sexual entre parentes do mesmo sangue e afins, desde que sejam adultos e a relação não seja
atravessada pelo poder. Nesse caso, eles apenas infringem uma norma social. Já o sexo com crianças é
um abuso, porque ela não tem a capacidade de consentir” SAFFIOTI, H. I. Faces da Violência Doméstica.
Folha de São Paulo, São Paulo: p. 07, 11.01.98.
A primeira fase consiste na manipulação, por parte do abusador, da
dependência e da confiança da sua pequena vítima, encorajando-a e
impelindo-a a participar dos atos sexuais; consentâneo à esta incitação, faz a
criança acreditar que estes atos consistem em simples e normais brincadeiras
entre pais e filhos (DOBKE, 2001, p. 29).
A segunda fase desenvolve-se num processo vagaroso porém gradativo,
iniciando com comportamentos exibicionistas, passando às carícias sexuais e
culminando em atos sexuais mais evidentes.
Para Furnis (1997), o abusador tem consciência de que os atos por ele
praticados são errados e passíveis de punição caso sejam descobertos;
entretanto, é compulsivamente impelido a praticá-lo repetidamente. A criança
ou o adolescente que é vítima do indivíduo abusador figura como um objeto de
excitação sexual.
12
BITENCOURT, Luciana Potter. Vitimização Secundária Infanto-Juvenil – Por uma Política Pública de
Redução de Danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 58.
13
CAVAGGIONI, Adriana. O uso do abuso sexual: o outro lado da história. Disponível em:
<http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=333>. Acesso em: 16 set. 2009.
relação entre a pessoa que abusou e a criança; a ausência de figuras parentais
protetoras e o grau de segredo.
Lesões físicas em geral: lesões causadas pelo ato em si, que vão desde
hematomas até a própria morte da vítima.
Lesões genitais: geralmente ocorrem na vulva, com mais freqüência
quando os órgãos genitais ainda não estão maduros para a prática do ato
sexual; dependem da violência e da força empregadas pelo abusador.
Lesões anais: normalmente ocorre sangramento intenso com
conseqüentes lesões; em um grau crescente de traumatização poderá
ocorrer rotura da esfíncter anal, ocasionando a perda involuntária de
fezes;
Doenças sexualmente transmissíveis: o contágio se dá pelo ato sexual ou
pelos atos que precederam o coito; podem ser citadas sífilis, gonorréia,
herpes genital e AIDS.
14
Vide ementa: SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR. ABUSO SEXUAL. MEDIDA DE PROTEÇÃO À
FILHA. SITUAÇÃO DE RISCO. 1. Os casos de abuso sexual são extremamente graves, sendo que a
palavra da vítima tem especial relevância, mormente quando a violência vem corroborada pelos demais
elementos de convicção. 2. Impõe-se a suspensão do poder familiar da genitora quando existem indícios
veementes de que o padrasto praticou atos de violência sexual contra a enteada, e ela não tomou
providência alguma para proteger a filha, sendo que, após ter mais ecimento do fato, ainda continuou a
conviver com o mesmo e até se revoltou contra a filha. Incidência do art. 1.638, inc. III, do CCB. 3. A
suspensão do poder familiar é necessária para que a adolescente tenha condições de se desenvolver de
forma saudável e desfrutar de uma vida melhor, mais equilibrada e feliz. 4. Como a filha foi vitimada por
um ambiente familiar doentio, imperiosa a aplicação de medida de proteção. Incidência do art. 101, inc. V,
do ECA. Recurso desprovido. (TJ-RS - Apelação Cível nº 70031419815, 7ª Câmara Cível. Des. Rel.
Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves. j. 30/09/2009. p. 30/09/2009). RIO GRANDE DO SUL, Tribunal
de Justiça. Disponível em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em 15 out. 2009.
15
Vide ementa: APELAÇÃO CRIMINAL - CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL - ESTUPRO E
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR - SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO - ABSOLVIÇÃO -
INADMISSIBILIDADE - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - PALAVRA DA VÍTIMA -
REDUÇÃO DAS PENAS - CONTINUIDADE DELITIVA - POSSIBILIDADE. 1. Restando comprovadas a
materialidade e autoria dos delitos, não há que se falar em absolvição por insuficiência de provas, pois em
se tratando de crimes contra a liberdade sexual e de delito conexo de seqüestro e cárcere privado, a
palavra da vítima prevalece sobre a negativa do agente, ainda mais quando corroborada por outros
elementos de prova. 2. Constatando-se que as penas do agente foram fixadas com certa exacerbação,
pois sendo este primário e possuidor de circunstâncias judiciais em sua maioria favoráveis, a pena deve
tender para o mínimo legal ou próximo deste. 3. Em que pese ao dissenso pretoriano, é de se reconhecer
a continuidade delitiva entre os delitos de estupro e de atentado violento ao pudor, pois sendo estes da
mesma espécie, posto que atingem o mesmo bem jurídico protegido, ou seja, a liberdade sexual,
sucessivamente praticados nas mesmas condições de tempo, lugar, modo de execução, estão ligados
pelo nexo de continuidade, havendo, assim, a incidência da regra prevista no art. 71 do CP. 4. Recurso
parcialmente provido” (TJ-MG - Apelação Criminal nº. 1.0141.07.001367-9/001(1). 1ª Câmara Criminal.
Des. Rel. Judimar Biber. j. 18/08/2009. p. 22/09/2009). MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça. Disponível
em: <www.tjmg.jus.br>. Acesso em 15 out. 2009.
a investigação em andamento, a despeito de sua idade e do crime a que foi
submetida.
16
José Antônio Daltoé Cezar é natural de Porto Alegre/RS. Especializou-se em Direito da Criança e do
Adolescente pela Fundação Escola do Ministério Público do Rio Grande do Sul em 2006. Atua como Juiz
da Infância e Juventude desde o ano de 1996, sendo atualmente titular da 2ª Vara do da Infância e
Juventude da Comarca de Porto Alegre/RS. Mentor do “Projeto Depoimento Sem Dano”, adotado na
mencionada Vara em 2003 e implantado institucionalmente pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
em 2004.
É ilógico conceber dentro do Estado Democrático de Direito um Estado-
Sociedade que não se preocupa com o bem-estar de suas crianças e
adolescentes, especialmente quando eles são vítimas de crimes sexuais.
17
BITENCOURT, Luciana Potter. Vitimização Secundária Infanto-Juvenil – Por uma Política Pública de
Redução de Danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 90.
Conforme visto anteriormente, o dano secundário decorre, principalmente, da
má condução da oitiva judicial de vítimas de abusos sexuais, mormente quando
estas são crianças ou adolescentes. É uma conseqüência direta tanto do
despreparo de considerável maioria dos operadores do Direito em lidar tanto
com temas correlatos às práticas sexuais abusivas e com as próprias vítimas
dos abusos, quanto da impropriedade do aparato judicial.
Diante disso, questiona-se: quais soluções podem ser adotadas pelo Poder
Público para se reduzir o dano secundário em crianças e adolescentes vítimas
de práticas sexuais abusivas?
A denominada Câmara de Gesel consiste em uma sala com uma das paredes
feita em vidro espelhado unidirecional, que permite a quem estiver do lado de
fora da sala não ser enxergado por quem se encontre no interior da mesma.
A realização da oitiva da judicial da vítima em uma sala como esta tem por
objetivo impedir o contato direto entre vítima e agressor, uma vez que tanto
operadores do Direito quanto o próprio réu não são vistos pela vítima, eis que
se postam do lado de fora da sala, atrás do vidro espelhado.
Para que a oitiva judicial das pequenas vítimas seja substituída por uma
avaliação técnica, é necessária a aquiescência tanto da defesa do acusado
quanto da acusação.
Veja-se:
Insta salientar que parte dos estudiosos do tema defende que esta prática fere
os princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do devido
processo legal, eis que a defesa técnica e pessoal do acusado, corolários
destes princípios, restaria prejudicada.
Necessário se faz que tanto aqueles que aplicarão a lei, quanto aqueles que
são custus legis da mesma e os que defenderão seus clientes da aplicação das
sanções penais, sejam preparados tecnicamente para a árdua tarefa que se
impõe: zelar pela devida aplicação da Justiça sem que, em troca da obtenção
inveterada de um resultado favorável a qualquer uma das partes da lide
judicial, seja infligido à vítima um dano tão ou mais profundo do que o abuso
sexual sofrido anteriormente, do qual a recuperação psicológica é deveras
difícil.
Insta salientar que as perguntas iniciais são formuladas pelo magistrado, mas
no caso desta modalidade de tomada de depoimento, em regra, o “intérprete”
também as realiza, desde que assim seja previamente autorizado pelo juiz.
Caberá ao “intérprete” repassar (ou fazer, se for o caso) à vítima as perguntas
da melhor maneira possível, com o intuito de não lhe causar constrangimentos,
e também interpretar os resultados obtidos da inquirição.
19
Entre os anos de 2003, quando foi iniciado o Projeto, e 2005, após completar trinta e dois meses de
funcionamento, foram realizadas, nos moldes do Projeto DSD, 398 inquirições, assim distribuídas: 55 no
ano de 2003, 138 no ano de 2005 e 205 no ano de 2005 (Cezar, 2007, p. 64).
acrescenta o Art. 469-A ao Decreto-Lei nº 3.689 de 03 de outubro de
1941 – Código de Processo Penal20.
20
SENADO FEDERAL. Disponível em: <www.senado.gov.br>. Acesso em: 27 out. 2009.
21
Informação obtida através do site <www.magrs.net>. Acesso em: 28 out. 2009.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tais propostas não são apenas pensadas; antes, são colocadas em prática,
servindo de exemplo e objeto de reflexão para a comunidade jurídica, além de
tornar menos sofrida a realidade de crianças e adolescentes expostos a um
sistema estatal precário e despreocupado.
REFERÊNCIAS:
BALLONE, Geraldo José. Abuso sexual infantil. Word Virtual Psychiatric and
Mental Health Association. Disponível em: <www.virtualpsy.org>. Acesso em:
08 set. 2009.
CÉZAR, José Antônio Daltoé. Depoimento Sem Dano – Uma alternativa para
inquirir crianças e adolescentes nos processos judiciais. Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2007.
CÉSPEDE, Lívia et al (colab.) Vade Mecum, 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
Artigo 201 ao artigo 225 do Código de Processo Penal Brasileiro (Decreto-Lei nº. 3.689 de 03
de outubro de 1941)
CAPÍTULO V
DO OFENDIDO
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar,
tomando-se por termo as suas declarações. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido
poderá ser conduzido à presença da autoridade. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 2o O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos
que a mantenham ou modifiquem. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 3o As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado,
admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de
2008)
§ 4o Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço
separado para o ofendido. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 5o Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento
multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a
expensas do ofensor ou do Estado. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 6o O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada,
honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação
aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar
sua exposição aos meios de comunicação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
CAPÍTULO VI
DAS TESTEMUNHAS
Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que
souber e Ihe for perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua
residência, sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de
alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e relatar o que souber,
explicando sempre as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se
de sua credibilidade.
Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo permitido à testemunha
trazê-lo por escrito.
Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto,
recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que
desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for
possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.
Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício
ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem
dar o seu testemunho.
Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes
mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.
Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das
indicadas pelas partes.
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas se
referirem.
§ 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que interesse à
decisão da causa.
Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo que umas não
saibam nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas
cominadas ao falso testemunho. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua realização, serão
reservados espaços separados para a garantia da incomunicabilidade das testemunhas.
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que alguma testemunha fez
afirmação falsa, calou ou negou a verdade, remeterá cópia do depoimento à autoridade policial
para a instauração de inquérito.
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou
importarem na repetição de outra já respondida. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a
inquirição. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais,
salvo quando inseparáveis da narrativa do fato.
Art. 215. Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, tanto quanto possível, às
expressões usadas pelas testemunhas, reproduzindo fielmente as suas frases.
Art. 216. O depoimento da testemunha será reduzido a termo, assinado por ela, pelo juiz
e pelas partes. Se a testemunha não souber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém
que o faça por ela, depois de lido na presença de ambos.
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo
deverá constar do termo, assim como os motivos que a determinaram. (Incluído pela Lei nº
11.690, de 2008)
Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem
prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das
custas da diligência. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 2o Os militares deverão ser requisitados à autoridade superior. (Redação dada pela Lei
nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 3o Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art. 218, devendo, porém, a
expedição do mandado ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que
servirem, com indicação do dia e da hora marcados. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do
lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável,
intimadas as partes.
§ 2o Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a
precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos.
§ 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser
realizada por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive,
durante a realização da audiência de instrução e julgamento. (Incluído pela Lei nº 11.900, de
2009)
Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua
imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio. (Incluído pela Lei nº
11.900, de 2009)
Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos §§ 1 o e 2o do art. 222 deste
Código. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
Art. 223. Quando a testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intérprete
para traduzir as perguntas e respostas.
Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por
velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de
ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.
ANEXO B
ARTICULO 1° — Incorpórase al libro II, título III, capítulo IV del Código Procesal Penal de la
Nación, el artículo 250 bis, el que quedará redactado en los siguientes términos:
Cuando se trate de víctimas de los delitos tipificados en el Código Penal, libro II, título I,
capítulo II, y título III, que a la fecha en que se requiriera su comparecencia no hayan cumplido
los 16 años de edad se seguirá el siguiente procedimiento:
a) Los menores aludidos sólo serán entrevistados por un psicólogo especialista en niños y/o
adolescentes designado por el tribunal que ordene la medida, no pudiendo en ningún caso ser
interrogados en forma directa por dicho tribunal o las partes;
d) A pedido de parte o si el tribunal lo dispusiera de oficio, las alternativas del acto podrán ser
seguidas desde el exterior del recinto a través de vidrio espejado, micrófono, equipo de video o
cualquier otro medio técnico con que se cuente. En ese caso, previo a la iniciación del acto el
tribunal hará saber al profesional a cargo de la entrevista las inquietudes propuestas por las
partes, así como las que surgieren durante el transcurso del acto, las que serán canalizadas
teniendo en cuenta las características del hecho y el estado emocional del menor.
Cuando se trate de actos de reconocimiento de lugares y/o cosas, el menor será acompañado
por el profesional que designe el tribunal no pudiendo en ningún caso estar presente el
imputado.
ARTICULO 2° — Incorpórase al libro II, título III, capítulo IV del Código Procesal Penal de la
Nación, el artículo 250 ter, el que quedará redactado en los siguientes términos:
Cuando se trate de víctimas previstas en el artículo 250 bis, que a la fecha de ser requerida su
comparecencia hayan cumplido 16 años de edad y no hubieren cumplido los 18 años, el
tribunal previo a la recepción del testimonio, requerirá informe de especialista acerca de la
existencia de riesgo para la salud psicofísica del menor en caso de comparecer ante los
estrados. En caso afirmativo, se procederá de acuerdo a lo dispuesto en el artículo 250 bis.
Dada en la sala de sesiones del Congreso Argentino, en Buenos Aires, a los cuatro dias del
mes de diciembre del año dos mil tres.
ANEXO C
Art. 1º. Esta Lei acrescenta a Seção VIII no Capítulo III – Dos Procedimentos – do Título VI –
Do Acesso à Justiça – da Parte Especial da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da
Criança e do Adolescente, dispondo sobre a forma de inquirição de testemunhas e produção
antecipada de prova quando se tratar de delitos tipificados no Título VI, Capítulo I, do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 — Código Penal, com vítima ou testemunha criança
ou adolescente e acrescenta o Art. 469-A ao Decreto-Lei nº 3.689 de 03 de outubro de 1941 –
Código de Processo Penal.
Art. 2.º Acrescenta-se ao Capítulo III do Título VI da Parte Especial da Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990, a seguinte Seção VIII:
“Seção VIII
Disposições Especiais Relativas à Inquirição de Testemunhas e Produção Antecipada de Prova
nos Crimes Contra a Dignidade Sexual com Vítima ou Testemunha Criança ou Adolescente
Subseção I
Da Inquirição de Testemunhas
II – Por motivo de idade do depoente, para que a perda da memória dos fatos não advenha em
detrimento da apuração da verdade real;
III – Para evitar a revitimização do depoente, com sucessivas inquirições sobre o mesmo fato,
nos âmbitos criminal, cível e administrativo.
III — A inquirição será intermediada por profissional devidamente designado pela autoridade
judiciária, o qual transmitirá ao depoente as perguntas do Juiz e das partes;
IV — O depoimento será registrado por meio eletrônico ou magnético, cuja degravação e mídia
passarão a fazer parte integrante do processo.
Parágrafo único: A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes, poderá adotar
idêntico procedimento em relação a crimes diversos dos tutelados por esta Seção, quando, em
razão da natureza do delito, forma de cometimento, gravidade e conseqüências, verificar que a
presença da criança ou adolescente na sala de audiências possa prejudicar o depoimento ou
constituir fator de constrangimento em face de sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
Subseção II
Da Produção Antecipada de Provas
Art. 197-C Para apuração dos crimes previstos no artigo anterior será permitida a produção
antecipada de prova.
Art. 197-D O pedido de produção antecipada de prova poderá ser determinado de ofício pelo
Juiz ou proposto por pelo Ministério Público ou advogados das partes, através de manifestação
fundamentada, com referência aos fatos sobre os quais a prova haverá de recair.
§ 2º Sendo hipótese de prova pericial, esta deverá ser realizada por perito oficial ou, na falta,
por duas pessoas idôneas, portadoras de curso superior, nomeadas pelo Juiz, facultada a
indicação de assistentes técnicos e apresentação de quesitos.
Art. 469-A Nos processos de competência do Tribunal do Júri, tendo a inquirição do depoente
sido realizada na forma da Seção VIII do Capítulo III do Título VI da Parte Especial da Lei nº
8.069 de 13 de julho de 1990, poderá a autoridade judiciária indeferir a sua reinquirição em
plenário quando houver justo receio de que esta possa causar-lhe quaisquer dos danos
elencados no Art. 197-A da referida Lei.”