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Edição 21, volume 1, artigo nº 10, Abril/Junho 2012

D.O.I: http://dx.doi.org/10.6020/1679-9844/2110

A DROMOCRACIA CIBERCULTURAL NAS REDES SOCIAIS


DIGITAIS
Matheus Carvalho de Mattos1, Carlos Henrique Medeiros de Souza2, Fernanda
Castro Manhães3
1
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro-UENF/Campos dos Goytacazes, Rio de
Janeiro, Brasil. matheuscarvalhodemattos@gmail.com
2
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro-UENF/Campos dos Goytacazes, Rio de
Janeiro, Brasil. chmsouza@gmail.com

3
Faculdade Metropolitana São Carlos/ Rio de Janeiro, Brasil. castromanhaes@gmail.com

Resumo – As Redes Sociais Digitais constituem um novo e poderoso


veículo de comunicação entre as pessoas. Neste novo contexto temos
grupos, sociedades e culturas interagindo entre si e formando, neste novo
ambiente, o que chamamos Cibercultura, que abrange e é composta
também por muitos outros recursos e costumes baseados na cultura
tradicional e disponibilizados na Internet. Tudo isso veem sistematicamente
revolucionando o processo de comunicação interpessoal. Atrelado a todo e
qualquer processo de avanço tecnológico estão os efeitos e consequências,
hora positivos e hora negativos, que se acentuam de acordo com a
velocidade de tal evolução. A especificação, estudo de causa e
consequências dos efeitosespecialmente “negativos” é denominada
Dromocracia. Neste artigo trataremos das Redes Sociais Digitais como
tema de estudo, análise e exemplo de Dromocracia Cibercultural,ou seja,
dos aspectos negativos impostos pelo velocidade fenomenal com que este
tipo de recurso evolui e se modifica para atender novas demandas e acaba
deixando no seu rastro uma série de problemas, de ordem principalmente
social e cultural, à boa parte de seus participantes ou usuários.

Palavras-chave: Dromocracia Cibercultural, Ciberespaço, Cibercultura,


Redes Sociais Digitais

Abstract – DigitalSocial Networksareapowerful newmeans of


communicationbetween people.In thisnew contextwe have groups, societies
and cultures interact with each otherand formingin thisnew environment,
what we call Cyberculture, which covers and isalso composedmany other
features andcustoms basedon traditional culture andmade availableon the
Internet.All thissystematicallyseerevolutionizingthe process ofinterpersonal
communication.Tied toanyprocess of technological advancearethe

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effectsand consequences,hoursandhourspositivenegative, which are
accentuated in accordancewith the speed ofthis evolution. Specification,
study of causesand consequencesof the effectsespecially "negative" is
calledDromocracy. In this article weSocial NetworksDigitalas the subject
ofstudy, analysis andDromocracy cyberculturalexample, or the negative
aspectsimposed by thephenomenal speedwith which thistype
offeaturechangesandevolvesto meetnew demands andend up leavingin its
wakeaseries ofproblems,mainly socialand culturalorder, themostof its
participants orusers.

KeyWords: Dromocracy cybercultural, Cyberspace, Cyberculture, Social


Networking, Digital.

1. Considerações iniciais

Para o correto entendimento de toda a questão envolvendo a Dromocracia


Cibercultural evidenciada nas Redes Sociais Digitais, é necessário que discorramos,
sobre alguns conceitos e elementos envolvidos neste contexto, para que, mais
adiante, possamos conectar com mais facilidade nossas idéias e atingir o objetivo
principal deste pequeno estudo: destacar os problemas trazidos pelas Redes Sociais
Digitais que evoluem vertiginosamente não propiciando, à maior parte de seus
usuários, o tempo necessário para que eles se adaptem a este novo universo e
todas as suas exigências e cuidados necessários à sua correta utilização.

O conceito de redes é abordado por diversos estudiosos em variadas


vertentes. Segundo Pierre Musso (2004), a idéia de rede existe na mitologia através
do imaginário da tecelagem e do labirinto. Na Antiguidade, Hipócrates em sua
Medicina, a associa à metáfora do organismo em que “(...) todas as veias se
comunicam e se escoam de umas para as outras; com efeito, umas entram em
contato com elas mesmas, outras estão em comunicação pelas vênulas, que partem
das veias e que nutrem as carnes”. (MUSSO, 2004, pp. 17-18).

A palavra designa, portanto, ainda segundo o mesmo autor, redes de caça ou


pesca e tecidos, uma malhagem têxtil envolvendo o corpo. “Fios entrelaçados para
os tecidos, os cordéis ou cestas, as malhas ou tecidos, estão em torno do corpo”.
(MUSSO, 2004, p. 18).

Na virada do século XVIII para o XIX, há uma “ruptura” no conceito, com sua

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saída do corpo. “A rede não é mais apenas observada sobre ou dentro do corpo
humano, ela pode ser construída”. (MUSSO, 2004, p. 20). Ela se torna autônoma,
artificial, ao invés de natural, pode ser construída, visto que “se torna objeto pensado
em sua relação com o espaço. Ela se exterioriza como artefato técnico sobre o
território para encerrar o grande corpo do Estado-Nação ou do planeta”. (MUSSO,
2004, p. 20).

Assim como essa trama, esse emaranhado que dá forma à malhagem,


observa-se que a forma organizacional da sociedade se perpetua desta maneira, em
torno das redes sociais. Ou, como defende o sociólogo alemão Georg Simmel, é
feita de agregações, separações, coletividade e individualidade, sucessivas e
simultâneas.

Essa dinâmica social é descrita pelo sociólogo em seu ensaio A ponte e a


porta, de 1909, por meio da metáfora da ponte e da porta. A ponte, para o
pesquisador, provê a realidade visível da distância em relação ao outro, instaurando
o desejo de perpetuar o elo de ligação com este. Esta seria a imagem do desejo
dessa ligação, dessa agregação, que é próprio da vida em sociedade.

A porta, segundo Simmel (1909), seria aquela que separa, que mantém a
interioridade, a individualidade, que não quer contato profundo com o outro, que
fecha o homem em si mesmo, evitando a socialização. Entretanto, ela seria essa
socialização que mantém essas distâncias que compõem o indivíduo. Para o
sociólogo, a vida social se estabelece neste ciclo de passagens sucessivas, com
indivíduos que se agregam e que se isolam da ponte à porta e vice-versa. A
metáfora de Simmel, criada no início do século passado, caracteriza, de forma clara,
a vida contemporânea em sociedade.

Michel Maffesoli (1998), inspirado em Simmel, colabora para o entendimento


deste método de agregação social dos indivíduos com sua metáfora de tribos, a rede
das redes, onde “redes” também são as pessoas.

(...) as coisas, as pessoas, as representações se propagam por um


mecanismo de proximidade. Assim, é por contaminações sucessivas que se
cria aquilo que é chamado de realidade social. Através de uma seqüência
de cruzamentos e de entrecruzamentos múltiplos se constitui em uma rede
das redes. Os diversos elementos limitam-se entre si, formando, assim, uma

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estrutura complexa. Entretanto, a oportunidade, o acaso, o presente
representam nela uma parte não negligenciável. E isso dá ao nosso tempo
o aspecto incerto e estocástico que conhecemos bem. O que não impede,
por pouco que se saiba ver, que nela esteja agindo uma organicidade sólida
que sirva de base às novas formas de (...) socialidade. (MAFFESOLI, 1998,
pp.205-206).

Essas adesões sociais, essas passagens sucessivas dos indivíduos, são


cruzamentos múltiplos que constituem a estrutura das redes. Maffesoli (1998)
continua interpretando a lógica das redes ressaltando que, em uma sociedade
complexa, cada um vive uma série de experiências que não tem sentido, senão
dentro do contexto global. O indivíduo participa de:

(...) uma multiplicidade de tribos, às quais se situam uma com relação às


outras. Assim, cada pessoa poderá viver sua pluralidade intrínseca,
ordenando suas diferentes “máscaras” de maneira mais ou menos conflitual,
e ajustando-se com as outras “máscaras” que a circundam. Eis aí, como
podemos explicar, de alguma forma, a morfologia da rede. Trata-se de uma
construção que, como certas pinturas, valorizam todos os seus elementos,
sejam eles os mais minúsculos ou os mais insignificantes. (MAFFESOLI,
1998, p.207).

As conceituações sobre sociabilidade em grupos, redes, apresentadas por


Simmel e Maffesoli são os prenúncios do que entende-se, na atualidade, por Rede
Social, uma estrutura social composta por pessoas e organizações que estão
conectados por relações e compartilham valores e objetivos comuns, um termo que
sugere fluxo, movimento, apontando os padrões das relações que incorporam os
conceitos utilizados tradicionalmente pela sociedade.

Maffesoli ainda ressalta uma característica marcante nessa sociabilidade, ao


afirmar que dentro de um grupo particular, inúmeros de seus membros participam de
múltiplas tribos que se retroalimentam. Esse entrelaçamento é “(...) uma
característica morfológica da agregação social de que nos ocupamos”.
(MAFFESOLI, 1998, p.205)

Rede Social é uma expressão cunhada do pesquisador J. A. Barnes,


apresentada pela primeira vez em uma comunicação em 1953 e publicada em 1954.
Foi empregada para descrever como noções de igualdade de classes eram
utilizadas e de que forma indivíduos usavam laços pessoais de parentesco e

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amizade em Bremnes, uma comunidade da Noruega. O autor se inspirou nas idéias
de Radcliffe-Brown (1940) que já falava sobre estrutura social como uma rede de
relações. (BARNES, 1987, pp. 160-161-164).

Portanto, Barnes introduz a idéia de redes sociais ao perceber a rede social


como uma rede na qual todos os membros da sociedade ou parte da sociedade
estão imersos. Como membro de uma rede, o indivíduo é percebido como uma
pluralidade de relações. Para Barnes, Elizabeth Bott teria sido uma das primeiras
antropólogas a usar a idéia de rede enquanto uma ferramenta de análise dos
relacionamentos entre pessoas, seus elos pessoais e entre as organizações do
contexto em que se inserem. Na metáfora de Radcliffe (1940), a rede social envolve
todos os membros da sociedade, que existem independentemente de qualquer
investigador. (BARNES, 1987, p.161).

Há diversas abordagens sobre Redes nas mais variadas áreas de


conhecimento e, portanto, não se resumem às que são apontadas nessa pesquisa.
Entretanto, entende-se que as versões selecionadas e apresentadas aqui colaboram
para o entendimento do conceito no aspecto que interessa à pesquisa.

Estudiosos explicam que a noção de redes e redes sociais surge na


Antropologia. A primeira aproximação remontaria à Claude Lévi-Strauss com a
análise etnográfica das estruturas elementares de parentesco em As estruturas
elementares de parentesco (1949)1.

2. Um contexto de evolução

Ao tratar de assuntos pertinentes às Redes Sociais Digitais, este fenômeno


contagiante que vem arrebatando, um número de usuários cada vez maior, é
necessário levar em consideração que o que existe de novo, realmente, é a forma
de funcionamento. Muitos autores, estudiosos e entendidos no assunto usam
apenas o termo “Redes Sociais”. Tratar este fenômeno apenas desta forma pode ser
perigoso e causar nos desavisados e leigos a falsa impressão de que é algo
constituído há pouco tempo, ou ainda mais grave, que as Redes Sociais são sempre

1
Texto original: Simone de Beauvoir. 1949. “Les Structures Élémentaires de la Parenté, par Claude
Lévi-Strauss”. Les Temps Modernes 7(49): 943-9 (October). Tradução: Marcos P. D. Lanna
(UFSCar) e Aline Fonseca Iubel (PPGAS/UFPR).

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ligadas à Tecnologia da Informação, especialmente a Internet.

Podemos afirmar que as redes sociais existem há tanto tempo quanto existem
os homens. A formação de grupos de indivíduos com mesmas características,
intenções, costumes e que interagem entre si, caracteriza uma rede social. Um
indivíduo pode fazer parte de diversas redes sociais durante toda ou parte de sua
vida. A família, a escola, o esporte, a política, o lazer e a religião, por exemplo,
determinam a formação de muitas redes sociais nas quais o indivíduo acaba se
inserindo automaticamente. Outro fato importante é que cada rede social impõe aos
seus participantes algumas regras gerais que incidem diretamente nos seus
costumes, a forma de agir, no seu comportamento, no tratamento aos outros
indivíduos da mesma rede ou a outros indivíduos fora dela. São estas delimitações e
posturas comportamentais é que de fato farão com que um indivíduo se aproxime ou
se afaste de uma determinada rede social. É um processo de seleção natural.

Após esta breve explanação sobre redes sociais, já podemos compreender o


quão é importante tratarmos um dos objetos de nosso estudo como “redes sociais
digitais”que também podem ser chamadas de “redes sociais virtuais”. Antes mesmo
de abordar este novo elemento de nosso estudo, o “virtual”, vamos tratar de algo
que está atrelado às redes sociais digitais, que é a Cibercultura. Se as redes sociais
tradicionais giram em tornos das culturas de seus indivíduos e se já podemos
perceber que as redes sociais digitais se originaram das redes sociais tradicionais,
podemos deduzir com facilidade que o termo “cultura” também deu origem ao termo
“cibercultura”. Eugênio Trivinho, em sua obra “A DROMOCRACIA
CIBERCULTURAL”, 2007, p. 116, determina cibercultura da seguinte forma:

Cibercultura designa a configuração material, simbólica e imaginária da vida


humana correspondente à predominância mundial das tecnologias e redes
digitais avançadas, na esfera do trabalho, do tempo livre e do lazer.
(Trivinhos, 2007)

Pode-se observar que a cibercultura representa o conjunto de costumes,


conhecimentos, efeitos e impacto do avanço tecnológico em nossa vida cotidiana, do
pessoal ao profissional. É importante observarmos que estes costumes, agregados a
todo o aparato tecnológico disponível, são ainda baseados nos costumes
tradicionais.A internet representa ícone maior da cibercultura. Ela proporcionou a
integração virtual (através das redes digitais) de raças, culturas, credos, intercâmbio

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profissional e muito mais. É fato também que as Redes Sociais Digitais são um
subproduto da própria Internet e de tudo que ela possibilitou nos últimos tempos. É
um dos seus mais importantes resultados.

Agora temos entendimento necessário sobre a base das redes sociais


digitais, ou seja, as redes sociais tradicionais e a culturaambas turbinadas e
modificadas pela Internet gerando a cibercultura e as redes sociais digitais.Falta-nos
ainda entender melhor onde tudo isso acontece, qual é o ambiente? Neste momento
começamos a tratar do “Virtual” e tudo o que ele envolve. Na ótica de Pierre Lévy, o
virtual é uma atualização de algo que já existe concretamente. Uma releitura. Assim
podemos constatar que para existir o virtual deve-se, obrigatoriamente, existir o real,
o concreto. É se baseando na realidade que o Virtual se consuma. Claro, que em
muitos momentos, o virtual traz consigo a ficção, dando asas à imaginação e por
vezes proporcionando recursos que são, muitas vezes, encarados como algo
revolucionário, nunca visto antes,masna realidade, são apenas uma forma muito,
muito diferente de se fazer ou representar algo que na realidade, se fez ou se
apresentou de outra forma mais primitiva. Uma vez feitas abordagens sobre
aCiberculturae o Virtual é hora de conhecermos onde tudo se encaixa. Neste
momento é conveniente que contemplemos o que os autores Souza e Costa, em
seu artigo Fronteiras do Ciberespaço afirmam:

O ciberespaço é resultado da interação entre aspectos físicos e linguísticos.


Constitui-se a partir das instruções direcionadas à máquina (linguagem de
programação) e traduzidas para uma linguagem (código de máquina), para
que as operações instruídas sejam executadas corretamente, a partir dos
inputs dados pelos usuários dos programas.

Ainda neste mesmo artigo, Souza e Costa afirmam:

O ciberespaço é uma virtualização, a atualização em um lugar, de dados


registrados e outro lugar, interconectados por redes, e que, por suas
características técnicas de programação, permite a mediação da
comunicação entre seres humanos.

Somos agora aguçados e desvendar outros conceitos como lugar e espaço.


Recorremos neste momento a importante sociólogo de nosso tempo, Manuel
Castells, para ajudar-nos a entender melhor esta questão. Ele define espaço como
“[....] um produto material em relação a outros produtos materiais – inclusive as

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pessoas – os quais se envolvem em relações sociais [historicamente] determinadas
que dão ao espaço uma forma, uma função e um sentido social” (CASTELLS, 1999,
p. 500). O espaço é algo mais complexo e que contempla também, além dos
aspectos geográficos, por exemplo, o tempo. O tempo não apenas no sentido de
período de concepção, mas também como marco, posicionamento cronológico e
histórico sobre quando aquele “espaço” surgiu ou foi determinado. Já um lugar é
uma determinação de um local específico. Castells define lugar como [....] um local
cuja forma, função e significado, são independentes dentro das fronteiras da
contiguidade física” (CASTELLS, 1999, p. 512). Tudo isto se torna importante para
entender melhor o funcionamento das Redes Sociais Digitais. Elas contemplam a
atualização do real, ou seja, são virtuais. O real, que é atualizado pelo processo de
virtualização, se refere às culturas existentes em espaços geográficos levando em
consideração e efeito do tempo sobre elas. Logo estas culturas dão origem às
ciberculturas, que também baseadas em um espaço físico,são dispostas em um
ciberespaço. Mas o ciberespaço e as Redes Sociais Digitais dependem de lugares
físicos para seu funcionamento. Os serviços que possibilitam o acesso as estas
redes e seus diversos recursos tem que estar devidamente instalados em
equipamentos(hardwares), equipados com os respectivos programas (softwares),
hospedados dentro de infraestruturas físicas.(de empresas do setor), assim como
também deve estar inseridos os usuários das redes sociais digitais.

Concluímos assim, que, definitivamente, o virtual não existe e nunca poderá


existir sem o real.

3. Os efeitos da velocidade do avanço tecnológico

Após tratarmos dos principais conceitos que envolvem esse novo “mundo virtual”,
como ele se apresenta, do que depende, o que abrange, como é acessado, onde se
localiza e muito mais, vamos começar a tratar de outros aspectos ligados aos efeitos
e consequências da utilização das redes sociais digitais, dando maior importância
aos “problemas” e abordando superficialmente, quando necessário, as vantagens,
pois estas sãomuito eminentes e defendidas em larga escala, mas não será objeto
principal deste estudo.

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Tratar, estudar e apresentar os efeitos negativos trazidos pela forma
astutamente velozcom que o avanço tecnológico acontece e se apresenta, parece,
para muitos, um discurso mais propriamente baseado no conservadorismo do que
realmente fundamentado em bases sólidas e importantes. Neste contexto
introduzimos o conceito de “dromocracia”.

O termo “dromocracia” é utilizado para tratar questões bem antigas. A palavra


“Dromocracia” origina-se do prefixo grego “Dromos” que dentre vários sinônimos
apresentam-serapidez” ou “agilidade” como os principais. Logo, podemos considerar
que Dromocracianos traz a idéia de “Poder da Velocidade”. Trazendo para nosso o
presente estudo migraremos o “Poder da Velocidade” para “efeitos da velocidade”.
Assim ficará mais acordado e contextualizado sem perder, de forma alguma, o
significado real no presente estudo.

Um dos primeiros autores e críticos a tratarem a dromocracia, em outros


horizontes, através de suas renomadas obras, foi o arquiteto, urbanista e pensador
francês, especialista na história bélica ocidental, Paul Virilio, considerado por
Trivinhos, o fundador e gestor deste assunto como podemos observar em “A
Dromocracia Cibercultural” (Trivinhos, 2007, p.45): “O conceito de dromocracia teve,
no âmbito das ciências humanas e sociais, a sua gestação e fundação crítica na
obra de Paul Virilio.”

A Dromocracia existe em todo processo de evolução acelerada que traz, além


dos benefícios, efeitos e consequências também negativos aos indivíduos das
sociedades envolvidas em tal processo. O exemplo mais claro deste fenômeno foi
no processo da “Revolução Industrial” que submeteu boa parte dos indivíduos das
diversas sociedades envolvidas no processo às experiências extremamente
negativas, ainda que temporárias, sobre a falta de perspectiva de trabalho e futuro
devido à tamanha velocidade com que tudo aconteceu. É possível perceber que a
velocidade da evolução violenta o ser humano em muitos aspectos.

Esta violência, muitas vezes, é deturbada ou maquiada por estratégias de


imposição em massa dos processos tecnológicos, como se tudo fosse natural e
como se não houvesse outromeio ou forma de ser feito. Podemos perceber neste
instante que muitas dromopatologias são apresentadas pelos indivíduos das
sociedades que passam por tais processos dromocráticos, e, ao deixarem de ser
tratadas e consideradas corretamente, se tornam, com efeito cumulativo,
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verdadeiros fardos para aqueles que sofrem delas, trazendo aos mesmos cada vez
mais dificuldadesde adaptação e participação nos processos evolucionários
posteriores e consequentemente afastando-os, em parte, das principais correntes e
movimentos de evolução.

Podemos citar outro fenômeno, bem mais recente e que certamente cabe
como base para o presente estudo: a “Exclusão Digital”. Estamos diante de uma
recursividade no momento em que relacionamos a exclusão digital e a Dromocracia
Cibercultural. A exclusão digital é uma das “personalizações” da dromocracia
cibercultural. A velocidade com se propagou a Internet pelo mundo sempre será
considerada surpreendente. Mais surpreendente é como a mesma vem evoluindo ao
longo dos tempos.

O próprio fenômeno da exclusão digital, curiosamente, evoluiu! Parece


cômico, mas é verdadeiro. A exclusão digital antes se apresentava em um único
nível: aqueles que não tinham acesso às tecnologias da informação, basicamente
atreladas aos recursos computacionais. Em palavras mais diretas: a exclusão digital
tratava daqueles que não tinham condições de adquirir um computador pessoal ou
sequer tinham outra forma de acesso aos mesmos e aos seus recursos em seus
ambientes profissionais.

Num segundo momento, como a facilitação no processo de compra e


aquisição de computadores, o processo de exclusão digital passou a tratar os que
tinham computadores, mas, não tinha condições de ter o acesso a Internet. Vamos
tentar identificar algo oculto nesta questão. O computador, que era o centro da
discussão da exclusão de digital, deixou de sê-lo. O que estamos dizendo é que ter
computador sem internet é basicamente como termos um carro sem que este tenha
duas rodas.Internet se torna alvo comum a todos e o centro das atenções, muitos
outros fenômenos são desencadeados e começam contribuir verdadeiramente para
a criação de uma cibercultura. Os principais atores do cenário econômico, Finanças,
Prestação de Serviços e Comércio começaram a adotar a Internet como uma
extensão de seus serviços. Este laboratório,mal formatado e planejado, levou muitos
investidores à falência.Outros tiveram que se reestruturar completamente após a
explosão da bolha das empresas “.com”. Mais um exemplo da Dromocracia
Cibercultural. Apesar de todos os problemas a Internet não perdeu força, e como de
costume, em tempo recorde, se reorganizou através de novas regras de negócios e

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com o apoio de novas e emergentes tecnologias da informação, totalmente
baseadas nela, continuou a crescer com robustez e incrivelmente: com mais
velocidade ainda.

A reorganização da Internet trouxe muitas novidades. A nova geração


tecnológica trouxe mais segurança e estabilidade aos serviços oferecidos através
delas. A partir deste momento a adoção oficial da internet para os principais tipos de
serviços pelo setor público e grandes empresas privadas, como os bancos, por
exemplo, sacramentou-a como principal veículo midiático. Além de tudo, trazia
consigo outras vantagens até hoje imbatíveis: excelente custo benefício e
abrangência. O alcance proposto pela virtualização desta grande rede digital era
algo inimaginável em duas décadas atrás.

Todo este cenário fez com os Governos do mundo inteiro adotassem políticas
voltadas para expansão de suas redes de telecomunicação a fim de levar o acesso a
Internet ao maior número de pessoas possíveis. Os chamados “Programas de
Inclusão Digital” são na verdade frutos destas políticas. Processos como este e
muitas outras iniciativas públicas e privadas, permitiram que o acesso a Internet
fosse levada aos quatro cantos do mundo. Temos agora um cenário completamente
desenhado e preparado para a concretização da cibercultura. É válido ressaltar que
a cibercultura é composta pelo histórico completo de tudo que abordamos até este
momento, e que não surgiu ou nasceu a partir deste “cenário ideal” que acabemos
de descrever. Mas sem dúvidas, evoluiu muito e muito depressa a partir deste
momento.

4. A inclusão digital e a convergência das mídias

Na teoria o processo de inclusão digital veio para auxiliar e criar possibilidades de


acesso às tecnologias para os que não a tinham. Então como pode ter sido
prejudicial? A resposta deve ser cautelosa. O iniciativa do processo em si, estava
correto, tinha que ser feito. Mas não da forma como foi feito. O processo deveria
contemplar o preparo completo para a boa utilização destes novos recursos
tecnológicos, ainda por terem sidos atrelados, quase que na totalidade, às
instituições de ensino.

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O que se viu foi muito investimento em tecnologia e infraestrutura e pouco
investimento na formação humana, indispensável para o melhor aproveitamento dos
recursos oferecidos. É comum, ainda hoje, encontramos escolas públicas com
laboratórios de informática entregues as traças e aos ratos, ou então, laboratórios
em estados precários sendo usados, simplesmente, como LAN HOUSE publica, ou
seja, oferecendo e permitindo o acesso, quase sempre, descontrolado a internet e
desprovido de acompanhamento profissional.

Mesmo com todas as falhas, o resultado final é que o número de internautas


cresceu assustadoramente trazendo para a Internet um público diversificado que
continua impulsionando o seu crescimento. As Tecnologias da Informação e
Comunicação dominaram completamente este universo e passaram a ser os alvos
principais dos internautas. Recursos como e-mail (mensagens eletrônicas), fórum de
discussões, aplicativos para troca de mensagens eletrônicas instantâneas (IRC,
ICQ, MSN e outros) e posteriormente as tecnologias que permitiam o tráfego de voz
através da Internet (VOIP) sacramentaram este cenário.

Paralelamente acontecia outro processo muito importante: a evolução da


telefonia móvel. Logo surgiram os primeiros indícios da convergência entre as
mídias. Telefones agora acessam a internet e ganham aplicativos voltados
especificamente para eles e que permitem que seus usuários acessem parcialmente
alguns conteúdos na Internet.

O surgimento das novas TIC’s servem para e embasar e fortalecer a ótica de


Trivinhos que afirma que sobre a cibercultura [..] embora doravante conflua para o
cyberspace, a cibercultura está tanto além quanto aquém dele. [..] (“A Dromocracia
Cibercultural”, Trivinhos 2007, p. 116) e logo a seguir especifica os pilares atuais da
cibercultura:

Os vetores estruturais básicos que presidem e recortam a fase atual da


cibercultura são a informatização, a virtualização, e ciberespacialização, a
hipetextualização,a cibericonização e a interatividade. (Trivinhos 2007, p.
116)

Os vetores acima especificados, em conjunto, são responsáveis por novas


ações e processos nas comunidades virtuais como: tendências comportamentais,
questões de gênero, novas formas de identidade e identificação, a condição do
corpo, publicações, bibliotecas virtuais e muito mais.

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5. Redes Sociais Digitais: expoente da dromocracia cibercultural.

A cibercultura vinha se consolidando e contava com um número assustador


deusuários em seu principal meio, a Internet. O surgimento de jogos online, que
permitiram a integração de usuários em todo o mundo foi outro marco histórico. A
internet se fazia cada vez mais necessária e indispensável, sobretudo para o lazer.
Nasce neste momento o fenômeno das Redes Sociais Digitais, por volta de 2004.
No Brasil, o processo de iniciou em Fevereiro de 2004 com a Rede Social Digital
Orkut.

A partir de agora utilizaremos as Redes Sociais Digitais como o centro de


nossos estudos para apontar as principais dromopatologias existentes nos
indivíduos que a compõem classificando-a assim como um dos maiores expoentes
da dromocracia cibercultural.

As redes sociais digitais trouxeram novas perspectivas àqueles que fazem


uso delas. Em pouco tempo, seus usuários foram metralhados com uma série de
recursos, aparentemente inofensivos, que estimularam ações e reações, em
diversos níveis culturais, simplesmente surpreendentes. Ao longo dos anos, após o
período de excitação inicial, onde muitos acreditavam ser um ciberespaço sem leis,
as redes sociais digitais começam a demonstrar processos naturais de organização
e principalmente suas consequências, cujas negativas, serão tratadas com mais
atenção a partir de agora no presente estudo.

Inicialmente, as redes sociais digitais, atraíram o público mais jovem que


teoricamente apresenta mais tendência à adoção dos recursos tecnológicos. Como
tempo, indivíduos cujas gerações foram literalmente atropeladas pelo avanço
tecnológico e que tiveram que aprender a conviver e utilizar os recursos
ciberculturais quase que forçadamente a fim de que não fossem totalmente
excluídos deste contexto, veem nas redes sociais digitais, muitos pela primeira vez,
uma forma prazerosa de fazer parte deste novo mundo. As redes sociais digitais dão
origem a duas novas ordens: os nativos e os imigrantes digitais.

De um lado a ordem dos nativos digitais, aqueles que nasceram e cresceram


em meio ao todo o avanço tecnológico, conviveram com os recursos ciberculturais
dentro de suas escolas, lares e outros meios sociais. De outro lado a ordem dos
imigrantes, aqueles que sofreram com a dromocracia cibercultural, que sofreram no

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processo de amadurecimento de sua geração mudanças tecnológicas bruscas,
muitas não totalmente assimiladas que deixaram marcas profundas como exclusão
social e digital. Curiosamente estas duas “tribos” dividem um mesmo ciberespaço
chamado “redes sociais digitais” como o objetivo principal: interação social.

É de se esperar que, avaliando a utilização das redes sociais digitais por parte
destas duas tribos, que os nativos digitais tenham melhor desempenho e aproveitem
mais os recursos disponíveis nas redes sociais digitais. Isso realmente prevaleceu
no começo. Como o passar dos tempos, os imigrantes digitais foram se encantando
com este novo universo. O quantitativo de usuários desta “tribo” nas redes sociais
digitais vem aumentando consideravelmente e demonstrando uma aceitação cada
vez maior por parte deste público.

Mediante este cenário, pode parecer complicado classificar as redes sociais


digitais como expoente da dromocracia cibercultural. O que não fizemos
anteriormente, foi explicitar melhor quais de fato são os efeitos dromocraticos
cibeculturais apresentados nos indivíduos. O faremos a partir de agora, tratando de
situações que envolvem as duas “tribos” de nativos e imigrantes digitais em relação
as redes sociais digitais, tentando assim, fechar este grande quebra cabeças.

É interessante analisar a dromocracia cibercultural a partir do estudo de dois


grupos que vivenciam uma mesma situação mas tem seu envolvimento e origem
diferenciados. No aspecto cultural podemos inverter os papeis: os imigrantes digitais
tem ainda a cultura nativa, aquela que foi transmitida na sua essência sem a
interferência dos avanços tecnológicos informacionais. Por outro lado, pode-se dizer
que os nativos não trazem a cultura nativa, pois já sofreram, desde o início de sua
existência, os efeitos dos avanços tecnológicos informacionais e construíram junto
com isso sua cibercultura que na realidade norteia a cultura.

Com certeza,todos esperam que façamos perguntas e analisemos as


respostas relacionadas a temas que envolvam os dois grupos. Antes disso, porém,
precisamos explicitar o que desejamos alcançar. O objetivo do estudo não é
comparar as gerações ou determinar o que uma tem de melhor em relação a outra.
De forma alguma. O objetivo do estudo é mapear as carências existentes na
sociedade atual que é, definitivamente, regida pela cibercultura. Isso quer dizer que,
independente do grupo, nativos ou imigrantes, todos vivem num mesmo momento e,
portanto, fazem parte do mesmo tempo.
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6. A Cibericonocracia hipetextual

As redes sociais digitais, assim como a internet num todo, é composta e repleta de
hipertextos e ícones atrelados a links. O hipertexto é um recurso que permite realizar
uma ligação uma palavra, termo ou frase com outro fragmento de texto. Apresenta-
secomo uma função autoexplicativa. Muito positivo quando analisado como uma
poderosa ferramenta que permite acoplar diversas idéias que devem ser
contextualizadas e uma mesma situação ou leitura. O problema apresenta-se,
porém, quando verificamos o uso indiscriminado deste recurso, relacionado
principalmente a veracidade das informações que são apresentadas pelos
hipertextos. Sabemos que a Internet, e não diferente as redes sociais, aglomeram
informações nem sempre confiáveis e de fontes seguras, o que se torna mais crítico
ainda nas redes sociais digitais. Os usuários, sejam, nativos ou imigrantes, por
vezes relacionam seus textos experimentais a outros conteúdos que normalmente
estão situados fora das redes sociais digitais sem se preocuparem com a veracidade
ou confiabilidade das fontes. Porém, para que tem acesso como visitante a tal
informação, e que certamente faz parte ou do grupo imigrante ou do grupo nativo, o
balizador e avalista daquela informação é quem realizou a sua publicação daquela
forma e certamente é quem, futuramente, será responsabilizado pelas
consequências de sua divulgação.

Outro ponto a ser considerado no uso excessivo destes recursos, não só nas
redes sócias digitais, mas também na internet como um todo, é o fato de que o
usuário, acostumado com tanta automaticidade noacesso a informações mais
específicas apresentadas pelos links do hipertexto, passa a receber, também de
forma automática, a informação não realizando os principais processos cognitivos
como percepção, análise e classificação do conteúdo, desestimulando assim o
caráter investigativo do raciocínio humano. Nesta situação, os imigrantes levam
vantagem por terem, culturalmente, desenvolvido tal capacidade investigativa
analisando com mais critério o que foi é indicado nos hipertextos.

Trivinhos aborda este recurso da seguinte forma, ao retratar “hipertexto e


ciberícone” em “A dromocracia cibercultural”,

(...) a uma possibilidade de, via interatividade, fazer presente (na tela) o que
está fora do campo percepcional; e. vice-versa, de secundá-lo ou de fazê-lo

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desaparecer, em função da seleção de outros blocos ou painéis de dados.
(2007, p. 118)

7. Identidade e comportamento

As redes sociais digitais são formadas por diversos grupos, também conhecidos
como comunidades. Estas comunidades, assim como na cultura tradicional,
representam,para a cibercultura, as diversas redes sociais que a compõem. Existem
comunidades formadas por nativos, comunidades formadas por imigrantes e
comunidades mistas, que abrigam nativos e imigrantes.

Esta relação é interessante o mostra o poder de integração social que as


redes sociais digitais possuem. As comunidades determinam o comportamento
desejado por seus participantes. Os participantes, sejam imigrantes ou nativos,
devem identificar-se com suas respectivas comunidades para fazerem parte delas. É
neste contexto que as redes sociais digitais oferecem algo que na cultura tradicional
é bem mais complicado de ser feito: permitir que um indivíduo se apresente de
forma diferente do que é na realidade e ainda mais: permite que um mesmo
indivíduo crie vários personagens ou identidades diferentes para se apresentar em
comunidades e momentos diferentes.

Tudo isso pode ser analisado sob vários pontos de vista. Com relação a
apresentação, é mais comum que os nativos, normalmente mais jovens, utilizem
com mais frequência identidades falsas, criando o que comumente é chamamos de
Perfis Fake (falsos). É comum também que utilizem parte das características
verdadeiras e parte falsas. A prática também acontece entre os imigrantes com mais
experiência, porém, como para a maior parte tudo é muito novo, é comum que
comunidades de imigrantes contem com perfis verdadeiros, que descrevem com
clareza e verdade seus usuários.

De certa forma, a utilização de informações falsas pode ser uma forma de


proteção e cautela para evitar exposição excessiva. Mas por trás desta discussão
existem outros problemas que normalmente não são abordados. A forma como
alguns nativos e até imigrantes se entregam aos seus personagens é assustadora.
Muitos chegam ao absurdo de adotarem oficialmente a vida de seus personagens. O

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problema é que estes personagens só podem existir no ciberespaço. Lá eles tem
vida, ainda que virtual, relacionamentos, funções, atividades, interesses e
participação social. Isto, infelizmente, levas estas pessoas, donas destes perfis, a
um processo de exclusão social. Para os imigrantes, que já vivenciaram e tiveram
experiências reais ao longo da vida, talvez seja mais fácil conseguir sair desta
incômoda situação. E para os nativos? Como será? Eles vivenciaram este processo
ilusório toda a sua vida. Certamente a reinserção destes membros na sociedade
tradicional seja um problema bem mais difícil de ser tratado. Os nativos podem
sofrer ainda outros tipos de prejuízos como por exemplo profissionais. Problemas
relacionados a convivência em grupo e a comunicação formal são mais constantes
nos nativos do que nos imigrantes.

8. Algumas considerações finais

Os processos comunicacionais humanos e a utilização de computadores e Internet


são como dois lados da mesma moeda. Um complementa e valida o outro. Na
contemporaneidade, onde o que é novo fica obsoleto rápido demais, enquanto se lê
uma notícia em algum site, outras milhares são oferecidas ao leitor-internauta ao
mesmo tempo, colocando inúmeras fontes à disposição deste.

Nesse contexto é possível classificar duas categorias de usuários: os Nativos


Digitais e os Imigrantes Digitais, os Digital Natives e Digital Immigrants, divisão
proposta por Marc Prensky (2001). No primeiro quesito, encontram-se as pessoas
que nasceram em meio às conhecidas Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (NTIC’s), após a década de 1980, as que estão perfeitamente à
vontade com toda a tecnologia oferecida, desde um simples mp4 até qualquer outro
instrumento digital de maior proporção. No segundo grupo, estão aqueles que não
nasceram no mundo digital, vieram ao mundo e cresceram antes da década de
1980, e, entretanto, se vêem introduzidos neste mesmo momento de transformações
tecnológicas contínuas e constantes.

Nesta perspectiva, a Dromocracia Cibercultural atinge estas duas tribos


ciberculturais: os nativos e os imigrantes. Os danos causados aos imigrantes são
mais visíveis e também normalmente contornados, pois são debatidos e dia após dia

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novas estratégias, ainda que não totalmente eficazes, surgem em busca resolver os
problemas mais sérios. Já os nativos tem seus danos normalmente maquiados,
ocultados pelo sistema. Porém, podemos concluir que são mais sérios, não ser pela
complexidade das ações a serem tomadas para amenizar, mas também pelo fato de
que dentro de pelo menos duas décadas, os nativos predominarão este ambiente e
as consequências dos danos, se não forem tratadas desde já, poderão ser
incalculáveis e irreversíveis.

Referências

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