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Bordignon, Cristina; Bonamigo, Irme Salete. Os jovens e as redes sociais virtuais

Os jovens e as redes sociais virtuais

The young and virtual social networks

Los jóvenes y las redes sociales virtuales

Cristina Bordignon1

Irme Salete Bonamigo2

Resumo

O presente artigo analisa as implicações das redes sociais virtuais na configuração de relacionamentos entre
os jovens do município de São Lourenço do Oeste (SC). Fundamenta-se em pesquisa cartográfica com
jovens lourencianos, por meio de grupo focal virtual e pesquisa documental na plataforma Facebook. O
contato com esse grupo permitiu conhecer as vantagens e as desvantagens que os jovens pesquisados
atribuem à adesão às redes sociais virtuais. Observou-se que os jovens, por meio das redes sociais virtuais,
são convidados a tornar públicas suas intimidades. Notou-se que esse meio digital também instiga os jovens
a serem mais dinâmicos e ágeis, por estimular que façam várias coisas simultaneamente, suscitando novas
formas de interação humana. Conclui-se que as redes sociais virtuais podem contribuir para a
homogeneização das subjetividades, ao uniformizar modos de ser, pensar, sentir e perceber. Porém, podem
também implicar produção de subjetividades singulares, engendrando formas inéditas de viver.

Palavras-chave: Jovens. Cartografia. Redes sociais virtuais. Relacionamentos. Subjetividade.

Abstract

This article analyzes the implications of virtual social networks in the configuration of relationships among
young people in the municipality of São Lourenço do Oeste (SC). It is based on cartographic research with
young Lourencians, through a virtual focus group and documentary research on the Facebook platform. The
contact with this group allowed to know the advantages and the disadvantages that the young people
surveyed attribute to the adhesion to the virtual social networks. It was observed that young people, through
virtual social networks, are invited to make their intimacies public. It was noted that this digital medium also
encourages young people to be more dynamic and agile, for encouraging them to do several things
simultaneously, provoking new forms of human interaction. It is concluded that virtual social networks can
contribute to the homogenization of subjectivities, by unifying modes of being, thinking, feeling and
perceiving. However, they may also imply the production of singular subjectivities, engendering
unprecedented ways of living.

Keywords: Young people. Cartography. Virtual social networks. Relationships. Subjectivity.

Resumen

Este artículo analiza las implicaciones de las redes sociales virtuales en la configuración de las relaciones
entre los jóvenes de São Lourenço do Oeste (SC). Se basa en la investigación cartográfica de jóvenes
lourencianos, a través de grupos de enfoque virtual y la búsqueda documental sobre la plataforma de
Facebook. El contacto con este grupo permitió conocer las ventajas y desventajas que los jóvenes
encuestados atribuyen a la adhesión a las redes sociales virtuales. Se observó que los jóvenes, a través de las

1 Psicóloga, formada na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), Chapecó, SC


2 Psicóloga, Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pós-doutora em
Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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redes sociales virtuales son llamados a hacer público su íntimo. Se señaló que este medio digital también
incita a los jóvenes a ser más dinámicos y ágiles, animándoles a hacer varias cosas al mismo tiempo, dando
lugar a nuevas formas de interacción humana. Resulta que las redes sociales virtuales pueden contribuir a la
homogeneización de las subjetividades, para estandarizar la manera de ser, de pensar, sentir y percibir. Sin
embargo, también pueden involucrar a la producción de la subjetividad natural, con nuevas formas de vivir.

Palabras clave: Jóvenes. Cartografia. Las redes sociales virtuales. Relaciones. Subjetividad.

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Introdução relacionamentos amorosos, denominada


por liquidez ou fragilidade dos vínculos
Estamos na era das redes sociais humanos.
virtuais – que entretêm milhões de A conjunção apresentada instigou
usuários no mundo todo. Essas redes, o interesse em pesquisar as implicações
como afirma Carvalho (2011), que essas plataformas exercem na vida
alcançaram um crescimento expressivo dos sujeitos contemporâneos,
nos últimos anos e são responsáveis por especialmente na dos jovens entre 18 e
conectar em rede diversas pessoas, 23 anos. Também de conhecer mais
umas com as outras, possibilitando a sobre as irrupções dos efeitos dessas
expansão da rede relacional desses redes virtuais “para as relações de
usuários e oferecendo amplo acesso à amizade e para as noções de identidade,
informação. As redes virtuais privacidade, autenticidade, comunidade
possibilitam transformações nos e sociabilidade” (Aguiar, 2007, p. 11).
vínculos pessoais e sociais, já que, por Outro aspecto que contribuiu para a
meio delas, se podem criar comunidades escolha e delineamento da pesquisa foi
e laços afetivos com outros sujeitos, a leitura do livro Amor Líquido, de
situados em qualquer parte do mundo, Bauman (2004), em especial sobre a
com o compartilhamento de vivências, expansão das redes virtuais de
ideias, percepções e sentimentos com relacionamento, sua incidência na
facilidade e rapidez. produção de relações cada vez mais
Com todas essas transformações, transitórias, e as principais
pode-se depreender que se modificam interferências desses meios de
também os modos de ser. Segundo comunicação nos modos como se
Guattari (1992), a subjetividade é relacionam seus usuários.
produzida por dispositivos diversos: Utilizamos a expressão redes
família, educação, meio ambiente, sociais virtuais com base na noção de
religião, linguagem, arte, esporte, mídia, virtualidade proposta por Pierry Lévy,
cinema, entre outros. Miranda (2000) para ressaltar as transformações que
afirma que a subjetividade deve ser passam a compor o mundo, a cultura, a
compreendida como uma construção comunicação e as relações humanas e
histórica, constituída por inúmeras tendo em vista que o virtual é um
facetas, localizada em um corpo social. movimento que não se opõe ao real,
Para ambos os autores, a subjetividade mas ao atual. A tendência do virtual é
se constitui de forma heterogênea, sem atualizar-se sem passar a uma
hierarquia, pelo entrelaçamento das concretização efetiva ou formal. Assim,
dimensões tanto individuais quanto inversamente ao possível, ao estático e
sociais. ao já constituído, o virtual remete à
Com base nessa noção de potência que “acompanha uma situação,
subjetividade – como heterogênea e um acontecimento, um objeto ou uma
construída historicamente –, buscou-se entidade qualquer e que chama um
investigar os atuais padrões de processo de resolução: a atualização”
relacionamento entre os jovens – (Lévy, 1996, p. 16).
estendendo-se muitas vezes também
para a vida adulta –, que são Cenário da pesquisa: o município de
caracterizados, segundo Bauman São Lourenço do Oeste (SC)
(2004), pela transitoriedade nos

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Segundo informações do Instituto método cartográfico foi proposto por


Brasileiro de Geografia e Estatística Gilles Deleuze e Félix Guattari, não
(IBGE), com base no Censo de 2010, o para mapear um percurso a ser seguido
município do oeste catarinense que faz pelo pesquisador, mas sim mantê-lo
divisa com o Paraná conta com uma aberto para a produção das informações
população de 21.797 habitantes. Desses, do campo investigado, sem focalização
16.885 (77,46%) vivem na cidade, e os prévia em determinado ponto. Por
outros 4.912 (22,54%) no meio rural. conseguinte, o pesquisador poderá
Da população geral, 10.830 (49,69%) conhecer diversos elementos que
são homens e 10.967 (50,31%) parecem sem conexão ou seccionados,
mulheres. De acordo com os dados embora as informações façam sentido
referentes ao ano de 2010 publicados mediante a processualidade no
pelo IBGE, a população lourenciana transcorrer da pesquisa (Kastrup, 2010).
distribui-se entre as seguintes faixas A pesquisa foi desenvolvida em
etárias: 22,4% de 0 a 14 anos; 9% de 15 2013 com jovens do município de São
a 19 anos; 18,2% de 20 a 29 anos; Lourenço do Oeste, por meio da técnica
40,3% de 30 a 59 anos e 10,4% acima do grupo focal virtual. Para Gaskell
de 60 anos. (2002), um grupo focal tradicional é
Segundo o Governo Municipal de formado por seis, sete ou oito pessoas.
São Lourenço do Oeste (2013), o Esses sujeitos são reunidos com o
município conta com um programa que moderador (ou pesquisador), que utiliza
disponibiliza internet gratuita e de um tópico guia, com um resumo dos
qualidade a todos os munícipes, às assuntos a serem discutidos. O
escolas e também às microempresas pesquisador estimula os demais
lourencianas. O Programa Cidade participantes do grupo para que
Digital se mantém com recursos do respondam aos comentários feitos pelos
município e garante acesso à internet outros e faz perguntas sobre o que está
banda larga para os seus cidadãos, tanto sendo debatido. No entanto, como esta
em casa quanto em locais públicos pesquisa foi on-line, as adaptações
como escolas, restaurantes e praças. necessárias foram feitas para utilizar o
Esse acesso à internet passa por um grupo focal como meio de acesso aos
filtro que impede o acesso a páginas subsídios que fundamentaram os
com conteúdos impróprios ou com resultados deste estudo. Destarte,
vírus. Por meio desse programa, alunos formou-se um grupo on-line na rede
e professores, nas escolas, podem social Facebook, tendo ele sete
utilizar a internet para expandir os participantes, e foi utilizado, assim
conhecimentos, tornando as aulas mais como sugere Gaskell (2002), um tópico
proveitosas e eficazes. Essas guia com os assuntos fundamentais a
informações estão sendo descritas serem abordados. Os jovens que
porque se articulam ao estudo em participaram da pesquisa tinham entre
questão 18 e 23 anos3
A escolha dos sujeitos da pesquisa
Método

Trata-se de estudo cartográfico que 3 Destaca-se que pelos padrões das Nações
Unidas, jovem é a pessoa com idade entre 15 e
busca analisar a complexidade e a 24 anos. No Brasil, a Secretaria Nacional de
processualidade das relações humanas Juventude define o período de 15 a 29 anos
mediadas por redes sociais virtuais. O como marco etário da juventude, pela
incorporação da noção de adulto jovem.

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teve como critérios de delimitação: virtual, a fim de facilitar o diálogo.


pessoas que residem no município de Para alcançar os objetivos do
São Lourenço do Oeste e são usuárias estudo, a pesquisa documental foi a
do Facebook; jovens que estão nos estratégia para buscar dados pertinentes
contatos adicionados a amigos da à investigação na rede social Facebook,
plataforma da pesquisadora. Essa visto que a pesquisadora é usuária da
escolha se deveu ao fato de que, sendo plataforma e essa foi uma forma de
“amigos” na rede, a pesquisadora teria observar a interação e utilização dela
mais acessibilidade aos participantes. O pelos jovens entrevistados. A pesquisa
modo de seleção dos participantes se documental, segundo Sá-Silva, Almeida
deu por meio da técnica da Bola de e Guindani (2009), é um método crucial
Neve. De acordo com Baldin e Munhoz nas pesquisas em ciências humanas,
(2011), esse é um método utilizado em pois os documentos analisados podem
pesquisas sociais e ocorre da seguinte ser o alicerce para a investigação em
forma: os participantes iniciais da questão. Esse procedimento
pesquisa sugerem para o pesquisador metodológico objetivou explorar os
outras pessoas para participarem do modos como se relacionam os jovens
estudo. Como a proposta da pesquisa foi nas redes sociais virtuais e quais os
a da formação de um grupo focal, conteúdos de suas publicações. Por
utilizou-se como limite o número de meio dessa técnica, pode-se
sete pessoas para sua constituição. Além compreender com mais profundidade
disso, é importante constar que a algumas questões que, no diálogo com o
pesquisadora, como reside em São grupo focal, não foram enfatizadas ou
Lourenço do Oeste, conhece aprofundadas.
pessoalmente todos os jovens É importante esclarecer que este
participantes da pesquisa. Essa estudo cartográfico teve como base as
proximidade esteve presente também etapas propostas por Kastrup (2010).
entre os jovens que compuseram o Inicialmente procedeu-se à aproximação
grupo focal, dado o pequeno tamanho das redes sociais virtuais mantendo a
da cidade, o que propicia que seus atenção flutuante para o movimento de
moradores conheçam uns aos outros. rastreio. Não houve expectativa em
Essa característica foi considerada na relação a respostas determinadas e foi
análise das informações produzidas. A mantida a atenção no todo, buscando
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de não negligenciar nenhuma informação
Ética em Pesquisa (CEP) da que poderia ser fundamental para o
Unochapecó. processo e resultados da pesquisa.
Tendo a possibilidade de criação Assim, nessa fase de rastreio (Kastrup,
de grupos na plataforma Facebook, 2010), em conexão ao Facebook,
criou-se um grupo fechado, com o título acompanhamos o fluxo de informações
de TCC, e todos os participantes foram e imagens compartilhadas pelos jovens
convidados a se tornarem membros. Em adicionados à lista de amigos da
seguida, fez-se o combinado de data e pesquisadora, observando a interação de
horário para que todos estivessem uns com os outros por meio de
disponíveis para a discussão conjunta. A comentários e outras opções de trocas
linguagem utilizada foi simples e comunicacionais disponíveis na
informal e esteve de acordo com a plataforma.
verbalização utilizada pelos jovens Em seguida, configurou-se o que
entrevistados em seu cotidiano no meio Kastrup (2010) chama de toque,

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momento em que a atenção evidenciou de pouso. Isto é, quando algo ganhou


movimentos que iam se delineando e relevo na pesquisa, começamos a buscar
ativou a técnica de seleção, que ocorreu a compreensão desse fenômeno,
quando se iniciou a escolha dos jovens fazendo e refazendo análises, ligando
participantes para a constituição do umas às outras, em busca da
grupo focal. A etapa seguinte, o relevo, assimilação de toda essa
ocorreu quando percebemos que a processualidade.
maioria dos jovens da lista de amigos da Assim, a análise das informações
pesquisadora compartilhavam com aconteceu durante o decorrer da
frequência sentimentos, pensamentos e pesquisa, seguindo os preceitos da
imagens pessoais, expondo cartografia. Para Barros e Barros
publicamente informações outrora (2013), a análise cartográfica é
consideradas íntimas, como será visto compreendida como processo, por isso
na sequência, com base em Sibilia não deve ocorrer apenas no final da
(2008). Então a atenção foi concentrada pesquisa, mas durante todo o seu
nesse movimento que ganhou relevo percurso. A análise visa abarcar todos
para compreender o que estava os elementos que compõem a realidade
ocorrendo, como uma espécie de zoom. investigada, apreendendo não apenas a
Isso foi se efetivando nos contatos com objetividade dos fenômenos, mas
os jovens que posteriormente formariam também sua expressão subjetiva, dando
o grupo focal, o que caracteriza, de visibilidade aos processos de
acordo com Kastrup (2010), outra etapa subjetivação e às singularidades. A
da pesquisa cartográfica: o pouso. “O análise em cartografia não objetiva
gesto de pouso indica que a percepção, explicar ou interpretar determinada
seja ela visual, auditiva, ou outra, realidade, mas, sim, dar visibilidade aos
realiza uma parada e o campo se fecha, processos que nela se desenvolvem.
numa espécie de zoom. Um novo Ganha evidência tanto aquilo que está já
território se forma, o campo de estabelecido quanto aquilo que se
observação se reconfigura” (Kastrup, mostra singular e em confronto com o
2010, p. 43). que está instituído (Barros & Barros,
A seguir, partimos para o 2013).
reconhecimento atento, que também é
citado por Kastrup (2010) como uma Apresentação dos jovens que
etapa da cartografia, quando o participaram da pesquisa
pesquisador mais uma vez suspende a
atenção concentrada para, agora sim, Para manter o sigilo da identidade
acompanhar o processo que ganhou dos participantes, os nomes são fictícios
relevo em sua pesquisa. Este foi o e foram criados tendo como referência a
momento do diálogo com o grupo focal, denominação “curtir” disponível no
no qual as questões que anteriormente Facebook, em outros idiomas de países
ganharam relevo – em relação à nos quais a plataforma é utilizada. Gilla,
exposição do Eu, de pensamentos, Suka, Dáma e Patinka são os nomes das
sentimentos e imagens pessoais por quatro jovens de sexo feminino e Hoffi,
parte dos jovens nas redes sociais Gugent e Leuk dos três participantes do
virtuais – foram analisados. Nesse sexo masculino.
momento, passamos a associar as Cinco participantes (Dáma, Leuk,
percepções que apareceram quando do Hoffi, Patinka e Gugent) têm
rastreio com os dados obtidos na etapa naturalidade lourenciana. Suka é natural

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do Mato Grosso, mas mudou-se quando cidades, São Lourenço do Oeste é um


ainda era pequena para São Lourenço local sem violência. Revela que não tem
do Oeste, onde vive até hoje; declara a pretensão de se mudar, a não ser que
que gosta do município e não pretende receba uma boa proposta de emprego
se mudar novamente – atualmente mora em outra cidade. Mora com os pais e a
com o noivo. Gilla sempre morou em irmã mais nova. Gugent nos fala que
São Lourenço do Oeste com os pais, gosta muito do município, onde reside
mas nasceu em um hospital de uma com os pais e uma irmã mais nova, mas,
cidade próxima. Conta que não gosta de ao mesmo tempo, pensa em morar em
residir no município e não tem um outro lugar, como no litoral, quando
motivo concreto para isso; pretende terminar sua graduação.
mudar de cidade assim que for possível. A renda mensal domiciliar desses
Outros dois participantes contaram jovens é de pelo menos um salário
ter morado em outra localidade. Dáma mínimo por pessoa. Ou seja, em relação
residiu em Pato Branco, cidade vizinha a cada um deles: se mora com mais
a São Lourenço do Oeste, por alguns quatro pessoas, a renda mensal é
períodos e expõe que, mesmo sendo superior a cinco salários mínimos; se
próximas, as cidades são muito mora com mais duas pessoas, a renda é
diferentes. Alude ainda que não superior a três salários mínimos.
pretende sair de onde mora, pois ali tem
uma vida tranquila. Reside com os pais Juventude e contemporaneidade –
e uma irmã. novas formas de se relacionar
Leuk viveu em outra cidade por
cinco anos, com a finalidade de cursar o Noção de subjetividade que
Ensino Superior. Comentou que, antes fundamenta o estudo
de se mudar, quando ainda estava em
São Lourenço do Oeste, desejava muito De acordo com Guattari e Rolnik
residir em outro lugar. Quando isso (2000), a subjetividade é produzida por
aconteceu, sentiu vontade de voltar para agenciamentos coletivos de enunciação,
a cidade natal: “por me sentir em casa, isto é, não é constituída apenas por
pelas ruas arborizadas, calçadas largas, agentes individuais ou por agentes
clima agradável, enfim, o ambiente grupais, mas resultado tanto daquilo que
urbano aqui é bom” (Leuk). Todavia, é infrapessoal quanto daquilo que é
relatou que novamente pretende trocar extrapessoal. Portanto, compreende-se a
de cidade, porque, segundo ele, a subjetividade como plural, produto da
filosofia dos lourencianos não se interconexão dessas distintas instâncias.
encaixa com a dele. Atualmente reside Guattari (1992) destaca que a
com os pais e dois irmãos mais novos. modernidade tecnológica e científica,
Hoffi assume gostar de viver em com toda comunicação e informação
São Lourenço do Oeste, onde mora com que produz, opera na produção da
os pais, porque as pessoas se subjetividade, “não apenas no seio das
cumprimentam nas ruas, mas como não suas memórias, da sua inteligência, mas
há muitas opções de lazer, como bares e também da sua sensibilidade, dos seus
culinária diferenciada, pretende sair do afetos, dos seus fantasmas
município – mas não agora. Patinka inconscientes” (p. 14). Isso, segundo o
também diz sentir falta de opções de autor, reforça a definição de que a
lazer, mas, mesmo assim, gosta de onde subjetividade é produzida
reside, pois, se comparada às grandes heterogeneamente, por múltiplas

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instâncias que mantêm relação com o apanhado histórico sobre o surgimento


sujeito, como família, educação, meio dessas redes digitais, apontando que
ambiente, linguagem, religião, arte, elas tiveram início em meados século
esporte, mídia, cinema e outras. XX, com o advento das tecnologias
eletrônicas6. Posteriormente, nos
Pensemos na computação, em toda sua primórdios do século XXI, surgiram os
gama de tecnologia de ponta que computadores que se conectam entre si
favoreceu o surgimento da internet. O
ciberespaço possibilita novas formas de
por meio de circuitos digitais,
interação, redimensionando a relação do possibilitando, assim, a comunicação
sujeito com o tempo e o espaço. entre seus usuários. Mediante a
Estaríamos assistindo ao esvaziamento expansão dessas redes sociais virtuais,
da sociabilidade, ao favorecimento do inúmeras e aceleradas mudanças passam
individualismo contemporâneo, ou à
produção de novas formas de
a ocorrer em nossa sociedade. Surge o
socialização? A internet representa, sem correio eletrônico, em seguida os bate-
dúvida um modo de produção subjetiva papos – que logo se desenvolvem em
contemporânea, um lugar, mesmo que sistemas mais avançados como o MSN
virtual, de produção de valores, e plataformas digitais como Facebook,
costumes, linguagem. (Miranda, 2000, p.
40)
Orkut, entre outras. Com isso, de acordo
com Sibilia (2008), a rede de contatos
Guattari (1992) aborda que os pessoais é potencializada, permitindo a
avanços tecnológicos tendem a conexão entre muitas pessoas ao mesmo
homogeneizar e modelizar as tempo. Desse modo, a sociedade passa
subjetividades, mas não é por isso que por uma grande transformação e
se pode dizer que essas transformações reorganização rizomática. As redes
são apenas negativas, tampouco sociais virtuais também possibilitam a
somente positivas. “A produção horizontalidade das relações, tudo isso
maquínica de subjetividade pode contribuindo para a edificação do
trabalhar tanto para o melhor como para fenômeno chamado Web 2.0.
o pior... tudo depende de como for sua Justo (2005, p. 70), ao analisar as
articulação com os agenciamentos características da contemporaneidade,
coletivos de enunciação” (p. 15). reflete sobre como as redes sociais
virtuais estão de acordo com as novas
Os jovens e as redes sociais virtuais particularidades de nossa sociedade
atual: “[...] com a aceleração do tempo e
As redes sociais virtuais a derrubada das fronteiras geográficas e
disponíveis para conexões são psicossociais, as relações passam a ser
inúmeras. Apesar da análise documental mais fluidas, breves, instantâneas,
ter sido realizada apenas na plataforma diversificadas e instáveis”. Assim, passa
Facebook, os jovens falaram também de a ser enorme a influência da
outras plataformas digitais das quais já informática, da internet e dos demais
fizeram parte até o surgimento do meios de virtualização da realidade na
Facebook, ou das quais continuam sociabilidade dos jovens. Exige-se dos
fazendo parte: Orkut, mIRC4, MSN5 e jovens que sejam metamorfoses
Bate-papos da Uol. ambulantes desassossegadas em busca
Sibilia (2008) faz um breve do novo, capazes de estabelecer em sua
vida vínculos temporários, efêmeros e
4 Trata-se de um cliente de IRC, shareware,
para o sistema operacional Microsoft Windows. 6 Sobre a era da informação, ver Bell (1973) e
5 Sigla de Microsoft Service Network. Drucker (1998).

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de explorar novos territórios. Para tal, tarefas.


muito contribuem as redes de Como descrito, a maioria dos
informação e as redes sociais virtuais. jovens entrevistados passa conectada às
Pode-se notar, com base em plataformas digitais mais de quatro
conversas informais e por meio da horas por dia. Há inúmeros outros
conexão às redes sociais virtuais, a motivos que os levam a aderir às redes
atratividade destas, visto que são sociais virtuais, conforme exposto no
compostas por diversos dispositivos, grupo focal: fluxo de informação; poder
como jogos, chats, álbuns para conversar com pessoas que não viam há
divulgação de fotos e vídeos e acesso a muito tempo; para manter contato com
publicações de outros contatos, entre amigos e familiares; pelo fato de muitos
outros recursos. Além desses amigos fazerem parte dessas redes; por
dispositivos disponíveis, Passarelli, curiosidade; por ser muito mais fácil
Guzzi, Dimantas e Kiyomoura (2009) conhecer e conversar com pessoas pela
explicam que o grande número de internet do que pessoalmente; por
usuários de internet deve-se, também, à considerarem formidável uns
sua familiaridade com esse ambiente interagindo com os outros, postando em
digital, além da ampla disponibilidade seu perfil fotos de lugares visitados;
de locais que oferecem acesso a essa para saberem das novidades, como com
rede. Os autores, em sua pesquisa, quem esta ou aquela pessoa está
constatam que o meio digital viabiliza e “ficando”; para bisbilhotar a vida
potencializa contatos com outras alheia; pela possibilidade de participar
pessoas, além de auxiliar em fins de grupos, como “fóruns”, formados por
intelectivos e profissionais. conhecidos; porque é a “onda do
No caso dos jovens participantes momento”; porque muita gente tem
desta pesquisa, esses são também perfil na internet, então querem ter
motivos que os levam a passar horas também; para manter contato com
durante o dia nessas redes de amigos e conhecer gente nova; para
socialização. Leuk passa cerca de cinco economizar na conta de telefone; e pela
horas por dia conectado; Patinka, entre facilidade de contato com quem mora
quatro e cinco horas; Suka, longe (geograficamente).
aproximadamente duas; Hoffi, Com base nesses dados, é possível
normalmente uma hora por dia, com analisar nas falas dos jovens
exceção do período de férias, quando pesquisados o que Sibilia (2008)
passa cerca de quatro horas por dia descreve sobre a contemporaneidade: o
conectado; Gilla, em torno de cinco despontar da internet contribuiu para a
horas por dia; Dáma, cerca de seis; e sociedade se tornar um espetáculo,
Gugent, em média sete horas assim como nossa vida, nosso modo de
diariamente. Como aponta Sibilia ver e de nos relacionar com o mundo.
(2008), passando tanto tempo on-line, Somos um conjunto de imagens que
as pessoas passam a ter uma “vida necessita ser o tempo todo atualizado e
paralela” (p. 13). Entretanto, é visto. A autora destaca também o
pertinente destacar que a maioria desses declínio da leitura, da escrita e da arte
jovens, quando está conectada às redes da conversação, que cederam lugar ao
sociais virtuais, não necessariamente império da imagem. A atenção que
está destinando total atenção a elas, pois antes se atinha às narrações tradicionais
se conectam durante o horário de e aos romances da era burguesa hoje se
trabalho ou enquanto realizam outras atém à cultura audiovisual, à escuta e ao

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olhar ligeiro e superficial. posteriormente na “vida real”; é mais


Os jovens lourencianos que fácil “fugir” das pessoas com quem não
comentaram por que publicam imagens se quer falar nas redes sociais virtuais
pessoais nas plataformas digitais (exemplos citados: tias mais velhas e
declararam que é porque gostaram de si primas mais novas), pode-se bloqueá-
na foto e, por isso, compartilham com las ou aparecer offline ou “invisível”
os amigos. “Já que é uma rede social, eu para impedir que iniciem uma conversa
posto/compartilho algo com o objetivo – o que não é possível fazer
de mostrar para os meus amigos e pessoalmente. Como analisa Bauman
conhecidos os lugares ou o que eu tenho (2004), muitos sujeitos optam por
feito ultimamente” (Gugent). Também “conectar-se” em vez de “relacionar-
afirmaram, durante a discussão com o se”, devido à facilidade e rapidez que
grupo formado nesta pesquisa, que essas redes sociais virtuais oferecem
publicar informações ou imagens para a construção e desconstrução de
pessoais surge para eles como uma relacionamentos com outras pessoas.
necessidade. Necessidade de se expor, Tais vantagens citadas pelos jovens
de compartilhar o que se está sentindo também permitem observar que, cada
ou fazendo e de ser reconhecido pelos vez mais, se estimula que as pessoas
demais. Analisamos, com base em façam várias coisas ao mesmo tempo.
Sibilia (2008), que, por intermédio das Em contrapartida, conforme cita Sibilia
redes virtuais de relacionamento, o “eu” (2008), desestimula-se a focalização em
passa a ganhar mais expressão, e todos atividades contínuas e duráveis. Com
que habitam esses ambientes são o foco todas essas mudanças no meio,
da atenção, não mais apenas as transformam-se também as
celebridades. Percebe-se assim que a subjetividades, como discutido
forma de ser reconhecido pelo outro se anteriormente.
transforma com o advento das redes Alguns dos jovens pesquisados
sociais virtuais. comentaram que, dada a quantidade de
Outras informações decorridas do informações e imagens pessoais
diálogo com o grupo focal se referem às publicadas nas redes sociais virtuais,
diversas vantagens aludidas pelos não há mais possibilidade de se refletir,
jovens como oferecidas pelas por exemplo, sobre como estão os
plataformas digitais: é possível discutir amigos e parentes que moram longe:
diversos assuntos acadêmicos e fazer “Tu não te surpreendes mais com a vida
até negócios por meio das redes sociais das pessoas. Não tem mais novidade. Tu
virtuais – um dos participantes (Gugent) sabes o que acontece todos os dias com
é administrador de um grupo de os teus amigos, mesmo que morem
negócios no Facebook; há a otimização longe ou que tu não converses mais,
do tempo, pois é possível conversar porque no feed de notícias está sempre
com várias pessoas ao mesmo tempo ali” (Leuk).
sobre assuntos diferentes; as Sibilia (2008) discute que essa
informações chegam mais rápido; tem- grande quantidade de informação e
se mais coragem de falar o que se quer velocidade de comunicação configura a
às pessoas pelas redes virtuais do que aceleração do mundo contemporâneo:
pessoalmente; há uma difusão de em razão do constante surgimento de
múltiplas ideias, informações e novidades, muitas vezes se perdem
opiniões; há mais facilidade em oportunidades de reflexão sobre o
conhecer pessoas para se relacionar mundo. As velhas artes de narrar, que

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Bordignon, Cristina; Bonamigo, Irme Salete. Os jovens e as redes sociais virtuais

caracterizaram o narrador tradicional de ou SMS agora” (Leuk).


décadas atrás, têm hoje como suas Observa-se que a maioria dos
substitutas informações audiovisuais. jovens pesquisados utilizam as redes
Antigamente, o leitor tinha diversas sociais virtuais concomitantemente às
possibilidades de interpretação acerca relações face a face com outros jovens,
do que lia, já que nem tudo lhe era sendo a internet mais um dispositivo de
mostrado ou dito, forçando-o a imaginar comunicação e relacionamento. O
e refletir. Hoje, o indivíduo muitas cruzamento entre essas duas formas de
vezes apenas vê ou ouve as informações interação pode tanto aproximar quanto
transmitidas por meios audiovisuais – distanciar os vínculos entre eles. É
como as fotografias e outras imagens pertinente analisar que essa
publicadas pelos jovens lourencianos na característica está presente nas relações
plataforma Facebook –, e não lhe é entre a juventude que habita cidades
possibilitada, assim, a abertura a pequenas, pois quase todos se
interpretações que tinha outrora. conhecem.
Além dessa desvantagem Alguns jovens lourencianos
ocasionada pela utilização das redes consideram que as plataformas digitais
virtuais como meio de interação prendem as pessoas a relações virtuais,
humana, outras foram referidas pelos diferentemente de alguns anos atrás, nos
jovens pesquisados. Uma delas diz quais as relações eram baseadas no
respeito à qualidade das relações, que, contato face a face. À medida que eles
como citou Dáma, tornaram-se mais expõem informações sobre si nas redes
superficiais: “Pessoas te adicionam, sociais virtuais, os encontros presenciais
curtem suas coisas, mas não te entre eles diminuem, pois se esgotam os
cumprimentam na rua”. Patinka assuntos a serem conversados. Ao
concordou, alegando que as redes mesmo tempo, ressaltam que quando se
sociais virtuais afastaram um pouco as encontram face a face, por ser algo cada
pessoas fisicamente, pois mesmo vez mais incomum, não têm mais a
quando se encontram, elas não têm mais mesma intimidade de outrora, o que
assuntos para conversar devido à gera certo estranhamento.
exposição de tudo nas plataformas Por conseguinte, pode-se
digitais. Por isso o comentário de Leuk considerar que as redes sociais virtuais
exposto anteriormente de que não se contribuem também, e não apenas, para
surpreende mais com a vida das a construção de relacionamentos
pessoas, pois tudo é exposto nas redes superficiais, principalmente em relações
sociais virtuais. de amizade, como mencionaram os
Alguns ainda informaram que as jovens pesquisados. Embora a maioria
redes virtuais de relacionamento dos participantes do grupo focal esteja
implicam diminuição dos encontros face em relacionamento amoroso estável,
a face: “a gente acaba perdendo essa relacionamentos esses iniciados por
coisa de se encontrar para conversar, o intermédio de meios digitais, não é o
contato direto com os amigos, abraçar, mesmo com as amizades. Os jovens
você fica perto, mas distante ao mesmo discorreram que não trocam amizades
tempo, cria uma certa barreira” (Suka). iniciadas por contato face a face por
Leuk refere que sente saudade de aquelas iniciadas virtualmente.
conversar com amigos em um balcão de Comentaram que conhecem muitas
bar, cara a cara, “Ou então brigar com pessoas virtualmente, e algumas dessas
alguém ao vivo, até DR é por Facebook relações acabam se estendendo para

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Bordignon, Cristina; Bonamigo, Irme Salete. Os jovens e as redes sociais virtuais

encontros face a face, mas são exceções. podem administrar o que mostram,
Houve ainda outras desvantagens podem escolher as imagens, vídeos e
das redes sociais virtuais expostas pelos mensagens a compartilhar. Por isso,
jovens no grupo focal. Gilla mencionou “Cabe indagar se todas essas palavras e
que hoje é possível diferenciar os essa enxurrada de imagens não fazem
amigos entre reais e virtuais. Suka nada mais (e nada menos) do que exibir
relatou que “simples ‘curtidas’ em fotos fielmente a realidade de uma vida nua e
ou comentários geram DRs7”. Outro crua. Ou se, ao contrário, esses relatos
ponto que emergiu na discussão foi em criam e expõem diante do público um
relação às interpretações feitas acerca personagem fictício” (Sibilia, 2008, p.
das publicações nas plataformas 30).
digitais: às vezes, interpreta-se uma Os jovens pesquisados afirmam
frase compartilhada por alguém de uma restringirem-se a compartilhar
maneira ou de outra, sem saber se determinadas coisas por alguns motivos,
realmente essa interpretação condiz de por exemplo, porque outras pessoas
fato com o que a pessoa quis transmitir poderão não entender o que querem
com a publicação, ou seja, as transmitir com certas publicações. Em
interpretações podem ser muitas e outros casos, ocultam as postagens de
talvez nenhuma delas seja verdadeira, e algumas pessoas ou selecionam para
isso pode gerar intrigas, desconfiança e apenas determinados grupos de amigos
conflitos. poderem visualizar.
Buscando compreender e analisar
esse fato – de que as publicações nem Hoje, depoimentos e frases virtuais
sempre são interpretadas da forma podem ser escritos, mas nem sempre
expressam sentimentos verdadeiros...
esperada por quem as fez –, realizou-se Muitas vezes as pessoas estão muito
análise documental e observação sobre mais preocupadas no que os outros vão
as publicações realizadas pelos jovens pensar sobre o que você escreve do que
pesquisados. Notou-se que todos com o que realmente acreditam que seja
compartilhavam fotos de locais o correto. Eu, por exemplo, me cuido
muito com o que eu publico nas redes...
visitados, fotos apenas de si, ou com (Gugent)
amigos, familiares, entre outros, assim
como opiniões sobre música, esportes, A partir da citação de Gugent e dos
ciência, livros e outros assuntos que demais comentários dos jovens,
permeiam suas vidas. De fato, foi questionamos se as subjetividades na
possível notar que muitos dos contemporaneidade não estariam sendo
compartilhamentos possibilitam inautênticas, como se as pessoas
múltiplas interpretações, pois não estivessem usando máscaras que
explicam o porquê de a pessoa ter mostram uma imagem falsa sobre si,
exposto o que expôs. Por exemplo, escondendo verdades elementares. Ou o
alguns publicam que estão se sentindo oposto: quiçá, como assinala Sibilia
mal, ou bem, ou felizes, ou alegres, (2008), essas características de
entre outros sentimentos, e não reprodução de autoficções denunciam o
justificam por quê. Isso dá abertura a surgimento de subjetividades elásticas e
muitas interpretações por parte daqueles inconstantes.
que veem tais postagens. Segundo a autora, nem sempre os
Além do mais, é válido ressaltar sujeitos foram, como atualmente,
que nas redes sociais virtuais as pessoas convidados a se exibirem para o mundo
inteiro, mesclando agora, pois, o que
7 Discussões de Relacionamento.

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antes era dividido entre esfera pública e fotos com amigos, parentes, de fotos em
esfera privada. Assim, nos dias atuais, viagens ou em quaisquer outros locais.
nessa sociedade do espetáculo, novas Ainda, quando se compartilha uma
subjetividades se constroem. Diferentes imagem na plataforma, há um pedido de
daquelas introdirigidas de tempos atrás, descrição do nome do local no qual a
hoje elas são incitadas a serem foto foi tirada e com quem, dando a
exteriorizadas. possibilidade de “marcar” as pessoas
Sibilia (2008) destaca que o uso presentes na foto (para “marcar”
das redes sociais virtuais como meio de alguém, basta que se coloque o nome
“confissão” poderia ser uma nova forma desse sujeito sobre a foto – ao clicar em
de se autobiografar, como se fazia cima dessa marcação, quem o fez é
antigamente nos diários íntimos. Passa- conduzido para o perfil virtual da
se, atualmente, a fazer isso por meio de pessoa marcada).
imagens, vídeos e outras postagens nas Quando questionados sobre os
redes virtuais de relacionamento, motivos que os levam a publicar fotos
expondo o que antes era reservado para nas redes sociais virtuais, os jovens
si próprio. E por meio dessas comentaram não ter um objetivo
“confissões” (ou compartilhamentos), definido, mas que, em geral, é para
como citado por uma das participantes mostrar aos demais usuários da
do grupo focal, é possível encontrar plataforma virtual os lugares para os
afinidades com outras pessoas. “Eu me quais foram, ou, quando compartilham
identifico com posts, a personalidade de fotos nas quais estão com outras pessoas
alguém é muito notável pelo que ela ou animais de estimação, é para
posta e compartilha. Já conversei com demonstrar o seu apreço por eles.
muitas pessoas por ter comentado Quando publicam fotos apenas de si, é
alguma publicação ou coisa assim e me porque gostaram delas, acharam-se
identifiquei com a pessoa” (Dáma). bonitos e compartilham para se mostrar
Quatro participantes curtiram esse aos demais, para atualizar seu perfil,
comentário de Dáma (“curtir” para que os outros curtam suas fotos ou
comentários é uma opção disponível na para interagir com outras pessoas por
plataforma Facebook). meio dos comentários feitos sobre as
Com base na análise documental imagens.
realizada no perfil de cada um dos Apontaram que quando seus
jovens pesquisados, pudemos observar amigos (pessoas adicionadas como
também que eles constantemente amigos nas redes sociais virtuais)
compartilhavam informações sobre compartilham fotos, suas reações, em
como estão se sentindo, tornando a geral, são de curtir as imagens se
plataforma Facebook uma espécie de gostaram delas e comentar no caso de
diário íntimo. Muitos expunham serem pessoas mais próximas. Um dos
comentários sobre suas emoções, o que jovens ainda registrou que às vezes
estavam pensando naquele momento; curte fotos de amigos nas plataformas
compartilhavam também suas digitais para “puxar o saco” deles, para
preocupações, opiniões, ou, ainda, sobre mostrar que se lembra desses amigos.
atividades futuras, que viriam a Pode-se analisar que, com todas essas
desempenhar. transformações ocorridas com base nos
Outro meio de utilização do avanços tecnológicos e no surgimento
Facebook por esses jovens mostrou-se das redes sociais virtuais, criam-se
na publicação de fotos pessoais, de outros modos de pensar, sentir e agir,

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instituindo-se, assim, outros meios de a virtual. Eu, por exemplo, morria de


relação com o mundo e com os outros vergonha em falar pessoalmente com
alguém que eu conhecia pela internet,
(Sibilia, 2008). hoje já estou mais tranquilo quanto a
Entretanto, há de se destacar aqui isso... Outro ponto interessante que vale
também que a autora aponta para o fato destacar que na frente de uma tela a
de que, apesar de muitos gente tem um tempo para pensar e
relacionamentos estabelecidos por meio responder, pessoalmente se demorar para
falar alguma coisa “existe” sentimento
da internet serem superficiais, fortes ou a pessoa está mentindo. (Dáma).
laços afetivos podem ser criados
virtualmente e estendidos para a relação Como se pode notar, as redes
face a face, como é o caso de quatro dos sociais virtuais podem facilitar os
sete jovens pesquisados. Dáma está primeiros contatos para a constituição
noiva, conheceu e iniciou contato com o de relacionamentos amorosos. Até
atual parceiro nas redes sociais virtuais mesmo os mais tímidos conseguem se
(por meio do mIRC) – eles estão juntos soltar quando estão conversando com
há oito anos. Suka também está noiva e outras pessoas virtualmente. Assim, o
iniciou o relacionamento com o parceiro contato inicial virtual pode permitir um
no MSN; estão juntos há cerca de cinco conhecimento mínimo, um pouco de
anos. Patinka está namorando há três intimidade, o que facilita o encontro
anos e as primeiras conversas com o face a face. No entanto, fica claro que,
parceiro se deram nas plataformas apesar de citarem as redes sociais
digitais. Há também o caso de Leuk, virtuais como mediadoras de novos
que está namorando, e os primeiros contatos, os jovens lourencianos
contatos com a atual parceira se deram apontam o contato face a face como
por meio de mensagens de celular, ou fundamental para o sucesso dos
seja, houve implicações de meios relacionamentos. O que se pode
digitais na constituição de seu analisar, com base nessas informações,
relacionamento. é que as plataformas digitais
Como se pode observar, os quatro possibilitam que se amplie a rede
jovens participantes do grupo focal que relacional, mas a continuidade do
estão em relacionamento “sério” relacionamento com esses novos
começaram a conhecer o parceiro atual contatos exigirá a presença física da
e conversar com ele por intermédio dos pessoa, principalmente se for para
meios digitais, três deles por meio das relacionar-se amorosamente.
redes sociais virtuais. Isso indica que
estas não contribuem apenas para o Considerações finais
desenvolvimento de relações líquidas
(Bauman, 2004), mas também para a O presente estudo buscou
constituição de relacionamentos acompanhar os processos emergentes no
estáveis. Mas o que leva esses campo das redes sociais virtuais,
relacionamentos a se iniciarem por expondo algumas informações e
intermédio de meios digitais? Em análises de relações de jovens residentes
comentários feitos pelos participantes, em São Lourenço do Oeste, as quais
são apontadas algumas respostas que permitiram cartografar a complexidade,
podem ser sintetizadas pela afirmação a diversidade e as singularidades que
de Dáma: caracterizam os processos de
subjetivações contemporâneos.
Se expressar face a face é muito, mas
muito mais complicado comparado com
A pesquisa permitiu compreender

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os motivos que levam à adesão dos mais novidades para conversar com
jovens às redes sociais virtuais. Nesse pessoas que moram longe quando se
aspecto, inúmeras intenções foram encontram, já que por meio das redes
identificadas: a possibilidade de receber sociais virtuais sabem sobre tudo que
um número muito grande de acontece com cada conhecido, mediante
informações das mais diversas; poder as informações que publicam em seu
manter contato com pessoas que moram perfil virtual. Consideram que houve
longe, e por isso economizar na conta perdas na qualidade das relações
de telefone; a curiosidade, já que outros humanas, visto que se tornam mais
amigos já eram usuários das redes superficiais, porque, em vez de se
virtuais de relacionamento; a encontrarem pessoalmente, as pessoas
possibilidade de acompanhar a vida de mantêm majoritariamente contato
várias pessoas, por meio de suas virtual. Isso ocasiona o afastamento
publicações (de imagens e mensagens); umas das outras, fazendo com que
a possibilidade de se tornarem membros quando se encontrem pessoalmente nem
de grupos virtuais de conhecidos com sequer se cumprimentem, mesmo que
interesses em comum; e a facilidade de nas plataformas digitais sejam “amigas”
poder conhecer pessoas virtualmente e e curtam umas as publicações das
por meio desse contato iniciar novos outras. Mesmo quando combinam para
relacionamentos. se encontrar pessoalmente (do que
O estudo possibilitou compreender sentem saudade), em muitos casos não
como as redes sociais virtuais implicam têm assuntos para conversar, já que tudo
nos relacionamentos entre os jovens é exposto nas redes sociais virtuais, não
lourencianos. Por meio das informações havendo mais novidades. Em vista
advindas dos sujeitos pesquisados, as disso, ressalta-se que, com os
plataformas digitais foram percebidas relacionamentos podendo ser mediados
como auxiliares para a construção de por meios digitais, despontam novos
relacionamentos efêmeros. Por meio modos de socialização – nem piores,
delas, os jovens podem conhecer novas nem melhores, mais diferentes dos de
pessoas e rapidamente estabelecer uma outrora.
espécie de vínculo, que também, em Procuramos compreender
muitos casos, rapidamente pode ser processos de produção de subjetividades
desfeito. Entretanto, cabe destacar que pelas redes sociais virtuais nos jovens
os quatro jovens pesquisados que pesquisados. Além das implicações já
atualmente estão envolvidos em mencionadas, notamos que essas redes
relacionamento estável conheceram ou estimulam os jovens a exporem sua vida
tiveram suas primeiras conversas com por meio de vídeos, imagens,
seus parceiros por intermédio de meios mensagens e depoimentos pessoais,
digitais, para somente depois estender o exteriorizando, portanto, suas
contato para a relação face a face. subjetividades. Com isso, há a
Assim, pode-se analisar que as redes possibilidade de encontrar afinidades
sociais virtuais colaboram para a e/ou se identificar com outras pessoas,
constituição de relacionamentos mediante suas publicações. Também se
passageiros, mas também podem ser observou que as plataformas digitais
utilizadas como porta de entrada para estimulam os jovens a fazerem várias
relações duradouras. coisas ao mesmo tempo, com rapidez,
Os jovens pesquisados não permitindo que foquem sua atenção
mencionaram também que não se tem em alguma tarefa específica. Por

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conseguinte, compreende-se que surgem poder-se-ia pensar em desenvolver


novas maneiras e possibilidades de outros estudos com esse tema, quiçá em
interação entre as pessoas, e entre elas e outras localidades, abordando outros
as informações das mais diversas. conjuntos de pessoas e outras
É importante considerar que a dimensões que recebem implicações das
maioria dos jovens pesquisados, por redes sociais virtuais, como a política e
habitar uma cidade pequena, com o trabalho.
21.797 habitantes, conhecem
pessoalmente as pessoas com quem se Referências
relacionam virtualmente. Observou-se
que essa característica de estabelecer Aguiar, S. (2007). Redes sociais na
concomitantemente as duas formas de internet: desafios à pesquisa
relação e comunicação não [Abstract]. Intercom. Sociedade
necessariamente produz efeitos Brasileira de Estudos
determinados, pois os relatos dos jovens Interdisciplinares da Comunicação.
evidenciam que o cruzamento desses XXX Congresso Brasileiro de
dois modos de interação pode tanto Ciências da Comunicação. Santos
aproximar quanto distanciar vínculos (SP).
sociais e afetivos entre eles. Baldin, N., & Munhoz, E. M. B. (2011).
Por fim, conclui-se que as redes Snowball (Bola de Neve): uma
sociais virtuais que configuram a técnica metodológica para pesquisa
sociedade contemporânea podem em educação ambiental
contribuir para a homogeneização das comunitária [Abstract]. X
subjetividades, ao veicular e Congresso Nacional de Educação –
uniformizar modos de ser, pensar, sentir Educere. Curitiba, p.329.
e perceber. Porém, podem também Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre
implicar produção de subjetividades a fragilidade dos laços humanos.
singulares, como foi possível notar nos (C. A. Medeiros, Trad.). Rio de
comentários de alguns dos jovens Janeiro: Jorge Zahar. (Original
pesquisados, que mostraram a publicado em 2003).
originalidade de sua expressão mediante Bell, D. (1973). O advento da sociedade
aquilo que é oferecido pelos meios pós-industrial. São Paulo: Cultrix.
digitais, questionando as circunstâncias BRASIL (2013). Ministério do
em que se encontram e produzindo Planejamento, Orçamento e Gestão.
formas inéditas de viver e de se Instituto Brasileiro de Geografia e
relacionar com o meio Estatística. Censo 2010.
Considerando que este tema Recuperado em 21 novembro,
pesquisado envolve redes sociais 2013, de
virtuais e jovens na contemporaneidade, http://www.ibge.gov.br/home/estatistic
compreende-se o quanto estes são a/populacao/censo2010/tabelas_pdf/tot
dinâmicos e estão, por isso, al_populacao_santa_catarina.pdf
constantemente produzindo mudanças Carvalho, J. H. D. de. (2011). A
em si e no mundo. Por isso, nota-se a publicidade nas redes sociais e a
pertinência de que estudos na área geração y: a emergência de novas
sejam frequentemente realizados, a fim formas de comunicação
de se buscar compreender todo esse publicitária. Revista Negócios em
dinamismo e as implicações que produz Projeção, 2(2), 91-105, jul. 2011.
na vida das pessoas. Como sugestão, Drucker, P. F. (1998). Emerging
partnerships: New Ways in a New

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