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FACULDADE DE GUANAMBI

CURSO DIREITO

CAIO MORAIS BASTOS

INCIDENTE DE DEMANDAS REPETITIVAS - IRDR

GUANAMBI-BA
2020
CAIO MORAIS BASTOS

INCIDENTE DE DEMANDAS REPETITIVAS - IRDR

Trabalho apresentado ao curso de Direito da


UNIFG, como requisito para obtenção de nota
da disciplina Processo Civil V, sob orientação
da docente Guilherme Gonçalves Alcântara.

GUANAMBI-BA
2020
1. INTRODUÇÃO

A Lei nº 11.672/08 introduziu no sistema processual civil a sistemática de julgamento


dos recursos repetitivos, por meio da qual a apreciação da matéria objeto de demandas
repetitivas ocorre no âmbito de um processo selecionado como representativo da controvérsia,
passando o resultado do julgamento a ser aplicável aos demais recursos com idêntico objeto.

Neste ínterim, o Código de Processo Civil/2015, no artigo 1.036, disciplina

“Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com fundamento


em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as disposições
desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e
no do Superior Tribunal de Justiça”.

Humberto Theodoro Junior (2020), conceitua a matéria ressaltando a sua importância


para o ordenamento jurídico pátrio, primando pelo respeito aos princípios da isonomia e
segurança jurídica. Observa-se:

O incidente de resolução de demandas repetitivas é aquele que se instaura, perante um


tribunal, quando em sua jurisdição registra-se repetição de processos em torno de uma igual
questão de direito, ensejando risco de soluções conflitantes que possa ofender a isonomia e
a segurança jurídica (CPC, art. 976), risco esse que se coíbe mediante fixação, pelo tribunal,
de tese jurídica aplicável, dentro de sua área de jurisdição, a todos os processos pendentes e
futuros que versem sobre a mesma questão de direito resolvida no IRDR (CPC, art. 985)

Ainda corroborando com o entendimento supracitado, o mesmo autor, aduz que:

“A própria nomenclatura adotada pelo Código para nomear o novo instituto (o IRDR) revela
sua natureza jurídico processual, que é a de incidente processual, concebido como
instrumento voltado para a missão de buscar a consolidação de teses de direito e de promover
a uniformização da jurisprudência dos tribunais”.

Para ilustrar os comentários acima exarados, colhe-se IRDR de tema nº 06, apreciado
pelo Tribunal de Justiça da Bahia, em 11/04/2019, acerca de processo originário sob nº
0018000-84.2010.8.05.0001, também em trâmite em mesmo Juízo.

O presente incidente de demandas repetitivas sob nº 00011517-31.2016.8.05.0000 de


Relatoria do Desembargador José Edvaldo Rocha Rotondano, em trâmite no Tribunal de Justiça
da Bahia, aborda a controvérsia que deu origem ao IRDR acerca do marco temporal final para
a aplicação do percentual decorrente da equivocada conversão do Cruzeiro Real em URV sobre
a remuneração e proventos dos servidores públicos estaduais do Poder Executivo do Estado da
Bahia, ativos e inativos, e pensionistas, analisando se as Leis Estaduais nº 7.145/1997, nº
7.622/2000 e nº 8.889/2003 implicaram, ou não, na reestruturação das carreiras da Polícia
Militar do Estado da Bahia e dos servidores públicos civis e militares da Administração Direta,
das autarquias e fundações públicas.

Ementa: INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS n.º


001151731.2016.8.05.0000. Seção Cível de Direito Público. ESTADO DA BAHIA.
SERVIDORES PUBLICOS. POLICIAIS MILITARES DA BAHIA. A definição do marco
temporal final para aplicação do percentual decorrente da equivocada conversão do Cruzeiro
Real em URV sobre a remuneração e proventos dos servidores públicos estaduais do Poder
Executivo do Estado da Bahia, ativos e inativos, e pensionistas, analisando se as Leis
Estaduais n.7.145/1997, n. 7.622/2000 e n. 8.889/2003, implicaram, ou não, na reestruturação
das carreiras da polícia militar do Estado da Bahia e dos servidores públicos civis e militares
da Administração Direta, das Autarquias e Fundações Públicas. O IRDR foi admitido por
unanimidade dos votos. Reconhecendo a Apelação do Estado da Bahia, afim de reformar
Sentença, anunciar a prescrição da pretensão autoral e, consequentemente, inverter-se o ônus
da sucumbências, obrigação está suspensa em razão do deferimento da gratuidade da justiça
na origem; c) Desapensar os Incidentes de Uniformização de Jurisprudência números
00664488-36.2011.8.05.0001 e 0139621-53.2007.8.05.0001 afim de que os processos pilotos
e já julgados no bojo do IRDR n.8013315-17.2018.8.05.0000.” (TJ/BA. Rel. Des. José
Edivaldo Rocha Rotandano, em 11/04/2019).

A tese fixada dispõe:

“As Leis Estaduais nº 7.145/1997, nº 7.622/2000 e nº 8.889/2003 implicaram na


reestruturação das carreiras da Polícia Militar do Estado da Bahia e dos servidores públicos
civis e militares da administração direta, das autarquias e fundações, figurando como marco
temporal para aplicação do percentual decorrente da equivocada conversão do Cruzeiro Real
em URV sobre a remuneração e proventos dos servidores públicos estaduais do Poder
Executivo estadual, ativos e inativos”.

Neste sentido, como já explicitado em Decisão de IRDR nº 00011517-


31.2016.8.05.0000, os votos do desembargador relator foi seguido pelo desembargador revisor,
Des. Baltazar Miranda Saraiva, o qual, em seus votos aduz:

“Ante o exposto, acompanho o entendimento esposado pelo Relator Des. José Edivaldo
Rocha Rotondano e VOTO no sentido de: (i) aprovar a tese jurídica vinculante proposta no
voto condutor nos seguintes termos: “As Leis Estaduais n.7.145/199, n.7.622/2000 e
8.889/2003 implicaram na reestruturação das carreiras da Polícia Militar do Estado da Bahia
e dos servidores públicos civis e militares da administração direta, das autarquias e
fundações, figurando com o marco temporal para aplicação do percentual decorrente da
equivocada conversão do Cruzeiro Real em URV sobre a remuneração e proventos dos
servidores públicos estaduais do Poder Executivo estadual, ativos e inativos”; (ii) apreciar o
processo-piloto, para conhecer e dar provimento ao recurso de Apelação do Estado da Bahia
afim de, reformando-se a sentença, anunciar a prescrição da pretensão autoral e,
consequentemente, inverter-se o ônus da sucumbência, obrigação esta suspensa em razão do
deferimento da gratuidade da justiça na origem; (iii) desapensar os Incidentes de
Uniformização de Jurisprudência nº 00664488-36.2011.8.05.0001 e nº 0139621-
53.2007.8.05.0001, afim de que os processos-piloto sejam julgados no bojo do Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas nº 8013315-17.2018.8.05.0000.”

Verifica-se, que com o julgamento do IRDR supracitado, voltam a tramitar 855


processos que, por tratarem da mesma controvérsia, estavam suspensos em todo o estado da
Bahia até definição pela Seção Cível de Direito Público do TJBA. A definição das teses pelo
Tribunal vai servir de orientação à primeira instância para a solução de casos fundados na
mesma questão jurídica.

Sendo assim, o IRDR se insere na nova sistemática adotada pelo CPC/2015 com vistas
à valorização da jurisprudência, sob dupla perspectiva: proporcionar uniformidade,
previsibilidade e confiança na prestação jurisdicional, respeitando, efetivamente, as garantias
de isonomia e segurança jurídica. Apresentando uma natureza jurídica processual de incidente,
e não de um recurso ou ação, porém com o objetivo de resolver mérito de uma demanda, como
estabelecido os seus requisitos no art. 976 do CPC.

Ressalta-se que o IRDR inclui-se na competência dos tribunais, mas a legitimidade para
provocar sua instauração cabe tanto a juiz no primeiro grau de jurisdição como ao relator no
tribunal de segundo grau, o novo CPC, portanto, admite IRDR a partir tanto de processo em
curso em primeira instância como de processo já em andamento no tribunal. Todavia, não
condiz com o sistema do CPC o condicionamento do IRDR à necessária pendência de processo
no tribunal que irá julgá-lo, assim, sendo devida as suspensões dos processos com o fito de
prevenção de conflitos de decisões.

Portanto, a admissão do Incidente de demandas repetitivas no ordenamento jurídico e


na legislação pátria veio contribuir com os princípios da isonomia e segurança jurídica as
diversas matérias discutidas no direito como um todo, as quais, influenciam no comportamento
da sociedade, e que muitas vezes acabam por gerar inúmeros conflitos, aumentando a massa
processual no Poder Judiciário Brasileiro. Desse modo, a busca da efetivação por uma justiça
mais eficiente, econômica e célere, bem como acesso à todos os cidadãos, faz com que os
operadores do direito busquem cada vez mais, melhores condições e efetividade na resolução
dos conflitos oriundos do contexto social.
REFERÊNCIAS

1. BRASIL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA BAHIA. NUGEP. Tema 06. NUT/CNJ n.


8.05.1.000006 – IRDR n. 00011517-31.2016.8.05.0000. Disponível em
http://www2.tjba.jus.br/nugep/irdr Acesso em 18 de setembro de 2020.
2. JUNIOR, Humberto Theodoro. Incidente de resolução de demandas repetitivas:
natureza e função. Disponível em http://www.genjuridico.com.br Acesso em 18 de
setembro de 2020.

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