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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA DESEMBARGADORA RELATORA

MARIA DO CÉO MACIEL COUTINHO INTEGRANTE DA 1ª TURMA DE


DIREITO PRIVADO DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
PARÁ.

AUTOS Nº: 0804185-57.2018.814.0000


AUTOS DE ORIGEM Nº: 0803406-91.2017.814.0015
AGRAVANTE: UNIMED BELÉM – COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO
AGRAVADA: R. DE S. T.

R. DE S.T., já devidamente qualificada nos autos referenciados, vem, por


intermédio dos seus procuradores subscritos, respeitosamente à presença deste D. Juízo; tendo
em vista o ato ordinatório de ID nº 5037666, apresentar tempestivamente, com esteio no art.
1.023, §2º do Código de Processo Civil: CONTRARRAZÕES AOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, opostos pelo Agravante, ora Embargante; o que faz alicerçado nas razões de
fato e fundamentos jurídicos adiante delineados
.

Insurge-se a Embargada contra o recurso de Embargos de Declaração


Prequestionador interposto pela Embargante contra o r. acórdão que entendeu pelo
conhecimento e desprovimento do recurso de Agravo de Instrumento; uma vez que prolatada à
luz das disposições legais, posicionamentos doutrinários e orientações jurisprudenciais
pertinentes ao caso e certamente olvidados pelo Embargante, eis que, caso tivessem sido
observados, teriam conduzido à total aceitação do provimento jurisdicional, tal qual encontra-se
lançado, sem qualquer omissão a ser sanada.

I – DA TEMPESTIVIDADE

As presentes Contrarrazões são protocoladas tempestivamente, uma vez que


a Embargada foi intimada do ato ordinatório que lhe facultou contrarrazões aos Embargos de
Declaração, via publicação no Diário de Justiça Eletrônico, em 03/05/2021, segunda-feira, tendo
o prazo para apresentação da mesma se iniciado, no primeiro dia útil subsequente, qual seja,
04/05/2021, terça-feira.
Nesse sentido, considerando, de um lado, a sistemática de contagem dos
prazos processuais estabelecidas pelo Código de Processo Civil e, de outro, que o prazo para
apresentação de contrarrazões aos Embargos de Declaração é de 05 (cinco) dias, consoante
estatui o artigo 1.023, §2º do CPC, o que atesta sua tempestividade quando protocolizado hoje.

II – DO MÉRITO RECURSAL

O Embargante, interpôs o RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO


COM PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO contra a decisão interlocutória proferida nos autos
da Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais, Estéticos, e Materiais c/c
Pedido de Antecipação dos Efeitos da Tutela (nº 0803406-91.2017.814.0015) ajuizada pela
Embargada, que concedeu a tutela de urgência pleiteada, a fim de que promovesse o custeio do
tratamento reparador dos danos ocasionados por suposto erro médico em cirurgia de correção de
lábios vaginais a que esta se submeteu, consistente em: 1. Laser-analgesia na Clínica Iandê, em
Belém; 2. Uso da pomada de estrogênio; e 3. Realização de radiofrequência, por no mínimo 10
(dez) sessões, sob pena de aplicação de multa diária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais), até o
limite de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
Importa ressaltar que tal sugestão de tratamento fora dada pelo próprio
médico assistente do Embargante ao realizar perícia direta inicial na Embargada (DOC. 01), em
razão das especificidades da situação do local após o procedimento, objeto da demanda inicial.
Ainda assim, inconformado apresentou recurso de Agravo de Instrumento,
requerendo o efeito suspensivo à decisão que o seu médico assistente apresentou, sob o
fundamento de não estar contemplado no rol da Agência Nacional de Saúde – ANS, bem como
que não há qualquer iminência de risco à vida ou à integridade física da mesma.
Em Julgamento, este D. Juízo entendeu que a responsabilidade do
Embargante seria solidária posto que o procedimento fora realizado por médico de sua rede
credenciada e que o rol da ANS era meramente exemplificativo, negando provimento ao
recurso.
Mais uma vez inconformado, apresentou “embargos de declaração
prequestionador” de forma confusa e sem concatenação das ideias, mas que, após diversas
releituras, pode-se entender que aduz existir a suposta omissão da decisão por não reconhecer
que o plano estaria vinculado a ANS e que o acórdão seria uma interferência a ANS, violando o
princípio da separação dos poderes (sic.).
Que o Embargante está vinculado a ANS não houve dúvidas, inclusive tendo
o julgado entrado no mérito de analise do seu rol, o qual, encontra-se em divergência no STJ
entre a 3ª e a 4ª turma.
Mas o caso em comento não se trata de atender o ROL da ANS ou não, mas
sim de atender uma DETERMINAÇÃO JUDICIAL que ultrapassa as supostas limitações em
face ao plano.
A Embargada sofreu diversos danos, e na tentativa de mitiga-los, houve
decisão judicial para cobertura de tratamento que, ressalta-se, em momento nenhum fora objeto
de discussão se o tratamento estaria no rol ou não, pois não é objeto da ação o ROL de cobertura
da ANS e a relação contratual existente a nível de plano de saúde, mas sim a responsabilidade
solidária do Embargante pelos atos de seus médicos cooperados e hospital credenciado.
Se partíssemos do pressuposto que o Embargante busca prequestionar,
nenhum plano de saúde poderia cumprir decisão judicial cujo fundamento fosse diverso do ROL
da ANS e o contrato de prestação de serviços de plano de saúde.
A demanda não versa sobre cobertura contratada ou vicio no contrato de
prestação de serviços, mas sim de danos nas diversas esferas. Então ainda que se observe todos
os artigos supostamente omissos na decisão, o que não se entende como não observados ou
essenciais para o cerne da questão, em nada mudaria o desfecho judicial.
Até porque a Embargada tem ciência de que a liminar ofertada não teria
cobertura do plano de saúde, contudo, tais procedimentos foram oriundos de junta médica, cuja
a sugestão de tratamento adveio do PRÓPRIO MÉDICO INDICADO PARA REPRESENTAR
OS INTERESSES DA EMBARGANTE.
Ora, se o médico de confiança da parte, indicado como assistente para
participar de uma junta médica para avaliar a situação de saúde da Embargada, que relata DOR
DIÁRIA E CONSTANTE em sua região vaginal, e a junta médica conclui, em avaliações
individuais, que o melhor antes de qualquer intervenção cirúrgica, diante da situação delicada a
qual se encontra, seria a realização dos procedimentos deferidos pelo Juízo, resta contraditório
agravar de uma decisão a qual o próprio Embargante/Recorrente deu causa.
Vale dizer que em que pese o art. 489, §1º IV do CPC impor a necessidade
de enfrentamento pelo julgador dos argumentos que possuam aptidão, em tese, para infirmar a
fundamentação do julgado embargado, a doutrina e jurisprudência já pacificaram o
entendimento de que o julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas
pelas partes, devendo enfrentar apenas as questões capazes de infirmar a conclusão adotada na
decisão recorrida o que não é o caso dos autos.
Nelson Nery Junior e Rosa Nery sabiamente aduzem:

Não enfrentamento, pela decisão, de todos os argumentos possíveis de


infirmar a conclusão do julgador. Para que se
possa ser considerada fundamentada a decisão, o juiz deverá examinar todos
os argumentos trazidos pelas partes que sejam capazes, por si sós e em tese,
de infirmar a conclusão que embasou a decisão. Havendo omissão do juiz,
que deixou de analisar fundamento constante da alegação da parte, terá
havido omissão suscetível de correção pela via dos embargos de declaração.
Não é mais possível, de lege lata, rejeitarem-se, por exemplo, embargos de
declaração, ao argumento de que o juiz não está obrigado a pronunciar-se
sobre todos os pontos da causa. Pela regra estatuída no texto normativo ora
comentado, o juiz deverá pronunciar-se sobre todos os pontos levantados
pelas partes, que sejam capazes de alterar a conclusão adotada na decisão.
(Código de Processo Civil Comentado, São Paulo, Revista dos Tribunais,
2016, p. 1.249-1.250, destaque no original).

E o STJ assim já se posicionou:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM


MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO. INDEFERIMENTO DA
INICIAL. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE, ERRO
MATERIAL. AUSÊNCIA. 1. Os embargos de declaração, conforme dispõe o
art. 1.022 do CPC, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade,
eliminar contradição ou corrigir erro material existente no julgado, o que não
ocorre na hipótese em apreço.
2. O julgador não está obrigado a responder a todas as questões
suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente
para proferir a decisão. A prescrição trazida pelo art. 489 do CPC/2015
veio confirmar a jurisprudência já sedimentada pelo Colendo Superior
Tribunal de Justiça, sendo dever do julgador apenas enfrentar as
questões capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão recorrida.
3. [...] 4. Percebe-se, pois, que o embargante maneja os presentes aclaratórios
em virtude, tão somente, de seu inconformismo com a decisão ora atacada,
não se divisando, na hipótese, quaisquer dos vícios previstos no art. 1.022 do
Código de Processo Civil, a inquinar tal decisum. 5. Embargos de declaração
rejeitados.
(EDcl no MS 21.315/DF, Rel. Ministra DIVA MALERBI –
DESEMBARGADORA CONVOCADA TRF 3ª REGIÃO, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 08/06/2016, DJe 15/06/2016).

Com isso, mesmo após a vigência do art. 489 §1º IV do CPC/2015, resta
incabível embargos de declaração contra a decisão que não se pronunciou sobre determinado
argumento que era incapaz de infirmar a conclusão adotada.
Portanto, não há o que se falar em omissão do Acórdão, pois a ratio
decidendi do caso em comento não é de caráter contratual e cobertura do rol da ANS.

III – DO PEDIDO

Ex positis, REQUER a Embargada se digne este Egrégio Tribunal de receber


as presentes Contrarrazões Recursais, eis que tempestivas; e no mérito, negar provimento aos
embargos de declaração interposto pela Embargante, determinando-se a manutenção dos efeitos
da decisão que deferiu a realização dos procedimentos em sede liminar, em todos os seus
termos, por ser medida de Direito e Justiça.

Termos em que,
Aguarda deferimento.
Belém/PA, 04 de maio de 2021.

FELIPPE HENRIQUE DE QUINTANILHA HANNAH CAROLINA ANIJAR BIBAS


BIBAS MARADEI MARADEI
ADVOGADO OAB/PA 20.200 ADVOGADA OAB/PA 20.262

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